Os negros estão mais altivos, cobrando representatividade e justiça. E vêm enfrentando uma reação parecida com a que os gays sofrem desde que se tornaram mais visíveis. É beyond inacreditável que 17 mil internautas tenham dado dislike no comercial de Dia dos Pais de O Boticário. O roteiro do filme não tem nada de mais: é simpático e bem produzido, mas não vai ganhar nenhum prêmio de criatividade. Só que o simples fato de ser protagonizado por uma família negra incomodou muita gente. É o tal negócio: quando alguém perde um privilégio, acha que seus direitos estão ameaçados. Pelo menos já começou uma contra-reação, e os comentários no YouTube agora são largamente favoráveis. Mesmo assim, uma pergunta se impõe: ainda falta muito para o século 21?
terça-feira, 31 de julho de 2018
BOI SONADO
A participação do Bolsonazi no "Roda Viva" de ontem provavelmente vai ter impacto zero sobre seus números nas pesquisas. Os asnos que apoiam o candidato devem ter achado que ele lacrou, mitou, divou com suas respostas, muitas vez malcriadas. Por outro lado, duvido que ele tenha conseguido um mísero novo eleitor sequer. A entrevista serviu mais como um ensaio geral, para percebermos onde estão os pontos fracos que podem ser explorados nas próximas vezes. Bolsonazi estava visivelmente tenso, com expressão abatida no começo; riu aliviado no final, quando percebeu que escapara com vida. A bancada era formada por jornalistas de renome, todos de algum veículo da grande mídia. Faltou alguém mais alternativo, ou mesmo o Marcelo Tas - que, segundo a Cristina Padiglione, pode ter sido vetado pela assessoria do deputado-milico. Na quinta-feira ele irá ao programa "Central das Eleições", da Globo News, onde terá que enfrentar jornalistas mais habituados a fazer entrevistas na TV, como Míriam Leitão, Cristiana Lobo e Fernando Gabeira. Tomara que o confrontem mais pesado em temas como racismo - no "Roda Viva", deixaram barato a afirmação de que "fazer piada com negro não é ser racista". Assuntos mais específicos, como a erradicação da febre amarela, também são ótimos para o "mito" expor seu total despreparo. De qualquer forma, sinto que falta agressividade à imprensa brasileira. Vai ver que foram os anos de ditadura que deixaram nossos repórteres meio acabrunhados quando encaram políticos. Que inveja da TV americana, onde não são raros os enfrentamentos no ar, ao vivo.
segunda-feira, 30 de julho de 2018
VAMOS CONTINUAR JOGANDO PEDRA
O assunto do dia foi o patético comercial da Gillette em que Neymar tenta limpar sua barra, jogar a culpa na gente e ainda faturar alguns trocados, tudo ao mesmo tempo. Rendeu incontáveis comentários negativos na internet e vários textões, inclusive a minha coluna de hoje no F5. O que pouca gente reparou é que a execução (não o conceito) do filme assinado pela agência Grey Brasil é uma cópia descarada desse comercial de Adidas aí em cima, de quatro anos atrás. Ou seja: aquele que talvez seja o pior anúncio do ano, ainda por cima, é meio plágio.
(Obrigado pela dica, Otávio Whately Pacheco)
UM ANO EM CARTAZ
Hoje faz um ano que eu assumi a coluna Multitela da Folha de S. Paulo. É estranho pensar que, nos últimos 365 dias, meu nome saiu todos os dias no jornal impresso. Mais estranho ainda pensar que eu não fraquejei nenhum dia, mesmo com três viagens internacionais nesse período. Obrigado a todos na Folha que me confiaram essa tarefa e obrigado aos leitores, que me mantêm nos cascos. E agora com licença, que eu tenho a coluna de quarta para terminar.
domingo, 29 de julho de 2018
BEBEZÕES ASSASSINOS
No Brasil de antigamente, matavam-se as mulheres adúlteras, feito o coronel Jesuíno dando cabo da dona Sinhazinha na novela "Gabriela". Hoje elas não precisam mais trair para serem assassinadas. Basta dar um fora no sujeito, dizer que quer se separar, para aquele machão tão fodão perder o chão. Para ele, criado para ser o reizinho do universo, só há uma resposta possível: eliminar da face da Terra aquela malvada que ousou rejeitá-lo. Todos os dias saem notícias de mulheres mortas apenas porque terminaram um relacionamento. O caso mais recente é o de Tatiane Spitzner, a moça do Paraná que foi estrangulada e depois atirada do alto do prédio de luxo onde morava pelo próprio marido, mostrando que esse tipo de crime acontece em todas as classes sociais. Vivemos muito mais do que uma cultura do estupro: a mentalidade do brasileiro médio não foi preparada para lidar com a frustração e a dor de cotovelo. "Quem não me quer mais, nunca mais irá amar ninguém", pensam esses bebês gigantes. Tanto horror só é possível porque a polícia ignora os pedidos de socorro, alegando que não pode fazer nada contra meras ameaças; porque as mães educam seus filhos para serem porcos chauvinistas sem tutano nem coragem, numa total inversão do que seria a hombridade; porque nos escandalizamos com as pouquíssimas mulheres que matam os homens que as abandonam, mas achamos normal o contrário.
sábado, 28 de julho de 2018
TESÃO IMPOSSÍVEL
"Missão Impossível: Efeito Fallout" é mesmo tudo isso o que andam dizendo por aí. As sequências de ação são inacreditáveis e Tm Cruise ainda bate um bolão, aos 56 anos de idade. A história é o de menos: acabei de sair do cinema e já não lembro do plot. Tem algo a ver com gente muito má que quer um carregamento de plutônio e envenenar a água do mundo, e daí? Os filmes de James Bond também são assim. Tudo não passa de pretexto para explosões e perseguições. Mas Ethan Hunt, o herói da franquia "M:I", difere do 007 em um ponto crucial: ele é tão casto que chega a parecer assexuado. Enquanto que Bond come todas que lhe passam pela frente, Hunt foge da mulherada. Em "Efeito Fallout", ele reencontra sua ex, é paquerado por uma colega e beijado pela vilã. Nada o abala, nada o desvia de sua missão de salvar o mundo. Assim fica difícil torcer por ele - para não dizer impossível.
sexta-feira, 27 de julho de 2018
NÃO VAI ROLAR A FESTA
No sistema político britânico existe a figura do "shadow cabinet", ou ministério paralelo: membros da oposição ao partido no poder que acompanham de perto (e criticam) o ministro que a situação apontou para cada uma das pastas. Até já tentaram implantar a ideia por aqui, mas como um ministro paralelo não tem verbas à disposição... Enfim, por lá é um big deal, tanto que a protagonista de "A Festa" chama os amigos para comemorar o fato de ter sido indicada ministra paralela da Saúde. Na verdade, mais para um jantarzinho que acaba nem acontecendo, porque segredos vêm à tona. O trailer acima me deixou ouriçado, não só pelo elenco excepcional - com duas das minhas atrizes prediletas, Kristin Scott-Thomas e Patricia Clarkson - como também pela diretora Sally Potter, que relevou Tilda Swinton ao mundo em "Orlando". Mas "A Festa" não passa de teatro filmado, e continuaria fraca mesmo se fosse uma peça. Avisou, avisou, avisou...
TRANS-IDORA DA CAUSA
Seu eu morasse no Rio, meu voto para deputado estadual iria para Carlos Tufvesson, que é candidato pelo PV e tem mais de 20 anos de militância pelos direitos igualitários. Tufvesson, que também é estilista. poderia ter se limitado ao mundo da moda (é dele, por exemplo, o vestido de noiva da Angélica), mas também foi o responsável pela CEDS (Coordenadoria Especial da Diversidade Sexual) da Prefeitura do Rio, durante os dois mandatos de Eduardo Paes. Hoje o prefeito dos cariocas é o tenebroso Marcelo Crivella, que quer transformar a cidade em um puxadinho da Igreja Universal. Crivella cortou verba da Parada LGBT, mas manteve a CEDS - da qual hoje faz parte a trans Luciana Vasconcelos, com quem ele aparece na foto ao lado. No começo da semana, Luciana foi a um evento da ONG Grupo Pela Vida, que luta contra a AIDS, em que Tufvesson estava presente. A certa altura, ela tomou o microfone e despejou uma avalanche de acusações sem fundamento contra o candidato, acusando-o, entre outras coisas, de ter desviado verbas da CEDS durante sua gestão. O vídeo da diatribe chegou a ser divulgado pela página do PSOL no Facebook, mas caiu assim que a farsa foi descoberta: Luciana Vasconcelos é uma traidora da causa LGBT, ao se aliar ostensivamente com alguns dos nossos piores inimigos. Tufvesson já prestou queixa na delegacia, mas não duvido nada que tentem atingi-lo novamente com mais uma saraivada de fake news. Que vicejam também graças a outro fenômeno pernicioso: integrantes da comunidade trans que vêm atacando militantes cis do movimento LGBT, alegando "falta de representatividade". Pois é exatamente isto o que Crivella e sua corja desejam: que nos separemos por raça, gênero, classe social e cor do cabelo. Mesmo ficando juntos, ainda somos minoria. Pulverizados, somos facílimos de esmagar.
(Assista ao vídeo de Sergio Viula pra entender melhor o caso)
quinta-feira, 26 de julho de 2018
HELOÏSE MEXE A CADEIRA
Christine and the Queens não é uma banda, e sim uma cantora-solo. É o nome artístico da francesa Heloïse Letissier, que me seduziu com seu primeiro álbum três anos atrás. O segundo, "Chris", chega em setembro, mas já começou a ser lançado aos poucos. Todas as faixas terão duas versões, uma em francês e outra em inglês. O que mais falta para Helo/Chris conquistar o mundo? As bichas aderirem? Confiram a coreô de "Damn, dis-moi" (ou "Girlfriend"), amigues . Vejam como ela se parece com um rapaz com peitos. Quem pegava? Moi! Damn.
OI, SUMIDO
Soube que o Temer está na África do Sul para uma reunião dos BRICS e quase levei um susto. Tinha esquecido que ele existe: o Velho não aparece noticiário desde o começo da Copa. A mídia fala de seus possíveis sucessores todos os dias, mas o atual ocupante do Planalto sumiu do radar. Já era esperado que ele tocasse em banho-maria os poucos meses que lhe restam de governo, mas esta submersão quase total é esquisita. Não duvido nada que o vampiro esteja negociando, na calada da noite, algo que o salve da cadeia em 2019. Tipo, foro privilegiado para ex-presidentes - o problema é que, aí, esse foro também valeria para o Lula. Fuén fuén fuén.
quarta-feira, 25 de julho de 2018
ESTOURARAM A CÉLULA
Quando eu ouvi falar do MBL pela primeira vez, lá pelo começo de 2015, achei que se tratasse de um movimento de renovação política, tipo Agora! ou Fazemos. Minha ficha começou a cair quando Kim Katiguiri posou todo pimpão ao lado de Eduardo Cunha: nem os 13 anos de idade que ele tinha na época justificavam tamanha ingenuidade (ou má fé, o que é mais provável). De lá para cá, os fraldas-marrons revelaram o que de fato são: uma organização terrorista, mas não do tipo al-Qaeda. As bombas que eles soltam são virtuais. Espalham notícias falsas, movem campanhas de difamação; nem eu escapei. Como se não bastasse, o MBL ainda faz seus seguidores de trouxas, ao usar o computador dos otários para minerar bitcoins. Hoje o Facebook suspendeu 196 páginas e 87 perfis ligados à turminha. Vai ter briga nos tribunais, mas até que enfim o Zuckerberg resolveu fazer alguma coisa contra as fake news. Ah, e para que não me acusem de perseguição ideológica: também sou a favor de que se eliminem as páginas mentirosas da esquerda. Liberdade de expressão nunca foi a liberdade de enganar os outros.
terça-feira, 24 de julho de 2018
NÃO ADIANTA FUGIR NEM MENTIR PRA SI MESMO
Estava passando da hora da música brasileira ter um grande astro assumidamente gay que não fosse o Ney Matogrosso. Alguém que não se encaixasse no estereótipo afeminado que os homofóbicos têm na cabeça. Claro que Lulu Santos nunca enganou os mais antenados, mas hoje ele fez um grande serviço à humanidade - aquela que caminha em passos de formiga e sem vontade. O passo de Lulu também não foi dos maiores: ele só postou uma foto no Instagram ao lado de um rapaz chamado Clebson Teixeira, sem dizer com todas as letras que estariam namorando. Mas o pessoal fez as contas, e depois o cantor ainda divulgou um vídeo agradecendo às mensagens de felicidades pelo momento especial que está vivendo. De fato, a imensa maioria dos comentários que eu li é favorável aos pombinhos. Mas sempre tem uns escrotos - e o pior de todos, para mim, é o tipo que diz que Lulu não precisava expor sua vida pessoal. Como se dissessem isto para os artistas héteros que se lambem em público! Mas esses preconceituosos disfarçados têm razão em reclamar: são exemplos como o de Lulu Santos que dão coragem aos mais indefesos de assumir sua sexualidade. Porque hoje o tempo voa, amor. Escorre pelas mãos, mesmo sem se sentir. E não há tempo que volte, amor. Vamos viver tudo que há pra viver. Vamos nos permitir...
ORGULHO SEM PRECONCEITO
"O Orgulho" foi um grande sucesso de bilheteria na França, e isto é ótimo. Porque mostra que tem muito francês que quer um país diverso e tolerante, sem precisar abrir mão de um milímetro de sua "francesice". A trama é simples: um professor esnobe (Daniel Auteil) destrata uma aluna de origem árabe (a cantora Camélia Jordana, que eu nem sabia que era beur). Para evitar ser expulso da faculdade, ele aceita treiná-la para um concurso de oratória. Claro que os dois irão primeiro se odiar e depois se adorar, e mais claro ainda que ela descobrirá as verdadeiras intenções dele na véspera da grande final. Mas o desfecho escapa do óbvio, ao mesmo tempo em que faz a plateia sair do cinema pensando em qual é o país que ela quer para o futuro.
segunda-feira, 23 de julho de 2018
É BOM JAIR SAINDO DE FININHO
Janaína Paschoal poderia ter mantido sua reputação se tivesse apenas protocolado o pedido de impeachment de DIlma Rousseff. Os partidários da ex-presidente continuariam odiando-a, é claro, mas a advogada não teria se tornado uma piada pronta se não tivesse se portado feito um cavalo do candomblé recebendo o santo (sem o menor desrespeito às religiões de matriz africana, atenção). Mas ontem ela surpreendeu: seu discurso durante a convenção do PSL foi um chamado à razão no meio do hospício. Claro que os bolsominions não deram ouvidos, e Janaína já sinalizou que não aceitará ser a vice do Bolsonazi por razões pessoais. Tarde demais: ter se aproximado do brucut destroçou para sempre o pouco que ainda restava de sua reputação.
O DEMÔNIO DA TASMÂNIA
Finalmente eu vi "Nanette", o especial da comediante australiana Hannah Gadsby que está causando sensação na Netflix. Ao longo de uma hora, o que começa como um show de comédia stand-up vai se transformando em um desabafo feroz, praticamente um manifesto político. Hannah nasceu na Tasmânia, aquela ilha ao sul da Austrália conhecida pela fauna exótica e pela atmosfera rural. O lugar era tão atrasado que, até 1997, a homossexualidade era considerada crime por lá. Hannah cresceu em um uma família religiosa e, quando se percebeu gay, descobriu que também odiava a si mesma: a homofobia já estava incrustada em sua alma. Depois passou por dores físicas, como uma surra levada aos 17 anos por não ser feminina o bastante, ou um estupro duplo sofrido aos 20 e poucos. Hannah também dispara sobre Pablo Picasso e defende a loucura de Van Gogh, às vezes com tanta verborragia que fica difícil acompanhar. Mas a mulher é uma potência, tanto que conseguiu lotar a gigantesca Ópera de Sydney para a gravação deste espetáculo. Virou programa obrigatório, e não só para quem se encaixa na sigla LGBT. Como ela mesma diz: "não existe nada mais forte do que uma mulher destruída que refez a si mesma".
domingo, 22 de julho de 2018
APROPRIACÃO CULTURAL
Wes Anderson invade duas culturas distintas em "Ilha dos Cachorros", sem a menor cerimônia: a japonesa e a canina. Seu novo longa (o segundo em animação) se passa no Japão e todos os personagens humanos não só são japoneses, como falam japonês. Já os cães, apesar da origem nipônica, falam inlgês e têm nomes ocidentais como Rex, King e Spots. Mas não consta que haja reclamações de nenhuma das partes, pois a abordagem do diretor é tão respeitosa que a gente sai do cinema com ainda mais vontade de conhecer o Japão e abraçar um totó. Feito em "stop motion" com uma bela ajuda da computação gráfica, "Ilha dos Cachorros" é uma feérie visual, até para o padrão andersoniano. Como em seus outros filmes, porém, também a história peca por uma certa falta de clareza e profundidade. Num futuro próximo, todos os cães do Japão são infectados por um vírus e exilados em uma ilha onde funcionava um gigantesco depósito de lixo. As muitas reviravoltas parecem desculpas para mais truques de encher os olhos. O que não chega a ser um problema: muitas das imagens são surpreendentes e impactantes. Além disso, é divertido tentar adivinhar qual estrela de Hollywood está dublando qual personagem. Só Yoko Ono teve o privilégio de fazer a voz de uma cientista chamada... Yoko Ono.
sábado, 21 de julho de 2018
EU SEI O QUE VOCÊ TUITOU NO PASSADO
Uma das táticas prediletas da extrema-direita online é "provar" que seus detratores são capazes dos mesmos preconceitos de que eles são acusados. Uma vítima recente é o cineasta James Gunn, diretor dos ultra bem-sucedidos filmes da franquia "Guardiães da Galáxia". O cara é um crítico contumaz do Trump nas redes sociais, o que fez com que apoiadores do presidente americano desenterrassem tuítes de Gunn de dez anos atrás. São piadas realmente pesadas, de uma época em que ele trabalhava no cinema independente e agia feito um "provocateur", falando merda na internet para despertar reações. Gunn pediu desculpas e disse que não é mais aquela pessoa, mas a Disney não quis saber e cortou seus vínculos com o diretor. Mas ninguém precisa ficar com pena: com dois megahits no currículo, ele não vai ficar muito tempo sem trabalho.
Outro que entrou na mira dos bolsominions foi Leandro Demori, editor do site The Intercept. Demori expôs em seu perfil no Twitter a ação orquestrada da alt-right brasileira em "denunciar" a normatização da pedofilia pela comunidade LGBT. Fake news em estado puro. Os trolls então desenterraram tuítes que, lidos fora de contexto, podem ser considerados racistas pelos mais ingênuos e/ou mal-intencionados. E ainda o ameaçaram de morte - já que não se pode ganhar dele com argumentos, então, né? Porrada!
Tive a honra de me juntar a tão ilustre companhia, embora em grau muitíssimo menor. Minha coluna de quinta-feira no F5, comentando a piada equivocada do Jacaré Banguela sobre Jaden Smith, provocou a reação óbvia dos apoiadores do humorista: mimimi, não se pode mais rir de nada, o esperado. Mas dessa vez também aconteceu algo inédito: um fã mais ardente do cara se deu ao trabalho de procurar tuítes meus supostamente comprometedores. E achou esses dois aqui:
Esse foi fácil de identificar o contexto. Basta conferir a data e a hora: eu estava comentando em tempo real a novela "Gabriela", que estreou naquele dia. E me espantei com a ausência de atores negros em uma trama ambientada em Ilhéus, uma das cidades mais negras da Bahia. Duvida? Veja aqui a minha coluna no F5 no dia seguinte, com a mesmíssima observação. "Ãin, mas então você acha que ator negro só pode fazer papel de empregado?" Não, bebé. Mas a minha sensibilidade também mudou ao longo desses seis anos: se fosse hoje, eu escreveria algo como "não tem negro nem nos papéis mais secundários".
Este aqui me custou mais esforço para lembrar a origem. Novamente, a data e a hora ajudaram: trata-se de uma prova do "BBB 11", que eu assistia todo dia naquela época. Junto com Nina Lemos e Renato Kramer, eu soltava uma coluna diária sobre o programa, veja só que desperdício de talento (mas a audiência de nós três era absurda). Antes, comentava em tempo real, para ir juntando frases de impacto e depois usar no texto. "Preto", no caso, se refere à cor da equipe que disputava a tal prova do garçom. Eu não uso "preto" para me referir a alguém negro já faz algumas décadas, e lógico que eu chamava todos os participantes daquele "BBB" pelo nome. Via-os tanto que eram praticamente da família.
Dito tudo isto, é claro que eu já fiz piada racista, homofóbica, machista, contra deficientes de todos os tipos. Mas não faço mais: entendi que o humor contra o oprimido é cruel e despropositado. Uma arma tão poderosa como o humor deve ser usada contra o opressor, ou contra os nossos próprios defeitos de caráter. Por isto, também acho injusto expor alguém por bobagens cometidas anos atrás. As pessoas mudam; se não mudassem, então nem valia a pena falar mais nada.
sexta-feira, 20 de julho de 2018
VALDEMORTE
Foi com o estômago embrulhado que eu acompanhei o leilão que o Centrão (vulgo Direitão) fez de si mesmo. Ciro quase arrematou o lote, ao preço de mudar seu programa de governo e compactuar com os corruptos que ele diz abominar. Mas no final foi mesmo o Alckmin que selou o pacto com a banda mais podre da política brasileira, dando mais uma razão para nunca mais ninguém votar no PSDB. No meio desse mercado persa está Valdemar da Costa Neto, o dono do PR, condenado pelo mensalão. O Voldemorte, como apelidou-o para a eternidade a revista virtual "Crusoé", está se movendo nem tão à sombra para manter o país na lama em que sempre esteve. Graças ao arranjo espúrio, Alckmin vai ter agora uns 40% do horário eleitoral, muito mais do que qualquer concorrente. Claro que nada disso garante vitória em outubro. Nem mesmo os vendilhões do templo têm eleição garantida, aliás. Vai ser engraçado se, depois de dividirem cargos e comissões antes das urnas, boa parte deles for derrotada.
quinta-feira, 19 de julho de 2018
粤语流行音乐
Faço minhas próprias playlists desde os tempos da fita cassete, mas de vez quando procuro novidades nas compilações que o Apple Music monta para mim. O algoritmo se baseia no que eu costumo baixar da plataforma, mas o aproveitamento é incrivelmente baixo: só gosto de uns 10% do que me é oferecido. Os gols de placa são raríssimos, mas acontecem: é o caso da música acima, que eu só entendi que era chinesa quando procurei pelo nome. Nome, aliás, que eu não sei qual é até agora... E só com algum custo que eu descobri que o sujeito se chama Lai Ci Hong, um dos grandes astros do pop de Hong Kong. Ouvi outras coisas dele, mas nada me pegou como esse rap elegante.
ORTEGA Y SOMOZA SON LA MISMA COSA
O PT reagiu da pior forma possível ao massacre que Daniel Ortega vem promovendo na Nicarágua. Ao contrário do PSOL, que comparou o proto-ditador ao sírio Bashar al-Assad, o partido de Lula correu a defender o regime nicaraguense, que estaria sendo vítima de uma conspiração internacional. Nem que estivesse: nada justifica que milicanos matem estudantes refugiados em uma igreja, como aconteceu na semana passada. O mais patético é que o partido do Lula se esquece que vem uma campanha eleitoral por aí, e que seu apoio a Ortega é um presente para os adversários. Depois não entendem porque perdem voto.
quarta-feira, 18 de julho de 2018
LGBT SEM P
Não há uma razão objetiva para alguém ser homofóbico. Dois homens ou duas mulheres (ou mais...) transando entre si não traz nenhum prejuízo concreto à sociedade. Nem mesmo o velho argumento de que "homossexuais não se reproduzem" cola mais. Não faltam exemplos de LGBTs com filhos biológicos, e não é que o mundo esteja precisando de mais gente. Por tudo isto, os homofóbicos de raiz precisam inventar fake news para justificar seu ódio. Uma das mentiras mais comuns é associar a homossexualidade à pedofilia. Claro que existem pedófilos gays, mas o número é ínfimo se comparado ao de héteros. A maioria avassaladora dos casos de abuso sexual de menores ocorre no seio das mesmas famílias heteronormativas que essa corja defende como a única possível, cometidos por um parente HT do sexo masculino. É só consultar qualquer estatística. mas volta e meia a extrema-direita volta à mesma tecla. Desde sexta passada, quando um dos Bolsonazi Jr. espalhou que os pedófilos querem entrar para a sigla LGBT (o que não tem o menor respaldo na verdade), o bate-boca se espalhou pela internet. Luminares da boçalidade vêm se posicionando contra a "normatização" da pedofilia, e muita gente boa vêm discutindo com eles nas redes sociais. Esse tipo de atrito é inútil, ainda mais porque acontece no campo do adversário. Os seguidores do pulha irão tirar palavras suas do contexto e distorcê-las até que elas digam o que eles querem. Também não acho producente ignorá-los. Virar a cara para o outro lado e fingir que não existem só deixa o campo livre para as mentiras avançarem. Temos mais é que denunciá-los pela rede toda e mostrar de onde vêm essas infâmias - como faz esta brilhante matéria do BuzzFeed.
É óbvio que se trata de um ataque coordenado. E é intrigante pensar por que ele está acontecendo justo agora. Cheguei a uma conclusão singela: a razão de tudo isto é a estagnação do Bolsonazi nas pesquisas. Ele não cresce há meses. Chegou no teto que a internet seria capaz de lhe proporcionar, e terá pouquíssimo tempo de TV. É significativo que Magno Malta tenha desistido de ser seu vice. O pastor preferiu se candidatar à reeleição ao Senado, muito mais garantida. A dificuldade do Boçalnaro em firmar alianças é tão grande que não faltam analistas políticos prevendo que ele é nova Marina: larga na frente, mas logo perde o fôlego. É por isto que, neste momento em que a campanha eleitoral começa para valer, os bolsominions estão tentando gerar pânico moral. Usando a mesmíssima estratégia dos teocráticos (com quem muitos deles se confundem): demonizar os gays, para criar a sensação de que o mundo está ameaçado, e desviar a atenção dos problemas de verdade. Faz sentido, não faz? Só que não vai dar certo. É bom essa turma jair se acostumando. Vai levar uma tunda nas urnas em outubro.
COMO QUERÍAMOS DEMONSTRAR
Um novo perfil no Instagram chamado Chalamet in Art vem provando por A mais B aquilo de que eu já desconfiava há muito tempo: todas as obras de arte da história, em qualquer época e em qualquer lugar, foram inspiradas por Timothée Chalamet. Renoir, Klimt, Michelangelo, Caravaggio, Magritte, Botticelli, todos eles já pressentiam o ator, que só nasceria em 1995. Agora que Timmy já veio ao mundo, fica fácil reconhecê-lo em obras tão díspares quanto "O Grito" de Munch ou "As Meninas" de Velásquez. Você duvida? Então veja com seus próprios olhos:
Tem mais aqui.
terça-feira, 17 de julho de 2018
NAVALHA NA CARNE
Quantos programas sobre serial killers um espectador consegue aguentar? Infinitos, pensam os responsáveis pelos canais pagos e plataformas de streaming, já que toda semana são lançados novos exemplares do gênero.
À primeira vista, “Sharp Objects” é mais um deles. A minissérie em oito episódios, em exibição na HBO, tem como trama central a investigação das mortes de garotas pré-adolescentes em um lugarejo no interior do Missouri – o fotogênico estado americano que serviu há pouco de cenário para o filme “Três Anúncios para um Crime” e a série “Ozark” (Netflix).
A base é o livro “Objetos Cortantes”, de Gillian Flynn (“Garota Exemplar”), que a ed. Intrínseca está relançando com o título original para aproveitar o embalo da TV. E vai além do mero “quem matou?”: o que interessa mesmo é a complicada psique da protagonista Camille Preaker (Amy Adams), uma repórter que tem o péssimo costume de rasgar a própria pele com lâminas afiadas.
Nativa da pequena Wind Gap, ela se vê obrigada a retornar à cidade natal pelo editor do jornal de St. Louis em que trabalha, depois que o corpo de uma menina de lá é descoberto estrangulado e com todos os dentes arrancados da boca.
A reportagem de que é incumbida torna-se ainda mais espinhosa porque Camille não quer reencontrar a mãe, a socialite Adora (Patricia Clarkson), nem a meia-irmã Amma (Eliza Scanlen), muito mais jovem, com quem não tem intimidade.
Através de flashbacks, sabemos que Camille teve uma outra irmã na infância, Marian (Lulu Wilson), cuja causa mortis não é revelada nos dois primeiros episódios. Teria sido, ela também, vítima de um assassino?
O que faz de “Sharp Obejcts” um entretenimento acima da média não é o bom roteiro, que não tem pressa em trazer reviravoltas, nem o excelente trabalho do elenco, o que até era esperado (tanto Adams quanto Clarkson já foram indicadas ao Oscar).
É a direção de Jean-Marc Vallée. Consagrado pelo filme “Clube de Compras Dallas” (2013), o canadense ainda assinou a mais badalada minissérie de 2017, “Big Little Lies”, também exibida pela HBO. O sucesso desta rendeu uma inesperada segunda temporada, ainda em produção, já sem Vallée no comando.
Com uma edição cheia de elipses e um ritmo pouco usual para um mistério policial, o cineasta consegue criar um clima soturno em uma paisagem ensolarada. Um pouco como sua personagem principal, que esconde uma alma atormentada atrás do rosto de traços delicados.
segunda-feira, 16 de julho de 2018
QUE DROGA DE JORNALISTA
Paulo Henrique Amorim não perde uma oportunidade de espezinhar a Globo, tamanha é a mágoa de caboclo que ele guarda de seus antigos patrões. Mas ontem ele foi tão longe que pode ter minado o que restava de sua credibilidade. Em seu blog Conversa Afiada, PHA detonou a confissão que Casagrande fez depois do jogo entre França e Croácia. O ex-jogador e comentarista da Globo contou que, pela primeira vez, começou e acabou uma Copa do Mundo em total sobriedade. O ataque gratuito de PHA não leva em conta que, ao admitir sua luta contra o vício, Casão está servindo de exemplo para milhões de pessoas na mesma situação. Mas o que torna a boutade realmente patética é o detalhe de Amorim trabalhar desde 2003 na Record, o braço televisivo da Igreja Universal do Reino de Deus. Igreja esta que ocupa as madrugadas do canal prometendo afastar os fiéis do álcool e das drogas mediante o poder da oração - e do pagamento do dízimo, é claro. Que vergonha desse pseudojornalista. Nem pena dá mais para sentir dele, só nojo.
A TRAIÇÃO DO BEBÊ LARANJA
Olha, tudo bem a pessoa ser conservadora. Como eu sempre digo, democracia se faz com todas as posições políticas. Tudo bem até ela ser de direita pelos motivos errados: quer manter seus privilégios (que ela chama de "meritocracia") e que o Estado não faça xongas pelos mais pobres, esses vagais. O que não dá mais é para alguém apoiar o Trump. A não ser que esse alguém seja integrante do governo Putin, que quer desunir o Ocidente para abrir espaço para a Rússia. O bebê laranja chorão deu um vexame hoje em Helsinki, ao praticamente se ajoelhar para lamber as botas de seu chefe. A mídia americana está em polvorosa com este patente ato de traição, pois não há mais defesa possível para tamanha subserviência. Está mais do que óbvio que Trump teve ajuda dos russos nas eleições de 2016, e agora está retribuindo. Mesmo assim, surpreende que ele seja tão capacho. Será que os russos têm mesmo alguma foto de prostitutas fazendo xixi sobre aquela cabeleireira alaranjada? Ou Trump é tão burro, mas tão burro, que foi convencido de que, para fazer a América grande outra vez, ele precisa se livrar dos aliados e fazer as vontades de seu maior inimigo? A essa altura, acho que todas as explicações são possíveis.
domingo, 15 de julho de 2018
XOXOTAS REVOLTADAS
Os jogadores ficaram putos e o estádio inteiro vaiou, mas o Pussy Riot foi épico. Não só as reivindicações do grupo são justíssimas (veja o vídeo até o final), como elas ainda humilharam duas entidades perversas - a FIFA e Vladimir Putin - de uma só tacada. Bem que algumas delas podiam estar amanhã em Helsinki, onde o presidente russo vai se encontrar com seu lacaio, o bebê laranja chorão.
ATUALIZAÇÃO: O vídeo original foi tirado do ar pela FIFA, que alegou violação de direitos autorais por ele conter imagens do jogo. O Pussy Riot então preparou uma nova edição, mais curta, que é a que aparece agora neste post. Vamos ver quanto tempo sobrevive.
LE JOUR DE GLOIRE EST ARRIVÉ
Que jogaço, que belo final de Copa do Mundo. Sem prorrogação, sem disputa por pênalti, com nada menos do que seis gols. Não fui pé-frio pela primeira vez em anos e ganhou o time pelo qual eu torcia: a França. Mas a Croácia não fez feio. Deu o sangue até o fim, e volta para casa tão vitoriosa quanto. Tirando a invasão do Pussy Riot, o melhor do jogo foi a comemoração. Que lindo ver o Macron e a Kolinda, a presidente croata, cumprimentando os jogadores, um por um. Que lindo ver o Mbappé e o Modrić ganhando troféus merecidos. Que lindo ver os vitoriosos tratado os derrotados como adversários dignos, e que bom ver esses perdedores não chorando nem rolando pelo chão. Hoje foi daqueles dias em que todo mundo saiu ganhando: a diversidade da França, o país que mais tem sofrido com o terrorismo no Ocidente; a garra da Croácia, que honra a história do país; e até o Brasil, que, afinal, reagiu com maturidade à perda de mais uma Copa. É apenas uma Copa, gente. Mas é A Copa, the fucking Copa do Mundo. Tanto que eu, que não dou a menor pelota para a bola, agora quero que 2022 chegue logo.
CHARLOTTE E MAIS NADA
Tem que ser fanático pela Charlotte Rampling como eu sou para ver "Hannah". Ela confirma tudo o que venho dizendo há tempos: é uma atriz sensacional, despida de qualquer pudor. Mas o filme é uma tortura. Em ritmo glacial, acompanhamos o dia-a-dia de uma mulher desesperada. O marido está na prisão. O filho não fala com ela. Sua carterinha da piscina pública foi revogada... Tudo isso quase sem diálogos, só com o rosto triste e impressionante daquela que foi a mulher mais linda do mundo nos anos 70. Jamais ficamos sabendo por que o marido foi preso, nem por que o filho rompeu com os pais. "Hannah" é um filme preguiçoso, que achou que o talento de sua protagonista bastaria.
sábado, 14 de julho de 2018
I LOVE A MAN IN A UNIFORM
Na semana passada, eu não citei em um post sobre saída do armário o nome do PM flagrado beijando o namorado no metrô de São Paulo. Mas depois Leandro Prior veio a público e até deu uma longa entrevista ao Roberto Cabrini, no programa "Conexão Repórter" do SBT (a parte 2 está aqui). Além de corajoso, ele fez um serviço e tanto pela causa LGBT. Mostrou para muitos ignorantes que os gays vão muito além do estereótipo da bichinha afeminada, e calou a boca dos boçais que o ameaçavam. Aliás, são esses homofóbicos que merecem punição, não o Leandro. Ele desrespeitou a farda? Então, que se punam também as dezenas de PMs que, Brasil afora, manifestam amor hétero, como o Pedro HMC mostra no vídeo abaixo. O mais legal é que, inspirados pelo caso, PMs gays, lésbicas e trans estão demonstrando apoio a Leandro Prior - e, por tabela, dando a cara a tapa. Só com visibilidade e assertividade é que se honra o uniforme.
sexta-feira, 13 de julho de 2018
ENGOLI UMA VITROLA
Hoje eu fui o convidado do programa "Estúdio Diversidade", um talk show LGBT exibido pela TV 247 (o canal no YouTube do site Brasil 247). Fui de vermelho de propósito, rs. William de Lucca - que eu conheci outro dia, no lançamento do livro "O Outro Lado da Bola" - me entrevistou, ou melhor, me deu rédea solta: chega a ser aflitivo como eu começo a falar e não paro nunca mais. Engoli uma vitrola, como se dizia antigamente. Mas foi um prazer participar. Aguardo outros convites.
SAMANTHA COM Y
Eu sou super chato para comédias brasileiras. Fui criado no leite com "Friends", então não acho graça se não tiver uma piada a cada dez segundos. Coisas tipo "A Grande Família", que muita gente adora, para mim parecem filmes iranianos. Por isto, é com alívo que anuncio que eu me rendi a "Samantha!". A terceira série produzida pela Netflix no Brasil é uma ótima sitcom, que não faz feio ao lado de suas colegas internacionais. A ideia central é ótima, mesmo que não muito original: estrelinha infantil dos anos 80 tenta recuperar o sucesso depois de adulta ("The Comeback", da HBO, tinha um mote parecido). Mas, até aí, amigos que moram juntos é mais velho do que a arca de Noé. O que importa é a execução, e nisto "Samantha!" é quase impecável. Ótimas situações, excelentes atores, bons valores de produção, ritmo, ritmo, ritmo. Nem todos os sete episódios atingem o mesmo patamar de qualidade, mas todos são bons - e o quarto, com uma instagrammer fashion (Lorena Comparato, irmã da Bianca, tão boa quanto) é uma obra-prima. E o que é Emmanuelle Araújo, senhoras e senhores? Como é que a Globo não fez desta mulher uma uma protagonista de novela? Ela não deu para os diretores certos? Emmanuelle é um assombro: linda, com timing afiado, e ainda se sai bem nas poucas cenas dramáticas. O fato é que todo o elenco está ótimo, sem exceções. E ainda há falas dignas de ganhar vida própria, em memes ou em títulos de post. Veja o primeiro episódio para entender. Você vai querer ver o resto.
quinta-feira, 12 de julho de 2018
OJ HRVATI, BRAĆO MILA IZ ČAVOGLAVA
A Croácia é fascista? Ou só os jogadores? Por quem devemos torcer no jogo de domingo? O debate rolou solto nas minhas redes sociais nesta quinta-feira, com argumentos pró e contra. O pivô da questão é a canção "Bojna Cavoglave", que surgiu na época da ocupação nazista do país, quando os alemães ajudariam os croatas a expulsar os comunistas. Foi regravada por uma banda de rock em 1992, quando a antiga Iugoslávia estava se desintegrando, e virou um hino informal da Croácia. A letra é só patriótica, sem nada ostensivamente fascista, como se pode ler nesta tradução. Hoje a torcida a canta nos estádios. "Ãin, mas, a Croácia tem um governo de direita" - como, aliás, quase toda a Europa Oriental, depois de anos de domínio soviético. Mas está longe de ser pré-fascista como o da Hungria ou o da Polônia, ou uma ditadura como a da Bielorrússia (eu me recuso a falar Belarus, o país tem um nome em português), que é governada por um remanescente do comunismo. O texto que circulou na internet "denunciando" a Croácia tem um claro viés de extrema-esquerda. Aliás, também é obtuso: defende a Rússia de Putin, diz que Tito era um líder anti-fascista (também, além do fundador de uma ditadura de partido único que ele governou até morrer) e que a Ucrânia é feia, boba e má. Enfim: não existe o país perfeito para o qual torcer. Só se os anjos do Senhor entrassem em campo, com Jesus Cristo no gol. Por tudo isto, no domingo eu vou mesmo é de França. O país também tem uma extrema-direita asquerosa, além de tratar mal os imigrantes. Mais c'est la France! A segunda pátria das pessoas civilizadas! A melhor comida do mundo, os melhores vinhos, os perfumes! A nação que nos deu Edith Piaf, Alain Delon, Jean-Paul Sartre, Asterix, a Orangina! Allez les bleus, bof.
MUSICAL DIABÓLICO
Quando a gente pensa em teatro musical, a imagem que vem à cabeça é a de um espetáculo grandioso, com escadarias no palco, plumas, brilhos e sapateado. Mas o gênero vai muito além dos clichês da Broadway. Aliás, é da off-Broadway que nos chega "Pacto", um musical de bolso, com apenas dois atores e um pianista em um cenário despojado. Além de um tema desconfortável: assassinato. O texto do americano Stephen Dolginoff se baseia no caso real de Richard Loeb e Nathan Leopold, os dois universitários que, em 1924, mataram um colega qualquer só para mostrar como eram superiores. O caso rendeu um dos melhores filmes de Hitchcock, "Festim Diabólico" - aquela de uma tomada só. Mas o cinema passou ao largo da viadagem da história. Loeb era apaixonado por Leopold e se deixou teleguiar pelo amado, que era mais cínico e cruel. Essa trama fica ainda mais sangrenta e sexy na direção de Zé Henrique de Paula, com Leandro Luna e André Loddi nos papéis dos pombinhos. Não há nenhum hit de se assobiar entre as músicas, mas elas são eficientes (inclusive como storytelling), e estão muito bem traduzidas. O trabalho de corpo também é digno de aplausos. Só senti falta de um teatro menor do que o Porto Seguro, em SP: uma paixão tão violenta merece ser vista de perto.
quarta-feira, 11 de julho de 2018
INGLATERRA 2 X ARGENTINA 1
Nessa reta fnal da Copa, dois países que não têm mais chance de vitória disputam o campeonato do meu ouvido. A Inglaterra abriu o placar, marcando um golaço com "The Now Now", o sexto álbum dos Gorillaz (e a minha encarnação favorita do Damn Albarn, entre as muitas que ele tem). O disco é mais simples e curto do que o "Humanz" do ano passado, mas também tem participações luxuosas e batidinhas eletrônicas. Pena que "Sorcerez", minha faixa predileta, ainda não conte com um clipe decente.
Os ingleses ampliaram a diferença com "High as Hope", o quarto álbum de Florence Welch - tão despojado que ela devia esquecer o + The Machine. A moça continua cantando e compondo muito bem, mas as novas músicas são sofridas demais. Quase todas baladonas, que falam de solidão e dependência química - não exatamente o melhor pgorama depois do jogo. Gostei, mas ainda prefiro Florence saltitando de batom branco ou fazendo dueto com Lady Gaga.
E eis que a Argentina entra em campo com seu maior craque de todos os tempos. Fito Páez é uma espécie de Sandra Annenberg do rock portenho: totalmente uncool, mas completamente adorável. "La Ciudad Liberada", seu milésimo álbum, não traz maiores novidades, mas é consistente do começo ao fim. Também fala de amor, baladas, terrorismo - the usual para o señor Rodolfo. E "Mi Vida Tu Vida" é sua melhor composição em anos. Um belo gol de honra.
O RIO DE JANEIRO CONTINUA FEIO
Quando se viu ameaçada pelo impeachment, Dilma Russeff não teve dúvidas. Começou a rifar os cargos mais importantes de seu governo, em uma tentativa desesperada de cooptar seus opositores. Ministros probos como Renato Janine Ribeiro tiveram que abrir espaço para monstruosidades. A mesma coisa começou a acontecer no Rio de Janeiro. Perigando perder a Prefeitura por causa de seu óbvio favorecimento aos evangélicos, Marcelo Crivella trocou ontem um de seus poucos secretários decentes. Mas Cesar Benjamin, que ocupava a pasta da Educação, caiu atirando: seu post de despedida no Facebook virou notícia, e pode complicar ainda mais a situação do prefeito-pastor. Aliás, tomara: Crivella é uma excrescência na história do Rio, e sua ideologia retrógrada merece o fogo do inferno. Impeachment nele, senhores vereadores.
terça-feira, 10 de julho de 2018
MAKE AMERICAN IDIOT GREAT AGAIN
Donald Trump pediu a Theresa May para conter os protestos contra ele durante sua visita a Londres. A primeira-ministra não poderia fazer isto nem que quisesse, e Trump ainda teve o dissabor de ganhar uma nova trilha para seu desastroso mandato. A molecada britânica mandou "American Idiot" de volta ao primeiro lugar das paradas, 14 anos depois que o Green Day compôs a música em "homenagem" a George Bush (que parece um grande estadista, se comparado ao desastre que ocupa a Casa Branca). E eu, que nunca fui muito chegado ao som da banda, agora estou engrossando o coro: "Welcome to a new kind of tension..."
Q ISSO, MOLEQUE TÁ SEDUTOR MANÉ
Preciso confessar uma coisa: eu nunca havia prestado muita atenção no Nego do Borel até ontem à noite, quando vi o clipe de "Me Solta". E nem foi por preconceito contra o funk ou coisa que o valha, porque eu adoro o gênero. Mas agora eu não tive como escapar, porque as guei das minhas redes estão erguendo tochas e ancinhos contra o cantor. Afinal, como que ele ousa se travestir e beijar um homem em seu novo vídeo, se poucos dias atrás posou ao lado dos Bolsonazi? Pior: mandou um comentário no Instagram dizendo que o pré-candidato à Presidência estava "sedutor" numa foto em que este aparece cortando o cabelo (clique na foto para ampliá-la). Olha, pode ser que eu não esteja de posse de todas as informações, mas nada disso significa que o Nego do Borel apoie o Bolsossauro. Pode ser só zoação, pode ser pura inconsequência. Assim como "Me Solta" também não prega uma libertação mais profunda do que dançar em um baile. Não conheço a obra do cara, mas Nego do Borel não me parece que tenha um pensamento político muito articulado, nem que entenda as dinâmicas da internet (aliás, quem entende?). Atira para todos os lados e não se preocupa em acertar em nenhum alvo. Como postura, tende à irrelevância. Agora, já paramos para pensar que o oposto também pode ser verdade? Que ele se aproximou dos trogloditas, para depois "traí-los" com essa lacração toda? Se eu fosse bolsominion, estaria putaço. O fato é que a personagem Nega do Borelli nem foi criada agora. Ah, e quer saber? A música é boa.
(Elaboro mais sobre Nego do Borel na minha coluna de hoje no F5)
segunda-feira, 9 de julho de 2018
CÃO QUE LADRA NÃO MORDE
Antonia Zegers é figurinha fácil do novo cinema chileno. A atriz aparece em muitos dos filmes que vêm de lá, quase sempre em papel coadjuvante. "Cachorros" é a primeira vez que a vejo como protagonista, mas eu me pergunto se foi uma boa escolha. Acho que Antonia não gera a empatia necessária para seu complicado personagem, uma mulher rica e entediada que começa um caso com seu professor de equitação - um ex-militar que responde por crimes cometidos durante a ditadura Pinochet. Vai ver que a intenção da diretora Marcela Said era essa mesma: mostrar uma mulher que não precisa da aprovação de ninguém, nem mesmo a do público. Mas, com isto, achei que "Cachorros" acabou ficando aquém do que latia prometia.
SEM TER PARA ONDE FUGIR
Tenho ido muito ao teatro, mas vejo pouco do que os autores brasileiros contemporâneos andam escrevendo. Minimizei esta falha por uma noite assistindo a "Refúgio", que está em cartaz no SESC Bom Retiro, aqui em São Paulo, até o final de julho. Com texto e direção de Alexandre Dal Farra, o espetáculo é inquietante do começo ao fim. Cinco personagens se afligem com um misterioso fenômeno que assola o mundo: o súbito desaparecimento de pessoas, sem mais nem por quê. Até que eles mesmos começam a sumir também, num jogo amplificado pelo engenhoso cenário de Marisa Bentivegna, com paredes móveis que se combinam em caixas, e pelo uso de câmeras que transmitem em preto e branco as expressões dos atores, fazendo cinema ao vivo. Aliás, que atores: é raro que um elenco seja ele todinho bom, como é o caso deste aqui, encabeçado pelos experientes Fabiana Gugli e Marat Descartes. Densa porém acessível, com um pezinho no experimentalismo, "Refúgio" expõe a angústia, exatamente ao contrário do que seu título sugere.
domingo, 8 de julho de 2018
DOMINGÃO ESQUIZOFRÊNICO
Lula já foi tido como um grande conciliador, o sujeito capaz de agradar ao mercado e ao povão, mas hoje é só o Bolsonazi quem consegue dividir o Brasil mais do que o ex-presidente. Minhas timelines estão esquizofrênicas neste domingo: enquanto boa parte comemora a "vitória da democracia", outros estão quase pegando em armas. Uma coisa é clara: a defesa de Lula protocolou o pedido de habeas corpus depois das 19h porque sabia que ele cairia com o desembargador plantonista Rogério Favretto, velho conhecido do PT. Não duvido nem que as partes tenham combinado a manobra antes. E é para lá de ridículo reclamar que Sérgio Moro é tendencioso por ser fotografado ao lado de Aécio Neves ou João Doria, e achar perfeitamente imparcial a decisão de um juiz que foi petista e trabalhou para governos do partido. E qual é a minha opinião pessoal? Acho que há uma montanha de evidências de maus-feitos de Lula, desde os tempos do mensalão, e sou totalmente a favor da prisão depois do julgado em segunda instância para qualquer um, como é acontece em quase todos os países civilizados do mundo. Mas também lamento que Lula não possa concorrer em outubro (mesmo solto, ele continuaria ficha-suja): só uma derrota nas urnas pode abalar o mito de uma aclamação no primeiro turno. Impossível? Pesquisas mostram que Lula tem uma rejeição altíssima, na casa dos 60%, comparável apenas à de seu rival na polarização - ele mesmo, o Bolsonazi. Nisso eles estão juntos.
KEEP CALM AND FALE COM A MÁRCIA
Nem tudo está perdido. Há pelo menos um pastor com culhão suficiente para gravar o que o Crivella disse no tal do café-da-manhã secreto de quarta passada. Ou, pelo menos, alguém infiltrado no Palácio Guanabara com poder e vontade de deixar um repórter de "O Globo" acompanhar a reunião. O pastor-prefeito diz que já fez esse tipo de encontro com vários segmentos da sociedade (que prove, então), o que não diminui a gravidade de oferecer serviços municipais a alguns privilegiados. Quanto aos babacas que estão reclamando de que outros políticosnão tiveram uma marcação assim cerrada: o que vocês sugerem? Que a imprensa feche os olhos e deixe por isso mesmo? É bom lembrar que Sérgio Cabral e Eduardo Cunha estão na cadeia. Os tempos mudaram, e os celulares estão por toda parte. No mais, pobres cariocas. Elegeram um prefeito que é a antítese do Rio, e agora estão recebendo o que compraram. O lado bom disso tudo é que o desastre da administração de Marcelo Crivella no Rio prejudica a estratégia de poder dos teocráticos, pelo menos nas grandes cidades. Aí, não vai ter Márcia que salve.
sábado, 7 de julho de 2018
BISCOITO DE MAITENA
"Mulheres Alteradas" é uma delícia de filme. É baseado nos cartuns da argentina Maitena Burundarena, que fazem intervenções em alguns momentos-chave. Também é ágil, engraçado e tecnicamente impecável: montagem, direção de arte, fotografia, música, tudo isso está num nível que é raro no cinema nacional. Só para ser chato, tenho algumas considerações. Mônica Iozzi e Maria Casadevall, as duas melhores atrizes do quarteto de protagonistas, têm menos tempo de tela do que suas colegas Alessandra Negrini e Deborah Secco, e suas personagens não chegam a ter um arco dramático. Também implico um pouco com o fato de uma das histórias ser resolvida com a queda de um coco sobre uma cabeça - mas é bom lembrar que o material de origem, os quadrinhos, permite esse tipo de recurso. Nada disso é grave. "Mulheres Alteradas" é um biscoito fino, a anos-luz das comédias bobas que grassam por aí.
sexta-feira, 6 de julho de 2018
TINTIN NO PAÍS DOS DERROTADOS
Ganhei o jogo de hoje. Afinal, a Bélgica é a minha pátria espiritual. É de lá que vem o Tintin, meu romance de formação, meu avatar. Se o Tintin está contente com o resultado, então eu também estou.
Agora falando sério. Não sou nada ligado em futebol, mas eu estava sentindo que essa Copa seria do Brasil. E que o hexa marcaria um ponto de virada nessa espiral descendente em que embarcamos desde... quando? Desde o 7 a 1 de 2014? De lá para cá, foi desgraça sobre desgraça. em quase todas as áreas.
Muito já se discutiu se o desempenho do país na Copa afeta as eleições para presidente, que acontecem sempre no mesmo ano. Só espero que, com mais esse fracasso, os brasileiros não apertem o foda-se e elejam o Bolsonazi.
Mas agora estou torcendo para os belgas. Vamos, diabos vermelhos!
quinta-feira, 5 de julho de 2018
DOENTE OU ENDEMONIADO?
Vou criar uma enquete no Facebook: para você, Marco Infeliciano é uma mente doentia ou uma criatura possuída pelo demônio? Na verdade, o que o deputado-pastor está fazendo e pesquisa de mercado. Ele quer saber quantos trouxas estariam dispostos a tratar da depressão e outros distúrbios psiquiátricos em "clínicas espirituais", já que não conseguiu trazer para o Brasil o lucrativo negócio da "cura gay". Os últimos resultados dão que 19% dos votos são para os demônios, o que já deve ser quórum suficiente para o Infeliciano investir neste mercado promissor. O mais chocante, como diz Marcelo Zorzanelli em seu blog na Folha, é a sociedade brasileira permitir que esse tipo de charlatão explore os pobres e os ignorantes. Ah, e um lembrete aos "liberais" que estão inclinados a votar em Álvaro Dias (Podemos-PR) para presidente: adivinha a qual partido o Infeliciano se filiou há alguns meses?
BRASIL, MOSTRA SEU TESTA-DE-FERRO
Em janeiro passado, o Brasil inteiro se revoltou com a indicação de Cristiane Brasil para o Ministério do Trabalho. Como que ela comandaria esta pasta, se já havia sido condenada em um processo trabalhista? A deputada ainda piorou a própria situando, ao divulgar aquele vídeo grotesco onde aparecia cercada de marmanjos descamisados. A filha de Roberto Jeferson acabou desistindo, e a nossa revolta parou por ali. Não demos muita atenção ao fato de que o Ministério continuou com o partido dela, o espúrio PTB, que indicou Helton Yomura para o cargo. E Cristiane - que é filha do dono do partido, Roberto Jeferson - continuou mandando prender e soltar. Hoje o juiz do STF Edson Fachin afastou o testa-de-ferro da parlamentar, que tenta a reeleição em outubro. Cariocas, meus conterrâneos, parem de me envergonhar e expulsem essa quadrilha do Congresso. Matogrossenses-do-sul, aproveitem o embalo e despachem para o inferno o trombadão do Carlos Marun, outro que se viu hoje enrolado em um escândalo de corrupção. Que surpresa, não é mesmo? Quem diria que o amigão do Eduardo Cunha não teria a reputação ilibada?
quarta-feira, 4 de julho de 2018
A PORTA QUE SÓ QUEM SAI DEVE ABRIR
Repórter da Globo News revela que namora rapaz belga. (sexta tem Brasil x Bélgica). pic.twitter.com/1ZqPXsTtXA— Irmã do Neymar (@SonsaAbrao) 4 de julho de 2018
É lindo, é inspirador e é épico sair do armário ao vivo na TV, ainda mais direto da Rússia. Foi o que fez o repórter Sandro Fernandes da Globo News, que ontem contou meio en passant que tem um namorado belga, mas que continua torcendo pelo Brasil no jogo de sexta. Hoje Sandro desabafou no Twitter sobre o auê e comoção que sua revelação provocou. Mas este é um preço baixo a se pagar pela coragem e integridade. Ele continua escrevendo o script da própria vida. Pena que esta opção não foi dada ao PM paulistano que foi gravado, à revelia, beijando outro homem no metrô. O vídeo foi postado na internet, também sem a permissão dele, e as ameaças foram tantas que o rapaz pediu afastamento médico de suas funções - está internado em uma clínica de repouso. Não vou reproduzir nenhuma imagem dele aqui, muito menos divulgar seu nome. Saída do armário é uma decisão pessoal e intransferível. Só os homofóbicos enrustidos é que merecem ser expostos à luz do dia. Os demais, sabem onde o calo lhes aperta e onde/quando/se devem se assumir. Por que nunca é fácil para ninguém, nem para o filho do Solimões.
QUASE NÓS
Estou lendo "Neandertal, Nosso Irmão" por causa de "Sapiens", talvez o livro mais influente da década até agora. Claro que era isto o que os editores esperavam, pois as cores e a diagramação da capa remetem à obra de Yuval Noah Harari. Mas não precisava: fiquei tão encafifado com a informação de que a nossa espécie de hominídeo é a única capaz de pensamento abstrato, que quis conhecer mais sobre esses parentes, cujo DNA está presente até hoje em europeus e asiáticos. Até onde se sabe, o neandertal (grafia moderna, já que o nome do vale alemão onde se descobriu o primeiro fóssil perdeu o "h") não tinha religião nem arte. Talvez não tivesse nem linguagem oral: seria mesmo o estereótipo do homem das cavernas, se comunicando por grunhidos e golpes de clava. O jornalista francês François Savatier adota um estilo um tiquinho floreado para explicar as descobertas de sua conterrânea, a cientista Silvana Condemi, mas em nenhum momento a leitura se torna aborrecida ou cheia de termos inacessíveis aos leigos. O livro acaba levantando mais perguntas do que fornecendo respostas: o que, afinal, deu cabo do neandertal? Provavelmente, vários fatores: o aquecimento do clima, o avanço do sapiens e seu aliado, o cachorro (que o neandertal jamais domesticou), talvez até uma gripe que transmitimos a eles. E uma questão que me aflige de vez em quando permanece: como reagiríamos se descobríssemos uma população neandertal isolada, sobrevivendo em algum ponto do planeta? Esses outros humanos teriam os mesmos direitos que o resto de nós?
terça-feira, 3 de julho de 2018
COMER THAI É GOSTOSO
Coreia e Tailândia nunca lutaram no mesmo front de batalha. Ambas foram invadidas pelo Japão na Segunda Guerra Mundial, mas seus soldados jamais se encontraram. Isto não impediu que publicitários tailandeses criassem o filme acima, quase um curta-metragem - mas, na verdade, o comercial de uma marca de lamen. Pena que o diretor gritou "corta!" bem na hora em que ia virar um pornô gay.
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