sábado, 31 de março de 2018

O FUTURO É NEGRO

Daqui de tão longe, penso no Brasil e me dá um desânimo total. Quantas merdas conseguem acontecer ao mesmo tempo? Tiros na caravana do Lula; todo o inner circle do Temer na cadeia; Dias Tóffoli soltando Maluf, Picciani e quem mais lhe passar pela frente. Dá claramente para ver o tal do mecanismo de que o Padilha tanto fala, lutando para não desmoronar. Também há um ódio desmesurado ricocheteando para fora das redes sociais - e que, sim, foi insuflado originalmente pelo discurso "nós contra eles" do PT, mas depois saiu totalmente de controle. Pelo menos também subsite uma tentativa de passar o país a limpo, vinda de um setor virtuoso. A procuradora Raquel Dodge eliminou as dúvidas que pairavam ao seu redor e mostrou que faz parte desse setor. Mas é assustador constatar como o Bolsonazi cresce nas pesquisas - e não é que ele falou a coisa certa ao manifestar apoio a um projeto de emenda à Constituição que garanta a prisão dos condenados em segunda instância? Só que não podemos nos deixar enganar: o Bozonaro não passa de uma farsa falastrona. Então, o que nos resta? Joaquim Barbosa? Joaquim Barbosa. Joaquim Barbosa!

sexta-feira, 30 de março de 2018

AI QUE DELÍCIA SER VIAJADO

Das coisas que a gente só vê quando viaja: anúncio de maquiagem para viado no Sky Train de Bangkok. Taca mais viado que tá pouco, eu quero é mais.

A CIDADE DOS ANJOS

Mal chegamos e já fomos nos enfiar no shopping. Ou nos shoppings: Bangkok tem um distrito chamado Ratchaprasong que é um shopping atrás do outro, ligados por passarelas e com o Sky Train (metrô de superfície) passando no meio. O modo de vida tailandês não separa profano e sagrado, e o slogan de Ratchaprasong é "Eat Pray Shop", porque há muitos santuários no bairro. O mais famoso é o de Erawan, que abriga uma estátua de Phra Phrom, a versão local do deus hindu Brahma. O altar foi erguido em 1956, para eliminar o karma ruim que acometia a construção de um hotel de luxo. Hoje é um oásis de espiritualidade na esquina do Center World, onde os fiéis pagam a bailarinas para dançar enquanto eles rezam. Os shoppings em si são uma loucura:  tem do mais popular ao mais absurdo luxo, e só o supermercado gourmet do Siam Paragon já me deu vontade de ficar ali para todo o sempre. 

Tirando o calor, o que vimos de Bangkok até agora faz com que ela pareça civilizada, sem nada de Terceiro Mundo. Faz jus a seu nome oficial: Cidade dos Anjos, tradução de Krung Thep, e pelo qual os tailandeses a chamam ("Bangkok" é que nem "Sampa", só quem é de fora é que usa esse nome). Aliás, o Livro dos Recordes garante que o nome oficial completo é o mais longo do mundo para logrdouro. Leva uns bons 15 segundos para ser dito em toda sua glória: Krung Thep Maha Nakhon Amon Rattanakosin Mahinthara Ayuthaya Mahadilok Phop Noppharat Ratchathani Burirom Udomratchaniwet Mahasathan Amon Piman Awatan Sathit Sakkathattiya Witsanukam Prasit (Cidade dos anjos, grande cidade dos imortais, magnífica cidade das nove gemas, trono do rei, cidade dos palácios reais, lar dos deuses encarnados, erigida por Vishvakarman para a glória de Indra).

quinta-feira, 29 de março de 2018

SAWASDEE

Esta é a segunda vez que eu venho à Tailândia. A primeira foi em julho de 1978, quando dei a volta ao mundo com a minha avó maluca: passamos 24 horas em Bangkok, então não é como se eu conhecesse a cidade como a palma da minha mão. Aliás, não conheço mais nada, porque mudou tudo. Quarenta anos depois, o aeroporto é outro, as vias expressas, os prédios. Estou me liquefazendo depois da viagem mais looonga de todos os tempos, mas inteiro. E é bom estar exausto a esta hora (já são 1h40 da manhã), assim eu vou dormir e já entro no fuso daqui. Fique então com meu cordial sawasdee, a saudação que os thais usam para tudo.

SAKURA LOUNGE

Conheço mais de 40 países, mas nunca tinha estado no Japão. Cheguei a combinar de ir com uma amiga, mas no final ela foi sozinha porque eu não tinha tempo a/k/a dinheiro. Quis o destino que eu acabasse vindo ao Japão de passagem, rumo a Bangkok. Foram dez horas de viagem até Nova York, mais seis em terra para trocar de terminal e inacreditáveis 14 horas até o aeroporto de Narita. O voo foi diurno e pela rota do norte, mas só consegui ver uma profusão de picos nevados no Alaska. Agora estou me derretendo no Sakura Lounge, a área VIP da Japan Airlines: por uma dessas ironias dos programas de milhagem, justamente o trecho mais curto será em classe executiva. Menos mal. Estou me fartando de picles de ameixa e pão de doce de feijão, uma especialidade sazonal. Ainda tive a manha de ralar no Japão em plena temporada das cerejeiras em flor, "sakura" em japonês. Que para mim - e aposto que para muitos brasileiros - vai ser sempre marca de molho shoyu.

quarta-feira, 28 de março de 2018

VOCÊ ESTÁ LOUCA, QUERIDA?

Aproveitando meus úlitmos minutos de wi-fi grátis no aeroporto JFK de Nova York para repercutir a frase do ano, que já estava eriçando a internet quando saí ontem do Brasil. Flavinho Bolsonazi depois respondeu ao "estagiárix" da Netflix com prints de uma conversa por WhatsApp que "provariam" o interesse da palataforma em um documentário sobre seu papi. Não dá para entender quem está falando com quem, mas só por aquele trechinho a gente percebe é que são os Bozonaros que foram lá propor um filme, e não o contrário. Pode até ser que a Netflix tope: lá tem de um tudo, como eu ressaltei na minha coluna de segunda-feira no F5 (e que já acumula neste momento mais de 18 mil compartilhamentos!). Mas o estrago foi feito: "Você está louca, querida?" já grudou em todo o clã. Bem feito.

UAI THAI

Se você estiver lendo este post na quarta-feira e quiser mandar um comentário, pode ser que demore para eu aprovar. Estou enfrentando nada menos que três voos longuíssimos, entre São Paulo e Bangkok - 40 horas de viagem ao todo! Como não sei se vai ter wi-fi nos aviões ou nos aeroportos (deve ter, mas vai saber), resolvi deixar este texto pronto e programado. É para ir entrando no clima: há mais de um mês que venho me aclimatando com o pop tailandês, parecido com o que se faz em todo o leste da Ásia. Ou seja, nada é excepcional, mas essa musiquinha aí de cima até que dá para o gasto.Até a próxima escala, ou sei lá.

terça-feira, 27 de março de 2018

A BOMBA EMOCIONAL


"Em Pedaços" faz jus ao título. Uma bomba terrorista que despedaça a família de uma mulher, deixando-a despedaçada por dentro. O filme do diretor alemão de origem turca Fatih Akin confirma seu talento único, que é falar da relação entre Europa e Oriente Médio sem jamais resvalar para o clichê. O roteiro também toca nas deficiências da Justiça do ocidente, no racismo, nas drogas e na extrema-direita que ressurge como se a 2a. Guerra Mundial nunca tivesse acontecido. Diane Kruger, que eu sempre achei mais bonita do que talentosa, dá um show como a protagonista, tendo merecido o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes de 2017. Como muitos dos candidatos ao último Oscar de filme em língua estrangeira, "Em Pedaços" é uma porrada. Dói nos olhos e na alma.

A MARIELLE DA FLÓRIDA

A semana está tão quente no Brasl, com a polêmica em torno da série "O Mecanismo", a derrota de Lula no STJ e a entrevista do Moro ao "Roda Viva", que eu até esqueci de comentar as passeatas pelo desarmamento que aconteceram neste domingo nos EUA. Acho que os republicanos correm um risco gigantesco ao ignorar e/ou desmerecer essa juventude furiosa. Que já tem uma líder à altura: Emma González, de apenas 18 anos. Carismática, decidida, bissexual, uma espécie de Marielle da Flórida. Aliás, este é um fenômeno que merece ser estudado: a emergência de "Marielles" pelo mundo afora. Mulheres fodonas, vindas de baixo, sem tempo para bullshit, defensoras das minorias (e frequentemente lésbicas...). É bom jairseacostumando, porque essa mulherada valente é, em vários sentidos, maria-sem-vergonha: você arranca uma e nascem outras quinze no mesmo lugar.

segunda-feira, 26 de março de 2018

DORIA EM MAU ESTADO

Não votei em João Doria e nunca gostei de seu estilo espalhafatoso. Mas achei que ele iria tomar pelo menos alguma medida de impacto logo em seus primeiros meses na Prefeitura, nem que fosse para gerar factóide nos jornais. Que nada: mordido por um enxame de moscas azuis, o alcaide recém-eleito deu as costas para a cidade e começou a viajar pelo Brasil logo após a posse, na esperança vã de se lançar à Presidência. Não rolou, mas Doria não desistiu. E já é candidato ao governo do estado de São Paulo, razão pela qual terá que deixar o cargo de prefeito em abril. Só que eu duvido muito que as coisas sejam tão fáceis para ele como foram em outubro de 2016. Doria não é mais a novidade absoluta, nem tem uma folha de serviços para exibir. Além do mais, deve ser grande o número de gente que votou nele e que agora, se sentindo traída, não votará mais. Desconfio que  o domínio do PSDB sobre SP nunca esteve tão vulnerável. Acho ruim não: passou da hora de termos alternância no poder. Fora que, se Doria perder esta eleição, talvez esteja liquidado. Tadinho...

VIAGEM AO FUNDO DA MEMÓRIA


Acho que demorou demais um filme sobre Jacques-Yves Cousteau. O comandante do "Calypso" era figurinha fácil na TV até os anos 80 - trechos de seus programas eram exibidos pelo "Fantástico". Só que ele morreu há duas décadas, e a garotada de hoje talvez não faça ideia de quem foi essa grande mistura de cientista e "entertainer". Cousteau desvendou os oceanos para a minha geração; aliás, foi além. Depois de navegar por todos os mares da Terra, ele adentrou pelo rio Amazonas e descobriu inúmeros segredos da floresta. Pena que essa aventura brasileira não faça parte de "A Odisseia", seu biopic. O roteiro é meio irregular, mas JYC (como ele era chamado pelos íntimos) surge como um idealista generoso, com ótimo senso de marketing e pouco apreço pelas finanças, além de um mulherengo contumaz. Aos 60 anos, Lambert Wilson está com um corpalhaço nas cenas de maiô, e a vozinha de Audrey Tautou me irritou um pouco quando sua personagem envelhece. Mas o melhor do filme, além do Pierre Niney, é o visual deslumbrante, com paisagens que vão da Antártida ao fundo do mar. Viajei bastante, até para a minha infância.

domingo, 25 de março de 2018

DOMINGO À MILANESA

Estive só três vezes em Milão, e só nesta última é que passei mais de 24 horas na cidade (foram 52). Mesmo assim, me senti empoderado o bastante para aceitar o convite da revista Serafina, que circula com a Folha deste domingo. Cometi toda uma página com dicas para um desfrutar um dia de lazer na cidade - nem precisa ser domingo. Como não sou nenhum expert nas coisas de lá, meu roteiro é bem óbvio, para turistas de primeira viagem. A vantagem é que pode ser feito todo a pé a partir da Piazza del Duomo, a região central onde quase todo mundo fica hospedado. E sim, eu fiz cada um desses programas citados, se bem que não todos no mesmo dia ou sequer na mesma viagem. Divertiti!

sábado, 24 de março de 2018

ME CHAME PELO MEU SOBRENOME

Hugo Bonemer já havia mostrado que era um cara autêntico quando manteve seu próprio sobrenome em seu nome artístico - seu primo mais famoso, William, encurtou para Bonner. Agora o ator saiu do armário da maneira mais pública e casual possível, ao contar para um programa da RedeTV! que estava namorando. Quando o repórter perguntou se "ela" também era artista, Bonemer corrigiu: é ele, um ator. O caso até que rendeu manchetes, mas menos estridentes do que eu esperava. Talvez porque, com poucas novelas no currículo, Hugo Bonemer não seja conhecido do povão. Mas talvez também porque a homossexualidade está deixando de ser um "big deal". Essa nova geração, onde se incluem nomes como Fernando Grostein Andrade ou Carol Duarte, não está nem aí para se esconder ou processar quem lhes "denegrir a honra" nas redes sociais. Aliás, sabe o que seria realmente subversivo? Hugo Bonemer e Carol Duarte fazendo um casalzinho hétero em uma novela de época. Descasca essa manga, sociedade.

ME CHAME PELO MEU NOME


É ótimo termos dois filmes sobre jovens gays se descobrindo em tão pouco tempo. "Com Amor, Simon" é a primeira comédia romântica produzida por um grande estúdio (no caso, a Fox) que tem um protagonista homossexual. Mesmo assim, não vai causar o mesmo impacto nem ganhar os prêmios como "Me Chame pelo Seu Nome", com o qual já está sendo inevitavelmente comparado. Mas aqui o registro é outro: o diretor Greg Berlanti fez quase toda sua carreira na TV, e o filme parece um episódio especial de uma série bem mediana. A premissa não podia ser mais simpática: um garoto bonito chamado Simon acha que está na hora de sair do armário, e ensaia trocando e-mails com um colega de escola - ambos protegidos por pseudônimos. A coragem de finalmente se assumir e assinar com o próprio nome é o verdadeiro desafio do personagem, muito mais do que dar o primeiro beijo (que é incrivelmente casto) ou ir para a cama (não vai). Nick Robinson é uma revelação no papel-título, e sua melhor amiga é feita por uma Katherine Langford bem mais cheinha que a suicida de "13 Reasons Why". Há alguma enrolação e também uns clichês típicos de "rom-com", mas isto não deixa de ser um avanço. O cinema não é feito só de obras de arte: longas de apelo comercial são necessários para manter a indústria. E quem me dera que houvesse um longa comercial desse jeito para me dar coragem, naquela época em que eu era um franguinho apavorado.

sexta-feira, 23 de março de 2018

DE FORA DESSE SEU MAU SENTIMENTO

De todos os memes que já brotaram a partir da diatribe do ministro Luís Roberto Barroso contra o inefável Gilmar Mendes, meu favorito é esse aí acima, "estrelado" por Maria Bethânia. A voz da cantora está imitada à perfeição, mas eu queria sugerir para a própria incluir este novo clássico do nosso cancioneiro em seu repertório. Vai ser o bis de seu show, vai ser o  novo toque do meu celular.

quinta-feira, 22 de março de 2018

HOMENS QUE MENSTRUAM

Uma ONG britânica incluiu um homem trans no comercial de uma campanha que busca desmistificar a menstruação. Sim, Kenny Jones ainda menstrua, apesar de ter começado a transicionar de mulher para homem aos 14 anos de idade. Me bateu uma certa inveja: até hoje ele tem a desculpa de estar naqueles dias.

DISNEY OF THRONES

Enquanto a oitava e última temporada de "Game of Thrones" não desponta no horizonte, a cultura pop segue ressignificando a série da HBO. Semana passada teve Xuxa fingindo que dançava o tema de abertura; nesta semana, também é do Brasil que vem estas ilustracões sensacionais, que mostram como seria "GoT" se fosse um desenho da Disney. Os autores são Fernando Mendonça e Anderson Mahasnki, do Combo Estúdio do Rio de Janeiro. Que não deve estar dando conta das encomendas, tamanha tem sido a repercussão deste trabalho sensacional.



quarta-feira, 21 de março de 2018

STORMY PIÑATA

Quanto você pagaria para alguém não contar uma coisa que não aconteceu? Esta é a linha de defesa de Donald Trump: o presidente americano gastou uma grana para calar a boca de modelos-e-atrizes que não tiveram nada com ele. Duas delas, Stormy Daniels e Karen McDougal já estão arrependidas. Sacaram que podem faturar muitos mais se venderem os direitos de suas histórias para a imprensa, o cinema, a televisão, os videogames. Querem devolver o que receberam e romper o acordo. Esse looping digno de Escher teria derrubado alguém como Bili Clinton, que sofreu uma tentativa de impeachment por muito menos do que Trump vem sendo acusado. Mas os democratas são mais decentes e/ou mais bananas. Toda semana, surge alguma coisa ainda mais escandalosa que parece empurrar Trump para a beira do abismo. Ele nunca cai, só que o clima está mudando - até no Texas, tradicional reduto republicano, mas onde eu vi piñatas em forma de Trump.

LÁ VEM O BRASIL DESCENDO A LADEIRA

Sabe por que o Brasil não muda? Porque o Brasil não quer mudar. Toda vez que um vento mais radical começa a soprar, logo surgem os mesmos de sempre para que tudo continue o mesmo de sempre. Isto está acontecendo neste exato momento no STF, em que parte dos ministros quer reverter o entendimento de que condenados em segunda instância possam ir para a cadeia. Nos EUA e na França, eles já vão em cana depois da primeir ainstância; só por aqui é que se pode entrar com recursos e mais recursos até o crime prescrever. Mas, sob a desculpa da constitucionalidade e sei lá mais o quê, alguns meritíssimos mudaram de ideia, claro que para proteger Lula ou outros de seus mentores. Cármen Lúcia, dessa vez, não está dando show de covardia: ao contrário, a presidente do Supremo tem se portado muito bem. Mas talvez não baste. É bem possível que a questão volte a ser discutida no plenário, e o resultado é imprevisível. O Brasil continuará rolando ladeira abaixo? Ou Rosa Weber irá nos salvar no último segundo?

terça-feira, 20 de março de 2018

JÁ COMEU PICLES FRITO?

Conheço razoavelmente bem a cozinha mexicana, tantas vezes que eu fui para o México. Mas sua variante "Tex-Mex" era uma novidade para mim até esta viagem a Austin. Trata-se de uma autêntica culinária "fusion", que mistura técnicas e ingredientes dos dois lados da fronteira. O resultado são pratos e petiscos que sempre combinam pelo menos duas dessas três características: frito, picante e melequento. Um exemplo bizarro são os picles fritos - sim, pepino em conserva empanado, para se saborear com molho "ranch". É disgusting e delicioso ao mesmo tempo, assim como o mac & cheese (este já uma depturpaçnao americana das massas italianas) com molho de jalapeño. Claro que também tem muito barbecue, em cortes bem diferentes dos que estamos acostumados na América do Sul. Comi um brisket tão macio que desmanchava na boca. Mas, depois de dois dias injetando colesterol na veia, sinto que já está na hora de uma salada de grãos.

"VEEP" COM SANGUE


Armando Ianucci, apesar do nome italiano, é um ator, roteirista e diretor inglês absolutamente genial. Seu trabalho mais famoso é a série "Veep" da HBO, em que Julia Louis-Dreyfus faz uma política incompetente que comanda uma equipe pior ainda. Gente que conhece os bastidores de Washington diz que os políticos de verdade são muito mais parecidos com esses patetas do que com as figuras maquiavélicas de "House of Cards". Mas na úlitma temporada Ianucci deixou o cargo de showrunner de "Veep" para dirigir seu primeiro longa: "The Death of Stalin", que transfere os patetas e puxa-sacos dos EUA para uma das mais violentas ditaduras do século 20. O poder do líder russo é incontestável, e todo mundo se borra de medo dele; ao mesmo tempo, seus asseclas não o respeitam, e falam mal do chefe pelas costas. Quando Stálin finalmente tem um piripaque, ninguém chama logo um médico, numa das sequências mais engraçadas do cinema contemporâneo. E as picuinhas vão se sucedendo no ritmo de uma sitcom, mas com uma pequena diferença. Na Rússia dos anos 50, se matava para valer. Soldados abriam fogo contra o povo, e as intrigas palacianas eram resolvidas a bala. Escorre sangue em "The Death of Stalin", mas nem por isto ele deixa de fazer rir. Não há data de estreia prevista para o Brasil, mas aposto que pelo menos ao sob demanda essa pequena obra-prima do humor negro irá chegar.

segunda-feira, 19 de março de 2018

A CIDADE DA COROA VIOLETA

Cheguei ontem a Austin, a captial do Texas. A ironia é que cheguei justo no último dia do evento que eu mais quero ver na face da Terra: o megafestival SXSW (South by Southwest), que reúne, todo mês de março, as novidades na música, cinema, computação e cultura em geral. No domingo só havia uma festa de encerramento programada, e eu estava tão cansado por causa dos voos que não tive coragem de encarar. Na verdade, vim para cá a convite de um canal pago, para acompanhar as filmagens de uma série de TV - mais detalhes em breve. Por enquanto, só vou adiantar que Austin é razoavelmente bonita. A cidade se gaba de ter uma "coroa violeta", um fenomeno atmosférico que faz com que, duirante o por do sol, as nuvens ganhem reflexos roxos (e é verdade, ontem vi uma exatamente assim). Mas uma de suas maiores atrações é uma colonia de mais de um milhão de morcegos, "a maior da America do Norte", que vive debaixo de uma ponte sobre o lago Lady Bird. No verão, os bichos fazem uma linda revoada ao entardecer... O fatoé que Austin, apesar de tanto esforco para pagar de moderninha, aindaé uma tipica cidade caipira do interior dos EUA. Veja só o que me aconteceu: tive um ataque de burrice e esqueci em casa minha tomada universal. Cheguei aqui e me dei conta que o novo carregador do meu laptop (não mais o original de fábrica...) tem pinos redondos, incompatíveis com as tomadas americanas. Qualquer hotel do mundo teria adaptadores para os hospedes, mas não em Austin. Tive que ir a uma CVS, uma rede de drugstores que vendem de tudo, só para saber que talvez - TALVEZ - eu encontrasse o que procuro numa Best Buy a sete milhas do centro da cidade. Conclusão: estou me virando com meu celular (para este eu arranjei um adaptador) e no PC do business center do hotel, que não tem acentos nem cedilha nos teclados. Para completar, não consigo de jeito nehum subir uma foto que ilustre a maejstosa coroa violeta. Calma, Tony, respira, respira.

ATUALIZAÇÃO: Um colega jornalista se apiedou de mim e me emprestou um carregador com pinos fininhos. Consegui consertar os acentos desse post, adicionar uma foto, acessar sites pornô, iupiii.

domingo, 18 de março de 2018

SALUTE CAMPARI

Agora eu posso contar: fui a Milão no final de janeiro para o lançamento mundial do curta-metragem "The Legend of Red Hand", a nova campanha publicitária de Campari. Achei o "case" tão interessante que não escrevi sobre o filme para a Ilustrada, mas sim para o caderno Mercado da Folha - trata-se de um exemplo acabado de storytelling e branded content, duas tendências inescapáveis da propaganda de hoje. Além de ser um belo filmimnho, com produção esmerada, direção de Stefano Sollima (da série "Gomorra") e elenco encabeçado por Zoe Saldana (de "Avatar") e Adriano Giannini. A matéria finalmente saiu no jornal de hoje. E eu vou comemorar com um Negroni, meu novo drink favorito.

EU NÃO QUERIA SER FREIRA


Mas a protagonista de "Novitiate" queria. E isto no começo dos anos 60, quando o concílio Vaticano colocou a Igreja de pernas pro ar. É o segundo filme religioso que eu vejo em seguida, e posso dizer que é bem melhor do que "Maria Madalena". A fé e a dúvida da personagem são muito mais palpáveis, e não só porque ela está mais próxima da nossa época. A diretora estreante Maggie Betts conta de maneira ágil seu ótimo roteiro, e ainda arrancou performances incríveis de Julianne Nicholson (uma atriz que ainda vai levar o Oscar, anota aí) e Melissa Leo (que já levou um, mas merecia outro pelo papel da madre superiora). "Novitiate" está disponível no Now com o título original em inglês ("noviciado" em português, o que talvez fosse ainda menos entendido) e vale a pena o aluguel. Um drama intenso, que não tira sarro da religião nem dá respostas fáceis. Eu me ajoelhei e quase cheguei a rezar.

sábado, 17 de março de 2018

HOTEL DO BARULHO

Amanhã à meia-noite passa um programa meu no SBT, na sessão que tem o imaginativo nome de "Quem Não Viu Vai Ver". Programa meu é exagero, claro: eu fui apenas co-roteirista do especial "SBT Palace Hotel", produzido para o Natal de 2002 aproveitando o elenco de então da emissora. Mas quantos dos meus colegas tiveram a honra de ver seus textos recriados (porque eles falavam o que queriam, claro) por esses mitos da TV brasileira que já não estão entre nós, Hebe Camargo e Ronald Golias? Tralalalala, eu tenho os dois no meu currículo, vocês não têm.

sexta-feira, 16 de março de 2018

I'LL NEVER BE MARIA MAGDALENA


Nunca fui público para filmes religiosos. Vi pouquíssimos ao longo da vida, e o único de que realmente gostei foi "A Última Tentação de Cristo", de Martin Scorsese. Mesmo assim, quis ver "Maria Madalena"por causa do currículo dos envolvidos. O diretor é Garth Davis - o mesmo de "Lion", indicado ao Oscar do ano passado. No papel-título está Rooney Mara, e o chato do Joaquín Phoenix faz o Jesus mais antipático da história do cinema. Mas este é o menor dos problemas. Davis fez um filme tão chapa-branca que parece encomenda do Vaticano. A paixão de Cristo do ponto de vista de sua mais famosa apóstola não traz nada de novo. Nem a blasfêmia de um namoro entre os dois, ou a lenda de que Madalena teria sido prosituta. Só um leve viés feminista. O mais interessante mesmo é a versão da história de Judas, interpretado pelo lindo ator francês Tahar Rahim. Aqui o traidor é o mais entusiasmado dos discípulos, que só trai o mestre para forçá-lo a se revoltar contra os romanos. Mas é pouco para compensar a lentidão ou o design de produção caretaço (Jesus é crucificado com um longo pano branco enrolado na cintura, um pudor tolo). Heresia: prefiro a Madalena do "Código Da Vinci".

ESCROTIDÃO, PRESENTE

Se há algo bom que veio do assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes, é a onda de indignação que se espalhou pelo Brasil. Que finalmente saiu das redes sociais e ganhou as ruas: as manifestações de ontem, em muitas cidades, são tudo o que os políticos mais temem. Aliás, repararam que até a Globo aderiu? A primeira meia hora do "JN" foi toda dedicada ao caso, e a emissora também está veiculando de graça comerciais que repercutem esse crime bárbaro. Só que... claro que não existe unanimidade. Nem mesmo o sangue conseguiu tapar o buraco que nos divide. Aqui mesmo, no meu blog, a caixa de comentário do post anterior se encheu de gente que não percebeu a clareza da equação "o Rio está sob intervenção + Marielle era crítica à intervenção = Marille foi morta".  Dizem que os culpados podem ser petistas (afinal, não mataram Celso Daniel?), ou traficantes, ou o Divino Epsírito Santo. Também tem aqueles que alegam que Marielle é só mais uma vítima da violência, como se ela tivesse sido atingida por uma bala perdida - e como se seu assasinato, minuciosamente planejado, fosse só de sua pessoa, e não das causas e instituições que ela representa. Mas o pior são os que estão quase festejando essa execução.São aqueles escrotos que acham que a direita é incapaz de qualquer maldade (e, portanto, o nazismo seria de esquerda), ao mesmo tempo em que repetem o discurso do ódio. Tem razão quem diz que eleiotres do Bostonazi e afins não são pessoas justamente indignadas, porém mal-informadas: é tudo mau-caráter mesmo, que se viu refletido nos candidatos que pregam o armamento e o autoritarismo, sem atacar as raízes do problema.

quinta-feira, 15 de março de 2018

AGORA CHEGA

Não entendo a lógica dos assassinos. A vereadora Marielle Franco estava denunciando abusos da PM na periferia do Rio de Janeiro. Aí é morta a tiros, e quem matou nem se preocupou em fingir que foi assalto. Hmmm, quem será que foi, hein? Se era para mandar recado e assustar os críticos da violência, parece que as balas saíram pela culatra. A comoção pela morte de Marielle é tamanha que eu até suspeito que se torne um ponto de virada. O momento em que os cariocas deram um basta. Os interventores nomeados pelo governo federal também têm a chance de mostrar serviço. Precisam prender logo esses bandidos, e não só os pés-rapados que puxaram os gatilhos. A morte de Marielle é a culminação da ópera trágica em que o Brasil inteiro se transformou, não só o Rio. Colocamos as raposas para cuidar do galinheiro e agora reclamamos que estamos sendo comidos. Agora chega. Que Marielle Franco não tenha morrido em vão. Que seu sangue galvanize a sociedade e nos ajude a perceber que não existe "nós contra eles": eles estão no meio de nós.

CHALAMET BY MONET

Claude Monet pintou alguns de seus quadros na região italiana da Lombardia, a mesma onde se passa a história de "Me Chame pelo Seu Nome". O pintor francês é até citado no livro de André Aciman. Os mais entusiasmados dirão que o diretor de fotografia tailandês Sayombhu Mukdeeprom conseguiu captar uma luz impressionista no filme. Mas ninguém foi mais longe em estabelecer a relação entre as telas e a telona do que a artista filipina Mika Labrague, que lançou em fevereiro um perfil no Instagram chamado "Call Me by Monet". A ideia é boa, a execução é melhor ainda: inserir cenas do filme sobre quadros de Monet. Chega a ser aflitivo como o ajuste é perfeito. Até a luz que bate sobre os personagens vem do mesmo lugar que nas pinturas. Agora, difícil mesmo é escolher qual dessas imagens vira papel de parede ou foto da capa no perfil do Facebook. Quero todas e quero mais.

quarta-feira, 14 de março de 2018

O UNIVERSO DO MESTRE

Será que Stephen Hawking foi o último cientista popstar? Não sei de ninguém que possa ocupar o lugar dele no imaginário popular. Também, pudera. Ninguém mais combina as características extremas do Einstein contemporâneo: mente genial e corpo com severas limitações, um marketing irresistível. A lucidez de Hawking era um bálsamo nesse mundo irracional em que vivemos. E gosto de saber que ele não era um santinho: cometeu adultério com cadeira de rodas e tudo, e consta até que era chegado numa suruba. Stephen Hawking não acreditava em Deus, mas é tentador pensar que agora ele sabe todos os segredos do universo. Pena que não pode mais contar para a gente.

O DIABO DO ADVOGADO


De todos os filmes que tiveram algum ator indicado ao último Oscar, só "Roman J. Israel, Esq." não estreou nos cinemas brasileiros, indo direto para o sob demanda. A razão é simples: sua bilheteria nos EUA foi de apenas 11 milhões de dólares, cerca de metade do custo de produção. Tenho cá comigo que o fracasso se deve em grande parte ao título esquisito, que afugenta o espectador. Mas o longa em si não é ruim. Denzel Washington faz um advogado meio excêntrico, com gostos antiquados e um pronunciado sentido de honradez. Para compor o personagem, o ator chegou a tirar as próteses dos dentes incisivos superiores para exibir, pela primeira vez, o espaço natural que tem entre eles. Sua interpretação está sempre meio tom acima da naturalidade, mas não resvala jamais para a caricatura. O plot em si demora a esquentar. O pequeno escritório onde Roman trabalha fecha por causa da morte do dono, e ele é convidado a se transferir para uma firma gigantesca. Só lá pela metade, quando ele toma uma decisão moral para lá de arriscada, é que a coisa deslancha. O diretor Dan Gilroy fez melhor com "O Abutre" alguns anos atrás, mas seu novo longa não é mau. Tampouco é obrigatório: só completistas ensandencidos feito eu é que realmente precisam ver.

terça-feira, 13 de março de 2018

NOTÍCIAS PARA MIM

Ontem estreou no YouTube o primeiro programa do canal My News, com o nome de "Segunda Chamada" só para confundir a galera. É um debate entre Antonio Tabet (do Porta dos Fundos), Mara Luquet, Cristina Serra (ambas ex-Globo), o vereador de BH Gabriel Azevedo e minha chapa Mariliz Pereira Jorge. Não há novidades formais, nem recursos visuais mirabolantes. Só cinco pessoas inteligentes discutindo alguns dos assuntos mais candentes da semana, com clareza, descontração - e alguns palavrões. Vem mais coisa por aí, inclusive um novo episódio do "Segunda Chamada" na próxima segunda-feira. Já estou curioso para ver, porque eu sinto que essas notícias são mesmo para mim.

AS NOIVAS DE COPACABANA

As fotos de Priscila Raab e Roberta Graadel vestidas de noivas me sugeriram uma versão mais sofisticada daqueles casamentos em que uma maluca se casa consigo mesma. As pombinhas não ficaram um pouco parecidas demais? Piadas à parte, é sensacional que o Copacabana Palace tenha sido o palco desse festão, que acontceu no sábado, repercutiu em todo o Brasil e só hoje chegou a este atrasado blog. Claro que não faltam comentários asquerosos nos sites que publicaram a notícia, mas os favoráveis são mais numerosos. Toda a felicidade do mundo para as moças, e que seu exemplo dê coragem às sabiás que ainda estão presas nas gaiolas.

segunda-feira, 12 de março de 2018

SABIÁ SEM MAJESTADE

Acho bem problemático o fato de Roberta Miranda estar processando uma seguidora que citou, no Instagram da cantora, sua suposta "mulher". Não vou nem entrar no debate se isto é verdade ou não. Parece óbvio que Roberta e sua assessoria querem desestimular especulações; no entanto, entrar na Justiça só joga mais holofotes sobre o caso. Mas o que me incomoda mesmo é reagir como se ser homossexual ainda fosse algo digno de reprovação. A advogada de Roberta acusa a internauta de "ofender a honra ou denegrir a imagem de minha cliente", no estilo do século 19. Esta atitude da cantora está revoltando alguns de seus fãs, e já sinto um cheiro de tiro pela culatra: é isto o que pode denegrir sua imagem, não uma fofoca qualquer. Pensa bem, Roberta. Faça jus à majestade que você sempre teve.

O FANTASMA DO CONTROLE DE ARMAS


Uma família que enriqueceu fabricando armas de fogo é assombrada pelos espíritos das vítimas de seus produtos. A premissa de "A Maldição da Casa Winchester" parece propaganda forçada pelo controle de armas nos Estados Unidos, não fosse por um pequeno detalhe: é baseada em uma história real. Sarah Winchester, viúva do fundador do maior fabricante de rifles do mundo, tinha certeza de que estava sendo perseguida por fantasmas vingativos, e passou as últimas décadas de sua vida construindo uma interminável mansão em São Francisco. Queria ter dezenas de aposentos para, em cada um deles, aprisionar um dos espectros que a ameaçavam. Os produtores do filme ainda tiveram a sorte de lançá-lo no momento em que a opinião pública dos Etsados Unidos está se voltando contra o NRA, o poderoso lobby pró-armas. Mas nem a conjuntura astrológica favorável, nem Helen Mirren carregando nas tintas sombrias, fazem de "Winchester" um bom filme. Não dá para construir um clima de pavor com tantas cenas à luz do dia, e uma casa em obras não convence como assombrada. Se o timing foi perdido, fica o recado: controle de armas já.

domingo, 11 de março de 2018

MANCHA VERDE E ROSA

A polêmica envolvendo o William de Lucca chegou até mim um pouco tarde, porque eu não dou a mínima para o futebol. E nem deveria ser polêmica: alguém reclamando que é feio usar xingamentos homofóbicos para insultar o adversário deveria ter o apoio de todo mundo, como se estivesse denunciando o racismo. Mas, como estamos no Brasil e na era da liberdade de expressãozinha garantida pelas redes sociais, não faltou gente defendendo a "zoeira" nos estádios (também apoio, mas viado não deveria ser ofensa, tal qual negro), nem quem dissesse que de Lucca é agente de George Soros para destruir o cristianismo (!!!). Também desencavaram um tuíte dele de 2010 onde se lê "Chupa, Bambi"; de acordo com um colunista do R7, o progressista portal ligado à avançada TV Record, de Lucca teria sido "desmascarado". Então eu também fui, porque xinguei mita gente de viado ao longo da minha vida. Só que não xingo mais, nem "no mau sentido". Eu evoluí, de Lucca evoluiu. Só asnos não evoluem.

sábado, 10 de março de 2018

O PARDAL DA ASA QUEBRADA


Depois de uma temporada do Oscar que, para mim, foi a melhor dos últimos anos, voltamos ao rame-rame habitual nas salas de cinema. A honra de primeiro grande filme medíocre do ano vai para "Operação Red Sparrow", um thriller de espionagem estrelado por Jennifer Lawrence. A moça, elogiada e premiada pelo talento, dessa vez quis mostrar que consegue fazer uma personagem que mal transmite emoções, mas não se recusa a ficar pelada nem a participar de cenas violentíssimas. O "pardal vermelho" do título é uma bailarina do Bolshoi que, depois de quebrar a perna em cena, engata uma segunda carreira como uma espiã sedutora. O elenco de peso inclui minha amada Charlotte Rampling mais uma vez fazendo uma professora durona e o belga Matthias Schonaerts lembrando um jovem Vladimir Putin. Mas por que só Jeremy Irons se recusou a falar inglês com sotaque eslavo? Este nem de longe é o único problema do filme, que começa muito mas perde o rebolado lá por volta da primeira hora. O final até tem uma virada surpreendente, mas àquela altura eu já não me importava com nada. Falta muito para o próximo Oscar?

sexta-feira, 9 de março de 2018

PRIME STRESS

Assinei o PrimePass em junho do ano passado. O aplicativo me pareceu uma maneira excelente de economizar. Escolhi o plano de 99 reais por mês, logo reajustado para 109, que dá direito a um filme por dia, todo dia, em um monte de salas. Como eu vou muito ao cinema e não são em todos que eu pago meia, o negócio era para lá de atraente. Só que... Para começar, o aplicativo não funciona direito. Ele precisa ser aberto na porta do cinema para liberar o ingresso, mas quem disse que carrega rápido? Perdi a conta das vezes em que o troço simplesmente não abriu. Além do mais, a rede credenciada vem diminuindo a olhos vistos. Aqui em São Paulo, já saíram a Reserva Cultural, todo o Kinoplex e o Cinemark e até a minha sala favorita, o Cinearte do Conjunto Nacional. Para completar, o atendimento - que antes podia ser telefônico e agora é só via Facebook - só vai até as 18h. Se o cliente tiver algum problema depois desse horário, como eu tive hoje, não há ninguém para resolver. Assim, depois de muito ameaçar, finalmente cancelei meu cartão PrimePass. Não vou a cinema para me estressar. Continuo achando a ideia maravilhosa. Volto quando ela der certo.

FAROFA-FÁ


As comédias brasileiras produzidas pela Globo Filmes costumam ser muito malhadas pela crítica, mas eu não tenho nada contra elas. Não se constrói uma indústria cinematográfica só com filmes de arte. As bilheterias dos sucessos populares ajudam a financiar outros títulos, e dão emprego para muita gente. E nada impede que essas comédias sejam realmente boas. Mas este não é o caso de "Os Farofeiros". Não que seja horrível. Há algumas piadas de rir alto na história dos colegas de escritório que dividem uma decrépita casa de praia durante o Réveillon, e o elenco todo está bem - inclusive Danielle Winits, uma atriz com quem eu já impliquei outras vezes. Mas o roteiro insiste num desfecho sentimental para um dilema, o que faz com que parte da graça se dilua. O que era para ser uma anarquia divertida acaba virando lição de moral. Se era pra ser farofa, não precisava ser diet.

quinta-feira, 8 de março de 2018

O CONTO DO AI AI AI

Finalmente assisti a um episódio completo de "The Handmaid's Tale". Fui a uma pré-estreia promovida pelo canal Paramount, onde a série estreia no próximo domingo, e ainda participei de um debate onde estavam Milly Lacombe e Jout Jout. Falei que, enquanto eu via os apuros de Offred, a o Bolsonaro não me saía da cabeça. O brucutu da extrema-direita se filiou ontem ao PSL, o partido supostamente liberal, e foi aclamado pela plateia. Quando insuflado por seus minions, Jairzinho costuma se exaltar e revelar quem a gente já está farta de saber quem ele é: um machista homofóbico que não faz a puta ideia de como governar uma nação. Mas seus admiradores existem, e são eles que querem reverter o Brasil à ditadura. Está na hora de não sermos mais condescendentes com essa corja. Não há combate à corrupção que justifique o racismo ou a violência, de qualquer forma, sobre qualquer minoria política. Nem dá para confiar que o Bolsonazi derreta quando começar a campanha para valer, já que ele terá pouco tempo na TV. Collor também tinha, e ganhou. Então, ai ai ai, hein? Não basta lacrar no Facebook. Temos que ir à luta. Senão, Gilead não deve demorar.

BOLLY QUE ELE GOSTA

Hoje acordei com várias pessoas diferentes postando em suas timelines esse clipe de cinco anos atrás, do filme indiano "Goliyon Ki Rasleela Ram-leela". Adorei e resolvi postar também, como a minha homenagem ao Dia Internacional da Mulher. Explico: na Bollywood tradicional, só as atrizes tinham que ser lindas. Os atores podiam ser gordos e feios, que ninguém reclamava. Mas até a Índia mudou. É significativo que o gostosérrimo Ranveer Singh rebole sem camisa e arranque suspiros da mulherada (tem até uma mais ousada que lhe passa a mão). Liberação feminina também é a liberdade de demonstrar tesão.

quarta-feira, 7 de março de 2018

DIRETO DA PORTA DO TEMPO


Gastei boa parte da minha infância vendo "O Túnel do Tempo", a série em que dois cientistas americanos eram jogados para lá e para cá no vórtex temporal. Agora o conceito se sofistica em "El Ministerio del Tiempo", produção espanhola cujas três temporadas jea estão na Netflix. A premissa é bem descabelada: desde o final da Idade Média, o governo espanhol mantém uma agência secreta cuja missão é garantir que a história aconteça exatamente do jeito que aconteceu. Para isto, os agentes servem-se de uma série de portas que levam a todas as épocas do passado - mas não do futuro, porque ele ainda não existe. Tem lógica? Não, mas se for para ficar procurando por ela, é melhor ver outra coisa. A graça é que "El Ministerio del Tiempo" é um banquete para history buffs como nós aqui em casa. Os personagens interagem com vultos da Espanha como El Cid Campeador, a rainha Isabel, Miguel de Cervantes e Federico García Lorca. Claro que um programa desses só faz sucesso em um país que tenha um bom conhecimento de si mesmo. Difícil conceber uma versão brasileira, pois aqui ainda confundimos D. Pedro I com Pedro Álvares Cabral.

terça-feira, 6 de março de 2018

LULA PRESO AMANHÃ?

Nunca fui fã do Lula, mas fico meio assim por ele (talvez) ser o primeiro ex-presidente brasileiro a ir para a cadeia. Só para ficar nos mais recentes, Fernando Collor de Mello, por exemplo, merecia muito mais. Mas não suporto essa aura de santidade que Lula tenta criar ao redor de si. E o pior é que tem muita gente que cai feito patinho (kkkk), como se não houvesse acontecido o mensalão e o petrolão, como se o sítio e o duplex não fossem dele. Lula merecia ser derrotado nas urnas, mas parece que a história vai poupá-lo desse vexame. Assim, ele poderá alegar para sempre que foi perseguido e injustiçado.

SPLASH OF WATER

"A Forma da Água" está sendo odiado ainda mais do que "La La Land" no ano passado. A vitória do filme de Guillerrmo del Toro no Oscar suscitou reação negativa até mesmo de Fernando Meirelles, coisa rara entre cineastas. Mas acho que o melhor libelo contra o filme, até mais do que as acusações de plágio, é este vídeo acima que já estava circulando nas redes antes mesmo da cerimônia de domingo. É realmente impressionante a semelhança entre "A Forma da Água" e "Splash - uma Sereia em Minha Vida", que revelou Tom Hanks e Daryl Hannah em 1984 e se tornou um clássico da "Sessão da Tarde". Só não vou dizer "nada se cria, tudo se copia" para não ninguém reclamar que eu sou pouco original.

segunda-feira, 5 de março de 2018

O AVESSO DA DISNEY


Vi "Projeto Flórida" em outubro, no Festival do Rio, mas esperei entrar em cartaz para soltar este post a respeito. Talvez não tenha ajudado em nada a carreira do filme no Brasil: como sua única indicação ao Oscar foi ator coadjuvante para Willem Dafoe, muita gente não está correndo para os cinemas para ver esta pequena obra-prima. O diretor Sean Baker já tinha surpreendido dois anos atrás com "Tangerine", a saga de duas trans filmada com um iPhone. Agora ela volta a encharcar a tela de sol, mas do outro lado do mapa americano. "Projeto Flórida" era o nome secreto da Disney World antes da inauguração, e "project" em inglês também se refere aos conjuntos habitacionais para pessoas de baixa renda. A história se passa, na verdade, em um motel de beira de estrada nas cercanias da Disney, onde uma jovem e irresponsável mãe solteira finge que cuida da filha pequena. Ou melhor, que história? O roteiro acumula episódios do dia-a-dia das duas, mostrando os trambiques da mãe e as brincadeiras da filha, que nem percebe o aperto em que elas vivem. Transbordando energia e com ótimas atuações, "Projeto Flórida" só desapontará quem espera por historinhas edificantes. É um exemplo do novo cinema americano, e um trailer do que ainda vem por aí.

OSCAR DE SOSLAIO

Não é fácil fazer live blog do Oscar ao mesmo tempo em que a cerimônia está rolando. Vi na redação da Folha, se soslaio, e perdi muita coisa, preocupado que eu estava em soltar o maior número de postagens. Só hoje estou revendo alguns momentos com calma, como este clipe de abertura em preto-e-branco que homenageia os 90 anos do prêmio. No geral, achei divertido, apesar de ligeiramente decepcionante - só que eu SEMPRE me decepciono com os Oscars, desde a segunda cerimônia que eu assisti, em 1977. A expectativa é tão grande que nem se o Titanic explodisse no palco e matasse todo mundo eu ia me impressionar. Enfim, acertei quase todas as minhas previsões. Só errei os documenttários e, a rigor, melhor filme e roteiro original - para essas categorias, falei que ia dar um de três possíveis resultados, e deu. Agora começa meu período de banzo anual, que só se dissipa em setembro. Os héteros têm futebol toda semana; por que eu não posso ter os Oscars, sei lá, uma vez por mês?

domingo, 4 de março de 2018

PARA QUEM EU DARIA HOJE À NOITE

Tem uma coisa engraçada rolando no Oscar deste ano. Todos os filmes de ficção estrearam no Brasil antes da cerimônia (e vários dos documentários podem ser vistos em casa, como eu conto na coluna Multitela de hoje). Cinéfilos de responsa como eu já viram tudo. E, por causa das redes sociais, todos os indicados têm fãs ardorosos e detratores idem. Nenhum conquistou a unanimidade, e isto pode tornar a noite de hoje memorável. Nunca tanta gente capaz de opinar (ao contrário da saudosa Glória Pires) assistiu junta à festa. Mais do que nunca, é imperativo manter um olho na TV e o outro numa segunda tela, acompanhando os comentários online. Como aconteceu no Emmy e no Globo de Ouro, eu vou participar do live blog da Folha, a partir de 21h, quando começa o tapete vermelho. Que vença o melhor? Nem sempre...

Mesmo com tanta gente dando pitaco, ainda tem quem pergunte minha opinião. Então vamos lá: Para quem eu daria o prêmio, e quem é que eu acho que de fato vai ganhar? Bora: 

MELHOR FILME
A corrida embolou nos últimos dias. "A Forma da Água" pode ter perdido embalo por causa das acusações de plágio. E "Três Anúncios para um Crime", seu grande rival, agora enfrenta uma onda crescente a favor de "Corra!". Afinal, se é para premiar um filme que toca nas feridas americanas, por que não dar logo o Oscar para o que fala explicitamente de racismo? Hmm, talvez porque no ano passado ganhou "Moonlight", com elenco todo negro. De qualquer forma, é bom ficar esperto. "Corra" venceu o Spirit ontem à noite, e pode ter aqui sua melhor chance de ganhar alguma coisa.

MELHOR DIRETOR
Vai ganhar Guillermo del Toro. E eu daria mesmo para ele entre os cinco que estão indicados, ainda mais para que cada um dos "Três Amigos" mexicanos - ele, Alfonso Cuarón e Alejandro González Iñárritu - tenha pelo menos uma estatueta dourada. Mas meu predileto é Luca Guadagnino. Revi seus dois filmes anteriores e percebo que ele é um autor no sentido clássico, que repete temas e elementos, mas sempre de uma maneira nova. Além do mais, seus filmes são sensoriais. Música, luz, comida, roupas, casas, objetos, tudo conta a história, tudo vira personagem. O cineasta  que mais me fala ao pau e ao coração.

MELHOR ATOR
Vai ganhar Gary Oldman. É merecido: o cara é um puta ator, tem uma longa carreira de sucesso, uma única indicação anterior e está fe-no-me-nal como Winston Churchill. Mas claro que eu daria para Timothée Chalamet. Oldman está "acting"; Chalamet vive as emoções de Elio, com uma paleta de recursos incrível para um garoto que tinha 20 anos na época da filmagem. Só não fico triste dele perder o Oscar porque tem ganho muitos outros prêmios (como o Spirit) e porque um dia ele vai ganhar. O garoto é do nível de Di Caprio: tem um por geração.

MELHOR ATRIZ
Vai ganhar Frances McDormand. O trabalho dela é mesmo o mais impressionante entre as cinco indicadas (revi "Três Anúncios" e me maravilhei ainda mais). Mas talvez eu desse para Sally Hawkins, só porque Frances já ganhou. Ah, e a Saoirse? Que nem o Chalamet: um dia ela ganha. Talvez já no que vem, quando deve concorrer como Elizabeth I por "Mary Queen of Scots" (e sabe quem faz Mary Stuart? Margot Robbie! Isso mesmo, Lady Bird versus Tonya Harding!).

MELHOR ATOR COADJUVANTE
Vai ganhar Sam Rockwell. Merecido, apesar dele carregar nas tintas de vez em quando. Mas é um sólido "character actor", aqueles que nunca desapontam apesar de raramente chegarem a protagonistas, e Hollywood gosta de premiá-los. Mas meu favorito mesmo era Michael Stuhlbarg, claaaaro, pela devastadora conversa entre pai e filho em "Me Chame pelo Seu Nome", mais claro ainda. Parece fácil, mas o trabalho dele é sutil e preciso. Além de ser o grande "takeaway" do filme.

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
Vai ganhar Allison Janey, outra um pouco exagerada, mas queridíssima pelos seus pares pela longa carreira. Pelo jeito, até mais querida do que Laurie Metcalf, que para mim merecia mais. As outras três indicadas nem deveriam estar ali.

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL
Aqui a briga vai ser boa: "Três Anúncios", para mim o melhor, enfrenta os fãs de "Lady Bird" e "Corra!", dois filmes que podem ter nesta categoria sua única chance de não sair de mãos abanando.

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO
Vai ganhar "Me Chame pelo Seu Nome", e aqui eu concordarei com o Oscar. O roteiro é um primor. Fora que James Ivory, aos 88 anos, será o mais velho vencedor de todos os tempos - isto se Angès Varda não levar pelo melhor documentário. Ela é 13 dias mais velha do que ele.

MELHOR FILME ESTRANGEIRO
Está bem difícil prever, mas vou arriscar: "Uma Mulher Fantástica". Alguns sinais estão no ar. A atriz Daniela Vega será uma das apresentadoras, a primeira transexual a entregar um Oscar. O filme ganhou o Spirit. E, dos cinco finaistas, é o que tem a narrativa mais tradicional, com começo, meio e fim. Ao mesmo tempo em que a temática é moderna: as agruras de uma mulher trans. Gosto do filme, mas eu daria para "The Square" - este sim, moderno na forma e no conteúdo.

E daqui para a frente é só previsão mesmo, para ajudar meu leitorado no bolão:

Melhor Fotografia - "Blade Runner 2049"
Melhor Montagem - "Dunkirk"
Melhor Direção de Arte - "A Forma da Água"
Melhor Figurino - "Trama Fantasma"
Melhor Maquiagem - "O Destino de uma Nação"
Melhores Efeitos Visuais - "Blade Runner 2049"
Melhor Edição de Som - "Dunkirk"
Melhor Mixagem de Som - "Dunkirk"
Melhor Trilha Sonora - "A Forma da Água"
Melhor Canção - "Remember Me" (de "Viva" - mas quem me lê sabe qual é minha favorita)
Melhor Longa em Animação - "Viva"
Melhor Curta em Animação - "Dear Basketball"
Melhor Longa Documentário - "Visages Villages"
Melhor Curta Documentário - "Heroína(s)"
Melhor Curta de Ficção - "Silent Child"

Ufa, que post longo. E o dia mal começou. Até mais, no live blog da Folha.

A MULHER MAIS BONITA DA REPÚBLICA

Conheci Tonia Carrero pessoalmente em 1996, quando eu era roteirista do "Gente que Brilha" do SBT (o programa, uma variação do formato "Esta é Sua Vida", tem sua atual encarnação no "Arquivo Confidencial" do Faustão). Tonia, na época contratada da emissora de Silvio Santos, foi uma das homenageadas, e eu precisei fazer uma extensa pesquisa sobre sua vida e carreira. Além dos sucessos e dos amores, topei com um dado curioso: ela foi a primeira mulher a estampar o dinheiro brasileiro. Não por seus méritos de atriz, mas pela beleza estonteante - "clássica", como se dizia antigamente. Tonia aparecia nas moedas como a efígie da República, uma mulher de cabelos esvoaçantes inspirada na Marianne francesa. Depois a imagem foi adaptada para as cédulas e os traços endureceram, mas a semelhança ainda estava lá. Quando tocamos neste assunto no programa, Tonia se envaideceu toda - lógico - e ficou de perfil, como que para provar que era ela mesma no dim-dim. Afável e divertida, não perdeu o bom humor nem quando começou a chover dentro do antigo teatro Silvio Santos durante a gravação, e faxineiras invadiram o palco com seus rodos. Era uma "femme du monde": viu tudo, fez tudo, conheceu todo mundo e queria sempre mais. Conseguiu muito, apesar de seus últimos anos não terem sido nada fáceis. Vai brilhar para sempre, no metal e na memória.

sábado, 3 de março de 2018

O INCRÍVEL FILME QUE ENCOLHEU


Até a metade, "Pequena Grande Vida" entrega tudo o que o trailer promete. É uma comédia irônica sobre uma técnica fictícia de encolhimento de gente. A justificativa nobre é que as pessoinhas gastem muito menos recuros e quase não poluem o planeta, mas o que convence o personagem de Matta Damon a se reduzir é a perspectiva de ficar milionário: a vida fica muito mais barata, e quem tem algum patrimônio irá vê-lo se multiplicar por dez. Aí a história dá um pulo de um ano, muitas coisas mudam sem explicação e o filme vira um libelo pela igualdade e solidariedade, sem o humor cáustico de antes. Verdade que é só nesta segunda parte que surge Hong Chau, como uma refugiada vietnamita sem papas na língua. Mas o roteiro - que levou uma década sendo burilado - parece ter sido inventado à medida que iam filmando, sem ninguém saber onde ia dar. Esta é a primeira vez que me desaponto com o diretor Alexander Payne. Achei que ele era maior.

A PERNACCHIA DE OURO

Como todos os anos, na véspera do Oscar, dois prêmios que se propõem a ser a antítese da Academia divulgam seus vencedores. O Spirit Awards, do cinema independente, faz sua cerimônia mais à noite e vários de seus indicados também concorrem amanhã. E os Razzies já saíram, para os piores do cinema americano em 2017. O nome é uma abreviatura de "raspberry", que tanto quer dizer framboesa como a popular "pernacchia" (não sabe o que é? ponha a língua para fora da boca fechada e vibre-a). Os resultados foram anunciados em um vídeo propositalmente tosco. A única surpresa foi a inédita sessão de "in memoriam" - que, ao invés de homenagear gente que morreu de verdade, lembrou das carreiras mortas pelas denúncias de assédio sexual. Que descansem sem paz.

sexta-feira, 2 de março de 2018

VOLTEI A GOSTAR DE MULHER


E assim, sem mais nem menos, meus ouvidos entraram em (mais) uma fase francesa. A princípio achei que era só uma extensão local do meu período cisgênero na música, pois os homens seguiram dominando minhas playlists. Nomes curiosos como Lomepal, Chaton e Feu! Chatterton, que fazem um pop moderninho. Um pouco menos original é a banda Pendentif, que acabou se impondo como a minha favorita - e os vocais são femininos! Nunca tinha ouvido falar deles e me surpreendi com seu segundo álbum, "Vertige Exhaussé", que se encaixa na rara categoria bom-do-começo-ao-fim. OK, vai soar bobo para alguns, mais j'adore. Et je m'en fous.

quinta-feira, 1 de março de 2018

QUAQUARAQUAQUÁ

Os comentários do meu post sobre o filme "A Grande Jogada" foram invadidos por uma discussão sobre a importância das bichas loucas para o movimento gay. Como eu não gosto de desvios off-topic, encerrei o debate por lá, mas reabro-o aqui com a minha opinião. Acho que as quaquás e as drag queens foram, sim, a ponta de lança dos LGBT, e por muito tempo. Devemos muito a elas, porque eram as únicas que tinham a coragem de se assumir numa época em que isto dava até cadeia. Eram motivo de chacota nacional, como Denner ou Clodovil, e farto material para os programas humorísticos. Mas, para um gayzinho assustado como eu fui, eram a única prova de que eu não estava sozinho no mundo. Havia outros como eu, e alguns (não todos) até pareciam felizes. Claro que os homossexuais discretos, que só se tornaram mais frequentes a partir dos anos 80, também têm o seu valor. Foram eles que mostraram para o mundo que gay não caiu de outro planeta. Que podemos ser educados, sérios, até mesmo conservadores. Muita gente aderiu à nossa causa por causa deles - e minoria nenhuma conquista direitos sem aliados na maioria. Na verdade, os únicos que nunca fizeram nada pelos colegas são os covardes dos enrustidos. E os enrustidos homofóbicos, então? Esses merecem o inferno.

PIADA DE CASERNA

É estupefaciente que o governo de Temer, o Velho, esteja dando real poder político aos militares. É chocante que reformados se sintam à vontade para manifestar apoio ao Bolsonazi. Mas o mais absurdo de tudo é ver gente pedindo a volta do regime de 1964. A imensa maioria é uma galerinha desinfromada, que não viveu os anos de chumbo e acha que naquela época não havia corrupção nem caos econômico. Ô se havia, com o o plus a mais de censura e repressão. A única vantagem de uma ditadura é que ela costuma gerar arte de qualidade, especialmente música. E sabemos como a nossa música decaiu para a fase anal... Mas vira essa boca pra lá, nada justifica os milicos no poder.