sábado, 20 de outubro de 2018

MOSTRUÁRIO A


A Mostra de Cinema de São Paulo serve, entre muitas outras coisas, para a gente se expor a formas estranhas de filmar. Uma delas é a de "Eu Não me Importo Se Entrarmos para a História como Bárbaros", que representa a Romênia no próximo Oscar. Gostei muito do trabalho anterior do do diretor Radu Jude, "Aferim!", exibido três anos atrás. Mas dessa vez não embarquei muito no falso documentário sobre a encenação de um massacre de judeus pelo exército romeno na 2a. Guerra Mundial. Pelo menos o final me arrepiou: ao ver a judeuzada trancafiada em uma casa em chamas, o público presente à uma praça de Bucareste aplaude para valer.


"Diamantino" estava cotado para ser o indicado de Portugal ao Oscar, mas foi preterido. Talvez os tugas tenham se cansado de escolher longas bem doidos, que passam batido pela Academia. Porque a estreia de Gabriel Arantes e Daniel Schmidt no longa-metragem se insere em uma tradição meio surrealista que remonta a Manoel de Oliveira. É uma comédia lisérgica, cujo personagem-título é um jogador bonitão vagamente inspirado em Cristiano Ronaldo. O sujeito é uma besta e ainda fala com sotaque madeirense; gosto especialmente quando ele diz o nome de seu gato Piruças. E o ator Carloto Cotta além de deslumbrante, se joga de cabeça na estupidez do craque (e antes ainda mostrou versatilidade, ao interpretar Fernando Pessoa e seu heterónimo Álvaro de Campos no curta "Como Fernando Pessoa Salvou Portugal"). "Diamantino" é uma coprodução brasileira e deve estrear por aqui em janeiro.

Ter ido à Tailândia em março me ajudou a suportar "Malila - A Flor do Adeus", que também disputará uma indicação ao Oscar. O filme é lento, sem imagens particularmente belas. Também é um romance gay, em que um dos pombinhos está condenado por um câncer no pulmão. Ele e seu namorado passam boa parte do tempo fazendo e conversando sobre bai sris, arranjos florais intrincadíssimos que são usados em rituais budistas para atrair boa sorte. A história se passa quase toda no meio do mato, então senti falta de ver mais da arqutitetura local (aliás, a época e o lugar nunca são definidos). Minha paciência com cinematografias exóticas está terminando...

...e mesmo assim eu ainda encarei "Não Me Toque", o vencedor do Urso de Ouro no último Festival de Berlim. O filme da diretora romena Adina Pintile também anda na fronteira entre a ficção e o documentário, focando em três personagens (um deles, que tem uma deformidade severa, interpreta a si mesmo) que fazem distintas terapias para perder o medo da intimidade sexual. Tem nu frontal e cenas de orgia, mas é um dos filmes menos excitantes de todos os tempos. Alguns momentos são interessantes e a cena final é uma catarse,  mas também tive muito soninho. A Mostra está só começando, e eu sei que ainda vou ver muita coisa bizarra. Faz parte.

4 comentários:

  1. Pô Tony, o trailer de Diamantino é bonito, e o que é dito na narrativa interessante, e eu não entendo nada de português com sotaque lusitano! Kkkk

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  2. Tony,
    O sotaque do personagem de "Diamantino" é madeirense, da Ilha da Madeira, Portugal.

    Beijo e abraço,
    Susana

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    1. De fato, ele soa muito parecido com a minha cunhada, que também é madeirense. E o CR7 também é de lá. Eu devia ter me tocado! Obrigadinho.

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  3. O Mio Babbino Caro
    Todo ano vou lá compro o catálogo o pôster uma agendinha um lápis a programação e espero os filmes entrar em cartaz...quando entram. Bom mesmo era quando a fila se estendia por todo o vão do MASP para assistir por exemplo: "A árvore dos tamancos" a vida fluía feliz porque todos nós sabíamos que estávamos ali também num gesto de que a ditadura iria cair como de fato caiu. Quem diria que hoje numa dessas tarde numa dessas filas iríamos temer que clamassem por ela a mesma militar voltar.

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