segunda-feira, 4 de maio de 2020

TERRA DOS SONHOS


Muitos amigos meus estão babando por "Hollywood" nas redes sociais. Nos primeiros episódios, eu também babei. A nova minissérie de Ryan Murphy tem vários dos ingredientes que fizeram a fama do showrunner: glamour, alfinetadas, viadagem. Mas carece do veneno letal de "Feud: Bette vs. Joan", ou do vazio existencial de "The Assassination of Gianni Versace". Está mais para um episódio de "Glee", em que todo mundo canta junto no final feliz. Porque, em "Hollywood", Murphy dá uma de Tarantino, reescrevendo a história ao seu gosto. A trama começa com os dois pés na lama, tendo como um dos cenários o posto de gasolina onde os atendentes eram todos michês, que existiu na vida real. A senha usada pelos clientes também poderia ser um outro título para o programa: "dreamland", terra dos sonhos, em mais de um sentido. "Hollywood" também mostra a luta de jovens atrizes por um lugar ao sol e a de atrizes veteranas para continuar nele. As festas de Goerge Cukor com rapazes pelados na piscina de fato aconteciam, e o maléfico agente Henry Wilson (com quem Jim Parsons se parece) de fato transava com seus clientes. Mas, da metade para o fim, o que parecia uma trama deliciosamente sórdida vira um conto de fadas. Mulheres, negros e gays se unem e triunfam na Hollywood de 1948, de um jeito que nem em 2020 triunfaram. Só que Murphy não tem o cinismo de Tarantino: sua história alternativa é mais do que implausível, é bobinha. Isto não quer dizer que "Hollywood" seja ruim. A série não tem barriga, é uma festa para os olhos e todos os atores estão bem. Mas tive a sensação de que comecei a beber um cocktail fortíssimo, de onde o álcool evaporou. No final era só um refrigerante. Ainda gostoso, mas sem a menor capacidade de embriagar.

6 comentários:

  1. Tb achei muito chapa branca, sem o erotismo, o veneno e as surpresas que são tão comuns nos trabalhos de Ryan murphy.

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  2. Vou começar a ver, porque como vc Tony, meus amigos estão babando nesse seriado Hollywood, e o nosso amigo Miguel Barbieri também.
    OBS: Estou vendo que você ta arrasando na cozinha, virou um novo Edu Guedes, mas mais bonito. bjoooooo

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  3. Eu me odeio por achar isso, mas o fato é que Jim Parsons parece com Sheldon Cooper. As entonações são as mesmas. Do mesmo jeito que Sean Hayes não convence em nenhum outro papel.

    P.S.: quando Henry se aproxima da tela dá pra ver os fios de cabelo que rasparam pra caracterização. Tantos detalhes de fundo fantásticos e se passaram logo nisso?

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  4. Se todos seguissem o conselho do agente má e batessem uma punheta antes de sair de casa, o mundo seria mais seguro pras gays. Sad... but true.

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  5. Tony, só assisti agora e posso dizer que sua review é cirúrgica. N.

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