sábado, 31 de agosto de 2019

A MALUCA DE DEUS

A igreja do Imaculado Coração de Maria lotou para a missa de sétimo dia de Fernanda Young. Famosos de diversas áreas, amigos de várias fases da vida e maluquetes em geral foram abraçar a família e rezar pela escritora. Tinha uma trans belíssima, um cara de vestido e outro de tiara de orelhinhas. Quase o coquetel de abertura de um vernissage punk em uma galeria alternativa. Mas era missa mesmo, celebrada por um padre moderno que ressaltou que Fernanda e o marido Alexandre ajudaram muito na restauração da igreja centenária, perto da casa deles. Pois é, galera: além de tudo, Fernanda Young era católica praticante. Uma maluca de Deus, e não há nada de contraditório nisso. Católico quer dizer universal; universal quer dizer para todo mundo. Mas há setores fortes no Vaticano que fingem não saber disso e pregam a exclusão. O discurso do padre sobre Fernanda me emocionou às lágrimas, e de repente eu me senti acolhido pela Igreja onde fui criado - e de onde saí por vontade própria, por não compactuar com o machismo e a homofobia explícitos. Mas na manhã de hoje, no Imaculado Coração de Maria, me deu vontade de fazer algo que eu não fazia há muito tempo: comungar. Comunguei. Comuniquei-me, como diz a raiz latina. Depois parentes e amigos deram depoimentos, e Rita Lee - grisalha, curvada, voz tênue - leu a letra de "O Hino dos Malucos", de Fernanda e Alexandre. Na saída, após beijos e abraços, ainda ganhei um saquinho de balas e outro com sal grosso e um líquido que eu ainda não descobri o que é. Manias de Fernanda. Também levei para casa uma rosa amarela e um poster com a imagem aí em cima - do outro tem o "Poema do Menino Jesus", lido na voz de Maria Bethânia em uma gravação que abriu os trabalhos. Saí mexido, surpreso com o meu catolicismo renitente. Fernanda Young me fez voltar a comungar. A maluca de Deus continua realizando milagres.

sexta-feira, 30 de agosto de 2019

FAZENDO O EGÍPCIO

Otávio Frias Filho escreveu "Tutankáton" em 1990, entre a queda do Muro de Berlim e o fim da União Soviética. Ele mesmo dizia que a peça não era para ser montada, mas declamada; por alguma razão misteriosa, só agora, um ano depois de sua morte, é que o texto ganha vida no palco. A montagem de Mika Lins é austera e rigorosa, ao mesmo tempo em que amacia uma possível aridez. Figurinos e caracterizações são espetaculares, evocando o antigo Egito do jeito mais minimalista, e a música pontual também é impactante. O elenco negro foi uma escolha acertada em todos os sentidos: político, estético, artístico, com destaque para o veterano Augusto Pompeo. A única branca é Bete Coelho, amiga pessoal de Otávio, que faz uma impressionante vidente cega. E, com o passar dos anos, "Tutankáton" adquiriu novos significados. Para quem não lembra: o jovem faraó que hoje chamamos de Tutancâmon foi possivelmente morto por um complô palaciano, que queria substituir a nova religião monoteísta (o deus único era Áton, o disco solar) pelos velhos deuses de antes. OFF escreveu pensando na erosão do sonho da esquerda, abalada com o fim da utopia socialista. Mas, no Brasil de 2019, os sacerdotes do antigo culto parecem o entorno do Biroliro, que quer fazer o país retroceder 50 anos. "Tutankáton" é das grandes peças do ano e precisa ser vista. Pena que ficou só quatro semanas em cartaz: a última récita é neste domingo.

O ACUSADO

O movimento #MeToo conseguiu quebrar a impunidade que protegia abusadores contumazes como Harvey Weinstein e David Cosby. Mas, como toda revolução, também exagerou na dose. É preciso uma boa dose de histeria, por exemplo, para achar que Aziz Ansari estuprou uma moça que só no dia seguinte revelou que não estava a fim - e pela internet, não na frente dele. Woody Allen, então, ao meu ver é um injustiçado: não acredito em uma só palavra de Dylan Farrow, a filha de Mia de quem ele supostamente abusou quando ela era criança. Em uma zona mais cinzenta está Roman Polanski. O diretor polonês voltou a ficar em evidência com "Era Uma Vez... em Hollywood", que trata do assassinato de sua então mulher, Sharon Tate. E agora está no olho do furacão por causa de seu filme "J'Accuse", em competição no festival de Veneza. A presidente do júri, a argentina Lucrecia Martel, se recusou a comparecer à sessão de gala, mas acha OK que o longa concorra, "para abrir o diálogo". O próprio Polanski, hoje octagenário, nem se abalou de sua casa na Suíça, para não ter que lidar com a imprensa pentelha. Não deve aguentar mais perguntas sobre o que aconteceu em 1977, quando transou com uma menina de 14 anos, levada a uma festa em sua casa pela própria mãe. Para quem se horroriza com o caso, eu respondo: anos setenta, beee. Os tempos eram outros. A suposta vítima, hoje uma senhora, já disse que são águas passadas, mas Polanski continua impedido de pisar nos EUA e até a Academia ameaçou expulsá-lo (depois voltou atrás). Não vou cair na bobagem de dizer que o cara deve ser inocente porque seus filmes costumam ser ótimos. Mas também não vou deixar de ver "J'Accuse", que é sobre o infame caso Dreyfuss: o militar francês e judeu acusado injustamente de traição, no final do século 19. A história se repete?

quinta-feira, 29 de agosto de 2019

CHURRASQUINHO GREGO

Quantos vídeos do surubão de Mykonos você viu? Eu já recebi quatro, mas o último - o mais nítido e explícito de todos - pode ter sido gravado em qualquer lugar. E quantos conhecidos ou ex-peguetes você já identificou? Tem muita guei online lívida com o que viu, como se esse povo fosse para a Grécia para comer moussaka. Também conheço quem já esteja economizando para viajar para lá no ano que vem. Acho uma baita sacanagem alguém entrar numa orgia dessas com celular na mão e sair gravando (não que os convivas pareçam se importar), e uma sacanagem maior ainda postar os filminhos no WhatsApp. Mas eu vi com prazer e curiosidade, e repassei para alguns amigos. Nessas horas, sou que nem o The Intercept: não fui eu quem hackeou, mas o conteúdo é de interesse público.

BATENDO NAS INSTITUIÇÕES

Os candidatos a tirano dos dias de hoje não dão golpes de estado nem põem tanques na rua. Primeiro eles são eleitos pelas regras democráticas, depois começam a golpear as instituições pelo lado de dentro, para aumentar o próprio poder. Foi o que aconteceu na Turquia, na Venezuela e na Hungria, países sem tradições liberais. Nos EUA, Trump faz o que pode, e é imitado por Biroliro aqui no Brasil - mas ambos encontram em si mesmos seus piores inimigos. Agora é a Itália, em eterna barafunda política, que se defende do ataque da extrema-direita de Matteo Salvini, e até o próprio Reino Unido, pátria da democracia constitucional, onde Boris Johnson levou apenas um mês para tirar a máscara. Mas lá parece que a porrada da suspensão do Parlamento não vai dar certo. O Financial Times, o Hugh Grant, a primeira-ministra da Escócia, a opsição e uma petição com mais de um milhão de assinaturas já exigem a queda de Johnson. É um sinal da saúde das instituições britânicas. Uma saúde tão robusta que, às vezes, funciona contra o país: são a insistência em aceitar o referendo de 2016 e a relutância em convocar um novo pleito que mantêm viva a ameaça do Brexit.

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

O ESTADO SOU EU

"Patrimonialismo" não é uma palavra muito frequente no nosso vocabulário cotidiano. Mas quase todos os presidentes brasileiros foram patrimonialistas: agiram como se o Estado fosse propriedade privada deles. Quem lembra dos arbustos vermelhos no Palácio da Alvorada sob Lula, podados em formato de estrela? Esse abuso de autoridade foi redefinido com sucesso no desgoverno do Despreparado. O exemplo mais óbvio é a indicação do 03 para a embaixada nos EUA, digna de emirado árabe ou ditadura africana. Agora o Bozo condiciona a aceitação da ajuda monetária do G7 para combater as queimadas na Amazônia a um pedido de desculpas do Macron. Para começar, não foi só a França quem ofereceu esse dinheiro, e ele não é só para nós: seria repartido entre os nove países amazônicos. No entanto, mesmo que fosse um presente francês exclusivo para o Brasil, Biroliro não pode agir como se a grana fosse não para a preservação do meio ambiente, mas para o bolso dele. Ou vai ver que vai?

terça-feira, 27 de agosto de 2019

A ESCOLHA VISÍVEL

Meu chute da semana passada se mostrou correto. A Academia Brasileira de Cinema escolheu "A Vida Invisível" para representar o Brasil no próximo Oscar. O filme de Karim Aïnouz perdeu o "de Eurídice Gusmão" do título, o que vai facilitar seu marketing, e já tem muita coisa a favor. Como a distribuição da Amazon nos EUA, ou a presença de dois veteranos do Oscar: Fernanda Montenegro no elenco e Rodrigo Teixeira na produção. A disputa com "Bacurau" foi acirrada, cinco votos a quatro. Torçamos para que essa escolha seja tão certeira como meu chute.

MUSIC MAKE YOU LOSE CONTROL

Adoro uma cerimônia de premiação, mas faz muito tempo que eu não sento diante da TV para encarar um VMA. Prefiro catar as melhores apresentações no dia seguinte: afinal, foi para isto que Deus criou a internet. O show mais espetacular costuma ser o do ganhador do prêmio Video Vanguard, e ontem não foi diferente. Efeitos, cenários e figurinos elevaram a eterna feat. Missy Elliott à categoria de superstar, e olha que ela não emplaca um hit há uns 15 anos.
Outra preta gorda que se destacou foi a adorável Lizzo, minha crush do momento. Vozeirão, carisma e uma sensualidade totalmente à vontade dentro do corpanzil.
Mas a tônica da noite foi mesmo a infiltração da música latina no pop americano. Teve J Balvin, Camilla Cabello, CNCO e, pairando acima de todos, La Rosalía. La Rosalía. A espanhola está seguindo a cartilha da Anitta, lançando uma música por mês com algum convidado latinoamericano, e se dado melhor que a nossa conterrânea. Aliás, vou cobrar de novo: cadê o dueto das duas? La Rosalía.

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

PARDON, MADAME

Brigitte Macron é uma mulher bonita e elegante. Também é apontada como a moldadora do caráter de seu ex-aluno Emmanuel. Os dois vivem uma história de amor ininteligível para um sujeito que troca de esposa quando elas começam a envelhecer, como se fossem integrantes do Menudo. A grosseria do Biroliro com a primeira-dama de um país amigo revela como é superficial sua noção de casamento. Gretchen já pediu perdão ao casal francês, e eu assino embaixo. Pardon, Madame Macron, em nome de todos os brasileiros civilizados. Nunca passamos tanta vergonha como agora.

ÍNDIOS MAFIOSOS


O começo de "Pássaros de Verão" é uma beleza. O filme que representou a Colômbia no último Oscar (e ficou entre os nove semifinalistas) abre com uma espécie de dança do acasalamento, em que uma moça da tribo dos wayuu escolhe seu futuro marido. Essa cultura tradicional logo será abalada por fenômeno contemporâneo: o tráfico de maconha, a que os índios aderem alegremente. O resultado é que alguns enriquecem rapidamente, erguendo mansões na paisagem árida do departamento de La Guajira, no extremo norte colombiano. Outra consequência é o aumento da violência. As mortes se espalham pelos clãs. Esse longa austero confirma o talento de Ciro Guerra, que concorreu ao Oscar com "O Abraço da Serpente" em 2016. E tem alguns pontos de contato com "Bacurau": o cenário de desolação, o tiroteio desenfreado, a crítica social. A diferença é que, aqui, não há mocinhos. Ao virar máfia, os wayuu se tornam seus próprios vilões.

domingo, 25 de agosto de 2019

FOREVER YOUNG

Duas semanas atrás, meu marido me chegou correndo com uma notícia chocante: morreu Fernanda Young! Era engano, claro. Quem havia morrido era uma amiga carioca do mesmo sobrenome. Logo saiu na imprensa que Fernanda ensaiava uma peça com estreia em setembro. E ontem mesmo estive com Renata, sua irmã, na festa de aniversário de um amigo comum. Hoje, o equívoco se tornou verdade. O Brasil acordou em choque: como assim? De asma?? Logo a Folha me pediu um texto comentando as séries escritas por Fernanda e seu marido Alexandre Machado, que pode ser lido aqui. Depois que mandei a matéria, lembrei de mais um monte de coisas que poderia ter dito: ela fez coisas demais em seus meros 49 anos, e ainda tinha tanto por fazer. Eu mesmo me arrependo de não ter tido mais contato com Fernanda. A gente se conhecia há décadas, mas nunca fomos próximos. Nos reencontramos há uns três anos no aniversário do mesmo amigo, ficamos de combinar coisas juntos e não combinamos. Eis aí uma dica para todo mundo: abrace quem você ama, telefone, aproveite enquanto ainda estamos aqui. A vida é um sopro e amanhã podemos não estar mais.

MESA POSTA

Não é só o conceito de feminismo que está errado no polêmico post de Rosângela Moro no Instagram. A mulher do futuro ex-ministro da Justiça disse "sorry, feministas" e que adora cuidar do marido, como se as duas coisas fossem incompatíveis. É bastante comum que a direita chucra ache que feminismo é o contrário de machismo. Como se não bastasse, a mesa está mal posta. Não se usa sous-plat com jogo americano. Não se coloca a colher sobre o prato. E o que dizer do colarzinho de pérolas? A cônje é cafona no úrtimo, e ainda se expõe desnecessariamente. Mas este é um aspecto positivo da internet: ela escancara uma janela para os fracos de espírito exibirem suas vaidades. Junto com elas, surgem também a ignorância e a falta de noção.

sábado, 24 de agosto de 2019

LOOKING LIKE RAGU

Ando prestando menos atenção ao pop americano até do que ao sertanejo brasileiro, que em geral eu abomino. Esgotou-se minha paciência para rappers genéricos e cantoras sensuais/iguais. Mas ontem eu topei com esse vídeo da Lizzo, de quem já tinha ouvido falar, e me lambuzei. "Juice" é um hino à autoestima com uma letra melequenta: tem até um verso que diz que a moça está parecendo um molho à bolonhesa (o ragu do título desse post) de tão apetitosa. Também ajuda a faixa ter um arranjo retrô, que lembra a aurora da minha vida.

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

GLAUBER ON ACID


Existem alguns subgêneros exclusivos do cinema brasileiro: a chanchada, a pornochanchada, o favela movie e o filme de cangaço. Este último andava semi-esquecido desde a morte de Glauber Rocha, mas acaba de ressuscitar atirando. Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles fizeram em "Bacurau" o primeiro filme de cangaço do século 21, repleto de signos contemporâneos e passível de múltiplas interpretações. Dá até para ter uma visão bolsominion: os habitantes de Bacurau são cidadãos de bem que pegaram em arminhas para se defender das potências imperialistas. Mas claro que não é essa a intenção dos diretores, haja vista que a pré-estreia em que eu estava terminou com gritos de "fora Bolsonaro". Dornelles parece ter trazido leveza e humor para Mendonça, e limado tomadas desnecessárias como a do bebê trocando fralda em "Aquarius". Há sequências sublimemente decupadas em "Bacurau", alguns sustos e gargalhadas e uma Sonia Braga mais atriz e menos vaidosa do que nunca. Parece que um Glauber redivivo tomou LSD, ou cruzou com Tarantino. "Bacurau" é um estrondo.

VELHO TUDO DE NOVO

Está sendo lindo ver o Mijair convocar um gabinete de crise para lidar com o fogo na Amazônia, depois dele ter incitado os agros a queimar a mata e jogado a culpa nas ONGs. A reação internacional está até um pouco exagerada, mas que ótimo: o Despreparado está conhecendo na marra as consequências de fazer e dizer tanta merda. Mas nada é tão divertido quanto o partido Novo, o PSL que sabe a ordem dos talheres, correndo para se desvincular de Ricardo Salles. A agremiação não fez nada quando seu filiado, que não se elegeu deputado federal mesmo prometendo armar o campo, foi acusado de improbidade administrativa. Agora que Salles foi vaiado em um evento sobre mudanças no clima e até a Madonna partiu para cima do Borsalino, João Amoêdo soltou uma longa thread no Twitter dizendo que mal conhece o ministro do Fim do Meio Ambiente. É legal que o Novo não compactue com esse celerado, mas dá para acreditar que Amoêdo esteja sendo sincero? O partido já mostrou que é tão antigo quanto qualquer outro, nas ideias e nas práticas. Esse Novo nasceu velho.

quinta-feira, 22 de agosto de 2019

OMODÊUSO

Levei quatro longos meses para ler "Homo Deus", de Yuval Noah Harari. E isto porque o livro já estava lá em casa há quase um ano. E isto porque levei outros dois para comprar, pois me disseram que era "Sapiens' requentado. Não é: na verdade, é um exercício de futurologia fascinante e assustador ao mesmo tempo. Harari diz que o homem está em vias de se tornar um deus - não o Deus onipotente e onisciente das religiões monoteístas, mas uma espécie de deus grego, com poderes limitados e ainda sujeito a paixões. Também fala que somos todos algoritmos, e que o dataísmo - a supremacia do fluxo de dados sobre todo o resto - está emergindo como uma nova fé. É um ótimo livro, que eu demorei para ler porque minha vida está um tumulto e porque troquei o hábito de ler na cama antes de dormir pelo hábito de ficar zapeando o celular na cama antes de dormir. E que o Bozo nem veja a capa. Ele vai achar que estão chamando Jesus de gay.

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

TRANS QUE PARECEM TRANS

Enquanto eu assistia ao desfile de modelos trans que encerrará o programa "Born to Fashion", comecei a julgar mentalmente as meninas que encaravam a passarela. "Essa aqui quase parece uma mulher cis, essa outra nem tanto, aquela lá nem a pau...". Aí eu me dei conta de que estava usando um parâmetro antiquado: aquele que diz que, para uma mulher transgênero ser "bem sucedida", ela precisa convencer - ou melhor, tapear - que nasceu com genitália feminina. Ora essa, se hoje eu concordo que ninguém precisa passar por cirurgia de redefinição sexual ou coisa que o valha para ser reconhecido como do gênero a que diz pertencer, por que ainda me prendo tanto às aparências? O mercado ainda prefere modelos trans que passem por mulheres biológicas, como a belíssima Valentina Sampaio. Mas beleza é só um dos quesitos desejáveis numa top model: também contam presença, atitude, desenvoltura. E isso, muitas trans que parecem trans têm de sobra. Não há nada de errado com o corpo de ninguém, portanto não há nada de errado com uma trans que estampe, no rosto e no jeito, aquilo que ela de fato é: uma pessoa mais corajosa que a maioria de nós.

A VERDADE EM CHAMAS

Em 1981, um capitão e um sargento do Exército brasileiro tentaram soltar uma bomba no meio do público que assistia a um show em comemoração do Dia do Trabalho. O objetivo era culpar a esquerda e melar o processo de redemocratização que engatinhava no Brasil de então. Só que o artefato explodiu antes do previsto, quando os dois milicos ainda estavam no carro, matando um deles. Biroliro vem do mesmo porão de quartel de onde saiu o atentado do Riocentro. Faz parte de sua mentalidade cometer um crime para jogar a culpa no que ele vê como adversário. Por isto, não surpreende nada que hoje ele tenha dito que são "as ONGs" quem estão por trás dos incêndios na Amazônia, dos maiores de todos os tempos. Bozo usa "ONG" como se fosse o sinônimo de alguma organização horrenda, tipo... hã... milícia? E acha que é plausível que uma entidade que luta pela preservação da floresta seja capaz de tacar fogo na mesma. A reação internacional a essa barbaridade vai ser enorme, como já está sendo aos próprios incêndios. E bomba armada por Mijair vai estourar em seu colo, como aconteceu com os celerados de há quase 40 anos.

terça-feira, 20 de agosto de 2019

SE FOR, VÁ NA PAZ

Não é todo ano que que o Brasil tem um filme competitivo internacionalmente. A última vez foi em 2016, com "Aquarius" - que acabou preterido por "Pequeno Segredo" na corrida pelo Oscar. Mas, em 2019, temos dois fortíssimos candidatos: "Bacurau", de Kleber Mendonça e Juliano Dornelles, e "A Vida Invisível de Eurídice Gusmão", de Karim Aïnouz. Salvo uma zebra das galáxias, um dos dois será escolhido para representar o Brasil na próxima premiação da Academia. A seu favor, "Bacurau" tem justamente a injustiça cometida três anos atrás - além, é claro, do Prêmio do Júri em Cannes, a mais alta honra alcançada pelo cinema nacional naquele festival em décadas. Mas, neste momento, eu apostaria em "Eurídice". Alguns sinais estão no ar. O filme foi comprado pela Amazon, que não costuma brincar em serviço e tem um bom currículo em campanhas por prêmios. Está entre os cinco favoritos do  Film Experience, meu site favorito de previsões para o Oscar. E "Bacurau" já foi selecionado para concorrer pelo Brasil nos prêmios Goya, da Espanha - uma consolação antecipada? O júri da Academia Brasileira de Cinema terá que ponderar as qualidades de cada filme com suas supostas chances. O resultado sai dia 27.

MISS WHITNEY

Um dos prazeres que nos restam nessa Idade das Trevas é ver os luminares da extrema-direita meterem os pés pelas mãos e depois dizerem que não é bem assim. O Biroliro faz isso quase todo dia: primeiro brada que quem manda é ele, depois afina o discurso quando a PF reclama. Hoje foi a vez de Wilson "Whtiney" Witzel - aquele que adora desfilar com uma faixa imaginária de governador, feito miss recém-coroada. Whitney saltou de um helicóptero na Ponte Rio-Niterói comemorando a morte de um bandido como quem celebra um gol. Depois, diante das câmeras, lembrou que finge que é cristão, e lamentou que o desequilibrado que sequestrou um ônibus na manhã de hoje tenha sido alvejado pela polícia. Tomara que ele ainda cometa muitas gafes até 2022 e inviabilize sua candidatura à presidência. da República

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

LA NUIT BRÉSILIENNE

Os meteorologistas ainda estão debatendo o quanto de fuligem das queimadas causou o efeito de "noite americana" - um truque cinematográfico que faz o dia escurecer e rendeu o título de um dos melhores filmes de François Truffaut - na tarde desta segunda em São Paulo. Para mim, a explicação é mais simples: começou oficialmente a Idade das Trevas, povoada de quimeras e crendices.

O PROTETOR-GERAL DA REPÚBLICA

Tenho um misto de dó e raiva de quem votou no Bozo achando que ele combateria a corrupção. Dó porque a intenção era boa. Raiva porque era só prestar atenção nos noticiários para saber, mesmo antes da eleição, que a família estava metida em falcatruas. Mas está ficando mais difícil enganar os trouxas: depois do nepotismo escancarado de indicar o 03 para a embaixada nos EUA, agora o Despreparado ameaça nomear para a Procuradoria-Geral da República um sujeito chamado Antônio Carlos Simões Soares, com pelo menos dois escândalos no currículo: este aqui e este outro. Adivinha como ele chegou lá? Foi por sugestão do advogado de defesa do 01. Ou seja: Biroliro sequer está interessado em implantar uma revolução conservadora ou qualquer coisa que o valha. Só quer mesmo proteger a prole e o próprio mandato, mais nada. Já se fala em rebelião no Ministério Público e também na PF, que vem sofrendo ingerências indevidas do presidente. A briga vai ser boa: os rolos do 01 são simplesmente o ponto fraco do clã, porque, se alguém puxar o fio da meada, vai dar em ligações até com a milícia que matou Marielle. Mijair deve ir pras cabeças, posto que está se mijando.

domingo, 18 de agosto de 2019

PILANTRAGEM RHAPSODY


Os dois filmes começam com o cantor biografado à beira de um ataque de nervos, prestes a entrar em cena. O show que se aproxima será crucial não só para sua carreira, mas para o resto de sua vida. Aí começa um longo flahsback, e o show em questão é retomado na sequência final. A diferença é que, ao contrário do que acontece com Freddie Mercury em "Bohemian Rhapsody", Wilson Simonal dá com os burros n'água: o espetáculo-surpresa com que tentou fazer um comeback em 1975 foi um tremendo fiasco, e sua reabilitação só começou depois de morto  25 anos depois. Isso faz de Simonal uma figura ainda mais trágica que o vocalista do Queen, mas "Simonal" não está à sua altura. Talvez por problemas de orçamento, a cinebiografia do ídolo que levantou multidões nos anos 1960 não dá conta da grandeza de sua popularidade, nem de sua queda livre. Simonal pediu para seus amigos do DOPS darem um susto em um contador que ele suspeitava estar lhe roubando; os meganhas exageraram e torturaram o sujeito, que pôs a boca no mundo. Isso bastou para que colar a pecha de delator a serviço da ditadura no intérprete de besteiras deliciosas como "Mamãe Passou Açúcar em Mim" e "Meu Limão, Meu Limoeiro". Se alguém quiser uma visão muito mais rica dessa história, eu recomendo que procure o documentário "Simonal - Ninguém Sabe o Duro que Dei", de 2009. "Simonal", infelizmente, não dá duro o bastante.

sábado, 17 de agosto de 2019

UN'ESTATE ITALIANA


Paolo Virzì é um grande cineasta? Fiquei com esta sensação depois de ver "O Capital Humano", que representou a Itália no Oscar de 2014. Gostei menos de "Loucas de Alegria, seu filme seguinte, e de "Ella e John", sua primeira incursão em língua inglesa. E admito que me desapontei bastante com "Noite Mágica". Acho que me empolguei demais com o trailer, e também fui para o cinema exausto de uma semana puxadíssima. Acabei achando que os atores falam depressa demais, e não mergulhei no imbróglio em que três jovens roteiristas se envolvem com um velho diretor. O lado bom é que tudo se passa em Roma, durante a Copa de 1990. Além da beleza da cidade, a trilha sonora ainda tem "Un'Estate Italiana", o tema do Mundial, composto por Giorgio Moroder (de cuja letra, nclsuvie, saiu o título do longa) e a inacreditável "Cacao Meravigliao", uma bobagem que seria inofensiva se não fosse racista.

RESISTIR ESTÁ NA MODA

Ontem fui assistir ao desfile que encerrará o reality "Born to Fashion", que estreia no canal E! no ano que vem. Trata-se de uma competição à la "Next Top Model", com um diferencial importante: todas as aspirantes a modelo são mulheres trans. O projeto está naquela famigerada lista dos que "não deveriam ser aprovados pela Ancine", junto com as séries "Me Chama de Bruna" (que o Bozo confundiu com o filme "Bruna Surfistinha") e "Dra. Darci" (cuja grande ameaça à família tradicional brasileira é o Tom Cavalcante vestido de mulher). "Born to Fashion" teve sorte. Já estava em produção quando Biroliro anunciou que não haverá mais financiamento público para obras de temática LGBT. Projetos que já estavam aprovados, agora ficarão a ver navios. Claro que isso se chama cen-su-ra.  Pelo menos ainda existem mecanismos estaduais e municipais de fomento às artes. E tem que existir vontade de resistir: se a gente não der força para os filmes e programas viadais , então a familícia já ganhou.

sexta-feira, 16 de agosto de 2019

O IDIOTA DE IPANEMA

Biroliro foi chamado publicamente de idiota duas vezes nas últimas 48 horas. Uma foi por seu ex-BFF, o neotucano Alexandre Frota. A outra foi por Christian Ehring, apresentador do programa "Extra-3" da TV alemã, que também o xingou de "Samba-Trump". O Despreparado diz que são nossos embaixadores e o INPE que prejudicam a imagem do Brasil lá fora, mas só os minions mais tapados ainda acreditam nisso. Ao invés de Johnny Bravo, ele está é mais para Johnny Depp.

ENTRANDO NUMA FRIA MAIOR AINDA

O mundo inteiro está dando risada, mas essa ideia do Trump de comprar a Groenlândia para os Estados Unidos tem antecedentes históricos. No começo do século 19, os EUA adquiriram a Louisiana da França, um território muito maior do que o estado atual do mesmo nome. Anos depois, compraram o Alasca da Rússia. A Groenlândia também daria aos EUA um maior controle do oceano Ártico, hoje quase nas mãos dos russos. Além disso, graças ao degelo das capotas polares, daqui a pouco será navegável a mítica Passagem do Noroeste, que liga o Atlântico ao Pacífico pelo norte. Mas será que as 56 mil almas que vivem naquelas paragens topam sair dos sistemas públicos de saúde e educação da Dinamarca e cair sem rede no vale-tudo americano? Claro que não. Elas sabem, assim como nós, que Trump quer mesmo é explorar petróleo e gás natural, e talvez construir um campo de golfe. A Groenlândia que se exploda.

quinta-feira, 15 de agosto de 2019

BERLIM DO PARÁ

A ditadura militar viu florescer Chico Buarque, Caetano Veloso e dezenas de outros cantautores que criticavam o regime em letras censuradas. O governo Biroliro ainda não descambou de vez para o autoritarismo, mas o festival de excrementos emitido pela boca do Despreparado já merecia uma resposta à altura da atual MPB. OK, a vertente queer da nossa música está rija como nunca, com Johnny Hooker, Linn da Quebrada, Liniker, Jaloo e muitxs outrxs rompendo a heteronormatividade. Mas ainda falta um hino para a resistência. À faute de mieux, no momento eu vou de "Padê e Cachaça", que já me viciou. A cantora Crystyany Kettchy é uma paulistana radicada em Berlim, e no clipe só falta índio para ter tudo que os minions abominam. E aí, quem tá a fim de fazer uma festa?

ATUALIZAÇÃO: A própria Crystyany me escreveu para agradecer por este post! Ô glória. Ela também pediu para fazer uma correção: não nasceu no Pará, e sim em São Paulo mesmo, capital. Eu que entendi errado quando li seu perfil no Twitter. Pois ee, eu costumo misturar as coias. Alôka.

quarta-feira, 14 de agosto de 2019

FROTA SEM RUMO?

Alexandre Frota me processou em 2016, por causa desta minha coluna no F5. Ele perdeu em primeira instância e nunca mais recorreu. Mesmo assim, magoei. Jurei que nunca mais tocaria no nome dele aqui no blog, porque o mais terrível castigo para uma subcelebridade é a indiferença. Mas veja só as voltas que a vida dá. Frota foi eleito, como já era esperado, deputado federal pelo PSL de São Paulo. Uma vez empossado, como nunca foi esperado, tornou-se uma das poucas vozes razoavelmente sensatas na bancada do partido da Câmara, e se destacou pela capacidade de articulação política. Também saiu em defesa do cinema brasileiro e, pasme, virou um crítico contumaz do Biroliro e sua prole desqualificada. Foi aí que o caldo entornou. Consta que o próprio Despreperado, com sua grandeza de caráter e infinita capacidade de perdoar, exigiu sua expulsão do PSL. Então Frota se redimiu? Calma lá com esse andor. Na mesma época que me processou, ele também moveu açõs contra outras 10 pessoas, sempre por motivos fúteis - perdeu todas. Desde então, espalhou fake news contra Jean Wyllys, protestou na porta do MAM e continuou se comportando feito um brutamontes da extrema-direita. Foi só depois que entrou para o Congresso que afinou; mesmo assim, há denúncias contra ele de malversação de verbas públicas. Também estaria chateado por não ter conseguido emplacar apaniguados em postos oficiais. Ou seja: não dá para dizer que o Frotinha voltou para o lado claro da Força. E agora, tudo indica que ele vai para o PSDB de João Doria... Mais uma razão para eu nunca mais dar meu voto para os tucanos.

terça-feira, 13 de agosto de 2019

BONITINHO E EXTRAORDINÁRIO

João Carlos Barroso começou a fazer parte da minha vida muito antes de eu perceber sua presença nas novelas. Só hoje, dia de sua morte, é que eu fiquei sabendo que, quando era ator-mirim, ele dublou a voz do pequeno rei Artur em "A Espada Era a Lei". Apenas o primeiríssimo filme que eu vi no cinema. Também sempre vou lembrar dele por causa da amiga de uma amiga que, nos anos 70, usava um gravadorzinho para capturar sua voz. Naqueles tempos pré-internet, só assim ela conseguia ouvi-lo sempre que quisesse. Barroso nunca se tornou um superstar, mas foi bom em tudo o que fez. E era mesmo uma belezinha, hein?

A PROCURADORA PERDIDA

Como Raquel Dodge é ingênua, meu. A procuradora-geral da República achou que tinha chance de ser reconduzida ao cargo pelo Biroliro. Achou que, uma vez presidente, ele levaria super na boa o fato dela tê-lo denunciado por racismo no ano passado. Esqueceu que o Bozo, além de mesquinho, também é um espertalhão. Ele encheu a tolinha de falsas esperanças, e o que foi que ela lhe deu em troca? Sentou em cima de todos os processos que investigam as falcatruas do Queiroz e demais laranjices cometidas pelo 01. Resultado: esses casos sumiram da mídia, os minions ainda acham que só o PT é corrupto e ela não está mais no páreo para a vaga, cujo próximo ocupante será anunciado em breve. Seja lá quem for, será um extremista de direita, que não deixará ninguém se aproximar dos primeiros-filhos. Ao invés de servir à pátria e fazer esses inquéritos avançarem, a sra. Dodge agiu no interesse da própria carreira. Perdeu o cargo, e também a reputação. Fuén.

segunda-feira, 12 de agosto de 2019

DES GRANDS PETITS MENSONGES

A onda criada por "Thelma e Louise" há quase 30 anos virou um tsunami. Hoje em dia não faltam filmes e séries sobre mulheres que resolvem dar o troco nos homens, um tapa na sociedade e ainda celebrar a sororidade. Um exemplo divertido desse subgênero é a comédia francesa "Rebelles", que ganhou no Brasil o infeliz título de "Mulheres Armadas, Homens na Lata". O começo é sensacional: três funcionárias de uma fábrica de peixe em lata se envolvem na morte acidental de um superior, que tentava estuprar uma delas. Aí elas descobrem que o morto deixou uma fortuna na mala de mão, e ocultam o cadáver... adivinha onde. Daí em diante o filme vira mais policial do que cômico, mas o roteiro ainda reserva algumas boas soluções. Fiquei pensando como seria um remake brasileiro.

CRISTINA KKKKKKKKK

Não sou muito fã de Cristina Kirchner. Sempre a louvarei pela aprovação do casamento gay na Argentina em 2010, mas a senhora K. tem um longo prontuário de corrupção e inépcia. Se bem que hoje eu estou gostando dela, só porque a chapa em que ela é candidata a vice derrotou fragorosamente o favorito do Bozo nas primárias argentinas. Esse favorito, claro, é Mauricio Macri, que tem mil defeitos, mas verdade seja dita: não é um proto-déspota feito o Despreparado. Só que este vem fazendo campanha para aquele, sem ligar para o fato dos argentinos terem uma memória da ditadura muito mais viva e dolorida do que a nossa, e que os milicos de lá nunca recuperaram o prestígio perdido. Mas duvido que Biroliro aprenda a não se meter nas eleições de outro país. Hoje ele já declarou que a Argentina se tornará uma nova Venezuela e o Rio Grande do Sul um novo Roraima, melando de cara qualquer chance de um bom relacionamento com o provável próximo governo do mais importante dos nossos vizinhos. Notícia vai ser quando o Bostonazi conseguir passar mais de 24 sem evacuar pela boca.

domingo, 11 de agosto de 2019

A GRANDE FEIÚRA


Hoje em dia, Silvio Berlusconi é uma carta fora do baralho. Mas dá para perceber que ele foi o precursor da cafajestada na política, abrindo caminho para Trump, Biroliro e tutti quanti. Essa figura histriônica agora recebe um filme-réquiem assinado por ninguém menos do que Paolo Sorrentino, talvez o melhor cineasta italiano em atividade. O ex-primeiro ministro cai como uma luva no estilo do diretor: suas festas cheias de putas ganharam coreografias magistrais, e o envelhecimento é o leit-motiv de toda a obra de Sorrentino. O Berlusconi que aparece em "Silvio e os Outros" é patético, com um sorriso soldado no rosto, que ainda se acha um grande sedutor aos 70 anos de idade. Toni Sevrillo - o mesmo ator de "A Grande Beleza" - se joga na artificialidade do personagem, que é exatamente o contrário do protagonista do filme que deu o Oscar a Sorrentino: um sujeito que realizou façanhas, mas que perdeu a capacidade de sentir o mundo como ele é. Uma feiúra absoluta. O primeiro terço do filme é praticamente um videoclipe, com baladas daquelas que a gente gosta e visuais deslumbrantes, culminando com um caminhão de lixo desviando de um rato e capotando sobre o Forum romano. Quando Berlusconi entra em cena o ritmo ralenta e há um pouco demais de minúcias da política italiana para os leigos. Mas "Loro" - "eles", no título original - ainda não tem data para estrear no Brasil. Por enquanto, pode ser visto na Festa do Cinema Italiano, em cartaz em várias cidades brasileiras, e é muito divertente. Mas dói o coração lembrar que, depois que Mr. Bunga Bunga se aposentou, vieram Matteo Salvini e os neofascistas da Lega Nord. Porca miseria.

sábado, 10 de agosto de 2019

CAÇA AOS POBRES

A Universal Picutres cancelou o lançamento do filme "The Hunt", que deveria estrear em outubro no Brasil. Trata-se de uma versão mais adulta de "Jogos Vorazes": um bando de ricaços captura pobres nos estados americanos que costumam votar nos republicanos, para depois caçá-los como num safari. É uma sátira política, mas não há clima nos EUA para ela depois dos massacres da semana passada. Até aí tudo bem. A coisa muda de figura quando sabemos que Donald Trump, precisando jogar a culpa em alguém, fez campanha contra "The Hunt" no Twitter, acusando Hollywood de racista e divisiva - exatamente os pecados que ele mais comete. O filme, segundo o laranja-mor, estaria jogando o resto da população contra as elites brancas. Isso serve como propaganda positiva para "The Hunt", que agora pode ser visto como uma peça subversiva. Cadê a HBO ou a Netflix para comprar os direitos, e exibir "The Hunt" no mundo inteiro?

DE VOLTA À PRISÃO


Fui a uma festa de lançamento de "Orange is the New Black" em São Paulo, seis anos atrás, e conversei muito com Piper Kerman, a autora do livro e a avatar na vida real da protagonista Piper Chapman. Esse papo me atiçou o interesse pela série, e devorei a primeira temporada. Gostei um pouco menos da segunda e, quando terminei a quarta, decidi que não queria mais ficar naquela penitenciária. Ver TV é viajar um pouco, é ir para outro lugar, e eu preferia ir para Downton Abbey do que continuar na cadeia rodeado de lésbicas problemáticas. Até porque o tom do programa foi mudando: o que era uma comédia no início foi se transformando em um drama pesado, com muito sofrimento e pouca esperança. Também não ajudou o desagradável subplot do comércio de calcinhas sujas: sei lá, é uma coisa minha. Depois li que a quinta e a sexta temporadas eram bem fraquinhas, e não me senti culpado por pulá-las. Mas agora voltei. A sétima e última safra estreou no final de julho, coberta de elogios. Fiquei curioso para saber o destino de algumas daquelas mulheres, e comecei a ver de novo. E não é que eu estou adorando? O nível dos roteiros está altíssimo, as atrizes estão melhores do que nunca. E ainda incorporaram o drama dos campos de concentração para imigrantes ilegais criados pelo ICE, Immigration and Customs Enforcement, que está separando famílias e deportando gente que vive desde bebê nos Estados Unidos. Já sei que alguns personagens vão morrer, outros vão se dar bem, mas por favor não me contem nada. Agora eu quero ficar preso.

sexta-feira, 9 de agosto de 2019

AFROLÉSBICAS


"Rafiki" quer dizer amigo em swahili, uma das línguas mais faladas no leste da África. É o nome do mandril de "O Rei Leão", aquele macaco que ergue o Simba recém-nascido para apresentá-lo aos outros animais (uma cena muito comum na natureza, rs). Também é o título do primeiro filme do Quênia a estrear comercialmente no Brasil. Mas as duas protagonistas são mais do que amigas: são namoradas, em um país onde a homossexualidade é punida com até 14 anos de cadeia. Kena é uma "tomboy" que joga futebol com os garotos, e Ziki faz a linha gatinha, toda trabalhada nos dreads coloridos. Os pais delas são rivais políticos: estão disputando a mesma vaga de vereador. Para piorar, as duas não são muito discretas, e logo todo o bairro fica sabendo que elas colam velcro. Em termos dramáticos, o filme da diretora Wanuri Kahiu é quase simplório. Mas as cores vivas e a música vibrante mostram que estamos na África, que pode ser muito atraente na superfície e bastante atrasada nos costumes. Não acho que "Rafiki" mereça todos os prêmios que recebeu, mas vale pela viagem.

quinta-feira, 8 de agosto de 2019

A PAÇOCA E A CAVEIRA

Uma das boas notícias do dia: essa nova série "Furando a Bolha", produzida pelo portal Quebrando o Tabu. O primeiro vídeo traz dois porta-estandartes da direita e da esquerda, a deputada estadual Janaína Paschoal (PSL-SP) e o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ). Muita gente imaginou que os dois se engalfinhariam e sairiam rolando pelo chão. Outros tantos não gostaram de vê-los não só se tratando com cortesia, mas encontrando muitos pontos em comum. Fora que é fofo vê-los tirando perguntas de uma caneca da paçoca Amor ou de uma de caveira do Tim Burton. Ninguém mais tem saúde para tanta polarização. Qualquer tentativa de diálogo é mais do que bem-vinda. Quem virá no próximo?

FICÇÃO POLPUDA


Eu estava na festa de um amiguinho do colégio quando ficamos sabendo do assassinato de Sharon Tate. Sim, foi desses acontecimentos horrorosos que fazem a gente se lembrar pra sempre onde estávamos quando soubemos da notícia. Pelo jeito, esse crime que marcou a minha infância também marcou a de Quentin Tarantino. Ele é pedra angular de "Era Uma Vez... em Hollywood", o nono longa-metragem do diretor e quiçá o melhor de todos. Todos os filmes de Tarantino são sobre o cinema, mas este é o único que se passa no mundo do cinema. Mais precisamente, em 1969, quando a velha Hollywood do studio system agonizava, abrindo espaço para uma geração de cineastas rebeldes - entre eles, Roman Polanski, o marido de Sharon Tate. Leonardo Di Caprio nunca esteve melhor do que como Rick Dalton, o astro de fama mediana em fim de carreira, e Brad Pitt nunca esteve tão lindo (aos 56 anos!) como seu dublê e melhor amigo, Cliff Booth. Os dois fazem o que podem para sobreviver em uma indústria em mutação, e se mudam para a casa ao lado da dos Polanski. Não dá para contar mais nada. Só que, ao longo de mais de duas horas e meia, as cenas vão se sucedendo sem um elo forte entre si, mas sempre muito bem realizadas e divertidas. Tarantino tem aqueles momentos em que ele parece deixar a câmera rolar solta, só para ver onde vai dar. Também recheou a trilha de spots e vinhetas de rádio, além da avalnache habitual de referências à cultura pop. Desa vez, homenageou a própria filmografia: há um pouco de artes marciais ("Kill Bill"), nazismo ("Bastardos Inglórios"), faroeste ("Django Livre" e "Os Oito Odiados"), carros à toda ("À Prova de Morte") e muita violência (toda sua obra), mas menos gratuita do que nunca. É uma delícia ver Di Caprio inserido em um filme de Steve McQueen, e rir dos produtos fictícios como a comida de cachorro Wolf's Tooth (nos sabores pássaro, lagarto, rato e racoon) ou os cigarros Red Apple (presentes em todos os filmes de Tarantino). Mais maravilhoso ainda é o desfecho revisionista, uma vingança da arte contra a boçalidade. Ah, e não saia antes dos créditos finais, hein?

quarta-feira, 7 de agosto de 2019

LULA NÃO LÁ

Nunca fui petista. Jamais votei no Lula. Acho, inclusive, que o ex-presidente é culpado de muitas falcatruas. Mas hoje está claro que seu julgamento no caso do triplex não foi dos mais justos, e que deveria ser refeito. Também não gostei de sua possível transferência para o presídio de Tremembé, no interior de São Paulo, onde estão criminosos célebres como Suzane von Richthofen e Alexandre Nardoni. Porque a decisão do juiz Paulo Eduardo de Almeida Sorci tem aroma de vingancinha. De uma reação da turma de Sergio Moro contra a Vaza-Jato, para mostrar que eles ainda controlam a situação. Mas a celeuma no mundo político, capitaneada por Rodrigo Maia, foi quase um spoiler da suspensão pelo STF, pelo placar de 10 a 1. Sinto que há uma movimentação das instituições brasileiras contra a politização da Justiça e a ultra-personalização cometida pelo Despreparado. Mas será um revés para o combate à corrupção? Não tem resposta fácil - como, aliás, quase nada no Brasil.

terça-feira, 6 de agosto de 2019

MICHELLE DU JOUR

Uma das minhas primeiras colunas deste ano no F5 discutia o potencial da nova primeira-dama se tornar o lado suave do governo, contrapondo carisma e doçura à truculência do marido. O texto me custou uma briga com um dos meus melhores amigos, que achou que eu tinha minionzado. Mas a boa impressão causada por Micheque Boçalnaro na cerimônia de posse logo se desfez. Ela se recolheu, em mais uma prova de que mulher não tem vez na familícia. E quando resolveu sair da moita, veja só: foi para postar no Instagram Stories algumas fotos das peças que ganhou de uma marca de lingerie. Não contente em se expor de maneira totalmente inadequada ao posto que ocupa, a sra. Mijair ainda achou de bom tom fazer merchan da tal da marca. Sei que estou me repetindo, mas a vulgaridade e o despreparo dessa cambada não param de me espantar.

A RODA GIROU

Ontem fui à sede da TV Cultura, aqui em São Paulo, prestigiar a estreia da nova fase do "Roda Viva", com cenário repaginado e Daniela Lima no comando. Depois de um coquetel, assisti ao programa em um telão, instalado em um estúdio transformado em auditório. O convidado era Felipe Santa Cruz, a mais recente vítima do terrorismo virtual bolsominiano. Foi só o Despreparado atacá-lo injustamente, na semana passada, para o presidente da OAB começar a receber ameaças e a ser difamado nas redes sociais. Glenn Greenwald, Miriam Leitão e muitos outros já passaram por isso, mas Mijair acha que ele é que o perseguido injustamente. Santa Cruz fez Daniela pagar um dobrado: suas respostas intermináveis obrigaram a nova apresentadora a interrompê-lo várias vezes, mas até que ela conseguiu descascar esse abacaxi com simpatia e segurança. Quem quiser ver o programa inteiro, um autêntico chamado aos brios, pode clicar aqui.

ATUALIZAÇÃO: no fim da tarde dessa terça, saiu a notícia de que o Despreparado mandou a Petrobras dispensar os serviços advocatícios de Santa Cruz - e isto depois dele ter livrado a empresa da maior ação trabalhista de sua história. Mijair também suspendeu a obrigatoriedade das empresas publicarem seus balanços anuais nos jornais, com a intenção de ferir, principalmente, o Valor Econômico. Não que não soubéssemos que o Bozo é mesquinho, claro. E ele ainda se comparou ao Johnny Bravo - um personagem que tira sarro de homens burros que não pegam ninguém. Nem de desenho animado o cara entende...

segunda-feira, 5 de agosto de 2019

OS AGREGADOS DA FAMILÍCIA

A reportagem publicada pelo O Globo neste domingo só confirmo o que qualquer pessoa com alguns neurônios já havia percebido: os Biroliro encaram sues cargos públicos como uma empresa familiar, que serve de cabide de emprego não só para eles como também para uma vasta clientela. Ao todo, são 102 pessoas com algum laço familiar entre si que eles contrataram nesses 28 anos no Poder Legislativo. Só da famigerada família Queiroz são sete integrantes, e a maioria sequer bateu cartão. Ou seja, são fantasminhas camaradas, que entrara de bom grado na rachadinha dos Bozos. "Ãin, mas na época não era ilegal", choramingam os minions. De fato, o STF só proibiu o nepotismo expressamente em uma súmula de 2008. O que não altera o fato dele sempre ter sido imoral, é óbvio. Mas é triste pensar que milhões de brasileiros fariam o mesmo se pudessem, e não acham grave que alguém tenha feito. Nem se dão conta de que a ameaça dos Boçalnaro é dupla: eles não só querem instaurar uma ditadura no Brasil, como também se tornar uma dinastia imperial, ocupando todos os espaços possíveis.

A LOUCURA DOS REPUBLICANOS

Se o sujeito que abriu fogo em um Walmart da cidade de El Paso fosse muçulmano, os republicanos estariam propondo medidas ainda mais restritivas à entrada de cidadãos de países islâmicos nos EUA. Se fosse latino, estariam gritando pela necessidade urgente do muro na fronteira com o México. Como se tratava de um supremacista branco, o cara não passa de um mero doente mental. Não duvido que esses assassinos tenham mesmo uns parafusos a menos, mas não são loucos isolados. São monstros criados à base de discurso de ódio, do qual Donald Trump é o principal porta-voz. Porque não dá para falar barbaridades durante anos a fio e achar que elas não incentivam ações concretas. Assim como a pregação anti-gay de pastores evangélicos está na base da violência contra os LGBT no Brasil, é óbvio que o apoio tácito de Trump a grupos racistas, e suas investidas contra deputadas democratas, valida e estimula as ações dos extremistas. O massacre no Texas, além de ressaltar pela enésima vez a necessidade de um maior controle de porte de armas, também precisa ser encarado como o que de fato foi: um atentado terrorista. Ocorrido - veja só que dolorosa ironia - em uma das lojas do maior varejista de armas de fogo do mundo.

domingo, 4 de agosto de 2019

SORRIA, VOCÊ ESTÁ SENDO HACKEADO


O hack está na moda. Este ano, graças à Vaza-Jato, a palavra finalmente entrou no vocabulário corrente. Mas convém lembrar que o hack vai muito além do simples grampo. Todo dia, o tempo todo, as gigantes da internet estão tomando nota de tudo que você faz online, para melhor lhe vender. O Google, por exemplo, sabe que você está lendo meu blog neste exato momento - ele é o dono do Blogger, que me hospeda desde 2007. Por tudo isto, é importante ver "Privacidade Hackeada", que chegou à Netflix no fim de julho. Trata-se de um documentário sobre a Cambridge Analytica, a empresa da manipulação de dados que teve um papel fundamental no referendo do Brexit e na eleição de Donald Trump, além dezenas de outros pleitos mundo afora. a gente já sabia que, cada vez que usa o app do envelhecimento ou faz um teste bobo no Facebook, estamos fornecendo de mão beijada um pacote de informações sobre nós mesmos, que podem ser usados tanto para nos direcionarem propaganda com para nos fazerem votar em boçais. Mas a escala do troço é assustadora. O filme gasta um pouco de tempo demais com Brittany Kaiser, uma ex-funcionária da CA que botou a boca no mundo, e não chega a ser entretenimento. Mas eu repito: tem que ver, para não dizer que não sabíamos.

O REI GATO


Fazia tempo que eu não encarava um filme do gênero wu xia, de artes marciais. Fui ver "O Mistério do Gato Chinês" como alguém que vai a um restaurante para matar as saudades de um prato exótico. E exotismo não falta no longa de Chen Kaige, que ganhou a Palma de Ouro em Cannes por "Adeus, Minha Concubina" mas hoje se rendeu ao cinemão comercial. O visual é féerico, digno de Bollywood, com cenários e figurinos de cair o queixo. Mas o roteiro é confuso: até agora não entendi direito as idas e vindas da história do gato assassino, que semeia o terror na antiga capital de Chang'an para vingar a morte de uma das esposas do imperador, três gerações antes. Os efeitos especiais também não são de primeira linha. O pobre bichano parece tosco se comparado à fauna milimetricamente perfeita de "O Rei Leão". Mas, se não há muita clareza na trama, tampouco há barriga. As duas horas fluem como um banquete variado. Saí do cinema deslumbrado e atordoado, e ainda tapeei a vontade de ir para a Ásia.

sábado, 3 de agosto de 2019

O ESPELHO DO FUTURO


Ontem foi ao ar no Brasil o último episódio de "Years and Years", a melhor minissérie do ano até agora - sim, melhor até mesmo do que "Chernobyl". A coprodução entre a HBO e a BBC vem sendo comparada a "Black Mirror", porque ambas imaginam como os gadgets tecnológicos e as convulsões políticas que ainda estão por vir afetarão as nossas vidas. Mas "Years and Years" tem uma vantagem: essas novidades incidem sobre uma mesma família, os Lyons. É verdade que eles são um pouco diversos demais. Tem branco, negro, oriental, gay, cadeirante e idoso, além de um garoto não-binário e uma adolescente que quer fazer o download de sua mente em um computador. Eu fiz uma crítica do primeiro episódio para a Folha, e me regozijo de perceber que não errei: o programa é até melhor do que eu pensava. Mas o futuro próximo mostrado em "Years and Years" é apavorante. Trump é reeleito, depois é sucedido por Pence, os EUA atacam a China, a Ucrânia vira um estado policial e líderes populistas sobem ao poder no mundo inteiro. No Reino Unido, é a simpaticamente assustadora Vivian Rook, uma empresária que conquista fãs porque fala barbaridades e não tem a mais puta ideia do que seja governar um país. Ela é até moderada perto do nosso Biroliro, mas está longe de ser a única vilã da série. O maior de todos, na verdade, somos nós mesmos. Como diz a vovó dos Lyons no último capítulo, "vocês são os culpados do que está acontecendo".

sexta-feira, 2 de agosto de 2019

O ASTRONAUTA ELÁSTICO

O ponto alto da carreira de Marcos Pontes foi se tornar o primeiro astronauta brasileiro. O ponto baixo, até esta sexta-feira, era ter sido garoto-propaganda do travesseiro N.A.S.A., aquele feito com viscoelástico. Não é mais. A partir da data de hoje, Pontes será lembrado como um sujeito de caráter molenga, incapaz de defender a ciência dos ataques de um fanfarrão. Enquanto ministro da Ciência e Tecnologia, era sua obrigação moral peitar o Despreparado quando este insultou Ricardo Galvão, o futuro ex-presidente do Inpe. Mas nosso flexível cosmonauta está mais para homem-elástico: vergou-se, esticou-se, deixou que Galvão fosse exonerado e o método científico vilipendiado. Preferiu se agarrar ao cargo do que à sua reputação. Essa, infelizmente, já foi pro espaço.

quinta-feira, 1 de agosto de 2019

UM PAÍS DOENTE

Todo dia a gente acha que o Brasil bateu no fundo do poço. E todo dia o Brasil desce um pouco mais. Que merda de país é esse, em que gente que se diz cristã ataca a mãe de um jornalista? Uma senhora com câncer terminal? Arlene Greenwald é uma pessoa bem-humorada e, mesmo com pouco tempo de vida, continua postando memes nas redes sociais. Para os vermes da extrema-direita, isso prova que ela não está doente, e que Glenn estaria mentindo ao pedir urgência para o visto de entrada nos EUA para seus filhos brasileiros. Por que ele precisaria mentir? Glenn é cidadão americano e residente no Brasil. Não precisa de nenhum pretexto para ir de um país para o outro. Pode ir para Miami porque bateu vontade louca de tomar Diet Dr. Pepper. Como que alguém ousa tripudiar do sofrimento alheio? Arlene teve sua página invadida por minions, que questionam sua doença e fazem pouco caso de seu sofrimento. O que só mostra uma coisa: essa gentalha neofascista é que é capaz de inventar qualquer mentira para conseguir seus objetivos. Mas disso nós já sabíamos. Que doença.

O QUE É ESSE COMPANHEIRO?

O casamento entre pessoas do mesmo sexo está legalizado no Brasil desde 2011. Mesmo assim, boa parte da mídia e até gente que se diz progressista resiste a chamar as coisas pelo que elas são. David Miranda e Glenn Greenwald, por exemplo, não são "companheiros": são marido e marido, casados no papel. Chamá-los de outro jeito é um resquício de homofobia: é achar que eles não são um casal exatamente como outro qualquer, com os mesmíssimos direitos. O machismo e o racismo também deixaram fósseis na linguagem, que precisam ser extirpados. By the way, eu nem acho que a lei seja necessária: eu nunca fui casado no papel, e adivinha como me refiro ao meu marido?