quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

QUASE FAMÍLIA


"Meio Irmão" é meio aparentado com "Sócrates", outro filme nacional de baixo orçamento feito por um diretor estreante. Ambos tratam de jovens abandonados, lidando com o florescer da sexualidade e com uma enorme carência de afeto e recursos. Também compartilham de uma certa secura de linguagem, que evita qualquer sinal de sentimentalismo. O longa de Eliane Coster é um pouco mais complexo. A personagem principal, Sandra, é uma menina da baixa classe média de um bairro da Zona Leste de São Paulo. Chatinha como toda adolescente, mas com boas razões para tanto: o pai não quer saber dela e a mãe nem aparece na história. Quando começa, ela já se mandou, fugindo de um agiota que quer cobrar uma dívida. Sem ninguém para cuidar dela e sem tostão no bolso, a menina só tem uma alternativa: procurar o meio irmão, que sua mãe branca teve com um homem negro. O rapaz tem seus próprios problemas. É, no mínimo, bissexual, e ainda gosta de filmar outras pessoas se agarrando, sem que elas percebam. "Meio Irmão" está mais para um estudo desses personagens do que uma trama bem urdida. O tom ultrarrealista é quebrado pela aparição de uma máscara de minotauro em dois momentos, uma simbologia obscura que só confunde o espectador. Mas, tirando esse detalhe, o filme é impressionante. Natália Molina e Diego Avelino encabeçam um elenco fenomenal de atores desconhecidos, e a segurança de Eliane Coster por trás da câmera sinaliza que está surgindo mais um nome forte para o cinema brasileiro.

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