"As Herdeiras" se passa no Paraguai, o que pode até passar desapercebido. O filme tem poucas externas, e os personagens pouco falam do país em que vivem. A única referência mais explícita acontece nos créditos finais, que rolam ao som de "Recuerdo de Ipacaraí". É um pouco como tocar "Aquarela do Brasil" no fim de um longa brasileiro, mas a letra da mais célebre das guarânias têm mesmo a ver com a história. Duas mulheres de meia idade vivem juntas em uma mansão antiga; nada fica muito explicitado, mas elas estão juntas há 30 anos. Também sem muita explicação, uma vai em cana, acusada de fraude, enquanto a outra põe móveis e objetos para vender e trabalha como motorista particular para outras senhoras endinheiradas. Quase que só há mulheres em cena: o único homem com falas é o atendente de uma barraca de cachorro-quente. E assim, sem trilha sonora e com cenas aparentemente banais, vai-se construindo o retrato de uma senhora tímida, que aos poucos desperta para a vida. Quem, afinal, é a verdadeira prisioneira? A que está atrás das grades, ou a que ficou em casa tomando conta de tudo? Pena que esse dilema interessante se dilua na letargia.
Esse filme fez barulho no festival de Berlim esse ano. Além do fator diversidade, filmes paraguaios são tão raros que despertaram a curiosidade do público. Sessões entupidas e Urso de Prata de melhor atriz para a Ana Brun! Merecido!
ResponderExcluirNossa! Estou tentando lembrar, mas não consigo. Acho que não assisti um filme paraguaio nos últimos anos...
ResponderExcluirO Paraguai não tem indústria cinematográfica. Produzem um ou dois filmes por ano e olhe lá (às vezes, nenhum). O próprio "As Herdeiras" é uma coprodução com muitos países, inclusive o Brasil.
ExcluirProcure um filme recente de lá (acho que de 2013) chamado
"7 Caixas": muito bom.
Tá anotada no meu "wish list", a sugestão!
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