segunda-feira, 30 de setembro de 2019

A ABOLIÇÃO DAS ILUSÕES

Ler "Escravidão" é libertador. O primeiro volume da trilogia de Laurentino Gomes confirma, em riqueza de detalhes, que nenhum ser humano presta. Que não houve bonzinhos no negócio milionário da escravidão africana, que agitou as águas do Atlântico durante mais de quatro séculos. Mais do que o ouro ou a propagação da fé cristã, o comércio de escravos surge como o principal objetivo das navegações portuguesas. Os reinos da costa da Guiné e do Congo tampouco eram flor que se cheirasse: promoviam guerras aos povos do interior, para capturar e vender o maior número de prisioneiros. Tudo isso já sabíamos, mas Laurentino torna tudo tão vívido que às vezes sua prosa parece cinema.A novidade, para mim, foi algo estarrecedor: os movimentos abolicionistas surgem no final do século 18, justamente quando começa a Revolução Industrial. Ou seja: a escravidão acabou não porque os escravocratas caíram em si, mas porque os escravos se tornaram menos necessários com o avanço das máquinas. "Escravidão" vem preencher uma lacuna gigantesca nas bibliotecas brasileiras: um estudo profundo, abrangente e acessível da chaga que marcou a história do nosso país, e que continua aberta. Mal posso esperar pelos próximos volumes.

domingo, 29 de setembro de 2019

FORA DO ARMÁRIO, FORA DA GAVETA

Muitos heterossexuais reagiram à entrevista de Reynaldo Gianecchini publicada hoje pel'O Globo com um "grande novidade, todo mundo já sabia". Muitos gays s sentiram ultrajados: "claro que ele é gay, esse papo de bissexualidade é homofobia internalizada". Sinto dizer que o casamento de Giane e Marília Gabriela era para valer - eu sou testemunha ocular. Mas todos esses reclamões não perceberam a real importância do gesto de Gianecchini. Ele é o primeiro galã da Globo a assumir publicamente que já transou com homens. É verdade que outros contratados da casa vieram antes: Marco Nanini saiu do armário sem alarde há alguns anos, numa entrevista à revista "Bravo!". Na nova geração, temos Jesuíta Barbosa, Ícaro Silva e Silvero Pereira se expondo tranquilamente. Mas nenhum deles é um leading man feito Reynaldo Gianecchini, nenhum povoa os sonhos das moçoilas. Por que será que ele resolveu se revelar agora? Talvez porque, aos 46 anos, esteja cansado da fachada. Giane sobreviveu a um câncer gravíssimo, e experiências como esta fazem a pessoa rever suas prioridades. Então vamos aplaudi-lo, inclusive por não querer - palavras dele - se encaixar em nenhuma gaveta. Ou não somos a favor de que cada um se defina como achar melhor?

LINDA DE VIVER


Fui ao cinema pronto para não gostar de Andrea Beltrão em "Hebe - A Estrela do Brasil". As duas não têm semelhança física, e muito se falou da intenção da atriz de não imitar sua biografada. O trailer parecia confirmar minhas suspeitas. Mas algo impressionante aconteceu durante o filme: Andrea foi ficando cada vez mais convincente como a maior apresentadora da TV brasileira de todos os tempos. No final, está quase uma sósia. Há uma cena em particular que parece uma sessão espírita: num jantar de Natal, Andrea/Hebe conta uma piada meio suja para os convidados, que incluem Paulo Maluf. Mas o longa em si não está à altura de suas protagonistas. Não questiono a escolha do período abordado: apenas três anos na vida de Hebe Camargo, no final da década de 1980, quando ela trocou a Bandeirantes pelo SBT. Foi uma época de ebulição política e cultural, e Hebe recuperou o status de grande estrela que tinha nos anos 60, na Record. Mas há um certo exagero em pintá-la como paladina da liberdade de expressão, e os atritos com a censura não foram tão graves como surgem na tela. O fato é que Hebe era um poço de contradições: a milionária que andava coberta de joias, mas nunca traía sua origem humilde; a crítica da corrupção, mas que caiu por um bom tempo nas mentiras de Maluf (ela se afastou dele antes de morrer); a defensora das bichas e travestis, que, no entanto, não lidava direito com a homossexualidade do próprio filho (aliás, corajosamente declarada no filme).  Ou seja, Hebe era um personagem e tanto. Mas como encaixar uma curva dramática convencional em uma vida tão rica e complicada? Talvez a minissérie que estreia em janeiro na Globo, gravada pela mesma equipe e com muito material adicional, traga alguma resposta. "Hebe - A Estrela do Brasil" pode ser só um aperitivo - coisa que a própria Hebe adorava.

sábado, 28 de setembro de 2019

JANOT TE AMO MAIS

O Brasil tem tradição em políticos que resolvem suas desavenças à bala (ou punhalada, como a que liquidou Pinheiro Machado). A novidade é a admissão do desejo de matar, sem que o crime tenha sido consumado. Onde é que Rodrigo Janot estava com a cabeça? Ele achou que essa confissão iria bombar as vendas de seu livro - onde, aliás, nenhum boi é nomeado? Ou ele está só trocando de medicação? Líder por duas vezes da lista tríplice elaborada pelos procuradores, o ex-PGR mostrou que não merecia tanta confiança de seus pares. Manchou a própria biografia e virou piada. Já para o combate à corrupção, as consequências ainda não estão claras. O único que sabemos é que o roteirista do Brasil é ruim, posto que inverossímil.

sexta-feira, 27 de setembro de 2019

ALMA INTERMINÁVEL


Meu primeiro contato com "A Alma Imoral" foi através da peça com Clarice Niskier, que está há uns 200 anos em cartaz. Na saída do teatro, comprei o livro do rabino Nilton Bonder, que defende a ruptura e a transgressão como motores do progresso (inclusive espiritual). Ontem uma amiga me arrastou para ver o filme, que estreou há mais de um mês. Nilton e o diretor Silvio Tendler entrevistaram 35 pessoas no Brasil, em Israel e nos Estados Unidos. Só duas delas não são judias (sem contar o judeu que virou monge tibetano): uma cantora e um militante pela paz, ambos palestinos. E, pelo jeito, todos são fabulosos, pois mereceram ser editados no longa. O resultado é que "Alma Imoral" (sem o "A" na frente) começa muito bem, mas não acaba nunca. O espectador já está exausto e não param de surgir figuras novas na tela, como uma escritora judia trans ou um percussionista "de Deus". Os interlúdios de dança coreografados por Deborah Colker são belíssimos, mas a montagem aleatória faz com que não haja um fluxo coerente de raciocínio. Saí achando que aquilo tudo funcionaria melhor como uma série de TV, e descobri que ela não só existe como já foi exibida pelo canal Curta!.

quinta-feira, 26 de setembro de 2019

EU SOU DOENTE, SENHOR PROCURADOR?

Estou desde ontem vasculhando a internet em busca de um vídeo decente e embedável do senador capixaba Fabiano Contarato dando uma prensa no Zelig brasileiro, também conhecido por Arnaldo Aras. O novo PGR é conhecido por modular o discurso de acordo com seu interlocutor, e diz sempre o que o outro quer ouvir. Mas levou uma voadora do nosso primeiro e único senador assumidamente gay, que já acumulava a façanha de ter derrotado nas urnas o asqueroso Magno Malta. "Eu tenho muito orgulho da minha família, eu tenho um filho. O senhor não reconhece a minha família como família? Eu tenho subfamília? Porque esta carta diz isso, senhor procurador. E diz mais: estabelece cura gay. Eu sou doente, senhor procurador?” Aras, que assinou uma carta de princípios da Associação Nacionais de Juristas Evangélicos que prega, entre outras coisas, a cura gay e a definição de casamento como a união entre homem e mulher, foi pego de surpresa. Disse que assinou sem ler - o que é gravíssimo para alguém que vai ter tanto poder nas mãos - e que até tem muitos amigos gays, mas não convenceu muito. O que importa é que enfiou o rabo entre as pernas, como costuma acontecer quando um bully é peitado. Contarato, que é casado com outro homem e tem um filho com ele, não mostrou só coragem. Mostrou também que doente é esse país, incapaz de produzir leis decentes.

ELIZABETH: A ERA DE OURO

Trump vai ser impichado? É claro que não: enquanto o Senado americano estiver nas mãos dos republicanos, não há a menor chance disso acontecer. O que os democratas querem mesmo, ao abrir o processo, é desgastar o Bebê Laranja ainda mais perante a opinião pública, para diminuir suas chances de reeleição no ano que vem. O risco da brincadeira é desgastar também o senador Joe Biden, por enquanto o favorito para ser o candidato democrata à Presidência. Essa história da Ucrânia está revelando ao mundo que ele e seu filho Hunter têm alguns rabos presos por aí. Quem deve estar achando a maior graça desse imbróglio todo é Elizabeth Warren, cuja cotação vem aumentado todos os dias. A senadora pelo estado de Massachussets é uma paladina na defesa do cidadão contra o grade capital. Eu já ia com a cara dela, e este artigo do Elio Gaspari fez minha cabeça. Só não vou dizer que estou torcendo pela senhora Warren porque sou um tremendo pé-frio.

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

THE BIBI AWARDS

Devo ser a única pessoa do universo que estava tanto na plateia da cerimônia de entrega dos Tony Awards como na do Prêmio Bibi Ferreira, que rolou ontem em São Paulo. Claro que ainda não dá para comparar os dois eventos, mas a versão brasileira está chegando lá. Muito por causa dos apresentadores Alessandra Maestrini e Miguel Falabella, que abraçaram a causa e resolveram "put on a show". Teve homenagem a Fernanda Young, uma infinidade de categorias (que agora incluem teatro falado e musical) e muitos, mas muito discursos políticos.
Como eu disse na minha coluna do F5, o público precisa ser instruído a aplaudir só no final do "In Memoriam". Se não, vira um concurso do morto mais popular.
Foi uma beleza o tributo à diva que dá nome ao prêmio, com Amanda Acosta, Alessandra Maestrini, Ingrid Guimarães, Laila Garin e uma das meninas do "Annie", cujo nome eu não vou lembrar nem se me apontarem um revólver
A noite terminou com o que seria um sacrilégio em uma premiação americana: um número musical depois dos últimos prêmios, quando a plateia já está exausta e doida para ir embora. O mais curioso é que foi uma homenagem ao... cinema, com fotogramas projetados no fundo da cena. Mas eu não vou reclamar. É preciso tesão e culhão para erguer um prêmio desses, que só precisa ficar mais conhecido para se tornar realmente importante. Talvez um apelido? Os Bibis?

terça-feira, 24 de setembro de 2019

NU NA ONU

A Laerte acertou em cheio. Conseguiu resumir, há uma semana e em uma única palavra, o desastroso discurso que o Bostonazi defecou hoje na ONU. Mas eu errei duas vezes. O primeiro erro foi apostar que ele não iria a Nova York. Quando ficou claro que o Despreparado estava mesmo pensando em viajar, achei que ele estava assustado com o desgaste político de um forfait, e que aproveitaria a oportunidade para tentar reverter a péssima imagem internacional de que desfruta no momento. Esse foi meu segundo erro: Biroliro é incapaz de qualquer estratégia que não seja a de falar para sua própria base, atualmente em torno de 12% do eleitorado brasileiro. O resto que se lixe: os líderes estrangeiros, a mídia, a opinião pública e, mais surpreendentemente, o pessoal que votou nele para tirar o PT. Mijair não parece interessado em conquistar novos adeptos, nem em manter esses recém-convertidos. Que se lixem. Só fala para sua bolha, cada vez menor. Por quê, ó raios? Suspeito que seja pela inexperiência de seu entorno. O discurso da ONU foi escrito pelo 02, Felipe Martins, Ernesto Araújo e o general Heleno. Nem mesmo este tem larga experiência na arena política, e os dois primeiros são moleques. Mas têm a mesma arrogância e pouca quilometragem que o tal do "gabinete da raiva", que fez com que o Bozo aumentasse a quantidade de falas polêmicas a partir de julho e só conseguiu que derrubar-lhe a popularidade. E ainda tem os detalhes técnicos: por que ele não consegue ler um teleprompter? Por que não põe logo os óculos? Por que só consegue falar "empredor"? Para o gado dele isso basta, mas para o resto do mundo e do Brasil, não. Um suicida?

O NOME DELA É JULIETTE


Juliette Binoche é uma baita atriz, mas fazia tempo que ela não ganhava um papel tão bom como o que tem no filme "Quem Você Pensa Que Sou". Ela faz uma mulher de meia-idade, com dois filhos adolescentes e ainda machucada pelo marido, que a trocou por uma novinha. Decidida a se sentir desejada por um garotão, a protagonista então cria um perfil falso no Facebook, inventa nome e idade novos e pesquisa a palavra "Insta" no Google, que ela nunca tinha ouvido falar antes. E o plano dá certo: um garotão se apaixona perdidamente por ela. O problema é que o rapaz quer encontrá-la pessoalmente, claro, e chega uma hora que não dá mais para escapar. Tudo isso é acompanhado em tempo real pela psicanalista da personagem. Lá pelas tantas, a história toma um desvio, depois outro, e o espectador precisa ficar esperto para não se perder. Mas o desfecho é satisfatório, e Juliette ainda mais. Tomara que lhe venham outros bons roteiros.

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

A FOGUEIRA DAS BOÇALIDADES

Sempre me incomodou essa unanimidade em torno de Fernanda Montenegro. Parece que a nossa primeira-atriz está acima do bem e do mal. Que tudo que ela faz é necessariamente sublime, mesmo uma novela de Walcyr Carrasco. Claro que isto não é verdade: a própria Fernanda será a primeira em reconhecer suas limitações (ela não muda de sotaque, por exemplo). Mas negar sua importância, sua integridade e seu imenso talento não é questão de opinião. É burrice, mesmo. É passar atestado de boçalidade. Foi o que passou Roberto Alvim, ao atacar a doyenne do teatro brasileiro de maneira totalmente gratuita nas redes sociais. Ao xingá-la de "sórdida" e "mentirosa", o novo diretor do Centro de Artes Cênicas da Funarte se rebaixa ao nível de um Carluxo ou um Olavo. Também dá a entender que é a favor dos "filtros" (vulgo censura) que o Biroliro e afins vêm tentando ressuscitar. Alvim se incomodou com o encarte da revista literária "Quatro Cinco Um", reproduzido aí ao lado. E não percebe que quem está queimando para valer é sua reputação, sua credibilidade artística e até mesmo seu futuro profissional. Ou será que ele acha que essa maré obscurantista que atravessamos hoje irá durar para sempre?

BRANCA DE NEVE E OS SETE AMANTES

O que será que faz com que "Branca de Neve e os Sete Anões" mereça tantos filmes voltados para adultos? Na última década, houve pelo menos quatro, sempre com grandes atrizes no papel da rainha-má: "Branca de Neve e o Caçador" (com Charlize Theron), "Espelho, Espelho Meu" (com Julia Roberts), o espanhol "Blancanieves", mudo e em preto-e-branco (com Maribel Verdú) e agora o francês "Branca como a Neve", com a divina Isabelle Huppert. De todos, este é o mais feminista, até porque é o único dirigido por uma mulher, Anne Fontaine. A história se passa na deslumbrante região de Grenoble, no sudeste da França, com algumas cenas no Santuário de Nossa Senhora da Salette - um avatar de Maria muito popular no começo do século 19, depois ultrapassado por suas rivais de Lourdes e Fátima. Mas a protagonista não tem nada de santa. Claire (Lou de Laâge) é uma moça empoderada, e transa com quase todos os sete homens que a acolhem em sua fuga. Nenhum deles é anão, e também não há um príncipe encantado. As ideias são ótimas, mas... o filme podia ser mais engraçado.

THANK YOU VERY MUCHA

Passei minha adolescência vendo posters desenhados por Alphonse Mucha, ou de estilo muito influenciado por ele. Só mais grandinho é que eu descobri que se tratava de um artista da Belle Époque, e não um hippie maconheiro que ouvia Pink Floyd. O tcheco Mucha (a pronúncia certa é algo como "múrra"), na verdade, foi o primeiro grande artista plástico que se destacou na publicidade, fazendo cartazes para peças de Sarah Bernhard e criando anúncios de cerveja ou papel de cigarro. Mas suas mulheres lânguidas, de cabelos esvoaçantes, se tornaram o sinônimo visual da art nouveau. Mais velho, já consagrado, Mucha pintou uma série de 20 telas monumentais,  a "Epopeia Eslava", imbuído de espírito patriótico pela recém-criada Tchecoslováquia. Vi muita coisa dele quando visitei o museu que leva seu nome em Praga, e revi algumas na exposição que acaba de abrir na sede da FIESP, aqui em São Paulo, a primeira dedicada a ele no Brasil. A iluminação deixa a desejar, fazendo com que seja impossível ler alguns dos cartões, e os quadros da "Epopeia" só são vistos em projeções. Acontece que é tudo tão lindo que o visitante quase levita, no meio de tantas divas e musas.

domingo, 22 de setembro de 2019

ÁGATHA TRISTE

Eu não costumo comentar aqui no blog os inúmeros casos de violência randômica que assolam o Rio de Janeiro. A última vez foi em abril, quando um pai de família foi fuzilado com oitenta tiros pela polícia, e muitos outros aconteceram desde então. Mas o caso da menina Ágatha Félix, morta com um tiro nas costas, talvez seja um divisor de águas - tomara que seja. A garota não morreu num fogo cruzado, apesar da PM jurar de pés juntos que havia um confronto: todas as outras testemunhas dizem que ela foi atingida por um disparo dirigido a um motociclista. A morte de Ágatha desencadeou um debate estúpido nas redes sociais, com energúmenos defendendo que ela seria só o efeito colateral de uma guerra justa, contra as drogas. Tá tudo errado: não, não é aceitável, e essa guerra é totalmente equivocada. Também é um erro a estratégia de Biroliro, Witzel, Crivella e Moro de fingirem que não aconteceu nada, para não eriçar seus respectivos gados. Muito melhor foi o que fizeram Gilmar Mendes e Rodrigo Maia, que já manifestaram indignação. Temos que seguir o exemplo e gritar também. A democracia não morre só no escuro, como também no silêncio.

sábado, 21 de setembro de 2019

O JAPÃO NO UZBEQUISTÃO


De todas as grandes cinematografias do mundo, a que eu menos conheço é a japonesa. Não é por falta de oportunidade: uns dez filmes de lá estreiam todo ano em São Paulo, mas eu tenho uma certa preguicinha. Geralmente são dramas pequeninos, sem grandes delírios visuais nem emoções arrebatadoras. Nem o premiadíssimo "Assunto de Família" conseguiu me arrepiar. Mas "O Fim da Viagem, o Começo de Tudo" me atraiu para o cinema, apesar do título irritante. Por causa de seu cenário: o Uzbequistão, o misterioso país da Ásia Central que foi república soviética e hoje é uma ex-ditadura tentando se abrir para o mundo A protagonista Yoko é a apresentadora de um programa tipo "Globo Repórter", mas ainda lhe faltam algumas décadas de experiência para ter o charme e o veneno de uma Gloria Maria. Ingênua, medrosa e sem carisma, ela tem uma espécie de epifania no meio de tanta mesquita e tanta montanha. Que bom para ela, porque eu não tive. Gostei muito de ver as paisagens uzbeques e de fato não me aborreci, mas não consegui uma conexão emocional com o filme. Acho que vou continuar evitando o cinema japonês.

sexta-feira, 20 de setembro de 2019

ESFAIMADA


A própria Elza Soares não sabe se nasceu em 1930 ou 1937. De qualquer maneira, a artista com o trabalho mais consistente e importante da música brasileira atual já passou dos 80. E continua à toa: menos de um ano e meio depois de lançar o ótimo "Deus É Mulher", Elza volta com mais um álbum fabuloso, "Planeta Fome". O título vem da resposta que ela deu a Ary Barroso, que perguntou de que planeta ela vinha quando Elza, ainda adolescente se apresentou no programa de calouros do famoso compositor. Mas abrange muito mais do que a carência de nutrientes. A cantora está com fome de justiça, de arte, de vida - e sacia o ouvinte com um repertório e uma produção um pouco mais acessíveis que nos trabalhos anteriores, graças a um novo time de colaboradores. Mas ainda é um som de vanguarda, com arranjos criativos e letras contundentes. Voz rascante, presença hipnótica, Elza já é uma entidade. E um sinal de que existe saída para o Brasil.

DIALÉTICA SOCRÁTICA

"Sócrates" está pronto há mais de um ano. Passou na Mostra de São Paulo de 2018, venceu o Mix Brasil e ainda foi indicado a três prêmios Independent Spirit, nos Estados Unidos: melhor filme, melhor ator e Someone to Watch, tipo revelação do ano, ganho pelo diretor Alexandre Moratto. E tudo isso antes da estreia oficial, que só acontece na próxima quinta-feira. Ontem eu consegui ver o filme em uma cabine para a imprensa, e estou impactado até agora. O Sócrates do título é um garoto de Santos de 16 anos, que vê o mundo se fechar para ele depois que a mãe morre. Perde a casa, não consegue emprego e ainda se envolve com um cara que não aceita a própria homossexualidade. Tudo isso é contado com poucas falas e imagens precisas, em apenas uma hora e dez. Feito quase que só no olhar por Christian Malheiros, o protagonista se debate entre as desgraças que o puxam para baixo e a vontade de sobreviver, e o resultado é uma porrada no estômago do espectador. Alex Moratto é mesmo alguém a se observar: fez um dos melhores filmes de um grande ano para o cinema brasileiro.

quinta-feira, 19 de setembro de 2019

ÓCULOS ESCUROS DENTRO DO CARRO

Tenho sido muito xingado no Twitter por minions que não gostam das minhas colunas contra a censura. Nem me dou ao trabalho de bloqueá-los: alguns eu silencio, outros nem isso. Vários perigam ser robôs, pois têm muitos números no nome e nenhum seguidor. Mas a maioria obedece a um padrão: homem, branco, classe média, meia idade, bandeirinha do Brasil, bandeirinha de Israel e óculos escuros dentro do carro. Por que essa obsessão em posar de óculos escuros? Por que dentro do carro? Eles acham que ficam transados? Aposto que tem incel no meio, apesar de defenderem a "família" (patriarcal, é claro). E nenhum, absolutamente nenhum, tem o hábito da leitura. Não fazem a puta ideia do que seja pontuação, não entendem o que é um jornal e têm raiva de quem sabe mais que eles. Mas preciso admitir: alguns óculos são transadíssimos.

A MORTA QUE FALA

Comecei a frequentar o teatro adulto no final dos anos 70, mas só agora que eu posso dizer: vi em cena todos os grandes atores brasileiros. Porque ontem finalmente eu tiquei o nome da Irene Ravache. Fui à estreia do monólogo "Alma Despejada" aqui em São Paulo, e confirmei tudo o que eu já sabia. Irene é uma estrela e uma enorme atriz (as duas coisas não vêm juntas), com pleno domínio do palco e da plateia. Mas o texto da peça é irregular. A protagonista é uma mulher que está na sala da casa onde viveu muito tempo, com as caixas da mudança espalhadas ao redor. Bastam algumas palavras para a gente saber que não é ela que está se mudando: morreu faz alguns anos, mas ainda visita sempre a família. Algumas passagens são engraçadíssimas, outras são pura filosofia. No entanto, quando a história se torna muito específica da personagem - o cunhado foi assassinado, o marido foi preso numa operação contra a corrupção - o espetáculo se torna banal. Parece que a autora Andrea Bassitt teve um monte de ideias e resolveu aproveitar todas (ou alguém insistiu que aproveitasse, para que as cenas ficassem as mais variadas possíveis). Enfim: o que importa é que eu vi Irene.

quarta-feira, 18 de setembro de 2019

WEVEWEVEWEVEWEVEWERTON

As redes sociais serviram para radicalizar o mundo e nos dividir ainda mais. Mas também funcionam como câmera de vigilância:  não fosse por elas, aposto que este infame projeto de reforma eleitoral teria sido aprovado pelo Congresso sem maiores problemas. Mas os senadores sentiram a pressão, e agora não querem mais permitir que candidatos paguem seus advogados com dinheiro público. Resta uma dúvida: por que o Ciro Gomes foi tão agressivo contra a deputada Tabata Amaral durante a tramitação da reforma da Previdência, mas não deu nem um puxão de orelhas no inacreditável senador maranhense Weverton Rocha, seu correligionário no PDT?

terça-feira, 17 de setembro de 2019

ARREGÕES VÃO ARREGAR

A viagem a Nova York já foi adiada em um dia. Biroliro tem feito a frágil diante das câmeras de TV. E a deputada Carla Zambelli lançou uma campanha para que ele desista de abrir a Assembleia-Geral da ONU, no próximo dia 24. Ou seja, o plano está se desenrolando conforme o previsto. Dessa forma, o Bozo escapa de um vexame, e o Brasil também. E eu colho as glórias de ter previsto que ele iria arregar. Mas não sou só eu: até os bebês já sabiam disso.

C.S.I. DO BANHEIRÃO

Quase todas as gueis bem relacionadas do Rio e São Paulo receberam por WhatsApp um vídeo supostamente gravado no banheiro da The Week. É uma suruba sem camisinha, e os rostos dos felizardos não aparecem. Foi o que bastou para desencadear uma cruzada moralista nas redes sociais, com bichas puras e superiores criticando o comportamento libertino de suas irmãs. Algumas, com a cabeça ainda na década de 1980, pregam contra a disseminação do HIV, como se não existissem o PrEP ou os tratamentos que tornam o vírus indetectável (ou seja, intransmissível). Hoje me mandaram um vídeo onde um dos rapazes do banheirão é identificado por causa da tatuagem que tem no peito. Descobriram seu nome e até seu perfil no Instagram, como se fosse um perigoso bandido que precisa ser eliminado. Por que não gravam vídeos dos batedores de carteira que atuam nas boates? Não dá para reclamar de Crivellas ou Malafaias quando temos inimigos desse calibre no meio de nós.

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

MEU NETINHO TERRORISTA


Não sei se fiquei mais exigente ou só chato mesmo, mas "Adeus à Noite" é o terceiro filme seguido que eu vejo cuja premissa é melhor do que a realização. A oitava parceria entre Catherine Deneuve e o diretor André Techiné ainda sofre de um certo atraso: fala da luta de uma avó para impedir que seu neto se junte ao Estado Islâmico, que já foi quase eliminado da face do planeta. A primeira hora é meio arrastada, e a agitação que vem depois não chega a tornar o filme realmente bom. Mas há Deneuve, como uma fazendeira: de cabelos escuros, com o glamour no mínimo (a zero ela não consegue), mas ainda e sempre Deneuve.

ETERNAMENTE EM BERÇO ESPLÊNDIDO

A direita gosta de espalhar que o atual clima de confronto na sociedade brasileira nada mais é do que uma reação natural aos anos de domínio do PT. É verdade que foi Lula quem deu o pontapé inicial no "nós contra eles", mas, tirando uns puxões de cabelo na Yoani Sánchez, a esquerda jamais partiu para as vias de fato contra seus críticos. Nunca houve antes um caso de escritor que não foi a um evento por causa de ameaças, como aconteceu há alguns meses com a Miriam Leitão (e olha que os petistas jamais gostaram dela). Hoje foi a vez do Felipe Neto cancelar sua participação no Educação 360. O vlogueiro até avisou que já tirou sua mãe do país. Claro que os minions vão dizer que tem treta aí, como dizem até hoje do Jean Wyllys (e não é uma graça eles não acreditarem que o ex-deputado vai dar aula em Harvard?). O que está acontecendo no Brasil é gravíssimo e é um indício óbvio de uma escalada fascista. E aí, vamos continuar dormindo até quando?

domingo, 15 de setembro de 2019

PERDIDO NA TRADUÇÃO


Só me animei a ver "O Tradutor" agora, depois que ele foi escolhido para representar Cuba no próximo Oscar. Depois de uma passagem discreta pelos cinemas, o filme está no Telecine Play, e vê-lo em casa talvez seja menos frustrante do que na telona. Porque não é grande coisa, apesar da boa premissa: no final da década de 1980, um professor de russo de Havana é deslocado para um hospital, onde servirá de intérprete entre os funcionários e os pequenos pacientes soviéticos, vítimas do desastre de Chernobyl. Rodrigo Santoro está fantástico como o protagonista, falando um espanhol com sotaque cubano quase perfeito e um russo que soa convincente (não sei avaliar). Também é surpreendente o alto padrão de vida do personagem, que mora numa casa ampla e confortável e faz compras com cupons em um supermercado repleto de artigos importados. O nível cai de repente, junto com o Muro de Berlim, levando Cuba a um buraco fundo de onde não saiu até hoje. O interesse pela trama também despenca: não há propriamente uma curva dramática, e os probleminhas que vão surgindo não justificariam um filme. Mas os letreiros finais esclarecem que os diretores são filhos do tradutor. Só eles mesmos para acharem que a vida do pai é uma epopeia cinematográfica.

sábado, 14 de setembro de 2019

ALGO DE PODRE NO REINO


A Dinamarca ainda não escolheu seu representante no próximo Oscar, mas periga ser "Rainha de Copas". O filme vem ganhando prêmios em festivais e tem um ótimo argumento: uma mulher de meia idade tem um caso com seu enteado adolescente, filho do primeiro casamento do marido, só porque ela pode e quer. Para piorar, ela é uma advogada esepcializada em abuso de menores. Infelizmente, roteiro e direção não estão à mesma altura. A história se arrasta ao longo da primeira hora, e só começa a ficar mais animada depois que Tryne Dyrholm - uma das atrizes mais desinibidas do mundo - cai de boca no que deve ser uma prótese. A personagem é de uma podridão só, capaz de qualquer coisa para se proteger. Merecia um filme melhor.

sexta-feira, 13 de setembro de 2019

SESSÃO DE TERAPIA

O repórter João Paulo Saconi, da revista Época, fez cinco sessões de coaching à distância com a terapeuta Heloísa Wolf, a sra. 03. O resultado foi esta matéria aqui, que só traz uma revelação surpreendente: na intimidade, o casal não é tão homofóbico como aparenta. Saconi se declarou gay e Heloísa não tentou "curá-lo", apesar de ter feito campanha pela chapa de Rozangela Alves no Conselho Federal de Psicologia. De resto, a moça se mostrou simpática e até um pouco indiscreta, dando detalhes do sogro. Terminado o tratamento de R$ 1.350,00, o jornalista avisou que iria publicar a reportagem, e Heloísa preferiu não acrescentar nada. Hoje Biroliro e o 03 estão fazendo escarcéu nas redes sociais, acusando Saconi de "se passar por gay" (ele é mesmo) e gritando que "a conversa deveria ficar entre os dois, por questão de ética". Quem não pode contar nada é o analista, não o analisando. E Saconi, na verdade, fez um test-drive nos serviços da bolsonora, coisa comum na imprensa mundial. O coaching que ela oferece é de uma bobagem estupefaciente, mas é bem-intencionado. Bem piores são as fake news espalhadas por sua nova família.

APESAR DE VOCÊ AMANHÃ HÁ DE SER

Não passaram nem 24 horas do "adiamento" de "Marighella", e eis que já temos um novo caso de censura. A embaixada brasileira no Uruguai, uma das patrocinadoras Cine Fest Brasil que acontece em outubro em Montevidéu, "pediu" que o filme "Chico: Um Artista Brasileiro" não fosse exibido na mostra. A nota do Ancelmo Góis n'O Globo não traz nenhuma razão para isto, mas fica patente a estupidez da nossa Chancelaria. Se tivessem deixado quieto, o documentário passaria por lá e quase ninguém ficaria sabendo. Agora temos uma notícia para agradar ao minguante gado bolsominion e estarrecer os demais brasileiros. Fora que os uruguaios, o povo mais liberal e educado da América Latina, devem estar se coçando para ver o filme proibido. Como há tempos que ele já existe em DVD (é de 2015), não duvido nada que um cineclube ou mesmo um bar promova uma sessão. Quem vai proibir quando o galo insistir em cantar?

ATUALIZAÇÃO: O Uruguai deu mais uma prova de que é um dos países mais bacanas do mundo. A produtora Inffinito, responsável pelo  Cine Fest Brasil, deu uma solene banana para a embaixada brasileira e avisou que VAI incluir "Chico" na programação do festival. Também vai perder o patrocínio, é claro, mas a liberdade tem seu preço. Que esta desobediência nos contamine.

quinta-feira, 12 de setembro de 2019

É CENSURA QUE CHAMA

A estreia de "Marighella" nos cinemas brasileiros estava prevista para abril passado. Com receio da euforia ainda reinante entre a minionzada pelo começo do governo do Despreparado, produtores e distribuidor preferiram esperar mais um pouco. Remarcaram a estreia para 20 de novembro, Dia da Consciência Negra. Aí começaram a surgir notícias de que a Ancine estava regulando um repasse de um milhão de reais para o lançamento e outras burocracias mil. Hoje, a estreia de "Marighella" foi mais uma vez cancelada. Ou adiada para abril de 2020, como explica a Cristina Padiglione nesta matéria em seu blog Telepadi. Tomara que esse imbroglio se resolva logo, porque eu estou doidinho para ver o filme - inclusive porque meu marido está nele. Mas, enquanto essa estreia não acontecer, estamos diante de um caso de censura. Ainda disfarçada, traiçoeira, olhando de soslaio. Mas não me venham com justificativas: essa joça tem cheiro de censura, cara de censura, gosto de censura. Então olha a censura aí, gente!

O ARMÁRIO DE VIDRO OPACO

É ótimo que famosos como Paulo Gustavo e Carlinhos Maia sejam assumidamente gays. Mas é péssimo que os dois tenham se recusado a beijar os próprios noivos quando se casaram, em festas fartamente cobertas pela imprensa. Paulo Gustavo tampouco incluiu um beijo na cena do casamento gay que estará em "Minha Mãe É Uma Peça 3", que deve estrear no fim do ano. Todos esses não-beijos se curvam a uma suposta lógica do mercado, que reza que os fãs desses comediantes assumidamente gays deixariam de sê-los se os vissem beijando outro homem. É a velha linha do "tudo bem você ser o que quiser, mas não na frente de todo mundo". Um armário moderno, de porta de vidro opaco, que só sugere o que tem dentro. E que vai na contramão da revolta da Bienal do Livro, mas combina com os móveis jecas com que o governo Bozo quer enfeiar o Brasil.

quarta-feira, 11 de setembro de 2019

A HÉRNIA PROVIDENCIAL

Biroliro não estava com dor nem nenhum problema sério por causa da hérnia que surgiu em seu abdômen. A cirurgia para retirá-la poderia ser realizada a qualquer momento, ou jogada para as calendas. Foi marcada para o mês em que começa a Assembleia Geral da ONU, tradicionalmente aberta pelo presidente do Brasil. Bozo diz que irá a Nova York mesmo em uma cadeira de rodas, mas o plot para que ele não "possa" viajar já está em andamento. Depois de dois dias de plena recuperação, hoje o Despreparado teve uma complicaçãozinha e divulgou esta foto aí ao lado, onde pelo menos seus dois ombros estão cobertos. Nos próximos dias, deve vai surgir um atestado médico proibindo-o de fazer qualquer coisa (já não faz mesmo), e ele será poupado do vexame no plenário da ONU, com embaixadores se retirando, imprensa internacional caindo de pau e manifestantes berrando do lado de fora.

A SÉRIO NA SÍRIA

Sacha Baron Cohen talvez seja o homem mais engraçado do mundo, e com certeza é o mais cara-de-pau. Comédias-reality como "Borat" e "Brüno" fizeram com que eu não consiga pensar nele sem ter vontade de rir. Mas esta ânsia amainou um pouco depois que eu vi "O Espião", minissérie em seis episódios que acaba de chegar na Netflix. Sacha faz seu primeiro grande papel dramático: Eli Cohen, o israelense que conseguiu se infiltrar na elite política e econômica da Síria no começo da década de 1960. Nascido no Egito e fluente em árabe, Cohen convencia tão bem como o comerciante Kamel Amin Thaabet que chegou ao posto de ministro da Defesa do arqui-inimigo de Israel. A história é real e eu já sabia como acabava quando comecei a assistir, o que não prejudicou em nada a tensão que a série transmite. Com ótima reconstituição de época, "O Espião" discute vaidade, amor à pátria e até que ponto um Estado pode exigir sacrifício de seus cidadãos. Também fará com que Sacha Baron Cohen seja levado a sério.

terça-feira, 10 de setembro de 2019

MARKETING DO ÓDIO

Era uma vez uma pequena cervejaria do sul do Brasil. Sem dinheiro para uma grande campanha publicitária nem um diferencial forte para seu produto, seus donos resolveram apelar. Publicaram o banner ao lado em sua página no Facebook, na esperança de receber pedidos de todo o país. Os comentários negativos se acumularam, e os homofóbicos postaram que estão sendo vítimas da intolerância, ai que dó. Parece até que estamos na Polônia. Processo neles?

KIMFIM

Shippei aí no título os deputados federais Sâmia Bonfim (PSOL-SP) e Kim Kataguiri (DEM-SP), mas não fluiu. A conversa entre os dois deu mais certo: é o segundo episódio da série "Fura Bolha", do Quebrando o Tabu. Vai ser triste para os minions ver que eles se tratam com cortesia na vida real, e um alívio para os civilizados como nós perceber que nem tudo está perdido. Também é bacana ver que o fralda-marrom está aos poucos se tornando hominho, deixando para trás as molecagens que marcaram os primórdios do MBL. Tomara que seja para valer.

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

NO MAMES, GÜEY


Para que a plateia torça por um protagonista bandido, ele precisa ser simpático, charmoso ou pelo menos ter um ótimo motivo para ser do mal. Cagalera, o pivete violento e covarde de "Chicuarotes", não é nada disso. Não dá nem para culpar o meio de onde ele vem: seu irmão gay e gorducho é pacato e quase um intelectual. Palmas para Gael García Bernal, que não quis sequer criar um anti-herói neste filme que dirigiu. "Chicuarotes" bebe da fonte de "Amores Perros", "Cidade de Deus" e outros tantos títulos que tratam da miséria e da marginalidade. O México que aparece na tela é horrendo. Masculinidade tóxica é elogio para os brutamontes que ditam o ritmo de uma pequena cidade na periferia da capital, e Cagalera será um deles no futuro. Cabe às mulheres mudar o curso da história, e tanto a mãe como a namorada do personagem o fazem. "Chicuarotes" não é propriamente agradável de se ver - mas propõe uma reflexão interessante, güey.

O PAÍS A FAVOR DE FELIPE

Ainda estou sob o impacto da atitude madura e progressista do Felipe Neto nesse auê da Bienal do Livro. Se eu não tivesse idade para ser pai dele, estaria apontando o youtuber aos marcianos que me pedissem "levem-nos ao seu líder". Mas claro que o rapaz não é unanimidade. O deputado federal Carlos Jordy (PSL-RJ) - o mesmo que, em março passado, tentou jogar em Felipe a culpa pelo massacre na escola de Suzano (!!!) - subiu no Twitter a hashtag #PaisContraFelipeNeto, só para vê-la explodir na sua mão feito a bomba do Riocentro. Os apoiadores do vlogueiro tomaram-na dos minions e bots, em mais uma vitória do Bem contra o Mal. Só que essa não é a única investida contra Felipe Neto: tem muito gado mugindo nas redes que ele "apresenta as crianças ao mundo dos travestis" e outros absurdos do gênero. O fato é que essas fake news só atingem quem já não gostava do cara, e pouco abalam seu enorme fã-clube. Mais triste é ler críticas de gente que nem é bolsominion, mas acusa Felipe de "querer se promover" e/ou de surfar na modinha LGBT, já que em priscas eras ele fez vídeos contrários aos direitos igualitários. Tem também os sommeliers do bolso alheio, que o criticam por não dar dinheiro às escolas carentes ou para reaparelhar a polícia, funções que cabem ao Estado. Aliás, fica a dica: quando você se deparar com esse tipo de "whataboutism", fuja em desabalada carreira. É a pessoa que o faz que tem todos os defeitos que quer denunciar nos outros.

domingo, 8 de setembro de 2019

STONEWALL IN RIO

Bem-feito pro Bozo. Planejou um 7 de Setembro onde ele seria a grande estrela. Chamou Silvio Santos, Edir Macedo e o Véio da Havan para coadjuvantes, desfilou no chão tentando sugar um pouco da popularidade de Sergio Moro, regeu os Dragões da Independência. E foi ofuscado pela molecada na Bienal do Livro, que fez passeata e gritaria contra a censura de Marcelo Crivella, e por um líder inesperado: Felipe Neto. Hoje finalmente o STF deixou claro que ninguém pode recolher livro nenhum, mas a Prefeitura do Rio ainda fez jogo de cena dizendo que vai entrar com recurso. Eles mesmos sabem que não vai dar em nada, mas o objetivo sempre foi apenas impressionar os trogloditas que querem que a homofobia seja política do Estado. Crivella não tem nada a apresentar em sua campanha de reeleição, então apela para o que há de mais baixo na humanidade. Doria, que foi pelo mesmo caminho, agora diz que não precisa pegar tão pesado assim. Pesado pegaremos nós: com a liberdade de expressão não se brinca, muito menos com a cidadania plena. Homofobia é crime e casamento entre pessoas do mesmo sexo é legal. Se a sua religião acha feio, problema dela. Ontem rolou um Stonewall na Bienal do Livro, e foi só um aperitivo. Outros virão.

sábado, 7 de setembro de 2019

UM PREFEITO DE QUINTA

Naquela quinta-feira, Marcello Crivella acordou super bem-disposto. O prefeito do Rio de Janeiro se sentia ainda mais cheio de energia e amor do que de costume, e com uma vontade avassaladora de fazer algo especial pela cidade. Mas por onde começar? Qual problema urgente mereceria mais a sua atenção?

Um assessor lembrou da saúde pública, e Crivella pediu a seu motorista para tocar para um hospital municipal. "Vou dar uma incerta, chegar sem avisar", pensou, com um toque de malícia. Logo depois, se arrependeu. "Isto não é muito cristão de minha parte".

O prédio havia sido reformado recentemente e luzia de novo. O brilho do chão chegava a incomodar. No saguão amplo e arejado, algumas poucas pessoas iam de lá para cá, sem pressa nem aflição.

O alcaide foi até a recepção e pediu para falar com o diretor. "A diretora", corrigiu a recepcionista, portadora da síndrome de Down. Em seguida apareceu a dra. Cleusa, negra, lésbica, gorda a umbandista. Crivella conteve a supresa e perguntou: "Algum problema, senhora diretora? Em que podemos lhe ajudar?" 

Cleusa suspirou. "De fato, estamos com um probleminha", admitiu ela. "Há vagas sobrando. Minha equipe está ociosa. O pior é que o hospital estadual do bairro vizinho também está, e eles vêm até aqui para roubar os meus pacientes. Chegam a oferecer dinheiro para o pessoal se internar lá. Só ontem perdi dois!"

Crivella sorriu desanimado, disse que não podia fazer nada e despediu-se. Do hospital, rumou para uma comunidade carente. Quem sabe, lá ele conseguiria dar vazão aos ímpetos benfazejos que formigavam por todo seu corpo?

Qual o quê. Ruas asfaltadas e arborizadas, crianças na escola, comércio funcionando. Nada de esgoto a céu aberto. Nem uma única bala perdida. Uma monotonia só. "Maçada!", resmungou o prefeito, com cuidado para ninguém ouvir.

Na saída, ainda teve que se desvencilhar do pessoal de uma escola de samba, que o homenageou com o samba-enredo do ano que vem. Convidaram-no a desfilar. "Não sei se consigo, oito escolas já me chamaram", riu, sem graça. 

Disfarçando a irritação, Crivella entrou no carro oficial e pediu sugestões ao seu staff. Um colégio? Todos a plena vapor, atraindo alunos da rede particular. Uma delegacia? Quase todas viraram balcões de informações para turistas. Uma praia? Limpas, seguras, uma chatice. Fora que está nublado, não rende foto boa.

Começou a bater o desespero. Com mais de um ano de mandato pela frente, Marcelo Crivella se aterrorizou com o tédio que se aproximava a passos largos. Quer dizer, então, que não havia mais nada que ele pudesse fazer pelos cariocas? Nenhuma questão a ser resolvida? Como preencher tanto tempo? 

Foi aí que seu celular soltou aquele "ping" característico de mensagem entrando. Sem muita esperança, Crivela desbloqueou a tela do aparelho e entrou primeiro no aplicativo, depois no grupo. Então seus olhinhos se iluminaram. Bem à sua frente, descortinou-se aos poucos uma ilustração. Dois rapazes se beijando.

INFLUENCIADOR PARA VALER


Como qualquer pessoa acima dos 30 anos e com mais de dois neurônios na cabeça, eu achava o Felipe Neto um babaca até meados do ano passado. Não que eu prestasse muita atenção nos seus vídeos, mas o pouco que eu vi me bastou para arquivá-lo no meu almoxarifado mental. Aí, depois que o Bozo foi eleito, Felipe se revelou não só um rapaz dotado de senso crítico e inteligência, como um autêntico líder. Um influenciador que vai além do digital. Haja vista a ação que ele promove hoje na Bienal do Livro do Rio de Janeiro: a distribuição gratuita de 14 mil livros de temática LGBT. O que va ter de adolescente lendo essas páginas e se dando conta de que não é pecado ser gay, lésbica ou trans me enche o coraçãozinho de esperança. São reações épicas como esta que vão fazer oportunistas feito Doria ou Crivella perceberem que estão apelando para uma faixa ínfima do eleitorado. Enquanto estivermos vivos e com gente como Felipe Neto do nosso lado, esses retrocessos no pasarán.

sexta-feira, 6 de setembro de 2019

ALL MY TROUBLES SEEMED SO FAR AWAY


Toda a graça de "Yesterday" está no trailer. O roteiro não sabe o que fazer da ótima premissa: como seria um mundo onde quase ninguém se lembrasse dos Beatles? Jack Malik lembra e, graças a isso, passa de cantor de barzinho a superstar global em apenas um mês. Legal, né, mas e daí? Só os conflitos mais óbvios: a namorada de anos acha que está sendo esnobada, e Jack se sente culpado por estar mentindo. Não ajuda muito o ator Dimesh Patel não ser bonito, carismático ou mesmo um grande intérprete. Ele não teria cadeiras viradas no "The Voice", porque não passa do nível de... cantor de barzinho. Mas o filme traz várias piadas inteligentes, uma simpática participação de Ed Sheeran e um momento realmente tocante, que eu não posso dizer o que é. Pairando sobre tudo, a glória da música dos Beatles. Isso não é pouco, só que não é cinema.
Sabe o que é melhor do que "Yesterday"? "Tiozão", o vídeo produzido pelo Porta dos Fundos para promover o filme. Um exemplo de branded content bem feito.

LACRADO E RECOLHIDO

Quase todo político diz coisas que ele sabe serem inviáveis, só para agradar seu eleitorado mais fiel. Mas o prefake Marcelo Crivella foi longe demais, porque não demorou para quebrar a cara. O suposto bispo gravou um vídeo avisando que ia mandar a Bienal do Livro recolher "Vingadores - A Cruzada das Crianças", uma graphic novel da Marvel onde aparecem dois caras se beijando, "para proteger nossas crianças". O que chegou na Bienal foi uma notificação extrajudicial pedindo para que o tal gibi fosse embalado. E a Bienal respondeu que hahaha ocê num manda inheu. Não vai recolher nem embalar porra nenhuma, e Crivella teve a boquinha lacrada e foi recolhido à sua insignificância.

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

ARAS BOLAS

Augusto Aras é uma escolha lamentável para a PGR. Mas esta indicação do Biroliro tem um lado positivo: deixa claro para a minonzada que o mito deles não está nem aí para a Lava-Jato ou qualquer forma de combate à corrupção. O que o Despreparado quer mesmo é blindar a si mesmo e à sua família contra qualquer investigação bisbilhoteira, que revele das rachadinhas aos laços com as milícias. O Bozo, no fundo, não tem nada de ideológico, muito menos de patriota. Tudo o que ele almeja é se dar bem. Quem lê jornal já sabia disso, mas que bom que essa notícia finalmente chegou ao gado.

PERDÓN, SEÑORA

Este é o novo normal: agora, toda semana, os brasileiros de bom senso e boa educação temos que pedir desculpas a alguma figura estrangeira pelas grosserias do Despreparado. Depois da madame Macron, o alvo da vez foi Michelle Bachelet, ex-presidente do Chile e atual Comissária de Direitos Humanos da ONU. Nicolás Maduro também reagiu quando ela apontou os muitos abusos cometidos na Venezuela. Mas o Bozo conseguiu ser pior do que o ditador: tripudiou que o pai de Bachelet foi morto pelo regime de Pinochet. É de uma baixaria sem limites e indigna até dos brasileiros que votaram nesse estrupício. Pelo menos foi lindo ver Sebastián Piñera e outros nomes da direita do Chile cirticarem Biroliro, mostrando que conservadorismo e boçalidade não são necessariamente a mesma coisa. No mais, como diz minha amiga Mariliz Pereira Jorge: fala mais, Bostonaro. Porque, a cada barbardidade proferida, sua popularidade desaba mais um pouquinho.

quarta-feira, 4 de setembro de 2019

PACHÁ E CAUXI

O Cauxi está de volta. Depois de morar conosco entre 2012 e 2013, o gato amazonense da minha enteada voltou a São Paulo. Junto com ele chegou o Pachá, um siamês nascido em Brasília. Habituado a viajar e a trocar de estado, Cauxi foi despachado e desembarcou como se nada. Explorou a casa e está à vontade. Já o Pachá encarou um avião pela primeira vez. Veio na cabine junto com meu marido e se escondeu embaixo de um móvel assim que saiu da bolsa. Só agora que anoiteceu é que ele se aventurou a conhecer o apartamento. Os dois vão estranhar muito: até a manhã de hoje, moravam em uma casa nos arredores de Cavalcante, na Chapada dos Veadeiros. Agora vivem na região da av. Paulista. Só sairão daqui quando minha enteada, que está de mudança com a família para Lisboa, puder recebê-los por lá. Nesse momento, seria trabalheira demais. Já bastam duas crianças. Melhor para mim, que voltei a ter a casa cheia de bichos.

PRETINHO BÁSICO

Sábado é dia de usar preto pelo Brasil. Biroliro convocou o gado a vestir verde e amarelo "em defesa da Amazônia", o que não faz sentido: todo mundo sabe que foi ele quem deu o aval para grileiros e madeireiros tacarem fogo na mata. Portanto, vamos sair de luto pela pátria chamuscada. Mas também porque preto emagrece e cai bem, e a elegância é um insulto para aqueles que não a tem.

terça-feira, 3 de setembro de 2019

FURACÃO DORIA

Não votei em João Doria para prefeito. Não votei em João Doria para governador. Mas talvez tenha que votar nele para presidente, se o outro candidato disputando o segundo turno de 2022 for o Biroliro. Doria está se movimentando para capturar o voto dos minions arrependidos, tentando se mostrar como um moderado e até encampando as pautas medievais desse eleitorado. Hoje ele mandou recolher um livro escolar que, supostamente, defende a ideologia de gênero, uma quimera da direita que não existe na vida real. Era um material para adolescentes, sem ilustrações e com definições claras de termos como "cisgênero". Doria não é um brucutu como o Bozo e sabe que não é a ausência de um livro que vai impedir que surjam gays e transexuais. Mas dá provas de cinismo e falta de escrúpulo ao destilar homofobia, ainda que de forma sutil. É um furacão no pior sentido da palavra: um desastre de categoria 5, capaz de destruir o que estiver no caminho para alcançar seu objetivo.

BORSCHT SEM CARNE


Não sei o que aconteceu, mas os filmes franceses estão chegando mais depressa no Brasil. Antes só vinham os premiados e as grandes bilheterias, muitas vezes com um ano de atraso. Agora eles entram em cartaz por aqui meros dois meses depois de estrear em Paris, e podem não ser grande coisa. É o caso de "Minha Lua de Mel Polonesa". O trailer acima vende uma comédia: um casal de judeus franceses - ela religiosa, ele nem tanto - vai passar uns dias em Cracóvia, na Polônia, gerando confusão e gargalhadas. O filme em si é bem mais sério: a moça procura traços da avó, que nasceu na Polônia, e está mais interessada em uma homenagem às vítimas do Holocausto do que em fazer turismo. Acontece que, como em outros filmes de temática judaica, não se fornece uma chave emocional para os goyim entrarem na história. Para mim o resultado ficou bem aquém do esperado, como a sopa borscht sem pedaços de carne que irrita a protagonista em um restaurante típico.

segunda-feira, 2 de setembro de 2019

BAIXO AUGUSTO

Augusto Nunes nem vai lembrar, mas ele foi muito gentil comigo nas duas vezes em que eu participei do "Roda Viva", na época em que ele comandava o programa. Me recebeu muito bem, me deu dicas preciosas e, durante a transmissão, fazia gestos discretos avisando que eu seria o próximo a falar. Não me alinho politicamente com ele, mas é bom para a democracia que nem todos pensem igual. Só que agora Augusto Nunes foi longe demais. Em um comentário na rádio Jovem Pan, o jornalista sugeriu que os filhos de Glenn Greenwald e David Miranda deviam ser encaminhados para o Juizado de Menores, já que os dois pais trabalham fora e, portanto, não têm tempo de cuidar das crianças. É isso mesmo que você leu. Como é que ficam, então, os bilhões de casais héteros que têm filhos mas também trabalham fora? Nunes não teria feito esse comentário asqueroso se Greenwald fosse de direita, ou heterossexual. Mas fez, e transmitiu homofobia, partidarismo e canalhice em poucas palavras. Concordo com o Gilberto Dimmenstein do Catraca Livre, no vídeo aí em cima: perdi o respeito por Augusto Nunes. E respeito é como virgindade. Perdeu, está perdido para sempre.

SHIPPAR É NORMAL

Precisou que a Fernanda Young morresse para eu criar vergonha na cara e terminar de ver a primeira (e, provavelmente, única) temporada de "Shippados", disponível desde junho na Globoplay. A série é mesmo ótima. Tatá Werneck está incrível como a séria-quase-chata Rita. A sacada dos namorados que vivem pelados é genial (palmas para a desinibição de Clarice Falcão e Luís Lobianco). E onde estava Rafael Quiroga nesses anos todos, que só agora eu percebi sua existência? Só que "Shippados" não é, como eu cheguei a imaginar, uma versão 2.0 de "Os Normais". Aquele primeiro grande sucesso de Fernanda e seu marido, Alexandre Machado, falava do cotidiano dos eternamente noivos Rui e Vani, juntos há muito tempo. Já "Shippados" mostra um casal em vias de se apaixonar: as surpresas, as inseguranças, as pequenas decepções, o amor que acaba florescendo. Não é curioso? Fernanda e Alexandre assinaram juntos sua primeira sitcom quando já conviviam há oito anos, e claro que havia muito deles em Vani e Rui. Mas sua última série fala da descoberta do amor, depois de quatro filhos e mais de 25 anos de uma história em comum. Que fecho mais lindo para o ciclo.

domingo, 1 de setembro de 2019

GUSTAVO BOLADO

Não duvido nada que os minions que interromperam o show de Gustavo Mendes em Teófilo Ottoni, na sexta passada, tenham se confundido. Compraram ingresso achando que iam ver o cara que faz a Dilma Bolada, Jeferson Monteiro - este sim um puxa-saco assalariado do governo petista. Gustavo também tem sua versão de Dilma Rousseff, mais crítica à ex-presidente, além de tirar sarro de Temer e Biroliro. Foi justamente quando fez piada com o Despreparado que o gado mugiu na plateia. Seguiu-se um bate-boca do comediante com parte do público, uma debandada e uma escolta da PM para garantir a segurança de Gustavo. Essas milícias do apupo estão se sentindo empoderadas, depois de impedirem a ida da Miriam Leitão a uma feira do livro em Santa Catarina ou buzinarem durante a palestra do Glenn Greenwald em Paraty. Mas não estão habituadas a uma resposta na lata como a de Gustavo no palco, nem com esse vídeo irado aí acima. É bom essa matilha jair se acostumando: bolados estamos quase todos.