domingo, 16 de fevereiro de 2020

COMO PODERÍAMOS TER VIVIDO

Aos 18 anos de idade, Anton Tchekhov escreveu uma peça que ficou sem final e sem título. O texto só foi descoberto 20 anos depois de sua morte, e costuma ser montado como "Platonov", o nome de um dos personagens. Muitos dos elementos que mais tarde seriam reconhecidos como tchekhovianos já estavam lá: a aristocracia decadente, a casa de campo, a paixão de um homem solteiro por uma mulher casada. Mas o que a Companhia Brasileira de Teatro faz em sua encenação, batizada "Por Que Não Vivemos?", nenhum russo pré-revolucionário previu. A peça estreou em SP esta semana, depois de rodar o Brasil. O primeiro ato, com quase duas horas de duração, é um happening. Tivemos a sorte de sentar na arquibancada montada sobre o palco, e praticamente fizemos parte da festa que rolou na nossa frente (com direito a vinho branco, cerveja e até dancinha no fim). O elenco sensacional tem Camila Pitanga como atriz convidada, e a entrega de todos é total. Se fosse só isso já estaria bom, mas tem mais.

O segundo ato parece um espetáculo diferente, concebido por outro diretor. Só que não: é o mesmo Marcio Abreu. Fomos sentar plateia, e essa hora final, escura e fria, com lindas projeções e efeitos de luz, faz um contraste brutal como o fuzuê que veio antes. Tudo isso faz com que "Por Que Não Vivemos?" seja denso, intenso e divertidíssimo em vários trechos. Outros são bem tristes, e a semelhança entre a Rússia do século 19 e o Brasil atual é uma das conclusões possíveis. Teatro sólido, feito com prazer e seriedade.  Ainda estou sob o impacto.

4 comentários:

  1. O Mio Babbimo Caro
    Tudo me leva à impressã de que já vi esse filme...aonde voltamos a depender do ťeatro para nossas manifestaçoes. O Chico falou o Chico avisou: OUTRA VEZ NÃO!!!!

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  2. Só não nos esqueçamos que, ao contrário da narrativa revolucionária, o que occorreu logo depois, na Rússia, foi o terror comunista, estopim do maior genocídio já visto.

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    1. PTistas não ligam pra isso. Eles tem dissociação cognitiva.

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