sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

PROFETA GENTILEZA


Mr. Rogers foi uma espécie de Xuxa americana, mas sem usar shortinho e sem maltratar as crianças. Seu programa infantil ficou no ar de 1968 a 2001, e é reprisado até hoje pela rede PBS. O cara era a gentileza em pessoa: falava baixo, sorria lento, ouvia todo mundo. Em 1998, o repórter Tom Junod escreveu um perfil de Mr. Rogers para a revista "Esquire". É neste artigo que é baseado o filme "Um Lindo Dia na Vizinhança", que rendeu a Tom Hanks uma indicação ao Oscar de ator coadjuvante. Sim, coadjuvante, porque não se trata de uma cinebiografia do apresentador: o real protagonista é Lloyd Vogel (feito pelo Matthew Rhys da série "The Americans"), uma versão ficcionalizada de Junod. Ele consegue resolver, graças a Mr. Rogers, o problema número um dos homens brancos nos EUA: a relação com o pai. "Um Lindo Dia..." é quase tão delicado quanto a interpretação de Tom Hanks, que consegue acentuar sua bondade natural sem nunca resvalar para a pieguice. Mas não é um filme muito excitante: tem coisa melhor por aí nessa temporada de prêmios.

LEBANESE BLOND


Sou chegado numa fusão, então era donné que eu iria gostar do som de Cyril Mokaiesh. Esse francês de 34 anos já faz carreira na música pop há um certo tempo, mas eu só o conheci há alguns dias. Seu álbum "Paris Beyrouth", como o próprio nome sugere, mistura a varieté moderna com influências do Líbano de seus ancestrais. É levinho de ouvir, mas a barra pesa quando a melancolia predomina. Ou seja, claramente eu.


MEIAS VERDADES, SEMPRE À MEIA LUZ

Eu detesto a música sertaneja e ainda mais o apoio, implícito ou nem tanto, que a maioria dessa turma presta ao Biroliro. Sei também que pedir o fim da meia entrada é mais impopular que atirar em gatinhos. Só que eles têm um ponto. A meia entrada, do jeito que é praticada no Brasil, é um acinte. Não, eu não sou contra que jovens e velhinhos e deficientes paguem menos por produtos culturais. Mas quem os financia? É óbvio: quem paga inteira. Isso inflaciona o preço de todos os ingressos - em alguns shows, o valor da inteira é absurdo, porque os organizadores sabem que quase todo mundo irá pagar meia. O mais grave é que a meia entrada costuma ser usada por políticos para agradar a um grupo específico. No Rio, era muito comum que os vereadores passassem leis do tipo "agora os enfermeiros pagam meia!", sem consultar nenhum artista ou empresário do ramo.É muito fácil fazer benesses com o dinheiro dos outros, né?

quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

FOR AULD LANG SYNE, MY JO

À meia-noite de amanhã, 31 de janeiro, o Reino Unido deixa a União Europeia. mas será para sempre? Os integrantes do Parlamento Europeu acham que não. Hoje eles se despediram de seus colegas britânicos da maneira mais elegante possível. Cantaram "Auld Lang Syne", a canção escocesa de despedida que, no Brasil, virou "Adeus, Amor, Eu Vou Partir". Só que a letra original não é um adeus definitivo: é um até breve. Quando essa onda de boçalidade que assola o mundo se dissipar, quando os jovens que não tinham idade para votar pelo Brexit forem ouvidos, quando a Escócia ameaçar cair fora, o R vai voltar para a UE. Deus vult.

BRODERAGEM TÓXICA

O desgoverno Biroliro seriam alguns tons menos horrível sem os zeros de um a três. Não fosse pelos filhos, o Bozo seria apenas um boçal despreparado boquirroto, inepto para a gestão pública e ignorante do funcionamento das instituições. Mas sua prole, hipnotizada por Steve Bannon e Olavo de Carvalho, investe contra inimigos imaginários e acha que a república é uma monarquia absolutista. Veja o caso do amigão do Dudu, Vicente Santini, exonerado por ter viajado de Davos a Delhi num avião da FAB e imediatamente recontratado. O sujeito já foi demitido novamente e o Vara-Curta está esperneando "fake news!" para seu gado, mas quem não é tapado já sacou faz tempo que a honestidade não é o forte da familícia (e o Onyx vai pagar o pato). O Zero-Dois também anda fazendo campanha pela permanência do palhaço do Weitraub, de longe o pior ministro da Educação que este país já teve. Só que a cruzada ideológica sempre se espatifa contra a realidade. Taí a garotada que não sabe se passou que não me deixa mentir.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

RAINHA DO GADO

Vou pagar minha língua. Apostei que Regina Duarte não aceitaria o convite para a Secretaria da Cultura, principalmente para não perder a mamata de ganhar da Globo sem trabalhar. Mas a atriz está adorando os holofotes, e deve ter concluído que a melhor maneira de prolongá-los seria entrar para o governo. Agora vamos vê-la sempre assim, esfuziante e com a reverenda Jane por trás. Na verdade, estou até aliviado: se Regina não aceitasse, sabe-se lá qual fanático despreparado o Bozo iria indicar no lugar dela. Também estou curioso para ver se ela se submete à ideologia nazista de seus colegas ou se em breve será fritada por pisar em algum dos muitos calos do Carluxo. A Namoradinha do Brasil noivou e casou; agora, ou dá, ou desce.

O TÚNEL NO FIM DA LUZ

Estou rindo muito desse plano dos EUA e de Israel para a paz no Oriente Médio, porque sei que ele não tem a menor chance de ser implantado. Estaria preocupado se fosse para valer, mas não é. Tanto Trump quanto Netanannahyunannael, como diz o Bozo, só estão de olho nas urnas de seus próprios países. Ou alguém acha mesmo que os palestinos aceitariam um estado com território "contíguo", com a Cisjordânia ligada a Gaza por um túnel? Bom, eu também tenho um plano bem louco para a região. Um país só, com todo mundo convivendo numa boa, com os mesmos direitos e deveres. Sou caso para internação.

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

TAVA TARDE, JÁ TÁ QUASE

Depois de um período de carestia, voltei a ouvir música portuguesa. Mas não estou mais só no fado revisionista, à la Madredeus ou António Zambujo. O que anda frequentando meus fones são uns weirdos lusitanos, que vão do Salvador Sobral - um intérprete de vanguarda, apesar da vitória no Eurovision - a rappers como ProfJam, do vídeo acima (aliás, só português de Portugal para me fazer gostar de rap). O gajo é bem doido: não só as referências visuais de "À Vontade" são indecifráveis, como ele ainda foi internado no final de 2019 por causa de uma overdose. E quem mais eu devo escutar daquelas plagas? Alguma sugestão?

CARA OU CORONA

O surto do novo coronovírus fez com que pessoas de repertório limitado lembrassem na hora da cantora brasileira Corona e seu único hit, "The Rhythm of the Night". Também topei com uma teoria da conspiração que eu ainda não conhecia: Corona teria apenas emprestado o visual, pois a voz seria de alguém muito mais feia do que ela. Fui checar na internê e não achei confirmação em nenhuma fonte confiável. Este tema gravíssimo está me distraindo, é claro, do que pode acontecer se o coronavírus desembarcar com tudo no Brasil. O governo Biroliro, que até agora não  descobriu a origem do petróleo que vazou no Nordeste, deixou milhares de velhinhos desesperados na fila do INSS e milhares de jovens sem saber se passaram no ENEM, vai conseguir evitar uma pandemia no país? Mas é claro que vai. Basta ninguém transar mais e fazer arminha com a mão. Que susto!

segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

DEPECHE MODI

Claro que eu acho ótimo que o Brasil estreite laços com a Índia. O mercado indiano é gigantesco: de uma população de mais de um bilhão de pessoas, uns 250 mihões têm bom poder aquisitivo, o que é mais do que o Brasil inteiro. Mas o primeiro-ministro Narendra Modi não é flor que se cheire. Para começar, ele é filiado ao mesmo partido fundamentalista hindu a que pertencia o assassino do Mahatma Gandhi. Também é um populista de direita, que elegeu os muçulmanos como inimigo número 1 da maioria hindu e vem aprovando uma série de leis que atentam contra a liberdade religiosa no país. O Bozo se identificou super e já virou BFF, mas Modi é um perigo para a estabilidade da região. Também é um sinal de alerta para os brasileiros: ao ser reeleito, o cara radicalizou nos ataques à democracia, como fizeram seus comparsas na Hungria e na Turquia. Pra variar, o aviso está dado.

BILLIE THE KID

Basta eu votar ou torcer por alguém para a pessoa perder feio. Nunca elejo meus candidatos a nada, e meus favoritos ao Oscar (olá, Glenn Close) costumam sair de mãos vazias. Por isto, ainda estou tentando entender o que aconteceu na noite passada. Minha queridinha Billie Eilish ganhou todos os seis Grammys a que concorria, inclusive melhor álbum, melhor gravação, melhor composição e revelação do ano Seu irmão Finneas O'Connell ainda levou outros dois, de melhor produtor e melhor engenharia de som. Ou seja: a família já conta com oito Grammys, sendo que Billie tem 18 anos e Finneas, 22. Acho os prêmios merecidíssimos, porque o som da dupla soa realmente como os dias de hoje. Claro que sempre paira a suspeita de que os Grammys continuam racistas, priorizando os artistas brancos, mas Billie Eilish (que eu escrevia Ellish, com dois L, até pouco tempo) é um caso excepcional. Com seu jeito de nerd e sua voz sussurrada, ela vai na contramão de canarinhos emplumados como Ariana Grande ou Demi Lovato, chatas de galocha sem ideias na cabeça. Billie também chama a atenção para uma praga moderna, a depressão, da qual sofre há anos. Mas ontem ela parecia bem contentinha. Afinal, conseguiu tudo o que queria.


domingo, 26 de janeiro de 2020

BLONDE AMBITION


Elas são lindas, ambiciosas, quase todas louras. Usam saltos altíssimos e muita maquiagem. E aceitam serem bolinadas de vez em quando, ou levantar a saia até a calcinha, se isto ajudá-las a subir na carreira. As apresentadoras da Fox News retratadas no filme "O Escândalo" são lacaias a serviço do patriarcado branco. Antifeministas que prejudicam seu próprio gênero, apesar de independentes e liberadas. Mas, quando se uniram ajudaram não só a demitir o Roger Ailes, como também a matá-lo - o sujeito asqueroso que forjou um dos pilares do neocon morreu pouco meses depois de perder o posto, algo que o longa de Jay Roach não conta. Também faltam nos créditos finais o destino de sua protagonista Megyn Kelly, encarnada com precisão cirúrgica por Charlize Theron. A moça compartilha de vários dos ideias de seu antigo canal. Depois de trocá-lo pela NBC, Kelly defendeu no ar que a blackface não era tão grave assim, e perdeu seu novo emprego. Está há mais de um ano sem contrato com nenhuma emissora, mas aproveitou o lançamento de "O Escândalo" para soltar um vídeo dizendo o que achou do filme. E o que eu achei? É bom, mas não é sensacional. É curioso a história ser contada a partir do ponto de vista de Megyn Kelly, quando a verdadeira protagonista é outra âncora da Fox News, Gretchen Carlson, que foi quem primeiro processou Roger Ailes por assédio sexual. Kelly só fica na dúvida se adere ou não. Mas também é um filme de atrizes, o que sempre conta pontos comigo. Só achei que Margot Robbie, por bem que esteja no papel da jovem evangélica que se descobre meio lésbica, não merecia a indicação ao Oscar de coadjuvante. Pelo menos, não mais do que Jennifer Lopez (eu não me conformo).

sábado, 25 de janeiro de 2020

RATO BRANCO DE METAL


Feliz ano novo! Hoje começa o ano lunar chinês, regido pelo rato branco de metal. O rato é o meu signo, então espero um ano cheio de metal branco em forma de moedas. Já a China em si não está tendo tanta sorte. O governo de lá acaba de proibir a venda de pacotes turísticos, para conter a expansão do novo coronavírus. A TV estatal também se meteu em uma treta, ao mostrar atores chineses de blackface em seu especial de ano novo. O pior é que havia atores negros disponíveis, falando chinês e tudo. Pior ainda é que um desses atores negros entrou em cena fantasiado de... macaco. O próprio esquete de que participavam é questionável: a China é saudada como a salvadora da pátria por países africanos, por construir neles grandes obras de infraestrutura e endividá-los para sempre. O especial completo, com quase quatro horas de duração, pode ser vista lá em cima. O esquete racista, seguido por um comercial de sabão em pó incrivelmente mais racista ainda, está logo abaixo.
ATUALIZAÇÃO: Um leitor me alertou que o episódio racista ocorreu na gala de 2018. Ou seja, old news. Eu, que costumo implicar com quem não repara na data das notícias, cometi um erro básico. O caso é chocante, claro, mas não é atual. Para me redimir, posto abaixo uma animação bonitinha preparada pelo mesmo South China Morning Post, um jornal em inglês de Hong Kong, de cujo canal no YouTube eu tirei o vídeo do racismo. 新年快乐 (xinnián kuàilè) para todos nós.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

NASCE OUTRA ESTRELA


"Wild Rose" estreou no Brasil no começo de outubro, mas eu nem liguei. Estava chegando de uma viagem a Los Angeles e prestes a mergulhar no turbilhão da Mostra de Cinema, e o filme não era dos mais badalados. Mas agora me senti compelido a vê-lo no avião, depois que a atriz Jessie Buckley foi indicada ao BAFTA de melhor atriz. A moça está por aí há tempos e participou até de "Chernobyl", mas eu só reparei nela em "Judy", onde ela faz uma funcionária de nighclub. Esse papel discreto não me preparou para o tour de force que ela dá em "As Loucuras de Rose", o título infeliz que este bom filme ganhou por aqui. Jessie faz uma doidivanas que sonha em ser cantora de country music. Depois de um ano em cana por causa de tráfico de heroína, ela tem que encarar os dois filhos pequenos que ficaram com a mãe e a dificuldade em assumir qualquer responsabilidade. Enquanto isto,  solta o vozeirão em bares e durante a faxina que faz na casa de uma família rica. E que voz: de dar inveja a Lady Gaga, com quem Jessie guarda uma certa semelhança (só que é mais bonita). Num ano mais fraco, ela teria sido indicada ao Oscar, mas é só questão de tempo. Rodado que sou, eu reconheço uma estrela de longe.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

RENOVAÇÃO DE INTERIORES

Em janeiro de 1971, quase 50 anos atrás, eu saí do Brasil pela primeira vez. Estava indo à Disneylândia, junto com minha mãe e algumas amigas dela com filhos na faixa dos 10 anos de idade. Mas nossa primeira parada foi Miami. E o primeiro hotel no exterior onde me hospedei na vida foi o Nautilus, na avenida Collins, em Miami Beach. Hoje passei por lá e me surpreendi   dele ainda existir, com o mesmo nome e a mesma aparência. Mas, por dentro, passou por um retrofit e virou um design hotel. Agora é tudo lindo e moderno. O mesmo aconteceu comigo. Eu também ainda existo, também mantenho a mesma aparência, mas estou com o interior totalmente renovado. 

JÁ COMEU TRES LECHES?

Tres leches é um bolo úmido muito popular em todas as margens do Caribe, da Flórida à Venezeula, que leva leite normal, leite condensado e creme de leite. Eu já havia comido durante meus périplos pela América Latina, mas nessa viagem a Miami tive uma revelação. Tres leches é a melhor coisa do mundo. Experimentei duas versões gourmet, e achei que tinha sido absolvido dos meus pecados. O troço é um exagero de cremosidade, e eu precisei me controlar para não devorar um inteiro. Claro que só de olhar engorda. Você mesmo já engordou, só de olhar para essa foto (que não faz jus aos que eu comi), mas foi por uma boa causa.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

ME IGUANA QUE EU GOSTO

Você acha que tem problemas? Aqui no sul da Flórida, a frente fria que derrubou a temperatura também está derrubando as iguanas das árvores. Como todo réptil, as bichinhas têm sangue frio, e ficam paralisadas quando os termômetros caem a 12.C, como na noite de ontem. Mas é só dar uma aquecida que o metabolismo das iguanas volta ou normal. Aquecendo mais, pode acrescentar batatas.

OPERAÇÃO VAZA-VALDO

Agora não passa uma semana sem que alguém do governo Biroliro - ou ligado a ele de alguma forma ataque - as bases da nossa democracia. Um desembargador carioca tenta reinstituir a censura com uma canetada; um secretário solta declarações nazistas e joga a culpa no diabo. O último alvo é Glenn Greenwald, numa quebra indisfarçável das garantias constitucionais. Só em países autoritários que jornalistas são culpados pelas notícias que divulgam. O mais chocante é ver babacas felizes com isto, só porque Verdevaldo mostrou que o Moro não é o herói que eles imaginavam. É por isto que eu defendo a volta de uma matéria chamada OSPB - Organização Social e Política Brasileira - ao currículo do 1o. grau. Essa turma não faz a menor ideia do que sejam instituições.

terça-feira, 21 de janeiro de 2020

BYE BYE NAI NAI


Consegui ver no avião para Miami um filme que estava há meses na minha lista: "The Farewell", uma comédia dramática que estava cotada ao Oscar e acabou não sendo indicada para nada. Pelo menos, a protagonista Awkwafina ganhou o Globo de Ouro de melhor atriz em filme cômico - mas nem isto animou os distribuidores a lançar o filme no Brasil. Talvez porque o elenco inteiro seja de origem asiática e 70% dos diálogos sejam em chinês? Ou porque o espectador médio só tenha espaço para um longa oriental por ano, e esta vaga foi preenchida por "Parasita". Uma pena: apesar da distância cultural, "The Farewell" conta uma história que toca fundo. O roteiro é baseado em uma prática comum na China: quando uma pessoa é desenganada pelos médicos, os parentes não contam a ela que tem pouco tempo para viver. Assim poupa-se mais sofrimento, acreditam. Mas isto vai contra a cabeça ocidental de Billi, criada nos EUA  mas ainda muito apegada à avó que ficou em Changchung. Ela viaja com os pais sob o pretexto de um casamento, mas estão todos indo ver a matriarca pela última vez - ou nai nai, como eles a chamam. Não dá para ser mais básico do que isso, mas a diretora Lulu Wang cria um filme sofisticado, com excelente uso de trilha sonora e uma edição que nunca resvala para a pieguice. Tomara que "The Farewell" chegue logo ao Brasil, via streaming ou mesmo download ilegal. Em casos como este, a pirataria está liberada.

MIAMI ICE

Buenos días desde Miami, la capital de Latinoamérica. Cheguei hoje de manhã e fico até quinta à noite. Vim cobrir o NATPE, uma feira de TV, a convite da Turner. São menos de três dias, mas não me importo: Miami não tem aquela oferta cultural de Nova York, então não fico na pilha de estar perdendo muita coisa. Talvez um mergulho no mar, mas o tempo não está ajudando. Hoje a mínima vai ser de 16 graus, podendo cair a 13 de noite. Culpa da Greta e do Leonardo, claro.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

NOT TODAY, SATAN

Ainda não cheguei a uma conclusão quanto ao Roberto Alvim. Trata-se de um nazista de verdade? Um reles aproveitador? Um desequilibrado mental? Mas não tenho dúvidas de que ele sabia exatamente que a frase, a encenação, a música, tudo remetia ao 3o Reich. Será que ele achou que ninguém ia perceber? A extrema direita passou o fim de semana suspeitando de que os malvados  assessores esquerdistas de Alvim teriam armado uma arapuca para ele. Também duvidaram que um jornalista brasileiro teria a capacidade de idetificar as palavras de Goebbels - logo, foi algum jornalista que plantou elas lá e depois deu o alarme. Hoje Alvim livrou a cara de sua equipe e admitiu que foi ele quem escolheu tudo. Mas deu um jeito de jogar a culpa, veja só, em Satanás. Não duvido nada, mas acho que o demo entrou faz tempo nessa história. No momento em que o agora ex-Secretário da Cultura jogou no lixo sua reputação e passou a bajular Biroliro, este sim o verdadeiro Filho das Trevas. Dava uma bela ópera.

VIDAS PARTIDAS


Sempre fui contra a Partição da Índia: a divisão em 1947 da antiga colônia britânica em duas nações, Índia e Paquistão, que se tornaram inimigas desde o primeiro minuto. Com imensa maioria muçulmana, o Paquistão virou um país conturbado que serve de abrigo para terroristas. A Índia, onde os hindus são maioria mas que ainda tem 200 milhões de muçulmanos, se deu melhor, mas o atual primeiro-ministro Modi está tentando transformar o país em um estado autoritário, de forte teor religioso. Como ainda sou ingênuo, prefiro acreditar que a Índia seria rica e poderosa se não tivesse se fragmentado. "O Último Vice-Rei", filme britânico que acaba de chegar à Netflix, levanta uma hipótese polêmica: Churchill quis criar o Paquistão para afastar as fronteiras indianas da então União Soviética. Os historiadores dizem que não há documentos que comprovem a teoria, mas isso não diminui o interesse do filme da diretora Gurinder Chadha. Mas Lord Mountbatten, o tal do vice-rei encarregado de supervisionar o processo de independência, não se parece nada com o ator Hugh Bonneville ("Downton Abbey"). E o roteiro ainda encaixa uma história de amor meio forçada, para ficar menos árido e mostrar o efeito danoso da Partição na vida do povo. Mas serviu para o domingo à noite.

domingo, 19 de janeiro de 2020

TRIPA ADVISOR

Fui ao Rio no meio da semana passada para o lançamento de uma novela da Globo e acabei sabendo só de orelhada a treta sobre venda de órgãos. Quando me dispus a escrever sobre o assunto, estourou a bomba nazista do Roberto Alvim. Foi até bom, porque me deu tempo de ler mais sobre o assunto. Só que não cheguei a nenhuma conclusão absoluta. Proibir que as pessoas vendam seus órgãos não-vitais é como proibir o aborto ou a maconha: quem estiver muito a fim, vai conseguir. Tem um cidade em Minas (não me lembro qual) onde muita gente viajou para a África do Sul para vender um rim e faturar uma grana. O problema desse comércio é incentivar o crescimento de algo que já existe e é apavorante: o roubo de órgãos, vitais ou não. No fiml, tendo a me aproximar do Joel Pinheiro da Fonseca, que detonou essa polêmica graças à ressurreição de um texto seu de 2015, com o qual ele nem concorda mais. Joel pesou prós e contras em um fio no Twitter, e tampouco deu o debate por concluído. Prefiro recolher minha colher e ouvir quem é do ramo: os profissionais da saúde, que dizem que o maior problema não é a falta de órgãos e sim a falta de pessoal treinado para fazer transplantes. E rio do apelido que o Joel ganhou, que dá nome a este post.

QUE DÓ, A FORMIGUINHA


Essa minha obsessão por ver todos os filmes inscritos por seus países no Oscar Internacional, hein? Vou te contar. Ela me leva a assistir coisas ótimas como "Buoyoncay, da Austrália, que passou na Mostra. Mas também me empurra para títulos que não fazem nada meu gênero, tipo "O Despertar das Formigas". Trata-se do primeiro filme da Costa Rica que eu vejo na vida, mas não há nada nele que me faça identificar sua origem. A trama é batida, embora ainda necessária: uma mulher casada e com duas filhas sente-se oprimida pela rotina de esposa e mãe, mas não sabe como se libertar porque ama muito sua família. O símbolo de sua opressão são os cabelos compridos, que o marido adora mas que a fazem derreter de calor. Para piorar, formigas começam a pulular em volta dela: no chão, no chuveiro, subindo pelas pernas. Uma metáfora para o desejo sexual, que ela deixa de reprimir? O surgimento da consciência? Tudo isso é lindo, mas a diretora Antonella Sudassassi é adepta daquele estilo naturalista, sem música ou firulas de câmera. Valeu pelo aspecto antropológico, e para ticar a Costa Rica na lista.

sábado, 18 de janeiro de 2020

ÁGUAS TURVAS

Parece que nenhuma desgraça é pouca para o Rio de Janeiro, pelo menos até o dia em que a cidade aprenda a escolher seus governantes. Três causas possíveis me ocorreram para a água suja que jorra das torneiras da cidade:

1) INCOMPETÊNCIA
Nossa velha conhecida, tão brasileira quanto o jeitinho e a jaboticaba. A barbeiragem pode ser inercial, mas também pode ter sido provocada pelo governador Wilson Witzel: ele demitiu técnicos importantes da CEDAE, e colocou gente desqualificada no lugar. Êêê Brasil.

2) GANÂNCIA
Witzel teria colocado gente desqualificada de propósito. Desta forma, cria-se uma grita contra a empresa pública e abre-se o caminho para ela ser privatizada. Aliás. WW já avisou que quer vender a CEDAE.

3) SABOTAGEM
Crivella foi a Brasília esta semana, para confabular com Biroliro. O alcaide quer ajuda federal para se reeleger. O Bozo pode ter exigido uma contrapartida: "envenene a água dos cariocas! Assim a gente liquida o Whitney de uma vez por todas e enterra a investigação para cima do Zero-Um".

Todas as três hipóteses são plausíveis. Todas são assustadoras.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

A QUE FOI SEM NUNCA TER SIDO

Que dia bizarro. Essa patacoada do Roberto Alvim descambou num convite para Regina Duarte assumir a Secretaria Especial da Cultura. Claro que podia ser pior: pelo menos a atriz é do meio, ao contrário da fanática da Opus Dei que foi para a Ancine. Além do mais, o direitismo de Regina não é de raiz. Ela só se tornou reacionária depois de se casar com um rico fazendeiro, desses que defendem menos terra para os índios. Mas a ex-namoradinha do Brasil também já deu sobejas mostras de que não entendeu porra nenhuma de "Malu Mulher" e outros trabalhos que fez. Agora ela diz que está seriamente tentada a aceitar o posto. Alguém já avisou a Regina que ela vai ter que sair da Globo? A própria emissora não deixa que seus contratados exerçam cargos públicos (e, cá entre nós, vai adorar se livrar de uma figura detestada por boa parte do elenco). Regina não precisa do dinheiro: ganha bem desde os 18 anos de idade, e ainda tem o maridão a lhe garantir a aposentadoria. Mas vai abrir mão do gordo salário que recebe todo mês, mesmo quase não tendo trabalhado nos últimos 10 anos? Suspeito que, em relação ao convite do Bozo, ela vá dar uma de Viúva Porcina, famosa pelo título deste post.

COMIGO ME DES-ALVIM

Neste governo formado por despreparados e alucinados, Roberto Alvim é a figura mais enigmática de todas. O cara era um diretor de teatro respeitado, que adaptou até um livro de Chico Buarque para o palco. Também dizem que quebrou seu cabaré em São Paulo, o Club Noir, por causa de seu vício em cocaína. Alvim diz que teve um câncer e que se curou graças a Jesus. Este milagre, sabe-se lá por quê, o empurrou aos braços do Biroliro. O recém-convertido logo descobriu que, quanto mais puxasse o saco do chefe, com mais cargos e verbas seria contemplado. Seu ataque gratuito a Fernanda Montenegro lhe rendeu a Secretaria Especial da Cultura. Mas, antes disso, Alvim já havia dito a que veio: quando estava na Funarte, tentou contratar a empresa da própria mulher pela bagatela de três mlhões de reais. Ontem o sujeito divulgou este vídeo estarrecedor, que abalou até quem o apoia. Por que emular o discurso de Goebbels, o chefe da propaganda de Hitler? Por que tocar Wagner ao fundo? É claro que a atmosfera nazista é de propósito. Mas qual é o objetivo de se aproximar de uma ideologia tóxica, que os membros do governo dizem ser de esquerda? Só me ocorrem duas hipóteses. A primeira é que o vídeo faz parte de um esforço para distrair a imprensa e o público do escândalo da Secom. Acho improvável, porque dificilmente teriam tempo de inventar e gravar tudo isso em 24 horas. Fora que a coordenação política do governo é um balaio de gatos, onde todos se fuzilam mutuamente. A outra teoria é mais provocadora. Roberto Alvim estaria desempenhando uma grande performance. Uma pegadinha épica, para desmascarar, de dentro do governo, as reais intenções do Mijair. Uma hora ele vai gritar, "ahá!". Ou então, é o quê? Alguém teria uma explicação melhor?

ATUALIZAÇÃO: Eu mesmo cheguei em uma explicação melhor. Roberto Alvim tem pretensões políticas. Está em campanha eleitoral, mas pode ter errado a dose. Explico melhor na minha coluna de hoje no F5.

MAIS UMA ATUZALIZAÇÃO: Caiu TODO o canal da Scretaria da Cultura no YouTube - inclusive, claro, o vídeo nazista do Roberto Alvim. Mas ele sobrevive em outros sites, é óbvio. Já substituí aí em cima.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

GOSTO MUITO DE ROUBAR LEÃOZINHO


Não entendo muito o frisson ao redor de "Os Miseráveis". O filme é bom, veja bem: o diretor Ladj Ly imprime um clima de tensão que só derrapa pouco antes do epílogo, mas é logo retomado. Mas não há nada nele que Fernando Meirelles não tenha feito melhor em "Cidade de Deus", quase 18 anos atrás. A novidade (para os franceses) talvez seja uma história que se passa na periferia, escrita e dirigida por um cara nascido nessa periferia. A ação se passa em um único dia em Montfermeuil, o subúrbio de Paris onde Victor Hugo escreveu "Os Miseráveis". O livro é até citado pelos personagens, mas não serve de base para o roteiro. Habitado por africanos, árabes e ciganos, o bairro é o proverbial barril de pólvora. E a faísca vem de uma escaramuça boba, logo vingada com o roubo de um filhote de leão de um circo. Seguem-se várias perseguições, com um trio de policiais - um deles, em seu primeiro dia na região - se comportando cada vez pior. Claro que tudo isso é petit four perto da barra pesada das cidades brasileiras. E claro que eu saí do cinema pensando em "Bacurau", com quem "Os Miseráveis" dividiu o Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes. O longa de Kléber Mendonça e Juliano Dornelles é melhor e mais inovador do que este aqui. Teria tomado seu lugar entre os indicados ao Oscar?

UMA TELA PARA MARIGHELLA

"Marighella" debutou no Festival de Berlim de 2019, há quase um ano. A estreia no Brasil foi marcada para a Semana Santa, mas logo depois cancelada: o distribuidor achou que ainda havia um clima de polarização excessiva no país (risos), que poderia prejudicar a carreira do filme. Remarcou-se então para 20 de novembro, Dia da Consciência Negra. E aí começou a via-crúcis do primeiro longa dirigido por Wagner Moura. Surgiram mil entraves burocráticos para dificultar a estreia, numa tentativa mal disfarçada de censura. Até de calote foi acusada a O2, a maior produtora do Brasil. Hoje saiu a notícia de que "Marighella" finalmente entra em cartaz no dia 14 de maio. Será? A Ancine vai deixar, agora que é comandada por uma mulher da Opus Dei? Sim, porque o Biroliro diz que "a cultura tem que ser feita para a maioria" (balela, cultura é para todos), e todo mundo sabe que a Opus Dei, uma organização marginal dentro da Igreja Católica, é maioria esmagadora no Brasil, n'est-ce pas? Mas eu tenho cá um palpite. Adivinha quem será o indicado pelo Brasil para nos representar no próximo Oscar? O governo não apita nada nessa escolha. Risos.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

J.LO-WOOD

Quem diria, um ano atrás, que J. Lo, Eddie Murphy e Renee Zellweger seriam os astros da capa do 26o "Hollywood issue" da revista Vanity Fair" Tudo bem que só um deles foi indicado ao Oscar, mas todos ressuscitaram suas carreiras. O ensaio de 2020 tem mais gente do que outras vezes, e pode ser visto aqui em toda sua extensão. Gosto quando os editores enlouquecem e resolvem contar uma história, ao invés de um monte de fotos de atores fazendo carão. Tem alguns de quem nunca ouvimos falar e outros de quem não ouviremos falar novamente. Faz parte, ué.

RUIM BARBOSA

Letícia Dornelles é uma roteirista respeitada. Já escreveu novelas, séries e programas de variedades, e tem alguns livros publicados. Mas seu extenso currículo não a habilita, de forma alguma, a assumir o comando de uma instituição como a Casa de Rui Barbosa, um importante centro de produção cultural no Rio de Janeiro. Sua única credencial, aos olhos deste governo, são as posições conservadoras. Claro que isto não basta. Letícia iniciou sua gestão cortando nomes fundamentais da estrutura da Casa. Chegou a anunciar um evento sobre astrologia, depois cancelado. E provocou a ira dos funcionários, que ontem fizeram um ruidoso protesto nas ruas de Botafogo. Antes que alguém diga que o lugar era um ninho de esquerdistas: em 2011, a Casa de Rui Barbosa reagiu à indicação ideológica de um novo presidente feita pela então presidente Dilma Rousseff, e o cara não foi empossado. Letícia deveria lembrar que nenhum governo é para sempre, mas que o estrago que ela está causando em sua reputação pode muito bem ser.

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

EU TE VI NAS ARTES PLÁSTICAS

"Flerte Revival" saiu há mais de dois anos, mas faz só um mês que eu descobri essa obra de arte. Desde então, ela não sai mais dos meus ouvidos e da minha cabeça. Letrux já está preparando um novo álbum: prometo prestar mais atenção.

THAMMY JUNTO

Não sei se, nos tempos que correm, é recomendável a um homem trans que poste fotos do filho nas redes sociais. É óbvio que o gado irá mugir. Mas quem sou eu para julgar os outros? Thammy Miranda tem todos os motivos para estar orgulhoso. No mais, como pessoa pública, ele precisa mesmo de exposição. Só que o nascimento de seu bebê deu a deixa para o Carluxo descer mais alguns degraus na escala da decência. O Zero-Dois, que andava quieto, achou que seria uma pândega assumir sua semelhança com o filho da Gretchen, e postou duas fotos de seu sósia com a mulher e o bebê, atraindo uma enxurrada de comentários maldosos da minonzada. Vai levar um processaço nas costas, bem-feito. E talvez mudar a dose dos reguladores de humor, que agora sabemos que ele toma graças ao livro "Tormenta", da jornalista Thaís Oyama. Já tens o teu?

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

CULTURA EM VERTIGEM

Em 2016, a Academia de Hollywood contrariou todos os palpiteiros profissionais que previam a vitória do alemão "Toni Erdmann" e deu o Oscar de melhor filme estrangeiro para o iraniano "O Apartamento", muito menos badalado. Foi um gesto político. Uma reação ao então recém-eleito Donald Trump, que tentou decretar que cidadãos de diversos países do Oriente Médio - entre os quais o Irã - simplesmente não pudessem entrar nos Estados Unidos. Achei que este ano os acadêmicos fariam coisa parecida, indicando "A Vida Invisível" para espicaçar o governo Biroliro, o inimigo no. 1 do cinema brasileiro. O filme de Karim Aïnouz não ficou nem entre os pré-classificados, mas hoje nós fomos à forra. É bastante possível que "Democracia em Vertigem" tenha conquistado a indicação ao Oscar de melhor documentário menos por suas qualidades e mais por seu significado. O filme de Petra Costa não é um retrato isento do impeachment de Dilma Rousseff, mas cinema não é jornalismo: não tem a obrigação de ser imparcial. De resto, não creio que tenha chances contra "Indústria Americana", que ainda carrega o selo de qualidade do casal Obama. Mas, vai saber? Uma declaração desastrada do Mijair na véspera da votação, e as nossas chances crescem! Talvez já estejam até maiores depois que Roberto Alvim, o nefasto secretário da Cultura, se manifestou contra "Democracia em Vertigem". Fala mais, Bozo! Fala mais, Comigo-me-desalvim! Nosso primeiro Oscar pode estar não nas mãos, mas nas bocas sujas de vocês.

J. TO THA LO


Hoje, mais uma vez, os membros da Academia de Hollywood provaram que não entendem nada de cinema. Os caras não sabem reconhecer uma verdadeira estrela nem se ela esfregar a bunda na cara deles, como Jennifer Lopez fez em "As Golpistas". No esplendor dos 50 anos, J. Lo aprendeu pole dancing e chegou a fica na horizontal, prendendo-se ao poste pelas, aham, pernas - queria só ver a Kathy Bates fazer isto. Ou melhor, não queria. Os anos indo à cerimônia mesmo sem ser indicada a nada, a dedicação ao ofício de entertainer, a bilheteria do filme, a campanha intensa, nada disso comoveu o Oscar. J. Lo perdeu sua grande chance, e dificilmente terá outra. Mas continuará no meu coração para sempre, e também nas minhas playlists. A Academia pode ficar com a feia da Laura Dern.

(Mais sobre as indicações ao Oscar na minha coluna de hoje no F5)

domingo, 12 de janeiro de 2020

O INJUSTICEIRO DOURADO

O Oscar sempre cometeu injustiças. Todo ano tem alguém que ganha sem merecer, ou que merecia e sequer foi indicado. Desta vez vai ser pior ainda. 2019 foi um ano de filmes excepcionais, e é inevitável que muita gente boa fique de fora das indicações, que serão anunciadas amanhã de manhã. Mesmo a categoria principal, na qual podem concorrer até 10 títulos (mas que, de uns anos para cá, traz só oito ou nove) não vai dar conta de tudo de bom que foi produzido no ano passado. Como diria minha amada Glenn Close, derrotada nada menos que sete vezes: VTNCGCC.


Quem que eu acho que vai ser indicado, e quem vai fitar o vazio?

MELHOR FILME
1917
Adoráveis Mulheres
Coringa
Era Uma Vez... em Hollywood
História de um Casamento
O Irlandês
Jojo Rabbit
Parasita
Quem pode surpreender? "Ford vs. Ferrari", no lugar das mulherzinhas.
Quem vai ser injustiçado? "Dois Papas". Puta falta de sacanagem.

ATUALIZAÇÃO: Entraram todos os oito que eu previ, mais "Ford vs. Ferrari. PFS.

MELHOR DIRETOR
Pedro Almodóvar (Dor e Glória)
Bong Joon-Ho (Parasita)
Sam Mendes (1917)
Martin Scorsese (O Irlandês)
Quentin Tarantino (Era Uma Vez... em Hollywood)
Quem pode surpreender? Greta Gerwig (Adoráveis Mulheres), mais por ser mulher do que pelo filme em si.
Quem vai ser injustiçado? Ih, tanta gente... Todd Phillips (Coringa), Fernando Meirelles (Dois Papas), Taika Waititi (Jojo Rabbit). Mas também não será surpresa se um desses for indicado. A categoria de direção é a mais imprevisível entre as principais.

ATUALIZAÇÃO: acreditei nos sites especializados e apostei no Almodóvar. Entrou Todd Phillips no lugar dele. Não reclamo, mas sinto pelo Fernando Meirelles.

MELHOR ATOR
Antonio Banderas (Dor e Glória)
Leonardo Di Caprio (Era Uma Vez... em Hollywood)
Adam Driver (História de um Casamento)
Taron Egerton (Rocketman)
Joaquin Phoenix (Coringa)
Quem pode surpreender? Christian Bale (Ford vs. Ferrari). A Academia AMA o cara.
Quem vai ser injustiçado? Jonathan Pryce (Dois Papas). Acho um escândalo um ator desse naipe jamais ter sido indicado a nada, mas ninguém me ouve nessa droga de Academia.

ATUALIZAÇÃO: Jonathan Pryce entrou!!! Sinto pelo Taron Egerton, mas ele é jovem e a vida é bela.

MELHOR ATRIZ
Cynthia Erivo (Harriet)
Scarlet Johanson (História de um Casamento)
Lupita Nyong'o (Nós)
Charlize Theron (O Escândalo)
Renee Zellweger (Judy)
Quem pode surpreender? Saoirse Ronan (Adoráveis Mulheres). A Academia AMA a moça.
Quem vai ser injustiçado? Awkwafina (The Farewell), com Globo de Ouro e tudo.

ATUALIZAÇÃO: Novamente, acreditei no sistes que torciam pela Lupita. Entrou Saoirse. #OscarsAlmostSoWhite.



MELHOR ATOR COADJUVANTE
Tom Hanks (Um Belo Dia na Vizinhança)
Al Pacino (O Irlandês)
Joe Pesci (O Irlandês)
Brad Pitt (Era Uma Vez... em Hollywood)
Song Kang-Ho (Parasita)
Quem pode surpreender? Willem Dafoe (O Farol), que foi indicado nos dois últimos anos.
Quem vai ser injustiçado? Anthony Hopkins (Dois Papas). Já deu para reparar que eu não boto muita fé nas chances de um dos meus filmes favoritos de 2019.

ATUALIZAÇÃO: Anthony Hopkins entrou!!! Que bom que eu estava errado.

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
Laura Dern (História de um Casamento)
Scarlet Johanson (Jojo Rabbitt).
Jennifer Lopez (As Golpistas)
Florence Pugh (Adoráveis Mulheres)
Margot Robbie (O Escândalo)
Quem pode surpreender? Kathy Bates, pelo decepcionante "Richard Jewell".
Quem vai ser injustiçado? Zhao Shuzhen (The Farewell), uma veterana atriz chinesa. Nem vi o filme, mas torço por ela. Me julguem.

ATUALIZAÇÃO: Aqui aconteceu a maior injustiça da história da humanidade. Kathy Bates, que já ganhou uma vez e foi indicada outras tantas, entrou no lugar de J. Lo, que merecia muito mais e está num filme muito melhor. Mas o Super Bowl vem aí, para mostrar quem realmente manda.

MELHOR FILME INTERNACIONAL
Atlantique (Senegal)
Corpus Christi (Hungria)
Dor e Glória (Espanha)
Les Misérables (França)
Parasita (Coreia do Sul) 
Quem pode surpreender? Qualquer um dos seis pré-classificados da Europa Oriental. Deus queira que não sejam os chatíssimos "Uma Mulher Alta" (Rússia) ou "Aqueles que Ficaram" (Hungria).
Quem vai ser injustiçado? Já foi: O Brasil. "A Vida Invisível" é melhor do que os dois filmes citados logo acima, e nem está mais no páreo.

ATUALIZAÇÃO: Os chatíssimos não entraram, ufa. Mas de fato não importa muito, porque esse prêmio já é do "Parasita".

De resto, duvide-o-dó que "Democracia em Vertigem" emplaque entre os cinco indicados a melhor documentário. Vai ter minion comemorando, dizendo que a Academia é de direita... ai que preguiça.

ATUALIZAÇÃO: "Democracia em Vertigem" entrou! A Academia é de esquerda! Chupa, minionzada!

Amanhã eu volto para comentar meus erros e acertos.

sábado, 11 de janeiro de 2020

BUFÊ DE SOBREMESAS


Aconteceu uma coisa engraçada comigo quando vi "Mulherzinhas", perdão, "Adoráveis Mulheres" (ainda prefio o título com que o livro foi traduzido para o português). Eu me diverti muito durante o filme. Achei os atores ótimos, os figurinos lindos e o roteiro interessante. Nem a montagem que mistura dois tempos diferentes me incomodou, apesar de me confundir de vez em quando. Mas aí veio o final excessivamente feliz, e eu saí do cinema enjoado. Parecia que eu tinha comido dez sobremesas de uma vez. Todas deliciosas, mas né? A diretora e roteirista Greta Gerwig deu um viés ainda mais feminista ao romance de Louisa May Alcott, mas também açucarou demais a receita. As irmãs March não passam mais fome e nenhum problema resiste a um sorriso e a um abraço. "Adoráveis Mulheres" é agradável, mas não há campanha que justifique Gerwig na mesma turma que Tarantino, Scorsese, Almodóvar, Sam Mendes e Bong Joon-Ho. Sua versão de uma obra fundamental da literatura americana ficou com cara de novela das seis - uma boa novela, mas sem o impacto ou a importância da concorrência. E agora, uma dúvida sincera: alguém sabe me explicar por que a tia March é rica, se ela nunca se casou, e seu irmão, o pai das moças, não é? De onde surgiu o dinheiro?

sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

UM ANO INCONSÚTIL


1917, que ano lôko. Passou voando, em menos de duas horas. O difícil foi recuperar o fôlego depois. Porque "1917" é um filme espetacular, que não desperdiça com super-heróis a tecnologia disponível em 2020. É uma experiência sensorial, um passo antes da realidade virtual. Nunca me senti tão dentro de uma guerra, e pensei em meu pai o tempo todo: ele lutou na Itália pela FEB, em 1944. A ação de "1917' se passa um conflito mundial antes, na França. Dois solados ingleses são despachados com uma mensagem para o comandante de outro batalhão, além das trincheiras alemãs. Eles precisam chegar o quanto antes e avisar que o inimigo armou uma emboscada, mas claro que há mil perigos pelo caminho. Tudo isso em um take só - na verdade, claro, a ilusão de um take só. Apenas em dois momentos óbvios, quando a tela escurece, eu saquei os pontos de corte, mas há dezenas de outros. Não vejo a hora de chegarem os making ofs, para entender como que o diretor Sam Mendes e o cinematografista Roger Deakins conseguiram dar esse tour de force. "1917" levou os Globos de melhor filme dramático e melhor direção no domingo passado, e agora é um canhão apontado para a concorrência no Oscar. É mil vezes mais empolgante do que "O Irlandês", mas não sei se dialoga com os dias de hoje como "Coringa" ou "Parasita". Justamente por isto, talvez a Academia decida premiá-lo. É cinemão em estado de graça, um filme quase perfeito naquilo que se propõe. E ainda comete um pequeno sacrilégio, ao colocar um Lannister e um Stark como irmãos.

¿QUÉ POEMAS NUEVOS FUISTE A BUSCAR?

Ontem foi um dia de estreias para mim: fui pela primeira vez ao Blue Note de São Paulo e assisti ao meu primeiro show de Marina de la Riva. Eu até já tinha um disco dela, mas nunca havia visto-a no palco - e fiquei passado. Que vozeirão, que presença elegante em cena e que bom gosto à prova de bala. Com apenas dois músicos acompanhando, um no cello e o outro no piano, Marina recria canções da Cuba de seus pais, com toques de MPB, musicais americanos e até Erik Satie. O defeito do show é ser curto: eu teria ficado a noite inteira ouvindo boleros e poemas.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

MEGXIT

Tive muita inveja da Meghan Markle quando ela se casou com o príncipe Harry. Não por causa dele, que nem é dos piores, mas pela perspectiva de nunca mais ter que encarar um boleto na vida. Mas parece que a Duquesa de Sussex sente falta dos problemas plebeus - ou então, vai ver que é verdade que ela e Kate Middleton andam se puxando os cabelos nos corredores de Buckingham, como juram os tablóides ingleses. Parece que a Casa de Windsor não aprende: vai deixar escapar seu maior trunfo de marketing dos últimos anos, a beldade birracial que está vivendo um grande amor. Segundo a série "The Crown", a rainha Elizabeth II é mesmo um osso duro de roer, e não ocorreu à Sua Majestade facilitar a vida de seu neto millenial. Os paparazzi também infernizam o casal, e é bom lembrar que Harry é traumatizado pela morte da mãe. Claro que os dois conseguem se manter sozinhos: basta o contrato para um livro, ou uma sociedade na produtora de documentários dos Obama. Mais complicado vai ser manter o aparato de segurança, custeado pelo contribuinte britânico, se deslocando sem parar entre o Reino Unido e a América do Norte. Quero só ver.

DOM TOSCO

Eu nunca tinha ouvido falar do tal Centro Dom Bosco até que, em novembro passado, alguns de seus integrantes tentaram impedir uma missa com elementos afro, que vem sendo realizada há alguns anos no Rio de Janeiro no Dia da Consciência Negra. Veja bem: uma missa católica, rezada por um padre católico, em uma igreja católica. A blasfêmia seriam os tais dos elementos afro, ou seja - é racismo mesmo. Esses supremacistas brancos também estão por trás do pedido de censura ao especial de Natal do Porta dos Fundos. Quem tiver pachorra deve assistir ao vídeo acima, em que o presidente do CDB tenta justificar o processo. É apavorante: por trás dos modos polidos, o que há é o patriarcado branco mais tosco que se pode imaginar. Deus Vult que eles não nos devolvam à Idade Média.

(Leia aqui minha coluna furibunda publicada no F5 na noite de ontem)

quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

OS CÃES LADRAM E A GUERRA PASSA

Muitos cachorros atrás, eu tive um que, durante os nossos passeios pelo bairro, adorava latir para um colega de uma casa vizinha. Os dois se esgoelavam com ferocidade assustadora. Um belo dia, o portão da casa do outro estava aberto, e de repente os arqui-inimigos se viram frente a frente, sem nenhuma grade para separá-los. Evidentemente, ninguém soltou um pio. 

Foi mais ou menos isto o que aconteceu entre Estados Unidos e Irã nos últimos dias. Trump e Khamenei podem parecer desequlibrados, mas uma guerra não está no interesse de nenhum deles. 

Um resumo da ópera e alguns palpites do que está por vir:

1) A quase-invasão da embaixada americana em Bagdá acendeu uma luz vermelha na Casa Branca. Houve temores de que se repetisse o episódio de Benghazi, em 2011, que, anos depois, foi explorado eleitoralmente contra Hillary Clinton. Também consta que havia inteligência apontando que os iranianos iriam mesmo atacar um ou mais diplomatas americanos. Antes de ser tachado de ineficiente, e de olho nas urnas de novembro, Trump preferiu agir antes.

2) A morte de Qassim Souleimani veio a calhar para os aiatolás. Unificou a nação, que, em 2019, presenciou protestos maciços. Agora a maioria do povo está novamente apoiando o regime teocrático. No mais, nenhum país até hoje atacou uma instalação militar americana e ficou por isto mesmo; agora o Irã pode se gabar internamente de ter metido medo nos corações dos infiéis.

3) Claro que há o risco de uma milícia xiita cometer alguma loucura. Tampouco nada garante que Trump agirá novamente com a tranquilidade que exibiu no discurso de hoje. Se houver mortes americanas, o pau vai comer para valer.

4) A estratégia imperialista iraniana é totalmente equivocada. O país gasta um dinheiro que não tem para interferir na Síria, no Líbano, no Iraque e no Iêmen, enquanto seu povo passa por todo tipo de necessidade. A médio prazo, essa política voltará a gerar revoltas, como gerou no ano passado.

5) Suspeito que Trump saiu como entrou nesse imbróglio. Não perdeu eleitores, mas também não ganhou nenhum. Sua reeleição está longe de ser garantida, por melhor que vá a economia: com rejeição acima de 50%, basta ele perder poucos votos em uns três estados importantes para enfiar a viola no saco. Por tudo isso, não é impossível que o Alaranjado invente em breve um fato novo.

6) Biroliro perdeu mais uma oportunidade de ficar calado. Ignorou os apelos e demonstrou novamente sua submissão a Trump, que ainda não trouxe uma única vantagem para o Brasil. Em compensação, o Irã se encrespou, o que pode prejudicar nosso agronegócio. Agora que o risco de uma guerra se dissipou, o Despreperado terá que elaborar outra desculpa para faltar ao Forum de Davos. Tudo o que ele não quer é passar pelo mesmo vexame do ano passado, tadinho.

terça-feira, 7 de janeiro de 2020

TERRAS PLANAS DE OURO

Sou fã do Ricky Gervais desde os tempos de "The Office", o original britânico. Acho que seu filme "A Invenção da Mentira" é uma das melhores comédias de todos os tempos. Também gostei bastante de "After Life", que está indo para uma segunda temporada na Netflix. Sigo Ricky no Twitter há anos, e adoro quando ele confronta os religiosos com dados científicos. E, é claro, assisti a todas as cerimônias dos Globos de Ouro que Ricky apresentou. Em suma: eu conheço o cara, e me sinto absolutamente à vontade para dizer que, na cerimônia deste domingo, ele não estava bem. Parecia desconfortável, querendo acabar logo com aquilo. Suas piadas sempre são cruéis, mas dessa vez ele exagerou. Nem tanto na ousadia, mas na falta de graça. Ricky não parecia interessado em fazer ninguém rir: só queria épater les bourgeois. A imprensa americana caiu de pau, e eu também. Escrevi uma coluna no F5 agradecendo por esta ter sido a última vez (conforme ele mesmo diz) à frente dos Globos de Ouro. À noite, quando o perfil da Folha no Twitter retuitou o link para o meu texto, recebi mais de uma centena de comentários negativos. Quase todos vindos de perfis de bozominions, dizendo que Ricky teria lacrado a esquerdalha de Hollywood, que a imprensa não presta e por aí vai. Hoje descobri que não foi só comigo. Há uma narrativa da extrema-direita nas redes sociais defendendo Ricky Gervais e atacando quem não riu com o monólogo dele. Um episódio que, mais uma vez, ressalta uma das maiores fraquezas dessa corja: o amor pela ignorância. Não é só o desprezo à intelectualidade; é a preguiça total de checar fatos e pesquisar fontes confiáveis. Eles acham que fake news já bastam. Não se dão ao trabalho de saber nada, e acabam sempre passando vergonha. Ninguém foi olhar o perfil de Ricky Gervais no Twitter. A maioria, provavelmente, nunca ouviu falar dele, e tampouco está interessada. Se o conhecessem, talvez soubessem que o cara é um progressista feroz, ateu convicto, abortista, gayzista e feminazi. Desses que esfregam no cascalho o focinho dos asnos. Mas o que esperar dos quadrúpedes? São os mesmos que estão resmungando por aí que q Greta Thurnberg reclamou das queimadas na Amazônia, mas se calou quanto às da Austrália. Nem desconfiam que a pirralha não tem outro assunto há dias... São terraplanistas mentais, que rejeitam a ciência e a realidade, e só confiam no WhatsApp do tio Gérson.

(Não achei um vídeo decente com o monólogo completo de Ricky Gervais nos Globos de Ouro deste ano, mas o áudio integral pode ser escutado aqui.)

segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

O INCEL INJUSTIÇADO


Há mais de três anos que eu não via um filme de Clint Eastwood. Seus dois últimos trabalhos não tiveram repercussão nem boas críticas, e eu não me animei nem a assistir de graça no sob demanda. Mas hoje encarei "O Caso Richard Jewell", só porque Kathy Bates está cotada ao Oscar de coadjuvante. E admito que não sofri muito: o roteiro, baseado na história real de um segurança acusado de plantar a bomba que ele mesmo apontou à polícia, até que segura a atenção. Também é um desafio à compaixão do espectador. O protagonista é um típico incel: gordo, feio, semi-fracassado, louco por armas, morando com a mãe. Se a internet já fosse grande em 1996, ano em que se passa a trama, o cara estaria mergulhado nesses sites que pregam "Deus Vult". Mas o fato de Richard Jewell ser meio babaca não o torna culpado. Só que Eastwood erra a mão ao sugerir que a imprensa é a vilã desse episódio, e ainda desrespeita a memória de uma jornalista que já morreu. Nunca fui fã dele, e não sei se verei seu próximo filme.

FORA DA GRADE

Teve leitor que não curtiu eu ter incluído Juan Guaidó na lista das minhas pessoas de 2019. Pois eu acho fabuloso alguém ainda achar que o regime venezuelano mantém algum fiapo de legitimidade. O que aconteceu ontem em Caracas foi patético: simplesmente não deixaram Guaidó e muitos outros parlamentares entrarem na Assembleia Nacional, onde transcorria a eleição para a presidência da casa. A ditadura de Nicolás Maduro está cada vez mais despudorada, espalhando que o autoproclamado presidente interino do país não teria ido votar, quando há imagens dele tentando pular a grade do prédio. Até quando vai essa palhaçada?

domingo, 5 de janeiro de 2020

ENTRANDO NUMA FRIA MAIOR AINDA


Com os sobrinhos crescidos e já em outra, eu tinha decidido que não era mais obrigado a encarar nenhum longa em animação da Disney. Aí "Frozen" se tornou um fenômeno e eu, auto-nomeado árbitro da cultura pop, tentei ver o filme quando já estava saindo de cartaz, mas os cinemas continuavam lotados. Só fui me atualizar com um DVD em blu-ray. Então nasceram os netinhos e o ciclo da vida recomeçou. A mais velha é obcecada por Elsa, e já viu "Frozen 2" duas vezes em Lisboa, onde mora atualmente. Meu marido, para ter assunto com a pimpolha, quis muito ver também. Dessa vez, eu me envolvi com a onda gelada desde o começo: precisei até dar um jeito de assisitr à continuação antes da estreia, para escrever este artigo para a Folha sobre a sexualidade (ou não) da Princesa das Neves. Mas o que eu achei do filme em si? Um encanto, uma féerie visual, uma viagem iniciática. Pena que os netos morem tão longe, mas em breve reveremos tudo em DVD. E re-reveremos...

sábado, 4 de janeiro de 2020

AGORA VOCÊ VEM DIZENDO ADEUS

Vi "Nos Tempos da Jovem Guarda" pela primeira vez lá por volta de 1987, quando o espetáculo já estava consagrado. Nascido uns dois anos antes como um show de boate, o revival criado por Renato Krämer fez tanto sucesso que conseguiu lotar o Maria Della Costa, um dos maiores teatros de S. Paulo. Na entrada, um amigo me avisou: "você verá de novo". Dito e feito. Perdi a conta de quantas vezes eu repeti a experiência. Para quem não sabe do que se trata: Renato encarnava sua grande "ídala" de infância, Wanderléa, no comando de uma edição do programa "Jovem Guarda" enquanto Roberto Carlos, atrasado, não aparecia. Um elenco quase só de homens se revezava em cena, evocando Martinha, Valdirene e outras musas dos anos 60. Tinha até o Trio Ternura com blackface, algo impensável para os dias de hoje, e alguns dos textos mais afiados de todos os tempos. Rolei de rir todas as vezes. Uma das 10 melhores peças da minha vida, fácil. Só fui conhecer Renato Krämer muitos anos mais tarde, quando ambos nos tornamos colunistas do F5. Estive com ele umas quatro ou cinco vezes, sempre em ocasiões sociais com muita gente em volta, e só agora me dei conta de que nunca lhe contei do impacto que sua Wandeca me causou. Renato morreu ontem, depois de duas semanas hospitalizado por causa de um acidente doméstico. Lição para mim: elogie as pessoas enquanto elas ainda estão vivas.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

O BOSO E BURO

Biroliro relinchou que os livros didáticos brasileiros têm que ser "suavizados". Isso mesmo: o presidente da Republica acha que as cartilhas de alfabetização são muito difíceis. O mais triste é que ele nem é nosso primeiro mandatário abertamente anti-intelectual: Lula também dizia que ler um livro inteiro era algo muito difícil, e só há notícia de que ele tenha feito isto depois que foi preso (mas não há provas). O que foi que aconteceu com os nossos critérios? Se eu reescrevesse a Constituição, instituiria que é obrigatório aos candidatos ao cargo máximo da nação ter, no mínimo, um diploma universitário. Ler e escrever livros também seria desejável. Mas nem mais nos EUA é assim: George W. Bush e Donald Trump romperam essa louvável tradição, e se gabam de suas ignorâncias. O tempora, o mores.

ATAQUE DE NERVOS

Um bully sempre acusa os outros de fazerem o que ele mesmo gostaria de fazer. Basta conferir esses tuítes do Trump aí ao lado, do começo de 2012 (há muitos outros do mesmo teor). Só que o Obama fez o contrário: não atacou o Irã, foi reeleito e, em seu segundo mandato, costurou um acordo que seria o primeiro passo para o restabelecimento de relações entre os dois países. Trump, uma vez empossado, jogou esse acordo fora, e ontem deu a cartada mais arriscada de sua carreira. Eu não acredito que o Irã vá responder ao assassinato do general Qassim Suleimani com um ataque nuclear, mas não dá prever nada. Só uma dica: não frequente nenhum hotel ou cassino Trump nos próximos dias.