sexta-feira, 30 de agosto de 2019

O ACUSADO

O movimento #MeToo conseguiu quebrar a impunidade que protegia abusadores contumazes como Harvey Weinstein e David Cosby. Mas, como toda revolução, também exagerou na dose. É preciso uma boa dose de histeria, por exemplo, para achar que Aziz Ansari estuprou uma moça que só no dia seguinte revelou que não estava a fim - e pela internet, não na frente dele. Woody Allen, então, ao meu ver é um injustiçado: não acredito em uma só palavra de Dylan Farrow, a filha de Mia de quem ele supostamente abusou quando ela era criança. Em uma zona mais cinzenta está Roman Polanski. O diretor polonês voltou a ficar em evidência com "Era Uma Vez... em Hollywood", que trata do assassinato de sua então mulher, Sharon Tate. E agora está no olho do furacão por causa de seu filme "J'Accuse", em competição no festival de Veneza. A presidente do júri, a argentina Lucrecia Martel, se recusou a comparecer à sessão de gala, mas acha OK que o longa concorra, "para abrir o diálogo". O próprio Polanski, hoje octagenário, nem se abalou de sua casa na Suíça, para não ter que lidar com a imprensa pentelha. Não deve aguentar mais perguntas sobre o que aconteceu em 1977, quando transou com uma menina de 14 anos, levada a uma festa em sua casa pela própria mãe. Para quem se horroriza com o caso, eu respondo: anos setenta, beee. Os tempos eram outros. A suposta vítima, hoje uma senhora, já disse que são águas passadas, mas Polanski continua impedido de pisar nos EUA e até a Academia ameaçou expulsá-lo (depois voltou atrás). Não vou cair na bobagem de dizer que o cara deve ser inocente porque seus filmes costumam ser ótimos. Mas também não vou deixar de ver "J'Accuse", que é sobre o infame caso Dreyfuss: o militar francês e judeu acusado injustamente de traição, no final do século 19. A história se repete?

11 comentários:

  1. Acérrima defensora do movimento Metoo, só os americanoides para desvirtuarem o conceito. "Long long time ago a fairytale..." bla bla bla. Chega. Deixem o senhor, os seus filmes, o CINEMA em paz.

    Beijinho e abraço, Tony.

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  2. Tony e as outras "vítimas" de Polanski?

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    1. Houve outras denúncias de abuso, nenhuma com provas.

      Polanski está casado há mais de 30 anos com a atriz francesa Emmanuelle Seigner, e parece que sossegou o facho.

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    2. Epstein, Weinstein, Polanski. Hashtag Hitler was right??

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  3. Tony por que achas que nos anos 70 ninguém se escandalizava com denúncias de abuso sexual e pedofilia?Pareciam mais tolerantes,inclusive a Brookie Shields pousou nua aos 10 anos e fez cenas de nudez aos 13 interpretando uma prostituta no filme "Pretty Baby",algo inimaginável nos dias de hoje

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    1. Porque o espírito do tempo era libertário. Contra a caretice, as regras da Igreja, o conservadorismo em geral.

      Pagou-se um preço alto: AIDS, dissolução de casamentos, etc.

      Mas ni mim esse espírito não morreu. Aliás, com esse reacionarismo vigente em boa parte do mundo, vai voltar com tudo em breve.

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  4. Wow, vi no texto acima dois exemplos daquele machismo cultural que sutilmente vem à tona até mesmo nas gays com anos de vivência e que se dizem libertárias. O primeiro é o caso do Woody Allen, de desacreditar a filha da outra, porque o Machismo sempre tenta culpar a vítima, né? Polanski tb. Quando vc diz que o cineasta polonês é acusado de transar "com uma menina de 14 anos, levada a uma festa em sua casa pela própria mãe..." Novamente me passou a impressão de que toda a desconfiança recai naquela que seria a vítima da história, juntamente com a mãe. Parece mais aquele papo cretino das caretas que dizem: "ahhh, ela foi abusada, mas quem mandou sair pra balada toda decotada?" Sei não, curto muito os dois cineastas em questão, jamais deixarei de assistir um filme deles, mas não é porque os admiro que tento desacreditar quem as acusa de abuso sexual, sendo que os dois têm um currículo bastante movimentado nesse quesito, né? Sei não... Tem cheiro de Machismo internalizado aí, meu caro. Ou um pouco daquela paixão que sempre tenta ficar ao lado do "amigo" ou de quem se admira. Ou não?

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    1. Os casos de Allen e Polanski são muito, muito diferentes.

      Woody Allen foi acusado por Dylan, então com uns sete anos, bem na época em que largou Mia Farrow pela filha adotiva dessa, Soon-Yi (não de Woody).

      Mia tinha boas razões para ficar putaça. Já li muito a respeito desse caso, e concluí que ela fez a cabeça da menina. Woody foi acusado formalmente, julgado e absolvido. Não há um único caso de abuso sequer na ficha dele. É bom lembrar que, quando uma mulher rompe o silêncio, geralmente vem umas 200 atrás.

      Na década de 70, não era um horror absoluto uma mãe levar a filha e 13 anos a uma festa de adultos. Os tempos eram outros, a moral também. Estamos julgando pelas lentes de hoje. Claro que comer menor de idade naquele época já era crime, e Polanski teve que fugir dos EUA. Ele teria que pagar de alguma maneira, coisa que nunca fez. Mas tratá-lo feito um tarado perigoso, acho um pouco demais. Perigosos eram Weinstein e Cosby.

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