sexta-feira, 31 de agosto de 2018

ACATO À AUTORIDADE

Estou de saco cheio de ler matérias do tipo "eleitores do Bolsonazi não são loucos/burros/maus". Segundo esses textos, os bolsominions estariam apenas preocupados com a crise econômica, a corrupção e a falta de segurança. Ah, vá: só eles? Também não dá para explicar tanto apoio com a falta de educação. Os minions costumam ter escolaridade e renda mais alta que os demais brasileiros. A dúvida me carcomeu nos últimos dias, mas acho que estou chegando a uma conclusão.

O autoritarismo vem ganhando força pelo mundo afora, mas só chega de fato ao poder em países sem instituições fortes nem tradição democrática. Rússia, Turquia, Venezuela, Hungria e Filipinas são muito diferentes entre si, mas todos têm governantes autoritários que foram eleitos - pelo menos na primeira vez - democraticamente. Jogada em um mundo incerto, as populações têm saudade dos maus velhos tempos, em que não se podia criticar o governo mas havia uma certa tranquilidade. Viktor Orban, o primeiro-ministro húngaro, é um fascistinha de merda: como que um povo tão culto elegeu um boçal desses? Porque tem medo dos imigrantes muçulmanos (todo o leste europeu cristão tem trauma do império Otomano) e pouca prática na democracia, depois dos jugos consecutivos do nazismo e do comunismo.

Existe uma exceção entre esses proto-ditadores: Donald Trump, que chefia a mais sólida e antiga democracia do mundo. Trump só foi eleito por causa de uma bizarrice do século 18, o Colégio Eleitoral, mas ainda tem cerca de 40% de apoio. Como se explica isto? Vou arriscar uma resposta: o machismo. O patriarcado, que percebeu que estea vivendo seus últimos dias. Homens heterossexuais não são mais os protagonistas automáticos na nossa narrativa imaginária. Não são mais o padrão e o resto da sociedade, a exceção. É só conferir os fã-clubes de todos os líderes citados: todos eles fazem muito mais sucesso entre o segmento masculino do que entre o feminino. Todos também representam a etnia dominante em seu país. Todos, em suma, simbolizam o desejo de voltar a um passado em que os homens imperavam, as mulheres apanhavam, os homossexuais eram mortos e as minorias raciais, perseguidas. Nada menos do que uma reação aos avanços progressistas das últimas décadas. Na maioria das democracias ocidentais, esse tipo de liderança até chegou perto do poder, mas não levou. E no Brasil?

TALKEI?

Marcelo Adnet está mais do que sublime em sua perfeita imitação do Bolsonazi. O pior é que todas as frases soam como se tivessem mesmo sido ditas pelo candidato. E a maneira como ele "prova" que não houve tortura, já que o teu pai não foi torturado? Mais engraçado que isto, só o faniquito que os minions estão tendo nos comentários. Ué, mas não são os negros, as mulheres e os gays que fazem mimimi por causa do politicamente correto, que está matando o humor?

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

QUEM TE CONHECE NÃO ESQUECE JAMAIS

Estou em Belo Horizonte, depois de uma ausência de mais 18 anos. Na década de 90, eu vinha muito para cá: a agência onde eu trabalhava, inexplicavelmente, atendia a conta da BHTrans. Mesmo assim, era quase sempre em esquema bate-e-volta. Só dormi duas noites na cidade até hoje (esta será a terceira). Vim para uma feira de audiovisual, mas amanhã já me mando para SP. Acontece que Minas tem uma personalidade tão forte que, cada vez que eu passo por aqui, aprendo alguma coisa. Como o os refrigerantes locais, o Guarapan (hoje raro) e o Mate-Couro (hoje descaracterizado, depois que lançaram vários sabores). Acabei de acrescentar mais uma palavra de mineirês ao meu vocabulário: "misteira", aquele treco que em São Paulo se chama tostex. Ó Minas Gerais...

KIT FAKE NEWS

O Bolsonazi joga sujo, o tempo todo. Uma de suas mais recentes trapaças foi brandir na bancada do "Jornal Nacional" um livro que pregaria a ideologia de gênero, que seria incluído no famigerado "kit gay". Não é nada disso: o livro em questão é "Aparelho Sexual e Cia.", da francesa Helène Bruller, ilustrado pelo cartunista suíço Zep. É, isto sim, um livirnho de educação sexual para crianças - "descoladas", como diz a capa. E jamais foi adotado pelo MEC ou qualquer outro órgão público. Mas talvez devesse: o assunto deveria mesmo ser ensinado nos primeiros anos escolares. Mas o Bostanaro e a bancada teocrática acham que os garotos devem aprender sobre sexo na rua, com putas e sob a pressão dos amigos. Já as meninas, quanto mais ignorantes chegarem à primeira transa, melhor. Mais fácil dominá-las.

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

COMIGO NÃO, VIAAADOOO

Foi só a Netflix anunciar para breve a série brasileira em animação "Super Drags" para a Sociedade Brasileira de Pediatria se manifestar contra. O programa, que ainda nem estreou, seria uma grave ameaça às crianças. Só que tem um detalhe: "Super Drags" não é para crianças. A classificação indictiva é 16 anos, como o provocativo teaser acima deixa claro. Como disse o Pedro HMC, que me passou a dica: talvez os dirigentes da SBP devessem se consultar com membros da Sociedade Brasileira de PSIQUIATRIA, para tratar da própria homofobia.

VASCOMITO

Todas as pessoas de bom senso que eu conheço estão hoje como a Renata Vasconcellos: pasmas, estarrecidas, furiosas, revoltadas. A apresentadora do "Jornal Nacional" mitou ao peitar o Bostanazi e ele, como toda vez que enfrenta uma mulher, se embananou todo e disse besteira. Mas o que realmente me deixa estupefato é a leitura que os bolsominions fizeram da entrevista de seu candidato ao "JN":  todos acham que ele lacrou, quando a verdade é o oposto. Boçalnaro deu mais uma mostra conclusiva de seu despreparo e seu caráter ralo. Se não perdeu votos, também aposto que não ganhou nenhum. Na sexta estreia o horário eleitoral, onde ele felizmente terá pouco tempo. E vamos torcer para que seus próximos entrevistadores cobrem programas de governo. Fazer com que ele confirme seus preconceitos só reforça a convicção dos asnos que o apoiam.

terça-feira, 28 de agosto de 2018

NO PALCO COM FAGUNDES

Hoje de manhã eu apresentei, no Auditório da Folha, uma conversa entre Antonio Fagundes e Rosangela Patriota, autora do livro "Antoio Fagundes - No Palco da História: um Ator". Por incrível que pareça, é a primeira obra que trata da carreira de um dos nomes mais importantes das nossas artes cênicas. Não se trata de uma biografia convencional: o que está sendo examinado é o trabalho, não a vida pessoal. Rosangela recolheu fotos, críticas e materiais diversas sobre todas as peças em que ele atuou, sem deixar a TV e o cinema de lado. O resultado é um retrato poderoso, mais interessante do que qualquer fofoca. Eu estava um pouco apreensivo, apesar dessa ser a quarta vez que eu medio um debate. É que foi naquele espaço que eu tive meu único contato direto e pessoal com Otavio Frias Filho, um cara que entendia muito de teatro. Por isso me preparei bastante, para não passar vergonha - talvez nem precisasse, tamanho é o carisma do Fagundes. Agora eu posso me gabar: já dividi um palco com ele.

(para saber mais sobre o livro clique aqui, e sobre o evento, aqui)

CÚRIA GAY

Jamais saberemos exatamente por que o papa Bento XVI renunciou. Adolf I, como era carinhosamente chamado por este blog, teria sucumbido à pressão interna da Cúria quando resolveu punir os pedófilos da Igreja? Seu sucessor Francisco vem sofrendo pressão muito maior, e por vários assuntos. Já se tornou rotina o fogo amigo que ele recebe a toda hora dos setores mais conservadores, que não gostam dele dar comunhão aos divorciados ou de suavizar o discurso contra os gays. Mas anteontem Sua Santidade cometeu um ato falho: ao voltar da Irlanda, em sua tradicional entrevista no avião, o papa disse que os pais devem procurar ajuda psiquiátrica quando perceberem que o filho significa. Só faltou dar o endereço de uma boa clínica de cura gay. A fala caiu tão mal que não consta da transcrição oficial da entrevista, feita pelo próprio Vaticano. Para mim, só confirma que o Bergoglio não é esse fofo que tanta gente imagina. Mas é o que temos para o momento: um papa retrógrado e linha-dura iria afastar ainda mais os poucos fiéis que sobraram. Além de dar munição à onda careta que assola o mundo.

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

CHAMA O JUCÁ

É divertido ver como os luminares do MDB estão rebolando para não perder a boquinha. Em Alagoas, Renan Canalheiros finge que ninguém lembra que ele votou pelo impeachment e apoia Lula, que também finge que esqueceu. Em Roraima, Romero "com o Supremo, com tudo" Jucá finge que não faz parte do círculo íntimo (ui) de Temer, depois de cair para terceiro nas pesuisas de intenção de voto para o Senado. Sem medo do populismo, Jucá se manifesta contra a política oficial do governo para os refugiados venezuelanos, uma maneira de dizer em código que apoia a expulsão de todos. Ele é que deveria ser expulso da política brasileira. Chamem-no na chincha, roraimenses: nenhum batedor de celular da Venezuela chega perto do estrago que o  C.S.C.T. já fez ao nosso país.

WELLINGTON DIAS É O MELHOR

O Piauí é, de longe, o estado mais sofisticado do Brasil. Vocês já leram a revista deles? Muita letra, pouca figura. Tudo isso porque o governador Wellington Dias é o melhor de todos. Mas para continuar esse trabalho magnífico ele precisa ser reeleito em outubro. Aperta 13 na urna, porque Wellington Dias é do PT e o PT é o melhor de todos os partidos e a Gleisi Hoffman é muito linda. Ela também tem que ser reeleita, mas pode falar de reeleição se a pessoa baixa de senadora a deputada federal? Não faz mal, porque a Gleisi é ótima e o Wellington Dias é o melhor e é verdade esse bilete. #WellingtonDiasGate

domingo, 26 de agosto de 2018

McCAIN SE HABILITA?

Peguei muito no pé do senador John McCain durante a campanha presidencial americana de 2008. Cheguei a chamá-lo de McChicken, por ele ter pedido um tempo quando estourou a grande crise econômica daquele ano. Mas taí uma coisa que ele nunca foi: covarde. McCain era um herói de guerra condecorado. Seu ato de heroísmo não foi ter caído prisioneiro dos vietcongs que abateram seu avião, como arrota o escroto do Trump (o atual presidente inventou nada menos que cinco desculpas diferentes para escapar do recrutamento). O que mostrou a grandeza de McCain foi sua recusa em ser um dos primeiros a serem soltos, em trocas de prisioneiros. Passou quase cinco anos na cadeia, permitindo que soldados de menor patente fossem libertados antes. Na vida pública, sempre se comportou com dignidade e hombridade, duas qualidades basiquinhas que, no entanto, andam em falta hoje em dia. Foi um adversário leal contra Obama: chegou a tirar o microfone de uma mulher que, em um de seus comícios, começou a dizer que o democrata era um muçulmano estrangeiro. Os dois mantiveram uma relação de cordialidade até o fim, e é assim que tem que ser. Na época da eleição, McCain estava do lado errado da história. Apesar de todas as suas virtudes, estava na hora dos EUA terem um presidente negro, ainda mais depois dos desastrosos oito anos de George W. Bush. Hoje a Casa Branca está ocupada por alguém muito pior, e McCain se agiganta em comparação. Sua morte, em meio a mais uma crise do governo Trump, mostra como se deteriorou a política na última década. É de mais homens como ele que precisamos, espalhados por todo o espectro ideológico e por todos os países. Mas, quem?

sábado, 25 de agosto de 2018

O AVENTAL TODO SUJO DE OVO


"Benzinho" é um dos mais cotados entre os 22 filmes que se candidataram para representar o Brasil no próximo Oscar. É um filme pequeno, de baixo orçamento e escopo reduzido, mas despretensioso só nas aparências. Não dá para dizer que seja um drama familiar, porque não há propriamente um plot: é um estudo de personagem, magnificamente encarnado por Karine Telles. A atriz também assina o roteiro junto com o diretor Gustavo Pizzi, que é seu ex-marido - e  ambos são pais dos filhos gêmeos de Irene, a mãe-coragem que enfrenta uns 300 problemas ao mesmo tempo. A pobre corre de um lado para o outro feito um equilibrador de pratos, mantendo todos girando e longe do chão. O marido (Otávio Müller, ótimo) tem uma livraria falida e sonha com negócios mirabolantes; a irmã (Adriana Esteves, generosa em um papel coadjuvante) pede abrigo, fugindo de um casamento violento; os quatro filhos até vão bem, mas é de um deles que vem a gota d'água que pode entornar o caldo. O mais velho é convidado a jogar handebol profissional na Alemanha, e tem apenas 20 dias para se mudar para lá. Começa então uma corrida contra o tempo, aguçada pela falta de dinheiro, e Irene se divide entre emoções conflitantes. Muito bem contado - às vezes não é preciso uma única palavra de diálogo para entendermos tudo o que se passa - o filme às vezes se ressente de um certo marasmo, porque de fato não acontece muita coisa. Mas vale demais a pena - inclusive pelo final , que me lembrou o de "Noites de Cabíria", de Fellini.

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

A ORDEM DOS TALHERES

Soltei uma boutade nas minhas redes sociais que hitou: "João Amoêdo é um Bolsonaro que sabe a ordem dos talheres". Muita gente riu e compartilhou, mas alguns reclamaram que eu estou sendo injusto. Sim, estou, como em qualquer piada. De fato, há três grandes diferenças entre o candidato do PSL e o do Novo:

1) Amoêdo sempre foi a favor do estado mínimo, com pouca interferência na economia. Bolsonazi, ao contrário, sempre foi estatizante, ao longo de suas quase três décadas na Câmara de Deputados. Só recentemente que ele se converteu à cartilha neoliberal, delegando o comando da economia de seu improvável governo a Paulo Guedes. Trata-se, portanto de um "cristão-novo" da livre iniciativa.

2) Amoêdo sabe explicar com clareza seu projeto de governo. Boçalnaro se enrola todo, se perde, fala platitudes e não sabe reagir quando uma figura apavorante como a temível Marina Silva o interpela. Ele só prega aos minions.

3) Amoêdo nunca se envolveu em polêmicas racistas, machistas e homofóbicas. Nunca xingou ninguém em público, nem elogiou a tortura e a ditadura. Não tem tendências autoritárias. Não fala bobagens contra a ONU. Já o Bostanaro...

Dito isto, existe mesmo uma semelhança entre as propostas de ambos. Tirando a fantasia de Brucutu e mandando fazer o curso da Madame Poços Leitão, o que sobra do Solnorabo (aprendi ontem e já adotei) é muito parecido com o Amoêdo. Os dois já se declararam contra o estatuto do desarmamento, contra a descriminalização das drogas e a favor de manter as leis do aborto como estão. Amoêdo, pelo menos, se diz pela "união civil" entre pessoas do mesmo sexo, como prega a linha oficial de seu partido (mas custava chamar de "casamento"?).

Só que Amoêdo é bem mais conservador do que muitos de seus correligionários. Entre eles está uma amiga minha, a Dra. Regina Leitão, que concorre a deputada federal por São Paulo, uma das primeiras pessoas que aderiu ao partido Novo. Regina é médica, séria no trabalho (mas divertida nas horas vagas), liberal nos costumes e especialista na área da saúde. Ela merece ser eleita: quem estiver procurando um bom candidato mais à direita, acabou de encontrar.

Verdade que o Novo também possui sua cota de malucos. Tem um que já viralizou, Ricardo Salles - aquele que prometeu vender TANQUES DE GUERRA para os fazendeiros defenderem suas terras. Mas o partido já repudiou suas posições. E é sempre bom lembrar que o Cabo Daciolo foi eleito pelo PSOL. Vão dizer que não sabiam que ele era um fanático religioso? Nenhum partido escapa.

O que me incomoda no Novo é eles se proclamarem "liberais". Não são, no sentido amplo do termo: quem é liberal de verdade não o é só na economia, mas também nas pautas sociais. Alguns exemplos de liberais para valer: Barack Obama, Justin Trudeau, Emmanuel Macron, Fernando Henrique Cardoso. João Amoêdo não faz parte dessa turma, e muitos do Novo também não. Que, a rigor, de novo só tem a proposta de exigir ficha limpa de todos seus afiliados e não usar dinheiro público na campanha. Talvez devessem mudar o nome para... Rico?

CORTEM-LHE A CABEÇA

O príncipe Mohammad bin-Salman Saud, herdeiro do trono saudita e virtual mandatário de seu país, é uma espécie de João Amoêdo das Arábias: de novo só tem o verniz. Apesar de medidas "revolucionárias" como permitir que as mulheres dirijam e as salas de cinema reabram, Sua Alteza mostra que ainda não saiu no século 18. O exemplo mais gritante do atraso é o julgamento da ativista Israa al-Gangham, presa desde 2015 por fazer oposição ao regime. O promotor do caso pediu pena de morte para ela: se for condenada, Israa será decapitada em praça pública. Uma punição bárbara para qualquer crime, agravada pelo fato de que a militante jamais recorreu à violência. Não cometeu atos terroristas, não matou ninguém, sequer incitou a população a investir contra os poderosos. É bom prestar atenção no que acontece por lá, e pressionar bin-Salman a enquadrar o clero mais conservador. Afinal, foi da Arábia Saudita que saíram bin-Laden e boa parte da al-Qaeda.

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

BOLSOMITO DEBATE-BATE

A família Bostonazi não é boa de debate. Quando concorreu a prefeito do Rio de Janeiro, um daqueles filhos genéricos do deputado passou mal em frente às câmeras e preferiu a morte a ser socorrido por Jandira Feghali. Agora é o papi quem pede água, depois de dois debates desastrosos. No primeiro, na Band, até pareceu que ele tinha se saído bem. Rebateu com fúria a pergunta que lhe foi feita por Guilherme Boulos, "quem é a Wal?". Pra quê, não é mesmo? Dois dias depois, a Folha foi até a lojinha de açaí da Wal e mostrou que ela é mesmo uma funcionária-fantasma. No segundo debate, pela RedeTV!, o desastre foi ao ar, ao vivo e a cores para todo o Brasil: Marina Silva passou um sabão histórico no Boçalnaro, que só conseguiu se defender citando um livro inexistente da Bíblia, o "de Paulo". Ficou claro que ele só tem a  perder nesses encontros. O cara não está acostumado ao confronto: sempre falou sozinho, sob o aplauso dos asnos que o chamam de "mito". Agora anunciou que não vai mais participar de nenhum debate, porque precisa se segurar nos 20% para passar ao segundo turno. Só que, se passar, vai ser bem esquisito ele se recusar a debater com seu oponente. Não que discutir bem seja sinônimo de governar bem, é claro: mas, quando perguntado sobre seus planos concretos, Bolsonazi expõe todo seu despreparo e sua personalidade frágil. Coitadinho, né?

QUEM MATOU MARIELLE

Reparou que não tem ponto de interrogação no título desse post? É porque eu não duvido que a polícia já saiba quem são os assassinos da vereadora carioca Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes. Aí, sim, cabe a pergunta: então por que não prendem logo? Porque são peixes mais graúdos do que chefes de milícias. São deputados estaduais, alguns até já presos, de partidos da base de sustentação do governo Temer. Não vou dizer quem eu acho que sejam, porque essa turma é realmente perigosa - dá uma googlada aí. O pior é que faz sentido: mesmo tendo o crime sido cometido por profissionais, quase seis meses são tempo demais para uma investigação ter trazido tão poucos resultados. É só comparar com o assassinato de Karina Garofalo, ocorrido na semana passada: como não havia implicações políticas, em menos de 24 horas se chegou aos criminosos. Fico com um pouco de pena do ministro Raul Jungmann, que me parece ser um dos poucos sujeitos decentes do atual governo. Se continuar insolúvel, este crime vai manchar o currículo dele para sempre. Por que não deixam logo a PF assumir o caso? Tem treta aí, e da grossa. Mas quer apostar que não vai surgir nenhum dado novo antes da eleição?

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

ANTES TARDE DO QUE NUNCA

Encerrou-se hoje, de maneira melancólica, a carreira política de Paulo Salim Maluf. Há pelos menos três décadas que as pessoas bem-informadas sabem que ele é desonesto. Mesmo assim, Maluf conseguiu se eleger prefeito e depois deputado, inúmeras vezes (embora, é verdade, com cada vez menos votos). Precisou ele ser preso e o STF ordenado para que a Câmara finalmente cassasse seu mandato. Mesmo assim, a contragosto: como boa parte dos deputados também enfrenta problemas na Justiça, preferiam não ter que se voltar contra um de seus pares. De qualquer forma, há o que comemorar: o sistema político brasileiro custou, mas finalmente cuspiu um de seus integrantes mais asquerosos. Descanse sem paz, Maluf.

TIROU PARTIDO DE MIM, ABUSOU

E mais uma vez a Igreja Católica se vê soterrada por uma avalanche de denúncias de abuso sexual de menores. Mais uma vez o papa diz que se solidariza com as vítimas e que pipipi popopó, e mais uma vez eu aposto que não vai dar em nada. Antes de proteger as crianças, a Igreja protege os seus membros (duplo sentido proposital). Porque, se quisesse acabar MESMO com esse problema, sabe o que ela teria que fazer? Acabar com o celibato compulsório dos sacerdotes. Permitir que mulheres sejam ordenadas. Aceitar a homossexualidade. Pois é a obrigação de se manter solteiro que faz com que alguns padres desviem seu desejo para os mais indefesos que lhes passarem pela frente. Também, durante muito tempo - e por paradoxal que pareça - a carreira religiosa foi uma das poucas opções para os gays. "Junte-se a nós, que daremos um jeito de você se aliviar de vez em quando. Garantimos a mais absoluta discrição". Só que não podem mais garantir a discrição das vítimas, e o resultado está aí. Se o Vaticano tomasse esses três passos - principalmente o fim do celibato, que só se tornou obrigatório no começo da Idade Média - os casos de assédio iriam diminuir, e a queda do número de fiéis talvez se estancasse. Já reparou que quase não se vê casos de assédio a menores entre protestantes, ortodoxos, muçulmanos e judeus? Todas essas religiões permitem o casamento de seus sacerdotes.  Mas os maiores patrocinadores da Cúria são contra. Quando ficalmente se derem por si, pode ser que não haja mais Igreja a recuperar.

terça-feira, 21 de agosto de 2018

J. TO THE LO

Jennifer Lopez é uma injustiçada. A mulher canta, dança, atua e mantém-se a nível de deusa do amor aos 49 anos de idade. Mesmo assim, a gente tem a sensação de que seu último grande hit foi em 2002; mesmo assim, a MTV levou quase 20 anos para homenageá-la com seu maior prêmio, o Video Vanguard. O deslize histórico foi corrigido ontem nos VMAs, e J. Lo ainda fez um medley épico de 10 minutos cobrindo toda sua carreira. Quem se deu mal foi a rival Madonna (as duas já se estranharam), que conseguiu transformar um discurso sobre Aretha Franklin num tributo a si mesma. Aposto que Madge jamais irá perdoar o fato da Rainha do Soul tê-la ofuscado, ao morrer justo no dia de seu 60o. aniversário.

OFF

No cronograma do curso de Trainee Senior que eu fiz na Folha de S. Paulo, em 2016, havia a palavra "OFF" sobre uma das datas. Achei que fosse um dia livre para compras; na verdade, era um encontro com Otavio Frias Filho, o publisher do jornal. Tivemos uma palestra-reunião: primeiro OFF falou bastante, depois respondeu a todas as perguntas dos focassauros. Foi meu único contato direto com ele. Antes disso, chegamos a cursar o mesmo colégio, o Santo Américo, mas ele era mais velho, e garotos mais velhos ignoram os menores. A família Frias não fundou a Folha de S. Paulo, mas foi ela quem transformou o jornal no maior do país. Mais importante do que isso: fizeram da Folha o primeiro grande órgão da imprensa brasileira verdadeiramente plural, com espaço para opiniões de todas as vertentes. Otavio era um editor rigorosíssimo, mas também aberto ao mundo. Foi graças a essa abertura que um cara como eu, que não cursou faculdade de jornalismo nem nunca trabalhou em uma redação, começou a escrever para a Ilustrada e hoje tem duas colunas regulares. Fica aqui minha homenagem e gratidão ao OFF, pelo jornal e por mim.

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

FESTIVAL FRANCÊS


Enxaguei minha maratona de filmes brasileiros com dois longas tipicamente franceses. O primeiro, "A Outra Mulher", é adaptado de uma peça de teatro. Um casal recebe para jantar o amigo recém-divorciado (Gérard Depardieu, enooorme), acompanhado pela namorada muitos anos mais jovem (a estonteante espanhola Ariana Ugarte). O marido então se encanta pela moça, fantasiando fugas mil. O filme (dirigido e protagonizado por Daniel Auteil) mostra essas fantasias, e eu caí feito um pato algumas vezes. Fiquei curioso para saber como os devaneios eram solucionados ao vivo, no palco. Trata-se uma comédia simpática, sem nada de marcante. Mas de vez em quando é bom ver algo assim, levinho sem ser bobo.


Bem mais suntuoso é "Troca de Rainhas", sobre um episódio histórico que eu desconhecia: o intercâmbio de infantas entre França e Espanha no começo do século 18, para que cada uma delas se casasse com um dos futuros reisdos dois países. Para quem está vendo "Versailles", uma boa surpresa: uma personagem da série aparece, já bem velhinha. Também gostei de ver meu amado Lambert Wilson na pele de Felipe V. Mas a história em si não é das mais arrebatadoras. Tem que gostar muito de castelos e protocolos para achar graça nesse espetáculo deslumbrante, mas meio vazio. Eu sou um daqueles que gostam.

VERGONHA DE SER BRASILEIRO

O Brasil sempre teve a autoestima lá em cima. Teríamos o povo mais simpático do mundo, a melhor música, as praias mais belas, as mulheres mais gostosas. Mas não é novidade para ninguém que, nos últimos tempos, não temos quase nada do que nos orgulhar. Agora estou apenas envergonhado: passamos um vexame histórico na fronteira com a Venezuela, expulsando com paus e pedras um bando de gente esfomeada, expulsa de seu país pelo descalabro da ditadura de Maduro. Há muitos culpados nessa história: o governo de Roraima, que não tem estrutura nem disposição para receber os refugiados; a extrema direita online, que acusa esses pobres coitados de roubar nossos empregos e serviços; e a deseducação do nosso povo, que é cordial só até a página dois. Some-se a tudo isto a barafunda em que estamos há anos, e meu desânimo é enorme. Se eu fosse mais jovem, talvez estivesse me mudando para a Austrália ou o Canadá.

domingo, 19 de agosto de 2018

OSTENTAÇÃO ORIENTAL

Imagina se, obcecado como estou, eu não ia baixar a trilha de "Crazy Rioch Asians" no mesmo dia em que ela saiu. É uma compliação admirável para um filme de Hollywood: 13 das 14 faixas são cantadas por mulheres de origem chinesa, em chinês. Verdade que há algumas versões de hits americanos no meio, como "200度" na voz de Sally Yeh - originalmente conhecida como "Material Girl", de Madonna. Mas também há coisas do passado, como um cha-cha-cha made in Hong Kong, ou contemporâneas feito o dueto entre duas participantes de um concurso de rap que fez sucesso na televisão de lá. Não chega a ser uma introdução ao cantopop ou ao mandopop, as duas principais vertentes atuais da música da China. Mas é um álbum divertido, glamuroso e cosmopolita. Nesses tempos em que o mundo parece andar para trás, é tão necessário como um biscoito da sorte.

sábado, 18 de agosto de 2018

O ESTADO É LAICO

Agora é oficial: Marina abriu mão dos evangélicos mais radicais, em troca das pessoas sensatas e equilibradas. Tanto que o Malafaia já saiu vociferando contra ela no Twitter - o que talvez não queira dizer muita coisa, já que o pastor finge ter um poder muito maior do que de fato tem. Afinal, ele falou que ia engolir o Boechat há mais de três anos e, até agora, nada... Bolsonaro percebeu a estratégia e está tentando apilicá-la com o sinal invertido, em benefício próprio. Vai dar certo? Esses debates influenciam nas pesquisas? Só sei que a minha intenção de voto em Marina Silva está mais firme do que nunca. Vamos ver se ela não põe tudo a perder dizendo que não é bem assim, como das outras vezes.

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

FESTIVAL NACIONAL


Perdi muitos longas brasileiros nos últimos tempos. "As Boas Maneiras", "Canastra Suja" e "Berenice Procura" não ficaram em cartaz tempo suficiente para que eu os visse no cinema. Como ato de contrição, esta semana vi nada menos do que quatro filmes pátrios. O primeiro foi "O Candidato Honesto 2", que só estreia no dia 30. Não vi o anterior, mas não tenho nada contra essas comédias de apoio popular. E acabei gostando mais do que esperava, porque o roteiro mexe com quase toda a política brasileira recente: Lula, Boçalnaro, Dilma, a Lava-Jato, o impeachment. E nada é mais engraçado do que o vice-presidente Ivan Pires ("vampires", entendeu? entendeu?), que não é refletido pelos espelhos. O maior trunfo do filme também é o seu problema: Leandro Hassum, ator de um personagem só, seja ele gordo ou magro. Hassum costuma enveredar por improvisos galopantes, que cansam quando passam da dose. O final também podia ser menos piegas...


A pieguice passa ao largo de "Uma Quase Dupla", que mantém a acidez do começo ao fim. Tatá Werneck está fantástica como sempre ("eu fui diagnosticada como feia aos 12 anos de idade" - aposto que foi ea própria quem escreveu essa fala para si mesma). A surpresa fica a cargo de Cauã Reymond, com quem ela forma uma dupla de policiais de estilos opostos que investiga um serial killer em uma pacata cidade do interior. Sem ser naturalmente engraçado, Cauã faz a lição de casa direitinho e consegue ter química com Tatá, que não o engole em cena. Com muito timing na direção e um bom elenco de apoio, desse eu até veria uma continuação.


Também tem muitos crimes em "O Nome da Morte", mas em chave totalmente distinta. Baseado na história real de um pistoleiro de aluguel, o roteiro de George Moura cria suspense a cada assassinato, mesmo com a gente sabendo o que vai acontecer. Marco Pigossi mostra que fez bem em sair da Globo: livre da obrigação de ser galã, ele faz um sujeito complexo, carregado de culpa e crueldade ao mesmo tempo. Fabíula Nascimento também está ótima, com um peronsagem pequeno porém melhor do que ela costuma encarar nas novelas. O diretor Henrique Goldman, que fez o mediano "Jean Charles", mostra que é um nome a se prestar atenção no cinema nacional.


Já "O Animal Cordial" é um filme-problema. Rodado com baixo orçamento em um único cenário, o longa de estreia de Gabriela Amaral não tem nada do que se espera de um "filme de mulher" - só uma forte protagonista feminina. No papel, Luciana Paes revela dois dotes desconhecidos para mim, que só a tinha em comédias: um baita talento dramático e um corpão da porra. Mas a história não tem muito pé nem cabeça: um assalto a um restaurante dá horrivelmente errado, quando o dono do lugar (Murilo Benício) resol ve que vai matar todo mundo. Qual é a motivação dele? Ou é uma metáfora do capitalismo? Enfim, gostei mais de ter visto do que do filme em si.

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

R-E-S-P-E-I-T-O

Ah, as ironias do destino. Aretha Franklin morreu bem no dia do 60o. aniversário de Madonna, para nos lembrar que ela também é rainha e que sempre o será.

SESSENTA E SEX

Só hoje, no dia de seus anos, é que Madonna lançou no YouTube a versão completa de sua performance no Met Gala, em maio passado. O vídeo incorpora imagens gravadas pelos muitos celulares presentes, mas tem uma certa frieza. Por causa da ocasião? O tema do baile era a influência do catolicismo na arte e na cultura, e o repertório escolhido por Madge não fez por menos. Vai da clássica "Like a Prayer" à "Hallelujah" de Leonard Cohen, com a nova "Beautiful Game" no meio. Pode não ter sido uma apresentação histórica como o show do Super Bowl ou o "Vogue" à Luís XIV dos VMAs de 1990, mas dá para perceber que Madonna ainda bate um bolão. Agora estou doido para ouvir o álbum que ela está gravando - ao que consta, cheio de influências lusófonas. Será que vai ter a participação do pianista brasileiro João Ventura, que mora em Lisboa e participa do vídeo acima?

O CANDIDATO DA ALEGRIA


Hoje começa a campanha eleitoral na internet (na TV e no rádio, só a partir do dia 30). Portanto, vou começar desde já a fazer campanha pelo meu candidato a deputado federal por São Paulo: Wellington Nogueira, da Rede. Somos amigos há mais de 20 anos, mas não é só pela brodagem que eu vou votar nele. Wellington é o fundador dos Doutores da Alegria e conhece a fundo as mazelas da saúde pública no Brasil. Também é um cara sensível, antenado com seu tempo e defensor de várias causas que me são gratas, da democratização da cultura ao fim do foro privlegiado. Foi um dos 136 bolsistas aprovados pelo movimento Renova BR, que está preparando candidatos de diversos partidos para concorrer nessas eleições. Portanto, não é nenhum arrivista querendo mídia. Saiba mais sobre o Wellington e suas propostas em seu site, que acabou de entar no ar. E lembre-se: não adianta votar no melhor presidente do mundo se descuidarmos do Congresso. O poder Legislativo é o maior dos problemas políticos do país. Vamos expulsar a corja atual e eleger nossos verdadeiros representantes.

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

JESUS É TRAVESTI

Não existe homofobia no Brasil, dizem os homofóbicos. Homofobia é violência física: se eu nunca dei uma lampadada numa bicha, então eu posso discordar do homossexualismo, dizem os homofóbicos. Tenho até amigos gays, dizem os homofóbicos. No entanto, travesti é uma ofensa pesada para os homofóbicos que dizem que não o são. Acham que Jesus está sendo ultrajado se ele for retratado como travesti. É como se estivessem cobrindo o Redentor de merda, pois os travestis são a merda da sociedade para esses não-homofóbicos. Por isto, tentam censurar uma peça como "O Evangelho Segundo Jesus, a Rainha do Céu", onde Jesus é vivido pela atriz trans Renata Carvalho. Por isto, proíbem Johnny Hooker de se apresentar na Parada da Diversidade de Teresina, porque o cantor disse que "Jesus é travesti". Quer dizer, não proíbem: só não garantem a segurança, depois que Hooker recebeu ameaças de morte desses não-homofóbicos imbuídos de caridade cristã. Pabllo Vittar foi convidada a subsitituir Hooker: será que acham mesmo que ela é inofensiva? Seu eu fosse a Pabllo, abriria o show gritando em alto e bom som: Jesus é travesti! E se alguém reclamasse, eu então responderia: problema seu.

MARINA E OS DIAMANTES

Se o primeiro turno fosse hoje, eu votaria em Marina Silva. Já estava pendendo para ela, desde que Ciro Gomes cortejou o abominável Centrão. Fiquei ainda mais propenso depois que Eduardo Jorge entrou para a chapa de Marina: foi nele que eu votei em 2014, e concordo com todas as suas ideias. Hoje eu me decidi. Marina finalmente incluiu o casamento gay em seu plano de governo, o que também revela um cálculo político interessante. Ela deve ter percebido que os evangélicos mais radicais irão para o colo do Boçalnaro, e alguns até para o Cabo Daciolo. Melhor então remover o empecilho que não deixava os modernetes como eu aderirem à sua campanha. Pena que ela terá pouco tempo de TV, e que também seja um alvo fácil para seus adversários. Mas o meu apoio, Marina já conseguiu.

terça-feira, 14 de agosto de 2018

OMAROSA COM AMOR

A imprensa mundial está fazendo um bafafá com a "tweetstorm" do Trump conta sua ex-assessora Omarosa Manigault, como se o presidente americano algum dia tivesse se comportado. O livro que a própria Omarosa está lançando, "Unhinged", também está atraindo muita atenção - apesar de não ser nenhuma novidade o fato de Trump ser desequilibrado. O que está passando meio despercebido é um detalhe curioso: Omarosa foi demitida pelo general Kelly, o chefe do gabinete de Trump (equivalente ao nosso ministro da Casa Civil), sem que o próprio presidente soubesse. E assim ficamos sabendo que quem cuida mesmo do dia-a-dia da Casa Branca é um discreto militar linha-dura, não o milionário desbocado que ameaça destruir o Ocidente. Isto é bom? Acho que sim - qualquer um é melhor que o bebê chorão alaranjado. Mas não deixa de ser engraçado ver que a ex-concorrente do programa "The Apprentice", tão despreparada quanto Trump para a vida pública, pisou num calo especialmente dolorido dele. Pisa mais, Omarosita.

QUALQUER GÊNERO DE PAPEL

Um mês atrás, Scarlett Johansson abriu mão do papel de um homem trans depois de ser massacrada na internet por não ser ela mesma um homem trans. Resultado: agora o filme "Rub and Tug" corre o risco de nem ser feito, pois simplesmente não há um homem trans famoso o bastante para atrair público e investidores. E já temos uma outra treta do gênero (DE gênero?) rolando online. O ator Jack Whitehall foi escalado para viver uma poc efeminada no filme "Jungle Cruise", baseado naquele clássico passeio de barco pela selva na Adventureland, na Disney. Mas ele é hétero na vida real, e portanto deveria ceder seu lugar para um pobre ator poc efeminado que só consegue papel de poc efeminado. Ninguém precisa me explicar como é difícil para qualquer ator se assumir gay, especialmente se ele for homem. Os papéis minguam mesmo, e toda uma carreira pode escorrer pelo ralo. Mas exigir que só gays façam papel de gays tem uma contrapartida perversa: então só HT pode fazer papel de HT? Acontece que atuar é justamente fingir ser algo que não se é. Eu sou a favor da escalação "color blind", que ignora a cor da pele do ator, e claro que também acho que a orientação sexual não deve ser levada em conta. A luta tem que ser para que todos tenham a chance de fazer tudo, e não se fazer reserva de mercado para esta ou aquela minoria. Ou é só assassino que pode fazer papel de assassino?

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

WAL PARAÍSO

Açaí, ôô, é um pouquinho de Brasil, aiai... Wal se acostumando, minions: vosso mito tem os pés de barro e a mão enfiada no dinheiro público. Está sendo divertidíssimo ver vocês tentando justificar o fato de Walderice Santos da Conceição, a feliz proprietária da loja Açaí da Val em Mambucaba, ser contratada como funcionária do gabinete do Bolsonazi. Não importa que o salário dela seja baixo: já pensou o que o vo-mito seria capaz de fazer se tivesse acesso aos contratos com as granes empreiteiras? Desonesto ele já provou que é. E vocês provam que são burros mesmo, pois caíram no conto desse espertalhão que só finge ser um paladino contra a corrupção. Vamos parar de rescura? Está na hora de vocês admitirem que gostam do Boçalnaro porque são tão machistas, homofóbicos e despreparados como ele. Ah, e desonestos.

CHINA IN A BOOK

Voltei da Ásia obcecado pela Ásia. Durante meu primeiro mês de volta ao Brasil, sonhava todos as noites que ainda estava por lá. Agora faço pequenas viagens logo antes de dormir, nas páginas de "Crazy Rich Asians". O livro de Kevin Kwan já foi lançado em português e gerou o filme "Podres de Ricos", que estreia por aqui em novembro. Antes disso, já estou me deliciando com este espécime exótico da "chick lit", os livros para garotas que são um dos pilares da indústria literária americana. A história não pode ser mais velhusca: garota de classe média é desprezada pela família do noivo rico, que acha que ela não passa de uma vigarista. Mas o frescor de "Crazy Rich Asians" vem do fato de que todos os personagens são de origem chinesa, movendo-se entre palácios e boutiques em cidades como Singapura, Hong Kong e Paris. Estou me divertindo à pampa, além de aprendendo um monte de gírias da comunidade chinesa no Sudeste Asiático que um dia podem ser úteis. E me perguntando: por que não existe "chick lit" made in Brazil? Alguém se habilita?

domingo, 12 de agosto de 2018

O JOGO DO DESCONTENTE

Só ontem que eu vi a tal da cena da novela "As Aventuras de Poliana" que eriçou a internet, exibida no capítulo de quarta passada. É de cair os olhos da cara, para não dizer outra coisa - veja com os seus próprios, ela começa na altura do 08:04 no vídeo acima. Eu já me posicionei algumas vezes contra o conceito de "lugar de fala", mas hoje vou enfiar minha viola no saco. Isto é o que dá quando não se tem um único negro na equipe de roteiristas de uma novela que resolve discutir o racismo. A fala da coordenadora Helô, vivida pela atriz Elina de Souza, jamais sairia da boca de uma negra na vida real. Dizer que boa parte do racismo não passa de mimimi dos próprios negros, que se colocam à parte do resto da sociedade, é justamente o discurso da direita mais radical. A mesma que jura que a homofobia não existe no Brasil e que o feminismo é o exato oposto do machismo. O SBT tem um longo histórico de piadinhas e atitudes desrespeitosas com os negros, e a maioria vem do próprio dono da emissora. E com quem é casada dona Íris Abravanel (como ela é chamada pelos funcionários do canal, mesmo os diretores mais graduados), a autora principal da novela? Pois é. Todos juram que não têm nada de racistas, porque jamais chicotearam um negro acorrentado ao pelourinho. Mas o racismo se manifesta em pequenos gestos, em palavras descuidadas, em cenas rápidas de novela. "As Aventuras de Poliana" é gravada com muita antecedência, mas o que cabia agora era preparar uma cena de retratação e colocá-la no ar o mais rápido possível. O SBT parece ter acordado para o clamor dos descontentes: o humorista Jacaré Banguela, por exemplo, não faz mais parte do júri do programa "Eliana" depois da piada que fez com Jaden Smith. Mas mexer na novela da mulher do patrão talvez seja pedir demais. E assim, uma programação que já é antiquada ruma a passos firmes ao século 19.

sábado, 11 de agosto de 2018

UBER DRIVER


"Você Nunca Esteve Realmente Aqui" vem sendo comparado a "Taxi Driver", o filme de 1976 que consagrou Martin Scorsese como um mestre do cinema. De fato, há alguns paralelos entre os dois filmes: ambos são protagonizados por homens meio malucos, que vivem em meio à violência extrema e encontram a salvação ao salvar uma garota loura. Mas Joaquin Phoenix não tem a empatia de Robert De Niro, que fazia a plateia torcer por ele mesmo quando falava "you talkin' to me ?" para o espelho. A diretora Lynne Ramsey constrói planos elegantes e usa o sangue de maneira inteligente, mas a trama não é das mais claras: se Phoenix vive um assassino de aluguel, porque ele se choca com tanta maldade? só veja se tiver estômago.

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

URSAL MAIOR

E aí, já tirou seu passaporte da Ursal? Nenhuma pessoa com mais de dois neurônios na cabeça jamais tinha ouvido falar da União das Repúblicas Socialistas da América Latina até o debate de ontem. Aí o Cabo Daciolo deu com a língua nos dentes e a ideia pegou: agora todo mundo quer morar nesse país, o mais legal de todos. A quinta maior economia, todos os recursos naturais possíveis, todos os ecossistemas, as melhores praias, nove Copas do Mundo e apenas duas línguas, cujos falantes se entendem mutuamente. Ciro Gomes foi aclamado como o Líder Supremo, mas Manuela D'Ávila, em visita a Buenos Aires, convidou Pepe Mujica para ser o presidente ursalino - e ele aceitou!! Agora falta inventar o trago típico do novo país, à base de rum, pisco, cachaça e tequila. A dúvida é o que mais misturar nele. Carambola? Guanábana? Coca?

SÓ OUÇO VERDADES

Fiquei vendo o debate na Band até soçobrar de tanto sono, e acabei perdendo a estreia no "The Voice" da música que o Lulu Santos fez para o namorado. Mas a apresentação pode ser conferida na GloboPlay, que insiste em não deixar que seus vídeos sejam embedados. Que delícia que é ver um cara feito o Lulu, aos 65 anos, rebolando de amor por outro homem na maior emissora do país! "Orgulho e Preconceito" não é um hit imediato, desses que pegam o ouvido e não largam mais, mas sua importância não pode ser diminuída. É maravilhoso que um artista estabelecido (e tido por hétero por muita gente, que tolinhos) se exponha desse jeito, ainda mais numa época de trevas como a atual. Então era mesmo verdade o que diziam: Lulu só saiu do armário para ganhar mídia e faturar com essa nova canção. Eu já baixei. Lux, te amo.

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

CABO DO MEDO

Por incrível que pareça, existe um candidato à presidência da República ainda pior do que o Boçalnaro. É o Cabo Daciolo, um fanático religioso que quer transformar o Brasil em uma teocracia. Daciolo elegeu-se deputado federal pelo PSOL, de onde foi expulso em 2015 depois de propor uma emenda para mudar o primeiro parágrafo da constituição para "todo poder emana de Deus". De lá foi para o PT do B e agora está no Patriota, o partideco que quase recebeu o Bolsonazi. Pastor evangélico, ele também "profetizou", no plenário da Câmara, que a deputada Mara Gabrilli, que é cadeirante, voltaria a andar. Pois eu profetizo que ele não irá muito longe nesta eleição, até porque não tem muitos minions. Faz parte da democracia que aberrações como o cabo possam se candidatar. Mas que ele me dá medo, dá.

NÃO CHORO POR TI, ARGENTINA

As verdes perderam? Sim, no curto prazo. Aposto que, no médio, vencerão - venceremos! Como eu já disse no post anterior, o debate na Argentina sobre a legalização no aborto conseguiu reformular o problema. Aborto vai acontecer de qualquer jeito: não adianta ser contra, a mulher que quiser abortar irá fazê-lo. O que está em jogo agora é a vida desta mulher. Por isto, cada um dos 38 senadores que votou contra a nova lei será responsável pelas mortas daqui para a frente. O resultado no Senado era até esperado, pois há mais conservadores ali do que na Câmara de Deputados. E o projeto de lei deveria ter sido alterado, para se tornar mais palatável: a data limite para abortar poderia ter baixado de 14 para 12 semanas, e uma "cláusula de consciência" (liberando os médicos que se dizem pró-vida), incluída. Mas a lição foi aprendida, e uma nova legislação sobre o tema já pode ser proposta dentro de seis meses. O mais importante é que, como dizem os americanos, o gênio saiu da garrafa, e para lá não voltará mais. Há toda uma geração de mulheres que não quer mais se submeter à cultura machista, e muita gente que era contra a legalização mudou de ideia (duvido que o contrário tenha ocorrido). Não vou chorar pela Argentina, porque a legalização do aborto já desponta no horizonte do país. Enquanto isto, aqui no Brasilistão...

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

¡A ABORTAR, DEJÁME!


Está em andamento a sessão no Senado argentino que irá votar a lei que descriminaliza o aborto no país, já aprovada pela Câmara de Deputados. Nada menos do que 60 dos 72 senadores irão discursar; a votação em si deve entrar pela madrugada. Infelizmente, a tendência neste momento é de uma derrota apertada para o lado pró-escolha. Mas o debate vai continuar, e não duvido nada que essa lei volte à baila no ano que vem. O importante é que já um houve um "reframing": a discussão não deve ser sobre a existência ou não do aborto, mas se ele deve ser clandestino e perigoso ou legalizado e seguro. A sociedade de lá mudou a ponto que até já é possível fazer piada sobre o assunto. Como este vídeo produzido pela comediante Malena Pichot, que satiriza os temores dos católicos caso a lei do aborto seja aprovada.

(roubei esse vídeo da timeline da Sylvia Colombo no Facebook)

terça-feira, 7 de agosto de 2018

EU QUERO UMA CASA NO CAMPO

"Pousada Refúgio" fez sucesso nos dois meses em que esteve em cartaz no SESC Pompeia, em São Paulo. Mas o SESC é implacável: ao mesmo tempo em que financia peças que não teriam muita chance no circuito comercial, também não deixa que elas fiquem por lá muito tempo. A fila tem que andar! Mas a comédia dramática de Leonardo Cortez ganhou uma sobrevida, e agora está no Teatro Vivo todas as terças, até o final de novembro. Não duvido que dure mais tempo, que excursione, que seja montada no exterior. Porque o texto é acessível, sem apelar jamais. Em alguns momentos, o nível dos diálogos e das situações me lembrou Yasmina Reza. A trama tem mesmo um parentesco com as da autora francesa: dois casais se reúnem para jantar, junto com o irmão problemático de uma das mulheres. Ao longo da noite, eles comemoram a pousada que estão construindo juntos no interior de Minas, até que os segredos começam a aflorar. Aí o ritmo acelera e "Pousada Refúgio" se transforma em uma denúncia cômica da ganância universal. Eu ri de nervoso.

MALANDRO E INDOLENTE

O Boçalnaro acha que não é racismo dizer que "o afrodescente mais leve lá pesava sete arrobas": é só uma piada. O vice de sua chapa, o general Hamilton Mourão, vai além. Defende que, por ser de origem indígena, está autorizado a declarar que os brasileiros herdamos nossa "indolência" dos povos nativos (e ainda vomitou que nossa "malandragem" veio com os africanos, aqueles que se escravizaram sozinhos). Dá para perceber que os candidatos do PSL estão querendo fazer com o racismo a mesma coisa que pastores evangélicos tentam com a homofobia: criar a noção de que só quando acontece violência física é que ele de fato se manifesta. Gracejar, ofender ou "não concordar", tá valendo. Esse tipo de raciocínio dá uma espécie de salvo-conduto aos racistas e homofóbicos que pretendem votar na dupla. Mas só entre eles: no mundo real isto é racismo mesmo, e merece ser punido. Inclusive nas urnas.

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

ABRIL DESPEDAÇADA

Uma amiga jornalista já tinha me cantado a bola há duas semanas, e hoje ela se confirmou. A Editora Abril demitiu centenas de funcionários (o número exato não foi divulgado) e fechou uma dezena de revistas. Entre elas, as versões brasileiras da "Elle" e da "Cosmopolitan" (que ficou mais conhecida pelo primeiro nome que teve no Brasil, "Nova", ou então como a revista das secretárias). Meu coração também se despedaça um pouquinho: a Abril foi uma parte importante da minha formação, dos quadrinhos aos fascículos, passando, é claro, por várias de suas revistas. Além disso, fui colaborador da casa durante seis anos, quando assinei coluna na "Women's Health". Tenho pena dos que perderam seus empregos; da empresa em si, nem tanto. É notória a inabilidade da Abril em se adaptar aos tempos da internet, tida como "um modismo passageiro" por membros da diretoria de uma década atrás. De qualquer forma, ela continua, assim como quinze de seus títulos mais rentáveis. Desses sobreviventes, o único que eu ainda compro de vez em quando é a "Superinteressante", uma excelente leitura para viagens de avião. O fato é que eu quase não gasto mais meu dindim com revista nenhuma, depois de ter sido viciado nelas por mais de três décadas. Também não compro mais CD, não alugo mais vídeo... Culpa do tal modismo.

GÊNIO INDOMÁVEL

Não sei quase nada sobre a depressão. Mas aprendi, nos últimos tempos, que não é preciso nenhuma razão objetiva para alguém ser deprimido. A pessoa pode ter tido pais amorosos e a infância mais feliz do mundo: se sua química cerebral for predisposta à depressão, já era. Dito isto, fiquei um pouco frustrado com o documentário "Robin Williams: Entre na Minha Mente", que a HBO exibe logo mais às 22. O subtítulo não se justifica. Entramos pouco na cabeça de um dos maiores gênios cômicos de todos os tempos. Seus últimos anos são cobertos de maneira superficial pelo filme. Colegas dizem que ele já não tinha o mesmo brilho nos sets de filmagem, mas por quê? Uma novidade, para mim, foi o diagnístico de Parkinsons que Williams recebeu pouco tempo antes de se suicidar. Isto esclarece um pouco as coisas, mas não tudo. Mesmo assim, o documentário vale muito a pena, principalmente por dedicar boa parte de seu tempo ao começo da carreira do ator. Seus anos como stand-up comic são pouco conhecidos no Brasil, onde ele só se tornou famoso por causa do cinema. A energia frenética e o vício em aplausos estão todos lá. Quase compensam o final abrupto - não se diz sequer que Williams se enforcou - talvez por que o filme seja meio chapa branca, feito com o aval da família. Mesmo assim, meio incompleto, reitero: vale a pena.

domingo, 5 de agosto de 2018

O MÊS DO DESGOSTO

Se você estiver em São Paulo, largue tudo e corra para o SESC Consolação, porque ainda dá tempo: hoje é o último dia em cartaz de "Agosto". A premiada peça de Tracy Letts já rendeu o filme "Álbum de Família", com Meryl Streep, mas nunca havia sido feito no Brasil. Demorou, mas ganhou uma montagem onde tudo funciona: da direção de marcas precisas ao elenco todo bom, com uma feroz Guida Vianna no papel da matriarca ferida. Eu nunca a havia visto como protagonista, nem em registro dramático, e saí arrepiado. Letícia Isnard não fica atrás no papel que, no cinema, foi de Julia Roberts, e todos os 11 atores aproveitam as generosas falas que o texto reserva para cada um. "Agosto", com suas desgraças temperadas com humor e paixão, é teatro como deve ser.

sábado, 4 de agosto de 2018

MONDO CANE

"Dogman" passou ontem, no mesmo horário, em todas as cidades brasileiras onde acontece esta semana o 81/2 Festival do Cinema Italiano. E não adianta consultar a programação, porque não vai passar mais: a ideia era mesmo criar uma aura especial ao redor do filme, o provável candidato da Itália ao próximo Oscar. Porque de fato é muito bom: o diretor Matteo Garrone, que começou com "Gomorra", a versão napolitana do favela-movie, acrescenta uma certa dose de conto de fadas à história de "Dogman", que também se passa no mundo do crime. Talvez seja por influência de seu penúltimo longa, o suntuoso "Conto dos Contos", que haja uma dose de fantasia na imporvável amizade entre um minúsculo dono de pet shop e um assaltante grandalhão. O dogman também é um drugman: vende cocaína para o brutamontes, que fica ainda mais incontrolável sob o efeito do pó. O curioso é que Edoardo Pesce, o ator que faz o gigante, é um homem de estatura normal. Fico só imaginando o tamanhico que deve Marcello Fonte, cujo imenso talento foi premiado no Festival de Cannes. "Dogman" já está legendado em português e deve estrear em breve. Ou quando foi indicado ao próximo Oscar.

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

AGORA INÊS É MARTA

Marta Suplicy caiu em si? A senadora não só recusou o cargo de vice-presidente na chapa de Henrique Meirelles, como ainda avisou que não vai tentar a reeleição e que sairá do MDB. A mudança para o partido de Temer, Cunha, Cabral, Calheiros e outros bandidos foi, de fato, a maior cagada de sua carreira política. Marta achou que voltaria à Prefeitura de São Paulo come essa manobra, e acabou amargando um humilhante quarto lugar na eleição de 2016. O que ela vai fazer agora? Voltar a ser sexóloga? Se aposentar? Casar de novo? Impliquei muito com ela nos últimos anos, mas a verdade é que Marta foi a primeira a defender os direitos LGBT no Congresso, e sempre esteve ao lado das bandeiras progressistas. Sem maiores ambições pelo poder, ela pode se tornar uma aliada ainda mais contundente, com liberdade para criticar e para apontar saídas.

PERNAMBUCANA ARRETADA

Marília Arraes é neta de Miguel Arraes e prima-irmã de Eduardo Campos. Sua família domina o PSB pernambucano desde sempre, e ela mesma só se bandeou para o PT em 2016. É de uma ironia ímpar que seja ela, portanto, o nó da discórdia que pode afundar o plano de Lula para se manter cacique. A moça simplesmente se recusou a abrir mão de sua candidatura ao governo de Pernambuco em prol da neutralidade do PSB nas eleições presidenciais. Conseguiu incomodar seu partido atual e o de sua família, o que não é pouco. E desponta como uma liderança expressiva para a esquerda, ao fincar o pé e não negociar. Sei não, mas acho que o pós-Lula já começou.

ATUALIZAÇÃO: Não, não começou. Marília Arraes abriu mão de sua candidatura. Segue o baile. 

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

ABBA-BOSEIRA


Dez anos atrás, eu me diverti muito com "Mamma Mia!". Disse aqui no blog que não era exatamente um bom filme, mas um bom programa para se fazer em família. Já a continuação, "Lá Vamos Nós de Novo". é ruim mesmo. Só quando Cher e Meryl Streep dão as caras, bem no finzinho, é que essa baboseira chega ao nível do filme anterior. O resto é um desperdício de tempo e de talento. A culpa nem é da trilha sonora, onde imperam músicas menos conhecidas do ABBA (e alguns repetecos, porque né). É do roteiro bobo e da direção frouxa, ambos cometidos pelo britânico Ol Parker. Não há conflito no presente, em que o grande problema é se os convidados chegarão a tempo para a inauguração de um hotel. E não há tensão no passado: não precisávamos ver nada para saber como foi a história de Donna com seus três namorados simultâneos. Para piorar, o que poderia render algum caldo (qual foi o babado entre os personagens de Cher e Andy Garcia, quase 60 anos atrás?) é jogado fora sem a menor cerimônia. Pode jogar fora você também.

quarta-feira, 1 de agosto de 2018

A CHAPA E A PLACA

Nunca votei no Lula, mas preciso admitir: o cara é um gênio político. Atua bem tanto em cima do palanque como nos bastidores. E, mesmo da cadeia, conseguiu melar a aliança de Ciro Gomes com o PSB. O ex-presidente percebeu no Cirão da Massa a maior ameaça à sua hegemonia sobre a esquerda brasileira. Aposto que ele prefere que ganhe o Bolsonazi do que o candidato do PDT. Com o centrão no colo do Alckmin, só resta uma alternativa a Ciro Gomes: se aliar a Marina Silva, outra que vai bem nas pesquisas e mal nas coligações. Mas quem seria o cabeça da chapa? Juntos, porém afastados do resto do campo progressista, será que eles pavimentariam o caminho para a extrema-direita? Eu votaria em ambos, inclusive por eliminação - ninguém mais me parece digno da minha escolha. E adoraria vê-los juntos, como nesta placa de uma cidade na Calábria, no sul da Itália. Delírio?