segunda-feira, 31 de maio de 2021

CEPA AMÉRICA 2021

Biroliro fraquejou. Depois de demorar 0.07 segundos para responder à demanda da Conmebol e aceitar que a Copa América seja realizada no Brasil, o Despreparado sentiu o golpe. Achou que ia sambar nos manifestantes do sábado passado promovendo um evento superspreader, desses que geram novas cepas do coronavírus. Mas as reações negativas foram tantas e de tantas partes que, no final da tarde, o desgoverno avisou que não era bem assim. Não está nada certo, e se rolar mesmo não vai ter público, e todo mundo vai ter que ser vacinado (às nossas custas?), e nhénhénhé. O que seria um chute na cara dos brasileiros torceu a perna do Pandemito, que marcou um gol contra. Mais um! Sem dizer que agora há novos mascotes para atazaná-lo para sempre, como o Cloroquito, o Coronguito e o Caixãozito.

CORINGA PARA CRIANÇAS

"Cruella" é uma festa. Um delírio visual e auditivo, que quase me fez perdoar o fato de um dos personagens mais icônicos da Glenn Close ter ido para outra atriz (pelo menos minha "ídala" aparece nos créditos como produtora executiva). Claro que essa história de origem da vilã de "101 Dálmatas" passa pano para bandido, assim como acontecia em "Malévola" e "Coringa". Mas pelo menos é um pano belíssimo. Uma seda bordada a ouro, cravejada de miçangas orientais. O filme também funciona como uma alegoria da ascensão da moda inglesa na década de 1970, quando nomes como Vivienne Westwood e Zandra Rhodes deram as costas para Paris e fagocitaram a estética punk. Se "Cruella" não levar o Oscar de figurino no ano que vem, vou declarar guerra: só o vestido do caminhão de lixo merece o prêmio sozinho. Não é preciso ser fashionista para apreciar os milhões de referências, mas ajuda. A trilha sonora também é gloriosa, confirmando que os seventies foram mesmo a melhor década da história da música pop. No meio desse trubilhão estão duas grandes atrizes. Duas Emmas de nacionalidades diferentes. A americana, a Stone, quase entra em combustão espontânea de tanta energia. A britânica, a Thompson, deita e rola no papel over the top da Baronesa, uma magnata da moda claramente inspirada na Miranda Priestley de "O Diabo Veste Prada", mas que a intérprete torna apenas dela. Apesar das ótimas piadas e dos incríveis efeitos especiais (afinal, os cães são de verdade ou criados no computador?), "Cruella" é longo demais, e inadequado para crianças pequenas. Mas as grandes, especialmente as viadas, vão se esbaldar.

domingo, 30 de maio de 2021

QUE MANÉ ESCOLHA DIFÍCIL

Sempre tive o maior orgulho de escrever para a Folha de S. Paulo. Na minha opinião, o maior jornal do país também é o melhor. Hoje, então, estou todo gabola. Compara só a capa da Folha deste domingo com as dos outros dois grandes jornais brasileiros. O Globo ainda conseguiu dar manchete a algo que tem cara de notícia. Já o Estadão... Quero crer que a redação, revoltada com as ordens da diretoria para ignorar as manifestações anti-Bozo de ontem, resolveu sacanear. "Cidades turísticas se reinventam para atrair o home office" não é uma chamada digna sequer para o caderno de turismo. Claro que nenhum órgão de imprensa é totalmente justo e isento, e o único com o qual eu concordo 100% é este blog aqui. Mas pondo os três jornais lado a lado, dá para saber de cara qual merece ser lido. Que mané escolha difícil, que nada.

EU NÃO AUTORIZO

Por volta das três horas da tarde de ontem, o tempo fechou em São Paulo. O céu negro se dissolveu em uma chuva forte, rara para o mês de maio. "Fodeu", gritaram meus botões. "O povo já estava com medo de sair para a manifestação por causa da pandemia, agora com chuva é que ninguém vai mesmo". Mas o toró não durou nem 15 minutos. Um sol improvável começou a brilhar, secando as ruas. Foi aí que eu entendi: Deus também é anti-Bozo. Ele lavou o esterco do gado, preparando o caminho para a maior passeata de oposição dos últimos dois anos.

Saímos de casa às quatro, minha sobrinha, meu cachorro e eu. Multidão não é lugar para se levar cão, mas o Lalo foi junto para servir de alarme. Quando começasse a ficar cheio demais para ele, também estaria cheio demais para mim. Nas primeiras quadras até que estava sussa: cheio, mas transitável. Na esquina da Casa Branca, quase no Trianon, encontrei vários amigos que eu não via há mais de um ano. Alguns até demorei para reconhecer, escondidos pelo combo máscara + óculos + boné. Aliás, o uso de máscaras foi espantoso. Não vi absolutamente nenhum manifestante sem ela. Nenhum. Um dos meus amigos fez uma faixa e mandou imprimir adesivos, que ele distribuía de graça. Essa foi a tônica do dia: muitos cartazes espontâneos, poucas bandeiras de movimentos organizados, povo tomando cuidado para não se aglomerar. Mesmo em frente ao MASP havia um certo distanciamento social.

Atordoados com o tamanho dos atos em todas as capitais, os minions não sabem qual narrativa usar. Alguns vão pelo caminho da crítica à aglomeração, o que me faz cair no chão de dar risada. Bolsominion, reclamando de aglomeração? Vai pastar, bezerrinho. Outros insistem que não foi tanta gente assim. Foi, sim. Vi com meus próprios olhos, ao vivo e na televisão. Muitíssimo mais gente do que em qualquer ato pró-Biroliro, e bastante mais jovem e diversificada. Não tinha só véio branco, não. Tanta gente que, no Recife, a PM partiu para a ignorância, atirando balas de borracha e gás lacrimogêneo nos manifestantes. A punição a esses caras tem que ser exemplar. O caso é mesmo gravíssimo.

Não, não foram essas  manifestações que derrubarão o desgoverno do Edaír. Um único dia de passeatas não basta. Mas foram as primeiras, depois de um longo e tenebroso inverno, e a tendência é que elas engrossem à medida em que mais pessoas forem vacinadas. Também foi, principalmente, uma demonstração de força. Tem muito mais gente contra o Pandemito do que a favor. As pesquisas já dizem isso há tempos, e agora foi a vez das ruas. Nenhum de nós autoriza esse genocida a continuar escarnecendo do sofrimento alheio e a agir apenas em prol de sua familícia. Quem o apoia é a favor do crime organizado, da destruição da Amazônia e da violência contra mulheres, negros e gays. Não tem atenuante, não tem "mas e o PT?'. E nem escapatória. Mas deixa o gado espernear. Ele sabe que está indo para o matadouro.

sábado, 29 de maio de 2021

GUAJIRA GUANTANAMERA

"O Mauritano" é mais um filme importante da virada do ano a chegar no Brasil apenas no sob demanda (tem para compra ou aluguel em diversas plataformas; eu vi no Now). Jodie Foster surpreendeu ao vencer o Globo de Ouro de atriz coadjuvante pelo papel de uma advogada durona, e Tahar Rahim foi indicado a melhor ator tanto nos Globos como no BAFTA. O Oscar, no entanto, ignorou todo mundo, num sinal de que o mainstream americano ficou desconfortável com a história contada pelo longa. E é para ficar mesmo: o mauritano do título é um das centenas de prisioneiros que gramaram anos na base de Guantánamo sem nenhuma acusação formal, muito menos julgamento. O pior de tudo foram as torturas, bárbaras por definição e inconcebíveis numa democracia. Algumas cenas são de virar o estômago. Quem aguentar será brindado com uma discussão muito pertinente para os tempos que correm, em que se costuma confundir um advogado com o cliente que ele representa. Nunca é demais lembrar que até o doutor Jairinho merece amplo direito de defesa e o devido processo legal. Esta é a questão central de "O Mauritano": não importa se o protagonista é um terrorista da al-Qaeda. Ele também precisa ser tratado de forma justa e imparcial, para que todos nós sejamos tamb´´m. Uma mensagem civilizatória que é engrandecida pelo elenco de primeiríssima linha. E ninguém está mais à frente do que Tahar Rahim: quem o conheceu como o suave vilão de "O Paraíso e a Serpente" pode se preparar para um choque. Esse francês de origem árabe é, simplesmente, o melhor ator de sua geração.

sexta-feira, 28 de maio de 2021

TRÊS ANÚNCIOS PARA UM CRIME

Dizer que todo bolsominion é burro é pleonasmo. Se o cara não fosse burro, não seria bolsominion. Veja só o que aconteceu em Sinop, no Mato Grosso. O gado miliciano ameaçou a empresa de outdoor da cidade e chegou a serrar os pés de um dos três anúncios anti-Biroliro. A empresa teve que pintar tudo de branco e devolver o dinheiro às entidades que patrocinavam a campanha, num claro caso de achaque. O que os bezerrinhos não imaginavam é que o caso teria repercussão nacional, pois vários órgãos de imprensa estão reproduzindo os cartazes apagados. Ou seja, muito mais gente está vendo agora. Chupa, minionzada! Nada vai impedir a derrocada do Pandemito de vocês.

MY BEAUTIFUL PET SHOP

Já fui mais fanático pelos Pet Shop Boys. Se ainda fosse, eu teria dado um jeito de baixar há tempos a trilha que os rapazes compuseram para a versão teatral de "Minha Adorável Lavanderia", um filme que toda biba de respeito tem que ter no currículo. Como eu tenho mais o que fazer, só hoje, um ano e meio depois da peça entrar em cartaz, é que eu baixei o EP de sete faixas, finalmente disponibilizado. Só duas delas são canções com letra; as outras cinco são temas instrumentais. Como sempre, em se tratando de PSB, a qualidade é consistente e imunde aos modismos, mas nada me abalou as estruturas. Quem conseguiu isto foi "So May We Start", o primeiro single da trilha de "Annette". Dirigido por Los Carax e com Adam Driver e Marion Cotillard no elenco, o filme do Sparks abre o festival de Cannes, em julho. Tente identificar as vozes dos autores no lyric video abaixo.

quinta-feira, 27 de maio de 2021

ENROLADO NO CAPACHO

O Exército brasileiro se meteu numa enrascada, e por conta própria. Resolveu se associar ao Biroliro, que expulsou de suas hostes por indisciplina, na vã expectativa de instaurar seu projeto de poder. Ignorou burramente que o Bozo não está nem aí para a hierarquia nem respeita instituições. Agora os milicos estão com uma batata pelando nas mãos: o que fazer com o general Capachuello? O pior ministro da Saúde de todos os tempos quebrou de maneira consciente uma regra básica das Forças Armadas: militar da ativa não pode se manifestar politicamente. Se este regulamento não existisse, reinaria a anarquia, com cabos e sargentos apontando armas para quem não concordasse com eles. Mas o Pazuzu quer manter seus rendimentos lá em cima,  de olho num carguinho público, e se recusa a passar para a reserva. O Exército tem que puni-lo, mas corre o riso de ver o Bozo anulando essa punição. Aí vira mesmo a casa da Mãe Joana - ou melhor, o maior exército do hemisfério sul a serviço de um miliciano. Tem gente lá dentro que adoraria isso mesmo, mas muitos ainda têm dignidade e senso de dever. Quem vencerá?

A CATORZENA

Pra variar, errei a data do aniversário do meu blog. Achei que hoje, 27 de maio, ele estaria completando 14 anos. Fui pesquisar para ter certeza e descobri que não, o dia certo é 24, ou seja, trasantontem. Não faz mal. O que importa é que este blog sobrevive há incríveis 168 meses. Já passei dos 9.500 posts: o ritmo atual é de dois novos por dia útil e um no sábado, outro no domingo. A audiência se mantém estável, por volta das duas mil visitas diárias, o que é bom para um não-famoso. Mas o melhor são as alegrias que o blog me dá. Fui parar na Folha por causa dele. Também fiz muitos amigos, especialmente nos primeiros tempos, e mantenho contato com quase todos até hoje. Muitos também eram blogueiros, mas hoje estão em outra. Só eu sigo no ar, insistindo neste formato demodé. Até quando? Até quando vocês aguentarem. Obrigado!

quarta-feira, 26 de maio de 2021

FRIENDS WILL BE FRIENDS

Quer dizer então que ninguém te disse que a vida seria assim? Hoje eu assino na Folha online um texto a favor de "Friends", cujo tão aguardado especial de "reunion" estreia amanhã nos EUA e daqui a um mês no Brasil, quando chegar a plataforma HBO Max. O texto contra, de Jairo Malta, levanta uma tese da qual eu nunca tinha ouvido falar - "Friends" seria um plágio de "Living Single", série da Fox com elenco todo negro que estreou um ano antes. E olha que eu sou metido ea entendido em sitcom, tanto que vou até dar um curso sobre a história do gênero. Fui fuçar na internê e é verdade: desde aquela época se dizia isso, e nunca houve um desmentido cabal. O próprio David Schwimmer disse que era bastante possível que a NBC tenha encomendado uma versão branca de "Living Single", que fez bastante sucesso e durou cinco temporadas. O fato é que séries sobre gurpos de amigos já existiam antes ("Cheers") e existiram depois ("The Big Bang Theory"), mas parece que as semelhanças entre "Friends" e "LS" vão além da temática geral. Vou procurar ver pelo menos um episódio: alguém sabe onde tem? Plágio ou não, nada disso desmerece o talento dos roteiristas de "Friends", que criaram um sucesso que atravessa gerações. Oh... my... God.

terça-feira, 25 de maio de 2021

O PÊNIS NA PORTA DA FIOCRUZ

Os bolsominions posam de defensores dos bons costumes, mas não precisa nem chacoalhar para eles derramarem a sujeirada que têm nas cabeças. O próprio Biroliro, esta semana, soltou que é "incomível", como se alguém estivesse interessado em possuí-lo carnalmente. Hoje foi a vez da Capitã Cloroquina ser exposta na CPI da Pandemia, quando o senador Randolfe Rodrigues tocou um áudio em que ela fala do pênis na porta da Fiocruz. Confrontada, Mayra Pinheiro confirmou que havia mesmo um pênis na porta da Fiocruz, e imediatamente viralizou. Não faltam teorias de onde ela teria visto o órgão sexual masculino no palácio mourisco que hospeda a veneranda instituição. Talvez nas torres, ou no logo dos 120 anos, que estiliza uma delas. A ex-candidata ao Senado, derrotada em novembro passado, também deixou clara, mais uma vez, a sanha assassina deste desgoverno. Ainda bem que o gado gosta de rola, porque vai levar uma colossal nas eleições do ano que vem.

A DITADURA MAIS BURRA DA EUROPA

Ditadores costumam se cercar de puxa-sacos, que dizem amém a todos os horrores cometidos pelo regime. Mas, de vez em quando, faz falta alguém para avisar que vai dar merda. Deu na Bielorrússia, aquele paiseco que eu me recuso a chamar de Belarus. O ditador Aleksandr Lukashenko desviou um avião que ia da Grécia para a Lituânia, só para prender um jornalista de oposição que ia dentro. Se o objetivo era impedir a circulação de notícias negativas sobre a ditadura bielorrussa, deu muito errado. Todas as organizações europeias estão indignadas, a ponto de proibir voos comerciais para o paiseco. Enquanto isto, já foi divulgado um vídeo em que o jornalista Roman Protasevich confessa seus "crimes"- pelo menos o cara ainda está vivo, mas vai saber o que já sofreu. A Bielorrússia foi tida por muito tempo como a última ditadura da Europa, título que ela está a ponto de perder com a ascensão de governos autoritários na Hungria, na Polônia e alhures. Mas ainda é a mais cruel. E, pelo jeito, também a mais estúpida.

segunda-feira, 24 de maio de 2021

IL DUCE DA BARRA DA TIJUCA

Bateu uma preguiça master de comentar cada ignomínia cometida por Edaír Biroliro. São tantas e tão frequentes, que a gente corre o sério risco de não ter outro assunto. A "motocada" de ontem no Rio de Janeiro, para mim, foi uma demonstração de fraqueza: se o Bolsonazi estivesse se sentindo forte e prestigiado, não teria a menor necessidade de ostentar que tem algum apoio. Algum, veja bem: é muito menor do que já foi, e continua em queda livre. Por isto já não tenho mais medo de que ele se reeleja. Temo, na verdade, a reação violenta que ele já está incitando ao gado. Não vai dar certo, assim como não deu certo a invasão ao Capitólio promovida por Donald Trump, mas alguém pode se machucar. No frigir dos ovos, o mais provável é que seja ele mesmo, como sugere a montagem que compara o Minto ao Duce e viralizou nas redes sociais.

O POSTE GERAL DA REPÚBLICA

O professor da USP e colunista da Folha Conrado Hübner Mendes disse que, no caso de Augusto Aras, a sigla PGR significa Poste Geral da República. Acontece que Aras não gostou de ser chamado de Poste Geral da República, e está processando Mendes. Ele quer intimidar todos que se atreverem a apontá-lo como o Poste Geral da República. Portanto, está proibido falar que Augusto Aras é o Poste Geral da República. Quem insinuar que o atual PGR é o Poste Geral da República pode se dar bem mal. Então, já viu, né? É bom deixar o nome de Augusto Aras bem longe da expressão Poste Geral da República.

domingo, 23 de maio de 2021

QUE NO PARE

Acompanho a banda argentina Miranda! desde 2001, quando ela surgiu como um quinteto. Hoje é uma dupla, formada por Ale Sergi e Juliana Gattas, e está cada vez melhor. "Souvenir", o nono álbum de estúdio (ou oitavo, se considerarmos o anterior, "Precoz", como um EP, porque tinha apenas oito faixas) é uma obra-prima, que teve o lançamento adiado por causa da pandemia. Cinco das 10 canções foram lançadas como singles ao longo de um ano e meio, então eu já estava familiarizado com esse novo trabalho. Mas as outras cinco também param em pé sozinhas de tão boas que são, e a sensação de ouvir tudo junto é a de um disco de "greatest hits".  Minhas favoritas neste momento, "Me Gustas Tanto" e "No Es lo que Parece", ainda não tem vídeos, mas o que adornam este post também são ótimos. Adoro a insinuação de lesbianismo de Juliana em "Entre las Dos", com a cantora chilena Javiera Mena; quando será que Ale finalmente sairá do armário?

sábado, 22 de maio de 2021

DESMASCARANDO O EUROVISION - 3

E assim chegamos ao final de mais um Eurovision, o 65o. desde 1956 e o primeiro desde 2019. O campeão foi mesmo aquele previsto pelas casas de apostas: "Zitti e Buoni", da banda italiana Måneskin, um rockão pesado que não soa como construído em laboratório para ganhar festival (e olha que já tinha ganho Sanremo em fevereiro). Não estava nem entre as minhas 10 favoritas, mas não acho ruim. É apenas a segunda vez que vence um rock, e a edição de 2022 deve ser em Roma ou Milão. 
Quem mais arrancou douze points dos júris nacionais foi "Tout l'Univers", do suíço de origem árabe Gjon's Tears, que atualizou com sucesso as definições de desmunhecado. Prova de que o povo gosta dessa linha Sam Smith, o gordo gay que se descabela. Aliás, reparou que o Sam Smith não faz mais tanto sucesso depois que conseguiu emagrecer?
Para mim a melhor das três primeiras é "Voilà", da francesa Barbara Pravi, que remete a Piaf. Mas nada que se compare às minhas reais favoritas, Islândia, Ucrânia e Lituânia. Que tampouco se comparam às melhores de todos os tempos, como "Amar pelos Dois" ou "Rise Like a Phoenix". Mas tudo bem: foi um bom Eurovision, e o importante é que o festival está de volta. Agora tenho forças para encarar o resto do ano.

(Mais sobre a final do Eurovision na minha coluna no F5)

JANELA DISCRETA

Tanta gente falou mal de "A Mulher na Janela" que meu marido se recusou a ver o filme. Precisei bater o pé e dizer que eu não perderia um thriller com Amy Adams, Gary Oldman e Julianne Moore para convencê-lo a não se mover do sofá enquanto eu dava o paly. Aí, a lei das expectativas reversas entrou em ação. Estávamos esperando uma bomba, e o que veio foi um divertissement de qualidade, com decupagem fantástica, ângulos de câmera inusitados e ótimas atuações. Amy Adams se deixou embagulhar para o papel de uma mulher com agorafobia, o medo dos espaços abertos. Felizmente, ela mora numa gigantesca townhouse em Nova York e não precisa sair para nada. Mas seus novos vizinhos teimam em tocar sua campainha, para trazer presentinhos ou jogar conversa fora. Aí ela acha que presencia um crime hediondo, mas dá para confiar em sua mente torcida? No final, A Mulher na Janela" não passa de uma bobagem esquecível e de um pastiche da "Janela Indiscreta" de Hitchcock, mas não nos aborrecemos em momento algum. Apesar de uma protagonista que não quer sair de casa não ser exatamente o escapismo ideal para esses tempos de pandemia.

sexta-feira, 21 de maio de 2021

E SE FOSSE UMA MC MULHER?

Eu já tinha ouvido falar do MC Kevin, mas não conhecia suas músicas e nem mesmo sua cara. A morte do rapaz no domingo passado, com apenas 23 anos de idade, foi especialmente chocante: alguém que podia estar a ponto de estourar se vai de maneira estúpida e perfeitamente evitável. MC Kevin tinha bebido, fumado maconha, tomado MD e feito sexo a três com um amigo e uma "modelo fitness" (adoro o eufemismo) que cobrou dois mil reais pela bimbada. Quando achou que ia ser flagrado pela mulher, com quem estava casado há apenas um mês, teve a ótima ideia de pular para a varanda do quarto ao lado, ou do de andar de baixo (não ficou claro para mim). Caiu de cabeça na borda da piscina do hotel e morreu no hospital. A comoção justificada por essa tragédia fez surgir um fenômeno curioso. Aqui no Brasil costumamos canonizar qualquer pessoa que morre, e vira pecado mortal apontar qualquer defeito do falecido. Com MC Kevin, este processo foi mais além. Na quarta-feira, Ana Maria Braga entrevistou em seu programa a mãe do rapper, e não faltaram elogios ao "senso de família" e "responsabilidade" que ele tinha. Hoje, no programa da Cátia Fonseca, os comentaristas elogiavam a trajetória exemplar de Kevin, que saiu da favela e venceu na vida sem cair no crime (!). Longe de mim qualquer moralismo, até porque eu sou a favor da legalização de todas as drogas, e toda a minha solidariedade à dor da família. Mas um sujeito que trai a mulher com uma puta no primeiro mês de casado, depois de uma noitada reagada a todo tipo de aditivo, e ainda acha que seria bacana se jogar do quinto andar, é exemplo para quem? Essa é só mais uma gigantesca passada de pano nos equívocos masculinos. Era um "garoto", que trazia dinheiro honesto para casa, dizem. Dá para imaginar a mesma reação se fosse uma funkeira que tivesse morrido do mesmo jeito? Cata só a notícia: "MC Mirella se atira de quarto de hotel para não ser flagrada pelo marido com quem estava recém-casada, depois de transar a três com uma amiga e um garoto de programa e consumir muitas drogas e álcool". Essa imaginária cantora morta seria incensada como MC Kevin está sendo? Pergunta retórica. Claro que já sabemos a resposta.

QUANDO PARIS ALUCINA

Michelle Pfeiffer é uma das muitas atrizes injustiçadas pela Academia. Não que ela esteja muito interessada num Oscar: nos últimos anos, a diva tem filmado pouco, escolhendo seus roteiros com cuidado. Este ano ela quase garantiu uma indicação (e conseguiu para o Globo de Ouro) pelo seu melhor papel em muito tempo. Em "Saída à Francesa", ela faz uma socialite arruinada que, sem outra alternativa, vende o pouco que tem e se muda para o apartamento emprestado por uma amiga em Paris. Junto com ela vão o filho perdidão, vivido pelo interessante Lucas Hedges, e o gato que ela suspeita ser possuído pelo espírito do marido. As coisas já ficam peculiares na viagem de navio, quando surge uma vidente gorducha. Já na capital francesa, aos poucos se forma um séquito ao redor da protagonista. O filme oficialmente é uma comédia, mas o humor é sutil - para não dizer excêntrico, surrealista ou mesmo, aham, sem graça. Não há muito plot, mas um estudo de personagem. Michelle está esplendorosa, trazendo humanidade e melancolia para uma mulher que poderia ser apenas fútil. Tem para alugar nas boas plataformas do ramo.

quinta-feira, 20 de maio de 2021

DESMASCARANDO O EUROVISION - 2

Ouvi todas as músicas que concorrem no Eurovision deste ano antes que o festival começasse. Baixei algumas, apesar de não ter me apaixonado por nenhuma. Hoje, assistindo à segunda semi-final do festival, gostei de algumas que não haviam me impressionado só em áudio (afinal, o torço se chama EuroVISION, não Euroaudio). A mais divertida é "10 Years" da banda islandesa Daði og Gagnamagnið. Os caras parecem estar tirando sarro de si mesmos, talvez inspirados pela maneira como a Islândia foi achincalhada no filme "Eurovision'. O que é essa dancinha? E a gorda de óculos? E o vento nos cabelos? Apenas sublime. Também me esbaldei com "Loco Loco" do trio sérvio Hurricane, formado pelo que parecem ser modelos fitness. A música é aquela dance genérica típica do festival, mas as moças realmente se esforçam. E a letra é em servo-croata, o que sempre ganha pontos comigo.
Também merece destaque o showzinho do intervalo, uma coreografia beyond homossexual chamada "Close Encounters of a Special Kind", dançada por Ahmad Joudeh e Dez Maarsen. Pra quê a bicicleta? Pra quê o corpo de baile? Bastava o rapagão de dorso nu e saia de lamê.

A BOIADA ATOLADA

Quase acreditei que o Ricardo Salles queria destruir o meio ambiente por idealismo. Que o sujeito sinceramente confiava no capitalismo selvagem, e que um mínimo de benefício econômico para um punhado de madeireiros valia mais do que toda a Amazônia em pé. Agora sabemos que o futuro ex-ministro recebe bola de seus protegidos. A Polícia Federal descobriu módicos 14 milhões de origem suspeita nas contas do escritório de advocacia de Salles, o que explica o afã com que ele libera qualquer montanha de toras ilegal. Salles não é tosco feito Weintraub, nem ideológico como Ernesto: não será derrubado por suas próprias palavras. Mas é uma mancha indelével de corrupção num governo que se finge de santo. Chegou a hora dele.

quarta-feira, 19 de maio de 2021

NÃO É DE BOM TOM

Hello, keilers! Vocês não estão achando engraçado ver os ministros birolistas sambando miudinho na CPI da Pandemia? Os caras são tigrões nas redes sociais, quando falam com suas claques, e tchutchucas quando confrontados por quem não é minion. Todos, sem exceção, mentem e/ou se fazem de bobos para proteger o chefe. Esquecem que existe agências de checagem e imagens em vídeo, que registraram para todo o sempre as barbaridades que eles agora renegam. Hoje o general Capachuello finalmente deu as caras, depois de se esconder debaixo da mesa duas semanas atrás. A vergonha do Exército brasileiro se enrolou e até passou mal no final da sessão, e ainda terá que voltar amanhã para o segundo round. Tu quer mentir na CPI? Mente. É de bom tom? Não, não é de bom tom.

BOSSA NUOVA

Quando eu ouvi Selton pela primeira vez, pensei que se tratava de um cantautore italiano fascinado pela música brasileira. Que nada: na verdade é uma banda formada por três rapazes gaúchos que vivem em Milão, e nenhum deles se chama Selton. Depois de apreciar alguns singles, eu finalmente mergulhei no sexto álbum dos piás, o recém-lançado "Benvenuti" - que entraria fácil na lista dos melhores discos brasileiros de 2021, não fosse ele quase todo cantado em italiano. Com sotaque, veja só (ou ouça). Trazendo a bossa nova para os dias de hoje e misturando com um pop leggero e ensolarado, i Selton são um jorro de otimismo nesses tempos difíceis.

terça-feira, 18 de maio de 2021

DESMASCARANDO O EUROVISION - 1

Quando eu comecei a acompanhar o Eurovision, em 2009, aqui no Brasil só dava para assistir à grande final, transmitida no sábado pela Televisión Española. Agora o canal do festival no YouTube exibe ao vivo as duas semi-finais, a de terça e a de quinta. Hoje aconteceu a primeira da edição de 2021, em Rotterdam, depois de um hiato de dois anos. E foi com alívio e inveja que eu vi o público se aglomerando sem máscara na Ahoy Arena. Não sei a quantas anda a vacinação na Holanda, mas pelo jeito eles já deram um jeito de controlar a pandemia - país civilizado é outra coisa. Anda não consegui ver o show inteiro, mas já sei que as minhas duas favoritas entre as 16 candidatas desta rodada foram classificadas: a bicha-bichérrima "Discothèque", da Lituânia, e a estranhíssima "Shum", da Ucrânia. Este ano ainda não tenho uma favoritaça, mas pode ser que eu mude de ideia. Só espero que a Rússia não ganhe. País anti-gay não merece receber o mais gay dos festivais.

ELA NÃO CONSEGUE RESPIRAR

Acho muito interessantes os filmes que propõem um "huis clos" absoluto, com o protagonista confinado num espaço pequeno e se comunicando com o exterior só por áudio. Dois exemplos recentes são o britânico "Locke", em que um homem faz diversos telefonemas enquanto dirige seu carro à noite, numa estrada, e o dinamarquês "Culpa", em que um investigador da polícia resolve um caso sem sair da delegacia, só por telefone. Por isto quis ver o francês "Oxigênio", que anda fazendo sucesso na Netflix. A protagonista é uma mulher que acorda em uma câmara criogênica, sem saber onde está e nem mesmo quem é. Um sistema operacional que se apresenta como Milo é sua interface com o exterior; através dele, ela liga para várias pessoas e até navega pelas redes sociais. Mas Milo também não a deixa sair, e o nível de oxigênio está despencando. Ou seja: trata-se de uma experiência claustrofóbica, e não exatamente a diversão que irá nos distrair do confinamento imposto pela pandemia. O roteiro não consegue superar todos os obstáculos que criou para si mesmo, pois há muitos momentos chatos em que a trama simplesmente não se mexe, que nem a personagem. Mas o pior é a solução final, meio tirada da cartola. Resumindo, não é grande coisa. Mas parece que é melhor do que "A Mulher na Janela", que eu ainda não consegui ver.

segunda-feira, 17 de maio de 2021

OS IDIOTAS

Todos sabemos que Edaír Biroliro é um sujeito covarde e inseguro. O Despreparado já mudou de opinião umas trocentas vezes e se contradisse outras tantas. Por isto mesmo, é de se espantar sua insistência num erro tão flagrante como a maneira irresponsável com que finge combater a pandemia. Como é que, em plena CPI, ele ainda tem o desplante de chamar de idiota quem "até hoje ficam em casa? Será possível que não percebe que o realtório que o Renan vai produzir vai apontá-lo como o grande culpado pela desgraça que estamos vivendo? Será ele tão mal assessorado a ponto de acreditar que aglomerar e usar máscara é o caminho mais rápido para a imunidade de rebanho? O Bozo se encaixa em todos os sinônimos dicionarizados da palavra "idiota": tolo, ignorante, estúpido, vaidoso, carente de discernimento. E também, veja só, no sentido original da palavra grega idiótes: alguém que não tem o menor interesse pelos assuntos do Estado. Aliás, quem ainda o apoia também é.

domingo, 16 de maio de 2021

TU VENS, TU VENS, EU JÁ PRESSINTO TEUS SINAIS

Escrevi duas vezes o obituário da Eva Wilma. A primeira delas foi quando atriz esteve internada em 2016. Mas ela logo teve alta e, naquele mesmo, estreou "O Que Aconteceu com Baby Jane?" ao lado de Nicette Bruno - foi a última vez em que as vi no palco. Em fevereiro deste ano, quando Eva Wilma foi internada de novo, a Folha me pediu um novo obituário. Muita gente fora do ramo acha macabra essa prática, mas ela é absolutamente comum nos grandes jornais. Algumas celebridades nem precisam estar doentes para que seus obituários sejam escritos de antemão. Quando Fidel Castro morreu, o New York Times publicou todos os obituários que seus repórteres deixaram prontos ao longo de seis décadas - uma grande aula de história e de jornalismo.

Já pressentíamos que Bruno Covas iria morrer logo desde a campanha de 2019. Mas, apesar de sua aparência pouco saudável, o prefeito de São Paulo foi reeleito com folga. O assunto era proibido: ninguém podia lembrar que, na ausência de Covas, seu vice reacionário assumiria, que logo vinha um "vira essa boca pra lá". Anteontem, quando surgiu a notícia de que seu estado era irreversível, as redes sociais se encheram primeiro de mensagens de condolências e, logo depois, de reclamações por ele estar sendo "enterrado em vida". A quantidade de gente defendendo que um milagre ainda era possível me surpreendeu. O fato é que os brasileiros temos uma relação primitiva com a morte. Ela é um tabu absoluto. Uma entidade que não pode ser chamada pelo nome, sob o risco de se manifestar. Não foi por outra razão que causou tamanha comoção o artigo do Hélio Schwartsman de julho do ano passado, que defendia que a morte do Biroliro seria melhor para o Brasil (e agora sabemos que seria mesmo). Schwartsman é ateu e sua argumentação não tinha nada de pessoal, mas até gente que não suporta o desgoverno caiu de pau em cima dele. Com Bruno Covas, o tabu também agiu forte. Só valiam mensagens de força, fé, pensamentos positivos. O pragmatismo de que agora teremos que  lidar com um prefeito obscuro que atacou a "ideologia de gênero" foi posto de lado. Qualquer menção ao assunto era tachada de, no mínimo, mau gosto. Mas, queiramos ou não, a morte é inevitável, e quando os médicos dizem que uma situação é irreversível, baubau. Quando tivermos a maturidade de encarar esse simples fato da vida, seremos melhores.

sábado, 15 de maio de 2021

VÍTIMA DA MODA

No início dos anos 80, eu dancei ao lado de Halston e Bianca Jagger no Hippopotamus do Rio. Ele era um cara bonitão, muito alto e, óbvio, elegantérrimo. Depois usei por alguns anos o perfume que leva o nome dele; era de fato muito bom. Hoje a marca ainda existe, mas o próprio já se foi há mais de 30 anos. Agora é capaz de ter um revival, por causa da ótima série que chegou ontem à Netflix. É maaais uma produção do Ryan Murphy, mas não mais do que isso: Murphy só produziu. Isto quer dizer que o tom está mais contido do que de costume, sem atuações exageradas nem cores berrantes. Não que o próprio Halston fosse comedido, mas sua vida de triunfos e tragédias não orna bem com a farsa. Ewan MacGregor está muito bem no papel-título, com gestos discretamente afeminados e uma vozinha que não usa na vida real. Mas o melhor mesmo são as festas, os excessos, a Liza dando canja. Se ainda não podemos ferver na vida real, "Halston" dá um brilhozinho.

sexta-feira, 14 de maio de 2021

CANETADA NO NOSSO

Biroliro adora dizer que não acredita em pesquisa, e pelo jeito não é só da boca para fora. O que mais explica ele aumentar o próprio salário, e o de todos os milicos do governo, justamente quando sua popularidade está em queda livre? Com uma canetada. o Minto estourou o teto do funcionalismo, forçando a União a um gasto extra de, no mínimo, 66 milhões de reais por ano (já li por aí que pode ser o triplo disso). "Ãin, é pouco"? Né não: uma grana dessas faz a maior falta para a UFRJ e outras universidades federais. Elas correm o risco de fechar, tamanhos são os cortes que o desgoverno quer fazer em seus orçamentos. Como diz o Datena, é só no nosso.

TÁ NO BOLSO

Mais um sinal de que os dias do Biroliro estão contados. Hoje estreou o Bolsoflix, um site só de vídeos anti-Bozo. Tem ele falando merda sobre violência, corrupção e, claro, pandemia, sua não-especialidade. Basta selecionar um vídeo que o próprio site o envia para o seu WhatsApp. Aí você pode compartilhar no grupo da família, para irritar aquele tio que ainda fala em "vachina do Doria" ou aquela prima que acha que o Queiroz é um infiltrado do PT.

quinta-feira, 13 de maio de 2021

O JOE BIDEN BRASILEIRO

É Lula. Não tem outro, ainda mais se o ex-presidente vier de Lulinha Paz e Amor - a persona moderada que seduziu o Brasil em 2002 e garantiu sua primeira vitória na corrida presidencial. A pesquisa Datafolha divulgada ontem confirma esta impressão, porque Edaír Biroliro está despencando na aprovação popular (finalmente!) e nenhum outro candidato ultrapassa os 6% no primeiro turno. Isto não quer dizer que não vá pintar a tão sonhada "terceira via". Na verdade, pintarão duas. Uma delas é Ciro Gomes, que já está com o time em campo e contratou o marqueteiro João Santana. A outra virá do centro-direita, mas quem? Sergio Moro, que jamais disse que iria se candidatar, não se candidatará mesmo. Luciano Huck ficará na Globo, abrilhantando os domingos pós-Faustão. João Doria terá mais chances em se reeleger governador de São Paulo, e mesmo assim enfrentará a concorrência acirrada de Guilherme Boulos e/ou Fernando Haddad. Mandetta tem cara de vice. Sobrou Eduardo Leite, que talvez concorra só para ficar conhecido nacionalmente e vir com tudo em 2026. Só uma coisa é certa: o Bozo já era. Não tem milagre que o torne competente no que resta de seu desgoverno, e o Gabinete do Ódio mais atrapalha do que ajuda. Sim, ele vai espernear, vai gritar "fraude!" e tentar deflagrar uma guerra civil. Mas Lula é o Joe Biden brasileiro. E sabemos o que aconteceu com Joe Biden.

METUBE

Estou virando figurinha fácil no YouTube. Além dos vídeos quinzenais para o canal Manual do Tempo, também apareço no programa Edição Extra de maio, produzido por alunos de Comunicação da Faculdade Casper Líbero. O assunto são as novelas brasileiras no exterior, e tive a honra de dividir a câmera com os autores Duca Rachid e Aimar Labaki.
Eu brincava com o crítico Paulo Gustavo que ele e o ator Paulo Gustavo eram a mesma pessoa. Dependendo da lente da câmera, ele aparecia em tamanhos diferentes. Essa piada ruim agora perdeu mais graça ainda, o que não me impediu de participar ontem à noite do Jornal 140, a live semanal do crítico, junto com nossa colega Cristina Padiglione. Essa é só para os meus fãs hardcore: o vídeo tem quase duas horas...

quarta-feira, 12 de maio de 2021

CHÁ REVELAÇÃO

Impressionante como bastam algumas horas de depoimento à CPI da Pandemia para o caráter do depoente se desnudar em toda sua glória. Mandetta foi firme e hábil, controlando a mágoa que sente do Edaír e transformando-a em arma. Nelson Teich confirmou que é mesmo uma das pessoas mais aborrecidas do mundo, e que continua apoiando o desgoverno em linhas gerais - "mas, por favor, me incluam fora disso". Queiroga, coitado, tentou conciliar a ciência com o descalabro de seu chefe, mas o próprio Jesus Cristo avisou que é impossível servir a dois chefes. Mas ninguém foi mais divertido, até agora, do que Fábio Waijngarten. O cara deu para trás, tentando desmentir tudo o que disse à revista Veja, e agora corre até o risco de ser preso. Por que ele mudou de ideia? Por que atacou o governo de que fez parte, menos de três semanas atrás? Nisso tudo entra o Zero-Um para ofender Renan e lacrar entre o gado, com a grossura de quem acha que está num programa da rádio Jovem Klan. Na verdade, nem é preciso comparecer à CPI para se revelar. Taí o general Capachuello, que passou recibo de covarde semana passada e periga passar de novo, se ficar calado quando finalmente se materializar.

terça-feira, 11 de maio de 2021

BOMBAS DE EFEITO IMORAL

Ando vendo tantos episódios da série  "Shtisel" que já sonhei duas vezes que eu estava em Israel. Ainda bem que não estou. Além do eterno dilema moral, agora viver por lá voltou a ser perigoso. As escaramuças de rua entre judeus e palestinos evoluíram, de uma semana para cá, para ataques com mísseis de ambos os lados, resultando na imagem chocante de um prédio inteiro desmoronando em Gaza. Não foi uma implosão a esmo: o edifício abrigava escritórios do Hamas, e foi evacuado antes de ser atingido. Pelo menos os israelenses têm uma pontaria melhor que os policiais que invadiram a favela do Jacarezinho.

GLOBOLIXO DE OURO

Veja só como funciona o efeito manada. O prêmio Globo de Ouro, dado todo ano pela Associação da Imprensa Estrangeira de Hollywood, é alvo de críticas e denúncias desde sempre. No começo deste ano, estourou o escândalo de que não há negros entre os associados. A cerimônia de entrega não foi afetada, mas agora a coisa tomou tal proporção que o próprio Globo de Ouro pode deixar de existir. A rede NBC já avisou que não irá mais transmitir a cerimônia do ano que vem; Netflix, Amazon e Warner não inscreverão mais seus filmes e programas; Tom Cruise devolveu os três Globos que ganhou, como se eles tivessem se tornado radioativos. Algo parecido aconteceu com Woody Allen, que de uma hora para a outra foi abandonado por quase todos os atores que antes imploravam por papéis em seus filmes. Mas o Globo de Ouro irá sobreviver? Provavelmente, porque é o segundo prêmio mais conhecido depois do Oscar, e a indústria do entretenimento precisa dessas auto-honrarias para atrair público para seus produtos. Mas há algo mais grave no ar. O interesse das novas gerações por prêmios de cinema e TV está próximo de zero. As audiências das cerimônias vêm caindo a cada ano que passa. No fim, acho que só cacuras como eu ainda gostam desse lixo dourado. 

segunda-feira, 10 de maio de 2021

TRATORAÇO

O Estadão deu um furo neste domingo. O jornal revelou a existência de um esquema de compra de apoio de parlamentares ao desgoverno Biroliro - tanto que já tem gente chamando o troço de Bolsolão. Eu prefiro Tratoraço, porque as vedetes do escândalo são os tratores vendidos por um preço 259% maior que o da tabela. O caso é mais uma prova de que nunca ocorreu a Biroliro combater a corrupção para valer, até porque ele é corrupto desde os tempos de vereador. Mas os valores envolvidos são bem menores do que o que escoou pelo rombo da Petrobras, ou mesmo no Mensalão do Lula 16 anos atrás. O gado já está mugindo que três bilhões de reais é fichinha e ninguém merece sofrer impeachment por causa de tão pouco. Eu não sei se esta é a bomba que finalmente explodirá o Edaír, mas é mais uma flechada num alvo já crivado de flechas.Ainda virão outras.

XÔ, CHÚ

Nunca vi uma jogadora de futebol feminino que fosse heterossexual. Acho que elas devem existir: afinal, os héteros se infiltraram em todas as atividades humanas e estão por toda parte. Mas não parece ser o caso da Chú Santos, atacante do Palmeiras e da seleção brasileira, que tem a maior pinta de sapatão. Não sei de detalhes da vida da moça, mas não duvido que ela esteja vivenciando um intenso conflito interno, tentando mudar sua orientação sexual depois da lavagem cerebral a que foi submetida em alguma seita evangélica. Isso explica o comentário imperdoável que ela soltou a respeito do Paulo Gustavo - acho que o único negativo depois que foi revelado que o ator contribuiu com altas somas para diversas obras de caridade. O mundo desabou sobre a cabeça de Chú, e ela rapidamente soltou um vídeo pedindo desculpas. Esfarrapadas, óbvio: em nenhum momento a jogadora admitiu ter mudado de ideia. O Palmeiras já passou um pano gigantesco e deu o caso por encerrado, mas também errou. Chú tinha que ter seu contrato rescindido, para servir de exemplo. Xô, homofóbica, vai você pro inferno.

domingo, 9 de maio de 2021

TODA MÃE É UMA PEÇA

O segundo Dia das Mães da pandemia está muitísismo mais triste do que o primeiro. Milhares de mães perderam seus filhos e milhares de filhos perderam suas mães para a Covid-19. Fico pensando na Dona Déa Lúcia, e buscando motivos para não chorar: pelo menos ela teve uma relação plena com o Paulo Gustavo, pelo menos ela tem dois netos lindos, pelo menos... Também me consola lembrar que a maioria das mães idosas do Brasil já deve estar vacinada. Mas ainda faltam os filhos, os netos, mais de 80% da população. Enquanto isso, Pandemito agora deu para desfilar de moto sem capacete, testando o Código Nacional de Trânsito e a nossa capacidade de controlar o desejo de que ele se esborrache contra um poste e seus miolos se espalhem pelo asfalto. Feliz Dia das Mães, galera: para quem tem, para quem teve, para quem será. Menos para quem ainda vota no Edaír Biroliro.

sábado, 8 de maio de 2021

LALO

A ideia inicial era só fazer um cadastro e pagar uma taxa. Minha amiga Marta avisou que a pet shop Vita e Carmelo, na Vila Madalena, não entrega os cães adotados na hora. Antes de saírem de lá, eles precisam ser castrados (é a lei em São Paulo), e o futuro dono tem que demonstrar real interesse. Mas aí aconteceu uma dessas coincidências cósmicas. O rapaz que nos atendeu foi com a minha cara, e disse que tinha um candidato de quem eu iria gostar. Macho, um ano e meio, sem raça definida, idêntico ao Vagabundo. Os antigos donos se mudaram e o deixaram abandonado numa casa vazia (não concebo quem seja capaz de fazer uma coisa dessas). Resgatado, ele foi castrado esta semana, e ainda está com os pontos. Foi paixão à primeira vista. Nós nos entendemos na hora, e saímos de lá juntos - mais uma guia, um prato de comida, um de água, um pacote da ração mais cara do universo, uns remedinhos e uma bandana presenteada pela tia Marta. Passeamos um pouco pelo bairro, para ele esvaziar o tanque e nos conhecermos melhor. Chegando em casa, os gatos se arreganharam todos, claro, mas ele os ignorou - sinal de que, daqui a alguns dias, vão estar todos na boa. E só então contei para o senhor meu marido, que foi para o Rio para o Dia das Mães. Anunciei a chegada do Lalo, quase dois anos depois da morte do Nacho. É o meu primeiro não-cocker spaniel em mais de 30 anos, e o primeiro adotado. Seremos muito felizes juntos.

sexta-feira, 7 de maio de 2021

PIRANHA TAMBÉM CHORA

Comecei a ouvir a nova música da Pabllo Vittar e me bateu uma certa preguiça. Pronto, ela se rendeu ao que há de pior na música brasileira. Aí chegou o refrão e eu congelei: percebi na hora que estava presenciando o nascimento de um novo clássico. "Ama Sofre Chora" gruda nos ouvidos feito sanguessuga e vai nos atazanar pelos próximos meses, em covers, memes, remixes e dancinhas no Tik Tok. A letra ousada cai feito um bálsamo no final desta semana tão difícil. Como disse o Paulo Gustavo em seu vídeo-testamento, a arte vai nos salvar.

GUNS FROM RIO

Ontem eu escrevi que a vitória sobre o Biroliro já começou. Infelizmente, começou também a reação violenta da extrema direita. Pois a chacina de Jacarezinho também é isso: apoiadores do Mijair querendo mostrar serviço e amedrontar a sociedade. Além de, é claro, desviar a atenção da CPI da pandemia. Só no Brasil que uma operação "de inteligência" da polícia termina com 25 mortos e civis feridos dentro do metrô. Quem planejou esse massacre? Quem autorizou? Veja bem, não estou defendendo bandido. Mas ninguém merece ser executado no meio da rua, ainda mais depois de desarmado. A "guerra às drogas" é só uma desculpa para matar pretos pobres, como eu li nas redes sociais (não lembro quem escreveu). Mas há um consolo: a indignação da sociedade me parece mais forte do que de outras vezes em que rolou matança indiscriminada. Pelo menos uma parte dos brasileiros já entendeu que não adianta sair atirando a esmo. Vai servir para mudar alguma coisa?

quinta-feira, 6 de maio de 2021

NÃO SEI SE A GENTE VOLTA

Eu só me dei conta de que o Alexandre Garcia é um sacripanta depois que ele saiu da Globo. Atualmente, ele e o desqualificado do Caio Coppolla fazem com que a CNN Brasil ainda esteja léguas atrás da GloboNews. Nos últimos dias, Garcia andou apagando ou restringindo dezenas de vídeos em seu canal no YouTube, talvez com medo de ser convocado pela CPI da Pandemia. Mas não arrefeceu sua defesa fervorosa do Biroliro. Hoje ficou vários segundos calado no ar, ao ser confrontado pelo âncora Rafael Colombo, e encerrou seu quadro "Liberdade de Opinião" com um "não sei se a gente volta". Uma ameaça tão vazia quanto o autogolpe que o Bozo vive dizendo que vai dar, pois o canal já confirmou que amanhã ele volta, sim. Não teve a macheza de um Diogo Mainardi, que preferiu se demitir do "Manhattan Connection" a ter que pedir desculpas - e ainda mandou o Kakay tomar no cu de novo.

V DE VACINADO

Hoje eu entrei para as estatísticas. Quando o Jornal Nacional der o número de vacinados do dia, eu vou estar no meio daquele número. Mas não foi fácil, porque eu queria tomar a da Pfizer. Ontem saiu a notícia de que ela estaria disponível apenas em postos de saúde aqui em São Paulo, e não nos drive-thru. Saí de casa um pouco antes das 11h, a pé mesmo, rumo à UBS mais próxima. Chegando lá, uma fila imensa serpenteava pelo jardim. Às vezes ela deslanchava, às vezes permanecia imóvel por longos minutos. Quando finalmente eu estava chegando perto, um aviso: não tem Pfizer, só AstraZeneca. Mas aí eu já estava em pé e ao relento há mais de uma hora e meia. Tomei a da Oxford mesmo e tá óóóteeemo. Tive mais sorte do que os 410 mil brasileiros mortos até agora. Quando eu penso no Paulo Gustavo, na Nicette Bruno, no Márcio Tadeu, no Rodrigo Rodrigues, em tantos que o vírus levou cedo demais, me dá um ódio ainda maior do que eu já sinto por este desgoverno. Ódio, sim, e não tenho o menor problema em admitir. Odeio esse boçal que está no poder, esse incompetente negacionista que fez de tudo para que todos morrêssemos de Covid-19. Só fui vacinado hoje porque o João Doria, justo quem, se mexeu antes e obrigou o Despreparado a se mexer também. Agora estou bem mais imunizado, e no final de julho tomarei a segunda dose. Vocês todos também vão tomar. E assim, vivos e fortes, vamos chutar essa milícia para longe em 2022. A vitória já começou.

quarta-feira, 5 de maio de 2021

RIR É UM ATO DE RESISTÊNCIA

Ainda estou sob o impacto da morte do Paulo Gustavo, uma pessoa que eu nem cheguei a ver pessoalmente. Tínhamos até amigos comuns, mas nunca nos cruzamos na vida real. Nem sequer eu o vi no teatro. Mas hoje estou triste como se tivesse morrido alguém da família, e já percebi nas redes que não sou só eu. A noite de ontem foi um turbilhão para mim, porque além de tudo eu tive que assistir à final do BBB21 e produzir, quase que em tempo real, uma coluna para o F5 sobre o programa. Claro que fui contaminado pela melancolia. Mas o próprio Paulo Gustavo está nos sacudindo para cima. Quis o destino que o encerramento do especial do "220 Volts", exibido pela Globo no Natal passado e reprisado na noite de ontem, servisse como um testamento. Uma mensagem poderosíssima, que nos lembra da força do riso e do amor contra toda essa barbaridade que nós estamos atravessando.

Também devemos homenagear Paulo Gustavo pelo papel que ele teve na normalização do amor homoafetivo. Antes que alguém venha apontar que não houve beijo gay em "Minha Mãe É uma Peça 3", é bom lembrar que ele nunca escondeu seu casamento com Thales Brêtas, seus filhos lindos, sua família repleta de afeto. Uma bandeira mais escancarada do que a de muitos militantes. Que extravasava para sua arte, como se vê no vídeo acima. Este é meu novo lema: vamos ser viado para sempre!

terça-feira, 4 de maio de 2021

PEÇA RARA

Acho que está todo mundo abalado. Todo mundo com a sensação de que perdeu mais um parente para essa doença maldita. Passamos quase dois meses rezando pelo Paulo Gustavo, mas hoje ele finalmente se foi. Que agonia cruel. Ninguém merece isto. Um cara que tinha tudo: sucesso, amor, filhos lindos. Na verdade, fico feliz por ele ter tido tudo isso, praticamente tudo o que a vida pode dar, e tão rápido. Mesmo assim, a impressão que fica é a de que Paulo Gustavo estava apenas começando. Ele seria um dos grandes, do tamanho de um Chico Anysio ou um Jô Soares, mas se foi cedo demais. Ficam os filmes, os programas, as risadas histéricas. Neste texto meu na Folha, lembro um pouco de sua carreira fulgurante. E mais não sei escrever, porque o pasmo é muito grande. Vai na paz, raro menino.

O GENERAL DA PASSIVA

O general Capachuello está sendo treinado há mais de uma semana para enfrentar a CPI da pandemia. Deve ter ficado tão afiado que hoje ele cancelou seu depoimento, marcado para amanhã. A desculpa é sensacional: dois de seus assessores teriam testado positivo para o coronavírus. Isto, vindo de um general da ativa que há 10 dias estava circulando sem máscara por um shopping de Manaus. Vamos bater nesta tecla até furar: Capachuello é um general da ativa, que se curvou diante do Bozo e se deixou encoxar. Subserviente, incompetente e, agora sabemos, também covarde. "Ãin, mas ele não representa todas as Forças Armadas". Mas ainda faz parte delas, e é um símbolo gritante desse desgoverno. Em que as FFAA embarcaram com volúpia, e a que ainda apoiam. Esse boleto elas vão ter que pagar.

segunda-feira, 3 de maio de 2021

I WHANT TO BREAK FREE

Não comentei nada sobre as manifestações pró-Biroliro de sábado passado porque achei que nem mereciam. Aqui em São Paulo, os minions ocuparam pouco mais de uma quadra na Paulista, com folga, e só. Mas hoje não resisto a postar a capa fake do New York Times que está circulando nos grupos de zap do gado. Para acreditar nesta bosta, não basta não saber que a linha editorial do NYT jamais apoiaria um proto-ditador feito o Bozo, ou que não se usam fontes em itálico nas chamadas de capa. É preciso ter passado na porta de uma aula de inglês, mas não mais do que isso. Fora que a foto é de 2016... Now tell me what you whant, what you really really whant!

CHEGA DE VICES

Cláudio Castro, o vice de Wilson Witzel, é o novo governador do estado do Rio de Janeiro. Na cidade de São Paulo, o vice-prefeito Ricardo Nunes ocupará a cadeira de Bruno Covas enquanto este estiver de licença. Alexandre Giordano assumiu no Sendo o lugar do Major Olímpio, de quem era suplente. Todos esses semi-desconhecidos agora desfrutam de poder real, sem terem recebido um único voto em seus nomes. É por isto que eu concordo 100% com este artigo do Nabil Bonduki na Folha de hoje. O Brasil mantém os cargos de vice e suplente como se ainda estivéssemos nos tempos do império, quando D. Pedro II passava dois anos viajando pela Europa e deixava a princesa Isabel em seu lugar. Hoje não faz o menor sentido que o vice-presidente assuma equanto o titular está no exterior, pois existe telégrafo, telefone, e-mail e WhatsApp. Minha proposta é simples: quando um mandatário morrer, realizam-se novas eleições. É assim no Legislativo dos EUA (mas não no Executivo). No entanto, como lembra Bonduki, a composição de uma chapa eleitoral obedece a critérios políticos, e a eliminação de vices e suplentes dificultaria a formação de alianças. Mas beneficiaria a população, cansada de ser governada por quem ela não elegeu. 

domingo, 2 de maio de 2021

O SELINHO DA MULHER ARANHA

Durante uma ditadura em um país latino-americano, uma bicha de uma certa idade conhece um militante de esquerda. Ela se encanta por ele; ele até não desgosta dela, mas o que quer mesmo é ajuda para um plano. Soa familiar? O plot básico de "O Beijo da Mulher Aranha" ganhou uma variação no filme chileno "Tenho Medo, Toureiro", que acaba de chegar à Amazon Prime Video. A ação se passa em 1986, em Santiago, quando o regime de Augusto Pinochet já estava nas últimas. Uma travesti entrada em anos é abordada por um guapo mexicano, que a convence a esconder uma caixa em sua casa - lá dentro, armas que serão usadas num atentado que aconteceu mesmo contra o ditador. Alfredo Castro, que já fez até minissérie no Brasil, está muito bem como a protagonista, mas eu impliquei um pouco com o tratamento caricato dado às cacuras. Mesmo no velório de uma delas, as outras não resistem a fazer uma coreô com dublagem, como se não captassem a gravidade do momento. "Tenho Medo Toureiro" ainda se rende ao obrigatório desfecho amargo, pois bicha não tem direito de ser feliz. Esse arremedo de beijo não passa de um selinho envergonhado.

sábado, 1 de maio de 2021

A BOMBA NO COLO DA DITADURA

Hoje faz 40 anos que um sargento e um capitão do Exército tentaram soltar uma bomba num show que celebrava o 1o. de maio no Riocentro. Graças à incompetência típica dos militares para tudo que não é assunto da caserna, a bomba estourou no colo deles: o sargento morreu e o capitão ficou gravemente ferido. O caso criou um problemaço para o último ditador do regime militar, o inepto João Baptista Figueiredo. Era óbvio que a intenção dos terroristas era semear o pânico na multidão e, por vias tortas, melar o processo de abertura democrática. Não deu certo. Com a economia em recessão e uma hiperinflação de mais de 1.000% ao ano, os incompetentes milicos sequer emplacaram o candidato da Arena, o partido governista, no último Colégio Eleitoral. Mas conseguiram mandar o caso Riocentro para o limbo onde ele se encontra até hoje, sem que os verdadeiros culpados tenham sido "descobertos" (põe aspas nisso, porque todo mundo sabe quem são). Este atentado, somado à carta-bomba enviada à OAB, são um aviso tétrico do que pode estar nos aguardando em 2022, quando Biroliro perder as eleições. A extrema-direita nunca sai por bem do poder.