quinta-feira, 12 de julho de 2018

MUSICAL DIABÓLICO

Quando a gente pensa em teatro musical, a imagem que vem à cabeça é a de um espetáculo grandioso, com escadarias no palco, plumas, brilhos e sapateado. Mas o gênero vai muito além dos clichês da Broadway. Aliás, é da off-Broadway que nos chega "Pacto", um musical de bolso, com apenas dois atores e um pianista em um cenário despojado. Além de um tema desconfortável: assassinato. O texto do americano Stephen Dolginoff se baseia no caso real de Richard Loeb e Nathan Leopold, os dois universitários que, em 1924, mataram um colega qualquer só para mostrar como eram superiores. O caso rendeu um dos melhores filmes de Hitchcock, "Festim Diabólico" - aquela de uma tomada só. Mas o cinema passou ao largo da viadagem da história. Loeb era apaixonado por Leopold e se deixou teleguiar pelo amado, que era mais cínico e cruel. Essa trama fica ainda mais sangrenta e sexy na direção de Zé Henrique de Paula, com Leandro Luna e André Loddi nos papéis dos pombinhos. Não há nenhum hit de se assobiar entre as músicas, mas elas são eficientes (inclusive como storytelling), e estão muito bem traduzidas. O trabalho de corpo também é digno de aplausos. Só senti falta de um teatro menor do que o Porto Seguro, em SP: uma paixão tão violenta merece ser vista de perto.

6 comentários:

  1. Isso mostra como artistas e publicitários (jornalistas também) podem ser irresponsáveis. O filme de Hitchcock é genial devido à homossexualidade implícita e não explícita. Voltando à irresponsabilidade é de se discutir que histórias reais sobre sobre assassínios, mortes e violências em geral inspirem o entretenimento de milhões quando viram livros, peças ou filmes. Afinal, quem passou pelo infortúnio como vítima não é enxergado como humano assim como seu assassino/algoz. Uma discussão válida. Quem comete o crime e é pego vai preso, mas a sua criação (a história) rende milhões em formatos diversos aos seus adaptadores. A humanidade lucra com o sangue alheio. Pune o criador da arte em estado bruto e recompensa o imitador que coloca a arte na prateleira.

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    1. Também há muitas histórias sobre vítimas, heróis, guerreiros, prostitutas, anjos, vampiros...

      A humanidade vive para contar histórias. Estabelcer limites para o que pode ou não ser contado é burro e fascista. Além de ser inútil, é claro.

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  2. Num teatro menor, como bancar os custos e ter lucro? Dinheiro público???

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    1. A imensa maioria das peças se mantém em cartaz graças ao patrocínio das empresas privadas. Hoje em dia, raramente as bilheterias cobrem os custos - sabia que tem teatro que cobra 14 mil reais por SESSÃO? E a imensa maioria do público dá um jeito de pagar meia, algo que só existe no Brasil.

      Outro grande patrono do teatro é o SESC, que também não mexe com dinheiro público.

      Eu queria ver "Pacto" em teatro menor por razões puramente estéticas. Mas aplaudo a seguradora Porto Seguro, que banco o teatro e as peças que entram em cartaz lá.

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    2. Patrocínio de empresas privadas em troca de isenções fiscais, certo? Ou seja, dinheiro público.

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    3. E qual é o problema de financiar a cultura com dinheiro público? Todos os países desenvolvidos têm algum mecanismo de financiamento público às artes e à cultura, inclusive os Estados Unidos. A fração do orçamento usada para isto é sempre mínima, e o retorno, em termos de "soft power" e avanço cultural da população, é imenso. Fora que peças, filmes, etc. também pagam impostos. O imposto que deixa de ser recolhido de uma empresa muitas vezes volta maior pelo outro lado.

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