sábado, 31 de julho de 2021

ALTURAS MEDIANAS

Alguém aí viu "Hamilton"? Eu vi, mas não na Broadway. Assisti à versão filmada que tem no Disney +, e fiquei pasmo. É mesmo tudo aquilo que dizem: simplesmente, o musical mais revolucionário desde "Hair". Por causa disso, eu estava bem curioso para ver "Em um Bairro de Nova York", o primeiro musical escrito por Lin-Manuel Miranda e adaptado para o cinema por Jon M. Chu, o diretor de "Podres de Ricos", que eu adorei. Vacilei quando o filme esteve em cartaz nos cinemas, mas agora consegui pegá-lo na HBO Max. Sinto dizer que as alturas prometidas pelo título só são alcançadas nos números de canto e dança, realmente sensacionais. Mais pela mise-en-scène do que pelas canções em si: não tem nenhuma que me deu vontade de aprender a assobiar. Mas a história que une essas sequências é mais fraca que honestidade do Bozo, o que é complicado para um longa de duas horas e 22 minutos. Lin-Manuel talvez tenha precisado passar por este trabalho mais convencional para depois mudar as regras do jogo com "Hamilton". Pena que no streaming não dá para fazer como nos saudosos DVDs e ir direto para as melhores partes.

O MANUAL DO DITADOR-MIRIM

As ditaduras estão na moda. Com vários países do mundo tendo suas instituições democráticas atacadas por dentro, fazia tempo que não se falava tanto em regimes totalitários - muita gente até torce por eles. Nesse contexto, a série "Como se Tornar um Tirano" vem a calhar. São seis episódios de meia hora, cada um deles focando num autocrata: Adolf Hitler, Josef Stálin, Idi Amin Dada, Kim Il-Sung, Saddam Hussein e Muammar Gaddafi. Senti falta de algum latino como o dominicano Rafael Trujillo, o mais folclórico de todos, mas essa ausência não estraga o programa. Os roteiros são estruturados em torno de um livro imaginário, com dicas passo a passo para conquistar e se manter no poder. Nada muito profundo, e o tom de galhofa às vezes incomoda, pois milhões de pessoas foram mortas por esses déspotas. Mesmo assim, vale a pena ver, pois há muitos detalhes interessantes. E não, não existe o risco do Bozo assistir e se inspirar: a cabecinha dele não tem espaço para tanta informação. Menos mal.

sexta-feira, 30 de julho de 2021

PASSA-MOLEQUE

Mijaír Biroliro mostrou que minha capacidade de odiar alguém é infinita. A cada novo excremento que ele expele pela boca, mais eu o detesto. Temos um energúmeno no comando do país, um sujeito habilitado a trabalhar numa cavalariça e olhe lá. A live que o Pau Fino fez ontem, onde finalmente apresentou provas de que ele próprio é uma fraude, me virou o estômago. Ainda bem que não fui só eu: juízes e políticos acham que o Despreparado se enrolou ainda mais, e seu olhar atordoado traduz o pânico que ele sente por dentro. Consta que agora o STF vai tomar medidas concretas contra esse moleque, e não ficar só nas notas de repúdio. Que ele sofra muito antes de ir para a prisão, seu próximo endereço. Para mim, será um prazer auditável.

QUEIMOU O FILME

Mario Frias quer investigar se o incêndio em um depósito da Cinemateca foi criminoso. Claro que foi, e sabemos quem cometeu esse crime. Foi ele, que está há um ano no cargo de secretário da Cultura e não mexeu o bundão para cuidar do maior acervo cinematográfico da América Latina. Depois de várias advertências, o esperado aconteceu: a Cinemateca ardeu, e mais uma parte da nossa memória coletiva virou cinza. Não é descuido do ex-ator, é projeto desse desgoverno. Destruir a cultura brasileira e só deixar existir o que for de apoio explícito à familícia. Em qualquer lugar civilizado, Frias já teria sido defenestrado por incompetência e despreparo. Mas, puca-saco que só ele, está dando um rolé na Itália às nossas custas, provavelmente sem entender patavina do que vê pela frente. Hoje ele correu para lançar o edital atrasado, e ainda jogou a culpa pelo fogo no PT. É verdade que os problemas da Cinemateca começaram durante a gestão de Marta Suplicy no ministério da Cultura, mas o abandono absoluto da insituição cai 100% na conta do Edaír. O fogo do inferno é pouco para essa corja.

quinta-feira, 29 de julho de 2021

PEGA O SABÃO NO CHÃO

Um leitor reclamou que eu não falei de "Industry Baby", e com toda a razão. O novo clipe do Lil Nas X é ainda mais provocativo do que "Montero", o anterior; desse jeito, o rapper mais bicha bichérrima está pintando como O artista de 2021. No novo vídeo, ele vai em cana pelo crime de ser gay, mas a prisão não é das mais desagradáveis. Quem não gostaria de ficar encarcerado desse jeito, especialmente na ousada cena em que está todo mundo pelado? Gostei especialmente do Jack Harlow, o raro branco que se dá bem no rap. Ops, deixei o sabão cair.

TOTALMENTE IMUNIZADO

Qual é a atriz de Hollywood mais imunizada de todas? A Michelle Pfizer! E agora eu estou que nem ela, pois acabei de tomar minha segunda dose - se bem que foi AstraZeneca. Não, não escolhi a marca: tomei Akytinha, a melhor de todas, e daqui a duas semanas essa porra de vírus não me pega mais. Ou, se pegar, não me mata. Pois é, Edaír Genocida, o seu plano de nos matar a todos não deu certo. Se Deus quiser, estaremos vivos no ano que vem para votar você pra fora do Planalto. E viva o SUS!

quarta-feira, 28 de julho de 2021

AQUI JOICE

Foi Santa Rita Pescadeira, diz uma amiga minha. Foi a encantada do livro "Torto Arado" que entrou no corpo de Joice Hasselmann, jogou-a para lá e para cá e depois foi-se embora, deixando a deputada toda machucada. Tendo a concordar com ela: a possessão por um espírito é a única explicação possível para tantas fraturas, sem que Joice se lembre de nada e sem que seu apartamento tenha sido arrombado. Eu acredito nela quando diz que o marido seria incapaz de tamanha violência. Mas também acredito que a familícia é capaz de tudo - aguardemos as investigações. Tomara que elas provem alguma coisa, porque a ficha da Joice é meio suja. Lembra daquele vídeo bizarro em que ela lutava com um assaltante? A moça é ligada numa performance. Portanto, ao fim e ao cabo, se a culpa recair sobre o combo álcool + remédio para dormir, acho que ela pode dar adeus à reeleição.

FELIZ DIA DO JAGUNÇO

É claro que a Secom faz de propósito. É claro que eles sabem que as redes sociais vão entrar em erupção com uma mensagem dessas, que mostra a silhueta um jagunço armado (ou quiçá um miliciano), para celebrar o Dia do Agricultor. A grande questão é, será que vale a pena? OK, as bases foram energizadas, mas quantos novos votos uma barbaridade dessas consegue para o Biroliro? E como é que o nosso agronegócio, que se acha tão moderno, ainda apoia o desgoverno?

terça-feira, 27 de julho de 2021

MOÇAS DE FINO TRATO

O Festival do Rio no aplicativo do Telecine me deu a chance de ver um filme que eu perdi nos cinemas. "A Boa Esposa" é uma comédia adorável, que entrega com leveza sua óbvia mensagem feminista. O cenário é uma escola para donas de casa na Alsácia, região francesa na fronteira alemã. O estabelecimento é um negócio de família, com apenas três funcionárias mulheres. Uma delas é freira; as outras duas são, respectivamente, esposa e irmã de um homem que, claro, não faz nada. A ação começa em 1967, quando já existia um barulhento movimento feminista, e isto se reflete no número decrescente de alunas. Para complicar, o tal do homem morre, e sua viúva descobre que ele só deixou dívidas. Os meses se passam, ela revê um antigo amor, e de repente estamos em maio de 1968, quando as ruas de Paris explodiram e todo o establishment foi questionado. Mas não há violência no filme: só lindas paisagens, figurinos esplendorosos que venceram o prêmio César e atores em ponto de bala. Os coadjuvantes foram todos indicados ao César, mas Juliette Binoche foi injustamente esquecida. Ela, que se esmera em papéis que a obrigam a chorar muito, está ligeira feito um suflê, sem deixar que sua personagem se torne superficial. Deu até vontade de agendar umas aulas de economia doméstica com ela.

segunda-feira, 26 de julho de 2021

UÉ, MAS O NAZISMO NÃO É DE ESQUERDA?

Como que o Biroliro tira foto ao lado de esquerdistas?

FADINHA

Em meio ao baixo astral que consome o Brasil, as Olimpíadas têm servido para nos animar. A prata de Kelvin Hoefler no skate e o bronze de Daniel Cargnin no judô foram ótimos, mas nada se compara ao jorro de energia que varreu o país nessa madrugada, com a prata de Rayssa Leal, a Fadinha. Nunca tanta gente ao mesmo tempo torceu para que meninas de 13 anos dos outros países caíssem da prancha, contrariando o slogan da Globo que de os Jogos despertam o melhor de nós. Mas a zica funcionou: Rayssa é a mais jovem medalhista em 85 anos, e seu sorriso, sua empolgação, seu vídeo no Tik Tok, tudo isso cai feito bálsamo sobre nós. Adoraria que ela não tirasse foto ao lado do Bozo quando voltar, mas acho difícil. Bom pelo menos nós não precisamos nos preocupar com quem ela votou em 2018.

domingo, 25 de julho de 2021

TE PEGO NO RECREIO

Quem aí sofreu bullying na escola? Eu sofri um pouco, dos 10 aos 14 anos, em dois colégios diferentes. Saí na porrada umas duas vezes, mas nunca, jamais, em momento algum, um adulto veio me defender. Existia (ainda existe?) a ideia de que a vítima do bullying precisa se virar sozinha, para "virar homem". Hoje sabemos que essa inação é desastrosa, porque são inúmeros os casos de suicídio provocados pela violência moral e física no ambiente escolar. O pior é que o bullying é um problema planetário. Existe na China, um país que se diz igualitário, e é o tema do contundente "Dias Melhores", cartaz de ontem do Festival do Rio no Telecine. Indicado ao Oscar de filme internacional por Hong Kong, o longa na verdade se passa na cidade chinesa de Chonqqing. A protagonista é uma menina que se prepara para prestar o Gaobao, o rigoroso Enem de lá, que dá acesso às melhores faculdades. Mas está se difícil concentrar: a mãe contrabandista precisa fugir para Pequim, deixando-a sozinha para enfrentar uma turma de colegas ricas que a infernizam na escola e, não demora, também fora dela. Até que ela encontra um rapaz delinquente que passa a protegê-la, mas nem tanto. Os problemas de ambos logo irão aumentar muito. A atriz Zhou Doniyu, que tem quase 30 anos, convence como uma adolescente de 17, e chora o tempo todo. Como ela chora, chora, chora, e sempre por um bom motivo. "Dias Melhores" nem sempre é fácil de assistir, mas tem mensagem, emoção e crítica ao sistema. Não foi à toa que o governo chinês tentou censurá-lo.

sábado, 24 de julho de 2021

BURN BORBA BURN

Inaugurada em 1963, a estátua do Borba Gato sempre foi uma unanimidade: todo mundo acha horrenda, desde aquela época. Já houve várias tentativas de remover a obra do escultor Júlio Guerra da pracinha que ela ocupa na avenida Santo Amaro, todas em vão. Uma das razões é que ela serve de ponto de referência: o bairro se divide em "antes do Borba Gato" e "depois do Borba Gato". Hoje a segunda estátua mais feia das Américas (a primeira é a Cabeza de Juarez, na Cidade do México) sofreu um atentado. Integrantes de um grupo chamado Revolução Periférica incendiou pneus na base do Borba, gerando imagens de alto impacto. O fogo foi logo debelado, mas a estátua sofreu danos em sua estrutura. Há algo de cômico no ato: o detestado marco paulistano merecia virar pó só por sua feiúra. Também há revisionismo histórico. Os bandeirantes sempre foram tidos como heróis no estado de São Paulo, batizando o palácio do governo, uma rodovia e uma rede de rádio e TV, entre outras coisas. De uns anos para cá, eles vêm sendo denunciados como escravocratas, o que de fato eram, como quase todo mundo no século 17 (inclusive muitos dos escravizados, que se tornavam senhores de escravos uma vez alforriados). Mas eu concordo que eles não merecem mais homenagens públicas, apesar de que as bandeiras foram as maiores responsáveis pelo Brasil ser do tamanho que é (se o Brasil foi uma boa ideia, isso é outra discussão). Por outro lado, esse fogaréu cai como um presente no colo dos bolsominions, que já subiram a hashtag #Vandalismo no Twitter. Mais uns dois ou três incêndios desses, e o Bozo vai se sentir à vontade para por o Exército na rua e "garantir a lei e a ordem". Temo que o próximo alvo seja o Monumento às Bandeiras, no Ibirapuera: apesar do que ele representa, é uma obra-prima de Victor Brecheret e do art déco.

sexta-feira, 23 de julho de 2021

TOMBA AQUI

Não é novidade nenhuma que o Sikêra Jr. é um escroto de marca maior, mas não é que ele conseguiu atualizar as definições de escrotidão com sucesso? Depois de chamar os gays de "raça desgraçada", o apresentador perdeu dezenas de patrocinadores graças a uma campanha do Sleeping Giants. Para se vingar, bolou um plano que parece ter saído da mente maligna do Cebolinha. Na semana passada, Sikêra Jr. fez um merchan de uma empresa que não existe, a ótica Tambaqui, e divulgou no ar o telefone deste suposto patrocinador. Choveram mensagens de WhatsApp critcando a tal da Tambaqui, e esta semana ele revelou que era uma armadilha para identificar seus inimigos. De posse dos números de celulares, o escroto-mor ameaça processar todo mundo. Só que ele se esquece que promover boicote não é crime, nem pressionar um anunciante. Não sou advogado, mas suspeito que quem agiu fora da lei foi o próprio Sikêra, ao veicular uma mensagem falsa em seu programa. O mau-caráter também mostrou que está desesperado, mas se arrepender que é bom, nada. Pois vai ficar só com a Tambaqui e outras marcas imaginárias.

CENTRÃO DO BRASIL

E quem diria que seria justamente o Centrão, a banda mais podre do Congresso Nacional, que iria nos salvar de um golpe de estado? Mas tudo é possível nesse Brasil de ponta cabeça, em que o notório corrupto Renan Calheiros se tornou um dos paladinos da CPI da Pandemia. Ontem Arthur Lira deu uma porrada com soco inglês no imbecil do general Braga Netto, ao vazar para o Estadão que o milico lhe avisou que não haverá eleições em 2022 se o voto impresso não for aprovado. O ministro da Defesa passou o dia se desmentindo, em mais um vexame para a banda podre das Forças Armadas que se imiscuiu com o desgoverno do Edaír. Infelizmente, é melhor ter o Centrão no comando do Executivo do que esses generais de pijama, que não fazem a mais puta ideia de como se administra um país. Aliás, queria saber como que um celerado que soma -5 com 4 e dá 9 conseguiu se formar na Academia das Agulhas Negras.

quinta-feira, 22 de julho de 2021

PREPAREM OS SAIS

Hoje à noite participo de mais uma live, dessa vez falando do meu assunto favorito: eu mesmo. Serei entrevistado pelo André Briesi, aquele que desmaiou enquanto conversava com a Rita Cadillac. Espero que ele passe mal comigo também. Às 19h30, no perfil @abriesi no Instagram.

PRISIONEIROS DA BROADWAY

Uma das maneiras de se dividir o mundo é entre quem adora musicais e quem acha ridículo o ator sair cantando de repente (mas sabres de luz e realidades paralelas são totalmente críveis). Entre os americanos essa polarização é menor, porque eles costumam montar sucessos da Broadway no high school, mas ainda assim ela existe. E serve como uma das bases para a série "Schmigadoon!" do Apple TV+: os protagonistas são um casal em crise, em que ela adora e ele odeia musicais. Durante um retiro no mato, os dois se perdem e caem numa cidadezinha onde todos não só se vestem como se estivessem no comecinho do século 20, como cantam e dançam sob qualquer pretexto. É um musical vivo, e também uma armadilha. O casal só conseguirá sair de lá quando encontrar o verdadeiro amor, não importa com quem. Mas tudo isso é o de menos. O que importa é  que o elenco, que inclui astros do teatro musical como Kristin Chenoweth e Alan Cumming, entrega números de tirar o fôlego, abusando dos clichês do gênero e da nossa capacidade de bater palmas junto. Para bem apreciar "Schmigadoon!", é preciso ter alguma familiaridade com musicais clássicos como "Oklahoma!", "Carrousel" e "Sete Noivas para Sete Irmãos". Se você ainda não tem, então corra, pois a sua carteirinha do Vale pode ser revogada.

quarta-feira, 21 de julho de 2021

LEVANTA PRAS GUEI

Qual esporte tem mais bibas, a ginástica olímpica ou o vôlei? Eu diria que este último tem mais assumidos, desde os tempos do saudoso ponta Lilico. Honrando a tradição, agora presenciamos a explosão de Douglas Souza, que já estava na seleção brasileira desde os outros Jogos Olímpicos. Mas em 2016 ele não postou stories fechativos como o do épico sambinha sobre a cama de papelão, que o fizeram saltar de respeitáveis 250 mil seguidores no Instagram para mais de 1 milhão e 300 mil em pouco mais de 24 horas. Essa bicha bichérrima está trazendo de volta ao vôlei os torcedores que se assustaram com a quantidade de minions entre jogadores e técnicos. Tomara que Douglas conquiste mais uma medalha para o Brasil, mas no pódio do estrelato ele já subiu. E de salto.

OS PICAS DAS GALÁXIAS

A primeira emoção que me aflora quando eu penso nos rolés espaciais de Jeff Bezos e Richard Branson não é indignação pelas fortunas que eles torraram para realizar um capricho. É inveja mesmo. Já dei a volta ao mundo e conheço quase 50 países, mas a ausência de gravidade ainda me falta no currículo. Também acho legal que o Bezos tenha levado junto Wally Funk, a mulher que treinou para ser astronauta e só agora, aos 82 anos, conseguiu embarcar numa nave. Aí me revolto quando lembro que a Amazon desconta o horário do almoço e as idas ao banheiro do salário de seus empregados. Em seguida, lembro que muitas das comodidades de que desfrutamos hoje, como celulares, GPS e até o Teflon, só existem por causa da corrida espacial. De resto, é meio inócuo reclamar que picas das galáxias gastem seu dinheiro do jeito que bem entenderem: só pessoas tipo Madre Tereza, que abriram mão de suas posses e foram trabalhar para os mais pobres, estão autorizadas a fazer isto.

terça-feira, 20 de julho de 2021

O SUDESTE É MEU PAÍS

Fazua algum tempo que um vídeo do Porta dos Fundos não causava o impacto de "Sudestino", lançado ontem. o Twitter imediatamente se encheu de comentários, a maioria a favor, mas teve uns coitadinhos que se ofenderam mortalmente. São exatamente os que não sabem votar direito, citados no final. Eu adorei: meu pai era do Ceará, mas eu sou nascido e criado entre o Rio e São Paulo, com antepassados do sul de Minas. O Sudeste é meu país, e temos mais é que tirar sarro dele.

segunda-feira, 19 de julho de 2021

O MASSACRE INACABADO

"Caros Camaradas!" é um belo filme em preto-e-branco de Andreo Konchalovsky, um dos maiores diretores russos em atividade. Fala de um fato real que eu desconhecia: em 1962, tropas do exército da extinta União Soviética massacraram os trabalhadores que ousaram entrar em greve na cidade de Novocherkassk. A protagonista é uma dirigente de fábrica tão ferrenhamente comunista que chega a estapear a filha que fala mal de Stálin, já morto e caído em desgraça havia alguns anos. Mas a garota some durante o ataque dos milicos, e sua mãe passa o resto do longa procurando por ela. Encontrou? Não sei, porque a imagem congelou quando faltavam 18 minutos para o final. "Caros Camaradas!" integra a programação da edição online do Festival do Rio que está rolando no Telecine Cult e no aplicativo do Telecine. Cada filme fica disponível por apenas 24 horas, e essa regra é cumprida da maneira mais literal e idiota possível. Quando deu meia-noite em ponto, o filme simplesmente parou, e foda-se quem ainda estava no meio. Reclamei nas redes sociais do Telecine e até com uma das responsáveis pelo Festival, mas até agora não sei como essa porra acaba. Me deu vontade de pegar uma metralhadora e sair atirando.

POIS TENDO VOCÊ, MEU TESOURO

É impressionante a obsessão do Biroliro em encontrar soluções mágicas para tudo. O Despreparado está, o tempo todo, em busca de um tesouro escondido, uma panaceia universal, uma fórmula sem o menor respaldo da ciência. Filho de um cara que foi garimpeiro em Serra Pelada, o Bozo já defendeu o nióbio, o grafeno, a cloroquina, a ivermectina e a "pílula do câncer", todos de ineficácia comprovada. A bola da vez é a tal da proxalatumida, um medicamento utilizado no tratamento do câncer de próstata. Ontem o Edaír disse, sem provas, que ela funciona às mil maravilhas contra a Covid-19 (lembremos que ele ainda duvida de TODAS as vacinas). Tomara que os minions saiam tomando proxalutamida a torto e a direito, como "prevenção". Especialmente os que gostam de posar de óculos escuros ao volante do carro. O troço é um anti-androgênico: reduz os hormônios masculinos no organismo. Vão todos sair falando fino.

domingo, 18 de julho de 2021

WE ARE THE IMPEACHMENT

A resistência à ditadura militar gerou grandes clássicos da MPB, como "Apesar de Você" do Chico Buarque ou "Pra Não Dizer que Não Falei de Flores" do Geraldo Vandré. Mas cadê as musiquinhas clamando por "xô, Biroliro"? Até hoje, eu contabilizava apenas duas: "Micheque", dos Detonautas, e "Bichos Escrotos II", do Zeca Baleiro. Pois eis que o Zeca ataca novamente, assinando com Joãozinho Gomes a novíssima "Desgoverno". O clipe acima tem aquele clima de "We Are the World", com muitos artistas engrossando o coro. Não sei se irá se tornar um hino: a letra é um pouco complicada para ser entoada por multidões. Mas já prova que a nossa música atual não tem só sertanejominions.

PRONTO, RAFFAELLA

Raffaella Carrà morreu faz duas semanas, e a HBO Max lembrou que tem um filme-tributo à diva italiana em seu catálogo. Graças a um gentil e-mail enviado pela assessoria da plataforma, tomei conhecimento da existência de "Explota Explota". Trata-se de um musical espanhol de 2020, cuja trilha é composta exclusivamente por hits de La Carrà. Conhecia uns poucos, mas são todos esfuziantes - ela era uma espécie de Xuxa para adultos. O fiapo de trama é pouco mais do que boy meets girl: o boy em questão é o novo censor da Televisión Española, e a ação se passa em 1973. Dois anos antes da morte do ditador Francisco Franco, quando os ventos liberais já sopravam com força. Mas esse subtexto político é o de menos. O que importa são as coreografias, dignas do antigo balé de Juan Carlos Berardi (quem já tomou ou vai tomar logo a segunda dose entenderá) e as cores, mais berrantes do que toda a filmografia do Almodóvar batida na centrífuga. Isso quer dizer que "Explota Explota" também é um filme viadérrimo, feito por e para os habitantes do Vale. O mais legal é que a própria Raffaella faz uma rápida aparição no final. Ela ainda estava viva quando recebeu esta bela homenagem, e assim continuará para sempre no coração das gueis.

sábado, 17 de julho de 2021

BURRICE TRIPLICADA

Uma característica de gente realmente burra é se achar mais inteligente do que todo mundo. É o caso da Carla Zambelli, que fez campanha nas redes sociais contra o fundão eleitoral de quase 6 bilhões mas, na hora do vamovê, votou a favor da Lei das Diretrizes Orçamentárias. Jura que ela achou que ninguém ia perceber? "Ãin, mas ela é a favor da LDO, e o Fundão tava enfiado lá no meio". É, mas partidos que vão do Novo ao PSOL marcaram posição no plenário e votaram contra, para que o Fundão vire um destaque e ganhe votação separada. Estou sendo injusto porque não foi só a Carla, foi também o Bananinha, todo o PSL, o MDB, os partidos do Centrão e boa parte do PSDB. Todos querem gastar o triplo do que foi gasto na eleição de 2018, pois sabem que seus pescocinhos correm risco triplicado em 2022.

sexta-feira, 16 de julho de 2021

A MALDIÇÃO DE PAZUZU

Eu achava que o general Pazuzu era só incompetente e capachildo. Ah, sim, e também chantagista: em seu discurso de despedida do ministério da Saúde, ele insinuou que sabia de falcatruas cometidas lá dentro, como que constrangendo o Bozo a lhe dar um novo cargo no governo em troca de seu silêncio. O novo cargo foi dado, Pazuzu jurou de pés juntos na CPI que não era sua função negociar vacinas (então era de quem?) e eis que surge um vídeo dele negociando doses de Coronavac pelo triplo do preço normal com uma empresa de quem nunca ninguém ouviu falar. Ou seja: o próprio general fazia parte de um dos esquemas de "comissionamento" que ainda infestam sua pasta (são pelo menos dois). Pelo jeito, com mais essa, Biroliro vai ter que baixar hospital novamente na semana que vem.

quinta-feira, 15 de julho de 2021

QUEM CARALHAS É MARIO FRIAS?

"Quem caralhas é Jones Manoel?", pergunto Tércio Arnaud Thomaz no Twitter, com a grosseria e a incultura peculiares de um integrante do Gabinete do Ódio. Se saísse um teco da própria bolha, ele saberia que Jones Manoel é um intelectual pernambucano que encantou Caetano Veloso, mas que também defende que Josef Stálin não foi tão mau assim. Mario Frias não sabia nada disso quando disparou que Manoel precisava "de um bom banho", um atestado de racismo registrado em cartório. O Twitter retirou o post do ar, mas o escritor já acionou seus adovgados. O que susicta outra pergunta que não quer calar: o que será de Mario Frias depois que esse desgoverno acabar?

A PROCISSÃO DO SENHOR MORTO

Estou cada vez mais convencido de que esta internação do Biroliro é só mais uma cortina de fumaça, para distrair a atenção da mídia dos escândalos que afloram na CPI da Pandemia. O que era uma crise de soluços evoluiu para uma obstrução intestinal e, no final da tarde de ontem, o Despreparado precisou ser transferido às pressas para São Paulo - só para chegar e os médicos decidirem não operar agora. Mas o objetivo maior foi cumprido: a foto sem camisa numa cama de hospital, num ângulo que remete à "Lamentação Sobre o Cristo Morto" de Andrea Mantegna. Carluxo correu a postar nas redes do pai, dizendo que essa era mais uma consequência da facada, e ainda conseguiu enfiar o PT no meio. Não colou: tirando o gado mais fanático, a reação das internets foi da zoação ao mais puro ódio pelo morto-vivo que finge que nos governa. Quem mandou tirar sarro do sofrimento dos doentes de Covid? Quem mandou falar "e daí?", "não sou coveiro", "um país de maricas"? Maricas é ele, no mau sentido. Esse desprezo que o falso mártir colhe agora é sinal de que vem outra facada por aí. Dessa vez, letal: será nas pretensões políticas da familícia e virá pelas urnas. Eletrônicas, é claro.

quarta-feira, 14 de julho de 2021

DIVA LAS VEGAS

"Hack" é uma gíria americana que eu não conhecia. É um insulto entre roteiristas, usado para xingar alguém que escreve muito mal. Também é o título irônico da melhor sitcom de 2021, maravilhosamente bem escrita. Já vi cinco dos 10 episódios disponíveis na HBO Max, e posso garantir: só melhora. A protagonista é Deborah Vance, uma comediante veterana meio inspirada na finada Joan Rivers. Há anos com um show fixo num hotel em Las Vegas, a diva teme que sua longa carreira esteja na reta final. Com medo de ser ultrapassada, ela é convecida por seu agente a trabalhar com uma jovem roteirista, que caiu em desgraça depois de uma piada grosseira - um caso parecido com o do Rafinha Bastos. As duas tem várias gerações entre elas, e demoram muito a perceber que são basicamente a mesma pessoa em idades diferentes. Até lá, as farpas voam, as lágrimas correm, e consome-se muito álcool, pó e molly (essa gíria eu conhecia). "Hacks" é "O Diabo Veste Prada" no mundo do showbiz, tocando em temas semelhantes: a mulher trabalhando no mundo dos homens, o abuso de patrões sobre empregados e o envelhecimento, cruel e inexorável. Tudo isso regado a piadas de rir alto, proferidas por personagens muito bem construídas. A série recebeu nove indicações ao Emmy, e pelo menos m está no papo: o de melhor atriz em série cômica para Jean Smart, que, aos 70 anos, vive a melhor fase de sua carreira.

SOLUÇÕES PARA O SEU PROBLEMA

Como todo populista de direita, Biroliro adora posar de super-homem. Vive se gabando de seu histórico de atleta, além de fazer constantes menções a seu desempenho sexual. É mais uma narrativa que se choca com os fatos: além das infinitas sequelas da facada, ele também explode em sintomas de ansiedade, como insônia e soluços. Agora todas essas mazelas se juntaram para levá-lo de volta ao hospital. A internação vem em momento providencial, quando problemas pipocam para o Genocida de todos os lados. Mas a justiça poética só aconteceria se  ele se contaminasse com a variante delta.

terça-feira, 13 de julho de 2021

ABACAXI À CUBANA

Os protestos em Cuba vêm em péssima hora para Lula. O ex-presidente jamais teceu a mínima crítica à ditadura castrista, e já correu ao Instagram para dizer que na "passeata" não houve nenhum policial pisando no pescoço de ninguém, comparando alhos com bugalhos. Dando mata-leão, pelo jeito, tudo bem? Pois não faltam imagens de repressão policial violenta. Cuba e Venezuela são cleptocracias militares, parecidas com as que o Bozo quer implantar por aqui. Para manter animada sua base mais à esquerda, Lula incorre no mesmíssimo erro que Biroliro: profere absurdos e esquece que está alienando muito mais gente do que agradando. Bolsominions já estão usando essas declarações como munição contra o PT, lógico. Será que é pedir demais que um presidente brasileiro tire a cabeça da Guerra Fria e não apoie nenhuma ditadura?

segunda-feira, 12 de julho de 2021

ASPIRANTE A SUBCELEBRIDADE

Tenho cá para comigo que, quando a polícia bateu na festa em que se apresentavam Mateus e Kauan, Liziane Gutierrez sentiu que sua chance havia chegado. Não duvido nem que tenha sido ela quem chamou os hômi. Seu ataque histérico em frente às câmeras, aos gritos de "vai pra favela", me pareceu pensado para viralizar. E deu certo: o piti rendeu mais mídia do que as tentativas anteriores de ficar famosa da modelo-e-influenciadora (e não socialite, como escreveram alguns). Liziane já foi expulsa da van de Jason Derullo por, aham, sei lá, e expulsa do camarote da Dua Lipa por usar uma camiseta pró-Bozo - pelo menos, é o que ela mesma conta. Agora vai? Errada ela não está. Afinal, estamos no país em que o DJ Ivis conseguiu 250 mil novos seguidores depois que apareceram os vídeos em que ele bate em sua mulher.

GOLPE DE MESTRE

Em meio às celebrações pelas vitórias de Itália e Argentina em suas respectivas copas regionais, as internets se ocuparam de outro assunto neste domingo: a coluna em que Eliane Catanhêde sugere que Lula saia como vice na chapa de outrem em 2022, e não como candidato à presidência. Este gesto "nobre", segundo a jornalista, ajudaria a reduzir tensões e a recolocar o país no caminho certo. Seria um "golpe de mestre". Descontada a inconveniência de usar a palavra "golpe" neste momento, Eliane continua equivocada. Ela não consegue esconder seu desejo de que um terceiro nome chegue ao Planalto, o que é um direito dela - eu também gostaria. Mas Lula não tem por que abrir mão de um terceiro mandato. As pesquisas indicam que a rejeição a ele ainda é considerável, 37%, mas não se compara à de Cristina Kirchner na Argentina. A ex-presidente, como se sabe, saiu como vice na chapa de Alberto Fernández, como estratégia para voltar ao poder sem eriçar muitas penas. Se fosse a cabeça de chapa, talvez Macri teria sido reeleito. A situação no Brasil é totalmente diferente. Lula está quase vencendo por aclamação, talvez já no primeiro turno. Querer que ele demonstre desapego ao poder a esta altura - justo ele, que nunca deixou que outra liderança forte emergisse no PT - passa recibo de que Eliane não prestou atenção ao noticiário das últimas décadas.

domingo, 11 de julho de 2021

O DIA EM QUE TORCEMOS PELA ARGENTINA

Entre um soluço e outro, Mijaír conseguiu o impossível: fazer com que boa parte dos brasileiros torcêssemos pela Argentina num jogo decisivo contra o Brasil. Poucas vezes na história a seleção esteve tão descompassada com o torcedor, que não tem mais paciência para os rompantes de diva do "menino" Neymar. O Maracanazo da noite de ontem serviu para duas coisas: dar a Leonel Messi a chance de finalmente conquistar um título internacional pela esquadra de seu país, e negar ao Biroliro a chance de, pela segunda vez, levantar a taça da Copa América. O covardão nem deu as caras no Maracanã, já que o público não seria composto por motoqueiros brancos de meia idade. Preferiu ficar em Brasília, tramando o golpe que não conseguirá dar e dormindo a noite que não conseguirá dormir. Mais uma.

sábado, 10 de julho de 2021

VACA ATOLADA

E a velha história: um filme ganha um monte de prêmios e críticas boas, demora a chegar no Brasil e, quando finalmente dá as caras, decepciona quem estava aguardando pela segunda vinda de Jesus Cristo. Foi um pouco do que me aconteceu ao ver "First Cow - A Primeira Vaca da América", um dos queridinhos da temporada, que ontem chegou ao MUBI depois de mais de um mês em cartaz nos cinemas e disponível para aluguel. A tal da primeira vaca não é da América, mas do então território do Oregon, por volta de 1820. A região começava a ser colonizada por forasteiros, atraídos pelas notícias de ouro e outras preciosidades, e faltava de um tudo. Percebendo um nicho no mercado, um cozinheiro e um imigrante chinês começam a fritar algo parecido com bolinhos de chuva, que eles vendem a preço alto no mercado local. Só que o leite usado na massa é surrupiado da tal da única vaca, que pertence a um rico fazendeiro. Não demora para esse empresário do agronegócio descobrir a mamata. Essa historinha singlea é contada em tela quase quadrada, um precisosimo tolo, e ao ritmo de um bovino ruminando. Quase não há diálogos e passa-se uma boa hora sem que aconteça praticamente lhufas. Há quem adore esse tipo de cinema: eu até aprecio a beleza e o cuidado empregado, mas me bate um soninho avassalador. "First Cow" é um filme para boi dormir.

sexta-feira, 9 de julho de 2021

TERRIVELMENTE BOI DE PIRANHA

Parece que o Bozo vai mesmo indicar André Mendonça para o STF. O ex-ministro da Justiça e atual AGU preenche dois requisitos: além de ser terrivelmente evangélico, ele é totalmente submisso às ordens do chefe da familícia. Mas nada disso garante que será aprovado pelo Senado. Mendonça tem péssima relação com o Congresso, e Biroliro sabe disso. Se o seu escolhido for rejeitado, ele poderá dizer aos evanjas que bem que tentou, mas o malvado Legislativo mais uma vez não o deixou governar. Só que esse boi de piranha pode não evitar um massacre maior. Consta que existe um plano para os senadores simplesmente não colocarem o nome de André Mendonça em votação. Desta forma, o Bozo se vê impedido de indicar outro candidato, e a vaga aberta pela aposentadoria de Marco Aurélio fica à disposição do próximo presidente. Que, pelo andar da carruagem, não será o Genocida.

A MORTE EM VIDA DE OLAVO DE CARVALHO

Reportagem no site Metrópoles diz que a vinda de Olavo de Carvalho ao Brasil, para se tratar de graça no SUS, foi organizada na surdina por gente do governo e médicos birolistas. Esse conluio pode ter salvo a vida do guru da boca suja, mas enterrou o pouco que sobrava de sua reputação. Olavo, sabemos todos, é contra a medicina gratuita fornecida pelo Estado, e já criticou o Obamacare como um sintoma do socialismo que ameaça engolir os EUA. Pois não é que, na hora do aperto, o astrólogo veio se internar às nossas custas? Sem falar na olímpica furada de fila, que pode ter custado a vida de alguém que aguardava há meses por um leito. Não, não lhe desejo pronta recuperação, até porque ela é impossível: com sua hipocrisia agora exposta a olho nu, Olavo de Carvalho é a encarnação da irreversível decadência do boçalnarismo.

quinta-feira, 8 de julho de 2021

REPÚDIO À NOTA DE REPÚDIO

As Forças Armadas brasileiras venceram todas as poucas guerras em que entraram. As derrotas que sofreram são todas de ordem moral: a sem-cerimônia com que o Império foi derrubado, a participação ativa no Estado Novo de Getúlio Vargas, a ditadura depois do golpe de 1964. Mas nenhum desses vexames é tão grande quanto o desgoverno Biroliro, que os nossos milicos encamparam com empolgação. No começo, eu e muitos outros achamos que eles iriam controlar o Despreparado. Agora está claríssimo que são todas farinha podre do mesmo saco. A nota de repúdio emitida ontem, depois que o senador Omar Aziz mandou prender Roberto Dias durante a CPI, é a confissão de que eles se acham acima da lei e uma clara tentativa de intimidação. Não sei se conseguiram: a reação nas redes sociais foi de repulsa, ojeriza, nojo à ditadura, como dizia Ulysses Guimarães. É só isso que impedirá o golpe que eles planejam abertamente, quando o Bozo perder a reeleição.

quarta-feira, 7 de julho de 2021

TEJE PRESO

Era esse o post.

IMPOR O SEU COSTUME

"É o cartão de visita dele", riu o Bozo, referindo-se à saída do armário de Eduardo Leite na noite anterior. Esta frase foi repetida à larga pela imprensa e até provocou uma reação minha nas redes: ser gay é um cartão de visita muito melhor que fazer arminha com a mão e falar merda (para não falar na rachadinha, na propina das vacinas, etc. etc.). Mas a frase seguinte do Pequi Roído passou meio batida. “Ninguém tem nada contra a vida particular de ninguém, mas querer impor o seu costume, o seu comportamento para os outros, não”, bramiu o Despreparado, querendo pagar de moderno. Só que não tem ninguém querendo "impor o seu costume" para ninguém. Eduardo Leite não exortou nenhum hétero a fornecer o rabicó, nem aliciou criancinhas para o Vale dos Homossexuais. O que o Minto quis dizer é que, para ele, ser homofóbico é um direito alienável. Ninguém tem o direito de lhe cobrar respeito e tolerância, pois ter horror aos LGBT+ seria mera questão de opinião. O comportamento que estaria sendo imposto é o reconhecimento da plena cidadania da bicharada e afins. Ou seja: Biroliro continua tão asqueroso como sempre. Sem falar na rachadinha, na propina das vacinas, etc. etc.

terça-feira, 6 de julho de 2021

FAÍSCAS NA CROISETTE

Hoje começou o Festival de Cannes de 2021, e eu ainda não acredito que o filme de abertura foi "Annette", criado e musicado pelo Sparks. Minha banda favorita em atividade subiu os degraus do Palais, na maior estica, ao lado do elenco e do diretor Léos Carax. Então é um bom dia para falar da trilha sonora, já disponível nas melhores plataformas. "Annette" é, de fato, uma ópera pop, com direito a canto lírico e riffs de guitarra. É profundamente Sparks, ao mesmo tempo em que se distingue de todos os 26 álbuns anteriores da banda e avança por novos territórios. Adam Driver e Marion Cotillard cantam/interpretam à perfeição, e as letras trazem alguns spoilers do que se passa no filme. Mais não vou contar: só recomendo aos ouvidos aventureiros que arrisquem essa esquisitice. Ah, e ela morre no final.

ROGAI POR NÓS, PECADORES

O roteirista britânico Russell T. Davies acaba de entrar para o meu panteão de ídolos contemporâneos. Talvez já devesse ter entrado há anos: foi ele quem criou "Queer as Folk", até hoje a melhor série sobre o lifestyle das guei. Dois anos atrás, Davies assinou a excelente minissérie "Years and Years" da HBO, que imaginava o Reino Unido na próxima década. Agora ele cometeu uma obra-prima: "It's a Sin", finalmente disponível no Brasil na plataforma HBO Max. Eu estava meio assim para ver, porque a minissérie fala da AIDS - um assunto que não costuma render boa dramaturgia, porque a gente já sabe que o final é infeliz. Mas os cinco episódios vão muito além do horror da doença. Também um formam um painel fidedigno dos anos 80 em Londres, com sexo a rodo e a melhor música pop de todos os tempos. Quatro amigos gays e uma faz hagiografia (google aí) vão morar juntos num imenso apartamento, onde todo mundo transa com todo mundo e a festa não tem hora para acabar. Aí surge a maldita, e as primeiras reações são de negação. "Isso só dá nos americanos, é um complô da indústria farmacêutica, o governo quer nos controlar". As mesmas desculpas que circulavam por aqui naquela época, em que eu também desabrochava para a viadagem. Não demora, no entanto, para a síndrome começar a ceifar amigos, conhecidos e membros do próprio grupo. Desse jeito soa como a coisa mais deprimente do mundo, mas Davies tempera os roteiros com todo o humor possível e uma justa indignação ante a apatia dos governantes, que demoraram a investir em pesquisas. Na linha de frente está Olly Alexander, o vocalista da banda Years and Years, que se mostra um ator completo e carismático. Há também rápidas participações de bibas famosas, como Neil Patrick Harris e Stephen Fry. "It's a Sin" funcionou como uma catarse para mim, que conheci muitos que não tiveram a mesma sorte que eu. Somos todos pecadores, todos humanos, e a AIDS não escolhia quem atingir. Quase 40 anos depois, as novas gerações podem sentir nessa minissérie um pouco da barra que nós vivemos.

segunda-feira, 5 de julho de 2021

QUESTO STRANISSIMO BALLO CHE FACCIO CON TE

Morreu Raffaella Carrà, uma das maiores estrelas do showbiz italiano. Aqui no Brasil ela não era muito conhecida, mas na Itália e na América Latina era um misto de Xuxa, Hebe e a deusa Vênus embrulhada para presente. Como cantora, emplacou hits absurdos como "Tuca Tuca" e "A Far l'Amore Comincia Tu", que ganhou remix de Bob Sinclar uns anos atrás. Como apresentadora de TV, foi a pioneira em ligar para alguém e esperar que do outro lado respondessem "ciao, Raffaella!", um gimmick depois copiado no mundo inteiro. Para completar, a diva ainda brigou com o Vaticano, defendeu as guei a vida inteira e inventou o bate-cabelo, como prova o GIF abaixo. Tchau, Raffaella: descanse em glória.

O ESQUEMA RACHOU

Que surpresa inesperada! Quer dizer então que o chefe do esquema de rachadinhas nos gabinetes da familícia não era o 01, não era o 02, não era o 03, era o 00 em pessoa? Ele mesmo, Edaír Biroliro, o Despreparado, o Pau Fino, o Genocida. Aquele que só o gado mais fanático ainda acha que é honesto, segundo o furo de reportagem do UOL. É curioso como todos os grandes esquemas de corrupção do Brasil sempre começam a ruir por dentro, com a delação de algum apaniguado descontente. Foi Pedro Collor quem deu o pontapé inicial para o impeachment do irmão, foi Roberto Jefferson quem dedurou o mensalão e agora é Andrea Siqueira Valle, ex-cunhada do Bozo e ex-assessora do Flávio, quem bota a boca no mundo. Sem querer, é verdade: foi a pessoa para quem ela enviou esses áudios que os vazou para a imprensa. Esse escândalo é mais um prego no caixão do Mijair, e tão grande que o Carluxo entrou em parafuso no Twitter do pai ontem à noite, inventando que um juiz do STF ("Daniel") estaria sendo investigado por pedofilia. Não há fumaça no mundo para tanta cortina.

domingo, 4 de julho de 2021

CALMA, QUE EU JÁ TÔ PENSANDO NO FUTURO

As noites de sábado têm sido dedicadas a filmes bobos aqui em casa, mas "A Guerra do Amanhã" abusou da nossa boa vontade. A grande estreia do mês na Amazon Prime Video se vende como um grande épico de ficção-científica com toques de drama familiar, mas na verdade é um pastiche de "Alien", "O Exterminador do Futuro" e milhões de outros blockbusters que a gente já viu. Em plena final da Copa de 2002 no Qatar, com o Brasil em campo, emissários do ano 2050 vêm avisar que a humanidade está perdendo a luta contra uma raça de monstrengos alienígenas. Ninguém sabe como eles chegaram à Terra, pois não há traços de espaçonave, e os bichos não dominam nenhuma tecnologia. Só querem saber de uma coisa: nos devorar. A solução talvez seja mandar soldados do presente para combater no futuro. Só que os convocados têm mais de 40 anos, não recebem nenhum treinamento e são jogados de arminha na mão em pleno campo de batalha... Este é só o menor dos furos de um roteiro que não é um queijo suíço, é um vestido de renda. Pairando impávido sobre este imbróglio está Chris Pratt, exalando a canastrice que o papel exige. "A Guerra do Amanhã" não parece apenas ter sido feito para garotos de 13 anos, mas por garotos de 13 anos. Para tapar o buraco que se abriu em nossos cérebros, no sábado que vem veremos "O Ano Passado em Marienbad".

sábado, 3 de julho de 2021

MAIS DA MESMA

Invariavelmente, eu sempre me decepciono com a primeira audição de um novo álbum de Marisa Monte. É culpa da estreia dela, estrondosa, que ocorreu em 1988, com os primeiros shows, e em 1989, com o álbum ao vivo "MM", cheio de covers poderosos. No entanto, desde o disco "Mais", de 1991, MM quer dizer mais do mesmo. Marisa Monte se retirou para um universo particular (clichê proposital) onde imperam musiquinhas bonitinhas feitas por ela e seus amiguinhos. Ela nunca cometeu um álbm ruim, mas também jamais retornou aos píncaros dos primeiros anos. O recém-lançado "Portas" é seu primeiro trabalho solo em quase uma década. É lindo, com faixas deliciosas e assobiáveis, mesmo não avançando um milímetro a história da música brasileira. Ou talvez avance: cinco das 16 canções foram compostas com Chico Brown, neto do Chico e filho do Brown, que tem pinta de ser um dos talentos que irão reinar sobre nossos ouvidos no futuro próximo. O futuro, aliás, é um tema recorrente de "Portas", alvissareiro e ensolarado. Marisa Monte podia se fazer menos rara, lançando álbuns mais amiúde, e eu não ficaria chateado se ela experimentasse mais. Sei lá, com timbre eletrônicos ou funk da favela? Em "Portas", ela não sai de sua zona de conforto. Mas a verdade é que, neste momento, estamos todos precisando nos sentir mais confortáveis.

sexta-feira, 2 de julho de 2021

O VIDEOTAPE DA MINHA VIDA

Não sei se ainda existe a crendice de que, ao morrer, a pessoa vê flashes da própria vida passarem diante de seus olhos. Chico Anysio definiu este momento como "o videotape da sua vida". Pois bem: foi esta a sensação que eu tive assistindo ao especial de "Friends" na HBO Max. Não são só o Ross e a Rachel bem novinhos que aparecem ali, sou eu também, dos 35 anos 44 anos de idade. "Friends" está marcado a ferro no meu DNA emocional. Parece que fui eu que foi "comando", parece que fui que compus "Smelly Cat". O programa também serve como um memento mori. Todos eles envelheceram, embora em graus diferentes. Matt Le Blanc, que era um gato até outro dia, agora está a dois centímetros de virar o tiozão do churrasco. Courteney Cox esticou o rosto demais e mudou o shape da própria boca... Ninguém está ficando mais jovem, eu inclusive, e presenciar esta reunião teve esse gostinho amargo. Mas também foi doce: ri de piadas novas e antigas e me congratulei mentalmente por ter sido aluno da Marta Kauffman. "Friends" agora pode ser cringe, mas também é uma das melhores sitcoms de todos os tempos. Estarei lá para eles.

UM GOVERNADOR GAY

Acabei de ver a íntegra da entrevista de Eduardo Leite ao "Conversa com Bial", e não só o trechinho aí de cima que incendiou as internets. É um momento histórico, tanto para a TV como para a política brasileira. Nunca antes neste país um governador de estado havia assumido sua homossexualidade em rede nacional. Também ficou claro que a entrevista foi combinada exatamente para isto: não é o Pedro Bial quem toca no assunto, é o próprio chefe do executivo gaúcho. Sim, ele se assumiu para desarmar seus críticos e lançar sua candidatura ao Planalto. Acabou resolvendo um problema, que era ser desconhecido no resto do Brasil: agora Eduardo Leite é um nome de expressão nacional.

Não demorou para surgir nas redes sociais um movimento para tirar a primazia do gesto de Leite, como se houvesse um concurso para ver quem sai do armário primeiro. Fátima Bezerra, governadora do Rio Grande do Norte, é lésbica. Jean Wyllys até fez uma postagem ressentidíssima, choramingando que a imprensa nunca celebrou a sapatice de Fátima. Acontece que a imprensa, pelo menos a séria, não costuma falar sobre a vida sexual dos políticos. E a governadora podia não se esconder nem mentir, mas nunca deu entrevista falando sobre sua mulher. Eu fiz uma busca e não achei nada: se alguém souber onde tem, por favor, me mostre. Pelo jeito, ela usa a mesma tática que eu usei com meu pai. Nunca chamei o velho e disse, "olha, o negócio é o seguinte". Simplesmente comecei a trazer meu marido para eventos de família, e ninguém jamais explicitou nada. Mas claro que estava claro, e papai nunca me repreendeu. Eu sentia que ele preferia assim.

Foi surpreendente a reação dos meus amigos de esquerda. Os políticos levaram numa boa: gaúchas como Manuela D'Ávila, Maria do Rosário e Luciana Genro, todas opositoras de Leite, aplaudiram o governador. Mas não faltou gente indignada como o auto-outing, como se um não-petista não tivesse o direito de fazê-lo. Galera, deixa disso: é sensacional que um governador de estado se assuma gay, ainda mais no Brasil de Biroliro. O fato dele ser neoliberal, tucano ou sei lá o quê não diminui em nada sua coragem. Quisera eu ter um político famoso fora do armário nos meus tempos de bichinha trêmula e insegura. "Ãin, mas ele votou no Bozo no segundo turno, e disse no Roda Viva, no ano passado, que não se arrependeu". Sim, isto é grave, e Eduardo Leite vai ter que rever suas posições. Mas é bom lembrar que ele agora quer o trono do Bozo.

Só isto já basta para atrair o ódio eterno das hostes bovinas. Na cabeça do gado, ninguém pode ousar sonhar com a presidência, só o Minto. Foi o que os colocou contra Witzel e Doria, que nem de esquerda são. Mas, agora, Eduardo Leite arrancou das mãos dos minions a granada da insinuação. Quem xingá-lo abertamente de viado, ou disser que ele corrompe as criancinhas, será imediatamente tachado de homofóbico, coisa que nem o Daniel Silveira quer. Eu não tenho radicais na minha bolha, mas suspeito que estão bem quietinhos. Até porque eles têm um telhado de vidro transparente, e debaixo dele dá para ver o Carluxo.

quinta-feira, 1 de julho de 2021

Ô LÔCO MEU

A saída de Fausto Silva da Globo, depois de 32 anos de Domingão, é um evento de proporções épicas na história da TV brasileira. Tanto que virou o assunto do episódio desta semana do podcast Expresso Ilustrada, que você pode ouvir aqui ou no Spotify. O roteiro é de Natália Silva e a condução é de Isabella Menon e Carolina Moraes. Tenho a honra de participar, ao lado dos meus amigos e colegas de métier Cristina Padiglione e Maurício Stycer. Pois é, galera: quem sabe, faz ao vivo.

NAU SEM RUMO

A premissa era irresistível. Meryl Streep faz uma famosa escritora que vai de navio dos EUA à Inglaterra, para receber um prêmio. Junto com ela vão o sobrinho e duas amigas da época da faculdade, a quem não via há anos. Mas nem tudo vai de vento em popa: uma das ex-colegas, vivida por Candice Bergen, é um pote até aqui de mágoa, e acusa a autora de ter se inspirado nela para construir a protagonista de um livro de sucesso. Tudo isso a bordo do Queen Mary 2, um dos transatlânticos mais luxuosos do mundo. Só que "Let Them All Talk", que está disponível na recém-chegada  HBO Max, entrega bem menos do que promete. Apesar do elenco esplendoroso, o filme de Steven Soderbergh peca no roteiro. Os diálogos são improvisados, o que dá bastante naturalidade às situações, mas muitos são menos engraçados do que poderiam ser. Mas o pior mesmo é o desfecho, que não conclui a contento o arco dramático. Qual era o ponto de Soderbergh? O que ele quis dizer com este longa? No final, a sensação é a de que tudo não passa de um infomercial do Queen Mary 2. Que, aliás, é bem cafona, cheio de lambris com detalhes dourados.