domingo, 30 de setembro de 2018

A SAPOTI

Quando eu nasci, Ângela Maria já havia passado do auge. Era até considerada o supra-sumo da cafonice em alguns círculos - e suas interpretacões de "Babalú" ou "Vida de Bailarina" reforçavam essa fama. Mas aí, talvez por influência da Tropicália, uma coisa curiosa aconteceu. Ângela Maria aos poucos foi recolocada no trono da maior cantora do Brasil, recebendo homenagens de todos os lados. Elis Regina e Cesária Évora diziam que a Sapoti havia sido a maior influência delas (e ambas morreram antes da musa, olha só que ironia). Consegui ver dois shows dela, sempre ao lado de Cauby Peixoto. No primeiro, em 1989, os dois ainda tinham pleno domínio de seus talentos. No último, em 2013, Cauby não andava mais, mas a voz permanecia intacta - e com Ângela acontecia o contrário. Masmo assim, era sensacional vê-los em ação, juntos ou separados. Ângela Maria teve a sorte de não morrer esquecida, muito pelo contrário. Trabalhou até onde deu e brilhou por mais de 70 anos. Estava na hora das gueis novinhas a descobrirem.

A BATATA TÁ ASSANDO

Nunca vi uma estação do metrô tão cheia como a Paulista estava neste sábado à tarde. Só conseguimos embarcar no terceiro trem, e mesmo assim a muito custo. Mas ninguém no vagão reclamava do aperto: todo mundo ria, cantava e gritava palavras de ordem. Descemos três paradas depois, no Largo da Batata. Que, às três e meia da tarde, já estava abarrotado. Nenhum minion precisa me dizer que as manifestações contra o Bozo floparam: eu fui na de São Paulo, eu estava lá. No Rio, a Cinelândia também ficou coalhada de gente (e a praia de Copacabana, onde rolou uma marcha pró-Bozo, tinha só uns gatos pingados). De fato, robô não sai em passeata, e muito menos vota. Isto não quer dizer que o Solnorabo esteja fora do segundo turno, é claro. Mas o movimento #EleNão, que saiu das redes sociais para as ruas e se espalhou por todo o Brasil e o exterior, furou a bolha da narrativa bostonazista de que "todo mundo" ia votar no Coiso. A tática do já-ganhou, copiada das igrejas evanjas, já era. Agora, o que precisava mesmo era os nem-um-nem-outro nos unirmos e mandar um candidato nosso para o segundo turno. Boçalnaro x Haddad é um pesadelo. Ainda resta uma semana, galera.

sábado, 29 de setembro de 2018

VITÓRIA POR PONTOS


A história de Éder Jofre tem uma curva dramática perfeita: o começo difícil, as primeiras vitórias, os campeonatos mundiais, a saída dos ringues e um retorno triunfal. No entanto, mesmo com esse material à mão e uma requintada reconstituição de época, "12 Segundos para Vencer" não conseguiu me empolgar. Nem as ótimas atuações de Daniel de Oliveira como o boxeador e Osmar Prado como seu pai e treinador, o figuraça Kid Jofre, transcendem um roteiro que telegrafa quase tudo o que vem a seguir. Mesmo assim, Éder é um herói do esporte brasileiro, e merecia mesmo uma cinebiografia luxuosa. Que, se não chega a nocautear o espectador, deixa ele bem zonzo.

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

OBSERVANDO NO RÁDIO

Nesta sexta eu participei do programa "Observatório E" (de entretenimento), que vai ao ar de segunda à sexta, às 13 horas, pela rádio Trianon de São Paulo - 740 AM. Foi uma ótima conversa com uma hora de duração com Fernando Berenguel, Renan Vieira, Rodrigo Ial e Vitor Guima sobre novelas, filmes, babados em geral e, principalmente, o caso Anitta x #EleNão. Como hoje em dia nada se perde, dá para ver um vídeo do programa na página do Observatório E no Facebook, ou escutá-lo na íntegra neste link aqui. Observe como eu me saio bem!

DIA DE FESTA NO VALE


O Vale dos Homossexuais amanheceu cantando. Nada menos do que três álbuns de deevas beeshas foram lançados nesta sexta-feira. O mais badalado é o de covers do ABBA por Santa Cher. Trata-se de um disco oportunista e preguiçoso: na maioria das faixas, parece que apenas trocaram os vocais de Frida e Agnetha pelos da divindade. Até os arranjos para os filmes "Mamma Mia!" arriscaram mais. E o repertório de apenas dez canções só traz obviedades: nenhuma inédita, nenhuma pérola obscura, nenhuma abordagem inusitada. Mesmo assim, "Dancing Queen" é uma delícia, realçada pela voz dramática de Cher.  As definições de música viada não foram atualizadas com sucesso: só reiteradas. Quem inova é Madonna.

Gal Costa nunca se encaixou no molde da deeva beesha, mas sempre foi muito querida no Vale. E "A Pele do Futuro" acena para nosso povo logo na abertura: "Sublime", composta originalmente como um samba, ganha roupagem de disco music dos anos 70. O resultado fica aquém do título da música, mas é divertido ver uma entidade feito Gal se voltando para as peeshtas de dança. O resto do álbum é bem mais comercial que os últimos trabalhos da cantora: todas as faixas foram pensadas para virar hits, e não admira que o próximo single seja "Cuidando de Longe", um dueto com Marília Mendonça. Dessa vez Gal não rompeu barreiras, e sua voz não é mais o cristal de antes. Mas "A Pele do Futuro" não faz feio perto de clássicos como "Fantasia".
Agora, beesha phyna pra valer está celebrando a chegada de "Désobeissance", o novo álbum de Mylène Farmer. Há anos que eu prego o credo mylènista aqui no blog, mas consegui poucos adeptos. Problema de vocês: aí sobra mais Mylène para os verdadeiros apreciadores. Já postei a capa e a melhor música do disco neste post de três semanas atrás: vai lá, e converta-se você também. Allez-y!
Como se não bastasse essa avalanche de música nova, a Dona da Porra Toda se pronunciou. Madonna aderiu ao #EleNão no Stories, e já está sendo acusada de mamar nas tetas da Lei "Rouaney" ou de ter recebido 600 milhões. Pois é, valecistas: depois de nos encher de alegrias ao longo dos anos, hoje Madge está fazendo a minionzada passar mais um vexame histórico. Rainha, né, mores?

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

GENERAL MORRÃO

imagine se o PT, a Globo e o Pabllo Vittar tivessem se reunido em um laboratório secreto e criado um robô para se infiltrar na campanha do Bostonazi e destruí-la por dentro. Nem assim o resultado seria tão sublime quanto as trapalhadas do general Hamilton Mourão, o vice mais boquirroto de todos os tempos. Não há registro de candidato que tenha atacado o 13o. salário, uma instituição que, por mais jabuticaba que seja, está incrustrada no DNA do brasileiro. O mais engraçado é que os minions nem ligam, ou então xingam  de suja a imprensa que divulga os descalabros do PSL. A cada fica mais claro que não há uma única proposta concreta na plataforma do "mito". O Morrão nem precisa se dar ao trabalho de desmentir, depois de ter levado um pito do cabeça da chapa. Sua fala já está sendo usada na propaganda dos adversários, e pode convencer alguns indecisos a não jogar o Brasil no abismo.

DEPOIS A LOUCA SOU EU


Por quê "Distúrbio" não passou nos cinemas brasileiros? O filme tem pedigree: a direção é de Steven Sodebergh, que já ganhou um Oscar, e a protagonista é Claire Foym recém-premiada com um Emmy pela série "The Crown". Mesmo com essas credenciais e boas críticas, o longa chegou por aqui direto nas plataformas sob demanda. Mas eu não precisei pagar para assistir: consegui ver no meu voo de ida para o Canadá. Sodebergh realiza mais uma proeza, ao rodar cenas extremamente elaboradas com um reles iPhone. Mas o roteiro cumpre menos do que promete: uma mulher é internada à força, e acha que é seu "stalker" quem está por trás de tudo. Ou será que é tudo loucura da cabeça dela? A dúvida logo se desfaz, com um resultado bastante convencional. Se bem que deu para me distrair.

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

BOSSA FINA É OUTRA COISA

Mal cheguei de viagem e já fui me enfurnar na Record. Mas o convite era irrecusável: a gravação do especial "O Fino da Bossa", que deve ser exibido em outubro em comemoração dos 65 anos da emissora. O programa comandado por Jair Rodrigues e Elis Regina marcou os anos 60, reuninado a nata da MPB de então. O revival de hoje também juntou um timaço: Gilberto Gil, Alcione, Elza Soares, Marcos Valle, Diogo Nogueira, Roberta Sá, Fernanda Takai, Paulo Jobim, Projota, Simoninha, Max de Castro, Jairiznho e, no comando, Luciana Mello e Pedro Mariano, substituindo os pais. Um elenco raro de se ver em qualquer TV aberta nos tempos que correm. Precisei sair mais cedo porque pretendia ir ao show da Nicki Minaj, mesmo sabendo que a qualidade musical da rapper americana está a léguas abaixo do que eu vi no estúdio da Barra Funda. Aí fui em casa para trocar de roupa e bateu aquele cansação. Fuén, fuén, agora só vejo o resto da "Bossa" quando for ao ar.

(tem muitas fotos da gravação no meu Facebook e no meu Instagram)

A IGREJA DE SÃO DISNEY

Já estou de volta ao Brasil, mas ainda sob o impacto da minha rápida visita ao Canadá. Montréal foi quase que uma cidade inteiramente nova para mim: das poucas coisas de que eu me lembrava de 25 anos atrás, está a deslumbrante Basílica de Notre Dame, a igreja mais bonita de toda a América do Norte. Erguida em 1830, ela antecipa em um século a paleta de cores dos filmes de Walt Disney - e o altar tem uma semelhança incrível com o logo do castelo da Cinderela que adorna todos os produtos da companhia. É tudo tão lindo que o arquiteto protestante que a construiu se converteu ao catolicismo, só para poder ser enterrado lá. Perdi o espetáculo de sons e luzes "Aura", em cartaz quase todos os dias. Como tem que comprar antes porque vive lotado, marquei a maior touca. Para me vingar da má sorte, embarquei em um tour de uma hora por toda a Basílica, dos porões ao órgão, no segundo andar. E agradeci pela boa sorte.

terça-feira, 25 de setembro de 2018

CÁ, NADA

Existem algumas teorias sobre a origem do nome "Canadá". A mais aceita é que seria uma variante de "khanata", que signifcia aldeia na língua dos índios iroquois. O problema é que os iroquois viviam no interior, e o nome já aparece sobre o litoral do que viria a ser o país em alguns mapas bem antigos. Claro que a minha explicação favorita é a de que "Canadá" nada mais é do que o português "Cá, Nada". Faz sentido: imagina a decepção do pobre navegador lusitano, em busca de ouro e especiarias, ao dar num lugar gélido e desabitado.

O Canadá é um país curioso. É rico, mas não tem lá muito "soft power". Sua influência na cultura ocidental está sempre a reboque dos EUA e da Grã-Bretanha. Até a pequena Irlanda já produziu uma banda de rock de sucesso global como o U2. Não que o Canadá seja um deserto em termos musicais, é claro: tem Leonard Cohen, Joni Mitchell, k. d. lang, Oscar Peterson. E Céline Dion. E Justin Bieber... Acontece que o país todo ainda é meio caipira. Não admira que o prato mais popular seja a poutine, uma mistureba de batata frita com queijo derretido e molho barbecue. Tem mil variações, todas indigestas.

Por outro lado, em muitos aspectos, o Canadá é o país mais avançado do mundo. Além do primeiro-ministro gato e das leis ultraliberais, os canadenses também contam na política com figuras como a senhora aí ao lado, Manon Massé, deputada que concorre à reeleição pelo Québec. Sim, você leu direito: senhora. Manon é uma mulher cis homossexual, que cultiva um suave bigode como forma de desafiar os padrões de beleza e o próprio conceito do que seja feminilidade.  Já quero votar nela, é óbvio. Mais uma razão para me mudar para cá. Só não vai ser dessa vez, porque já estou no aeroporto esperando minha conexão para Toronto. Farewell, à tout à l'heure, ilaanilu.

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

FUGIR COM O CIRCO

Eu sou trapezista. Nunca contei isto aqui no blog, mas há anos que eu pratico o trapézio em segredo. Também faz anos que eu mando vídeos e faço audições por aí. E agora, depois de muitas tentativas, finalmente fui chamado pelo Cirque du Soleil. Vim para Montreal para isto: estão tirando minhas medidas e criando meu look para o próximo espeteaculo, "L'Âge d'Or", só artistas da terceira idade. Claro que nada disso é verdade, mas como eu queria que fosse. Porque estou totalmente bouleversé pelo Cirque du Soleil. Hoje visitei os headquarters da companhia, que está rapidamente se tornando em um conglomerado poderoso no mundo do entretenimento. Sabia que o Blue Man Group faz parte do Cirque du Soleil? Pois é, eu só soube hoje. Além das dezenas de espetáculos em turnê permanente pelo mundo, eles também estão entrando em outras mídias. E a primeira série de TV coproduzida pelo Cirque está terminando de filmar aqui em Montréal: também fomos visitar o set e conversar com o elenco (em breve, mais detalhes na Folha). Como eles estão à procura de outros projetos, acho que vou pensar em alguma coisa. O prédio deles é legal demais, quero trabalhar lá. Quero fugir! Confira no FB as fotos que eu tirei e veja se não te dá vontade também.

domingo, 23 de setembro de 2018

A PRIMEIRA VOZ DO QUÉBEC


Para já ir entrando no clima, assisti a um filme franco-canadense no avião, pouco antes de aterrissar em Toronto. "La Bolduc" fala de uma figura histórica da cultura québecoise: a cantora Anne-Marie Travers Bolduc, que fez um enorme sucesso na década de 1930. Eu estava esperando uma espécie de Piaf do Canadá, mas o som da Bolduc é muito mais antigo. São canções rurais, com letras simples que falam do dia-a-dia, acompanhadas por gaita, violino, piano e palmas - e todas parecidíssimas entre si. Mas o filme vai além do showbiz. Há uma discussão pertinente no fundo: o papel da mulher da sociedade. Os tempos eram tão machistas que a cantora usava, como nome artítsitco, madame Édouard Balduc, para deixar bem claro que era casada. Mais tarde, quando uma filha adolescente quis seguir carreira artística, a Bolduc não deixou. Era, enfim, uma mulher de seu tempo - e este tempo está bem recriado na produção, bastante esmerada para um longa que não irá para longe do Québec.

LUIZ A., QUE ESTÁ NO CANADÁ

Para quem ainda não sabe: meu nome de batismo é Luiz Antonio. Por isto não resisti a requentar esse meme de seis anos atrás: cheguei hoje de manhã a Montréal, no Canadá. Vim para um "press junket" do Cirque du Soleil, olha só que aborrecido. Fico só até terça, mas vou ter um tempinho para redescobrir a cidade. Estive aqui só uma vez, em 1994 e no auge do inverno. Também vou pesquisar as normas para a imigração, emprego, lugar para morar, essas coisinhas. Do jeito que a coisa vai no Brasil, quero mais é morar um país onde o casamento gay é legalizado há mais de dez anos,  o aborto idem e a maconha o será até o final de outubro. A única desvantagem é o frio de 500 graus abaixo de zero, mas o Justin Trudeau é um gato, né? Por isto, hoje meu coração canta a mais bela canção canadense de todos os tempos: I can't explain how I became Miss Chatelaine...

sábado, 22 de setembro de 2018

NAZISTA FILHO DA PUTA

É feio chamar alguém de nazista filho da puta? É contraproducente usar a expressão nazista filho da puta? Alguns defendem que, se empregado em excesso o termo nazista filho da puta, então nazista filho da puta pode perder um pouco de sua força enquanto nazista filho da puta. O nazista fica um pouco menos nazista? Ou será que fica ainda mais nazista, à custa de tanto nazismo? O filho da puta provavelmente continua o mesmo filho da puta, porque filhos da puta raramente deixam de ser filhos da puta. De qualquer maneira, aprecie com moderação o seu nazista filho da puta. Talvez seja não ficar repetindo nazista filho da puta, nazista filho da puta, nazista filho da puta, nazista filho da puta, nazista filho da puta, nazista filho da puta, nazista filho da puta, nazista filho da puta, nazista filho da puta, nazista filho da puta, nazista filho da puta...

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

INSTITUTO MÉDICO ILEGAL


O escolhido pelo Irã para disputar o próximo Oscar de filme estrangeiro mal parece iraniano. Não fosse pela língua e pelos véus nas cabeças das mulheres, a história poderia se passar em qualquer país do mundo - especialmente, nos do terceiro mundo. Um médico esbarra seu carro, sem querer, em uma moto onde ia toda uma família - pai, mãe, filho de oito anos e uma bebê de colo. O fato de ninguém usar capacete é o de menos. Vai todo mundo ao chão, mas só o garoto parece ter se arranhado um pouco. O doutor insiste em levá-lo ao hospital, mas o pai se recusa. No dia seguinte, ao chegar para trabalhar, esse médico descobre que sua pequena vítima chegou a ser internada de madrugada, mas morreu. Só que a autópsia indica que a provável causa da morte foi botulismo. A partir daí se desenrola um drama pesado, que resulta em mais um morto e em um dilema de consciência para o doutor. Afinal, o moleque morreu por causa do acidente ou não? Não tem nada de muito entertaining neste longa de Vahid Jalilvand. A fotografia é acinzentada, as locações são feiosas e não há uma nota sequer de música. Mas as questões levantadas são interessantes - e, na melhor tradição do cinema iraniano, quem tem que chegar a uma conclusão é o espectador.

THE ECOMMUNIST

Uma das poucas alegrias que nos restaram nesses dias sombrios é ver a extrema-direita passar vergonha. Outro dia tinha um moleque no Twitter jurando que Martin Luther King era do partido Republicano e que, se vivo fosse, estaria apoiando o Trump. A galera bronca continua insistindo que o nazismo era de esquerda, mesmo depois do jornal "The Guardian" desencavar uma entrevista de Hilter repudiando o marxismo. E ontem os brazucas "do bem" caíram sobre a revista "The Economist", o órgão oficial do Foro de São Paulo, muito lida em toda a Ursal. Fora os que atacaram Monica Bergamo, por ela ter revelado na Folha que Paulo Guedes pretende ressuscitar a CPMF... Seria tudo muito engraçado, se também não fosse perigoso. Trump foi tratado como um palhaço e deu no que deu: hoje ele é um palhaço na Casa Branca. Bostanazi é uma ameaça real, inclusive porque não tem planos consistentes e está pessimamente assessorado. Se sua própria campanha já um caos, sem um comando firme, imagine o que seria seu governo? Bom, não vem faltando aviso.

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

ÀS NOSSAS DIVAS MAL-FORMADAS

Sim, eu sou um disco riscado, mas não posso deixar de postar este vídeo do Põe na Roda - inclusive porque o fofo do Pedro HMC cita o meu nome e uma frase do meu post de terça, que hitou. Na verdade, foi lendo uns tuítes dele que eu me dei conta da situação. E o assunto continua na minha coluna de hoje no F5.

AOS NOSSOS AMIGOS MAL-INFORMADOS

Todos nós temos amigos gays que declaram voto no inominável. Já quebrei o pau com alguns nas redes sociais e até desfiz uma amizade de anos. Como estou cansado de bater na mesma tecla, hoje vou deixar que o Vítor diCastro fale por mim. Assista ao vídeo acima, compartilhe nos seus perfis e mostre para aquele tolinho que acha que ser antipetista é mais importante do que reconhecer nossa cidadania. Nunca corremos maior perigo do que agora. Conscientização é vida.

(obrigado pela dica, Marcelo Luz Natel)

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

NEM UM, NEM OUTRO

Ontem à noite eu postei este meme aí do lado nas minhas redes sociais, e o céu me caiu sobre a cabeça. Como que eu ouso comparar o "Andrade", que tem tanto preparo e refinamento, ao brucutu do Bostanazi? Só que eu não estou dizendo que os dois são equivalentes. Apenas não quero ter que escolher entre ambos no segundo turno. Se tiver que, nem pisco: voto no Haddad. Claro que é cedo demais para o PT votar ao poder - ainda mais agora, com o partido está clamando por vingança. Mas, apesar de umas ameaças de vez em quando, já sabemos que os petistas não impõem censura aos meios de comunicação, não persegume os gays e outras minorias, não dizem que vão fechar o Congresso e escrever outra constituição. O Bozo periga fazer tudo isso. E ainda tem um agravante: seus eleitores estarão empoderados para bater em bichas e mulheres, já que se sentirão donos do país (algo parecido aconteceu nos EUA depois da eleição do Trump). Fora os evanjas controlando ministérios ou o ultraliberalismo de Paulo Guedes, que vai deixar Temer com cara de Lênin. Ah, e tem mais: qualquer um dos dois que for eleito, provavelmente o será por bem pouco. O lado derrotado não vai se conformar, e fará tudo para sabotar o novo governo. Mas o Brasil merece mais do que isso. Por isto, nem um, nem outro no segundo turno. Vamos combinar direitinho esse voto, que ainda dá tempo.

terça-feira, 18 de setembro de 2018

DONA DA PORRA NENHUMA

Vários artistas já aderiram à campanha #EleNão. Na música, contamos com o apoio de militantes históricas da causa LGBT como Marina Lima ou Daniela Mercury. Mas também tem algumas cantoras que preferem não se posicionar. É o caso de Anitta, Ludmila e Valesca Popozuda. Direito delas: no Brasil que eu quero para o futuro, o voto é facultativo. Só que tem uma coisa. Todas as três citadas têm um enorme público gay, e volta e meia são coroadas como rainhas de paradas e similares. Devemos deixar claro para elas que só isto não basta. Rainha de verdade defende os súditos e lidera as tropas contra o inimigo. Não fica só batendo cabelo em cima do trio elétrico. TEM QUE DAR A CARA PARA BATER, SIM. Se não, não é rainha de nada. Devolve a coroa e o cetro, e volta para o limbo de onde você nunca saiu.

TUDO RESOLVIDO

Não vou me alongar muito aqui sobre a entrega dos Emmys, que aconteceu na noite de ontem. Ela é o assunto da minha coluna de hoje no F5. Só quero compartilhar o número de abertura, muito mais comedido do que o de outros anos. Mas a mensagem é da hora: a televisão precisa espelhar a sociedade. Nos Estados Unidos isto está quase resolvido (e não tudo, como a própria canção admite mais para o fim). Aqui no Brasil, depois do barulho em torno do elenco quase todo branco de "Segundo Sol", esperamos novidades em breve. Ou não?

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

SOON-YI OR LATER

Já defendi tantas vezes o Woody Allen, aqui no blog e na minha coluna no F5, que não vou ficar me repetindo. Só um pouquinho: nunca acreditei que ele teria abusado de sua filha adotiva Dylan quando esta tinha apenas sete anos. Muito mais plausível é Mia Farrow ter plantado uma lembrança falsa na cabecinha da garota, machucada que estava por ter sido trocada por outra filha, Soon-Yi. Esta semana a sempre discreta coreana finalmente abriu a boca, em uma longa entrevista para o site Vulture. Leia, se você entende inglês. Só acrescento que concordo com tudo. E que estou puto com a Amazon, que cancelou o lançamento do novo filme de Woody, "A Rainy Day in New York". Que, para aumentar minha dor, tem Timothée Chalamet no elenco.

FREMDSCHÄMEN

Pelo menos há um lado engraçado nos ataques que a extrema-direita vem promovendo na internet: eles sempre são pegos de calças curtas, feito crianças que passam trotes fingindo que são adultas. Sofreram um vexame coletivo ao implicar com o vídeo produzido pela embaixada da Alemanha, onde se explica que o nazismo é, sim, de direita - como se um bando de toscos brasileiros entendesse mais da história alemã do que os próprios alemães. Foi, sim, um enorme fremdschämen (vergonha alheia), como bem disse o site brasileiro do jornal "El País". Outro fiasco foram as fake news de que o grupo Mulheres Unidas Contra Bolsonaro era uma fraude, o que foi espalhado até por um dos filhos genéricos do Bostonaro. Fraude para valer foi o que fizeram alguns dos apoiadores do inominável, ao hackear o grupo, mudar seu nome e até ameaçar suas administradoras. Mas essa turma não tem escrúpulo, haja vista o áudio em que alguém imita o padre Marcelo dizendo que apoia o Bozo. O próprio padre precisou vir a público esclarecer que não é ele. Golpes como esses só pregam aos convertidos e não ajudam a diminuir a rejeição recorde do protofascista. Mas servem para tumultuar ainda mais esta eleição. Que vergonha, mein Gott.

domingo, 16 de setembro de 2018

IRMÃZINHA QUERIDA


Uma das irmãs é uma estrela de cinema, dada a pirraças de diva. A outra também é atriz, mas só consegue trabalhos de dublagem. Com dificuldade para decorar textos, a famosa contrata a anônima para ser sua "coach" em um set de filmagem. É assim que começa "Carnívoras", um bom trhiller psicológico e mais uma variação do plot sobre inveja e puxadas de tapete que consagrou "A Malvada". Um dado interessante é que tanto as personagens quanto as atrizes que as interpretam são de origem árabe, mas isto não tem a menor importância no roteiro. Outra curiosidade é que os diretores também são irmãos - um é um ator conhecido, Jérémie Rennier (de "Cloclo"), e o outro, Yannick, não. Então só digo uma coisa: fica esperto, Jérémie.

sábado, 15 de setembro de 2018

RECONECTADO

Quase seis anos depois de ter saído de agência, eis-me de volta à propaganda. E de um jeito mais contemporâneo: fazendo storytelling no YouTube (e também sem carteira assinada, hehe - foi um freela, mas outros já estão vindo). Trabalhei na campanha "Reconectados" da Samsung junto com o pessoal da filial brasileira do The Story Lab, a mais importante agência de storytelling do mundo, e foi um dos jobs mais prazerosos de toda a minha carreira. Dos três episódios da série, este é o mais "meu", mas meti o bedelho em todos. Agora só falta voltar a ganhar bem.

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

NENHUMA RAZÃO POR QUÊ


Não está sendo um bom ano para o cinema brasileiro,. O melhor filme que eu vi até agora foi "Benzinho", que é muito bem feitinho, mas não é nenhuma obra-prima. E mesmo assim devia ter ganho o Festival de Gramado, de onde saiu com vários prêmios - menos o principal. Essa glória foi para "Ferrugem", que trata de um dos temas da moda: o bullying por causa de um vídeo vazado, que resulta em um suicídio. Sim, é meio a trama de "13 Reasons Why", mas feita de um jeito leeento, com looongos silêncios e nenhuma música (outra moda que me dá nos nervos). Nenhum ator está bem - nem o geralmente ótimo Chico Diaz - e os adolescentes são uns poços de inexpressividade. Pelo menos não há maniqueísmo no roteiro, mas isto ainda é pouco. E por que o título "Ferrugem"?

QUEM QUE ELES PENSAM QUE ENGANAM?

A campanha do Bostonazi está adotando uma tática manjada, muito usada pelos evangélicos do mal: o clima de rolo compressor, de vitória inevitável, de já-ganhou. Divulgam pesquisas falsas, como a de que o Bozo já teria 45% das intenções de voto, e espalham que alguns gays estariam recebendo dinheiro para fazer campanha pelo Ciro Gomes - sim, porque o certo seria não apoiarmos quem nos apoia e votar em quem nos odeia, não é mesmo? 

Mas a realidade insiste em se impor. Nos últimos dias, cresceu uma tsunami de rejeição ao Bonoro na internet, com grupos de repúdio pipocando no Facebook e manifestações sendo convocadas para a semana que vem. A reação dos minions é a de sempre: andam mentindo por aí que o Mulheres Unidas Contra Bolsonaro, por exemplo, seria a página Gina Indelicada (ou a Gina Sincera, segundo outra versão) que teria mudado de nome - um truque sujo que diversos grupos de extrema-direita já fizeram outras vezes. É mentira, é claro, como mostra o Catraca Livre. No mais, para quem quiser sair de qualquer grupo, basta clicar em sair. E esses grupos antifascistas só crescem.

Um sintoma do desespero que começa a bater no lado de lá é o vídeo divulgado hoje, em que o Boçalnaro aparece abraçando o folclórico Amin Khader. Isto "provaria" que o candidato não é homofóbico... Mas o próprio Amin derruba sem querer a prova, ao dizer que o Bonoro "só não gosta daquela cartilha que inventaram". Isto é homofobia, é óbvio. Nenhum simpatizante da causa dos direitos igualitários vai se deixar enganar. Mas não é com eles que este vídeo está falando: é com os minions que precisam se convencer de que o candidato deles não é machista, racista, homofóbico e totalmente despreparado. Solonorabo precisa segurar os apoiadores que já tem, porque não está conquistando novos.

Temos que aguentar firmes. Resistir aos memes que desqualificam as pesquisas sérias, porque é isto o que os protofascistas querem nos fazer acreditar. Aderir ao maior número de grupos possíveis, para mostrar força numérica. E comparecer aos atos programados, SIM. Já vi gente boa dizendo que a presença nessas manifestações só daria mais visibilidade ao inominável. Pois eu já acho o contrário: dá visibilidade à rejeição que ele tem, tão negada por seus bajuladores. Bora pras ruas, bora pras urnas, bora nos unir contra os inimigos da democracia.

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

OL-VI-DÉ CAN-CE-LAR EL MA-RIA-CHI

Quem estiver vendo "La Casa de las Flores" já tem uma nova paixão: Paulina de la Mora, a socialite de fala arrastada. No México, então, ela é a nova rainha dos memes. A série da Netflix é uma sátira impiedosa às telenovelas de lá, mas o curioso dialeto de Paulina não estava no roteiro original. Foi só no segundo episódio que a atriz Cecilia Suárez deu essa característica à personagem - e o diretor Manolo Caro gostou tanto que tiveram que dublar todas as cenas já gravadas. Mas por que Pau-li-na fa-la as-sim? Este vídeo aqui tem uma boa explicação: é porque ela toma Alprazolam, um medicamento contra ataques de ansiedade. Só que isto nunca é visto em cena. En-ten-de-do-res en-ten-de-rão.

DIAS DE TOFFOLI

Como será a gestão de Dias Toffoli à frente do Supremo? Dada a ligação histórica dele com o PT, não espero muita coisa. Por isto mesmo, acho que não vou me decepcionar como aconteceu com Cármen Lúcia. A ministra deixa a presidência do STF tendo comido um frango monumental, que, caso defendido, poderia ter mudado o curso da história do Brasil: ela pegou leve com Aécio Neves, e tudo segue como dantes no quartel de Abrantes. Não acho que Toffoli irá soltar Lula no primeiro dia, mas, ao lado de Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski, ele é um garantista no momento em que o Brasil mais precisa de rigor contra os poderosos. Vamos ver como se comporta.

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

UNIDOS VENCEREMOS

Vamos precisar de disciplina e determinação inéditas para derrotarmos o fascismo nessas eleições. Está ficando cada vez mais claro que o voto útil será necessário já no primeiro turno. Em português claro: Fernando Haddad é, dos quatro candidatos competitivos, o que tem mais chance de ser baitdo pelo Bostonazi no segundo turno, dado o antipetismo de boa parte da população. Mas, para a gente combinar o voto, antes é preciso conversar. Por isto, acho essencial se unir a um ou mais grupos que vêm brotando no Facebook. O mais vistoso é o Mulheres Unidas Contra Bolsonaro, que só ontem ganhou  meio milhão de adeptas.

Na esteira desse grupo surgiu o LGBTS contra Bolsonaro, que ressuscistou o S de simpatizante: não é preciso ser LGBT para aderir. Neste eu já me inscrevi, e quase adicionei amigos sem consultá-los. Mas me contive a tempo: odeio quando fazem isto comigo, então não farei com os outros. Fica aqui o convite.

terça-feira, 11 de setembro de 2018

BYE BYE BIBI

Vi mais Bibi Ferreira de 2013 para cá do que em toda a minha vida anterior. Todo ano ela lançava um novo show, esbanjando vitalidade no palco. Cheguei a pensar que ela se alimentasse do sangue de virgens; cheguei a pensar que ela iria me enterrar. Talvez até enterre, mas não a verei mais em cena. Bibi anunciou ontem sua aposentadoria, aos 96 anos de idade. Depois de algumas internações, ela decidiu que está na hora de parar, mesmo não tendo nenhuma doença grave. Eu só tenho a agradecer por ela ter nos aturado tanto tempo. E fico feliz de viver num tempo em que muita gente trabalha à toda até quase fazer 100 anos. Além da Bibi, lembro do Tony Bennett (que está com 92) e do Charles Aznavour (94), ambos ainda em atividade. Quero chegar lá. E quero que a Bbi me enterre.

FACADA NA CARNE

Então a facada que o Bolsonazi levou na quinta passada foi só isto mesmo: uma facada. Não foi um atentado contra a democracia, não serviu de impulso para ele disparar nas pesquisas, não o transformou em um mártir. Funcionou, no máximo, para que o voto envergonhado nele saísse à luz do dia. Segundo o Datafolha, o candidato do PSL cresceu só dois pontos desde 20 de agosto, dentro da margem de erro. Ao que tudo indica, bateu no teto: seus seguidores são fiéis, mas também são antigos. Ele não está conquistando novos adeptos. Também, pudera: as declarações belicosas de seu entorno e, principalmente, a foto de sábado na cama do hospital, só confirmaram que o Bozo não tem ideias para além do discurso de ódio. Mesmo assim, é provável que ele passe ao segundo turno. O que pode gerar uma briga feia no pelotão de trás: não duvido que o Haddad, por exemplo, agora pegue beeem pesado com o Ciro, numa daquelas campanhas elegantes que o PT sabe tão bem fazer. Mas, por enquanto, vou me refestelar na boa notícia. O Bonoro perde para todos no segundo turno. Isso deve doer muito.

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

EU HOJE VOU LHE USAR

Está subindo uma onda nas minhas redes sociais: o voto útil em Ciro Gomes, já no primeiro turno. Acho até que eu vou aderir. Algumas razões para tanto: 

1) Ciro tem carisma, propostas claras e apelo popular. Seu plano de tirar os devedores do SPC é exequível, fácil de entender e bom para a economia.

2) Ciro não tem a mesma rejeição que o PT amarga por aí. Vi muita gente razoável dizendo que prefere votar no Bostonazi do que reconduzir os petistas ao poder, tamanha a ojeriza causada pelos anos de Lula e Dilma no Planalto.

3) Ciro é nordestino e bastante conhecido na região. Acho mais fácil o pessoal de lá votar nele do que no "Andrade", que parece um frio tecnocrata perto do Cirão.

4) Ciro tem Katia Abreu como vice, o que atrai votos à direita. A vice do Haddad é Manuela d'Ávila. O fato dela ser comunista é um prato feito para os minions.

5) Ciro é um fofo. Nenhum outro candidato gera GIFs como esse lá de cima.

Nada disso significa que Ciro seja o candidato dos meus sonhos. Mas eu não sonho mais com candidato: tenho quilometragem o bastante para saber que ninguém é santo na política e que o presidente ideal não existe. Além disso, no momento em que o Brasil periga eleger um neofascista, Ciro Gomes se torna uma alternativa mais do que razoável. Fora que a primeira a correr para os braços dele será a minha preferida no momento, Marina Silva. Então, galera, bora cirar?

NAVALHA NA ALMA

Consegui a façanha de chegar à idade que tenho sem nunca ter visto "Navalha na Carne", talvez a peça brasileira mais montada de todos os tempos. Essa lacuna no meu currículo foi preenchida ontem, graças à encenação de Gustavo Wabner esterlada por Luisa Thiré. A atriz homenageia sua avó, Tonia Carrero, que deu uma guinada na carreira ao interpretar, em 1968, a prostituta Neusa Sueli, sem nada do glamour que a tornou famosa. O texto tem mais de 50 anos, mas continua atualíssimo: em um quarto de bordel, uma puta, seu cafetão e a bicha que faz a faxina brigam por dinheiro e por amor. E o espetáculo faz jus à importância de seus antepassados: cenário, figurinos, iluminação, elenco, tudo funciona direitinho, com momentos de tirar o fôlego e outros de partir o coração. Como uma criança que tapa os ouvidos quando vê um canhão entrar em cena, eu passei o tempo todo ansioso, à espera do momento em que uma navalhada rasgaria a pele de um dos personagens. Mal sabia eu que esse ferimento seria ainda mais profundo do que sugere o título da peça.

domingo, 9 de setembro de 2018

UN POINT DANS L'UNIVERS


Hoje eu acordei com la dégoûtée de ce monde: não quer saber de treta. O dia está lindo, eu estou com saúde e tenho uma pia de louça para lavar. Ao invés de brigar com estranhos nas redes sociais, estou mais a fim de mergulhar no novo single da minha ídola Mylène Farmer, um dueto com LP. Como muita gente, achei que LP fosse um homem: a aparência e a voz, meio de desenho animado, me levaram a esse engano. Mas trata-se de Laura Pergolizzi, uma artista americana que está por aí há anos e só agora eu tomei conhecimento dela. Já estou indo atrás de sua obra pregressa, e gostando muito. "N'Oublie Pas" é só um aperitivo do novo álbum de Mylène, "Désobéissance", que sai dia 28. Não posso me esquecer de me lembrar.

sábado, 8 de setembro de 2018

SEM A AJUDA DE APARELHOS

Acho que as campanhas adversárias não precisam suavizar seus discursos. Porque o próprio Bostonazi não suavizou: olha ele aí todo pimpão, já disseminando ódio sem a ajuda de aparelhos. O fato é que o Bozo sempre foi o maior inimigo de si mesmo, dispensando facadas de terceiros. Inclusive já circula um estudo mostrando que muita gente não dissocia o atentado do discurso intolerante do candidato; não é preciso ser um gênio para entender que violência gera violência. Não duvido que esta foto diminua bastante a eventual simpatia que o Solnorabo teria angariado nos últimos dias. Somem-se a isto as declarações belicosas de seus correligionários, e vamos ver o que dirá a pesquisa que sai na segunda-feira.

WE DON'T NEED NO EDUCATION

Ofuscada por chamas e facadas, tem uma discussão rolando no Supremo que merecia maior atenção. Anteontem, o relator do caso, o juiz Luís Roberto Barroso votou pela constitucionalidade do chamado "homeschooling". De fato, não há nada na Constituição que proíba explicitamente que os pais tirem um filho da escola para educá-lo em casa. Este assunto mal existia em 1988, quando a lei foi escrita, mas vem crescendo de importância. A moda começou entre fundamentalistas religiosos dos Estados Unidos, e chegou até aqui. Temendo que os filhos sejam contaminados pelo mundo secular - ou seja, expostos ao evolucionismo e à igualdade de direitos - esses malucos privam-nos do convívio com outras crianças, impedindo-os de fazer amigos e de se preparar para as relações da vida adulta. No limite, podem estar criando malucos ainda mais perigosos. Mas como reagir ao avanço dessa barbaridade? A lei não sobrepõe os interesses da criança aos direitos dos pais? Vamos ver como vota o resto do STF.

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

MARVIN, AGORA É SÓ VOCÊ

Toda bicha que sofre bullying no colégio e/ou teve uma família incompreensiva vai se identificar com o protagonista do filme francês "Marvin". Nascido em um lar proletário em uma cidade do interior, ele sofre pacas até descobrir sua vocação para o teatro e se mandar, seguindo de perto a letra da canção dos Titãs. Em Paris, as aventuras continuam: Marvin conhece um senhor que o ajuda e o apresenta para... Isabelle Huppert, no papel de si mesma. Tudo isto fora de ordem, em uma narrativa não-linear que em nada prejudica o interesse pela história (inclusive porque o ator Finnegan Oldfield, indicado ao César de revelação masculina, dá uma ajudinha). "Marvin" não é um filme espetacular, mas comigo aconteceu uma coisa raríssima: não chequei as horas nenhuma vez.

ANDRADE

Eu gosto do Fernando Haddad. Não votei nele em 2012, mas mudei de ideia em 2016. Foi um bom prefeito de São Paulo. Descuidou um pouco da zeladoria, é verdade - mas saneou as contas da cidade, o que é uma façanha e tanto. Haddad é, de longe, o quadro mais preparado do seu partido (é só conferir seu currículo). Além do mais, as acusações contra ele são ralas e têm cheiro de eleitoreiras. Claro que a reboque vem o PT e sua sanha por propinas, sítios e triplexes. Mas sou infinitamente mais propenso a votar no "Andrade", como dizem alguns nordestinos que mal o conhecem, do que em Lula, dono de um discurso divisivo. E voto nele sem piscar se for ao segundo turno contra o Bostonaro. Mas vai ser uma ironia e tanto se, depois das passeatas de 2013, do impeachment e da ascensão da direita raivosa, o mesmo partido que venceu as últimas quatro eleições presidenciais vencer mais esta também. Não era bem isso o que eu queria, mas ainda é melhor do que um protofascista no Planalto.

quinta-feira, 6 de setembro de 2018

QUEM COM FERRO FERE

A eleição mais louca de todos os tempos descambou de vez? Ou vai haver algum tipo de acomodação, agora que Lula não pode mesmo continuar candidato e Bolsonazi não pode mais continuar viajando? Não, não vou mudar a maneira como eu chamo o candidato do PSL: não é porque ele foi esfaqueado que suas ideias de repente ficaram cheirosas. Mas este atentado, aumenta as chances dele, ou não interfere? Duvido que alguém decida votar nele por causa da facada, mas o que está acontecendo é tão inédito que não me atrevo a arriscar um palpite. Vou esperar pelas próximas pesquisas. Por enquanto, rezo muito, mas pelo Brasil. Oremos.

LODESTAR

Na mesma semana em que saiu o livro do Bob Woodward devastando sua presidência, Donald Trump levou uma porrada anda mais certeira. O "New York Times" publicou ontem um op-ed anônimo, supostamente escrito por alguém de dentro da Casa Branca. É raríssimo que um jornal de grande porte faça algo assim: o NYT diz saber de quem se trata, e a gravidade das acusações justificaria a publicação. O texto diz, apenas, que boa parte dos assessores de Trump tem plena consciência de que ele é um amoral irresponsável e imprevisível, e que eles trabalham para reduzir os danos. O bebê chorão alaranjado está furioso, claro, e quer descobrir logo quem é o traíra. Talvez já tenham descoberto: no meio do texto está a palavra "lodestar", um termo antigo que significa estrela-guia, usado frequentemente pelo vice-presidente Mike Pence. Sim, o número 2 do governo, que estaria tentando se tornar o número 1 - que nem seu colega brasileiro, que pelo menos não se escondeu no anonimato. Também já tem gente dizendo que a palavra pode ter sido incluída de propósito, para despistar. Mas é difícil negar que está se formando uma tempestade perfeita ao redor de Trump. Que pode eclodir em todo som e fúria em novembro, quando os democratas vencerem as eleições.

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

MINHA MALVADA FAVORITA

Tive a sorte de ver Beatriz Segall algumas vezes no teatro. Tive mais sorte ainda quando a conheci pessoalmente: ela participou de um "Video Show" em 2014, na época em que eu trabalhei na Globo. O programa era um especial sobre vilões, e claro que ela era o primeiro nome que vinha à cabeça quando surgia esse assunto - ou melhor, vinha sua avatar, Odete Roitman. Depois de muito tempo tentando se distanciar da personagem, àquela altura Beatriz já tinha se dado conta da importância que Odete tinha na história da televisão brasileira. Conversamos um pouquinho no camarim, e claro que ela não escapou de uma selfie comigo. Sua morte não foi uma surpresa: Beatriz já andava doente há algum tempo. É mais uma grande dama que se vai, no sentido amplo do termo. Que sorte que tivemos nós todos.

(mais sobre Beatriz Segall aqui, na minha coluna de hoje no F5)

terça-feira, 4 de setembro de 2018

DÁ A CHUPETA PRO BEBÊ NÃO CHORAR

Reparou que os bolsominions têm a segurança emocional de um bebê de cinco meses? É só fazer um barulho mais forte que eles desatam num pranto convulso, desses que a gente têm que levá-los para passear de carro para voltarem a fazer naninha. Os nenês caíram num choro coletivo quando o cruel Marcelo Adnet divulgou seu vídeo satirizando o Bolsonazi, e ameaçaram contar tudo para a tia. Cata só o contraste: esta semana o Adnet lançou um vídeo em que imita o Ciro Gomes, que o próprio Ciro compartilhou em suas redes sociais. Ontem eu questionei na minha coluna no F5 se o rompimento do Pabllo "Vital" com a Victor Vicenzza traria algum prejuízo financeiro para a marca - veja bem: questionei - e os crybabies me xingaram de feio, bobo e mau. Mas esse berreiro tem hora para acabar. É só a gente parar de frescura e se unir em torno de dois candidatos fortes. Veja bem: dois. O suficiente para deixar os pele-fina fora do segundo turno.

DONDE ESTÁS AHORA, CUÑATAÍ


"As Herdeiras" se passa no Paraguai, o que pode até passar desapercebido. O filme tem poucas externas, e os personagens pouco falam do país em que vivem. A única referência mais explícita acontece nos créditos finais, que rolam ao som de "Recuerdo de Ipacaraí". É um pouco como tocar "Aquarela do Brasil" no fim de um longa brasileiro, mas a letra da mais célebre das guarânias têm mesmo a ver com a história. Duas mulheres de meia idade vivem juntas em uma mansão antiga; nada fica muito explicitado, mas elas estão juntas há 30 anos. Também sem muita explicação, uma vai em cana, acusada de fraude, enquanto a outra põe móveis e objetos para vender e trabalha como motorista particular para outras senhoras endinheiradas. Quase que só há mulheres em cena: o único homem com falas é o atendente de uma barraca de cachorro-quente. E assim, sem trilha sonora e com cenas aparentemente banais, vai-se construindo o retrato de uma senhora tímida, que aos poucos desperta para a vida. Quem, afinal, é a verdadeira prisioneira? A que está atrás das grades, ou a que ficou em casa tomando conta de tudo? Pena que esse dilema interessante se dilua na letargia.

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

UM PAÍS DE QUINTA

Imagine se, nos dias de hoje, um incêndio conseguiria consumir todo o Palácio de Buckingham. Ou o Museu do Louvre, que era o palácio real francês antes da construção de Versailles. Com. Tudo. Dentro. Não dá, né? Porque esses países levam a sério a história e a cultura, e dedicam verbas consideráveis para a preservação do patrimônio. Que é mais do que incalculável: é irrecuperável. Depois de destruído, não há dinheiro no mundo que o traga de volta.

O Museu Nacional nunca passou por uma fase boa. Frequento o lugar desde pequeno, e sempre foi visível a má conservação do prédio e das peças. As múmias que D. Pedro II trouxe do Egito chegaram a sofrer com uma goteira, que quase dissolveu uma delas. Alas inteiras sempre estiveram fechadas ao público - que, aliás, preferia emporcalhar com piqueniques os jardins da Quinta da Boa Vista do que entrar no Palácio São Cristóvão e conhecer um pouco de si mesmo.

O Palácio não foi feito para ser museu. Erguido por D. João VI em 1818, ainda no tempo da colônia, serviu como residência oficial para a família imperial. D. Pedro II nasceu lá, assim como a Princesa Isabel. O exterior foi reformado em 1862, para se assemelhar ao palácio de Nápoles onde cresceu a imperatriz Teresa Cristina. Boa parte da nossa história no século 19 aconteceu lá dentro.

Depois da Proclamação da República, o palácio foi saqueado. Os jardins viraram mato. Fazia parte da estratégia de consolidação republicana apagar os vestígios da Casa de Bragança. A República Velha acabou em 1930, mas deixou um legado que persiste até hoje: desprezamos quase tudo que nos sobrou da nossa monarquia, uma das duas únicas da América pós-colonial.

A outra foi o México, governado pelo imperador Maximiliano (primo de D. Pedro II) durante apenas três anos, de 1864 a 1867. O castelo onde ele morou está em perfeitas condições, e é uma das atrações do Parque de Chapultepec, na Cidade do México (estive lá algumas vezes). E olha que Maximiliano morreu fuzilado...

Já está rolando briga nas redes sociais, tentando jogar a culpa pela catástrofe na direita ou na esquerda. Isso é miopia e ignorância. O Museu Nacional JAMAIS foi bem cuidado, sob qualquer regime. Teve que fechar as portas durante um tempo em 2015, porque não conseguia pagar os salários dos funcionários - e isto em pleno governo Dilma. Seu ínfimo orçamento anual, de apenas 521 mil reais, não era repassado na íntegra desde 2014 (também sob Dilma). Meio milhão de reais, convém lembrar, era o que tinha na mala que Joesley Batista prometeu mandar para Temer, o Velho, TODA SEMANA, durante VINTE ANOS.

Preferimos construir estádios padrão FIFA em cidades como Manaus ou Cuiabá, que não têm grandes times de futebol. O próprio Rio de Janeiro torrou bilhões na Olimpíada (que acabou fazendo mal para a nossa imagem no exterior) e construiu museus novos, como o belo Museu do Amanhã - que é do quê mesmo, aliás?

Há tempos que o Museu Nacional implorava por socorro. É só dar uma googlada e dar de cara com várias reportagens, algumas bem recentes. Enquanto isso, tem candidato prometendo acabar com o Ministério da Cultura e a Lei "Ruaney", que, segundo sua turma, só servem para Pabllo "Vilar" comprar apartamento em Paris.

Somos um país de quinta categoria. Não merecemos a Quinta da Boa Vista, nem o Palácio São Cristóvão, nem todos os 20 milhões de peças do Museu Nacional.

Salvou-se o Bendegó. O meteorito, que sobreviveu a um incêndio muito maior quando penetrou na atmosfera terrestre, parece rir da estupidez dos brasileiros. Um símbolo pungente do meteoro que nós mesmos chamamos para nos destruir.

domingo, 2 de setembro de 2018

CONFUSO HORÁRIO

Por causa desta matéria que saiu hoje na Folha Online (e deve sair amanhã no impresso), precisei assistir aos primeiros programas do horário eleitoral gratuito. Algumas das minhas impressões não couberam no texto do jornal, então vou enumerá-las aqui:

1) É impressionante a quantidade de candidatos com patentes militares nos nomes. Os pastores deram uma retraída, e agora não faltam cabos, tenentes e sargentos. É preocupante, óbvio.

2) Entre os candidatos a deputado, uma nova tendências surge com nitidez: os defensores dos animais. Espalhados por vários partidos, mas pendendo para a direita. Por outro lado, não vi ninguém falando em ajudar os crackeiros ou a população de rua.

3) Mesmo com um tempo tão escasso na TV, parece que tem partido que não consegue entregar um mísero vídeo de poucos segundinhos. Não faltou tela azul nos primeiros dias, principalmente entre os deputados.

4) Mesmo quando têm tempo, muito candidato só sorri e diz o nome e o número, como se seus belos olhos bastassem para seduzir o eleitor. Alguns mais assanhados tentam criar gimmicks memoráveis, como Tati Cruz Uhuuuu!

5) E o Japonês da Federal, que concorre pela mesma coligação do Cabo Daciolo? You do the math.

sábado, 1 de setembro de 2018

THESE BOOTS ARE MADE FOR WALKING

Victor Vicenzza é uma marca de calçados famosa pelas botas de cano alto, já usadas em vídeos por nomes como Ludmilla e Pabllo Vittar. Também é muito popular entre as drag queens, porque a numeração de seus modelos chega até lá em cima. Ou era popular: Victor Vicenzza, a pessoa física, declarou apoio ao Bostonaro, mordendo a mão que o alimenta. As redes sociais da marca, então, receberam um tsunami de reclamações. Na página do Facebook, que não é atualizada desde junho, só tem comentários brandindo o poder do pink money. E no Instagram o próprio Victor soltou essa declaração ao lado, onde primeiro se diz um guerreiro na luta contra o preconceito e depois REITERA seu apoio ao Solnorabo. Ainda se dá ao desplante de desprezar o dinheiro de seus clientes, pois mais importante é livrar o Brasil das "ideologias socialistas e comunistas" que o invadiram. Além de ignorante, o sujeito me parece machista mesmo, e uiça racista: todas as modelos que aparecem usando seus produtos são mulheres brancas, magras e cis. Não há nenhum aceno à diversidade; tudo padrãozinho mesmo. Então, galère, boicotemos Victor Vicenzza! Pisemos sem dó, e paremos de financiar quem dá força aos nossos inimigos.

(Obrigado pela dica, Claudia Rosenthal)