sábado, 5 de dezembro de 2020

INÚTIL PAISAGEM

Em algum ponto remoto da China, centenas de anos atrás, uma garotinha faz travessuras. Ela persegue uma galinha por toda a casa comunitária onde vive sua família estendida: no chão, nos andares superiores, no telhado. Os parentes assistem de boca aberta enquanto ela escala colunas e telhas, e quase que começa a tocar "How Do You Solve a Problem Like Mulan?" na trilha sonora. Esse começo óbvio dá a senha do que vem a seguir: um amontoado de clichês, extraordinariamente bem executado e sem nenhum impacto emocional. A versão com atores em carne e osso do desenho animado "Mulan" deveria ter chegado aos cinemas em março, mas a pandemia provocou tantos adiamentos sucessivos que a Disney jogou a toalha e lançou o filme diretamente no streaming. Nos EUA, os assinantes do Disney + tiveram que pagar 30 dólares para poder assistir; aqui no Brasil, ele está incluído no preço da assinatura e é um dos chamarizes da plataforma. Só que essa aura de fruto proibido ofusca o fato de que o remake de "Mulan" é totalmente desnecessário. Talvez ficasse interessante se tivesse sido tratado como um autêntico wuxia, o gênero chinês de artes marciais que nos deu "O Tigre e o Dragão" e "O Clã das Adagas Voadoras". Mas a Disney não se atreveu a tanto. OK, ela fez um longa impróprio para menores de 10 anos (nos EUA, PG-13) e tornou Mulan a única de suas "princesas" (tecnicamente, ela nem é nobre) que já matou outros seres humanos. Mas não há uma única gota de sangue, nem nada que já não tenhamos visto setecentas vezes em filmes muito melhores. Tampouco existe mais o irritante dragãozinho Mu Fu, mas sua ausência é largamente compensada pela presença da deusa Gong Li, no papel de uma feiticeira. Já a protagonista Yufei Liu pode ser uma grande estrela lá na China, mas é uma atriz talhada em madeira e incapaz de transmitir o complexo interior de sua personagem. Sem músicas nem charme, o "Mulan" live-action tenta se redimir com belas paisagens e uma mensagem feminista bacaninha: garotas podem lutar. Mas será que elas devem mesmo lutar com os cabelos esvoaçando ao vento?

9 comentários:

  1. E o que fizeram a Dama e o Vagabundo então? E ao Rei Leão? Dá vontade de pedir à Disney que pare de manchar os seus memoráveis filmes

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  2. Assisti Mulan no cinema e virou um dos meus prediletos. Já tinha visto o trailer e não me arrisco a assistir pra não ficar puto. Rei Leão, Alladin, Dumbo, etc. são todos desnecessários. Gostei bastante de Cinderella, mas não acho que valha a pena refilmar os clássicos com atores. No máximo refazer algumas animações clássicas e olhe lá.

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    1. Da série: estragaram a minha infância.

      Mano, supera.

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  3. Além de vender brinquedo com o baby yoda, o streaming da Disney tem servido para mais alguma coisa?

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    1. Confesso que, além de rever os filmes da minha infância, estou gamado no National Geographic. Tem cada série e documentário fantástico. Como deixei de lado mesmo TV aberta, para mim, tem servido muito bem. Mas... É aquela coisa: tenho consciência de que minha assinatura durará no máximo uns dois meses. Eles não ofertam tantas opções como outros serviços de streaming.

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  4. Gong Li é maravilhosa mas só passa vexame em filme ocidental.

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    1. Passa nada. Ela está divina em “Memórias de uma Gueixa” e merecia ter sido indicada ao Oscar.

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  5. Adaptação live action boa mesmo só "101 Dálmatas", o resto é totalmente dispensável.

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    1. Até porque tinha minha amada Glenn Close como Cruella Cruel.

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