sexta-feira, 31 de julho de 2020

REMEMBER MY NAME

Hoje morreu o diretor britânico Alan Parker. Confesso que eu meio que tinha me esquecido dele: seu último filme, "A Vida de David Gale", saiu em 2003, e eu nem me interessei em ver. Confesso que também sinto vergonha disso, porque, durante um bom tempo, Alan Parker fez o filme certo na hora certa - para mim, pelo menos. Eu estava me descobrindo gay quando saiu, em 1978, "O Expresso da Meia-Noite", a primeira vez em que eu vi dois homens se beijando na tela. Além da incrível história verídica, o longa ainda tinha uma trilha eletrônica de Giorgio Moroder, tão inovadora que levou o Oscar. Em 1980, Parker lançou outro título para a minha ilha deserta, "Fama". Muitos dos meus leitores só devem se lembrar da série de TV, ou do - brrrr - remake de alguns anos atrás. Procurem o original! "Fama" é o pai de "Glee" e similares, mas nunca foi superado.A história de um bando de garotos estudando na Juilliard, a famosa escola de Nova York para as performing arts, me pegou de um jeito que eu tive que comprar o VHS e furá-lo de tanto rever. Depois, Parker ainda fez "The Wall", que eu vi no primeiro dia que passei em Londres; "Coração Satânico", um filme de terror de luxo, com Mickey Rourke e Robert De Niro; "e "Evita", que obrigou Madonna a ter as aulas de canto que mudaram sua voz para sempre. Uma sensibilidade pop afiada, que merecia ter sido mais reconhecida. Inclusive por mim. Não esquecerei seu nome.

NINGUÉM ME CALA

O vídeo que Felipe Neto gravou para o New York Times foi uma pedrada nos birolistas. O maior influenciador do Brasil articulou para o mundo inteiro, num inglês perfeito, o que muitos comentam em voz baixa no Brasil: o Bozo é o pior presidente do mundo no combate ao coronavírus. Esse grito de "o rei está nu" redobrou os ataques ao rapaz, que já vem há tempos sofrendo uma intensa campanha de difamação. Ao invés de mostrar dados que provem que, sim, Edaír está fazendo um excelente trabalho contra a pandemia, os minions usaram o que julgam ser uma arma nuclear: acusar Felipe de pedofilia. A "prova" é um tuíte criado em Photoshop, que até sua tia do zap sabe que é falso. Ontem um futuro candidato a deputado levou um carro de som à frente do condomínio onde o vlogueiro mora no Rio, na tentativa de obter uma foto como aquela do brucutu rasgando uma placa de Marielle Franco, que o ajudou a se eleger. Esse sujeito também estava entre os que soltaram fogos contra o STF em junho. Ou seja: esse papo de #TodosContraFelipeNeto é cascata, pois são os mesmos gatos pingados e alguns robôs. Enquanto isso, Felipe segue impávido. E lúcido como nunca, como demonstrou ontem na live com o ministro Luís Roberto Barroso. O gado está certíssimo em ter medo dele.

quinta-feira, 30 de julho de 2020

TANTRUMP

Hoje o Bebê Laranja armou um berreiro - ou um tantrum, como se diz em inglês - para que as eleições de novembro sejam adiadas. Hmm, talvez por uns dois anos? Até a pandemia passar, a economia subir e o Biden morrer? Biden feio, bobo e mau, que bate o Bebê até em estados que votam há décadas nos republicanos. É bom lembrar que as eleições presidenciais americanas jamais foram adiadas ou canceladas, há mais de dois séculos. Acontecem a cada quatro anos, chova, faça sol ou haja guerra. O que há agora é apenas um presidente incompetente levando um pau nas pesquisas.  Trump não tem o menor poder de adiar o pleito, mas sua declaração é um teaser do que está por vir. Ele vai espernear, gritar que houve fraude e jogar o sujíssimo para não ter que sair da Casa Branca. Mas vai sair.

EMMA. EMMA. EMMA.

No final da década de 90, houve uma onda de filmes baseados em livros de Jane Austen. Um dos mais vistosos foi "Emma", de 1996, que deslanchou a carreira de Gwyneth Paltrow. Talvez a história se repita agora com a ótima Anya Taylor-Joy, que protagoniza a nova versão da história. "Emma." (com ponto final no título, como era o costume no começo do século 19) é o longa de estreia de uma diretora cujo nome caberia numa drag queen intelectualizada, Autumn de Wilde, e seu visual parece inspirado numa caixa de macarons. Tudo é rosinha, verdinho, azulzinho, e alguns enquadramentos são tão lindos que dão vontade, ao mesmo tempo, de comer e pendurar na parede. Além da própria Anya, brilham duas coadjuvantes: Mia Goth e Miranda Hart, aquela atriz grandalhona que quem viu a série "Call the Midwife" aprendeu a amar. Já a trama continua a mesma, leve feito algodão doce: Emma Woodhouse, "bonita, inteligente e rica" como diz o poster, acha que controla todo mundo à sua volta. Faz e desfaz casamentos, sem perceber seus próprios sentimentos.  Não é nada muito profundo, mas os gringos tratam Jane Austen como se fosse Machado de Assis - e o fato é que os romances da autora costumam render bom cinema. "Emma." é um dos primeiros filmes importantes do ano a estrear diretamente no sob demanda, e merece que o próximo Oscar lembre dele em várias categorias. Quer dizer, se houver Oscar.

quarta-feira, 29 de julho de 2020

DUZENTINHA

Já pensou? Você vai ao caixa eletrônico sacar uma grana, e vem uma nota de 200 reais. Ninguém tem troco, você não consegue passá-la adiante e acaba deixando-a em casa, com medo de perdê-la num eventual assalto. Esse trambolho pouco prático, anunciado para outubro pelo Banco Central, só deve ter uma finalidade: diminuir as malas com que os corruptos transportam o dim-dim que nos roubaram. Pelo menos o BC captou o zeitgeist e pôs um dos bichos da hora, o lobo-guará, para enfeitar a nova cédula. Mas não faltavam candidatos: podia ter sido o gado, a naja, a ema, o cachorro que mordeu o Guedes. Ou até, quem sabe, a cabeleireireleilaleileireila Leila.

BANANAS FOR TRUMP

Há um lado positivo no apoio explícito do Bananinha à reeleição de Donald Trump: quando o Bebê Laranja for, muito provavelmente, derrotado em novembro, a familícia Biroliro enfiará mais uma derrota no currículo. Só este. Todo o resto é um desastre, porque um político estrangeiro não deve emitir opinião sobre a eleição de outro país. O Zero-Três ainda é o presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, e quase foi o embaixador brasileiro nos Estados Unidos. Deveria saber o mínimo sobre diplomacia, mas sua cegueira ideológica e sua burrice não permitem. É verdade que a tradição de neutralidade do Brasil foi rompida por Lula e Dilma, que torceram alegremente por Kirchner, Maduro e outros candidatos da esquerda na América Latina. Mas nada se compara à capachice do desgoverno Edaír. Abrimos as pernas para os EUA, e não recebemos absolutamente nada em troca. Nem uma mísera bananinha.

terça-feira, 28 de julho de 2020

PANDEMMYS

O Emmy foi a primeira premiação importante do showbiz americano a divulgar indicações durante a pandemia. A lista saiu hoje, mas a a cerimônia marcada para 20 de setembro continua uma incógnita. Talvez vire uma live, olha só que chatice. Os concorrentes deste ano também parecem não refletir o que de fato andamos vendo na TV e no streaming - pelo menos aqui no Brasil, onde somos mais abertos para o mundo do que os americanos. Não há nenhum franco favorito nas principais categorias, mas eu apostaria em "Sucession" como melhor série dramática e "Maravilhosa Sra. Meisel" para série cômica. Dessa vez também falta um "Fleabag": uma novidade excitante que nos dê a sensação de viver no presente, e não num looping de anos anteriores. Lamento um pouco a ausência da Reese Witherspoon como atriz de drama, mas ela participou de nada menos que três programas diferentes, em diferentes canais, e deve ter espalhado seus votos. No mais, torço pela Bette Midler como atriz convidada em comédia, e talvez por "Nada Ortodoxa". Eu só estaria entusiasmado se meus queridinhos "Quase Feliz" e "Califado"  estivessem competindo, mas para eles existe o Emmy Internacional.

PAI CORAGEM

Cada vez mais eu admiro o Thammy Miranda. Ele não tem o menor medo de se expor, de mostrar sua linda família, de dar a cara para bater. E o povo bate: é apavorante a onda de ódio que se ergueu contra ele e a Natura, por causa da campanha da perfumaria para o Dia dos Pais. Ao lado de outros influenciadores, Thammy foi contratado para postar um vídeo com seu filho Bento no Instagram e usar a hashtag #MeuPaiPresente. As imagens são lindas e totalmente dentro do conceito publicitário. Mas uma parte do Brasil ainda não chegou sequer ao nível do Irã, onde os gays são enforcados mas os trans são aceitos. Porque eles, de certa forma, se adequam ao padrão heteronormativo: casam-se com alguém do gênero oposto e formam famílias-margarina, para conservador nenhum botar defeito. Só que o que temos por aqui não são conservadores: são boçais mesmo, em busca de alvos para despejar sua ignorância e seu ressentimento. Ainda bem que a Natura não está nem aí. Todo ano ela lança uma campanha polêmica, que suscita a ameaça de um boicote na internet. E aí, não acontece nada - a marca está cada vez mais rica, ela é poderosíssima. Thammy também segue impávido. Não fosse ele filho da Gretchen, a mulher mais forte do Brasil, que construiu uma carreira de quase meio século baseada em apenas três músicas que fizeram sucesso nos anos 70.

segunda-feira, 27 de julho de 2020

CLOROQUINA NA CABEÇA

Um jornalista especializado em política não pode aderir escancaradamente a quem quer que seja, sob o risco de dizimar a própria credibilidade. Mas Alexandre Garcia foi além: em sua estreia na CNN Brasil, ele mostrou que prefere acreditar na propaganda do governo do que na ciência. Das duas, uma: ou Garcia é burro, ou é desonesto. Incrível que um homem de sua idade, com sua experiência, ache que foi a cloroquina quem curou o Bozo, só porque o Bozo disse que tomou cloroquina enquanto teve Covid-19 (eu duvido até que o Despreparado esteve mesmo doente...). A lógica do comentarista é tão rala que dá para apostar na segunda hipótese. O ex-global hoje faz parte da máquina de desinformação birolista, e vai endossar qualquer narrativa que venha do Planalto. Um triste efeito colateral da cloroquina, que parece ter afetado o cérebro de Alexandre Garcia. Ele amarrou seu fim de carreira ao projeto suicida do Edaír, e irão afundar juntos.

DUPLA IDENTIDADE


Pelo trailer, "Estado Zero" prometia ser bacanérrima. Uma minissérie criada por Cate Blanchett, que ainda faz uma participação especial, sobre refugiados que tentam entrar na Austrália e acabam confinados em um campo de concentração. Tudo isso é verdade, mas o resultado final fica aquém do esperado. Porque há duas histórias bem diferentes sendo contadas ao mesmo tempo: o desespero dos asiáticos e africanos que fogem de seus países,  e o drama específico, inspirado num caso real, de uma cidadã australiana esquizofrênica que se passou por turista alemã e foi detida como imigrante ilegal. Este episódio levou a toda uma reformulação da política migratória da Austrália, mas o roteiro da série não consegue inseri-lo de forma orgânica. Mais interessante é a crise de consciência dos guardas e diretores do tal campo, obrigados a tratar mal um bando de pobres coitados que só quer uma vida melhor. Pelo menos os atores são ótimos, com destaque para a bela Yvonne Strahovski (a Serena de "The Handmaid's Tale", que eu não sabia que era aussie). Cate Blanchett, é óbvio, também está divina como a líder uma seita que prega a transformação pessoal através de coreografias dignas da Broadway, mas a personagem soa apenas como um pretexto para a estrela exibir seus dotes musicais. Com duas personalidades distintas, "Estado Zero" é tão perturbado quanto sua protagonista.

domingo, 26 de julho de 2020

E O TEMPO NÃO LEVOU

Olivia de Havilland é o novo normal. Eu também quero chegar aos 104 anos esbanjando saúde e, se possível, morrer tranquilamente em meu apartamento em Paris. Também quero ser fotografado aos 103 andando de bicicleta - até hoje não aprendi a andar, mas ainda dá tempo. O tempo, o mais belo deuses, manifesta-se em toda sua glória no vídeo acima, gravado durante a cerimônia de entrega do Oscar de 2003. A lendária atriz de "...E O Vento Levou", aos 86 anos, vem anunciar um quadro que a Academia gosta de fazer de vez em quando: reunir no palco o maior número possível de atores que já ganharam o prêmio. É lindo ver tantos deles juntos, de tantas épocas diferentes, e não deixa de ser bonito pensar que muitos já se foram. Mas não de todo: o cinema, a memória, a internet, tudo isso faz com que eles continuem por aqui. Neste sentido, o tempo não é imbatível, mas sua marcha inexorável é positiva. Porque ele nos obriga a querer melhorar.

sábado, 25 de julho de 2020

CALDEIRÃO DO RICKY


Talvez eu devesse escrever sobre os perfis de birolistas que o Alexandre de Moraes mandou cancelar no Twitter. Ou sobre a pesquisa da revista Veja, que mostra o Bozo vencendo qualquer um no segundo turno em 2022 - aos que entraram em pânico, um toque: até abril passado, o Trump também batia o Biden nas pesquisas. Mas hoje é sábado, eu estou exausto e bebi um pouco no almoço. Então só quero saber mesmo é do Ricky Martin, que deu uma entrevista ao Luciano Huck no "Caldeirão" de hoje. A porra da Globoplay não deixa a gente embedar seus vídeos, mas aqui está o link para quem quiser assistir na íntegra. Ricky está promovendo "Pausa", seu novo EP de músicas tranquilinhas (e promete "Play" para breve, com mais animação e talvez feats de Anitta e Pabllo Vittar). Mas o mais legal da conversa foi o boricua ressaltar a importância de ter saído do armário. Lá se vão 10 anos já, e sua carreira não só não sofreu o menor abalo, como eu diria que Rcky Martin cresceu de importância. Agora ele também é ativista político e teve um papel fundamental na derrubada do primeiro-ministro de Porto Rico exatamente um ano atrás. Além disso, está envelhecendo maravilhosamente bem: aos 48 anos, pai de quatro filhos e casado com um artista plástico, o ex-Menudo é um exemplo para as gueis. Inclusive as novinhas, não sabiam que ele é gay e nem que fala português.

sexta-feira, 24 de julho de 2020

CULTURA DO CANCELAMENTO

Hoje São Paulo perdeu seus três maiores eventos. A corrida da Fórmula 1, que lota hotéis e enche os cofres da cidade, foi cancelada. Os GPs dos Estados Unidos e do México tampouco irão acontecer: curiosamente, os três países são governados por populistas que se recusaram a enfrentar a crise. Os paulistanos também ficarão sem Parada LGBTetc., que já havia sido adiada de junho para novembro. E o carnaval de 2021 talvez só role em maio. Talvez. Enquanto a pandemia arrefece em boa parte do mundo, por aqui ela agora devasta estados que haviam sido poupados, como Minas Gerais ou Santa Catarina. É inacreditável que adultos em posse de suas faculdades ainda sejam infectados. Qual foi a parte de "use máscara e lave as mãos" que esse pessoal não entendeu? Se tivéssemos feito um lockdown radical no começo de abril, estaríamos mais tranquilos em agosto. Não estaremos. Enquanto militares incompetentes insistirem em ocupar cargos para os quais não foram preparados, enquanto derem apoio a um inepto que foi expulso de suas hostes, a tragédia continuará. Só o desalento não consegue ser cancelado.

quinta-feira, 23 de julho de 2020

KICIS KICIS, BYE BYE

De todos os deputados birolistas, a mais repugnante é Bia Kicis (DF), empatada com o asqueroso Daniel Silveira (RJ). Ele é o que rasgou a placa da Marielle; ela, apoia com entusiasmo qualquer barbaridade que venha de seu chefe. Mas o chefe não corresponde. Bia votou contra o Fundeb conforme ele havia mandado, mas Bozo mudou de ideia e fingiu que sempre apoiou o texto que acabaou aprovado.  Como prêmio, a lambe-botas foi destituída do cargo de vice-líder do governo. Já está claro um padrão: a familícia Bostonazi. Todos podem ser descartados, e serão. A única lealdade do clã é consigo mesmo.

O BEIJO DE MANUEL PUIG

Eu tinha uns 13 anos de idade quando descobri "The Buenos Aires Affair". Acho que não entendi metade do livro, mas adorei. Então li "Boquitas Pintadas" e me rendi a Manuel Puig. Lançado em 1969, este romance é moderno até hoje: conta a história de um triângulo amoroso no interior da Argentina nos anos 30, através de bilhetes, notícias de jornal e até uma radionovela. Posso dizer que eu já era puigmaníaco quando ele estourou mundialmente com "O Beijo da Mulher Aranha", que virou uma peça de teatro e um filme vencedor do Oscar. Depois ele ainda escreveu pelo menos outra obra-prima, "Pubis Angelical". Manuel Puig morou no Rio de Janeiro em meados da década de 1980, mas nunca cruzei com ele. Hoje faz 30 anos que morreu, aos 57, como bem lembrou minha amiga Sylvia Colombo em seu blog na Folha online. Fiquei com vontade de reler sua obra, até porque hoje em dia eu entendo espanhol muito melhor do que quando era adolescente (sempre teimei em ler no original). Também recomendo a quem ainda não o conhece. Toda bicha fina precisa ter Manuel Puig em seu currículo.

quarta-feira, 22 de julho de 2020

SERRA ABAIXO

Votei inúmeras vezes no PSDB. Nem por isto me considero tucano: jamais quis ser teleguiado por partido algum e tampouco tenho bandido de estimação. Por isto, não vou sair por aí defendendo José Serra, que foi pego pela Lava Jato no comando de um esquema difícil de desmentir. É um final lamentável para uma carreira importante na política brasileira: ainda acho que Serra foi o melhor ministro da Saúde que tivemos, pois quebrou a patente de vários remédios, possibilitou o lançamento dos genéricos e ainda criou o programa de distribuição gratuita de remédios contra o HIV. O ex-prefeito da cidade de São Paulo e ex-governador do estado nunca desistiu do sonho de ser presidente, mas foi derrotado fragorosamente duas vezes pelo PT. Andava sumido desde que renunciou ao ministério das Relações Exteriores de Temer, por causa de dores nas costas, mas seguia no Senado. Agora virou mais um prego no caixão do PSDB, um partido que só não foi enterrado de vez porque ainda existe o Doria. E o Eduardo Leite, o jovem e belo governador gaúcho, que parecia promissor até soltar no "Roda Viva" desta semana que não se arrepende de ter votado no Bozo.

A PRESIDÊNCIA SOBRE NADA

Quando Donald Trump anunciou em 2015 que iria se candidatar à presidência dos Estados Unidos, muita gente não levou a sério. Teve até veículo de imprensa que se recusou a escalar repórter de política para cobrir a aventura do Bebê Laranja, que era considerada mero entretenimento. Agora, quando a desastrosa presidência de Trump entra na reta final, podemos voltar a tratá-la pelo que de fato é: uma piada. Trágica, é claro, mas, mesmo assim, uma palhaçada. É o que faz o pessoal do Lincoln Project, o grupo de republicanos arrependidos que faz campanha por Joe Biden. No vídeo acima, a entrevista que o futuro ex-presidente deu à Fox News, recheada de mentiras, ganhou o que merece: uma laugh track.

terça-feira, 21 de julho de 2020

TE PERDOO POR TE TRAIR

Num domingo de 2005, o então deputado federal Roberto Jefferson telefonou para a redação da Folha de S. Paulo. Atendeu uma das jornalistas que estava de plantão: Renata Lo Prete. Alguns dias depois, o jornal publicou a primeira matéria sobre o esquema que o próprio Bob Jeff chamou de mensalão, e que quase derrubou o governo Lula. Detalhe: o próprio parlamentar participava do esquema. Tanto que, mais tarde, foi condenado e preso por corrupção. É esta flor de pessoa que está sendo recebida com fanfarra pelo birolistas radicais. Um sujeito que não só é chegado num dinheiro público, como também trai seus aliados. Mas a minionzada não tá nem aí: chafurdam no jorro de impropérios despejada pela boca fétida do novo aliado, totalmente cegos para o perigo que ele traz. Porque tá assim de gente que votou no Bozo e agora se arrepende, ao ver que o pior do Centrão se junta ao suposto mito. Bob Jeff é radioativo. Quem chega perto, morre.

A OPÇÃO EQUIVOCADA

Na semana passada, depois que o Leandro Narloch foi demitido da CNN Brasil por causa de seu comentário infeliz sobre a liberação do STF à doação de sangue por homens gays, acabei me envolvendo numa treta pública com ele no Twitter. Quer dizer, mais ou menos: ele respondeu a mim apenas uma vez, enquanto eu devo ter soltado uns 800 tuítes. Percebi que a expressão "opção sexual" é um gatilho para mim. No final da adolescência, na única fase da minha vida em que eu fiz psicanálise, achei que conseguiria mudar o que eu sentia. Deu no que deu.

Mesmo defenestrado e jurando não ser homofóbico, Narloch continuou insistindo no termo. Isto, quando a esmagadora maioria dos homossexuais garante que não escolheram nada quanto aos próprios desejos, assim como os héteros. É verdade que existem lésbicas que defendem que é uma opção, mas eu ainda estou por ver uma boa argumentação da parte delas. As que eu conheço, no fundo falam o mesmo que eu: a opção que existe é por um estilo de vida. É sair ou não sair do armário. Ninguém controla o próprio tesão. O que escolhemos é se damos vazão a ele ou não. A Igreja Católica e outras entidades religiosas acham que essa vazão é pecado, como se o ímpeto sexual fosse um instinto assassino, mas nem ela chega ao ponto de dizer que também é uma escolha. Mas outros o fazem, inclusive vários evangélicos. A crença na opção é a base para as infames clínicas de cura gay e outros tratamentos espúrios, que causam tanto sofrimento inútil. 

Mas Leandro Narloch, mesmo depois da demissão, mesmo depois da chuva de críticas que tomou, mesmo depois dos meus 800 tuítes que ele não deve nem ter lido, não se redimiu um milímetro. Ontem, em entrevista ao Pânico, posando de vítima da cultura do cancelamento, ele disse que usaria o dinheiro da rescisão com a CNN para erguer outdoors onde se lê "Opção Sexual" em frente às sedes de ONGs do movimento LGBT. Mais um sinal de que está ultrapassado: desde a prefeitura de Gilberto Kassab que não existem mais outdoors em São Paulo.

segunda-feira, 20 de julho de 2020

PASTOR OU IMPOSTOR


Não nutro maiores simpatias pela Polônia. Sei que é injusto desmerecer um país inteiro, ainda mais um onde eu nunca estive. E claro que não faltam poloneses sensacionais, de Frederic Chopin a Roman Polanski. Mas tem algo no estereótipo da Polônia que me desagrada: parece uma terra atrasada e preconceituosa, e a reeleição do neofascista Andrzej Duda à presidência não ajudou em nada a desfazer essa impressão. O clichê polonês cabe direitinho em "Corpus Christi", que foi indicado ao Oscar de melhor filme internacional e estreou ao Brasil diretamente no sob demanda. A cidadezinha onde se passa quase toda a história deve ter votado em massa no partido Lei  e Justiça. É lá que chega Daniel, recém-saído do reformatório. Por causa de um crime cometido na adolescência, ele não pôde entrar para o seminário. Mas isto não o impede de se fingir de padre. Quando o velho cura da vila precisa ir pro rehab por causa do alcoolismo, Daniel assume a paróquia e logo faz sucesso. Seu estilo rock'n'roll seduz os fiéis, e não demora para ele tentar remendar uma ferida aberta na pequena comunidade. Esse argumento talvez rendesse uma boa novela, e já rendeu um filmaço. "Corpus Christi" tem um roteiro vigoroso, o incrível Bartosz Bielenia como protagonista  e um trabalho primoroso do diretor Jan Komasa (a câmera na mão na cena final é de arrepiar). É água benta para os olhos e hóstia para a cabeça.

CORPUS CHRISTI

Dilma Rousseff saudou a mandioca, mas pelo menos a mandioca serve para alguma coisa. Ontem o Bozo fez seu gado saudar a cloroquina, que vem se provando ineficaz no tratamento da Coivd-19. Foi uma das manifestações mais irracionais deste desgoverno, e muita gente se lembrou do "Rei Leão". Mas o jornalista Filipe Domingues, especialista no Vaticano, matou a pau: Biroliro na verdade está emulando o momento da eucaristia na missa católica erguendo a caixa do remédio como se fosse uma hóstia consagrada. O corpo de Cristo. Um despautério, mas coerente com sua estratégia de se apresentar como um messias, fundador de um ramo deturpado do cristianismo: se alguém nos bate em uma das face, respondemos a bala. Resta saber quanta gente ainda acredita nessa palhaçada. Há tempos que se diz que o apoio ao Edaír estacionou na casa dos 30%, mas há indícios de que venha caindo. Até porque, nesse morticínio todo, quem mais morre são os minions, que não respeitam o distanciamento social e andam por aí sem máscara.

domingo, 19 de julho de 2020

O SOM AO REDOR

Trouxe meu laptop para o hospital, mas quem disse que eu consegui ver alguma série no streaming? Ontem eu estava tão cansado que só consegui fechar os olhos no escuro e ouvir música. O hit deste meu bizarro fim de semana é "Donne-Moi Ton Coeur", da francesa Louane. Ela foi semifinalista do "The Voice" de lá e ganhou um César de atriz revelação pelo filme "A Família Bélier", que passou no Brasil. Continua muito famosa na França, e vai ficar ainda mais com seu novo single e vídeo. Experimente o remix em 8D Audio, mas com fones de ouvido. Primeira vez que eu eu ouço uma boa utilização dessa tecnologia. Quase sempre, o que fazem é jogar o som de um lado para o outro, como se só isso bastasse.

sábado, 18 de julho de 2020

O COLO DO FÊMUR

Não costumo falar muito da minha vida pessoal aqui no blog, mas hoje não vai ter jeito. Até porque não tenho outro assunto. Estou há um dia e meio em função da minha mãe, que tem 84 anos e caiu no quarto domingo passado. Ela ia sentar na cama, errou a pontaria e deslizou para o chão. Não parecia grave, mas mamãe teve muita dor. Aí pintou o dilema: levo no pronto-socorro, um foco de coronavírus? Além de tudo, ela é diabética. Ou deixo quieta, na esperança de que a dor desapareça? Pois é. Não desapareceu. Ontem, finalmente uma geriatra foi lá em casa e, ao constatar que uma perna estava mais curta que a outra, nos recomendou levá-la imediatamente para tirar um raio X. Tivemos que chamar uma ambulância, e não deu outra: fratura no colo do fêmur. A única solução é uma cirurgia. Tremi na base. Uma operação, em plena pandemia? Quantos casos a gente já não conhece de idosos que foram internados para tratar de outra coisa e acabaram sucumbindo à Covid-19? Ainda bem que o hospital onde ela está tem rígidas regras de higiene e distanciamento. Todo mundo de máscara o tempo todo, e uma ala separada para o coronavírus. Mesmo assim, não consegui relaxar. Ela foi para a anestesia à uma hora da tarde de hoje, e só voltou para o quarto depois das cinco. Ufa: poderia ter ido direto para a UTI, ou sei lá o quê. Agora está acordada, falante e, bom sinal, reclamando de tudo. Amanhã, se Deus quiser, terá alta. Voltaremos para casa e este blog voltará à programação normal.

sexta-feira, 17 de julho de 2020

PAQUEROU ERRADO, MORREU

Homofóbicos em geral gostam de dizer que homofobia implica em violência física.Todo o resto, do bullying na escola à discriminação no mercado de trabalho, é mera questão de opinião. Aí, quando acontece a violência física pra valer, a culpa é da vítima. É o que alega um dos assassinos de Guilherme de Souza, morto a pauladas em uma cidade do interior da Bahia. O rapaz, de apenas 14 anos, disse que não gostava do jeito com que Guilherme "o paquerava". O outro sádico, de 16 anos, está foragido. Mas não precisa temer nada: se for pego, vai para o reformatório, ou nem isso. No Brasil de Biroliro, ai do gay que paquerar errado.

quinta-feira, 16 de julho de 2020

REPUBLICANOS CONTRA TRUMP

Tudo indica que o Bebê Laranja caminha célere para uma derrota humilhante em novembro. Eu sei, EU SEI que as pesquisas também apontavam a vitória de Hillary Clinton em 2016. Aliás, ela ganhou; só que no voto popular, e no arcaico sistema americano o que vale é o colégio eleitoral. Trump ganhou raspando em alguns estados-pêndulo, e é raro que um presidente consiga se reeleger aumentando sua votação nesses estados (uma exceção foi Ronald Reagan, em 1984). O apoio a Donald Trump vem minguando de maneira tão acintosa que já existe até um grupo de republicanos contra ele: é o Lincoln Project, que vem lançando um novo filme quase todo dia. Já dá para botar a champagne no gelo?

NA PAREDE DA MEMÓRIA

Este ano está sendo um strike na cultura brasileira. Não bastasse o desmantelamento do aparato cultural do Estado pelo desgoverno Biroliro, muitos nomes de peso estão nos deixando. Hoje foi a vez da fotógrafa Vania Toledo. A garotada talvez nem saiba quem foi, mas Vania registrou com suas lentes boa parte do agito brasileiros das décadas de 1960 a 1990. Sua obra que mais me marcou foi o livro "Homens", lançado em 1980 e hoje fora do prelo. Imagina só se uma ideia parecida seria viável nos dias de hoje: um monte de famosos tiraram a roupa, posando para imagens em preto-e-branco que combinavam erotismo e intimidade de maneira elegante. A lista incluía Caetano Veloso, Ney Matogrosso, Roberto de Carvalho e vários outros desinibidos. Causou espécie na época, mas não escândalo: já sopravam os ventos da abertura política, e o Brasil daquela reta final da ditadura militar era, em muitos aspectos, bem menos careta que o atual. Confira aqui mais trabalhos da Vania Toledo, e veja só que talento nós perdemos.

quarta-feira, 15 de julho de 2020

PALMITOS SELECIONADOS

Será que o Tiago Iorc fez de propósito? Será que, mesmo de maneira inconsciente, ele queria que o Brasil todo ficasse úmido? Já recebi três nudes do rapaz, e gostei mais do que de qualquer faixa do álbum "Reconstrução". Eu sou de uma geração pré-internet: acho que que quem manda nude quer mais é que vaze. Nada contra. O que é belo tem que ser apreciado. Mas já reparou que, toda vez que escapole a neca de algum famoso, é sempre um fe-nô-me-no? Ainda não vi ninguém passar vexame. 

FELIPE GRANDSON

E não é que o Felipe Neto fala inglês bem pacas? O rapaz esmerilha no vídeo acima, publicado hoje na versão online do New York Times. Pode-se não gostar dele por pecadilhos cometidos no passado, mas acho difícil negar que um dos maiores youtubers do Brasil está transcendendo seu propósito original e se tornado um influenciador também na política. Conseguirá ele influenciar os americanos a votarem no Biden? Acho que não vai precisar se esforçar muito.

terça-feira, 14 de julho de 2020

EM BURCA DO TEMPO PERDIDO


Osama bin Laden morou na Suécia quando era adolescente, e dizia que nunca atacaria o país porque ele não ameaçava o Islã. Os suecos discordam, tanto que fizeram uma série sobre um grande atentado em Estocolmo sendo preparado pelo Estado Islâmico. Esse ataque nunca ocorreu, mas tudo o que acontece em "Califado" é baseado em fatos reais. A ação se passa em 2015, o ano de maior extensão do EI no Oriente Médio. Tem um casal que se arrepende de ter migrado para Raqqa, a capital do EI, e agora não sabe como fugir dali. Tem meninas idiotas que aderem aos radicais como se estes fossem uma banda de k-pop. E tem delinquentes recém-convertidos que acham que vão para o paraíso logo depois de se detonarem. Todas essas tramas se entrelaçam numa única investigação, e o suspense é tão grande que às vezes eu tinha que dar pause para respirar. Levei alguns meses para encarar "Califado", e estou arrependido de não ter visto logo: é uma das melhores séries do ano. E me fez ter saudade dos bons tempos em que o grande problema da humanidade eram os terroristas.

A REVOLUÇÃO DOS BICHOS

Começou com o Augusto, o cão sequestrado pelos Biroliro duas semanas atrás. O totó já tinha dono e precisou ser devolvido. Mas claro que a primeira-família não aproveitou a deixa para adotar um cão de abrigo. Eles querem um de raça. Afinal, alguém tem que ter raça naquele palácio. Depois surgiu a naja, que acabou batizada de Naja mesmo. Naja do que foi será... A intrépida serpente já tem milhares de seguidores no Twitter e no Instagram, e parece disposta a liderar uma revolta zoológica contra a opressão. Sua primeira vítima já teve alta do hospital, mas sua mensagem está se espalhando mais do que veneno. E contaminou uma das emas do Alvorada, que o Pandemito achou que podia ser alimentada feito um patinho. Eu MORRIA de medo de ema quando pequeno. Não me aproximava de seu cercado no zoo de São Paulo, porque tinha certeza de que ela tentaria comer os meus olhos. Mas o Bozo não tem medo de nada, não é mesmo? Só de ir em cana com a família toda. Ema, ema, ema, cada um com seus filhos-problema.

segunda-feira, 13 de julho de 2020

OS SÓCIOS DO GENOCÍDIO

"O exército está se associando a um genocídio" disse Gilmar Mendes durante um debate promovido neste sábado pela revista IstoÉ. A fala do ministro do STF eriçou penas no governo e nas Forças Armadas, e gerou até uma representação do ministério da Defesa junto à PGR. Vão pedir "esclarecimentos" ao Gilmar. Se quiserem, podem vir pedir para mim também, porque eu assino embaixo. E já esclareço: as FFAA cometeram seu maior erro desde a redemocratização ao se imiscuírem no governo de um tenente que foi expulso por indisciplina (e que só virou capitão porque passou para a reserva). O atual presidente nem precisava ser corrupto para ser péssimo: é um total incapaz, despreparado para qualquer nível da administração pública. In-com-pe-ten-te. E não é só ele. Mais uma vez, pela milésima vez, os milicos também estão mostrando que não sabem governar. A interinidade do general Eduardo Pazzuelo no ministério da Saúde é um desastre de proporções bíblicas. Ele demitiu dezenas de técnicos com décadas de experiência e colocou no lugar deles seus colegas da caserna, todos chucros no assunto. O resultado é que caminhamos céleres para os 100 mil mortos pela covid-19. "Ãin, mas genocídio é uma palavra muito forte" - AMO quando a minionzada fica titi com termos do calibre que eles usam para desqualificar os "comunistas", i.e., o resto da humanidade. Pazuello está sendo pressionado a pedir baixa, justamente para não associar a imagem do Exército com a tragédia em curso. Só que agora é tarde. Se os milicos querem mesmo limpar sua própria barra, têm mais é que se dissociar do Biroliro. Ou derrubá-lo.

EEEOOO ERORERERERO

Hoje é o Dia Mundial do Rock, bebê. Só que não: a data só é comemorada no Brasil. Somos o único país que levou a sério a proposta de Phil Collins, feita em 13 de julho de 1985 durante o Live Aid - talvez o maior evento da música pop de todos os tempos, realizado simultaneamente em dois continentes. E não é que não tinha internet naquela época: por aqui, não tinha nem TV a cabo. Até hoje tenho inveja do meu irmão mais novo, que estava no estádio de Wembley, enquanto eu permaneci em São Paulo. Pelo menos a Globo mostrou uma compilação dos melhores momentos alguns dias depois. Entre esses momentos, claro, estava a performance mais emblemática entre as dezenas que aconteceram naquele sábado, em Londres e na Filadélfia. Os vinte minutos em que o Queen hipnotizou a multidão foram reproduzidos (e aperfeiçoados) tintim por tintim, eeeooo por eeeooo, no filme "Bohemian Rhapsody". Pras novinhas que não eram sequer o brilho nos olhos de seus pais naquele ano distante, taí em cima uma comparação entre o original e a cópia. Não é por outra razão que hoje, 35 anos depois, Freddie Mercury está nos trending topics do Twitter. Alright!

domingo, 12 de julho de 2020

COISA RUIM NÃO MORRE


A imortalidade é um tema recorrente na cultura popular, e ela sempre vem com efeitos colaterais. Porque não morrer nunca não quer dizer levar uma vida boa; a primeira consequência é perder os entes queridos, e de novo, e de novo. "The Old Guard", que acaba de chegar à Netflix, acrescenta um ingrediente perverso à receita: os cinco mercenários imortais de que trata o filme não só são vulneráveis, como sentem a dor de todos os tiros, flechadas e torturas diversas a que são submetidos. Morrem, mas suas feridas se fecham e eles voltam à vida em alguns segundos. Charlize Theron refina a personagem fodona em que vem se especializando nos últimos anos. Sua Andrômaca, a Cita (Andy para os íntimos) é uma presença imponente, cheia de autoridade e sex appeal. Entre os guerreiros há um casal gay que se conheceu durante as Cruzadas, lutando em lados opostos, e uma novata que não tem nem tempo de se despedir da família depois que se descobre imortal. As cenas de luta são assombrosas, mas não há exatamente um impacto emocional - é uma HQ filmada, um gênero que não prima pela complexidade. As locações no Marrocos também não disfarçam o fato de que o orçamento não era estratosférico, dado que uns 90% da ação acontecem em interiores. Mas "The Old Guard" também tem toda a pinta de que, não fosse a pandemia, poderia virar um blockbuster nas salas de cinema. Até que, nesse confinamento interminável, de vez em quando é bom ver um filme grandiloquente. Não aguento mais tanto documentário, tanto drama intimista e, muito menos, tanto diário da quarentena.

sábado, 11 de julho de 2020

O SUPER MERCADO DO AMOR


Eu sempre gostei do Walter Mercado. Agora estou perdidamente apaixonado. O documentário "Ligue Djá", que acaba de ser lançado na Netflix, mostra que ele era realmente uma pessoa do bem. E que fazia jus ao seu bordão em espanhol: mucho mucho amor, que também é o título original do filme. Já seu bordão brasileiro é mercenário mesmo, e faz jus ao seu sobrenome. Walter Mercado realizou o sonho de muita bicha: nasceu pobre, sofreu bullying, virou bailarino e ator e, meio que por acaso, enriqueceu como astrólogo. Seu segredo era simples: ele só dizia coisas boas. A partir de Porto Rico, virou um fenômeno em todas as Américas, e ganhou dinheiro suficiente para se cobrir de joias e mantos ricamente cravejados. O cabelo é um capítulo à parte: nem quando aparece curtinho consegue dar a Walter uma aparência máscula, por causa dos quilos de pancake, das centenas de cirurgias plásticas e, principalmente, da atitude viadérrima. Ele era desses que a gente percebe que é viado mesmo se estiver longe, de costas e atrás da coluna. "Ligue Djá" faz chorar de rir com as performances inacreditáveis de Walter em seus programas de TV, tem um pouco de drama nos tribunais e um final apoteótico, gravado logo antes da morte do vidente, em novembro de 2019. É uma história que tem tudo para, djá djá, virar um esplêndido musical da Broadway.

SOFIA DA PUTA

O filho da puta do Recep Erdoğan quer reconverter a basílica de Hagia Sophia em mesquita. A maior atração turística de Istambul nasceu como catedral cristã em 537, na altíssima Idade Média, e só virou ortodoxa depois do Cisma do Oriente, em 1054 (antes todo mundo era católico, com raríssimas exceções). Foi transformada em mesquita assim que os turcos otomanos conquistaram Constantinopla, em 1453, e por quase 500 anos foi um dos epicentros do Islã. Em 1931, a república turca queria secularizar o Estado e agradar ao Ocidente. O gigantesco prédio foi dessacralizado e, quatro anos depois, tornou-se um museu. Um símbolo poderoso das muitas fases daquela cidade gloriosa à entrada do Bósforo,  e aberto a todo mundo. Foi assim que eu o conheci: estive duas vezes em Istambul, e a visita à Ayasofia (como dizem os turcos) é de cair o queixo e outras partes do corpo. Imensa, meio tenebrosa, cheia de vestígios do passado. Como o grafitti deixado por um viking, em um dos andares superiores. Ou os mosaicos resplandecentes retratando diversos imperadores bizantinos. Ou as impressionantes pinturas de querubins, os anjos superiores, com suas asas que parecem cabeludas. Toda essa beleza pode sumir com a reconversão em mesquita. Porque o Islã radical proíbe a representação de qualquer coisa concreta - só arabescos abstratos são permitidos. A antiga catedral teve suas paredes internas recobertas de tinta, e muitas maravilhas só voltaram à luz na década de 1930. Agora podem sumir de novo, graças a essa manobra política do Erdoğan. Porque o proto-ditador da Turquia só está fazendo isso porque vem perdendo popularidade e voto. As prefeituras das maiores cidades já foram para a oposição, e o maná econômico que o sustentou no poder chegou ao fim. É isto o que os populistas autoritários fazem quando sentem a água subir. Tremo em pensar no que o Biroliro ainda pode aprontar por aqui.

sexta-feira, 10 de julho de 2020

OPTA AÍ PRA GENTE VER

Na terça passada, Leandro Narloch apareceu na tela da CNN Brasil para comentar a decisão do Supremo, que finalmente liberou a doração de sangue por homens gays. O autor do "Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil", uma obra execrada pelos historiadores sérios, soltou que a homossexualidade era uma "opção", e que homossexuais masculinos têm uma chance altíssima de serem portadores do HIV, talvez baseado em vozes em sua cabeça. A internet reagiu na hora e alguns colunistas escreveram sobre o assunto, como o Fefito e eu. Hoje Narloch foi demitido da emissora. Ele fez questão de frisar que não é nem nunca foi homofóbico, e só faltou mostrar o proverbial amigo gay. Mas em momento algum pediu desculpas, nem admitiu a própria ignorância. Pelo contrário. Em um dos tuítes tentando se explicar, Narloch disse o seguinte: "Alguns reclamaram do termo "opção" e não "orientação" sexual. Aí discordo. Acho que existem as duas coisas: gays e lésbicas que o são por orientação e outros que optaram. Mas não tenho certeza sobre isso, é uma boa discussão para o futuro." Típico mimimi de homem hétero, que mal esconde sua, sim, ho-mo-fo-bia. E se ele acha que é "uma boa discussão", eu sei de um jeito para acabar com ela a-go-ra. É só ele optar por ser gay e provar que a sexualidade, afinal, é só questão de escolha. Vem chupar meu pau, Narloch, e não se fala mais nisso.

JÁ COMEU MORROCOY?

Os 20 anos de chavismo na Venezuela produziram miséria, repressão e um caos social só comparável, nas Américas, ao do Haiti. Também produziram o belo romance de estreia da jornalista Karina Sainz Borgo: "Noite em Caracas" - ou, no original em espanhol, "La Hija de la Española". É este que eu estou terminando de ler, para desenferrujar minhas habilidades no idioma de Cervantes e matar as saudades do nosso vizinho do norte, para onde eu não vou há mais de 10 anos. A trama do livro é desoladora: Adelaida é uma mulher solteira que perde sua única companhia, a mãe, e ainda tem o apartamento onde moravam invadido por uma quadrilha de "revolucionárias". Na verdade, pouco mais do que bandidas, que roubam o que podem para revender e emporcalham o que não conseguem levar. A filha da espanhola do título é a vizinha de andar, que morre e deixa uma papelada pronta para tirar passaporte espanhol. A protagonista, então, se faz passar por ela, para fugir do país. Entremeada a essa narrativa há muitas memórias de infância, e uma delas me deixou encafifado. É a menção a um bicho saborosíssimo chamado morrocoy. As tias de Adelaida que moram na cidade litorânea de Ocumare costumavam criar morrocoys para comer, mas ela, quando criança, se apegava a eles. Teve até um especialmente querido chamado Pancho. Pensei: será um porco? A Venezuela tem palavras distintas do resto da América Latina para coisas corriqueiras. Parchita é maracujá, patilla é melancia, caraota é feijão e assim por diante. Qué carajo será um morrocoy? Aí a pequena Adelaida fica traumatizada quando ouve o pobre Pancho gritar enquanto é cozinhado vivo numa panela. Uma lagosta?? Ainda bem que existe o Google. Isto aqui é um morrocoy. Eca.

quinta-feira, 9 de julho de 2020

NÃO SE REPRIMA


Muito antes do k-pop, Porto Rico já adestrava garotinhos para se tornarem membros de boy bands e ídolos das garotinhas. O exemplo mais conhecido no Brasil desse fenômeno  foi o Menudo, mas existiram - e ainda existem - dezenas de popstars pré-fabricados cantando em espanhol. Claro que o custo humano era altíssimo, e é este o ponto de partida do filme chileno "Ninguém Sabe que Estou Aqui", disponível na Netflix. Quando adolescente, o protagonista - vivido pelo imenso Jorge Garcia, o Hurley da série "Lost" - emprestava a voz a um desses cantorzinhos de araque, que só entrava com o visual. No entanto, algo de grave aconteceu, o que fez com que ele saísse de cena e, 25 anos depois, viva às margens de um lago no sul do Chile, sem que ninguém saiba sua verdadeira identidade. O longa de estreia de Gaspar Antillo tem um ritmo lento e contemplativo até os 20 minutos finais, quando a ação se desloca para um estúdio de TV e a porca torce o rabo. Com enquadramentos elegantes, ótima edição e uma atuação contida de Garcia, não duvido nada que este seja o representante do Chile no próximo Oscar.

quarta-feira, 8 de julho de 2020

A FORÇA DE UM DESEJO

Desde a tarde de ontem, uma coluna do Hélio Schwartsman publicada pela Folha vem causando reboliço. Usando linguagem elegante e argumentos racionais, o articulista explica porque deseja que o Bozo morra. A lógica é simples: a morte do Biroliro evitaria milhares de outras. A inépcia e o mau-caratismo do presidente já custaram quase 70 mil vidas, e não há sinais de que o avanço da pandemia esteja sequer se estabilizando. Schwartsman ainda acrescentou um "nada pessoal",  algo de que eu não seria capaz - Edaír ameaça a minha própria existência, então minha pinimba com ele também resvala para o lado pessoal. Mesmo com tantos cuidados, a coluna provocou um tsunami de reações contrárias. As mais engraçadas, claro, vieram das hostes birolistas. É de foder de dar risada ver esses apologistas da violência, que se gabam de que até bebês no útero já fazem arminha com as mãos, de repente se melindrarem com um mero desejo de morte. O próprio Bostonazi desejou, repetidas vezes, a morte de Dilma, da petralhada, de FHC, dos gays e por aí afora. Tudo devidamente registrado. 

Mais surpreendente foi ver a reação negativa de vários jornalistas sérios. Alguns alegam que esse tipo de artigo não "constrói pontes", dificulta o diálogo e acaba servindo de munição para o adversário. Concordo em parte. Acho que não há a menor possibilidade de diálogo com os minions mais radicais. São eles que não estão interessados. Além do mais, suas ideias e seus preconceitos precisam ser combatidos sem dó e sem relativizações. Também transcende o ridículo a ameaça de André Mendonça, o ministro capachildo da Justiça, que quer investigar Schwartsman. Vai se ferrar no Supremo, óbvio. Não é crime desejar a morte de ninguém, nem expressar esse desejo. Não é contra a lei. O artigo tampouco incita ao crime. Desejar uma morte e matar não são a mesma coisa.

Aí é que as coisas ficam interessantes. O catolicismo está entranhado no DNA cultural brasileiro, ainda que cada vez menos brasileiros se declarem católicos. Para a Igreja, o simples ato de desejar que alguém morra já é um pecado gravíssimo. Também costumamos poupar os mortos e os doentes de qualquer crítica. Meio que para evitar sofrimento às famílias, meio que por medo de alguma retribuição cósmica. Porque acreditamos no poder do pensamento mágico, da torcida, do mau olhado. Isso talvez seja uma herança mourisca? O fato é que o brasileiro médio acredita em acreditar. A fé que move montanhas. A força de vontade. O pensamento positivo. Ou negativo, como no caso de Hélio Schwartsman. É quase como se ele tivesse aberto uma garrafa proibida, e um gênio maligno agora está solto por aí. Contaminando o debate público e desviando a atenção do que realmente importa: a gigantesca incompetência do Coronaro, os rolos criminosos de sua família e agregados, o desastre econômico, social e sanitário por que passa o Brasil. Ah, quer saber mais? Que morra.

terça-feira, 7 de julho de 2020

DE MAL A DIOR

Temos um presidente que parece ter mentido quando estava mesmo contaminado e que agora parece mentir que está quando, na verdade, não tem nada. Para fugir das mentiras do mundo real, nada como a fantasia do vídeo acima, que apresenta a coleção outono-inverno da maison Dior. A direção é do Matteo Garrone, a quem eu entrevistei no ano passado em Milão, e o visual é de cair o queixo. Tem referências à mitologia grega e aos contos de fadas, e também a um negócio chamado Théatre de la Mode que eu não sabia o que era - a tal da arca com modelitos, que foi usada no pós-Segunda Guerra como um mini-desfile portátil. Como agora também não rola uma fashion week, achei uma solução elegante.

CORONARO

Demorou, mas o novo coronavírus finalmente pegou o Pandemito. Saiu agora há pouco o resultado do teste: positivo. Por um lado, acho fabuloso que o nosso negacionista-mor tenha finalmente se infectado, depois de tanta aglomeração, tanto desprezo pela gripezinha, tanto veto à obrigatoriedade das máscaras. Mas duvido que ele passe por uma epifania como Boris Johnson, que afinou o discurso depois de ser internado. Por outro lado, também duvido que o Bozo esteja mesmo contaminado. Acho muito conveniente ficar dodói neste momento de popularidade em queda. Da outra vez, lhe foi muito favorável ser alvo de pena de parte da população. Além do mais, na semana que vem ele poderá dizer que foi a cloroquina que o salvou. Como canta La Lupe, me parece que es teatro.

segunda-feira, 6 de julho de 2020

NÃO HÁ REDENÇÃO

A incompetência da extrema-direita não se restringe ao Brasil. Neste fim de semana, Donald Trump veiculou o anúncio ao lado no Facebook, prometendo proteger o Cristo Redentor da esquerda radical que pretende derrubá-lo. A estátua não só corre risco nenhum, como está fora da jurisdição americana. Mas o diretor de arte do anúncio talvez não saiba. Aposto que ele só estava procurando uma imagem religiosa, sem nenhuma ligação ao passado escravocrata, e tentando insuflar o pânico entre os boçais que votam no Trump. Não há redenção para essa gentalha. No final, quem vai ser derrubado mesmo é o próprio Bebê Laranja - Biroliro não perde por esperar.

CIDADÃO, NÃO

Um amigo meu defende que a pandemia força a verdade a vir à tona. Casamentos que já iam mal terminam de vez, por causa do confinamento. Escolhas profissionais são reavaliadas. Alguns fazem um balanço geral da vida inteira. E tem gente se revelando escrota de raiz. O casal-símbolo do momento apareceu ontem à noite no Fantástico, com a mulher proferindo a já icônica frase "cidadão, não, engenheiro civil, formado, melhor do que você". Parabéns, roteirista do Brasil, você se superou mais uma vez. Os pombinhos já foram identificados nas redes sociais e - surpresaaa - são bolsomijons. Mas o maior culpado é o próprio país onde a gente vive, em que "cidadão" virou xingamento.

ATUALIZAÇÃO: Nívea del Maestro foi demitida da Taesa, a empresa em que trabalhava. Como diz o Sensacionalista, talvez seja a próxima ministra da Saúde.

domingo, 5 de julho de 2020

GOURMETIZEI A QUARENTENA

Meus rendimentos diminuíram com a pandemia, mas minhas despesas também. Há meses que eu não gasto um tostão com cinema, teatro, restaurante, Uber, metrô. Comprei dois livros e um par de Havaianas pela internet, e mais nada. Mas há um setor onde eu venho, digamos, investindo: a gastronomia. Sem ter muita diversão além da TV e do streaming, passei a comprar produtos de alta qualidade, comidas exóticas que eu nunca tinha provado e até a me arriscar na cozinha. Graças à Santa Rita Lobo, padroeira dos inexperientes, aprendi a fazer brigadeiro e cole slaw. E venho me especializando em pudins: a partir de uma receita de manjar branco, fui trocando o coco por laranja, pêssego, morango, framboesa e até caju (que não ficou bom...). Anteontem me deu a louca e resolvi ir ao Santa Luzia, o supermercado mais chique de São Paulo, só para dar uma flanada e comprar uns supérfluos. Não passei da porta. Em plena tarde de sexta-feira, duas longas filas se estendiam na entrada. Ainda bem que todo mundo estava de máscara e praticando o distanciamento, mas eu não encarei. Meu raio gourmetizador não chega a tanto. Ainda faltam uns meses para eu poder entrar na fila preferencial, mas até lá, quem sabe a quarentena já terminou?

sábado, 4 de julho de 2020

SMART CHOICE

Quando estive na Cidade do México em março passado, eu me espantei com a quantidade de academias Smart Fit que havia por lá. Só depois é que eu me inteirei de que a rede de Edgar Corona é a terceira maior do mundo e a maior fora dos Estados Unidos. Vai, Brasil! Nem tanto: eu tampouco sabia que Corona é um dos maiores apoiadores de Biroliro no meio empresarial. Pior: também foi um dos responsáveis pelo disparo ilegal de mensagens eleitorais por WhatsApp, algo que ele nega de pés juntos. A falcatrua pode sair cara. Parece que muitas gueis acordaram e estão cancelando suas matrículas na Smart Fit e na Bio Ritmo, que também pertence a Corona. Sábia escolha. Chega de dar dinheiro para quem nos oprime, bicharada! Li no Põe na Roda que, na fila que se formou ontem em frente a uma das unidades no Rio de Janeiro, muita gente queira cancelar em pessoa a matrícula, já que está difícil fazer isto online. Acho bem feito. E muito melhor do que simplesmente vandalizar o logo na fachada, como aconteceu em algumas filiais aqui em São Paulo. A do meu prédio chegou a retirar o logo - sim, tem uma Smart Fit no térreo do prédio onde eu moro. Ou tinha. Não foi só o logo que se foi: todos os equipamentos também. Parece que fechou. Ah, que peninha, mas eu já não ia mesmo.

sexta-feira, 3 de julho de 2020

MULHERES RICAS

Eu entrevistei Val Marchiori em 2012, quando ela começou a fazer sucesso na televisão. Tive a nítida sensação de que a moça encarna um personagem e que, na vida real, é só uns 50% daquela perua fútil com toques de crueldade. Mesmo assim, não merece ser levada a sério: é só diversão. Mas ninguém avisou isto para Bia Doria, primeira-dama de São Paulo, que recebeu Val no Palácio dos Bandeirantes. As duas gravaram um vídeo juntas e entraram em combustão espontânea. Uma reação química que viralizou na internet, sem o filtro de uma assessoria de imprensa competente ou mesmo do bom senso. Não é a primeira vez que Bia passa vexame: houve uma desastrosa entrevista à Folha assim que seu marido foi eleito prefeito, em 2016, e episódios menores que só confirmaram que ela precisa de supervisão. De um adulto na sala, em todos os momentos.

A VACINA CHEGOU E NÃO SABÍAMOS

A culpa não é só do Biroliro. Nem do Crivella, nem do Véio da Havan, nem dos negacionistas em geral. Nem é só do Alto Leblon. Há algo de muito errado no caráter do brasileiro, obcecado pelo próprio umbigo e incapaz de pensar no coletivo. Aglomerações como a que aconteceu na noite de ontem na rua Dias Ferreira, no Rio de Janeiro, vêm se repetindo por todo o país. O pior é que todo mundo sabe o que vai acontecer daqui a alguns dias: um novo pico de infecções, seguido por um novo pico de mortes duas semanas depois. Não adianta nada o Jornal Nacional detalhar os dramas pessoais. O sofrimento das vítimas, o desespero das famílias, o apelo dos médicos. O brasileiro não está nem aí. A quarentena já deu: queremos mais é tomar chope sem máscara na calçada, morra quem morrer. E fodam-se os funcionários obrigados a trabalhar, fodam-se os idosos que ficaram em casa, fodam-se os profissionais  de saúde. O Leblon já tem vacina? Não, mas tem DNA brasileiro.

quinta-feira, 2 de julho de 2020

MUDANÇA DE MARÉ

Tem algo curioso acontecendo. Cada vez mais pessoas - e até mesmo empresas - não estão mais olhando só para o próprio bolso. A preocupação social parece estar ficando raízes. A tendência é mundial, e se reflete no boicote que países europeus prometem fazer aos produtos agrícolas brasileiros que não cumprirem as regras de preservação do meio ambiente. Também ficou patente nos mais de 50 mil comentários negativos que iFood, Uber Eats e similares receberam ontem, por causa da greve dos entregadores. O consumidor prefere dar gorjetas mais altas, ou encontrar um meio para que boa parte de seu dinheiro não caia nas mãos desses atravessadores, que exploram os mais vulneráveis como nos tempos do capitalismo selvagem. Mas o gesto que pode ter os desdobramentos mais dramáticos é a saída de grandes anunciantes do Facebook. Mark Zuckerberg virou sinônimo de empresário inescrupuloso e não se emenda nem quando seus maiores clientes estão sofrendo as consequências da divisão que sua rede ajudou a aprofundar. Ele não é o único a remar contra a maré: está na ilustre companhia do Biroliro, que acha que é um bom negócio destruir a Amazônia para criar bois de carne invendável. Vão todos se afogar.

AMADOR A GUIAR

Mais do que o radicalismo, mais do que qualquer pauta reacionária, até mais do que o Gabinete do Ódio: o que realmente marca o desgoverno Biroliro é a incompetência, em todos os níveis. Edaír não sabe governar nem montar equipe. E ainda tem a arrogância típica dos imbecis, que acham que são mais espertos que todo mundo. O exemplo mais recente do amadorismo generalizado é o comercial lançado ontem pela Secom e rapidamente tirado do ar, depois que descobriram que as fotos que ilustram os "cidadãos comuns" com quem o Bozo conversa foram compradas em bancos de imagens. A desculpa oficial é que era só um teste, que não deveria ter sido divulgado - e só isto já comprovaria que os caras não são do ramo. Mas sabemos que não foi um deslize. Foi incompetência mesmo. Melhor assim, porque já pensou se o Pandemito fosse um gênio do mal?

quarta-feira, 1 de julho de 2020

ÚLTIMA TEMPORADA, FOCO

"O roteirista do Brasil é ruim" virou uma piada recorrente, tamanha a quantidade de absurdos que invadiu o nosso cotidiano. Mas ninguém traduziu esse clichê de forma tão brilhante quanto o Antonio Prata na crônica "Brasil, Sala de Roteiro", publicada pela Folha no domingo passado. O texto acabou inspirando uma websérie dirigida por ninguém menos que Fernando Meirelles, cujo primeiro episódio saiu hoje no YouTube. Tudo gravado remotamente, claro, mas pelo menos o assunto não é a pandemia - confesso que estou ficando enjoado de programas sobre gente confinada falando sobre as agruras do confinamento.