quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

AS SÉRIES DE 2018

As séries são os novos romances. Ninguém mais vê outro tipo de programa, ninguém vai ao cinema, ninguém lê livros - todo mundo só vê séries. A chamada "long form TV" supriu nossas necessidades de ouvir histórias, ainda mais depois que passou a estar disponível em qualquer lugar e a qualquer hora. Podem anotar: a temporada final de "Game of Thrones" vai ser o último momento em que a humanidade se reunirá ao redor da TV em um mesmo dia, no mesmo horário. Dali em diante, só assistiremos às nossas próprias programações, ainda mais do que já fazemos agora. Na minha própria, essas foram as que mais reinaram no ano que ora finda:

SÉRIES NOVAS

La Casa de las Flores (Netflix)
Esta sátira às novelas mexicanas passou meio batida pelo Brasil, mas foi um sucesso tão retumbante no resto da América Latina que gerou até concurso de vídeos de imitação de Paulina de la Mora. A personagem vivida pela ótima Cecilia Suárez fa-la tu-do pau-sa-da-men-te, pois vive sob o efeito de calmantes. A segunda temporada já está em produção.

The Handmaid's Tale (Paramount)
A série que abalou os Estados Unidos em 2017 só chegou ao Brasil no começo deste ano. Pelo menos a segunda temporada não tardou a ser exibida; por outro lado, ao ir além do livro de Margaret Atwood, o roteiro se tornou irregular. Mas o assunto continua na ordem do dia, ainda mais com o avanço da extrema-direita no Brasil. Damares Alves, a futura ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, é nossa Tia Lydia?

Insatiable (Netflix)
A sitcom sobre uma garota obesa que de repente emagrece e parte em busca de vingança recebeu uma saraivada de críticas antes mesmo de estrear, acusada de gordofobia. Besteira: trata-se, na verdade, de um programa que questiona a ditadura do padrãozinho, tanto estético quanto sexual. E ainda traz uma personagem gira: Nonnie, a melhor amiga que se descobre lésbica, feita pela mais-do-que-incrível Kimmy Shields.

Jogos Sagrados (Netflix)
Não vi ninguém além de mim comentando a primeira série da Netflix produzida na Índia: nem na imprensa, nem na blogosfera, nem ao vivo. O fato é que vocês não sabem o que estão perdendo. Baseada em um calhamaço policial que cobre décadas de história indiana, "Jogos Sagrados" traz um tempero exótico a um gênero meio batido. E a gente ainda aprende um bocado sobre um dos países mais fascinantes do mundo.

Pose (Fox Premium)
Outra forte candidata a personagem do ano é a amazona transexual Elektra Abundance, a antagonista-que-vira-boa da série ambientada no universo das houses novaiorquinas do final dos anos 80. Ryan Murphy marcou mais um golaço com este potente cocktail de glamour, desespero e atitude. Começo a suspeitar que o criador de "Glee" e outros sucessos tem poderes infalíveis.


Menção mais do que honrosa:
a sensacional "Ilha de Ferro" (Globoplay), do qual eu sou suspeito para falar. Só não entrou na lista porque o relapso aqui ainda não terminou de assistir...


MINISSÉRIES

O Assassinato de Gianni Versace (Fox Premium)
Quem foi esperando um mergulho na intimidade de Gianni e Donatella - tipo eu - se decepcionou um teco. Mas foi só até entender que mais essa façanha de Ryan Murphy é na verdade sobre Andrew Cunanan, o psicopata assassino que rendeu a Darren Criss o Emmy de melhor ator em minissérie. Penélope Cruz, Edgar Ramírez e até Ricky Martin também estão ótimos, mas o que importa mesmo é mostrar como a homofobia introjetada pode se tornar fatal.
La Balada de Hugo Sánchez (Netflix)
Devo ser o único brasileiro que vê a mexicana "Club de Cuervos", uma das séries mais engraçadas da atualidade. Mas por lá a repercussão é grande o suficiente para gerar este spin-off estrelado por um coadjuvante, o puxa-saco Hugo Sánchez, que se vê encarregado de levar o time para um torneio na Nicarágua. O ex-ator mirim Jesús Zavala merece muitos prêmios.
My Brilliant Friend (HBO)
Eu confesso: larguei no meio o romance de Elena Ferrante que se tornou cult no mundo inteiro. Mas caí de boca nessa adaptação para a TV, tornada ainda mais saborosa por causa dos dialogo em dialeto napolitano. A saga de Lila e Lenu se interrompe bruscamente, no ponto em que acaba o livro: vem aí a segunda temporada, mas com outro nome. E em inglês, cazzo.

Sharp Objects (HBO)
E por falar em final abrupto, que tal a frase "Don't tell mama?" Bastaram três palavrinhas para destruir toda a sensação de paz que o espectador atingiu depois de sofrer ao longo dos oito episódios desta versão do livro de Gillian Flynn, sobre um assassino de garotas no sul dos Estados Unidos. Amy Adams é outra que pode ir arrumando espaço para troféus na prateleira.
Wild Wild Country (Netflix)
Quase não vejo séries documentais, porque a maioria é do tipo "The Making of a Murderer": lentas, hiperdetalhistas, que não chegam a lugar nenhum. Mas me rendi a esta, porque uma das minhas irmãs foi sannyasi e eu queria saber mais sobre a religião que a dominou por mais de dez anos. Acabei descobrindo em Sheela Anand uma vilã icônica, mais interessante do que o Baghwan Shree Rajneesh. Mas a serie também é leeenta.

E ainda teve as séries antigas que tiveram boas temporadas em 2018: "The Affair", "Better Call Saul", "Divorce", "Merlí", "This Is Us", "Versailles"...

ATUALIZAÇÃO: Esqueci de incluir entre as séries minha queridinha "Samantha!", da Netflix. Sou uma das poucas pessoas que realmente gostou dessa sitcom nacional: eu diria que sou uma das poucas que entendeu. A busca pela fama a qualquer custo é um assunto que sempre me faz rir, e a bela Emmanuelle Araújo revelou um timing cômico que a Globo nunca deixou ela por para fora. A próxima temporada já foi filmada!


MAIS UMA ATUALIZAÇÃO: A velhice é muito triste. Foi ela quem me fez esquecer da melhor sitcom sobre velhice jamais feita: "O Método Kominsky", muito superior à similar "Grace and Frankie", também da Netflix. Michael Douglas e Alan Arkin fazem amigos de longuíssima data que enfrentam juntos as agruras da terceira idade: a perda do cônjuge, problemas financeiros, o encarquilhamento fisico. Tudo com muito sarcasmo. Assim dá gosto envelhecer.

9 comentários:

  1. De todos da sua lista, a minha preferida é "wild wild country".
    E eu sou outro brasileiro que assistiu "Clube de Cuervos" também, e gostava bastante. Mas não consegui passar dos primeiros episódios de "La balada", que parece ser só mais do mesmo. E falando nisso, tem um mini episódio especial "Eu, Potro" dedicado ao gostosão argentino da série (praticamente só uma desculpa para mostrá-lo pelado mais uma vez), não vi muita gente comentando. Bjs.

    ResponderExcluir
  2. A casa das flores.... sensacional!!!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Os primeiros episódios são meio devagar, mas depois que as travestis e michês tomam conta da narrativa fica delirante!!!

      Excluir
  3. Onde estão as produções BRASILEIRAS?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eu cito uma, "Ilha de Ferro".

      mas esqueci de uma das minha favoritas: "Samantha", da Netflix.

      Vou atualizar o post!

      Excluir
    2. Vc disse que tinha gostado de Sob Pressão...

      Excluir
  4. Paco Léon, a trans da Casa das Flores é um diretor/ator super popular na Espanha e acaba de dirigir uma delicia de série pra Moviestar (depois da Netflix ter recusado o projeto): Arde Madrid! Imperdível.

    ResponderExcluir
  5. Nossa! Esse ano não vi nenhuma das suas "séries do ano".

    ResponderExcluir