quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

MEUS FILMES DE 2020

As salas de cinema já eram uma espécie em extinção. O ano que ora finda talvez tenha sido o golpe de misericórdia. Mesmo que todas reabram num futuro próximo, duvido que voltem a encher. Algumas sobreviverão, assim como existe disco de vinil até hoje: um objeto cultuado e caro, para connaisseurs. A oferta abundante de títulos no streaming mudou o jogo. Só um dos meus 10 filmes do ano não foi visto no conforto de meu lar.

1917
E este filme foi justamente o épico inconsútil de Sam Mendes, uma experiência sensorial que precisa ser vivida na tela grande. A história (fictícia) dos dois soldados ingleses que precisam atravessar as linhas alemãs durante a Primeira Guerra Mundial para levar uma mensagem ao outro lado é contada quase que em tempo real, sem nenhum corte visível (mas com alguns furos no roteiro). Um tour de force técnico que por bem pouco - apenas um parasita - não levou o Oscar de melhor filme.

OS 7 DE CHICAGO
Aaron Sorkin é um roteirista consagrado, vencedor de um Oscar por "A Rede Social" e criador da série "The West Wing". Agora ele também quer ser reconhecido como diretor com este longa, que reconstitui o julgamento de sete ativistas de esquerda em 1968. O episódio foi, na verdade, uma cristalização dos embates que permeavam a sociedade americana de então. Os paralelos são óbvios com os dias atuais. Sacha Baron Cohen tem chances no Oscar de ator coadjuvante.

BORAT: FITA DE CINEMA SEGUINTE
Sacha também merecia ser lembrado pela Academia por esta segunda "fita" de sua criação magistral, o repórter aloprado do Cazaquistão. Mas quem periga levar uma indicação a atriz coadjuvante é Maria Bakalova, que faz sua filha - a moça é a versão búlgara da Tatá Werneck. Disponível na Amazon Prime Video, o filme tem o asqueroso Rudy Giuliani entre suas merecidas vítimas, e funciona como um réquiem avacalhado da presidência de Donald Trump. Sad!
CORPUS CHRISTI
Um bandido foge da prisão e chega a uma cidadezinha que acaba de perder seu padre. O cara não tem titubeia: ele se faz passar pelo substituto do falecido, e num instante suas missas pouco orotodoxas estão fazendo o maior sucesso. O cineasta polonês Jan Komasa conseguiu uma indicação ao Oscar de melhor filme internacional com este drama, e até merecia concorrer de novo este ano pelo ótimo "Rede do Ódio". Já me converti, e quero ver qualquer coisa que ele venha a dirigir.

CRIMES DE FAMÍLIA
Tive o privilégio de entrevistar a musa Cecilia Roth por telefone, em 2019. Este ano ela leva o meu prêmio de melhor interpretação feminina pelo papel de uma burguesa de Buenos Aires que descobre que o filho não é flor que se cheire. Um thriller de tribunal que toca em uma das grandes feridas abertas do mundo moderno: a maneira como as mulheres são (mal) tratadas. Não por acaso, o filme vem da Argentina, um país que acaba de descriminalizar o aborto. Está dando sopa na Netflix.

A DESPEDIDA
Só consegui ver em janeiro deste ano um dos filmes mais badalados do ano passado, e mesmo assim foi na telinha de uma poltrona de avião. Depois revi essa obra-prima no Telecine, e já estou pensando em encarar de novo. A diretora Lulu Wang diz que o roteiro é baseado numa "mentira real", que de fato aconteceu em sua família. Quando a avó foi desenganada pelos médicos, a família que mora nos EUA foi ã China se despedir dela, mas ninguém contou que ela estava doente. Para rir e chorar.

EUROVISION
Pois é, a pandemia não deixou ter Eurovision, mas o filme da Netflix não só matou minha fome pelo festival como conseguiu uma façanha dupla: entrou para a lista dos 10 melhores e ainda emplacou sua trilha sonora entre os meus álbuns do ano. Eu continuo com horror do Will Ferrell como ator, mas o aplaudo por ter criado e produzido a melhor comédia de 2020. O humor é grosseiro e a Islândia não merecia tamanho achincalhe, mas tudo é perdoado nesta pérola de cafonice.

MOSQUITO
A Mostra Internacional de Cinema de São Paulo conseguiu acontecer, mas em versão online. Vi bastante coisa, mas o que se destacou para mim foi este filme de guerra, uma espécie de "1917" português (inclusive a trama se passa nesse mesmo ano). O diretor João Nuno Pinto acompanha um jovem soldado luso por uma Moçambique inóspita, com uma câmera inventiva e uma incrível trilha sonora eletrônica. Se algum dia estrear nos cinemas brasileiros, faço questão de ver de novo.

SOUL
O mais novo prodígio da Pixar estreou apenas na plataforma Disney +, o que significa que será visto por relativamente pouca gente no Brasil. É uma pena, porque está no nível de "Divertida Mente", também dirigido por Peter Docter. Dessa vez o assunto-cabeça é uma meditação sobre o sentido da vida, embalada por jazz sofisticado - sim, é terrivelmente adulto. Para as crianças, há um gato abilolado e umas alminhas fofinhas, mas elas vão boiar no resto. Que se danem, têm a vida pela frente.

A VOZ SUPREMA DO BLUES
Sim, é teatro filmado. Mas é bom teatro, com um texto primoroso do dramaturgo August Wilson e as melhores atuações das carreiras de Viola Davis e Chadwick. Ambos serão indicados ao Oscar, e ele é barbada para levar. Também faturou o meu prêmio pessoal de melhor ator do ano, e olha que sua morte prematura em agosto não influiu na minha escolha. O filme também é uma aula de cultura negra americana, e me fez rever minha opinião negativa a respeito do blues.

E aqui termina a minha retrospectiva do ano. Chega de olhar para trás, por que daqui a pouco começa 2021 - também conhecido por 2020, segunda temporada.

10 comentários:

  1. E que a segunda temporada seja melhor que a primeira, senão vão acabar cancelando...

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  2. Assisti 1917 no cinema. Achei de um apuro técnico sensacional, mas por alguma razão eu achei o filme fraco. Praticamente não tem roteiro, e se resume a dois soldados correndo em uma fotografia maravilhosa . Bem abaixo de Band of Brothers ,O Resgate do Soldado Ryan, Platoon, só para citar algumas produções de guerra.

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    1. Concordo! O filme não tem nenhuma crítica social mas serve pra que se entenda que os Alemães eram fodasticos na guerra e que os ingleses e franceses tinham medo deles a segunda guerra afinal foi apenas uma continuação da primeira acho engraçado quando as pessoas culpam o Hitler que era um pateta, os alemães nunca deixaram de se preparar para a guerra a seguir inventando inclusive o míssil

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  3. Listinha fraca ! Cadê os outros filmes, vc assiste tanta coisa.

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  4. Sobre 1917: se eu gostasse de filme bem produzido porém ruim de história, seria fã da Marvel.

    Borat me decepcionou justamente com a cena mais emblemática (do Rudy Giuliani). Edição manipuladora. Se você prestar atenção à cena dele colocando a mão lá, pode ver que editaram o mesmo take se repetindo, mas sob ângulos diferentes. Isso deu a sensação que durou mais, que o Giuliani ficou mais tempo com a mão lá, quando na verdade pode ter sido um milésimo de segundo.

    E quando a filha do Borat chama o Giuliani para ir ao quarto para ficarem mais tranquilos, nota-se claramente que é um voice over. Ela pode ter dito “vamos lá tirar o microfone” e depois editaram outra fala por cima.

    Minha intenção nem era defender o giuliani, que segue sendo asqueroso, mas é que edição manipuladora não me desce. Me sinto subestimada.

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  5. Assisti ontem Gagarin first in space e gostei muito principalmente as cenas do voo, eu não sabia mas até hoje os russos detém a supremacia no espaço o único veículo que leva e traz cientistas para a estação espacial internacional é russo o Soyuz. Muito foda! Nos faz lembrar que estamos todos juntos nesse planeta pequeno e devíamos cuidar mais dele.

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  6. E Viola, Tony, tem chances de levar o Oscar? Caso vença, será somente a segunda atriz negra a vencer na categoria em atriz em papel principal.

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  7. Nenhum filme do Xvideos?

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  8. Como é ruim é esse BORAT 2, não chega aos pés do primeiro, um dos filmes que mais me fez rir na vida. Tremendo caça-níquel que apenas repete a fórmula do anterior, com o agravante de que não dá pra acreditar na espontaneidade de nenhuma reação das vítimas de suas pegadinhas, ao contrário do primeiro. Tá difícil.

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