quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

DE PÉ, CINÉFILOS DA TERRA - 2

Nunca foi tão fácil ver os candidatos a uma indicação ao Oscar de melhor filme internacional. Pelo menos uma dezena deles já está disponível nas plataformas de streaming, e eu continuo vendo todos que posso. Um dos mais cotados ao prêmio é o espanhol "A Trincheira Infinita", que chegou há meses à Netflix. Só que eu não gostei muito, apesar do assunto ser interessante: logo depois da Guerra Civil Espanhola, um homem permanece três décadas escondido em casa, para não ser preso pela ditadura do Generalíssimo Franco (houve muitos casos assim). Mas o roteiro me pareceu ter alguns furos, e as duas horas e meia de duração parecem mesmo três décadas.
 
Outra decepção foi o documentário chileno "O Agente Secreto", que está no Globoplay. A premissa parecia irresistível: um senhor de 80 e tantos anos é internado num asilo, com o propósito oculto de fotografar o lugar por dentro e descobrir se os velhinhos são mesmo maltratados. O problema é ele mal sabe mexer num celular, quanto mais tirar fotos e enviá-las para a agência de detetives que o contratou. Só que, lá pela metade, tudo isso é esquecido, e o filme vira apenas um registro do dia-a-dia de uma casa de repouso. Como minha mãe idosa já mora comigo há alguns anos e tem dado cada vez mais trabalho, este longa não teve nada de saudável entretenimento escapista para mim.
Agora, uma boa surpresa foi "Happy Old Year", o representante da Tailândia, (Netflix). O filme tem pegada de indie americano e um ritmo lento, mas nunca chato. O roteiro foi inspirado pela Marie Kondo, que aliás é citada: uma moça resolve jogar fora toda a tralha acumulada na casa em que vive com a mãe e o irmão, para abrir espaço para seu home office. Acontece que muitos dos objetos a serem descartados trazem mais do que alegria. São presentes de amigos, joias e acessórios emprestados, roupas do ex-namorado. A garota decide então devolver tudo para os verdadeiros donos, e acaba remexendo num caso bem mal resolvido. Com trilha sonora estranha, silêncios constrangedores e figurinos minimalistas (a protagonista está sempre com a mesma roupa), "Happy Old Year" não deve ter muita chance com a Academia, mas trata de emoções reais com elegância.

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