Anitta faz duas carreiras ao mesmo tempo. Uma, a internacional, já tem uns quatro anos, e poucos resultados concretos para mostrar. OK, ela gravou com Madonna e foi no programa do Jimmy Fallon, mas nunca emplacou um hit a nível global (Shakira, só para ser chato, estourou logo na primeira tentativa de cantar em inglês). A outra carreira é por aqui mesmo, e como somos cruéis com ela. Tudo o que Anira faz é esmiuçado e criticado sem dó. Ela é marqueteira demais, ou não faz marketing suficiente; não se posiciona politicamente, ou se mete em política sem entender nada, e por aí vai. Hoje saiu o single "Girl from Rio", que me parece uma reapresentação da cantora ao público global. Achei até ousada a ideia de levar "Garota de Ipanema", um hino da Zona Sul carioca, para o Piscinão de Ramos, e mostrar para o mundo que a Cidade Maravilhosa é muito mais do que sua imagem clichê. Mas Anitta não pode se esquecer que o funk - ou o baile funk, como esse estilo brasileiro é conhecido lá fora - é seu maior diferencial. Se não investir nele, vai virar uma Demi Lovato genérica.
sexta-feira, 30 de abril de 2021
NA CABECINHA
Wilson Witzel foi impichado, e isto é motivo de celebração. O ex-governador do Rio de Janeiro mostrou a que veio já na campanha eleitoral, quando posou todo pimpão ao lado de Daniel Silveira rasgando uma placa em homenagem a Marielle Franco. Eleito na onda fake da "nova política" que varreu o Brasil em 2018, Witzel logo entrou em rota de colisão com o Biroliro pela mais singela das razões: admitiu que queria ser presidente. Isto, para o Despreparado, é mais grave do que ser comunista. Tenho pena não. A carreira do ex-juiz foi alvejada na cabecinha, e ele não poderá se candidatar a nada pelos próximos cinco anos. Agora falta nos livrarmos de seus congêneres, como Romeu Zema, Bia Kicis, Carla Zambelli, Janaína Paschoal...
quinta-feira, 29 de abril de 2021
O ARREPENDIMENTO COMO ESPETÁCULO
Já trabalhei com gente movida a animosidade. Gente que precisa estar brigando o tempo todo, com quem quer que seja. Não há talento fenomenal que justifique essa beligerância, e no fim quem se dá mal é sempre o próprio briguento. Não conheço a Karol Conká pessoalmente, mas ela parece se encaixar nesse figurino direitinho. Na minissérie "A Vida Depois do Tombo", que chegou hoje ao Globoplay, não faltam produtores reclamando dela. Karol conseguiu romper com quase todos, e as disputas foram parar na Justiça. O resultado é que, de seus 10 maiores sucessos, sete não tiveram autorização para serem tocados na série. Mas a personalidade difícil da moça é duramente castigada ao longo dos quatro episódios. Depois de ter que pedir perdão no "Plantão BBB", na Ana Maria Braga, no Fantástico, no Faustão, Karol agora é colocada numa sala pentagonal, cujas paredes são gigantescas telas de LED. Lá é obrigada a rever seus piores momentos no BBB, e também as opiniões que outros eliminados têm dela. No estilo mais sensacionalista, a produção tenta promover reencontros de Karol com ex-brothers, mas só sua amiga Lumena aparece. Arcrebiano, Carla Diaz e Lucas Penteado se recusaram a ir. Este ainda mandou um vídeo que faz a rapper chorar pela enésima vez. Muito se disse da Globo estar se esforçando para ajudar Karol Conká a reconstruir sua carreira, e que esta série documental seria um pilar desse plano de reabilitação. Mas "A Vida Depois do Tombo" está mais para um produto costurado às pressas, para estrear antes mesmo do final do "BBB21". A contrição da cantora é tratada como entretenimento. Acaba torturando também o espectador.
MAZEL TOV
Morei num bairro aqui em São Paulo que tem muitos judeus ortodoxos. A única vez em que eu falei com um deles foi durante a Copa de 2006. No intervalo de um jogo do Brasil, saí para dar uma volta no quarteirão com meu cachorro. De repente, um rapaz vem à à varanda de um apartamento e me grita: "quanto tá o placar?". Era sábado, e ele não podia sequer ligar a TV... Esse episódio serve para lembrar que os haredi são como nós, só um pouco mais malucos. A religiosidade extrema de fato cria alguns empecilhos para a vida moderna, como mostra a série "Shtisel" da Netflix. Demorei um pouco para ceder, apesar de vários amigos terem me dito que é ótima. Agora estou viciado, vendo um episódio por dia como se fosse uma novela. O título é o sobrenome de uma família ortodoxa de Jerusalém, e todos os problemas deles advêm da adesão rígida não a princípios bíblicos, mas a costumes que datam da Idade Média. O caçula Akiva quer se casar com uma viúva um pouco mais velha do que ele, e isso é complicado. Sua irmã Giti tem que lidar com o marido, que fugiu com uma shiksa e depois voltou arrependido, e com a filha, que não aceita mais o pai. O patriarca Shulem, viúvo há pouco tempo, quer se casar de novo, mas quem ele quer não o quer e vice-versa. Não há nenhuma discussão política nem uma única menção aos palestinos. Os Shtisel vivem numa bolha onde até mesmo os judeus seculares mal conseguem penetrar. Mas são gente como a gente, com os mesmos sonhos e ansiedades. Só que fazem uma shakshuka realmente infernal.
quarta-feira, 28 de abril de 2021
#LGBT NÃO É MÁ INFLUÊNCIA
Hoje cravamos uma vitória, sob a liderança da brava deputada estadual Erica Malunguinho (PSOL-SP). Ela apresentou uma emenda para alterar o famigerado PL 504, conseguiu a assinatura de 26 colegas na Alesp e mandou o famigerado projeto de volta à estaca zero. Agora não se fala mais em proibir que indivíduos LGBT+ ou casais homoafetivos apareçam na publicidade voltada ao segmento infantil, mas em censurar "drogas, sexo e violência explícita contra crianças" . O texto terá que ser discutido novamente antes de ser submetido a uma nova votação. Erica, é claro, não lutou sozinha: empresas como a Coca-Cola, a Uber e a Avon se manifestaram nas redes sociais, aderindo à campanha #LGBTNãoÉMáInfluência. O texto da homofóbica Marta Costa (PSD-SP), que teve o endosso da maluca da Janaína Paschoal, falava que comerciais com gays causam "desconforto emocional" em inúmeras famílias, que precisam explicar para os filhos porque dois homens estão se beijando. Desconforto emocional, suas deputadas idiotas, é crescer gay num mundo que vê como crime e pecado qualquer desvio da heteronormatividade. Vocês duas não iriam aguentar um dia.
GARGALHADA ENLATADA
Eu acho que a sitcom é a manifestação artística mais sofisticada da humanidade, e posso provar. O Marcelo Rubens Paiva me chamou para dar um curso sobre a história da sitcom, desde o tempo da televisão a lenha, na plataforma Bora Saber. Serão quatro aulas via Zoom em quatro terças-feiras, a partir de 22 de junho, das 20h às 21h30. De "I Love Lucy" a "Schitt's Creek" e além, todos os principais exemplares do gênero serão dissecados, com especial atenção ao Brasil e farto material de arquivo. Inscrições já abertas!
terça-feira, 27 de abril de 2021
ERA VIDRO E SE QUEBROU
Passei três dias só falando de cinema, e as cagadas do desgoverno se acumularam. Por onde começar? Pela dúvida que nos consome: quem será o "homem da casa de vidro" que aparece em mensagens de celulares de milicianos, também citado como "Jair" e "presidente"? Quem, mas quem será? Só que a ligação com o crime organizado, cada vez mais evidente, nem é o maior dos problemas do Bozo neste momento. A CPI da Pandemia promete botar pra quebrar, ajudada pela lista de 23 questões elaborada pela Casa Civil. Inteligência não é mesmo o forte dessa turma, como se viu pelo pedido da Carla Zambelli para a Justiça impedir a "eleição" de Renan Calheiros para relator da CPI - relator não é eleito, é escolhido pelo presidente da comissão. Enquanto isso, os mortos pela Covid chegam a 400 mil, a inflação sobe, o PIB despenca e Paulo Guedes comete um ato falho atrás do outro, revelando mais uma vez o ser humano horrendo que ele é. A casa de vidro do Biroliro está trincada, e uma hora vai quebrar.
segunda-feira, 26 de abril de 2021
VAI COM O BUM BUM GLENN GLENN
Glenn Close saiu de mãos abanando pela oitava vez, um recorde, e nem por isto perdeu o senso de humor. No momento mais gifável da noite de ontem, a melhor atriz do mundo deu uma plétora de detalhes sobre a obscura canção "Da Butt", de um antigo filme de Spike Lee, e ainda rebolou o bundão diante do mundo inteiro. CLARO que foi tudo combinado, mas, com mais esta performance inesquecível, eu acho que ela pavimentou o caminho para sair vitoriosa em sua nona indicação. Que, se a Deusa quiser, será daqui a dois anos, por "Sunset Boulevard".
O PAI DE TODOS
Sir Anthony Hopkins já está acima do bem e do mal. Ele não precisa provar mais nada para ninguém, nem está preocupado com prêmios. Hopkins sabe que está no pleno domínio de seus superpoderes de atuação, e isto basta. Por isto, nem se deu ao trabalho de sair de sua casa no País de Gales para ir à cerimônia do BAFTA, em que venceu como melhor ator por "Meu Pai". Nem deixou que os produtores do Oscar levassem câmeras e microfones até ele para agradecer por uma eventual vitória. Que acabou acontecendo, frustrando o plano de Steven Soderbergh de encerrar a entrega do prêmio da Academia com um discurso emocionado da viúva de Chadwick Boseman. A cerimônia mais esquisita de todos os tempos acabou assim, de repente, em total anticlímax. Meu coração se divide: Chadwick era um grande ator, e a indicação por "A Voz Suprema do Blues" era sua única chance de entrar para a história do Oscar. Mas a performance de Anthony Hopkins em "Meu Pai" é simplesmente perfeita. Corra para ver se você ainda não viu.
(Meus comentários sobre a cerimônia de ontem estão aqui, no F5)
domingo, 25 de abril de 2021
OSCAR PARA QUEM PRECISA
Hoje termina a mais longa e estranha temporada de prêmios da história do cinema americano. Filmes lançados aos longo de 14 meses, alguns só no streaming, foram habilitados a disputar o Oscar que será entregue logo mais à noite. Pesos-pesados como o "West Side Story" de Steven Spielberg e o "Duna" de Dennis Villeneuve foram adiados para o final deste ano, abrindo caminho para obras pequenas como "O Som do Silêncio" e "Minari". A cerimônia em si deve ser totalmente diferente do que estamos acostumados, com locações espalhadas pelos EUA e pela Europa e um palco principal não no Dolby Theatre, construído especialmente para a Academia, mas na histórica Union Station de Los Angeles. Vai ser bom? Talvez. Vai ser justo? Nunca é. Vou estar comentando ao vivo e em tempo real com outros colunistas e repórteres no live blogging da Folha, a partir das 18 horas. Antes disso, aqui vão os meus tradicionais palpites sobre os futuros agraciados:
MELHOR FILME
Vai ganhar: "Nomadland"
Mas eu daria para...: "Bela Vingança", mais original e contundente
MELHOR DIRETOR
Vai ganhar: Chloé Zhao, por "Nomadland"
Mas eu daria para...: Emerald Fennell, por "Bela Vingança"
MELHOR ATOR
Vai ganhar: Chadwick Boseman, por "A Voz Suprema do Blues"
Mas eu daria para: Anthony Hopkins, por "Meu Pai" - se Chadwick não tivesse morrido...
MELHOR ATRIZ
Vai ganhar: Sei lá. É o páreo mais embolado da noite. A única surpresa possível é uma vitória de Vanessa Kirby por "Pieces of a Woman". Todas as outras quatro têm chances. A que tem menos fatores contrários é Carey Mulligan, por "Bela Vingança": uma atriz respeitada, já indicada, nunca vitoriosa, num filme indicado a várias outras categorias.
Mas eu daria para...: Carey Mulligan! Mas amo todas, sem exceção. Só não quero que Frances McDormand ganhe um terceiro Oscar como atriz, ainda mais tão cedo. Ela já vai ser premiada como produtora.
MELHOR ATOR COADJUVANTE
Vai ganhar: Daniel Kaluuya, que não é coadjuvante de "Judas e o Messias Negro" nem aqui nem na China.
Mas eu daria para: Difícil, hein? O único coadjuvante para valer é Paul Raci, de "O Som do Silêncio". Sacha Baron Cohen e Leslie Odom Jr. fazem parte de "ensambles", e Lakeith Stanfield é co-protagonista com Kaluuya no mesmo filme (um é o Judas e o outro é o Messias Negro).
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
Vai ganhar: Tá pintando que vai ser Yunhunhuhum, aham, Yun Young-Jun por "Minari", mas vai que...
Mas eu daria para...:GennCloseGlennCloseGlennCloseGlennClose
MELHOR FILME INTERNACIONAL
Vai ganhar: "Druk - Mais uma Rodada"
Mas eu daria para...: "Quo Vadis Aida?", a maior porrada do ano
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL
Vai ganhar: "Os 7 de Chicago" ou "Bela Vingança" (não consigo me decidir)
Mas eu daria para...: "Bela Vingança"
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO
Vai ganhar: Estão falando em "Nomadland", mas o filme não tem arco dramático e muitas cenas foram improvisadas.
Mas eu daria para...: "Meu Pai", a rara peça de teatro que não ficou com cara de teatro filmado ("A Voz Suprema do Blues" e "Uma Noite em Miami" ficaram, por exemplo).
E agora, previsões para as categorias mais técnicas, que não me suscitam maiores paixões.
MELHOR FOTOGRAFIA: "Nomadland" ou "Mank"
MELHOR EDIÇÃO: "Nomadland" ou "Os 7 de Chicago"
MELHOR DIREÇÃO DE ARTE: "Mank"
MELHOR FIGURINO: "A Voz Suprema do Blues"
MELHOR CABELO E MAQUIAGEM: "A Voz Suprema do Blues" (mas eu daria para "Pinóquio")
MELHOR TRILHA SONORA: "Soul"
MELHOR CANÇÃO: "Io Sì" (Rosa e Momo)
MELHOR SOM: "O Som do Silêncio" (ah, a ironia)
MELHORES EFEITOS VISUAIS: "Tenet"
MELHOR LONGA EM ANIMAÇÃO: "Soul"
MELHOR CURTA EM ANIMAÇÃO: "Se Algo Acontecer... Te Amo"
MELHOR DOCUMENTÁRIO: "Professor Polvo"
MELHOR CURTA DE FICÇÃO: "Two Distant Strangers"
MELHOR CURTA DOCUMENTAL: "A concerto is Conversation" (whatever)
Nos vemos mais tarde, no live-blogging da Folha.
sábado, 24 de abril de 2021
DIZ QUE FUI POR AÍ
Pronto: consegui ver todos os filmes indicados nas principais categorias do Oscar. Achei que neste ano eu iria chegar à cerimônia sem ver tudo, pela primeira vez desde a década de 90, mas deu. Ufa. Hoje reabriram alguns cinemas em São Paulo e eu corri para ver "Nomadland" na tela grande, que é o habitat natural dele. É mesmo uma beleza. Fotografia, edição e música são primorosas e a direção de Chloé Zhao arranca interpretações comoventes dos não-atores que formam quase todo o elenco. Mas não acho que mereça o prêmio de roteiro adaptado. Não há história, só um fiapo de arco dramático. A protagonista não muda. Frances McDormand tampouco merece um terceiro Oscar, porque sua Fern é basicamente a mesma personagem de "Três Anúncios para um Crime" depois de perder a casa e sair vagando pelo mundo. Mas o filme é uma bela meditação sobre a América moderna, cujo sistema desumano não chega a desumanizar os indivíduos. O Oscar parece inevitável, e será o segundo ano seguido em que um bom longa sobre a desigualdade sai vencedor na Academia.
LADY SINGS THE BLUES
A Amazon Prime Video precisa melhorar muito sua divulgação. Ontem, sem nenhum aviso prévio, surgiu na plataforma o filme "Estados Unidos vs Billie Holiday", que concorre ao Oscar de melhor atriz. É a segunda vez que o papel de Billie Holiday rende uma indicação a uma cantora sem experiência prévia em atuação: a primeira foi em 1972, para Diana Ross por "O Ocaso de uma Estrela", e agora é para Andra Day. Na verdade, a surpresa é essa história não ter sido filmada mais vezes, pois não lhe falta drama, glamour, violência e desespero. Antes de se tornar um ícone gay, Billie Holiday seduziu plateias com seu timbre original. Também assustou os poderosos por cantar "Strange Fruit" - as frutas em questão são os corpos dos negros enforcados, pendurados nos galhos das árvores. O diretor Lee Daniels chega a irritar com o didatismo no começo do longa. O roteiro mão-pesada repete várias vezes que Billie está sendo perseguida pela polícia por causa desta canção, e que o uso que ela fazia de drogas pesadas era só um pretexto. Aliás, o roteiro irregular é o ponto fraco do filme, que tem figurinos Prada, músicas maravilhosas (dãã) e uma interpretação fulgurante de Andra Day, que usa a própria voz para emular a diva. Ela venceu o Globo de Ouro de atriz dramática e tem uma ligeira chance de ser oscarizada amanhã, no páreo mais imprevisível da noite. Continuo torcendo por Carey Mulligan, mas não vou ficar chateado se der zebra.
sexta-feira, 23 de abril de 2021
EVERYBODY LIKES IT
Como se eu precisasse de mais provas de que estou ficando velho, o Sparks lançou um hoje uma música com Todd Rundgren. A parceria celebra os 50 ANOS da primeira vez que eles trabalharam juntos: Rundgren produziu o primeiro álbum da banda, em 1971. Sei que insisto muito no Sparks, mas não vou descansar até todo mundo gostar deles.
TRAIR MILITAR É SÓ COMEÇAR
A entrevista que Fábio Wajngarten deu à revista Veja é um exemplo cristalino do caráter dos bolsominions. A capa transmite a sensação de que o ex-secretário de Comunicação está traindo seu ex-chefe. Só que quem está sendo jogado embaixo do trem é o general Capachuello, o mais submisso dos ministros que esse desgoverno já teve. O ex-titular da Saúde nunca deu um passo que não fosse ditado pelo Edaír, e entrou para o hall da infâmia com a frase "um manda, o outro obedece". Agora está recebendo o prêmio à sua devoção cega a um sujeito que nunca hesitou em fritar um apoiador quando a corda aperta. Wajngarten também é olavete de carteirinha, o que significa que quer queimar os milicos que reduziram o espaço da seita olavista no Planalto. Não duvido nada que essa entrevista tenha sido planejada pelo Gabinete do Ódio (do qual, aliás, Wajngarten sempre fez parte), no momento em que a CPI da Pandemia está para começar. Vai salvar o Biroliro? Duvido. A oposição dele às vacinas, quaisquer vacinas, está fartamente documentada. Agora também temos provas concretas de sua covardia e cupidez.
quinta-feira, 22 de abril de 2021
COMO NA RÚSSIA
Atenção, viadada: ganhamos uma nova inimiga no. 1, além dos muitos que já temos. Trata-se da deputada estadual Marta Costa (PSD-SP), autora de um projeto de lei que proíbe que pessoas LGBT+ ou casais do mesmo sexo apareçam na publicidade. A desculpa, como na Rússia, é a suposta proteção às crianças. Tais anúncios causariam "desconforto" nas famílias, obrigadas a explicar algo - o amor - que as cabecinhas infantis ainda não estão preparadas para entender. Óbvio que o real objetivo dessa lei é evitar a normalização de qualquer orientação que não seja a heterossexual, como explica o Renan Sukevicius neste bom artigo para a Folha online. Com uma emenda da Janaína Paschoal, que jura não ser homofóbica mas é, o PL505 seria votado hoje na Alesp. Ainda não sei o que deu, mas é bom ficarmos alertas. Mesmo derrotados, esses reaças tentarão novamente.
ATUALIZAÇÃO: a votação foi adiada. Ótimo: isso nos dá mais tempo de pressionar os parlamentares e fazer barulho nas redes sociais.
TRELELÊ COM A TELETUBBIE
Não basta ser do mal para fazer parte do desgoverno Edaír Biroliro. Também tem que ser burro e achar que o mundo se resume ao gado. Anteontem, Carluxo devia estar trocando de medicação, pois confundiu LGPD com LGBT em um raro discurso na Câmara Municipal do Ro de Janeiro - ou então fez de propósito, para sinalizar aos minions que ele é uma bicha anti-bicha. Ontem foi a vez de Ricardo Salles bater boca com Anitta no Twitter. O ministro da Destruição do Meio Ambiente acha, assim como seus pares, que uma cantora popular não tem direito a opiniões políticas, ou que o fato dela ter tatuado o fiofó a desqualifica para o debate público. Xingou-a de teletubbie, que para mim sempre foi elogio. Só que mil tatuagens no cu não valem, em termos de despreparo e empáfia, a televisão de cachorro de Salles. Ele e seu chefe ainda acham que vão engabelar o Biden com promessas vagas e chantagens risíveis. Nem trelelê esses cretinos sabem fazer direito.
quarta-feira, 21 de abril de 2021
AGRIÃO COREANO
Consegui ver "Minari" numa cabine virtual promovida pela distribuidora do filme no Brasil. Talvez ele estreia nesta quinta, em cidades que têm cinemas abertos: vai saber. No domingo, deve ganhar pelo menos um Oscar - o de atriz coadjuvante, para Yuh-Jung Youn, que tem na Coreia do Sul o status que Fernanda Montenegro tem no Brasil. O título misterioso se refere a uma espécie de agrião coreano, que cresce na beira dos rios e é muito resistente. Uma metáfora para a família de emigrantes que tenta erguer uma fazenda no meião dos Estados Unidos, contra a barreira cultural, a falta d'água e de dinheiro e até o clima impiedoso. O ator que faz o pai, Steve Yeun, também está indicado ao Oscar, mas quem mais se parece com um protagonista é o garotinho Alan Kim, ladrão de todas as cenas de que participa. A história em si é muito simples, e quem tem pais ou avós que nasceram fora do Brasil certamente vai se identificar. Eu esperava um impacto maior, até porque a concorrência é fortíssima. Mas é um bonito filme, e ainda deixa a gente com vontade de comer minari.
COMEÇANDO A RESPIRAR
O veredicto de Derek Chauvin é um marco, mas é só o começo. Minutos depois do júri anunciá-lo em Minneapolis, uma garota negra foi morta por policiais em Columbus. E isso é nos EUA, onde a polícia mata seis vezes menos do que no Brasil. Aqui, os PMs que, em 2019, dispararam 257 contra o carro de uma família negra, matando duas pessoas, ainda nem foram a julgamento. Mas é de se esperar que o caso George Floyd repercuta por aqui também, pois a nossa sociedade está mudando. A mudança maior, é claro, vem com a provável derrota do Bozo em 2022.
terça-feira, 20 de abril de 2021
DE PÉ, CINÉFILOS DA TERRA - 5
É curioso. O Oscar está se aproximando, mas os candidatos a melhor filme internacional foram se tornando mais raros. Desde janeiro que eu não publicava um post desta série, reunindo três longas que representaram seus respectivos países na disputa. Um deles eu vi há mais de um mês, e nem deve mais estar disponível na plataforma MUBI: o italiano "Notturno". O diretor Gianfranco Rosi já havia concorrido com "Fogo no Mar" ao Oscar melhor documentário, alguns anos atrás, e seu novo trabalho também é um registro político, sem narração. Dessa vez, ele percorre zonas de guerra no Oriente Médio. Algumas cenas são muito bonitas, outras horripilantes, mas o impacto final não é dos maiores. Talvez porque o assunto já foi muito explorado, e tenhamos criado uma casca contra ele.
O cinema da Romênia, um dos mais premiados do planeta, finalmente foi reconhecido pela Academia com "Colectiv", que está indicado em duas categorias: documentário e filme internacional. Consegui vê-lo neste domingo, numa exibição especial do festival É Tudo Verdade. O diretor Alexander Nanau parte do incêndio da boate Colectiv em Bucareste, um caso semelhante aos da boate Kiss, em Santa Maria, e da Cro-Magnon, em Buenos Aires: em todos eles, o show de uma banda foi encerrado com uma queima de fogos de artifício, uma ótima ideia para locais fechados. Mas o foco do filme está nas 37 mortes que aconteceram depois do fogo, entre pessoas internadas com queimaduras. Logo se descobriu que todas foram infectadas por bactérias, pois os hospitais públicos usavam desinfetante diluído em água por um mesmo fornecedor. O escândalo gerou protestos tão grandes que o governo caiu. Só que, nas eleições de um ano depois, o mesmíssimo partido voltou ao poder, com votação recorde. Deve ser horrível morar num país que não sabe escolher seus governantes.
O melhor dos três, de longe, é o bósnio "Quo Vadis, Aida?", o mais sério rival de "Druk - Mais Uma Rodada" na corrida pela estatueta. O filme de Jasmila Zbanic chegou ontem às plataformas brasileiras, para compra ou aluguel. Eu corri para ver, mesmo exausto depois de um dia puxado e sabendo que a barra seria pesada. O assunto é o massacre do campo de refugiados de Srebrenica, em 1995, quando soldados sérvios fuzilaram cerca de oito mil homens e meninos muçulmanos bósnios. A atriz Djasna Djuricic dá um show como a tradutora da ONU que tenta conseguir um salvo conduto para seu marido e seus dois filhos. Tenso do começo ao fim, sem sombra de barriga, "Quo Vadis, Aida?" é para os fortes de estômago. Também já é um dos grandes filmes deste ano.
segunda-feira, 19 de abril de 2021
ESSE CARA É ELE
Já malhei muito o Roberto Carlos aqui no blog, mas hoje eu quero pas//. O Rei faz 80 anos e quem ganha o presente é o Brasil. Já fiz coluna a respeito no F5 e agora solto este post em homenagem, respondendo a uma pergunta que uma amiga fez no Facebook: algum cover de uma música dele ficou melhor que o original? Melhor não sei, mas eu adoro essa interpretação dramática de Hebe Camargo para "Você Não Sabe", no especial "Elas Cantam Roberto Carlos" de 2009. Fora que as joias que a Hebe está usando devem valer mais do que o PIB do Suriname.
LEDA ENGANA
O Gabinete do Ódio costumar usar idiotas úteis para espalhar fake news. Na semana passada, o Edaír ligou para o senador Kajuru, sabendo que a ligação seria gravada e divulgada. Hoje a ex-jornalista Leda Nagle leu num vídeo um e-mail que denuncia um complô para assassinar o Despreparado, organizado por Lula e pelo STF. Nos dois casos, o tiro saiu pela culatra. O Bozo não conseguiu melar a CPI da pandemia, e Leda está sendo ridicularizada nas redes sociais. O que ela talvez não saiba é que há, sim, uma conspiração em andamento contra o Pandemito. Só que não é secreta, tanto que vou contar aqui alguns detalhes. Em 2022, nós vamos votar para apeá-lo do poder. Vai ser pelo voto, limpo e democrático.
CANNETTE
Ontem à noite, naquele vendaval de pensamentos aleatórios logo antes de dormir, um deles se destacou: será que "Annette", o musical do Sparks, vai passar no festival de Cannes? O universo ouviu minha pergunta, pois a resposta chegou logo de manhã. Depois de um ano na prateleira e quase uma década em produção, "Annette" será o filme de abertura de Cannes. O que quer dizer que não irá ganhar nada, porque o filme de abertura sempre sai de mãos vazias. Mas não faz mal. É uma posição de destaque, e a notícia já está repercutindo pelo mundo afora. Hoje também saiu o primeiro trailer, e eu fiquei agradavelmente surpreso. Não só Adam Driver está mais lindo do que nunca com cabelos longos, como o próprio Russell Mael, vocalista do Sparks, aparece cantando. Minha banda favorita ainda em atividade (e a segunda de todos os tempos), de quem eu sou fã desde os 13 anos de idade, finalmente aparece num projeto de altíssimo perfil. Agora posso morrer em paz (mas não vou, relaxa).
domingo, 18 de abril de 2021
REZA MAIS QUE TÁ FRACO
O Pastor José Olímpio, da Assembleia de Deus de Alagoas, tuitou que vai orar para que o "dono" do Paulo Gustavo "o leve para junto de si". Esse cristão de araque apagou logo a postagem, mas nada desaparece na internet. Agora ele será processado por homofobia, mas duvido que dê em alguma coisa. Os minions vão dizer que, se o Hélio Schwartsman pode torcer pela morte do Biroliro, então os falsos cristãos podem rezar para que todos os viados morram, e viva a liberdade de expessão, e ãin estão atacando a liberdade religiosa etc. etc. Meu ponto é outro. Desafio o Pastor José Olímpio e todos esses cristãos de meia-tigela a rezarem bastante para que Deus fulmine os gays, lésbicas, trans, travestis, não-binários, interssexuais, assexuais e todos mais que não se encaixem na heternormatividade. Mas rezem com força, porque nós ganhamos muitos direitos nos últimos anos e não vamos ficar calados esperando pela fúria divina. Rezem com vontade, porque nós estamos por toda parte - inclusive no governo federal, inclusive nas igrejas - e não paramos de nascer. De casais hétero, aliás. Rezem mais que tá fraco.
GREMLIN A BORDO
Sábado está virando nosso dia de ver filme desmiolado. Semana passada nos divertimos com "Esquadrão Trovão"; ontem foi a vez de "Uma Sombra na Nuvem", que ganha pontos extra por ser mesmo bom. Durante a Segunda Guerra Mundial, uma moça ligada à aeronáutica embarca na última hora em um voo militar da Nova Zelândia para a Samoa. Ela leva uma mala com conteúdo ultrassecreto, que precisa ser protegida a qualquer custo. Os seis homens a bordo tiram sarro e passam cantadas nela, que é relegada a um apertadíssimo compartimento na parte de baixo do avião - um periscópio ao contrário? Uns 30% do longa se passam nesse espaço apertado, com a câmera em close na ótima Chloë Grace Moretz enquanto ela ouve e reage às conversas na parte de cima. Aí, eles são atacados por três caças japoneses, mas não só. Um monstrinho horroroso aparece do nada, querendo devorar todo mundo, e ninguém acha estranho. Chamam até a criatura de gremlin, como se ela pertencesse a uma espécie catalogada. A ação se desloca para o lado de fora da aeronave e depois para dentro, com um momento de tirar o fôlego depois do outro. A neozelandesa de origem chinesa Roseanne Liang dá um show de câmera e roteiro, e daqui a pouco vai estar dirigindo longas da Marvel. "Uma Sombra na Nuvem" acentuou a saudade que eu sinto das salas de cinema. Ver esse absurdo ao lado de mais gente, rindo e gritando nas horas de susto, me fez muita falta.
sábado, 17 de abril de 2021
AS FRALDAS AINDA ESTÃO SUJAS
Quando a gente acha que o MBL talvez esteja amadurecendo e se tornando um partido responsável - de direita, sim, mas dentro do jogo democrático - eis que Kim Kataguiri, Arthur "Mamãe Falei" do Val e companhia bela provam que ainda fazem jus ao apelido de "fraldas sujas". A invasão de ontem a um hospital em Guarulhos pegou mal pra cacete, e agora os bebês chorões estão postando videozinhos jurando que era só uma "fiscalização surpresa" e que não fizeram mal a uma mosca. Só a si mesmos: atitudes como essa causam na lacrosfera, mas também demonstram que essa molecada ainda não saiu dos cueiros.
sexta-feira, 16 de abril de 2021
A MULHER ATÔMICA
Já estava mais do que na hora de surgir uma nova cinebiografia de Marie Curie, a primeira mulher a ganhar um Nobel e a primeira pessoa a ganhar o prêmio em duas categorias diferentes (física e química). "Radioactive", uma produção da Amazon que, no Brasil, misteriosamente foi parar na Netflix, extrai o máximo de drama possível de uma vida passada quase toda dentro de um laboratório. O filme de Marjane Satrapi, que criou a HQ "Persépolis" e depois dirigiu a animação do mesmo nome, não entra muito a fundo nos meandros do rádio e do polônio, os dois elementos descobertos pela Madame e seu marido Pierre. Mas explora as consequências positivas e negativas da radioatividade, que vão do tratamento contra o câncer à bomba atômica, em vinhetas que se intercalam ao longo da história da cientista. Marie é interpretada por Rosamund Pike como uma mulher durona, de pouco traquejo social e absolutamente devotada ao trabalho - mas que, depois da morte do marido, engata um caso bem público com o melhor amigo dele, casado, escandalizando a Paris do começo do século 20. "Radioactive", que não mereceu título em português, tem primorosa reconstituição de época e ótimas atuações (Anya Taylor-Joy, derrotada por Rosamund no último Globo de Ouro, faz Irène, a filha mais velha do casal). Não chega a ser empolgante, mas é uma aula de história e um lembrete de que a mulherada é capaz de qualquer coisa. Inclusive, de morrer pela ciência.
quinta-feira, 15 de abril de 2021
ASSANDO O MEIO AMBIENTE
É impossível dizer em qual área o desgoverno do Edaír é mais nocivo. Saúde, educação, relações exteriores, tudo escorre pelo ralo. Nesta semana o pódio é ocupado pelo meio ambiente, e olha que são mais de 3.000 mortos por dia pela Covid. O ministro Ricardo Salles não é só corrupto ou canalha. Também é incompetente, incapaz de perceber para onde o vento sopra. Na reunião de anteontem com os americanos, o imbecil mostrou a charge acima, incompreensível para quem vem de um país onde não existe frango de padaria. se compreendessem, talvez fosse pior: ela diz que o Brasil é chantagista e aproveitador, e que só protegerá a Amazônia se for regiamente bem pago. Hoje Salles conseguiu quefosse demitido o chefe da PF de Manaus que apreendeu uma carga monstruosa de madeira ilegal - justamente no dia em que o líder da familícia mandou uma carta a Joe Biden, prometendo acabar com o desmatamento ilegal. Essa turma não lê jornal e acha que todo mundo é tapado feito eles. Vão terminar todos empalados, assando em fogo lento.
O DETECTOR DE VERDADES
De vez em quando, uma celebridade baixa a guarda em público e deixa escapar o que realmente lhe vai pela cabeça, causando enorme prejuízo à própria carreira. Xuxa, por exemplo, vai levar um tempo para superar o episódio em que disse que novos remédios deveriam ser testados em prisioneiros. Ontem foi a vez de Pedro Bial. O jornalista se esqueceu que não estava numa mesa de bar e soltou, em pleno "Manhattan Connection", que só entrevistaria Lula com um detector de mentiras. Não demorou para que a internet lembrasse que Bial já entrevistou Olavo de Carvalho, Damares Alves e o general Heleninho com um sorriso nos lábios, evitando perguntas espinhosas e se fazendo de amiguinho. Lula é hoje a pessoa mais entrevistável do Brasil, porque cada fala dele abala um pouquinho a house of cards do Biroliro. O mínimo que Bial poderia fazer agora era convidar o ex-presidente para seu programa, e ainda tirar sarro de sua declaração infeliz. Se até o tio Rei já conseguiu, ele também consegue.
quarta-feira, 14 de abril de 2021
TAHAR NA CARA
Por favor, não me odeie, mas eu dei a volta ao mundo aos 17 anos de idade. Minha avó me levou com ela numa excursão em que quase só havia velhas. Em pouco mais de um mês, passamos por dez países. Cinco deles na Ásia: Indonésia, Tailândia, Nepal, Índia e Irã (antes dos aiatolás). Esta viagem de 1978 está me dando uma camada extra de prazer quando eu vejo "O Paraíso e a Serpente", que chegou à Netflix. A minissérie é baseada no caso real de um negociante de pedras preciosas franco-vietnamita, radicado em Bangkok na década de 1970. O cara drogava, roubava e matava mochileiros ocidentais que rodavam pela Ásia. As locações são sensacionais, e eu fico o tempo todo importunando meu marido: "olha o hotel em que eu fiquei! eu também fui a esse templo! comi nesse restaurante!". Claro que não os mesmos lugares onde eu estive, mas a sensação é deliciosa. O deleite é potencializado pela presença de Tahar Rahim, o ator francês de origem árabe que encarna o protagonista. Um assombro: além de bonito e carismático, ele consegue se metamorfosear. É difícil acreditar que o sujeito risonho da série "The Eddy" agora é um serial killer eurasiano que quase não ri. Tahar também acaba de ser indicado ao Globo de Ouro pelo filme "The Mauritanian", ainda inédito por aqui. Falando um inglês perfeito, ele ainda vai longe. Eu vejo um Oscar em seu futuro.
terça-feira, 13 de abril de 2021
O ÚLTIMO FIM-DE-SEMANA
Eu detesto quando dois filmes bem diferentes compartilham o mesmo título. Ainda mais se forem próximos no tempo, como é o caso dos "A Despedida". Um deles é o meu favorito do ano passado, e seu nome em português é a tradução fiel do original, "The Farewell". O outro chegou agora ao streaming, e seu título em inglês é mesmo difícil de traduzir: "Blackbird", uma canção. Mas "A Despedida" descreve a trama com precisão. A protagonista vivida por Susan Sarandon sofre de uma doença degenerativa, provavelmente ELA, cujos sintomas estão se agravando. Antes de perder os movimentos, ela prefere morrer, e a família inteira está de acordo. Esta discussão aconteceu antes do filme; quando ele começa, filhas e agregados já estão chegando à casa de praia da mãe, para um último fim de semana antes dela tomar uma overdose de fenobarbital. Kate Winslet, em particular, está marcante como a primogênita caretona. Mas claro que esses dias não sairão como o programado: conflitos incubados darão um jeito de eclodir, antes do fim inexorável. Essa objetividade diante da morte é típica dos povos nórdicos, e "A Despedida" não nega as origens: é o remake de um longa dinamarquês. Acho improvável alguém dar uma festinha dessas aqui no Brasil. Fiquei pensando no que eu faria: talvez até convidasse a família, mas não contaria nada para ninguém. É bom quando um filme suscita esse tipo de questionamento.
STRANGERS IN THE DAY
Deus abençoe os serviços de streaming. Graças a eles, hoje temos acesso a filmes e série do mundo inteiro. Também ficou muito mais fácil ver os indicados ao Oscar em categorias como melhor documentário e melhor curta-metragem, que raramente chegavam por aqui. Uma das boas novidades da Netflix esta semana é "Dois Estranhos". O curta ficcional de Trevon Free e Martin Desmond Roe é um dos favoritos à estatueta, e não poderia ser mais da hora. O roteiro se aproveita de um gimmick já manjado, o "dia da marmota", para passar uma mensagem óbvia e, no entanto, cada dia mais urgente: policiais, parem de matar negros. O protagonista é um rapaz que acorda várias vezes para a mesma situação. Ao sair da casa da namorada, ele atrai a atenção de um policial branco, que acaba matando-o sem razão. O cara tenta mudar o desfecho várias vezes, e não consegue. "Dois Estranhos" foi gravado depois da morte de George Floyd, e incorpora não só este crime à trama como dezenas de outros semelhantes, ocorridos nos últimos anos. É uma porrada, válida também para o Brasil. Se vencer, será um dos prêmios mais políticos da Academia na memória recente. E muito justo - sorry, Pedro Almodóvar.
segunda-feira, 12 de abril de 2021
KAJURU MALANDRO
O senador Jorge Kajuru assinou o requerimento ao STF que pedia a instalação da CPI co combate à pandemia. Portanto, ele é contra o Biroliro, certo? Mas Kajuru também foi super solícito no telefonema que teve com o Bozo no sábado - falou como um aliado do Edaír. Depois ele mesmo divulgou a ligação, provocando mais um desgaste do Pau Fino com o Supremo. Um ato digno de adversário. Hoje, Kajuru pediu o impeachment de Alexandre de Moraes, agindo de forma tão bolsomínia como o juiz Kássio Conká. Afinal, para que time joga o ex-comentarista de futebol? Kajuru tem uma carreira saplicada de polêmicas, e gente que costuma se envovler em escândalos não é boa de estratégia política. Aliás, o mesmo pode ser dito do Despreparado. Os dois estão fazendo um barulhão, mas quem vai sair arranhado desse imbróglio são eles.
RETALHOS TÃO PEQUENOS DE NÓS DOIS
Sashiko é uma técnica japonesa de remendos visíveis. Ela assume que a roupa foi rasgada, e a conserta de um jeito que dá para perceber à distância. O resultado não é a peça como ela saiu da loja, mas algo até mais bonito. Com história e profundamente seu. Minha amiga Marta Matui - que os leitores mais antigos deste blog hão de lembrar por seu ótimo blog, que ela escrevia lá se vão 10 anos - sempre teve muito jeito para qualquer tipo de trabalho manual, e aderiu com entusiasmo ao visible mending. Eu também aderi.
Mandei para ela um jeans, uma bermuda, um kimono e três calças molinhas de ficar em casa, que estavam a caminho do lixo. Nada era exatamente novo, mas todos tinham rasgões absurdos. Dei liberdade total para a Marta e agora tenho tudo de volta, mais interessantes do que antes e com mais alguns anos úteis pela frente. Ela aceita encomendas: é só contatá-la no Instagram pelo perfil @martamatuihandmade.
domingo, 11 de abril de 2021
AS SUPER-GORDAS
Deus sabe como andamos todos precisando de diversão desmiolada. Duas horinhas que sejam de bobagem em estado puro, sem a dona Lourdes acorrentada nem ninguém internado com Covid. Esta necessidade premente fez com que "Esquadrão Trovão" chegasse à Netflix com ares de bote salva-vidas. Uma comédia de ação com duas gordas encarnando super-heroínas? Sim, por favor, mesmo eu não sendo chegado a super-heróis. Mas gosto muito de Melissa McCarthy e Octavia Spencer, e ainda mais de Bobby Cannavale fazendo um político à la Trump. Apesar do filme ter problemas de ritmo, de roteiro e até de direção (planos abertos demais!), ri alto alguma vezes, principalmente com o homem-caranguejo encarnado com garbo por Jason Bateman. A premissa é complicada demais para explicar aqui, e nem mesmo o trailer dá uma noção de tudo que está em jogo. Mas nada disso importa quando há piadas envolvendo manteiga e salsinha.
sábado, 10 de abril de 2021
O CU-CU BRASILEIRO
Quero declarar todo o meu apoio à eventual candidatura de Danilo Gentili à presidência da República. Já tive três tretas públicas com ele e só o julgo mais preparado para o cargo do que uma única pessoa: o atual ocupante. Mesmo assim, vibrei com a ideia de que ele saia candidato em 2022, embalado pelo MBL. A razão é simples. Danilo pode estar para o Brasil assim como o humorista Slavi Trivonof está para a Bulgária. Famoso por lá por causa de sua marionete Sr. Cu-Cu, Trifonov chegou num surpreendente segundo lugar nas eleições parlamentares de domingo passado, atrapalhando os planos do proto-ditador Boiko Borisov de formar seu próximo governo. Ou, para usar um exemplo mais próximo: o apresentador do SBT pode desempenhar a mesma função de outro palhaço, Arthur "Mamãe Falei" do Val, que atraiu os votos da direita tchaptchura e tirou Celso Russomanno do segundo turno da eleição para prefeito de São Paulo. É verdade que não faltam exemplos de comediantes que se elegeram como piadas, como Bepe Grillo na Itália, Volodimir Zelensky na Ucrânia ou Donald Trump nos Estados Unidos. Mas duvido muito que Gentili chegue aos 10%, ainda mais num provável páreo contra Lula e um ou dois nomes fortes mais ao centro. O que importa é que ele desidrata o Biroliro. Já pensou? Um segundo turno sem o chefe da familícia?
sexta-feira, 9 de abril de 2021
O PRÍNCIPE COM SORTE
O príncipe Philip teve sorte. Com atendimento médico de ponta disponível 24 horas por dia, o marido da rainha Elizabeth 2a. morreu dois meses antes de completar um século de vida. Também teve uma vida mansa de casado, sem boletos para pagar. Mansa demais, dirão alguns: Philip Mountbatten não só teve que se recolher a um posto inferior ao de sua mulher, como ainda se submeter a uma agenda interminável de viagens e aparições públicas. Mas cumpriu com garbo todas as missões que recebeu. Gerou quatro herdeiros para a Casa de Windsor, ajudou a modernizar a monarquia e alimentou a imprensa com uma torrente interminável de gafes, algumas delas resvalando no racismo. Também não se envolveu em nenhum grande escândalo, o que não pode ser dito de quase ninguém da família real.
DR. MONSTRINHO
Ontem eu estava mais desanimado que o normal, com dificuldade para focar no trabalho. Aos números da pandemia e à incompetência desse desgoverno, somou-se uma tragédia a mais: a morte do menino Henry Borel, espancado pelo padrasto. Claro que já sabíamos que Dr. Jairinho era culpado desde que o crime aconteceu, um mês atrás (perdão por usar este nome respeitoso e fofo ao mesmo tempo, mas é assim que o monstro ficou conhecido). A polícia não enrolou para prendê-lo, como alguns reclamaram nas redes sociais. Fez, na verdade, uma investigação meticulosa, e chegou a provas irrefutáveis. A mais chocante é a conversa por WhatsApp entre a mãe de Henry e a babá. Mesmo sabendo que o garoto estava apanhando, Monique Medeiros não se abalou do shopping onde estava. Pior: não se afastou do namorado, e ainda ficou do lado de Jairinho depois dele ter matado Henry. O vereador Jairo Souza Santos Junior, que por ironia é médico, é mais um caso de infiltração do crime organizado na política carioca. O cara é nada menos do que o herdeiro de um chefão da milícia. Também é, evidentemente, apoiador de primeira hora de Edaír Biroliro - não admira que a ministra Damares Alves, que finge tanto defender as crianças, não tenha dado um pio sobre este caso. Agora tento não torcer que Jairinho seja esquartejado logo em seu primeiro dia na cadeia.
quinta-feira, 8 de abril de 2021
O BAILE DA ILHA LETAL
Sou tonto o suficiente para ter achado que o Biroliro ia levar uma dura no jantar com empresários de ontem, em São Paulo. Os primeiros relatos eram de que ele teria sido "ovacionado"; depois baixaram a bola, dizendo que os aplausos eram protocolares. Mesmo assim, João Doria foi muito criticado, talvez por ser responsável por 90% das vacinas aplicadas no Brasil. O rega-bofe teve comparecimento maior do que o esperado, mas também não é "o PIB brasileiro" que se falou por aí. Tampouco foi uma reconciliação depois da carta assinada por mais de 500 empresários na semana passada, pois muitos dos que lá estavam jamais criticaram o desgoverno. Mas, com tanta gente aglomerada e sem máscara, pode ter sido um evento superspreader, desses em que basta um infectado para contaminar dezenas de pessoas. É o que diz Natália Pasternak em sua coluna de hoje em O Globo, de onde eu roubei o título deste post. Tomara que fiquem todos doentes, antes de tentarem furar a fila com suas vacinas falsas compradas no mercado negro.
O GENITOR EM SEU LABIRINTO
"Meu Pai" é uma obra de arte. O francês Florian Zeller adaptou sua própria peça de teatro com a ajuda do inglês Christopher Hampton, e dirigiu o filme com uma segurança que não se espera de um estreante. Conseguiu captar o desespero do envelhecimento por dois ângulos diferentes, o do próprio velho e o de quem cuida do velho. Aqui não tem essa de melhor idade ou anos dourados: Anthony, o protagonista com o mesmo nome de seu intérprete, sofre de demência senil, e está perdendo a noção da realidade. É quase uma morte em vida. Aliviada pelo conforto material, sem dúvida, mas retratada sem firulas nem raios de esperança. Anthony Hopkins está fenomenal e merece todos os prêmios, mas até agora não levou nenhum. Vem perdendo para Chadwick Boseman, que morreu de verdade. Olivia Colman, com quem eu sempre implico por ter roubado o Oscar de Glenn Close, também está ótima, assim como todo o pequeno elenco. Preste atenção no cenário: não é por acaso que o filme também está indicado ao Oscar melhor design de produção. E quem tiver um idoso sob seus cuidados, como eu tenho (minha mãe mora comigo desde 2016), pode ir se preparando.
quarta-feira, 7 de abril de 2021
SOFÁGATE
Esta já é uma das imagens de 2021: Ursula van der Leyen, a presidente da Comissão Europeia, olhando de pé para Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, e Recep Erdogan, proto-ditador da Turquia, que se aboletam em poltronas. Não é nem questão da velha regra de cortesia, que manda um homem sempre ceder o seu lugar para uma mulher. Simplesmente não havia três assentos próximos para a reunião no palácio em Ankara. Não duvido nada que Erdogan, conhecido pelas posições machistas, tenha feito de propósito. Ursula acabou se acomodando num sofá, e seus colegas deveriam ter se mudado para lá também - mas nenhum deles mexeu um músculo. Acho admirável o sangue frio dela. Eu teria ido embora batendo a porta.
terça-feira, 6 de abril de 2021
OS ESCOMBROS DA MONARQUIA
Votei pela volta da monarquia no plebiscito de 1993. Na minha cabeça de então, o Brasil ficaria chiquérrimo com um cara bonito e esclarecido como o D. Joãozinho no trono. Hoje eu não faria mais isto, porque ser monarquista no Brasil virou sinônimo de obscurantismo e retrocesso. É uma galera ligada à TFP e à Opus Dei, que apoia o Biroliro e acha que deus vult todas as barbaridades que eles pregam. Essa cambada agora quer que o Museu Nacional, que pegou fogo em 2018, deixe a ciência pra lá e se transforme num monumento ao império. Só que esse monumento já existe: é o Museu Imperial de Petrópolis, que abriga nossas mixas joias da coroa. É verdade que o Palácio de São Cristóvão foi saqueado e violado pela nascente república, que quis apagar a memória da monarquia o mais rápido possível. Mas a coleção do Museu Nacional foi iniciada pelo próprio D. Pedro II, um amante das artes e da tecnologia. Se perguntassem a ele o que deveria ser feito com sua antiga residência carioca, não tenho dúvidas de qual seria a resposta.
CENSO E INSENSIBILIDADE
Não vai haver recenseamento este ano, assim como não houve no ano passado nem haverá enquanto Biroliro estiver no Planalto. Para quê, não é mesmo? O Minto não quer saber nada sobre o país que ele finge que governa, e tem raiva de quem sabe. Porque dados confiáveis pedem políticas realistas, não o delírio neofascista que emana da familícia. O censo pode apontar, por exemplo, que o número de evangélicos não está crescendo tão rápido como as igrejas propagam - a última pesquisa, de 2010, mostrou que a IURD perdeu um quarto de seus fiéis na primeira década deste século. Também pode revelar o verdadeiro número de casais homoafetivos do país (da última vez, eu fiz questão de declarar que sou casado com outro homem, para entrar nas estatísticas). Nada disso interessa ao Pau Fino, pois são aspectos da realidade. Ele prefere governar para seu gado, que está mais preocupado com fantasias como o comunismo ou a ideologia de gênero. O que me consola é que a próxima geração de minions será educada por homeschooling. Ninguém vai saber ler nem escrever.
segunda-feira, 5 de abril de 2021
ORGULHO E DESRESPEITO
Não se passa um ano sem que saia pelo menos uma nova adaptação para o cinema ou a TV de um livro de Jane Austen. A obra dessa inglesa morta há mais de 200 anos já inspirou até novela no Brasil, "Orgulho e Paixão", e ainda ganhou variantes com zumbis e mostros marinhos nos últimos anos. A fome por suas histórias é tão grande que nem "Sanditon", um volume que ela deixou inacabado, escapou. A minissérie do mesmo nome que acaba de chegar ao Globoplay queima todos os 11 capítulos originais logo no primeiro episódio. Dali em diante, o roteirista Andrew Davies, um dos mais importantes do Reino Unido, leva adiante a trama de uma maneira totalmente contemporânea. A heroína espevitada torna-se uma proto-feminista; uma rica herdeira birracial levanta a bola do preconceito; rapazes espadaúdos aparecem tomando banho de mar completamente nus. A Sanditon do título é uma cidade à beira-mar que um empresário meio irresponsável quer transformar num resort de luxo, para uma clientela aristocrática. É interessante ver a moderna indústria do turismo surgir no começo do século 19, mas a série está mais focada nas escapadas amorosas e maquinações desonestas dos personagens. Pena que "Sanditon" tenha dado o azar de estrear no Brasil depois de "Bridgerton", que deu uma bela chacoalhada no gênero de época. Perto desse fenômeno, o remix de Jane Austen não passa de um divertissement comportado e esquecível.
A VOZ EM CORES
Pedro Almodóvar não quer que seus filmes estreiem diretamente no streaming. Ele diz, com razão, que cinema é para ser visto na tela grande - mas também ignora que seguimos em pandemia, com muitas salas ainda fechadas pelo mundo afora. Seu mais recente trabalho, "A Voz Humana", estreia oficialmente no Brasil nesta segunda-feira, num festival no Rio de Janeiro. Mas algum gaiato disponibilizou o curta na íntegra no YouTube, na sexta passada. Quando eu descobri no domingo, corri para ver, antes que caísse - e agora já era. Caiu mesmo.
Baseado em um monólogo escrito por Jean Cocteau que Almodóvar já citou em alguns de seus longas, "A Voz Humana" também é a primeira incursão do diretor em língua inglesa - ou quase, pois há algumas falas em espanhol. Em cena, praticamente apenas Tilda Swinton e um cachorro, ambos perfeitos. A atriz exibe uma vulnerabilidade que eu nunca tinha visto, no papel de uma mulher que tem uma DR por telefone com ex que a abandonou. As cores berrantes são tipicamente almodovarianas, assim como a artificialidade assumida. A câmera não se furta em mostrar que o apartamento da protagonista é um cenário montado em estúdio. É um belo curta, de impacto estético e visual, e pode ser um aquecimento para Almodóvar se arriscar num longa em inglês. Mas é um abacaxi comercial. Como exibi-lo no cinema? Como atração principal, ou antes de outro filme? Quanto cobrar? É mais fácil liberar logo para o streaming, e bem mais democrático.
domingo, 4 de abril de 2021
LA REINE DES PUTES
Em francês, geralmente se usa a palavra "madame" seguida pelo sobrenome da senhora em questão. Se for pelo prenome, aí já viu: trata-se de uma puta. A mais famosa de todas, Madame Claude, autoproclamado "reine des putes", publicou um livro de memórias na década de 1970 que causou um certo escândalo, ao revelar os nomes de alguns dos clientes VIPs de seus bordéis de luxo em Paris. Sua história também rendeu um filme de Just Jaeckin, o mesmo diretor de "Emmanuelle". Mais de 40 anos depois, essa personagem icônica ressurge na Netflix, num longa que ganhou no Brasil o título desnecessário de "Os Segredos de Madame Claude." Dessa vez, a história é contada de um ponto de vista feminino, o da cineasta Sylvie Verheyde, e as cenas de sexo não são mais para excitar, mas para deixar claro que aquelas garotas estão em horário de trabalho. A trama deslancha muito bem, com a chegada de uma, digamos, estagiária ambiciosa, oriunda da aristocracia. A relação entre patroa e empregada é interessante, mas não é desenvolvida a contento. Aí, do meio para o final, o ritmo ralenta, e o final deixa várias pontas soltas. Mas deu para perceber o que a diretora quis contar. Claude soube triunfar dentro de um sistema machista jogando pelas regras deste mesmo sistema. Chegou a emprestar suas garotas para o serviço secreto francês, que as usava como iscas para prender e até matar desafetos. Só que este mesmo sistema a descartou, quando ela não se mostrou mais útil.
JESUS LHE CHAMA
Kássio Nunes Marques ainda não entendeu que, uma vez dentro do STF, ele não precisa mais puxar o saco do Biroliro. Agora ele só consegue tirá-o de lá se der o tão sonhado autogolpe. O que o caçula dos ministros fez ontem foi nada menos do que uma reles provocação: Kássio Conká decidiu sozinho acatar o pedido de uma vaga associação de igrejas evangélicas que chegou à corte no final do ano passado. Justo no Sábado de Aleluia, para não dar tempo do plenário refutá-lo. A decisão é injusta, mal-ajambrada e contrária ao consenso do próprio tribunal, e não deve ser obedecida. Faz muito bem Alexandre Kalil, o prefeito de Belo Horizonte, dizer que por lá igrejas e templos continuarão fechados neste domingo de Páscoa. Só espero que essa recusa não sirva de gatilho para a guerra pseudo-religiosa por que torce a familícia, com fiéis se engalfinhando com policiais pelo direito de se aglomerar e morrer de covid. Ninguém precisa disso para atender ao chamado de Jesus.
sábado, 3 de abril de 2021
AJUDA DOS UNIVERSITÁRIOS
Eu sinto MUITA alfição quando assisto ao "Show do Milhão". Cultivado como sou, muitas vezes eu sei a resposta certa, e aquela embromação do apresentador - "você tem certeza? esta é sua resposta final?" - me dá nos nervos. Mas este suspense é o segredo do sucesso do formato, que surgiu em 2001 no Reino Unido como "Who Wants to Be a Millionaire" e foi vendido para dezenas de países. O que eu nunca soube é que, logo no ano da estreia, o programa original passou por uma situação que até hoje não foi bem esclarecida. Um casal de participantes teria montado um esquema para colar as respostas certas, bem na frente das câmeras e do auditório. Este é o assunto da ótima minissérie "Quiz", que chegou no Globoplay. Mini mesmo: são só três episódios de uma hora, praticamente um longa-metragem. A direção é de Stephen Frears e o elenco tem um monte de caras conhecidas de outras séries, como o capachildo de "Sucession" ou a irmã da "Fleabag". E o roteiro esmerado deixa a gente na dúvida: afinal, houve fraude ou não houve? Nem com ajuda dos universitários a gente sabe a resposta.
sexta-feira, 2 de abril de 2021
ENFERMARIA BRASIL
Essa história da vacina falsa em Minas Gerais é puro suco de Brasil concentrado. Uma quadrilha de empresários espertalhões achou estava furando a fila gostosamente. Os nababos pagaram 600 reais por cada dose do que pensavam ser o imunizante da Pfizer. Reuniram-se num estacionamento a céu aberto, alheios aos vizinhos que filmaram tudo. No final descobriram que tomaram soro caseiro, ministrado por uma mulher que nem enfermeira é. Pena que a mesma internet que está rindo dessa patuscada também discuta a conveniência da iniciativa privada comprar vacinas para seus funcionário. Amigos e pessoas que eu admiro entraram nessa canoa furada. Talvez não saibam que o Brasil é o ÚNICO país do mundo onde rola esse debate. Nem nos Estados Unidos, que não têm sistema público de saúde, se fala nisso. O simples fato de muita gente boa considerar a questão é um sinal de como a ideologia colonial, escravagista, está entranhada na nossa psiquê. "Ãin, mas assim se dá um alívio ao SUS, com menos gente na fila". Não, bebê, não faz nem cosquinha. Mas cria-se uma ala VIP de vacinados, enquanto o populacho se espreme no transporte público e morre sem UTI nem oxigênio. E, se alguma das grandes farmacêuticas topar (por enquanto elas só vendem para governos), o preço das vacinas pode disparar. Mas não estamos nem aí. A desigualdade está impressa em 3D no DNA brasileiro. Achamos normal, achamos justo, tentamos racionalizar. É só por isto que ainda somos um país subdesenvolvido. Não é por falta de recursos naturais ou de investimentos. É por causa da nossa mentalidade mesmo.
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