Estou de saco cheio de ler matérias do tipo "eleitores do Bolsonazi não são loucos/burros/maus". Segundo esses textos, os bolsominions estariam apenas preocupados com a crise econômica, a corrupção e a falta de segurança. Ah, vá: só eles? Também não dá para explicar tanto apoio com a falta de educação. Os minions costumam ter escolaridade e renda mais alta que os demais brasileiros. A dúvida me carcomeu nos últimos dias, mas acho que estou chegando a uma conclusão.
O autoritarismo vem ganhando força pelo mundo afora, mas só chega de fato ao poder em países sem instituições fortes nem tradição democrática. Rússia, Turquia, Venezuela, Hungria e Filipinas são muito diferentes entre si, mas todos têm governantes autoritários que foram eleitos - pelo menos na primeira vez - democraticamente. Jogada em um mundo incerto, as populações têm saudade dos maus velhos tempos, em que não se podia criticar o governo mas havia uma certa tranquilidade. Viktor Orban, o primeiro-ministro húngaro, é um fascistinha de merda: como que um povo tão culto elegeu um boçal desses? Porque tem medo dos imigrantes muçulmanos (todo o leste europeu cristão tem trauma do império Otomano) e pouca prática na democracia, depois dos jugos consecutivos do nazismo e do comunismo.
Existe uma exceção entre esses proto-ditadores: Donald Trump, que chefia a mais sólida e antiga democracia do mundo. Trump só foi eleito por causa de uma bizarrice do século 18, o Colégio Eleitoral, mas ainda tem cerca de 40% de apoio. Como se explica isto? Vou arriscar uma resposta: o machismo. O patriarcado, que percebeu que estea vivendo seus últimos dias. Homens heterossexuais não são mais os protagonistas automáticos na nossa narrativa imaginária. Não são mais o padrão e o resto da sociedade, a exceção. É só conferir os fã-clubes de todos os líderes citados: todos eles fazem muito mais sucesso entre o segmento masculino do que entre o feminino. Todos também representam a etnia dominante em seu país. Todos, em suma, simbolizam o desejo de voltar a um passado em que os homens imperavam, as mulheres apanhavam, os homossexuais eram mortos e as minorias raciais, perseguidas. Nada menos do que uma reação aos avanços progressistas das últimas décadas. Na maioria das democracias ocidentais, esse tipo de liderança até chegou perto do poder, mas não levou. E no Brasil?