sexta-feira, 26 de junho de 2020

EUROFLIX

Quis a Deusa que, justo no primeiro ano em que não há Eurovision desde que o festival começou em 1956, um filme da Netflix viesse saciar a minha crise de abstinência. "Festival Eurovision da Canção: a Saga de Sigrit e Lars" é um delírio visual, um insulto auditivo e, talvez, a melhor comédia do ano. Finge que é uma sátira, mas, na verdade, é uma carta de amor ao evento mais cafona do universo. Só quem adora disco music sérvia, heavy metal bielorrusso, pop genérico cantado em húngaro e baladas românticas cipriotas vai fruir de cada piada infame, cada lantejoula azul, cada coreografia absurda com que o filme nos brinda. Os produtores sabem que seu público-alvo é formado por fãs hardcore do festival, e enfiaram um grandioso número musical do qual participam vários vencedores do Eurovision, como Loreen, Netta e Conchita Wurst. Até Salvador Sobral dá as caras, e sua divina "Amar pelos Dois" faz parte da trilha. Também há um monte de músicas inéditas, de nível bem mais alto do que as que concorrem na vida real. Uma delas, "Lion of Love", está aí embaixo, na voz do candidato russo interpretado por Dan Stevens. Não é que ele ficou a cara do Tarkan, o maior popstar da Turquia? Rachel McAdams também está ótima como a sonhadora Sigrit. metade da dupla Fire Saga que, por caminhos tortos, representa a Islândia no ESC. A outra metade, Lars, é feito por Will Ferrell, um ator desagradável que se especializou em personagens desagradáveis. Mas eu lhe serei eternamente grato: Ferrell não só coescreveu o roteiro, como lutou por 20 anos para realizar sua ideia de um filme sobre o Eurovision. Que a Deusa lhe conceda 12 pontos.

ATUALIZAÇÃO: No sábado de manhã, pintou no YouTube a melhor cena do Euroflix. É a sequência do Song-Along, que reúne os atores principais e vários concorrentes de edições passadas do festival. Quantos você consegue identificar, além da óbvia Conchita? Estou vendo e revendo esse clipe sem parar, e tive um insight. Olha só como o Eurovision é moderno e inclusivo: tem gente de todas as cores, filho de imigrante, não-binário, gorda, mulher barbada. E é uma meritocracia para valer, porque todo mundo canta pacas. Agora só falta os eurofãs imitarem a galera do k-pop e começarem a sabotar o sistema também.

Um comentário:

  1. OI TONY. Eu não vi esse filme ainda, mas por falar em música, estou esperando ansiosamente você falar/escrever do deliciosíssimo cantor CAIO, ou Caio Dias - gay assumido - e o adjetivo não é bom o suficiente para defini-lo...

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