terça-feira, 17 de julho de 2018

NAVALHA NA CARNE


Quantos programas sobre serial killers um espectador consegue aguentar? Infinitos, pensam os responsáveis pelos canais pagos e plataformas de streaming, já que toda semana são lançados novos exemplares do gênero.

À primeira vista, “Sharp Objects” é mais um deles. A minissérie em oito episódios, em exibição na HBO, tem como trama central a investigação das mortes de garotas pré-adolescentes em um lugarejo no interior do Missouri – o fotogênico estado americano que serviu há pouco de cenário para o filme “Três Anúncios para um Crime” e a série “Ozark” (Netflix).


A base é o livro “Objetos Cortantes”, de Gillian Flynn (“Garota Exemplar”), que a ed. Intrínseca está relançando com o título original para aproveitar o embalo da TV. E vai além do mero “quem matou?”: o que interessa mesmo é a complicada psique da protagonista Camille Preaker (Amy Adams), uma repórter que tem o péssimo costume de rasgar a própria pele com lâminas afiadas.

Nativa da pequena Wind Gap, ela se vê obrigada a retornar à cidade natal pelo editor do jornal de St. Louis em que trabalha, depois que o corpo de uma menina de lá é descoberto estrangulado e com todos os dentes arrancados da boca.

A reportagem de que é incumbida torna-se ainda mais espinhosa porque Camille não quer reencontrar a mãe, a socialite Adora (Patricia Clarkson), nem a meia-irmã Amma (Eliza Scanlen), muito mais jovem, com quem não tem intimidade.

Através de flashbacks, sabemos que Camille teve uma outra irmã na infância, Marian (Lulu Wilson), cuja causa mortis não é revelada nos dois primeiros episódios. Teria sido, ela também, vítima de um assassino?

O que faz de “Sharp Obejcts” um entretenimento acima da média não é o bom roteiro, que não tem pressa em trazer reviravoltas, nem o excelente trabalho do elenco, o que até era esperado (tanto Adams quanto Clarkson já foram indicadas ao Oscar).

É a direção de Jean-Marc Vallée. Consagrado pelo filme “Clube de Compras Dallas” (2013), o canadense ainda assinou a mais badalada minissérie de 2017, “Big Little Lies”, também exibida pela HBO. O sucesso desta rendeu uma inesperada segunda temporada, ainda em produção, já sem Vallée no comando.

Com uma edição cheia de elipses e um ritmo pouco usual para um mistério policial, o cineasta consegue criar um clima soturno em uma paisagem ensolarada. Um pouco como sua personagem principal, que esconde uma alma atormentada atrás do rosto de traços delicados.

3 comentários:

  1. O Mio Babbino Caro
    Bom!!!
    Só fiquei intrigado pensando de onde mais se poderia arrancar todos os dentes além da boca.

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    1. Hahahaha! Poderia ser do alho ou de um pente ou serrote.

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  2. Esse livro é muito bom

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