domingo, 12 de agosto de 2018

O JOGO DO DESCONTENTE

Só ontem que eu vi a tal da cena da novela "As Aventuras de Poliana" que eriçou a internet, exibida no capítulo de quarta passada. É de cair os olhos da cara, para não dizer outra coisa - veja com os seus próprios, ela começa na altura do 08:04 no vídeo acima. Eu já me posicionei algumas vezes contra o conceito de "lugar de fala", mas hoje vou enfiar minha viola no saco. Isto é o que dá quando não se tem um único negro na equipe de roteiristas de uma novela que resolve discutir o racismo. A fala da coordenadora Helô, vivida pela atriz Elina de Souza, jamais sairia da boca de uma negra na vida real. Dizer que boa parte do racismo não passa de mimimi dos próprios negros, que se colocam à parte do resto da sociedade, é justamente o discurso da direita mais radical. A mesma que jura que a homofobia não existe no Brasil e que o feminismo é o exato oposto do machismo. O SBT tem um longo histórico de piadinhas e atitudes desrespeitosas com os negros, e a maioria vem do próprio dono da emissora. E com quem é casada dona Íris Abravanel (como ela é chamada pelos funcionários do canal, mesmo os diretores mais graduados), a autora principal da novela? Pois é. Todos juram que não têm nada de racistas, porque jamais chicotearam um negro acorrentado ao pelourinho. Mas o racismo se manifesta em pequenos gestos, em palavras descuidadas, em cenas rápidas de novela. "As Aventuras de Poliana" é gravada com muita antecedência, mas o que cabia agora era preparar uma cena de retratação e colocá-la no ar o mais rápido possível. O SBT parece ter acordado para o clamor dos descontentes: o humorista Jacaré Banguela, por exemplo, não faz mais parte do júri do programa "Eliana" depois da piada que fez com Jaden Smith. Mas mexer na novela da mulher do patrão talvez seja pedir demais. E assim, uma programação que já é antiquada ruma a passos firmes ao século 19.

15 comentários:

  1. Se o negro não reproduzir o discurso pronto da militância de esquerda, perde a carteirinha racial. Eu conheço VÁRIOS negros que repetem a fala usada na novela, mas eles não merecem voz, o "lugar de fala" não pertence a quem discorda da narrativa, independentemente da cor da pele

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    1. Conhece mesmo? Traz eles aqui para comentar, então, porque eu não conheço nenhum. Todos os que estão nas minhas timelines estão em pé de guerra contra esta cena, e te garanto que há bem poucos radicais entre eles.

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    2. Tem um: o Fernando Holiday.

      Ao que o Tony completaria: “como queremos demonstrar...”

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    3. Eu conheço dois e trago mesmo aqui se quiser.

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  2. Respostas
    1. Sinal de que o autor respeita seus leitores, e responde os comentários. Mesmo os mais idiotas.

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  3. Este discurso do mimimi é exatamente o que defende o Holiday. Daí vc entra lá na página dele, e têm milhões de pessoas concordando com tudo que ele fala. Todos brancos.

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  4. O roteiro dessa novela é vergonhoso. Nada a adicionar ao texto do Tony. Puro racismo do lixo da extrema direita esse diálogo escrito por uma dondoca branca.

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  5. Essa novela na verdade é uma grande trollagem em todo mundo. Uma versão humor negro (pun uninteded) do já irritante livro da Pollyanna.

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  6. Ai gueis please ne! Assistir novela no canal da tia silvia????!!!! Its no no no no

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  7. O Mio Babbino Caro
    Até tem negros com esse discurso. A questão é que os meios de comunicação são tão econômicos quanto a representatividade negra. Que se há espaço para esse tipo, não haverá espaço para personagens que tenham contra posição a esse ridículo ou qualquer outro discurso.

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  8. Eu sou inocente e acho que a ideia era representar o racismo que de tão forte também embutindo em negros expressado de forma mais gritante pelo "Feriado". Tipo, a globo fez a muito tempo atrás em representar mulheres machistas na TV. Não foi uma ideia boa...

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