As salas de cinema já eram uma espécie em extinção. O ano que ora finda talvez tenha sido o golpe de misericórdia. Mesmo que todas reabram num futuro próximo, duvido que voltem a encher. Algumas sobreviverão, assim como existe disco de vinil até hoje: um objeto cultuado e caro, para connaisseurs. A oferta abundante de títulos no streaming mudou o jogo. Só um dos meus 10 filmes do ano não foi visto no conforto de meu lar.
E este filme foi justamente o épico inconsútil de Sam Mendes, uma experiência sensorial que precisa ser vivida na tela grande. A história (fictícia) dos dois soldados ingleses que precisam atravessar as linhas alemãs durante a Primeira Guerra Mundial para levar uma mensagem ao outro lado é contada quase que em tempo real, sem nenhum corte visível (mas com alguns furos no roteiro). Um tour de force técnico que por bem pouco - apenas um parasita - não levou o Oscar de melhor filme.
Aaron Sorkin é um roteirista consagrado, vencedor de um Oscar por "A Rede Social" e criador da série "The West Wing". Agora ele também quer ser reconhecido como diretor com este longa, que reconstitui o julgamento de sete ativistas de esquerda em 1968. O episódio foi, na verdade, uma cristalização dos embates que permeavam a sociedade americana de então. Os paralelos são óbvios com os dias atuais. Sacha Baron Cohen tem chances no Oscar de ator coadjuvante.
Sacha também merecia ser lembrado pela Academia por esta segunda "fita" de sua criação magistral, o repórter aloprado do Cazaquistão. Mas quem periga levar uma indicação a atriz coadjuvante é Maria Bakalova, que faz sua filha - a moça é a versão búlgara da Tatá Werneck. Disponível na Amazon Prime Video, o filme tem o asqueroso Rudy Giuliani entre suas merecidas vítimas, e funciona como um réquiem avacalhado da presidência de Donald Trump. Sad!
Um bandido foge da prisão e chega a uma cidadezinha que acaba de perder seu padre. O cara não tem titubeia: ele se faz passar pelo substituto do falecido, e num instante suas missas pouco orotodoxas estão fazendo o maior sucesso. O cineasta polonês Jan Komasa conseguiu uma indicação ao Oscar de melhor filme internacional com este drama, e até merecia concorrer de novo este ano pelo ótimo "Rede do Ódio". Já me converti, e quero ver qualquer coisa que ele venha a dirigir.
Tive o privilégio de entrevistar a musa Cecilia Roth por telefone, em 2019. Este ano ela leva o meu prêmio de melhor interpretação feminina pelo papel de uma burguesa de Buenos Aires que descobre que o filho não é flor que se cheire. Um thriller de tribunal que toca em uma das grandes feridas abertas do mundo moderno: a maneira como as mulheres são (mal) tratadas. Não por acaso, o filme vem da Argentina, um país que acaba de descriminalizar o aborto. Está dando sopa na Netflix.
Só consegui ver em janeiro deste ano um dos filmes mais badalados do ano passado, e mesmo assim foi na telinha de uma poltrona de avião. Depois revi essa obra-prima no Telecine, e já estou pensando em encarar de novo. A diretora Lulu Wang diz que o roteiro é baseado numa "mentira real", que de fato aconteceu em sua família. Quando a avó foi desenganada pelos médicos, a família que mora nos EUA foi ã China se despedir dela, mas ninguém contou que ela estava doente. Para rir e chorar.
Pois é, a pandemia não deixou ter Eurovision, mas o filme da Netflix não só matou minha fome pelo festival como conseguiu uma façanha dupla: entrou para a lista dos 10 melhores e ainda emplacou sua trilha sonora entre os meus álbuns do ano. Eu continuo com horror do Will Ferrell como ator, mas o aplaudo por ter criado e produzido a melhor comédia de 2020. O humor é grosseiro e a Islândia não merecia tamanho achincalhe, mas tudo é perdoado nesta pérola de cafonice.
A Mostra Internacional de Cinema de São Paulo conseguiu acontecer, mas em versão online. Vi bastante coisa, mas o que se destacou para mim foi este filme de guerra, uma espécie de "1917" português (inclusive a trama se passa nesse mesmo ano). O diretor João Nuno Pinto acompanha um jovem soldado luso por uma Moçambique inóspita, com uma câmera inventiva e uma incrível trilha sonora eletrônica. Se algum dia estrear nos cinemas brasileiros, faço questão de ver de novo.
O mais novo prodígio da Pixar estreou apenas na plataforma Disney +, o que significa que será visto por relativamente pouca gente no Brasil. É uma pena, porque está no nível de "Divertida Mente", também dirigido por Peter Docter. Dessa vez o assunto-cabeça é uma meditação sobre o sentido da vida, embalada por jazz sofisticado - sim, é terrivelmente adulto. Para as crianças, há um gato abilolado e umas alminhas fofinhas, mas elas vão boiar no resto. Que se danem, têm a vida pela frente.
Sim, é teatro filmado. Mas é bom teatro, com um texto primoroso do dramaturgo August Wilson e as melhores atuações das carreiras de Viola Davis e Chadwick. Ambos serão indicados ao Oscar, e ele é barbada para levar. Também faturou o meu prêmio pessoal de melhor ator do ano, e olha que sua morte prematura em agosto não influiu na minha escolha. O filme também é uma aula de cultura negra americana, e me fez rever minha opinião negativa a respeito do blues.
E aqui termina a minha retrospectiva do ano. Chega de olhar para trás, por que daqui a pouco começa 2021 - também conhecido por 2020, segunda temporada.
E que a segunda temporada seja melhor que a primeira, senão vão acabar cancelando...
ResponderExcluirAssisti 1917 no cinema. Achei de um apuro técnico sensacional, mas por alguma razão eu achei o filme fraco. Praticamente não tem roteiro, e se resume a dois soldados correndo em uma fotografia maravilhosa . Bem abaixo de Band of Brothers ,O Resgate do Soldado Ryan, Platoon, só para citar algumas produções de guerra.
ResponderExcluirConcordo! O filme não tem nenhuma crítica social mas serve pra que se entenda que os Alemães eram fodasticos na guerra e que os ingleses e franceses tinham medo deles a segunda guerra afinal foi apenas uma continuação da primeira acho engraçado quando as pessoas culpam o Hitler que era um pateta, os alemães nunca deixaram de se preparar para a guerra a seguir inventando inclusive o míssil
ExcluirListinha fraca ! Cadê os outros filmes, vc assiste tanta coisa.
ResponderExcluirSobre 1917: se eu gostasse de filme bem produzido porém ruim de história, seria fã da Marvel.
ResponderExcluirBorat me decepcionou justamente com a cena mais emblemática (do Rudy Giuliani). Edição manipuladora. Se você prestar atenção à cena dele colocando a mão lá, pode ver que editaram o mesmo take se repetindo, mas sob ângulos diferentes. Isso deu a sensação que durou mais, que o Giuliani ficou mais tempo com a mão lá, quando na verdade pode ter sido um milésimo de segundo.
E quando a filha do Borat chama o Giuliani para ir ao quarto para ficarem mais tranquilos, nota-se claramente que é um voice over. Ela pode ter dito “vamos lá tirar o microfone” e depois editaram outra fala por cima.
Minha intenção nem era defender o giuliani, que segue sendo asqueroso, mas é que edição manipuladora não me desce. Me sinto subestimada.
Assisti ontem Gagarin first in space e gostei muito principalmente as cenas do voo, eu não sabia mas até hoje os russos detém a supremacia no espaço o único veículo que leva e traz cientistas para a estação espacial internacional é russo o Soyuz. Muito foda! Nos faz lembrar que estamos todos juntos nesse planeta pequeno e devíamos cuidar mais dele.
ResponderExcluirE Viola, Tony, tem chances de levar o Oscar? Caso vença, será somente a segunda atriz negra a vencer na categoria em atriz em papel principal.
ResponderExcluirAcho que a Viola é a favorita no momento.
ExcluirNenhum filme do Xvideos?
ResponderExcluirComo é ruim é esse BORAT 2, não chega aos pés do primeiro, um dos filmes que mais me fez rir na vida. Tremendo caça-níquel que apenas repete a fórmula do anterior, com o agravante de que não dá pra acreditar na espontaneidade de nenhuma reação das vítimas de suas pegadinhas, ao contrário do primeiro. Tá difícil.
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