Sigo firme em meu auto-imposto objetivo de assistir ao maior número possível de candidatos ao Oscar de melhor filme internacional. O curioso é que, dos 18 que eu vi até agora, só um foi na tela grande, e justamente o brasileiro - fui à sessão de gala de "Babenco" no Theatro Municipal de São Paulo, na Mostra de 2019. Todos os demais chegaram a mim via streaming. Foi o caso de "Jallikattu", o escolhido pela Índia, que está na Amazon Prime Video. Não se trata de um musical de Bollywood. A história parte de um acontecimento prosaico: um búfalo destinado ao abate foge de um açougue, trazendo o caos para uma aldeia no estado de Kerala, no sul do país. Peraí, indiano comendo carne bovina? Acontece que a comunidade é quase toda cristã, e tem até igreja e padre. Não tem é muita noção das coisas. O que seria uma simples captura logo se transforma numa caçada épica, com centenas de homens atrás do animal. Um embate contra a natureza indomável, e também uma lembrança do quanto ainda somos selvagens. Não é nada convencional, mas muito interessante. Inclusive porque os diálogos são no acelerado idioma malayalam, em que todo mundo parece sempre estar gritando.
"Filles de Joie" está em cartaz no My French Film Festival, que vai até dia 15/2 no Spcine Play, no Belas Artes à la Carte e no Supo Mungam Plus. Também pode ser alugado no YouTube, sob o título de "Donas da Alegria". Eita tradução ruinzinha: mais fiel seria "Moças de Vida Alegre", com ironia, porque as três portagonistas são prostitutas de vidas tristes. O indicado pela Bélgica tem um roteiro não-linear, com um mesmo acontecimento sendo retomado a partir de outro ponto de vista, e alterna momentos eletrizantes com outros em que não acontece absolutamente nada. Meu destaque vai para a atriz francesa Noémie Lvovsly, que faz uma puta veterana, casada e com filhos. Mesmo com qualidades, esse aqui vai passar batido pela Academia.
"Beginning" é o mais cabeça dos três e, por conseguinte, também o mais badalado. O longa de estreia de Dea Kolumbeshgavili deveria ter participado do Festival de Cannes de 2020, e ganhou vários outros prêmios desde então. É fácil entender por que: a diretora segue à risca a modinha do momento, com planos longos, câmera parada, diálogos esparsos e trilha sonora (do chileno Nicolas Jaar) só nos créditos finais. Não faz nada meu gênero, mas os enquadramentos são belíssimos e a trama, perturbadora. Um templo de Testemunhas de Jeová é incendiado por extremistas em uma pequena cidade. Enquanto o marido vai se aconselhar com os líderes da Igreja, sua mulher fica sozinha com o filho, e não demora para ser molestada sexualmente pelo policial que deveria investigar o caso. Há muito mais camadas debaixo disso, mas eu confesso que não tive paciência nem curiosidade para descascá-las. O candidato da Geórgia fica em cartaz no MUBI por mais um mês.