sábado, 30 de junho de 2018

UNIVERSO EM TRANSIÇÃO

A modelo Ángela Ponce tentou representar a Espanha no concurso de Miss Mundo de 2015. Não ficou nem entre as dez primeiras colocadas, mas não desanimou. Ontem, a bela sevilhana alcançou uma vitória mais expressiva: será a candidata espanhola no próximo Miss Universo, um certame que já fez parte do império de Donald Trump. O regulamento antediluviano proíbe que concorram mulheres casadas ou com filhos, mas não diz nada sobre transexuais. E é claro que é bom para a imagem do concurso aumentar a diversidade, tantas são as críticas que recebe desde o advento do feminismo. Duvido que Ángela conquiste a coroa, mas sua presença já é um baita avanço. Afinal, nem o universo é imutável.

sexta-feira, 29 de junho de 2018

SHOW DOS PODEROSOS


"Os Incríveis" já eram o meu filme favorito da Pixar, e isto é dizer muito. Porque o estúdio tem obras-primas como "Toy Story" e "Procurando Nemo", e nunca fez nada menos do que bom. Mas "Os Incríveis 2" me pegou de calça curta. Tudo nele é, aham, incrível. Do roteiro esperto ao visual propositalmente retrô, passando por algumas das sequências de ação mais empolgantes da história do cinema. A família superpoderosa não envelheceu um segundo nos últimos 14 anos, mas o bebê Zezé está se descobrindo (a briga com o racoon é épica). O único defeito talvez seja a rápida aparição de Edna Moda, a favorita das guei: ela merecia seu próprio curta. Do nível de "Bao", o primeiro Pixar dirigido por uma mulher, que abre a sessão. Um show.

CARA DE PALHAÇO, PINTA DE PALHAÇO

A Cavalera já tirou de suas lojas a camiseta do Bozonaro. Ficou com medo - justificado, penso eu - de ser alvo de vandalismo dos bolsominions. Já que não veremos mais o modelito nas vitrines, fique aqui também no meu blog o registro (bem ruinzinho, mas vá lá) da t-shirt. A loja desrespeitou o candidato? É claro, mas e daí? O desrespeito não é proibido pela Constituição. Não vou nem entrar na discussão digna da quinta série de que, já que o Bolsonazi desrespeita mulheres, negros, gays e inteligência em geral, portanto ele também merece ser desrespeitado. Não é por aí. É pela democracia mesmo: num país com liberdade de expressão, qualquer político pode ser achincalhado. Mas não é este o país que os asnos querem para o futuro. Pena que o candidato deles também seja o mais rejeitado.

quinta-feira, 28 de junho de 2018

CHÃO DE ARCO-ÍRIS

Para comemorar a Marche des Fiertés - o delicioso nome que a parada gay tem em Paris - a prefeitura da cidade mandou pintar arcos-íris ao lado da faixa de pedestres de alguns cruzamentos no bairro do Marais. Alguns deles acabaram sendo cobertos de insultos homofóbicos. Para quê, não é mesmo? Hoje, Dia do Orgulho LGBTQI+, a prefeita Anne Hidalgo anunciou que os arcos-íris serão permanentes. É uma decisão que honra o ideal francês de liberdade, igualdade e fraternidade, e uma glitterbomb na cara dos vândalos. Paris, La Ville-Lumière, agora tem até o asfalto mais bonito que o de outras cidades. E atenção, quem estiver lá por perto: a Marche acontece neste sábado, dia 30 de junho. Allons-y.

(Obrigado pela dica, Denis Victorazo)

PERIGO SUPREMO

Aqui no Brasil, juízes do Supremo podem julgar sozinhos, ou então divididos em turmas. A razão para isto é a avalanche de casos que chegam ao STF todos os anos, muito por conta da leniência da lei que permite que alguns casos se arrastem por anos através de infinitas instâncias, e também do foro privilegiado de que desfrutam milhares de pessoas. O resultado são imbróglios como o desta semana, em que Zé Dirceu foi solto mais uma vez. Nos Estados Unidos, a Suprema Corte só julga casos que dependam de uma interpretando da Constituição, e são poucos por ano. Por isto mesmo, as decisões por lá costumam ter consequências sísmicas e duradouras. Além do mais, o cargo de juiz da Suprema Corte é vitalício. Mas o juiz pode se aposentar quando sentir que chegou a hora, como acontece agora como Anthony Kennedy. Moderado, sem pender para a direita nem para a esquerda, coube a ele muitas vezes o voto decisivo em questões espinhosas. Mas o fiel da balança anunciou que vai para casa no fim de julho, abrindo assim mais uma vaga para Donald Trump preencher. Custava o sr. Kennedy ter esperado até depois das eleições de novembro, quando provavelmente a liderança de pelo menos uma das casas do Legislativo mudará de mãos? Agora os democratas tentarão todo tipo de medida protelatória, porque é muito capaz que o ensandecido presidente laranja escolha um neonazista para o cargo. A capa do tabloide Daily News, de Nova York, reflete o sentimento dos liberais. Controle de armas, direito ao aborto, casamento gay, tudo isto pode ir para a cucuia nos próximos anos. E o que acontece nos EUA costuma refletir no resto do mundo: portanto, essa é uma briga a se acompanhar com a devida atenção.

quarta-feira, 27 de junho de 2018

BOLA NÃO TEM LADO

Participei ontem à noite de um bate-papo na Livraria da Vila da Fradique Coutinho, aqui em São Paulo, no lançamento do livro "O Outro Lado da Bola", de Alvaro Campos, Alê Braga e Jean Diaz. O que é hoje uma "graphic novel" nasceu como um projeto de série de TV, que participou da mesma oficina da Globosat que eu, em 2013. Eu conhecia o roteiro do piloto, que não foi feito até hoje por pura miopia dos canais de TV e plataformas de streaming. Porque a história é ótima: um famoso jogador de futebol se vê forçado a sair do armário, depois de um acontecimento estrondoso em sua vida. E o debate que fez parte da noite de autógrafos falava justamente da homofobia no futebol. Além dos autores, também participaram a "peladeira" Stéfani (não guardei o sobrenome, perdão), do coletivo Pelado Real de futebol feminino, e o William de Lucca, o ativista LGBT que causou celeuma em março, ao tuitar sobre a homofobia de sua própria torcida, a do Palmeiras. A conversa foi ótima, com algumas perguntas do público presente, e muito esclarecedora. Porque vivemos em um país onde não só os jogadores não podem ser gays, como os próprios torcedores. E a homofobia é, na verdade, apenas uma fatia da pizza podre que é a relação dos brasileiros com o futebol. O que devia ser entretenimento e válvula de escape virou desculpa para violência atroz (lembram do sujeito que atirou uma privada do alto de um estádio, matando uma pessoa na rua?) e um ninho de corrupção, tanto na CBF como na FIFA. Claro que o Brasil é apenas um entre TODOS os países onde o futebol é homofóbico (e machista, e até racista - o que talvez melhore no dia em que tivermos um grande jogador negro, hahaha). Mas há esperança no ar. O comportamento exemplar das torcidas de seleções já eliminadas da Copa, como Irã e Panamá, é um alento. Assim como a moda que os japoneses lançaram e está se espalhando: limpar o estádio depois do jogo. Aos poucos, acho que está surgindo até no meio futebolístico a consciência de que o racismo, o machismo e a homofobia não são ruins apenas para suas vítimas imediatas, mas para toda a sociedade. Afinal, bola não tem lado - ou tem um lado só, e estamos todos nele.

terça-feira, 26 de junho de 2018

APENAS BONS AMIGOS

Bill Clinton derrotou George Bush nas eleições americanas de 1992, efetivamente encerrando a carreira política do 40o. presidente americano. Muitos anos depois, quando Clinton também havia saído da Casa Branca, os dois começaram a ser convidados juntos para todo tipo de evento e campanha humanitária. Consta até que dividiram o mesmo quarto durante uma viagem de visita às vítimas de um furacão ou coisa que o valha. Eles mantêm uma relação civilizada até hoje, sem nunca terem se atacado no estilo "herança maldita" ou, pior, como Trump está tentando desfazer as instituições de seu país. Ontem Clinton visitou o nonagenário Bush, que acabou de ficar viúvo e não levanta mais da cadeira de rodas. Em troca, ganhou esse tuíte super simpático, provavelmente escrito pela equipe do pai de W. Bush. Também duvido que tenha sido uma visita 100% sincera; Clinton está promovendo seu primeiro romance, "O Dia em que o Presidente Desapareceu", e Bush fez o merchandising que o "amigo" tanto queria. Na verdade, pouco importa se os dois se amam ou se odeiam longe das câmeras. O que interessa é que dois adversários políticos conseguem posar juntos sorrindo, e trocar gentilezas nas redes sociais. Ah, que saudades de um tempo mais simples, sem tanta polarização.

segunda-feira, 25 de junho de 2018

RACHEL, RACHEL


O diretor chileno Sebastián Lelio está construindo uma obra interessante, em que a sexualidade feminina é o tema central. Seu primeiro filme que chegou por aqui foi "Gloria", sobre uma mulher de meia-idade que se redescobre assanhada. Em março ele faturou o Oscar de filme em língua estrangeira com as agruras de uma trans em "Uma Mulher Fantástica". Poucos meses deposito prêmio, Lelio está de volta com seu primeiro trabalho em inglês, "Desobediência", que se passa no fechado mundo do judaísmo ortodoxo. Rachel Weisz faz uma fotógrafa que volta para casa depois de anos, para o funeral do pai rabino. Lá ela descobre que não só foi apagada da história dele como que a amiga de infância, com quem treinava beijos, ainda a ama de loucura. Outra Rachel, a McAdams, está ótima como essa esposa devota que resolve se libertar. Sem o pudor de aparecer sem maquiagem ou de protagonizar uma ousada cena de sexo, ela está à altura da colega, linda e misteriosa como sempre. Mas também senti um certo desapontamento no final, como nos outros filmes de Lelio. As premissas sempre parecem mais interessantes do que o resultado na tela. Vamos ver como ele se sai no remake americano de "Gloria", com Julianne Moore no papel principal.

AGRESSIVIDADE E MORTE

Enquanto a descriminalização da maconha avança pelo mundo civilizado, por aqui é o próprio Senado Federal que contribui para a desinformação e o obscurantismo. A campanha que começou a ser divulgada ontem pelas redes sociais já saiu do ar, tamanha a gritaria provocada. A pessoa que escreveu o texto ao lado deve achar que maconha se toma em copos? De onde foi que ela tirou que um dos efeitos imediatos da cannabis é a agressividade? Ou a morte, também listada entre os efeitos do uso continuado? Não há um único registro de overdose de maconha em todo o mundo. Isto não quer dizer que ela "é uma erva natural, não pode te prejudicar", como canta o Planet Hemp. Prejudica sim, como qualquer coisa que for fumada (aliás, de onde surgiu o mito de que o que é natural não faz mal à saúde? Veneno de jararaca é 100% natural...). Mas voltando à maconha. Envergonhado, o Senado jogou a culpa na Polícia Federal - segundo ele, a responsável pelos dados errôneos. Duvido que a PF não saiba o que faz um baseado, mas vá lá. O desolador de tudo isso é ver como o debate está séculos atrasado no Brasil. Aqui ninguém discute a sério o problema e ainda se acha que a repressão é que pode acabar com o tráfico. Sinto-me agressivo quando escuto essas bobagens, com vontade de matar.

(Para quem ainda tem as ideias nubladas, recomendo este post do Pedro Doria)

domingo, 24 de junho de 2018

IMPOSTO SOBRE HERANÇA


Quem lê este blog sabe que eu não sou chegado a um filme de terror. Não tenho a menor paciência para Jasons e Freddies que saem matando a esmo, nem consigo ter medo de sangue. Mas de vez em quando sou obrigado a ver um exemplar do gênero, por causa das críticas elogiosas. Em 2016 foi "A Bruxa" e em 2017 foi "Corra!" (que é bem mais que um filme de terror, concordo). Este ano, o ungido é "Hereditário", de um diretor estrante chamado Ari Aster que eu aposto que terá uma longa carreira. Não dá para falar muito da história, e não só porque as supresas são muitas. O roteiro simplesmente me levou para lugares inesperados: que delícia que é estar no banco do passageiro no cinema, sem fazer muita ideia do caminho. Mas pode ver o trailer sem susto (aham), porque ele não entrega nada. Só que a avó esquisita de uma família aparentemente normal morreu, e há um preço a pagar. O elenco é formidável, e muito vem se falando (merecidamente) da atuação de Toni Colette. Também é preciso destacar a menina Milly Shapiro, que parece Susan Boyle no começo da adolescência, e o verdadeiro protagonista dessa trama macabara, o jovem Alex Wolff. No entanto, em todo mundo vai gostar. O ritmo é lento (mas não arrastado), e a ausência de clichês vai frustrar que vai ao cinema no piloto automático. Mas guarde as minhas palavras. Daqui a uns anos, "Hereditário" vai estar na prateleira dos clássicos, bem ao lado de "O Iluminado".

sábado, 23 de junho de 2018

NEYMARKETING NEGATIVO

O Brasil nunca foi muito reverente com seus ídolos. Não faltam piadinhas sobre a perna mecânica de Roberto Carlos ou a morte de Ayrton Senna. Mas o que está acontecendo agora com o Neymar me parece ser de outra natureza. As pessoas estão de saco cheio do rapaz. De sua vaidade, seus chiliques em campo, seu choro no jogo de ontem. Quantos memes você recebeu esta semana pelo WhatsApp? Tem o cachorro do Neymar, o sanfoneiro do Neymar, o cabrito do Neymar... Aliás, nem é só ele. Parece que metade da nossa seleção é composta por flores delicadas, que se despetalam sob pressão - tipo Thiago Silva, a quem eu tenho votade de dar uma bifa. Que saudades do tempo em que os jogadores eram uns pinguços safados, seguidos por uma fila de mulheres grávidas ou com bebês no colo exigindo teste de DNA. Os de hoje são quase todos evangélicos e agradecem a Jesus por cada gol, sem a menor criatividade - isto quando não doam o salário para o pastor. Neymarketing e sua namorada Bruna Marketingue estão cansando o público, que preferia ver bola na rede do que os dois se lambendo no Instagram. Se o Brasil cair fora logo, vou me bandear para a torcida de Portugal. Cristiano Ronaldo pode ser um pavão metrossexual, mas não é dado a frescurites na hora do jogo.

sexta-feira, 22 de junho de 2018

ELAS ESTÃO DESCONTROLADAS


Adoro atrizes, especialmente as de uma certa idade. Quando várias delas se juntam num mesmo filme, então, sai da frente. Mas se o roteiro for ruim, não adianta ter Jane Fonda & Diane Keaton & Candice Bergen no elenco (Mary Steenburgen é competente, mas está bem abaixo do estrelato das colegas). "Do Jeito que Elas Querem" parecia ser um passatempo refinado e despretensioso, do nível de "Clube das Desquitadas" ou dos filmes de Nancy Myers. Mas tudo é - aham - velho nessa comédia rasteira. A começar pelo ponto de partida: quatro amigas que leem o mesmo livro todo mês escolhem, com apenas seis anos de atraso, "50 Tons de Cinza". Claro que as peripécias de Christian Grey acendem as periquitas de todas, que resolvem ir à luta e arranjar namorado. E conseguem, com uma facilidade de dar inveja a uma boate gay sob o domínio da bala. Até aí, beleza, cinema não é realidade, mas as piadas precisavam ser boas. Mas são óbvias e grosseiras, indignas de uma turma que quase que tem mais Oscars e Emmys do que anos.

ESPELHO, ESPELHO DELE


François Ozon é um dos meus cineastas prediletos. Vi todos os seus 17 longas-metragens, além de alguns curtas. Por isto, estou no meu lugar de fala para dizer que "O Amante Duplo" não está entre seus melhores trabalhos. Não é exatamente um filme ruim e até que tem seus bons momentos, mas os defeitos são tantos quantas as qualidades. Numa história em que a barriga tem uma função central (a protagonista sofre de prisão de ventre, e há uma cena mais para o fim que, enfim, deixa pra lá), Ozon deixa que uma barriga cresça e arraste a trama. A escolha de Marina Vacth para o papel principal também me parece equivocada: a moça é linda, mas tem exatamente uma única expressão, que ela usa o tempo todo. Dito isto, era meio que inevitável que Ozon aproveitasse o tema do duplo em algum ponto de sua obra, repleta de farsas e perversões. Desde o começo do filme, fica claro que os psiquiatras gêmeos que dividem a mesma mulher não são 100% reais; o desfecho consegue ser satisfatório e prosaico ao mesmo tempo. E o melhor de tudo é mesmo Jacqueline Bisset, esplendorosa aos 72 anos de idade, numa personagem recorrente na filmografia de François Ozon: a mulher mais velha (geralmente, uma mãe) que surge próxima ao desenlace para ajudar na revelação de um segredo. Mas não tenho o que lamentar por causa desse ligeiro tropeço. Ozon filma sem parar, e seu próximo filme, "Alexandre", já está em pós-produção.

quinta-feira, 21 de junho de 2018

ELA NÃO LIGA MESMO

Achei que eram fake news quando vi pela primeira vez. Que Melania Trump até seria capaz de cometer tal vestimenta, mas não para visitar filhos de imigrantes separados dos pais. Só que não: a primeira-dama usou mesmo um casaco onde nas costas pode-se ler "I Really Don't Care, Do U?" ("Não Tô Nem Aí, e Você?"). É um modelo da Zara do ano passado, no valor de 39 dólares. Já seria esquisito a mulher de um presidente desfilar com esse troço em QUALQUER situação. Para uma visita como a de hoje, é imperdoável. Não que ela tenha feito de propósito: Melania simplesmente não se tocou. Ela não liga mesmo! Mais fascinante ainda é não haver um único assessor por perto para sussurrar "calma lá, isso pode pegar mal". Ou seja, nem contratar aspone direito essa Casa Branca consegue. Trump ainda aumentou a cagada ao tuitar que a esposa no. 3 estava se referindo à mídia malvada, num ato falho evidente de que sim, ele liga muito para o que a mídia fala. Então tape os ouvidos, porque lá vai.

O MONSTRO DE FLORIANÓPOLIS

Procurei no Google e no Facebook uma foto do promotor Henrique Limongi, o celerado de Floripa que já tentou anular 69 casamentos homoafetivos. O babaca virou o inimigo no. 1 dos LGBT esta semana depois de enviar uma intimação a Anelise e Adrieli Nunes Schins, casadas legalmente desde dezembro do ano passado. Não, eu não ia fazer nada de mais com a foto ou o perfil do troglodita, só postá-la aqui no meu blog. Aí vocês, queridos leitores, é que iriam resolver o que fazer com elas. Todo mundo já é bem grandinho, né mesmo? Ninguém precisa acatar a minha sugestão de infernizar a vida do sujeito. Gritar com Limongi nos restaurantes, passar trote na casa dele, jogar tomate podre no carro oficial... Sei lá, vocês é que sabem. "Ãin, mas você está sendo infantil, não é assim que se combate a homoblábláblá whiskas sachê". Então eu respondo: Limongi é um bully, que só quer encher o saco de gays e lésbicas. Ele sabe muito bem que o casamento homoafetivo foi considerado constitucional pelo STF em 2011, por unanimidade. Só vai conseguir que os casais de Florianópolis percam tempo e dinheiro com advogados. Portanto, é um alvo lícito: tomate nele!

quarta-feira, 20 de junho de 2018

NOSOTROS, LOS CERDOS

Somos uns porcos. Somos todos unos cerdos. Nós, não apenas os brasileiros, mas os latino-americanos em geral. O machismo e a falta de educação nos são inerentes. Não sabemos nos comportar em uma Copa do Mundo. Enquanto não param de surgir vídeos dos nossos compatriotas zoando grosseiramente das russas, dois exemplos desalentadores vêm dos nossos vizinhos regionais. Torcedores colombianos fizeram parecido com turistas japonesas e ainda entraram com álcool no estádio de Saransk. Resultado: atraíram a ira divina, e a Colômbia perdeu do Japão. Já no México uma galera achou que seria uma boa ideia celebrar a inesperada vitória de domingo passado queimando uma bandeira da Alemanha. Quero só ver o placar do próximo jogo da seleção mexicana...

(Obrigado pelas dicas, Daniel Ortiz!)

terça-feira, 19 de junho de 2018

GRITO! BERRO! MURO!

O plano de Trump era simples. Quando começasse a gritaria por causa das criançaas separadas dos pais imigrantes, ele jogaria a culpa nos democratas. Afinal, foi durante o governo Obama que foram aprovadas as leis anti-imigração atualmente em vigor (que são duras, é verdade, mas que em nenhum momento falam em separar pais de filhos). "Change the laws!", gritou o presidente no Twitter, em seu delicado estilo característico. Só que, para mudar as leis agora, ele impõe uma condiçãozinha: que o Congresso também aprove o muro que prometeu construir na fronteira com o México. O que Trump não previu foi a reação negativa colossal, vinda até de republicanos de carteirinha como a ex-primeira-dama Laura Bush. E ainda surgiu a gravação de algumas dessas crianças chorando, que é de cortar o coração. O que acontece agora? Trump é um poço de insegurança e quer ser amado pelo povo, mas também costuma recrudescer no erro quando é muito criticado. Não aposto que nada vá mudar de imediato. Já a médio prazo... as cagadas estão se acumulando. Aguardemos.

O CAPITÃOZINHO DO MATO

Fernando Holiday se ofendeu porque o Cirão da Massa disse, numa entrevista sobre uma possível aliança do PDT com o DEM, que ele era um "capitãozinho do mato". O vereador paulistano - que, apesar de ser negro, é contra as cotas para negros nas universidades e até mesmo contra o Dia da Consciência Negra - quer processar o presidenciável por racismo. Antes de procurar um advogado, o celbatário deveria procurar um livro: a maioria dos capitães do mato era negra, como registra a famosa gravura de Rugendas. Alguns eram escravos, outros alforriados, incumbidos pelos sinhôs de caçar os fujões e devolvê-los às senzalas. Negros que perseguiam negros. Se a carapuça serviu...

segunda-feira, 18 de junho de 2018

I GOT EXPENSIVE FABRICS

Marquei uma touca monumental com o clipe "This Is America" do Childish Gambino. Quando dei por mim, todo mundo já havia comentado e eu não tinha mais nada a acrescentar. Por isto hoje acordei disposto a fazer logo um post sobre "Apeshit", o vídeo que Jay-Z e Beyoncé gravaram dentro do Louvre. Comecei a fazer o texto e aí pensei: por que não ganhar dinheiro com ele? Então transformei o post na minha coluna de hoje no F5. Quer saber o que eu penso sobre The Carters? Vai lá e paga para ler, bitch. Eu também tenho hábitos caros.

A ROSA DE MOSCOU

Imagine o deus-nos-acuda se, na Copa de 2014, um grupo torcedores croatas tivesse postado na internet um vídeo com uma brasileira gritando "buceta rosa" na língua deles. Pensando bem, talvez não acontecesse nada: desconfio que o machismo dos brasileiros seja mais forte que os brios patriotas. Mas o mundo mudou e a mulherada não deixa mais passar batida uma brincadeira escrota como a que viralizou pelo WhatsApp. Esse tipo de piada é, sim, uma agressão. E os agressores, além de tudo, são burros: esqueceram que, nos tempos que correm, é relativamente fácil identificá-los pelas redes sociais...

domingo, 17 de junho de 2018

MEU NAMORADO DO COLÉGIO ERA GAY


Alguns anos atrás, um site com o título deste post fez muito sucesso. Nele, mulheres adultas postavam fotos da adolescência, abraçando garotos que elas juravam ser seus namorados. Tolinhas: bastava um olhar mais treinado para perceber que os mancebos eram futuras bibas, mesmo que os próprios não soubessem. O site não existe mais e o próprio fenômeno está em extinção, porque os LGBT estão sacando cada vez mais cedo qual é a deles. Antes que ele desapareça, vale a pena ver "Alex Strangelove" na Netflix. Em menos de um ano, é o terceiro longa sobre o aflorar da homossexualidade masculina. Não chega aos pés da obra-prima que é "Me Chame pelo Seu Nome", mas é mais engraçado e emocionante que "Com Amor, Simon", que passou há poucos meses nos cinemas. O Alex do título fica tão amigo de uma garota que os dois viram namorados, mas ela começa a estranhar quando não rola sexo entre os dois. Ele então conhece um rapaz interessante, e as coisas ficam confusas. Sem problemas com os pais nem com os amigos, a vida do protagonista é um pouco fácil demais, mesmo para os padrões de hoje. Mas como seria a minha vida se eu tivesse visto um filme assim nessa idade? Talvez eu não teria tido namoradas.

sábado, 16 de junho de 2018

HOMOSSEXUALIDADE ABSTÊMICA

Minhas timelines estão ardendo desde ontem por causa do voto de castidade de Fernando Holiday, o vereador negro e gay que tem, digamos, uma relação complexa com o fato de ser negro e gay. A bem da verdade, a expressão "homossexualidade abstêmica", que tanto reboliço vem causando, não saiu da boca dele: está na legenda de uma foto e deve ter sido escrita pelo repórter Danilo Thomaz ou algum editor da revista "Época", que nesta semana traz uma matéria sobre os gays de direita. Quem são? Onde vivem? O que comem? Pelo jeito não comem muita gente, já que alguns deles escolheram obedecer à Bíblia e à Igreja Católica. Febo, que ilustra a capa, diz que não se confessa, por causa da incompatibilidade entre sua fé e seu desejo. Não é tão honesto quanto o Fernandinho Feriado que, pelo menos, tenta seguir as regras do clube para fazer parte dele. Não tenho o que opinar sobre sua propalada abstinência: sou totalmente a favor de que cada um faça o que quiser com o próprio corpo, contanto que não prejudique ninguém. Só desconfio que o rapaz pode estar  mentindo para agradar seu eleitorado antediluviano, que não gosta de Queermuseus e similares. Enfim, a reportagem da "Época" é interessante: mostra vários matizes de gays diretistas, de um alucinado que defende o Bolsonazi a um libertário no sentido mais amplo. Estes últimos merecem todo o respeito, pois têm uma posição política que contribui para o debate. A bandeira LGBT foi encampada pela esquerda no Brasil, para o bem e para o mal. Ninguém deveria se espantar com a existência de homossexuais que defendem a iniciativa privada ou a prevalência do indivíduo sobre a comunidade. Mas gay que vota em seu maior inimigo é mesmo caso de internação.

BRILHA BRILHA ESTRELINHA


Eu escolhi esperar. Demorei mais de uma semana para ver "Oito Mulheres e um Segredo" porque meu marido estava viajando, e queríamos ir juntos ao cinema. Ontem finalmente fomos, e saí satisfeito: nada desaponta, mas tampouco surpreende. Escrito e rodado antes da eclosão do movimento "Me Too", o filme não fala em assédio, mas esbanja empoderamento feminino. O único homem que tem alguma relevância no plot aparece mais do que fala, e é usado abertamente como um objeto sexual. A gangue de ladras de joias liderada por Sandra Bullock mistura várias etnias e estilos de atuação, mas tem uma química irresistível. Só que, como acontece nos filmes dessa franquia, nem todo mundo tem espaço para brilhar. Senti que a gloriosa Cate Blanchett está meio desperdiçada, sem uma grande cena que justifique seu cachê. Quem rouba (hehe) o filme é Anne Hathaway, como uma estrelinha de cinema cheia de vontades, mas não tão burrinha como aparenta ser. O plano para surrupiar um colar de diamantes em pleno Met Gala é complicadíssimo e pra lá de improvável, e senti falta de uma reviravolta final que nos tirasse o chão. Talvez seja querer demais: com roupas fabulosas, alguns diálogos ferinos e várias deusas contracenando, "Oito Mulheres e um Segredo" cumpre o que promete. Diversão garantida para um "actressexual" como eu.

sexta-feira, 15 de junho de 2018

TRANSCONCIS

Incrível como o preconceito e a ignorância vicejam até entre quem mais sofre com eles. O Pedro HMC do canal Põe na Roda vem recebendo uma chuva de críticas e piadinhas imbecis por estar namorando um rapaz trans, o Paulo. OK, vá lá, eu confesso que também me espantei quando soube pela primeira vez que existiam trans gays (pode isso, Arnaldo?), mas já faz um tempão. Só que agora,  depois da Ivana da novela "A Força do Querer", ninguém mais tem desculpa para confundir identidade de gênero com orientação sexual. Quem continua sem entender como é que é isto deve assistir ao vídeo em que Pedro e Paulo, com paciência e bom humor, respondem a perguntas indiscretíssimas de internautas. É natural ter curiosidade sobre este assunto (que de fato é novo), assim como é natural ser transexual e homossexual ao mesmo tempo. Transicionemos todos para a luz.

DELENDA MDB

Ninguém precisa me lembrar nos comentários. Já estou farto de saber que o Ciro Gomes é um coronel pós-moderno, que nem todos os dados que ele cita estão corretos, que ele não condena a ditadura venezuelana com todas as letras. Mas também sei que está cada vez mais difícil não pender para o lado dele. Não que eu o apoie com entusiasmo, mas quem sobrou para ser votado? O Alckmin vai se aliar a tudo que há de mais podre na política brasileira. Marina só diz frases vagas e não sustenta um raciocínio até o fim, mesmo que equivoccado. João Amoedo?? Um liberal que é contra a descriminalização das drogas e a favor do armamento da população? Desculpa, isto não é liberal. Fora que o Cirão está partindo com gosto para cima dos adversários. Chamou o Bolsonazi de fascista despreparado, algo que o Picolé de Chuchu não tem culhão para dizer. E falou que o MDB precisa ser destruído, apenas, e que o Temer vai para a cadeia. Como não amar?

quinta-feira, 14 de junho de 2018

O TRUMPLER

Aqui está, em quase todo seu esplendor, o vídeo que Donald Trump enviou para Kim Jong-un antes do encontro de ambos, e que também foi exibido à imprensa presente em Singapura. O "quase" se deve às imagens lavadas, já que a Casa Branca não disponibilizou essa pérola na internet. O que vemos acima foi gravado pelo celular de um jornalista. Mas o que importa é o conteúdo, ou a falta dele. Em tom de trailer de blockbuster, o filminho promete um futuro glorioso para a Coreia do Norte se Kim apertar a mão gorda de Trump - caso contrário... Não dá para saber se essa obra-prima da cafonice ajudou a convencer o Supremo Líder. Mas uma coisa é certa: este é o tipo de linguagem que convenceria o próprio Trump.

AHORA ES CUANDO

Não adianta proibir o aborto. A mulher que quiser interromper uma gravidez sempre encontrará um jeito - mas, se o aborto for ilegal, é grande a chance de que esse jeito seja perigoso. Portanto, quem é pró-escolha (a favor do aborto legalizado) também é pró-vida. E quem é contra, na verdade, está assentindo que milhares de mulheres morram todos os anos nas mãos de carniceiros. Simples assim. E foi esta argumentação que fez com que 129 deputados argentinos votassem a favor da legalização do aborto no país em qualquer caso até a 14a. gestação, uma maioria apertada de apenas quatro votos. Os números não mentem: no vizinho Uruguai, onde o aborto já é legal desde 2012, as mulheres não só não morrem mais por causa dele, como o número total de abortos vem caindo. Pois é: se queremos diminuir o número de abortos, legalizá-lo é o melhor caminho. A lei argentina ainda precisa passar pelo Senado, que é majoritariamente conservador, mas a pressão das ruas está sendo grande. Se a legislação for aprovada, a Argentina entrará para o seleto rol das nações mais avançadas: em apenas todas o aborto é legal. Enquanto isto, nesse Bananistão que é o Brasil, não faltam projetos na Câmara para proibir o aborto em qualquer caso, e a maioria da nossa população chucra é contrária à mulher ser dona do próprio corpo. Só que #AhoraEsCuando, como diz o slogan dos pró-escolha na Argentina. Sem aborto legal, a mortandade continua. Simples assim.

quarta-feira, 13 de junho de 2018

MARRA SÓ NÃO BASTA

Coitadinho do Marrocos. Achou que a Copa de 2026 estava no papo. Era o único candidato, até que surgiu um inimigo imbatível: nada menos do que a América do Norte inteira, unida como se não houvesse muros. E, ainda por cima, brandindo uma infra-estrutura já pronta, sem o risco de atrasos nem de protestos contra os gastos. Por outro lado, bem-feito para o marrento Marrocos. Apesar da proximidade com a Europa e da atmosfera bem mais relaxada do que nos outros países islâmicos, a homossexualidade também é crime por lá. E assim escapamos de uma terceira Copa seguida com perseguição à bicharada. Não que os gângsteres da FIFA estejam muito preocupados com isto. Na verdade, desde que o Brasil deu "pobrema" na Copa de 2014 e na Olimpíada de 2016 que só países do Primeiro Mundo farão eventos desse tipo (o México está entrando de coadjuvante em 2026, com apenas 10 jogos programados). Por aqui, só peladas e olhe lá.

terça-feira, 12 de junho de 2018

O DIA DOS DESAMORADOS


"Custódia" já vem sendo apontado como um forte candidato a representar a França no próximo Oscar. O filme ganhou o prêmio de melhor direção no Festival de Veneza o ano passado, vem tendo boas críticas e está passando no Festival do Cinema Francês; entra em cartaz normal no dia 5 de julho. E é bom avisar: não tem nada de divertido. A história de um ex-casal brigando pela guarda do filho pequeno é contada de um jeito seco e realista, sem atores famosos nem trilha sonora. A princípio, parece ser um daqueles casos onde todo mundo e ninguém tem razão. Mas logo fica claro que o problema é o homem, violento e irascível, e que a mulher está certíssima em se esconder dele. Quem vem de uma família conturbada ou está passando por uma separação deve ficar longe desta porrada cinematográfica. Os demais, prossigam com cuidado.

O DIA DOS NAMORADOS

Eles têm muito a ver um com o outro. Os dois são filhos de pai rico e herdeiros de dinastias poderosas. Querem ser obedecidos cegamente e são dados a destemperos verbais. Também estão acima do peso ideal, e ostentam bizarros cortes de cabelo. Era meio esperado que Kim Jong-un e Donald Trump iniciassem um bromance tão logo trocassem olhares na romântica ilha de Sentosa, já que um é praticamente o espelho do outro. Tá certo que Trump nunca (ou ainda não) mandou matar um membro de sua própria família, mas vamos dar tempo ao tempo. O que eu não sei se podemos dar é crédito ao teatro montado em Singapura: tanto Kim quanto Trump têm vasto histórico de bravatas proferidas e promessas furadas. Enquanto isto, love is in the air, everywhere I look around.

segunda-feira, 11 de junho de 2018

O PRIMEIRO TONY NINGUÉM ESQUECE

Eu nunca tinha assistido a uma cerimônia inteira de entrega dos Tonys. Quer dizer, continuo sem ter assistido: me confundi com o horário e quando sintonizei no canal Film & Arts, que transmitiu os Tonys pela primeira vez para o Brasil, já havia perdido meia hora. A maior graça do evento são números completos dos musicais indicados, e claro que eu fiquei doente para ver todos - até mesmo "Frozen", que não é exatamente my cup of tea. Meus favoritos foram o sapateado da lula Squidward de "Spongebob Squarepants" (sim, fizeram um musical do Bob Esponja), absolutamente espetacular, e as três atrizes principais de "Summer" cantando "Last Dance" - nada espetacular mas, ei, é o musical da Donna Summer! Além do "fuck Trump" de Robert De Niro, não faltou política nos agradecimentos. Sempre tem muito gay dedicando o troféu ao namorado e neste ano não foi diferente, mas a vitória de "The Band's Visit", com egípcios e israelenses convivendo numa boa, trouxe um pouco de política internacional para a festa. Ainda teve um grupo de garotos sobreviventes do massacre de Parkland cantando "Seasons of Love" tão divinamente que eu achei que eram profissionais. Ah, e por que é que não montam logo a peça do Harry Potter no Brasil? Ele não tem fãs por aqui? Era o jeito, já que não ponho os pés na Boradway há mais de cinco anos e não tenho a menor perspectiva de voltar em breve. Fuck Temer.

(queria ilustrar este post alguns vídeos dos números musicais, mas a porra da CBS não libera no YouTube. Fuck CBS.)

FUCK TRUMP

Cerimônias de premiação são plataformas perfeitas para manifestações políticas. A transmissão é ao vivo, milhões de pessoas estão assistindo e é sempre bom chacoalhar o clima de ação entre amigos com um grito de guerra inesperado. Mesmo assim, em meus mais de 40 anos como espectador dessas festas, eu nunca tinha visto algo tão agressivo como a fala de Roberto De Niro durante a entrega dos prêmios Tony ontem à noite. A plateia do Radio City Music Hall aplaudiu de pé, e ele ainda disse "fuck trump" uma segunda vez. Foi blipado na TV americana, mas claro que todo mundo entendeu o que ele disse. E claro que a internet se dividiu, com gente achando que foi criancice e mais gente ainda xingando junto.  Minha opinião? Xingo também. Até já escrevi artigo defendendo o uso de grosserias de vez em quando, ainda mais quando o alvo é alguém grosseiro como o Malafaia ou o próprio Trump. O presidente dos EUA acaba de protagonizar mais um vexame histórico: saiu esperneando da reunião do G7 e ainda acusou o aliado Justin Trudeau de "desonesto e fraco", só para posar de durão para os imbecis de seu público cativo. Trump chegou ao ponto em que não merece mais o menor respeito, porque ele mesmo não se dá a isto. Seus tuítes impensados, sua arrogância cretina, tudo isso merece ser atacado em praça pública. Um buly só enfia o rabo entre as pernas quando é peitado. Fuck Trump!

domingo, 10 de junho de 2018

TREM MAU

"Comboio de Sal e Açúcar" foi o primeiro filme de Moçambique a concorrer a uma vaga no Oscar. Não conseguiu a indicação, mas merece ser visto pelo simples fato de ser moçambicano: um país com que temos tanta coisa em comum e, no entanto, conhecemos muito mal. O diretor Licínio Azevedo é um brasileiro que mora lá há mais de 40 anos e o roteiro foi baseado em um livro seu, por sua vez inspirado em fatos reais. Durante a longa guerra civil, um trem (comboio, no português de lá e de Portugal) ia de Moçambique ao vizinho Malawi cheio de gente disposta a trocar sal por açúcar, que faltava na antiga colônia lusitana. Junto ia uma escolta de uns 50 soldados, para proteger os passageiros dos ataques dos guerrilheiros da outra facção. Mas quem precisa de inimigos, quando os próprios soldados violavam as mulheres a bordo e roubavam as cargas de sal? Ou seja, uma puta barra, e também uma metáfora das divisões internas que quase destruíram Moçambique. Pena que o filme fique aquém do que poderia ser por causa dos diálogos cheios de discursos embutidos, que tampouco ajudam os atores. Mesmo assim, interessados na África e na lusofonia vão gostar de ver.

O NOVO APARTHEID

Na quinta-feira passada, o Itamaraty disponibilizou na rede o "Guia Consular do Torcedor Brasileiro", que pode ser lido ou baixado daqui. Trata-se de um documento de 138 páginas com dicas para quem vai à Copa da Rússia. Algumas são até bem óbvias, mas necessárias quando se lembra que esse tipo de evento constuma atrair gente que nunca viajou na vida. Mas o que chamou a atenção da nossa imprensa foi o parágrafo ao lado, que pede para a bicharada segurar a onda em um país onde a homofobia é uma política oficial do Estado. É quase que um aviso de que só os discretos e fora do meio serão bem-vindos, como bem me apontou o Pedro HMC. Só que o perigo é para valer, e não vem só da polícia: vem também das milícias nacionalistas, que prometem chicotear as bibas afetuosas, ou até coisa pior. O maior absurdo disso tudo é a FIFA ter escolhido a Rússia para sediar a Copa. Isto não teria acontecido na África do Sul nos tempos do apartheid, por exemplo. E é desalentador pensar que a Copa de 2022 será no Qatar, um país ainda mais retrógrado. Só que os cartolas não estão nem aí: como vêm provando as investigações, quase todos eles, no Brasil e no mundo, foram corrompidos pela grana que países e corporações lhes jogam na cara. Aí surge o dilema: um gay deve boicotar a Rússia? A Copa do Mundo, como um todo? Os patrocinadores da Copa, como a Coca-Cola, que se diz tão moderninha? Não são perguntas fáceis, mas que precisam ser feitas.

sábado, 9 de junho de 2018

O VINGADOR MASCARADO


"Nos Vemos no Paraíso" foi o segundo filme francês mais premiado de 2017, só perdendo para "120 Batimentos por Minuto". O curioso é que ambos têm um mesmo ator: o argentino Nahuel Pérez Biscayart, que está muito em moda na Europa. Aqui ele faz um soldado que perde a mandíbula em uma batalha no finzinho da 1a. Guerra Mundial. Passa a usar uma máscara, mas não quer que a família o veja assim. Então falseia a própria morte, a primeira de uma série de vigarices. Baseado em um romance de sucesso, "Nos Vemos no Paraíso" é quase um novelão, com um vilão muito malvado e um pouco de coincidências demais. Mas é uma delícia de ser ver, pois também tem cenários e figurinos suntuosos, excelentes atores e ótimos movimento de câmera. Cinemão de encher os olhos, e pelo menos parte da alma.

sexta-feira, 8 de junho de 2018

QUEER AS OLD

Agora eu me senti realmente velho: foi em dezembro de 2000 que estreou nos Estados Unidos a primeira temporada de "Queer as Folk", uma série fundamental para a minha formação viadística. Eu já conhecia a versão original britânica, mas o remake americano, com atores mais bonitos e muito mais subtramas, me pirou os cabeções. A série estreou no Brasil pela HBO, em meados de 2001. Naquela época, vários dos meus amigos ainda não tinham TV paga. Então "QaF" era o pretexto ideal para reunir a galère em casa às sextas, à meia-noite: a gente via um episódio, tomava uns drinks e chegava em ponto de bala no Ultralounge. Foi assim que começaram os lendários esquentas na minha casa, que durante mais de uma década foram um dos epicentros da noite gay de São Paulo. Esse tempo passou e eu saio pouco hoje em dia, mas "Queer as Folk" continua firme como um dos melhores programas de todos os tempos. A revista "Entertainment Weekly" acaba de reunir o elenco principal para uma entrevista, e é fascinante como todos estão hiper bem conservados (olha o Justin!!!). Portanto, se você é jovem e ainda não conhece este marco da cultura LGBT, compre os DVDs na Amazon, baixe, roube, faça o que for necessário. "Queer as Folk" é indispensável.

quinta-feira, 7 de junho de 2018

TÍAS Y MARICONES AL PODER

Dois países da Europa mediterrânea, de cultura católica e profunda influência sobre a América Latina, chegaram a governos totalmente distintos nesta semana. E isto apesar de ambos serem democracias parlamentaristas, onde não houve um vencedor absoluto nas últimas eleições. Na Espanha, um voto de desconfiança derrubou o conservador Mariano Rajoy, cujo partido está enrolado em denúncias de corrupção.  Pedro Sánchez, o novo primeiro-ministro socialista, deu um golpe e tanto de marketing ao anunciar seu ministério: dos 17 escolhidos, 11 são mulheres e dois são homens assumidamente gays (Fernando Grade-Marlaska, do Interior, e Maxim Huerta, da Cultura e do Esporte). Enquanto isto, na Itália, o novo ministro das Famílias, Lorenzo Fontana (do partido racista Lega, que já pregou a independência do norte do país), declarou que, diante da lei, "as famílias arco-íris não existem". Enquanto que na Espanha o casamento igualitário foi aprovado há mais de uma década, a Itália só reconhece as uniões civis há dois anos. Fontana ainda saiu-se com a clássica "toda criança precisa de um pai e uma mãe" - o que, se fosse para valer, arrancaria de suas casas as crianças órfãs de um dos pais. Ah, claro, ele também disse que tem muitos amigos gays, dãã. Quem diria? Dois países tão próximos, e com uma diferença horária de mais de um século.

CRISTA REDENTORA

Em mais um golpe de demagogia religiosa, o prefeito Marcelo Crivella impediu que a peça "O Evangelho Segundo Jesus, a Rainha do Céu", fosse apresentada em uma arena do Parque Madureira, que pertence à prefeitura do Rio. Em um vídeo publicado no Twitter, Crivella diz que, em sua gestão "nenhum espetáculo vai ofender a religião das pessoas". E também se enrola, alegando que a tal da arena está fechada e não ia mesmo receber peça nenhuma. De qualquer forma, parece que os cariocas que se ofendem com a ideia de um Cristo travesti terão uma nova oportunidade para se ofender: a peça será apresentada na Fundição Progresso, na Lapa, neste sábado. Palmas para Renata Carvalho, a brava atriz trans que há meses vem enfrentando censura e intolerância em sua turnê pelo Brasil. E tomara que este episódio ajude Renata a perceber que reclamar que o ator cis Luís Lobianco não pode fazer uma trans em "Gisberta" é um ato de censura digno dos fanáticos.

quarta-feira, 6 de junho de 2018

O DIA B

29 de outubro de 2018. Depois de anos de polarização política e de uma curta porém intensa campanha eleitoral, o Brasil amanhece sabendo quem é seu próximo presidente. Confirmando uma pesquisa divulgada em junho pelo site Poder 360, Jair Bolsonaro, candidato do PSL, vence por margem estreita seu oponente no segundo turno. Há comemorações esparsas pelo país, mas também muita recriminação. O número de abstenções e de votos nulos e brancos bate um recorde histórico. Agora essas pessoas que preferiram não votar em nenhum dos dois finalistas estão sendo chamadas na chincha pelos apoiadores do derrotado. "A culpa é de vocês, que nem se deram ao trabalho de sair de casa!", acusam os mais frustrados. Da prisão, Lula manda seu recado: "bem-feito". Cientistas políticos se dividem: alguns preveem o caos, outros acham que o recém-eleito irá se enquadrar. No Congresso, os partidos fisiológicos correm para aderir ao novo governo, puxados pelo MDB. Setores do PSDB também manifestam apoio - mas não FHC, que embarca para uma longa temporada em Paris. Enquanto isto, igrejas neopentecostais e clubes militares passam a agir como se o país pertencesse a eles. Os casos de violência homofóbica aumentam exponencialmente; uma boate gay é metralhada em uma capital do Nordeste. No dia de sua posse, em 1o. de janeiro de 2019, o novo mandatário decreta estado de sítio em todo o país, com tanques na rua e toque de recolher. O objetivo, diz ele, é derrotar o crime com uma bala de prata. "Cidadãos de bem" reagem a assaltos, e alguns morrem. Um clima de vale-tudo se espalha de norte a sul. O número de assaltos e homicídios, depois um breve declínio, volta a subir. Na economia, medidas populistas como gasolina barata ganham imenso apoio popular. Artistas reclamam de censura a peças e exposições, e atos de resistência pipocam nos teatros e nas universidades. A imprensa revela os primeiros escândalos de corrupção do novo governo. Esqueletos da família Bolsonaro saem do armário. A economia não reage, e o desemprego volta a subir. Despenca o apoio ao novo presidente. Ouvem-se os primeiros panelaços. Uma gravação clandestina de uma conversa do presidente choca o Brasil. Começa um processo de impeachment. Bolsonaro esperneia e diz que a democracia está sendo atacada, mas é tudo em vão. É deposto antes do final do ano. A Presidência então é assumida por seu vice, Magno Malta.

55 PÁGINAS POR DIA

A tal da Bruna Luiza, "desinfluenciadora digital", está vivendo seus dias de glória graças ao tuíte em que disse que ler 55 páginas de livro por dia seria irrealista, "especialmente para um semi-analfabeto". Dá para perceber que a moça não tem mesmo nenhuma intimidade com a leitura. Qualquer pessoa que goste de ler já ultrapassou de longe essa marca; o meu recorde pessoal são 315 páginas de uma sentada só ("Sem Família", de Hector Malot). Mas podemos parar de fingir que a notícia de que Lula está lendo muito na prisão não é surpreendente? O ex-presidente falou, certa vez em uma feira do livro, que ler "dava uma trabalheira" ou coisa parecida. Também circula a informação de que Lula não lia sequer o resumo de uma página que o Itamaraty preparava sobre os países que ele iria visitar: o papel ficava intocado na mesinha do Aerolula. Mas, como não somos um país de leitores, pouca gente se incomoda com o fato de termos um líder que não lê. Eu, pessoalmente, me incomodo sim, e prefiro ter um presidente que não seja "incurious", um neologismo americano que define George W. Bush e também serve para Lula. Ou servia: queria muito saber o que ele está lendo na cadeia.

terça-feira, 5 de junho de 2018

QUEM QUER BOLO?

Ninguém precisa ser advogado para perceber que esse caso do confeiteiro americano que se recusou a fazer o bolo para um casamento gay é mesmo complicado. Até os liberais da Suprema Corte de lá se dividiram: dois deles votaram a favor do homofóbico, dois votaram contra. Eu preferia que o placar fosse o avesso, 7 a 2 para as bibas, mas também acho que um prestador de serviços pode se negar a atender um cliente. Por exemplo: adorei o chef de Campinas que, dia desses, expulsou aos gritos de seu restaurante o prefeito da cidade, acusado de corrupção. Mas recusar alguém por princípios religiosos é outra história. A própria corte avisou que sua decisão só vale neste caso e não pode servir de jurisprudência para outros. Se não, daqui a pouco vai ter teocrata dizendo que não atende judeu ou muçulmano, porque não são "filhos de Deus".

Entendo e apoio o casal que processou o confeiteiro, mas eu não faria a mesma coisa no lugar deles. Sou do tempo em que se punia essa corja com boicote, que dói no bolso e traz resultados muito mais rápidos. "Ah, não quer o meu rico dinheirinho? Passar bem, tem quem queira, e eu ainda vou avisar todxs xs amigxs para nunca mais vir aqui. Vamos ver quanto tempo a sua lojinha sobrevive, néam?" Foi assim que as bichas da virada da década de 1970 para 1980 arruinaram Anita Bryant, uma cantora semi-famosa que foi uma das primeiras inimigas declaradas do então nascente movimento LGBT. Anita era garota-propaganda de algumas grandes marcas, e todas romperam seus contratos com ela por causa de suas posições homofóbicas. A babaca ainda levou uma torta na cara em frente às câmeras de TV, gerando a imagem que a persegue até hoje. Além disso, é sempre bom lembrar que bolo não é só para comemorações.  Também serve para jogarmos na cara dos inimigos. Não machuca, mas humilha - ô, se humilha.

(Toda vez que você se sentir chateado, assista ao vídeo de Anita Bryant levando a torta na cara. Seu humor vai melhorar na hora, eu garanto).

segunda-feira, 4 de junho de 2018

PÃO AFEGÃO


O mundo é quase todo machista. Por isto, o que não falta por aí é história de mulher tendo que se passar por homem, da Portia de "O Mercador de Veneza" até a Arya de "Game of Thrones". Uma variação do tema está em "A Ganha-Pão", que a Netflix disponibilzou por aqui meio na surdina. O longa em animação foi indicado ao Oscar e ao Globo de Ouro, mas não passou nos cinemas brasileiros - talvez porque não seja para crianças, já que história se passa no Afeganistão sob o jugo do Talibã A protagonista é uma menina que se vê obrigada a cortar os cabelos e fingir que é menino, para poder sair à rua e trabalhar. O pai, o único homem da casa, foi preso por um motivo fútil, e até pedir esmolas é vedado às mulheres pelos fanáticos religiosos. Com várias imagens deslumbrantes e algumas bastante incômodas (onde já se viu, sangue em desenho animado?), "A Ganha-Pão" passa a léguas das fofuras da Pixar. Não tem piadas, nem bichos que cantam. Por isto mesmo, é uma iguaria para quem gosta de variar o cardápio.

ELE ESTÁ NO MEIO DE NÓS

Quando eu era pequeno, ainda se ensinava nas escolas que o Brasil era um paraíso racial e um exemplo para o mundo. isto me ajudou a não crescer racista, mas depois descobri que muita gente havia matado aula. O mito de que por aqui não existe racismo não resiste dois segundos se exposto à luz do dia. Toda vez que perguntei a um negro quando tinha sido a última vez que ele tinha sido discriminado por causa da cor da pele, a resposta foi, invariavalmente, "hoje". Assumir que o Brasil é, sim, racista é o primeiro passo para enfrentarmos o problema. O racismo brasileiro é mais sutil que o americano, menos escancarado, mais "cordial" (põe aspas nisso) - e por isto mesmo, mais perverso. Veja a piada que o sertanejo César Menotti soltou no "Altas Horas" deste sábado: samba, segundo ele, é música de bandido. No mesmo fim de semana saiu a notícia chocante de que alunos brancos da PUC carioca teriam hostilizado um jogador negro durante uma partida de futebol em Petrópolis. Como que essa galera acha que vai passar impune, em plena era do smartphone? Não admira que o movimento negro às vezes exagere na reação, como aconteceu no bafafá que levou à renúncia de Fabiana Cozza ao papel de Dona Ivone lara (assunto da minha coluna de hoje no F5). Enquanto o racismo não for extirpado, os racistas têm que ficar no armário. Já que estão entre nós, que que fiquem quietinhos.

domingo, 3 de junho de 2018

PARADA, PAISAGEM E POLÍTICA

Fiquei mais de três horas numa ilha do meio da Paulista e não vi Anitta nem Pabllo Vittar. Também não vi nenhum político em cima dos carros, nem sequer alguma das drags mais famosas do Brasil. Vi foi uma sucessão de trios elétricos padronizados, muito parecidos entre si. Alguns estavam mal identificados: não dava para saber qual segmento estava ali representado, nem pelo povo que pulava em cima deles. Mas também vi o asfalto animado como sempre e, quem sabe, um teco mais politizado? A crise interminável que vivemos, o assassinato de Marielle Franco, a ameaça do Bolsonazi, tudo isso fez com que a 22a. Parada do Orgulho LGBT de São Paulo me parecesse menos carnaval e mais passeata do que em outros anos. Tomara.

Depois de duas décadas, a Parada já meio que faz parte da paisagem de SP. Ninguém mais se choca com as drags seminuas, nem com casal gay se beijando em público. O que me chamou a atenção foi a quantidade de mulheres, mais visíveis do que antes. E também, é claro, o número de menções a Marielle, no chão e nos carros. Incrível como esses tiros saíram pela culatra: Marielle, que era desconhecida por muita gente, hoje é uma celebridade internacional, muito mais influente do que quando viva. O tema da Parada de 2018 era mesmo a representatividade política, um problema crônico dos LGBTIQ+. Somos tantos, somos mortos e, no entanto, mal conseguimos eleger quem nos defenda. Será que isto vai mudar no fim do ano?

No momento em que escrevo essas mal traçadas, ainda não surgiram relatos apavorantes de assaltos ou coisa pior. A Parada teve um momento, há cerca de dez anos, em que pareceu que ia ser engolida pela espiral de violência que nos consome no dia-a-dia. Se ela não chega exatamente a ser um programa para toda a família (antigamente tinha mais crianças), também não é mais o festival de bizarrices que até alguns gays rejeitavam. Também arrefeceu o ímpeto dos organizadores de inflar o número de participantes a cada ano: dois milhões, três, cinco, zil. Ademais, de que adianta tanta gente na rua, se depois não vamos às urnas? Então ótimo, a festa foi linda, mesmo eu não tendo visto Anitta e Pabllo Vittar. O que importa mesmo é a gente garantir em outubro todos os nossos direitos. Inclusive o de tomar vinho químico na Paulista.

sábado, 2 de junho de 2018

RAGADAGA DA

Entre as minhas qualidades que mais prezo está a imensa capacidade de desencavar pérolas obscuras de culturas periféricas, tipo o hit do verão na Papua Nova Guiné. E no entanto levei mais de cinco anos para topar com "Saint Tropez", o maior sucesso de um dos poucos popstars ciganos que há, o romeno Florin Salam. A música faz parte da trilha sonora do filme italiano "Ciganos da Ciambra", e me fez dar um Shazam em plena sala de cinema para descobrir do que se tratava. Também fiquei a par da saga de Florin. Sua primeira mulher morreu aos 27 anos de problemas renais; ele então foi afogar as tristezas na mesa de jogo, e em pouco tempo estava devendo uma fortuna para agiotas. Mas deve ter se recuperado, porque há centenas de canções suas disponíveis no streaming, algumas bem recentes. Só duvido que alguma supere o refrão pegajoso de "Saint-Tropez", nem que tenha um clipe com tantas beldades saídas de um site de escorts. Fosse uns vinte anos atrás, desconfio que Melania estaria entre elas.

sexta-feira, 1 de junho de 2018

A IMPERATRIZ RESGATADA

Quem foi que declarou a independência do Brasil? Ahá: não foi D. Pedro I. Ele apenas proclamou a independência, e provavelmente sem espada em punho. Bem diferente do quadro de Pedro Américo. Mas quem de fato assinou nossa declaração de independência foi a mulher dele, Leopoldina, no dia 2 de setembro de 1822. Só que, durante muito tempo, ela foi relegada às coxias da história. Quando a retratavam dramaticamente, era como uma figura apagada, como no filme "Independência ou Morte", de 1972. Ou uma gorda feia que não merecia o tesão do imperador, como na minissérie "O Quinto dos Infernos", de 2002. Mas, de uns tempos para cá, Leopoldina vem sendo resgatada. Desde os anos 90 que uma série de novos livros históricos ressaltam sua importância. No ano passado, a novela "Novo Mundo" tornou-a popular de novo, como era em vida. E agora estreia a segunda versão da peça "Leopoldina, Independência e Morte", ambas com texto e direção de Marcos Damigo. A primeira, que tinha a epígrafe "Estudo #2", foi montada no ano passado no saguão do Museu do Ipiranga. A segunda, totalmente diferente, está em cartaz no Centro Cultural do Banco do Brasil, em São Paulo. É composta por três atos, e só o do meio não é um monólogo: a jovem imperatriz conversa com José Bonfiácio, prestes a partir para o exílio na Europa (ele seria chamado de volta mais tarde, para cuidar do herdeiro do trono brasileiro). O papel agora cabe a Sara Antunes, que vai engrenando ao longo do espetáculo. O tom é bastante didático, mas isto não chega a ser um defeito: ainda somos ignorantes da nossa própria história. Ainda bem que alguns de nós estão interessados em aprendê-la.

PARENTE NÃO É SERPENTE

Hoje o Brasil se livrou de seu arqui-inimigo número um: o maquiavélico Pedro Parente, responsável por aumentar o preço da gasolina em benefício próprio, vender o pré-sal a preço de banana e ainda ter causado sozinho o apagão elétrico no final do governo FHC. Pelo menos é isto o que circula não só nas redes sociais, mas também na boca de políticos who should know better. Acontece que o judas da vez é um quadro qualificado, que tirou a Petrobras do buraco. Se o petróleo e o dólar não tivessem disparado neste semestre, tudo continuaria às mil maravilhas. Pena que dispararam, e é aí que mora o perigo da política de preços estabelecida por Parente nas refinarias. Ela convém totalmente aos interesses da empresa, sem dar a menor bola para o que acontece no resto do mercado e na vida das pessoas comuns. O pecado original dos tecnocratas, que às vezes agem feito uma bomba de nêutrons: matam a população civil, mas preservam os edifícios. Agora Parente vai assumir o comando da BRF, outra empresa em apuros. Bom para ele, nem tanto para nós: se a Petrobras voltar a ser gerida de maneira irresponsável, não vai ter Brasil para o próximo presidente.