quarta-feira, 30 de junho de 2021

ERREI DE TV

Faço neste post algo inédito aqui no blog: publico na íntegra um e-mail enviado por uma emissora de TV para jornalistas. Achei que vocês iam gostar de ver a cara-de-pau da RedeTV!, que não só não irá punir o execrável Sikêra Jr. como ainda diz que o "lamentável episódio" servirá ao "aprimoramento pessoal" do apresentador. A maior razão por trás dessa passada de pano é a maneira acintosa como Sikêra Jr. bajula a familícia Biroliro (a troco de uns caraminguás, é verdade). A RedeTV! consegue ser ainda mais subserviente ao desgoverno do que a Record ou o SBT, um páreo duríssimo. Também não devemos desconsiderar que os donos do canal compartilhem das ideias do execrável. Vejam só que texto patético:

 REDETV! | COMUNICADO OFICIAL 

 O respeito à diversidade sexual e a não discriminação de cor, raça, gênero ou religião é uma tradição dos 22 anos de existência da RedeTV!, que possui uma programação plural e políticas internas de inclusão no seu sentido mais amplo. O compromisso com a população LGBTQIA+ faz parte dos valores editoriais e empresariais da RedeTV!. 

A emissora reprova veementemente todos os tipos de discriminação e preconceito. Nesse sentido, a RedeTV! vem a público manifestar condenação a qualquer expressão de homofobia. Queremos também agradecer a todos os nossos colaboradores por ajudarem a construir uma empresa cada dia mais forte e plural. 

 No caso do lamentável episódio envolvendo o apresentador Sikêra Jr. às vésperas do Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, o mesmo desculpou-se publicamente durante o programa da última terça-feira, reconhecendo o equívoco de suas declarações perante a todos que se sentiram justificadamente ofendidos e a todos seus telespectadores, o que certamente servirá para o seu aprimoramento pessoal e profissional. 

Mesmo assim, a RedeTV! ressalta que tal comportamento não representa, de forma alguma, o posicionamento e o respeito da emissora à diversidade e população LGBTQIA+. Entendemos que o exercício da tolerância e o respeito às diferenças são valores fundamentais numa sociedade democrática como a brasileira.

Tomara que eles percam ainda mais anunciantes.

SUA VIDA VALE UM DÓLAR

Parece que o noticiário pisou no acelerador nas últimas 24 horas. Tanta coisa rolando ao mesmo tempo que eu até fico tonto. Tem o empresário Carlos Wizard, que finalmente compareceu à CPI, mas para ficar calado. Como Wizard é pseudônimo, acho que seria mais honesto ele trocar seu nome para Carlos Coward. Tem o superpedido de impeachment, que reuniu de Molon a Kataguiri, mas ainda com poucas chances de prosperar. E tem, acima de tudo, a denúncia estarrecedora de que o ministério da Saúde pediu propina de um dólar por dose de vacina, num negócio bilionário com a AstraZeneca. O desgoverno Biroliro, dessa maneira, se desnuda em toda sua podridão, que é ainda pior do que temíamos. Edaír está deixando o notório patife Ricardo Barros roubar à vontade para garantir o apoio do Centrão - um crime mais grave do que o mensalão de Lula, porque dessa vez estamos em plena pandemia. Duvido que o PGR Augusto Aras faça alguma coisa, pois ele ainda sonha com uma vaguinha no STF daqui a dois anos (essa próxima ele já perdeu). Mas Arthur Lira, o presidente da Câmara, pode se mexer se as próximos protestos forem volumosos. Por isto, galera, vamos reforçar as máscaras, porque neste sábado temos todos que ir para as ruas.

terça-feira, 29 de junho de 2021

SIKÊRA NEM BEIRA

Sikêra Jr. acusou o golpe. A figura mais execrável da TV brasileira pediu desculpas pelos "excessos" em seu programa de hoje, depois de chamar os homossexuais de "raça desgraçada" na sexta. O arrependimento não veio depois de uma profunda reflexão, e sim depois de ele perder três anunciantes. Também está sendo processado, e a RedeTV! periga morrer em 10 milhões de multa. Claro que essas desculpas esfarrapadas não convencem ninguém. Sikêra Jr. continua tão homofóbico quanto antes, e não vai demorar para por suas asinhas pra fora outra vez. Pelo menos, dessa vez ele sentiu no bolso. Tomara que também tenha percebido que o clima no Brasil está mudando, ainda mais agora que o Biroliro está sendo desmascarado como o chefe de um esquema de corrupção. De resto, aquela lição que sempre se confirma: não mexe com as guei. 

PRE-VA-VA-RICANDO

Demorou dois anos e meio de desgoverno e custou mais de meio milhão de mortos, mas finalmente estou me divertindo às custas do Biroliro. É delicioso perceber como ele está se borrando com a tempestade perfeita que se forma sobre sua cabeça. A pecha de prevaricador lhe cai como uma luva, até porque o termo - que significa apenas que o Pandemito não tomou providências contra um crime em andamento - soa meio erótico, meio sacaninha. "Vem prevaricar com o papai, sua safadinha". Também me faz rir a suspeita de que foi Arthur Lira, o presidente da Câmara, quem insuflou os irmãos Miranda a denunciar o esquema bilionário no ministério da Saúde, só para ter o Bozo ainda mais em suas mãos sujas. Se for isto mesmo, é uma jogada arriscada. Os protestos tendem a engrossar, ainda mais com cada vez mais gente vacinada, e um processo de impeachment pode se tornar incontornável. Aqui em casa, iremos todos para a Paulista neste sábado.

segunda-feira, 28 de junho de 2021

ORGULHO E PAIXÃO

E aqui está a íntegra da minha live com Silvio de Abreu, que acabou de ir ao ar pelo canal Manual do Tempo no YouTube. Neste dia do Orgulho LGBTQIAP+ (acabei de ver que a letra P entrou para a sigla, isso não vai parar nunca...), nós revisitamos os personagens gays e trans das novelas dele, e também discutimos a evolução dessa representatividade na televisão brasileira. É apaixonante conversar com alguém como o Silvio, que viu tudo, participou de tudo e sabe de tudo. Outras lives virão.

ELA É CONTRA A VACINA SIM

Nem mesmo a Karol Conká mereceu tanto ser cancelada quanto Fernanda Venturini. A cantora foi execrável no BBB 21, mas não colocou em risco a vida de ninguém. Já a ex-jogadora de vôlei, birolista de carteirinha, espalha desinformação com sua atitude negacionista, incentivando os desinformados a não se imunizarem. Ela diz que tomou a Pfizer porque "é a menos pior, hahaha", mas faz rir mesmo no vídeo em que alega ter sido "mal interpretada" e choraminga estar sendo vítima de perseguição. Tem mais é que perseguir mesmo, porque a irresponsabilidade dessa celerada pode custar vidas. O que me consola é que, com a credibilidade a zero, Venturini não tem mais moral para manter um canal no YouTube chamado "14 Minutos de Saúde".

domingo, 27 de junho de 2021

UM LIVRO ENCANTADO

Terminei hoje a leitura de "Torto Arado" e estou sem fôlego. O livro de Itamar Vieira Junior é, talvez, o maior romance em língua portuguesa dos últimos 10 anos. Tive a sensação de estar lendo um clássico, daqueles que nos obrigavam no colégio, mas também uma obra moderna que reflete o Brasil dos dias de hoje. A linguagem elegante e clara, que resiste à tentação de reproduzir a fala regional sem jamais diminuí-la, já é um monumento por si só. Também há parágrafos tão belos que dão vontade de emoldurar. As duas primeiras partes são narradas pelas irmãs Bibiana e Belonísia, unidas para sempre por um acidente com uma faca, que cortou a língua de uma delas. As duas vivem numa fazenda na região da Chapada Diamantina, no interior da Bahia, em regime análogo à escravidão, já na segunda metade do século 20. O narrador da terceira parte me pegou de surpresa: não vou dizer quem é, para não estragar o prazer de quem ainda não leu. E por trás da beleza estética ainda há uma trama ancestral, visceral, panfletária, inspiradora, negra como o país que finge que não é. Um romance obrigatório por todas as razões possíveis.

Não vai demorar para que "Torto Arado" ganhe as telas. O cineasta Heitor Dhalia comprou os direitos, e ainda não sabe se vai transformar o livro em filme ou minissérie. O que não me impediu de fantasiar que, se os tempos fossem outros, em breve teríamos...

de Walcyr Carrasco
TORTO ARADO
A nova novela das 18 horas
Duas irmãs disputando o amor de um mesmo homem

com
Giovanna Antonelli (Bibiana)
Marina Ruy Barbosa (Belonísia)
Antonio Fagundes (Zeca Chapéu Grande)
Irene Ravache (Salustiana)
Fábio Assunção (Severo)
Juliana Paes (Maria Cabocla)
Osmar Prado (Tobias)
Mariana Ximenes (Crispina e Crispiniana)
Regina Duarte (Miúda)

participação especial
Fernanda Montenegro (Donana)

atriz convidada
Vera Holtz (Santa Rita Pescadeira)

No último capítulo, Santa Rita devolve a fala à irmã que era muda.

sábado, 26 de junho de 2021

MINHA PRÓXIMA VÍTIMA

Silvio de Abreu, ex-diretor de dramaturgia da Globo e autor de novelas como "A Próxima Vítima", "Torre de Babel" e "Guerra dos Sexos", será a próxima vítima da minha vontade de falar mais que o entrevistado. Na segunda-feira, 28 de junho, Dia do Orgulho LGBTQIA+, às 19h, Silvio e eu participaremos de uma live no canal do Manual do Tempo no YouTube, para discutir como a presença de personagens gays, lésbicas, trans e etc. vem crescendo na televisão brasileira. Marque na agenda!

sexta-feira, 25 de junho de 2021

PABLLO, QUAL É A MÚSICA?

Depois de um álbum cheio de convidados internacionais e letras em inglês ou espanhol, Pabllo Vittar se volta para seu país e seu passado. "Batidão Tropical", lançado nesta sexta, é um mergulho no tecnobrega, ou seja lá como se chama o que ela escutava na adolescência. Também já é um dos melhores discos nacionais do ano. Só as três primeiras faixas são inéditas; entre elas, a épica "Ama Sofre Chora" e o novo single, "Triste com T". As outras seis são covers de bandas como Kossikó, Ravelly e outras de que eu nunca tinha ouvido falar. Meus tímpanos sudestinos não conheciam nenhuma das músicas originais. Minha favorita é "Ultra Som", que não dura nem dois minutos - aliás, o álbum todo é curto, só 23 minutos. Mas sabemos que este é só o pontapé inicial do projeto: daqui a uns meses sai uma versão deluxe, com remixes e novidades. Tomara que tenha uma capa melhor do que a atual, em que a Pabllo parece ter um braço encolhido pela talidomida.

SE ELES CONSEGUEM, VOCÊ CONSEGUE

O Fefito tem razão: não fosse pela hashtag #BurgerKingLixo, muita gente não teria visto e compatilhado o maravilhoso comercial do Burger King. Inclusive eu. A minionzada, aflita porque o Minto perderia se o primeiro turno fosse hoje, tentou agitar a bandeira da corrupção de menores, e só ajudou na divulgação da campanha da rede de lanchonetes. Faz tempo que eu evito fast food, mas hoje até me deu vontade de prestigiar o BK. Ah, e tem outra boa notícia vinda do universo do hambúrguer: parece que o Madero está fazendo água. Maadeeroo!

quinta-feira, 24 de junho de 2021

SHARON SHADE

Sharon Stone tem razão ao dizer que Meryl Streep é supervalorizada. Claro que é uma atriz fenomenal, mas não é a única. Tampouco é a deusa viva que alguns creem, como a repórter que perguntou a Sharon como foi "finalmente" trabalhar com Meryl, no filme "A Lavanderia". O fato é que a indústria colocou a intérprete de Miranda Priestly num pedestal há muito tempo, e todos os bons papéis femininos são oferecidos primeiro para ela. Isto explica as 21 indicações ao Oscar, um recorde absoluto. Acho que a própria Meryl, com seu bom humor habitual, concorda com isto. Sharon também está certa quando afirma que faz vilãs melhor do que Meryl. Nesse ponto, ela faz jus ao silvo de serpente de suas iniciais: SSSSSS...

CRINGE-O-RAMA

Eu sou boomer. Me encaixo direitinho na definição, até porque meu pai combateu da 2a. Guerra Mundial. Nasci em 1960 e tenho 60 anos de idade: isto significa que faz muito, mas muito, muito tempo mesmo que eu deixei de me preocupar com o que as gerações X, Y ou Z pensam de mim. Até porque eu vivi de um tudo: presenciei a chegada do homem à Lua, da TV a cores, do fax, do celular, da internet, da vaporwave. Imagina se eu vou ligar para um moleque de 20 anos que me acha cringe. A própria lista de coisas cringeworthy já me causa arrepios: café da manhã?? Fora que essa petizada diz que não gosta da Disney, mas idolatra Olivia Rodrigo, construída bionicamente dentro do império do Mickey. Quando eu tinha a idade deles, as cantoras da moda eram Kate Bush e Grace Jones... Desculpaê, que eu tenho um boleto para pagar.

quarta-feira, 23 de junho de 2021

MAADEEIRAAA

Caiu Ricardo Salles. Caiu Ernesto Araújo. Caiu Abraham Weintraub. Do quadunvirato ideológico que Biroliro instalou no ministério, só sobrou a Damares, que anda na moita fazendo sabe-se lá o quê. A queda do pior ministro do Meio Ambiente de todos os tempos já era mais que esperada, mas, por ter acontecido justo hoje, sinaliza algo importante: o escândalo da Covaxin é sério e pode mesmo abalar o desgoverno. Convém lembrar que Weintraub foi demitido no mesmo dia em que o Queiroz foi preso, em junho de 2020. A tática é tão manjada que agora sai pela culatra: a cortina de fumaça realça aquilo que o Bozo quer esconder. Salles já vai tarde e sua saída merece ser comemorada, mas seu sucessor Joaquim Pereira Leite é tão ruim quanto. Só há um jeito de termos bons ministros: antes, precisamos ter um bom presidente.

A VERDADEIRA FRAUDE

Chega de dar trela para o Biroliro. Feito uma criança de três anos, ele testa diariamente os limites impostos pelos de maior idade mental. Estes costumam reagir como se de fato o Despreparado fosse um menor inimputável: "ah, é só o jeitinho dele, ele é autêntico". Mas quero crer que as peraltices do Edaír tenham batido num muro. Luís Felipe Salomão, corregedor-geral da Justiça Eleitoral, deu 15 dias para o miliciano apresentar provas da fraude eleitoral que ele alega, há mais de um ano, ter sofrido em 2018 - uma eleição que ele ganhou, by the way. Claro que elas não existem, porque as urnas eletrônicas usadas no Brasil são bastante confiáveis. Não sei como o Bozo vai se safar dessa, porque minar a confiança no sistema eleitoral é um dos pilares do golpe que ele pretende dar no ano que vem, quando perder a eleição. Mas tomara que ele nem possa concorrer: já tem juiz falando em torná-lo inelegível, se continuar a disseminar fake news sobre fraudes inexistentes. Tomara.

terça-feira, 22 de junho de 2021

COVAXDES

Então... não foi por inépcia que o Biroliro não comprou vacina logo. Nem mesmo pela vontade de matar o maior número de gente possível, como arriscam alguns. Foi por ganância mesmo. A insistência do Mijaír na cloroquina, um medicamento que não foi usado por NENHUM outro país do mundo, já levantou a suspeita de que ele e seu entorno estão ganhando dinheiro com o fictício "tratamento precoce". Agora emerge o escândalo da Covaxin: um funcionário do ministério da Saúde deu com a língua nos dentes e revelou a "pressão atípica" para comprar a vacina indiana por um preço superior ao da Pfizer. Tem um intermediário no meio, veja só, o que não houve em nenhuma outra aquisição de imunizante. É asqueroso e revoltante pensar que esses covardes querem faturar em cima da morte dos outros, mas é o que está pintando. Eles são ainda piores do que nós pensávamos. Basta seguir o dinheiro. 

O LÁZARO QUE OSTENTAS ESTRELADO

A pior série em cartaz atualmente é a perseguição ao bandido Lázaro Barbosa, o segundo maior serial killer do Distrito Federal. Todo dia é uma enxurrada de não-notícias: Lázaro está por perto, alguém viu Lázaro passar, ninguém pegou Lázaro. Como é que a polícia cerca uma área de mata com centenas de homens, há quase duas semanas, e ninguém consegue prender um cara que está sozinho? Dizem que ele passa o dia escondido, e sai à noite em busca de comida. E mesmo assim ninguém sabe onde ele vai? Para mim, o facínora está ocupando alguma casa onde a geldadeira é bem fornida. Ou, simplesmente, já se mandou há muito tempo: há relatos de que ele teria sido visto em Foz do Iguaçu. Enquanto isto, o gado posta memes em que Lázaro aparece ao lado de Lula, em montagens toscas feito a cabeça do Biroliro. O que me faz aventar outra hipótese: essa caçada humana é só mais uma cortina de fumaça, para nos distrair da CPI.

segunda-feira, 21 de junho de 2021

SENTIU

Biroliro está se borrando de medo. Tal qual um cachorro acuado, ele arreganha os dentes para quem imagina ser mais fraco - no caso, uma repórter da TV Vanguarda. Hoje sobre até para a própria entourage do Despreparado, que se assustou com o tamanho das manifestações de sábado e o avanço da CPI. O cara já desistiu de governar: está em campanha permanente, porque vai em cana se não se reeleger no ano que vem. Tirou a segunda para comparecer à importantíssima formatura de uma turma de sargentos da Aeronáutica em Guaratinguetá, para garantir apoio ao golpe que pretende dar. Vai conseguir? Duvido. Edaír não tem uma qualidade imprescindível ao bom golpista: sangue frio.

CANDELABRO ITALIANO

Quando eu penso no cinema da Itália, me vêm à cabeça comédias picantes, dramas neorrealistas e muito Fellini. Mas neste fim de semana eu vi dois longas que passam longe dos estereótipos. O primeiro, tecnicamente, é uma produção americana falada em inglês: "Luca", o novo desenho da Pixar, que acaba de chegar ao Disney +. O protagonista é um jovem monstro marinho que tem a capacidade de adquirir aspecto humano quando vem à terra firme. Numa pequena cidade do que parece ser o litoral da Liguria, ele fa um grande amigo, se interessa por uma garota e tenta manter seu segredo a qualquer custo. A história bonitinha é realçada por um visual deslumbrante e uma trilha de clássicos pop italianos, que não têm nada a ver com a trama mas servem para dar sabor local. Agora, não tem nada de gay: ignore os comentários de que os dois amigos são mais do que isso, ou que "Luca" seja uma versão para crianças de "Me Chame pelo Seu Nome".  Não é.
 
Ousado mesmo é "Rômulo e Remo: O Primeiro Rei", uma reimaginação arqueologicamente plausível do mito fundador de Roma. O filme de Matteo Rovere tem poucos diálogos, mas eles são em... protolatim (calma que tem legenda). Também é violentíssimo. As tribos que habitavam a região do Lácio no século 8 a.C. conheciam os metais e os tecidos, mas não tinham a menor noção de civilidade. O curioso que o protagonista do longa é Remo, vivido pelo belo Alessandro Borghi da série "Suburra". Os mais cultos sabem que quem fundou Roma foi Rômulo, e que Remo... não vou dar spoiler. Este festim de sangue integra a programação da Festa do Cinema Italiano e pode ser visto hoje até as 18h ou, por 24 horas, a partir das 18h de quarta, no Looke. É grátis, até para não-assinantes do serviço, mas é preciso se cadastrar.

domingo, 20 de junho de 2021

500 MIL MORTOS

Perdão pela falta de originalidade do título deste post. Os maiores jornais do país também o estamparam em suas manchetes deste domingo, com uma ou outra variação. Esse número é avassalador e incontornável, e mesmo assim tem gente no desgoverno do Edaír tentando contorná-lo. Fábio Faria, ministro das Comunicações, mostrou que não é do ramo ao postar o tuíte ao lado, que fala em comemorar os 18 milhões de curados. Para começar, o dado está errado: são 16 milhões e tanto de vítimas brasileiras de Covid que não foram a óbito. Dizer que estão todas curadas é um exagero gigantesco: muito gente tem sequelas graves, e algumas terão pelo resto da vida. Fora que não teríamos tantos supostamente curados se não tivéssemos tantos infectados: estamos nos aproximando rapidamente do momento em que um em cada 10 brasileiros contraiu o novo coronavírus, o que é uma taxa de infecção absurda sob qualquer parâmetro. E por que tanta gente se infectou? Porque o Minto foi contra o lockdown e as máscaras, porque promoveu a cloroquina e porque atrasou quanto pôde a compra de vacinas. Os maiores culpados por essa tragédia são ele e a corja de incompetentes e apaniguados que o cerca (o sr. Patrícia Abravanel, é bom lembrar, foi um entusiasmado apoiador de Dilma Rousseff). Eles não torcem pelo vírus: eles agem efetivamente para que o Sars-CoV-2 se espalhe o mais rapidamente possível, por toda a população. É por isto que as ruas se encheram mais uma vez neste sábado. A imprensa destaca que os atos foram convocados pela esquerda, mas muitos manifestantes - eu, inclusive, novamente na avenida Paulista - não são de esquerda. Impressionou, aliás, a quantidade de parentes de mortos pela Covid, segurando cartazes lamentando a perda de pais, irmãos e amigos. Taí uma batata quentíssima para o Biroliro: esse meio milhão de mortos deixou muitos milhões de desconsolados, que dificilmente votarão no Genocida no ano que vem. O birolismo não está conseguindo nenhum novo adepto, só perdendo antigos, e isto lhe será fatal.

sábado, 19 de junho de 2021

E DEUS CRIOU BUSSUNDA

Foi assim que um amigo meu descreveu a figura de proa do Casseta & Planeta, depois de vê-los em cena em 1988. Alguns dias depois eu fui ver o mesmo show, e saí bestificado. Bussunda era mesmo uma força da natureza. O Tim Maia que ele incorporava para cantar "Mãe É Mãe" fazia a gente cair da cadeira de tanto rir, ao sair do palco porque "chegou um rapaz com um papel para mim". Naquela época eles já escreviam para a "TV Pirata", mas só ficariam nacionalmente conhecidos alguns anos depois, quando estreou o "Casseta & Planeta Urgente". Eu gostava muito no começo, depois fui achando repetitivo, e achei que perdeu totalmente a graça depois da morte do Bussunda em 2006. Agora descobri que estava morrendo de saudades: dos Cassetas, dos Planetas, do Brasil infinitamente mais leve dos anos 90. Essas e outras emoções me vieram à tona ao longo dos quatro episódios da minissérie "Meu Amigo Bussunda", que acaba de chegar ao Globoplay. Os três primeiros, dirigidos por Claudio Manoel e Micael Langer, contam a trajetória improvável de Cláudio Besserman Viana, judeu, carioca, maconheiro , vagabundo e pouco afeito a banho na adolescência, que se tornou o humorista mais bem pago do Brasil. O último é codirigido por Micael e por Júlia Besserman, a filha de Bussunda, que tinha 12 anos quando o pai morreu. É uma ótima discussão sobre o legado dessa figura que, nos dias de hoje, talvez não fosse a unanimidade que foi em vida. Duas frases ficaram na minha cabeça. Danilo Gentili, com quem já tive três tretas públicas, reclama que todo mundo cobra os limites do humor, mas ninguém fala em limites da poesia ou da música. Ele tem um ponto. Na conclusão, a viúva Angélica diz que Bussunda teve uma vida boa e que, se ele pudesse, viveria tudo de novo, igualzinho. Devorei a série com furor, e o Bussunda riria que talvez agora eu não devesse jogar futebol.

HOLIDAY ON ICE

Apesar de já estar fazendo um baita frio em São Paulo, aqui em casa resolvemos jogar a sensação térmica para baixo de zero com a ajuda do filme russo "Cidade de Gelo", disponível na Netflix. Trata-se de uma superprodução com mais de duas horas de duração, e mesmo assim o tempo passou zunindo feito um campeão de patinação. A história se passa em São Petersburgo, na virada do século 19 para o 20, e ficamos debatendo se a cidade que aparece na tela é mesmo a antiga capital da Rússia ou uma excelente reconstrução em estúdio. Os suntuosos cenários e figurinos são dignos de "Guerra e Paz", mas o roteiro remete à Disney: rapaz pobre se envolve com moça rica, contra tudo e contra todos. As sequências de ação são de tirar o fôlego, pois o protagonista se junta a um bando de batedores de carteira depois de ser demitido do delivery de um restaurante. E a trilha sonora tem muito Tchaikowsky, que me faz entrar imediatamente no mode conto de fadas. O resultado é uma mesa de doces cinematográfica: deliciosa, porém pouco nutritiva. Saí deslumbrado, mas estou tiritando até agora.

sexta-feira, 18 de junho de 2021

VIADINHOS GRAÇAS A DEUS

O que fazer com o asqueroso padre Antônio Müler, de Tapurah (MT)? Em missa transmitida pela internet no último domingo, o pároco chamou de "viadinhos" os repórteres da Globo Erick Rianelli e Pedro Figueiredo. Era uma reação a uma matéria de Dia dos Namorados veiculada pelo RJ TV no ano passado, que voltou a assanhar as redes birolistas nos últimos dias. Nunca imaginei ver um padre usar a palavra "viado" em pleno altar durante a Santa Missa, mas este é o país em que vivemos hoje. O cara nitidamente incorreu no crime de homofobia, mas eu me pergunto: vale a pena processá-lo? Além de dar ainda mais mídia para este celerado, corre-se o risco de criar um mártir para a extrema-direita, que vai alegar ameaças às liberdades de expressão e religião. Por outro lado, chega de passar pano para a homofobia. Ser católico não autoriza ninguém a ofender os LGBT+ como o padre Müller ofendeu. Lei nele.

quinta-feira, 17 de junho de 2021

SORVETÃO NA TESTA

Se nem para os famosos de verdade está fácil, imagina para as subcelebridades. Vale até apelar para a hipocrisia e se fingir de cristão conservador. A ex-paquita Andréa Sorvetão e o cantor Conrado, casados há 30 anos, se acharam injustiçados por não protagonizarem nenhuma campanha de Dia dos Namorados - afinal, casal branco hétero cisgênero é a nova minoria perseguida. Como se ninguém lembrasse que ambos posaram nus em tempos de corpos melhores... Pelo menos, os dois conseguiram voltar à mídia. Vamos ver se algum anunciante morde a isca. Talvez as lojas Havan? Os hambúrgueres Madero?

CALDEIRÃO VAZIO

Luciano Huck desistiu de concorrer à presidência em 2022. É compreensível: ele teria que abrir mão de seu contrato com a Globo para se lançar a uma aventura imprevisível, e a patroa Angélica era totalmente contra, por causa dos ataques que a família receberia. O que não dá para entender é como que ele se achou material presidenciável, quando é incapaz de defender ou atacar o que quer que seja. Em todas suas declarações e atitudes, Huck se mostrou anódino, sensaborão, inofensivo. Só despejou banalidades. O medo de ofender alguém era tão grande que ninguém se engajou. Anteontem, no "Programa do Bial", ele finalmente admitiu ser crítico ao atual desgoverno, para logo em seguida dizer que votaria em branco novamente em 2022, como jura ter votado em 2018 (não acredito). Sua ausência da corrida eleitoral é um alívio. Huck é um vazio de ideias e de coragem. Que faça muito sucesso nas tardes de domingo.

quarta-feira, 16 de junho de 2021

A WINGANÇA DE WITZEL

As piores suspeitas parecem que estão se confirmando. Em seu tumultuado depoimento de hoje à CPI da Pandemia, o ex-governador Wilson "Whitney" Witzel soltou na sala um bode incontornável: a investigação sobre o assassinato de Marielle Franco avançou muito pouco em 2018, quando a segurança do Rio de Janeiro estava sob intervenção militar. E quem era o interventor? O general Braga Netto, ex-Casa Civil, hoje ministro da Defesa. Eu sempre desconfiei que o Exército sabia das ligações dos Biroliro com o crime organizado, e agora tudo indica que a familícia está mesmo envolvida no atentado que matou a vereadora e seu motorista.  Witzel é um oportunista nojento: quando achou que seria bom para sua eleição, posou todo pimpão ao lado dos trogloditas Daniel Silveira e Rodrigo Amorim quando estes rasgaram a placa da Marielle num comício. Também é um ressentido que quer vingança, o que pode ser ótimo. Se o impichado revelar tudo o que sabe, vai ser um prego daqueles no caixão político do Pandemito.

O SANDINISTA INVISÍVEL

No começo do século 21, dizia-se que não havia mais ditaduras nas Américas, com exceção da jurássica Cuba. Hoje esta declaração não é mais possível. A Venezuela não consegue mais disfarçar que tem um regime autoritário, e o Brasil caminha a passos largos para o mesmo destino se o Biroliro não for contido a tempo. Na Nicarágua, então, já virou palhaçada. Daniel Ortega está prendendo todos os candidatos que disputariam com ele a próxima eleição presidencial, tal qual um aiatolá iraniano. Pra variar, a esquerda brasileira está dormindo no ponto: não vejo ninguém repudiando o velho sandinista, como se não houvesse eleição no Brasil no ano que vem e este silêncio não pudesse ser usado contra a oposição. Depois não sabem por que perderam outra vez.

terça-feira, 15 de junho de 2021

THAT'S ALL

Falta assunto no mundo? Talvez isto explique a revista Entertainment Weekly ter reunido elenco e equipe de "O Diabo Veste Prada" para celebrar os 15 anos do lançamento do filme. Nada contra: a saga de Miranda Priestly está longe de ser um clássico do cinema, mas propõe uma discussão sobre mulheres em posição de comando que é pertinente até hoje. Fora que a editora da fictícia revista "Runway" é o mais icônico personagem da diva Meryl Streep. Qualquer discussão será pouca.

CONTA, CONTA, MINHA GENTE

Adeptos do vaiquecolismo, bolsominions andaram espalhando que a motociata de sábado em São Paulo teria entrado para o Livro dos Recordes, por reunir mais de um milhão de motos. Não colou: basta espiar a página do Guiness. Além do mais, um número desses ocuparia mais de 100 km de estrada, uma distância maior do que até Jundiaí, e dá para ver pelas imagens que o grupo era bem menor. O governo paulista estimou cerca de 12 mil motos; depois esse número foi revisado para oito mil. Até que alguém se deu ao trabalho de aplicar um software e contar as motocas, uma por uma. Deu exatamente 6.253. "Ain, mas algumas tinham gente na garupa". Mesmo que todas tivessem, o que não é verdade, o número de homens brancos de meia idade (poucos manifestantes escapam dessa descrição) que gastou gasolina e dinheiro público para apoiar um incompetente não chega a 13 mil. Ainda assim, acho alto: esse gado não se comove com os quase 500 mil mortos?

segunda-feira, 14 de junho de 2021

VOTE DJÁ!

Nunca pedi nada para você, querido leitor, mas hoje eu vou pedir: um voto. Ou dois, ou três, ou mil. Meu podcast "Ligue Djá!" está entre os 14 finalistas do primeiro concurso Pod Drama, e o público pode votar em seus três favoritos até esta sexta, dia 18 de junho. Ouça djá o primeiro episódio (é uma série), que está disponível no Spotify ou logo acima. A trama gira em torno de um vidente charlatão, vagamente inspirado no saudoso Walter Mercado. E o elenco conta com Herbert Richers Junior, Tuna Dwek, Silvia Lourenço, Kiko Pissolato e a diva Nany People. Depois, vote djá, vote em quem você quiser, mas também vote em mim!

ONDE VOTAR? No site www.poddrama.com.br. Ele abre melhor no Chrome, já vou avisando. Selecione a aba "Votação" e assinale seus três candidatos favoritos. Entre eles, é claro, o "Ligue Djá!". Valendo.

VEM CHEGANDO O VERÃO

François Ozon é um dos meus cineastas favoritos, mas preciso admitir que sua obra é irregular. Talvez porque ele filme muito: quase todo ano tem filme novo, e quando um é lançado já tem outro quase pronto. O mais recente é "Verão de 85", que passou por alguns festivais em 2020 e agora finalmente entrou em cartaz. Pelo trailer, parece mais uma variação de "Me Chame pelo Seu Nome": dois rapazes se apaixonam em uma linda locação europeia, na década de 1980. Mas também há um ingrediente tipicamente ozoniano, apesar do roteiro ser adaptado do livro de Aidan Chambers: uma morte, da qual um dos pombinhos é suspeito. Durante uns três quartos do tempo, achei que eu estava assistindo a um dos melhores filmes do ano. O casting é perfeito: Félix Lefebvre tem a carinha de inocente que seu papel requer, e Benjamin Voisin, como seu namorado mais safo, exala o charme feio-bonito de um jovem Jean-Paul Belmondo. Ainda tem Valeria Bruni-Tedeschi, meia-irmã de Carla Bruni, com a mãe maluca do safo, e a inevitável cena de dancinha numa boate. Mas lá pelo final a coisa desanda, apesar da moral da história ser a mesma de "Me Chame pelo Seu Nome": seu primeiro amor acabou, mas muitos outros ainda virão.

domingo, 13 de junho de 2021

NEM EM PENSAMENTO

Faz mais de um mês que o SBT veicula versículos bíblicos nos breaks da programação, e ninguém deu muita bola. Mais uma maluquice do patrão, que pode durar menos do que o novo horário do "Primeiro Impacto". Mas uma vinheta que foi ao ar na semana passada finalmente alcançou repercussão: um trecho do Eclesiastes, do Antigo Testamento, que exorta o leitor a não criticar o governo "nem em pensamento" (uma tradução mais fiel ao original seria o rei, não o governo, mas está "em linguagem de hoje"). Nem a Record, que é ligada à Igreja Universal do Reino de Deus, já teve o desplante de exibir uma mensagem dessas - talvez por ainda fingir que pratica um jornalismo imparcial. Como o SBT não tem esses pruridos, foda-se. A assessoria da emissora jura que não há nenhuma segunda intenção na campanha a não ser incentivar o povo a ler a Bíblia, o que já é questionável para uma concessionária de TV aberta. Mas Silvio Santos não só é puxa-saco do governo, ainda mais desse. Até porque sua filha Patrícia Abravanel é casada com Fábio Farias, o ministro das Comunicações. É uma pena que SS siga vivo. A cada nova besteira que ele comete, minha admiração encolhe mais.

sábado, 12 de junho de 2021

O MOTOQUEIRO FANTASMA

"Motociata". Eita palavrinha feia da moléstia, hein? "Motocada", que eu usei outro dia, soa um teco melhor. De qualquer forma, foi lindo ver 12 mil motoqueiros acelerando para Cristo, ou seja, correndo para se encontrar logo com Jesus. Todos homens brancos de meia idade, portanto já não ia demorar muito. O número parece alto, mas é bom lembrar que eles estavam de moto. A pé, dariam umas duas quadras da Paulista. O mais incrível é essa gente se reunir para apoiar... exatamente o quê? A permanência da familícia no poder? Biroliro, mas uma vez, atacou as máscaras e defendeu a cloroquina, ou seja: ele quer mesmo um monte de fantasminhas em seu projeto fantasmagórico. É um Brasil assombrado, amarrado por uma corrente a um passado de horrores.

sexta-feira, 11 de junho de 2021

A BRUXA CONTINUA SOLTA

Lembro que eu não tive a menor dúvida. Quando vi Celina e Beatriz Abagge na TV, em 1992, dizendo que haviam sacrificado o menino Evandro para obter mais poder para a família, o caso terminou ali. Depois elas disseram que foram coagidas a torturar, mas eu nem dei bola. Não prestei a menor atenção aos julgamentos de 1998, 2004 e 2011, e não sabia o que havia sido delas. Agora eu sei. Terminei hoje os sete episódios de "O Caso Evandro", que está fazendo barulho no Globoplay. Baseada no podcast de Ivan Mizanzuk, a minissérie é muito mais bem feita que aquelas porcarias da Netflix que repetem as mesmas cenas em todos os capítulos e não chegam a lugar nenhum. Não que aqui se chegue: o que aconteceu com os meninos Evandro Caetano e Leandro Bossi, desaparecidos em Guaratuba nos primeiros meses de 1992, continua sendo um mistério. Foram mortos num ritual de bruxaria, vendidos para traficantes de crianças ou o quê? São tantas as reviravoltas que até Frederick Wassef, advogado da familícia Biroliro, dá as caras no episódio final. Quem nunca ouviu falar dessa história vai levar muitos sustos. Eu, que me acho tão bem informado, levei vários.

O JEGUE E O AVIÃO

Isto é o que acontece quando o Bozo se arrisca para fora do cercadinho. Um dia depois de tentar constranger seu ministro Queiroga a permitir que os já vacinados circulem sem máscaras, o Despreparado teve um gostinho do mundo real ao entrar num voo comercial em Vitória, no Espírito Santo. Pandemito ainda reagiu com a elegância que lhe é peculiar, dizendo que quem o hostiliza deveria "andar de jegue". Talvez o jegue que ele tomou para não responder aos e-mails da Pfizer? Ou o que levou 89 mil reais para a conta da Micheque? São tantos, tantos...

quinta-feira, 10 de junho de 2021

REPÚBLICA DOS ASSASSINOS

Quando Marielle Franco foi assassinada, logo apareceu gente dizendo que aquilo era um acerto de contas do tráfico. O crime era tão hediondo e tão imperdoável que a própria extrema-direita miliciana que a vereadora combatia teve que inventar uma narrativa. Kathlen Romeu não tinha atuação política, mas sua morte também é tão absurda - baleada no auge da beleza, grávida de quatro meses, visitando a avó na favela de onde saiu por causa da violência - que o gado entrou em parafuso. Este é o resultado da repressão policial desenfreada: mais duas vítimas inocentes, enquanto o narcotráfico nem sente cosquinha. Tem minion dizendo que, em contraste com a repercussão do assassinato de Kathlen, ninguém se importa com os policiais abatidos - o que é de uma desonestidade ímpar, porque a morte eventual faz parte do job description da polícia. Kathlen era só uma transeunte, não estava ali para matar ou morrer. Pior ainda são os que atacam nas redes sociais a família da moça. Você leu direito: tem boçal avançando sobre pais que perderam sua única filha e seu único neto. Que merda de país é esse?

EUROPEUS PERO NO MUCHO

Todos os países mentem para si mesmos. Os EUA se acham a mais perfeita democracia do mundo, e isto impede que eles se livrem de velharias como o Colégio Eleitoral. O Brasil inventou que é um paraíso onde as raças convivem em harmonia, e isto faz com que muitos neguem a existência do racismo estrutural. A Argentina se julga um país europeu offshore, onde todos são brancos e civilizados. As razões para esta autoilusão remontam ao século 19, quando o país começou a ser povoado para valer, e à primeira metade do século 20, quando a Argentina era uma das maiores economias do mundo e tida como uma nação desenvolvida. Essa branquitude introjetada de vez em quando aflora em racismo contra a vizinhança: os brasileiros volta e meia somos chamados de macacos pelos nossos supostos hermanos. Ontem aflorou na boca do presidente Alberto Hernández, que é de esquerda, mostrando que essa mitologia equivocada não conhece ideologia. O cara só queria puxar o saco dos espanhóis, e acabou criando um incidente internacional. Deu até munição para o Biroliro, um racista notório, posar de paladino da diversidade. Pelo jeito, só nos resta correr de volta para a selva.

quarta-feira, 9 de junho de 2021

MAMATA ÁFRICA

Alguém aí acredita que Marcelo Crivella irá cuidar dos interesses do Brasil caso emplaque como embaixador na África do Sul? Claro que não: o ex-prefeito do Rio só trabalhará pela Igreja Universal do Reino de Deus, do mesmo jeito que agiu ao longo de sua desastrosa gestão à frente da capital fluminense. A África é um território fundamental para a IURD, que acaba de, na prática, ser expulsa de Angola. Ali do ladinho, Crivella terá mais facilidade para interferir nos negócios da seita. O cara está tão animado que até já postou "voltando para casa" em zulu, mas as favas não estão contadas. Primeiro, o governo sul-africano tem que dar o "agrément" (em francês, e não o "agreement", em inglês, que eu ouvi dizerem na TV). Depois, o Senado tem que aprovar a indicação. Por fim, há sempre a polícia para atrapalhar, pois o sobrinho do Edir Macedo continua sendo investigado. Mas Biroliro vai insistir, porque quer manter o apoio da dona da Record. Que ele terá até Lula surgir como o candidato imbatível em 2022.

RETRATO DE UMA PALEONTÓLOGA EM CHAMAS

Amonite é um tipo de concha fossilizada. Também é uma metáfora para a dureza da alma de Mary Anning, uma paleontóloga inglesa que viveu na primeira metade do século 19. Ela deixou dezenas de cartas para uma mulher mais jovem de classe alta, o que pode ou não ser evidência de um caso entre as duas - essas correspondências femininas eram comuns naquela época, e os estudiosos de hoje suspeitam que são sinais de paixões lésbicas. O cineasta Francis Lee preenche essa lacuna no filme "Amonite", disponível para compra ou aluguel em várias plataformas. Ele imagina como teria sido o amor entre Mary e a esposa de um ricaço, que vai passar uma temporada na praia para se recuperar da perda de um bebê. Kate Winslet transmite com olhares desencantados e físico de camponesa a solidão da protagonista, que não espera nada da vida além de uma descoberta histórica entre os seixos da praia. Saoirse Ronan, aquela do nome impronunciável, empresta sua efígie de madona medieval para uma aristocrata tímida, mas que logo se revela assanhada na cama. As ousadas cenas de sexo foram coreografadas pelas próprias atrizes, e são os momentos mais agitados de um filme plácido, com poucos diálogos e quase nenhuma música. Mesmo assim, lindíssimo e envolvente. Francis Lee dirigiu um dos filmes de temática gay mais badalados da última década, "O Reino de Deus", que eu tolamente deixei escapar quando passou num Mix Brasil. Seu novo trabalho remete a "Retrato de uma Jovem Chamas", da francesa Celine Sciamma, mas é mais consistente e melhor resolvido. Vou prestar mais atenção nele.

terça-feira, 8 de junho de 2021

PERU PRA BAIXO

Com mais de 98% das urnas apuradas, a eleição peruana segue indefinida: o meio ponto de vantagem que o ultraesquerdista Pedro Castillo tem sobre a ultradireitista Keiko Fujimori pode ser revertido a qualquer momento. Mas, ganhe quem ganhe, será um pesadelo. A deputada Keiko é filha do ditador Alberto Fujimori, que matou milhares de inocentes na luta contra os terroristas do Sendeiro Luminoso e está preso por corrupção há duas décadas. Sua própria filha já passou 16 meses no xadrez, por levar propina da Odebrecht. O sindicalista e professor Castillo nunca exerceu nenhum cargo público, e isto leva muita gente à conclusão de ele será ótimo presidente. Só uma coisa é certa: o eleito terá pouco apoio no Congresso, e provavelmente será impichado antes do final do mandato. Pois que se explodam. Apesar de virem de opostos no espectro político, ambos são contra os direitos igualitários.

E TOMAR BANHO DE SOL, BANHO DE SOL

Se não fosse pelo João Doria, o número de brasileiros já vacinados com pelo menos uma dose seria de 90 a 80% menor do que é. Foi só por causa da importação da Coronavac pelo governo paulista que o Bozo finalmente se mexeu para comprar outra vacina além da AstraZeneca, que estava atrasada no começo este ano. Portanto, não é exagero dizer que nenhum brasileiro salvou mais vidas do que o Calcinha Apertada. No entanto, mesmo com muita gente reconhecendo esse mérito, Doria não passa de 3% nas intenções espontâneas de voto para 2022. Parte da culpa é de seu marketing pessoal, do qual ele sempre se gabou muito. Mas uma amiga publicitária acertou na mosca: o cara se comporta como anunciante à moda antiga, daqueles que querem passar uma imagem de perfeição e só comunicar coisas boas, ocultando as nem tanto. Foi assim no caso do anúncio da ButanVac, por exemplo. Não havia desdouro nenhum em admitr que o Butantan desenvolve a vacina em parceria com um laboratório americano, mas Doria preferiu trombetear que se tratava do primeiro imunizante 100% nacional, no que foi desmentido no mesmíssimo dia. Outro problema é a bolha dourada de onde o ex-prefeito de São Paulo nunca saiu. Como é que ele se manda para Miami no final do ano passado, quando o estado que governa estava sob severas restrições de locomoção? Por que achou que seria OK tomar banho de sol sem máscara na piscina de um hotel no Rio? O ato em si não é grave: Doria estava de boca fechada, sem ninguém a menos de 1,5m e, principalmente, sem provocar aglomeração. Mas não passou pela cabeça dele que algum hóspede bolsominion o fotografaria, dando munição aos zero-filhos? Essa ingenuidade misturada com arrogância mostra o quanto João Doria ainda é um político imaturo, pouco safo. Some-se a isso o fato de não ter unido o PSDB em torno de si, e aposto que acabará saindo candidato à reeleição como governador de São Paulo. Essa eu acho que ele ganha.

segunda-feira, 7 de junho de 2021

VOTÁ-LO PARA FORA

Uma das diversões do fim de semana que passou foi rir do extenso fio que a Secretaria de Comunicação Social postou no Twitter atacando a matéria de capa da última "The Economist". O comunicador responsável pela postagem sequer sabe criar um fio direito: os tuítes estão em ordem decrescente, e precisam ser lidos de baixo para cima. Ninguém avisou o coitadinho que bastava clicar no balãozinho abaixo de cada tuíte... Tampouco avisaram que "vote him out" não quer dizer "eliminá-lo", que a SeCom deu a entender como um plano para assassinar Edaír Biroliro. A imbecil da tradutora do Estadão também não conhecia a expressão e usou a mesma tradução equivocada, e hoje a SeCom está se gabando de não ter sido a única a errar. Depois o jornal se corrigiu, mas a Secom, não... "Vote him out" é um desses idioms de que a língua inglesa é tão rica e significa derrotar nas urnas alguém que está no poder. Expulsá-lo da Presidência através do voto. Como na SeCom a galera desconhece até as regras mais básicas de pontuação, fica a dúvida se agiram de má fé ou foi só por ignorância mesmo. Provavelmente, uma combinação letal das duas coisas. Só isto explica eles resumirem o texto da revista numa frase que revela absolutamente tudo o que está acontecendo neste desgoverno: "o Presidente seria um ditador que estaria matando o próprio povo; seus apoiadores estariam dispostos à guerra civil e o Exército estaria disposto a intervir caso o Presidente perca as próximas eleições". Acho que ouvi um amém?

BOYLIVIANOS

Já vi filmes do Tchad e da Groenlândia, mas nunca tinha me passado pela frente uma produção da Bolívia, o país com que temos a nossa mais longa fronteira. Esse jejum terminou ontem. Assisti no canal HBO Mundi ao representante boliviano no Oscar do ano passado, o drama gay "Tu Me Manques". Não há muito sabor local. Só umas poucas cenas foram rodadas em Santa Cruz de la Sierra - a maioria foi em Nova York, e há muitos diálogos em inglês. Os nomes mais conhecidos do elenco são o argentino Oscar Martínez e a espanhola Rossy De Palma. Mas há algo no roteiro que eu suspeito que seja típico da terra de Evo Morales. A Bolívia está a anos-luz de alguns de seus vizinhos em matéria de homofobia: lá não existe casamento gay, e a bicharada é reprimida em todas as esferas da sociedade. Foi nesse contexto de relativo atraso que a peça "Tu Me Manques" causou furor em 2015, ao dramatizar o caso real de um rapaz que se matou por não ser aceito pela família. Esse texto teatral é a base do filme de Rodrigo Bellott, mas muitas coisas devem ter funcionado melhor no palco. Colocar 15 rapazes vestidos do mesmo jeito para representar o falecido não tem igual impacto na tela, e várias falas são óbvias e bem pouco coloquiais. Mesmo assim, vale a pena: a jornada de um pai que só se reconcilia com o filho homossexual depois que ele se mata emociona em qualquer contexto, e Rossy De Palma é sempre um deleite de se ver. Sem falar nas cenas de sexo, discretas porém calientes. Enfim: a Bolívia existe, e seus boys têm muito a dizer.

domingo, 6 de junho de 2021

ARMÁRIOS SÃO PARA GUARDAR COISAS

Muita gente achou que o comercial das Casas Bahia com Gil Nogueira e Lucas Penteado seria para o Dia dos Namorados. A confusão é aumentada quando todas as pessoas que surgem em cena além dos dois ex-BBBs parecem formar casais homoafetivos. Mas o filme, na verdade, incentiva a bicharada a sair do armário - e também vende armários, o que é perdoável para uma loja de móveis. Além de estrear no mesmo dia da Parada do Orgulho LGBTQIA+ de São Paulo (que foi virtual pelo segundo ano seguido), o anúncio também serve para melhorar a imagem das Casas Bahia, abalada pelos escândalos sexuais de Samuel Klein, o fundador da empresa, e seu filho Saul.

sábado, 5 de junho de 2021

NÃO VAI TER COPA

Tenho a pior imagem possível dos nossos craques do futebol. Acho todos um bando de crianças mimadas, sem amor nenhum pela camisa que vestem. Só pensam em dinheiro, nos parças e nas mulheres que irão comer. Por isto, é com uma certa surpresa que recebo a notícia de que os jogadores da seleção querem boicotar a Copa América. Não é só por patriotismo, veja bem: não faz o menor sentido um torneio extenuante intercalado com as eliminatórias para a Copa do Mundo, e o medo de contrair o coronavírus é real. Mas também parece que muitos deles, que apoiaram o Biroliro em 2018, mudaram de ideia depois dos 500 mil mortos. Se isto acontecer mesmo, eu volto a torcer pelo Brasil.

sexta-feira, 4 de junho de 2021

DE OLHO NA PM

Biroliro emplacou duas pirraças bem-sucedidas esta semana. A primeira é a Copa América, vulgo Cova, vulgo Cepa, que será mesmo realizada no Brasil apesar da oposição de boa parte da sociedade e até de alguns jogadores. A outra é a não-punição do Capachuello pelo Exército, que se amarra de maneira irremediável ao fiasco do desgoverno no combate à pandemia. Mas ainda confio mais nos milicos do que na Polícia Militar. O que aconteceu no domingo passado no Recife é um pesadelo. Dois transeuntes que nem sequer participavam da manifestação anti-Bozo perderam, cada um deles, um olho, depois de levarem tiros de balas de borracha disparadas pela PM. Já caíram o Secretário de Segurança de Pernambuco, o comandante da PM e seis policiais que participaram da repressão. É assim que se faz, sem dizer que todos os lados "cometeram excessos". Mas este episódio trágico não me deixa nada tranquilo com a eleição de 2022. Já pensou, um golpe policial no Brasil? Temos que abrir os olhos que ainda nos restam.

quinta-feira, 3 de junho de 2021

UM EXÉRCITO DE CAPACHOS

Nossas Forças Armadas já podem mudar de nome. Milícias Armadas Brasileiras ou Forças Milicianas Brasileiras soam mais de acordo com o que elas se tornaram. Ou por que não Exército do Biroliro, já que ele diz que é tudo dele e ninguém o desmente? A não-punição ao general Capachuello por participar da motocada pró-Bozo do dia 23 de maio mostrou que o Alto Comando do Exército é todo formado por capachos, tão subservientes e incompetentes como o Pazuzu. Todos com medinho de irritarem o tentente que foi expulso por indisciplina e perderem as boquinhas no desgoverno. Tá certo que a regra que proíbe militares da ativa de se pronunciarem politicamente é incompleta: eles deveria ser proibidos de participar de qualquer governo antes de passarem para a reserva. Se o gordinho paga-lanche faz parte do ministério, é claro que é a favor dele. Também é possível que os milicos tenham querido evitar mais uma crise, pois o Pandemito tem o poder de reverter qualquer punição. Mas quem mandou se meterem com um cara que expulsaram? Até parece que não o conheciam de outros carnavais. Agora estão aí, passando vexame, sob as ordens de um chefe da milícia da Zona Oeste carioca. Que bom que o meu pai, que foi pracinha da FEB e lutou contra o fascismo na Itália, não está vivo para ver isto.

quarta-feira, 2 de junho de 2021

BYE BYE BIBI

Hello, Yair. Com Y mesmo: ainda não me conformei com o fato deste nome ser de origem judaica. Mas não deixa de ser irônico que o homem que finalmente está conseguindo arrancar Benyamin Netanyahu do poder seja xará de um dos maiores puxa-sacos do futuro ex-primeiro-ministro de Israel. Será que os minions agora vão tirar a bandeirinha israelense de seus perfis? Talvez não, porque o centrista Yair Lapid não é o novo chefe de estado. Para formar uma frente ampla contra Bibi, ele precisou oferecer o cargo de PM durante um ano e meio para Naftali Bennett, da extrema-direita. Vamos ver o tamanho do estrago que esse cara é capaz de fazer até o final do ano que vem. Aí, sim, assume o Yair do bem, que é ex-apresentador de TV e, talvez, o homem mais bonito de sua geração na política atual. Suspiro.

LICENÇA PARA ENVELHECER

Estamos tão acostumados com atrizes que mantêm a mesma cara por anos a fio que é um choque topar com uma que não fez plástica nem cuidou do peso. Anjelica Huston é uma que foi por este caminho, e Kathleen Turner, sua colega de elenco em "A Honra do Poderoso Prizzi", também. Uma das maiores estrelas dos anos 80, Kathleen sumiu por um tempo, mas acaba de ressurgir na terceira e última temporada de "O Método Kominsky, na Netflix. Minha primeira reação foi negativa: essa mulher era uma deusa! Agora parece um croquete feito com as sobras da Arlete Salles e da Aracy Balabanian. Só que, assistindo aos episódios, percebi que seu star quality continua intacto. Kathleen Turner é a melhor coisa desta reta final, que perdeu Alan Arkin (o ator pediu para sair). O maior problema dos personagens é o que fazer com uma herança de 10 milhões de dólares... Pelo menos, ninguém sugere uma cirurgia bariátrica à dona da voz de Jessica Rabbit.

terça-feira, 1 de junho de 2021

CIRÃO INAUDITÁVEL

Tadinho do Ciro Gomes. Ele tinha uma boa chance de se eleger presidente no ano que vem, graças a seu alto recall e à sua disposição em enfiar o dedo na cara do Biroliro. Aí o Lula voltou ao páreo, praticamente liquidando qualquer chance de outro candidato à esquerda. O que fez então o Cirão da Massa? Intensificou o tiroteio contra seus dois grandes rivais, ferindo de morte a tão sonhada frente ampla de oposição. Mas não só. Na semana passada, o PDT começou a fazer campanha pelo chamado voto "auditável", o delírio com que o Minto usa para desacreditar a lisura das urnas eletrônicas. Além de caro e vulnerável, o tal do "auditável" serve para o miliciano auditar se o eleitor votou no candidato da milícia. Mas o partido do Ciro não está nem aí: o que eles querem é atrair o eleitor de direita, como se a plataforma nacional-desenvolvimentista do candidato não existisse. Enquanto o Bozo aposta na polarização, qualquer um de seus rivais precisará apelar a segmentos que não integram suas bases. Mas o que Ciro Gomes está fazendo é imperdoável. Já não bastava ter hostilizado a Tabata Amaral?

PURO SUCO DE HUMANIDADE

Reparou como a maioria das séries atuais perde o gás na segunda ou na terceira temporada? As próprias plataformas já pereberam isto, e estão encerrando cedo muitas delas. Por outro lado, as minisséries passam por uma fase de esplendor. De um ano para cá, as melhores coisas que eu vi na TV eram minisséries, como "Halston" ou "I May Destroy You". A esta lista acaba de se juntar "Mare of Easttown", cujo último episódio foi ao ar no domingo pela HBO. Confesso que a única coisa que me gerou interesse foi a presença da Kate Winslet. Porque o argumento, à primeira vista, é mais batido que o asfalto da Sapucaí: um crime abala as estruturas de uma cidade pequena, e segredos terríveis vêm à tona. Da inglesa "Broadchurch" a "Os Crimes de Manscheid", a primeira produção original da Netflix rodada em Luxemburgo, essa história já foi contada em verso e prosa. Acontece que o tal crime é a trama central de "Mare of Easttown", mas há tantas outras que o programa está mais para uma mininovela, com núcleos bem definidos, personagens bem construídos e conflitos acreditáveis. Muitos desses passam pelo consumo de drogas: Easttown, como tantas aldeias do interior, também tem boa parte de sua população entregue ao crack e à heroína. As drogas também atingiram em cheio a personagem-título, uma investigadora da polícia que tem problemas para qualquer lado que ela se vire. Kate Winslet está ótima no papel, deixando entrever uma dor imensa por trás de uma fachada de no bullshit como só grandes atores sabem fazer. O resto do elenco também é um primor, com destaque para a veterana Jean Smart, que vem se tornando figurinha fácil nas produções da HBO. "Mare of Easttown" entrega os plots twists e as mortes inesperadas que o gênero exige, mas o que me prendeu (e também a muita gente, pelo que acompanhei no Twitter) foi a humanidade concentrada nesse microcosmo caipira. É de histórias assim que precisamos, na pandemia e depois dela.