O Brasil finalmente acordou para o true crime. Enquanto nos EUA existe há décadas a tradição de filmes e documentários sobre crimes da vida real, aqui o máximo que se produzia eram programinhas sensacionalistas tipo "Linha Direta". Um pouco por causa das famílias de vítimas e culpados - a Globo, por exemplo, jamais se atreveu a dramatizar a morte de Daniela Perez, para não melindrar a mãe da atriz, Gloria (mas uma série sobre o caso acaba de entrar em produção para a HBO). Só que a grana fala mais alto, e o sucesso de títulos como "Making a Murderer" por aqui mostrou que o público brasileiro tem fome por esse tipo de entretenimento. Abriu-se a porteira.
Um candidato óbvio era o assassinato dos pais de Suzane von Richthofen, que rendeu dois filmes do diretor Maurício Eça. A ideia dele era boa: até hoje Suzane e seu namorado e cúmplice Daniel Cravinhos se acusam mutuamente, contando versões bem diferentes do que de fato aconteceu. Assim, os longas "A Menina que Matou os Pais" e "O Menino que Matou Meus Pais", prontos há um ano e meio e adiados por causa da pandemia, assumem pontos de vista distintos. O par finalmente estreou na Amazon Prime Video, gerando um combate de opiniões na internet. Ontem vi os dois de enfiada, e achei... médios. Há muitas cenas repetidas nos dois longas, uma técnica comum nos seriados do gênero. Também há contrastes: Suzane é uma vilã maconheira em um deles, e uma criança assustada no outro. Mas fiquei com a sensação de que essas versões conflitantes poderiam conviver num só filme de duas horas, ao invés de dois de uma hora e meia. Carla Diaz às vezes passa do ponto, mas consegue capturar a expressão corporal de uma personagem 10 anos mais nova do que ela. Quem está bem mesmo é Leonardo Bittencourt, um ator que eu não conhecia. Enfim: "O Menino..." e "A Menina..." são os filmes do momento, e quem quiser ter assunto precisa vê-los. Mas ficariam melhores se fosse um só.