sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

QUEM É QUE PODE ME DIZER QUEM SOU?

Assisti à estreia de Fernanda Torres no teatro profissional, em 1982, em uma montagem estrelada de "Rei Lear". Ela tinha apenas 17 anos e fazia Cordélia, a filha mais jovem do monarca, ao lado de veteranos como Sérgio Brito, Ary Fontoura e Yara Amaral. O espetáculo ficou marcado a ferro na mente da jovem atriz, pois percorre todo o texto de seu excelente segundo romance, "A Glória e seu Cortejo de Horrores" (e é deste texto de Shakespeare que saiu o título do post). Os nomes dos envolvidos foram trocados, reprisando um truque que Fernanda já havia usado em seu livro de estreia, "Fim": ela pega episódios reais e os transforma em literatura. Se bem que aqui a produção do "Rei Lear" se enrola num matagal de notas frias, numa trama que irá provocar o desfecho da trajetória do protagonista, o ator Mário Cardoso (existiu um galã da Globo com este nome, mas o sujeito aqui é fictício). A longa carreira de Mário passa por quase tudo que se fez no teatro, no cinema e na TV desde a década de 1960. Novelas de sucesso, peças experimentais, o "Hair" com Sonia Braga, filmes de arte e outros nem tanto, até desembocar num folhetim bíblico em um canal evangélico. Dinheiro, fama, mulheres, drogas, o cara experimenta de um tudo. A ordem não-cronológica dos capítulos atrapalhou um pouco minha compreensão, mas não dá para negar que Fernanda Torres escreve bem pacas. Seu texto está mais elegante, sem piruetas do tipo olha-como-eu-sou-foda, mas sem abrir mão de imagens de impacto. "A Glória..." fatalmente virará filme ou minissérie, mas merece ser lido já. Temos uma nova grande escritora brasileira.

9 comentários:

  1. O primeiro nem consegui terminar de tão ruim, não vai ser com esse que essa pessoa sem talento vai ver meu dinheiro. Só vende porque é atriz famosinha, queridinha da zona sul.

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  2. Sempre soube disso,lembro de me contorcer de rir quando li um artigo na revista Piauí escrito por ela sobre o ofício do ator, tem um outro também que é praticamente o roteiro de um filme, no qual ela narra os bastidores das gravações do filme Kuarup.
    Já gostava dela como atriz desde que assistir Eu Sei Que Vou Te Amar, no qual ela arrasa como uma jovem charmosa e neurótica, agora sou tão fã quanto da escritora que se estabelece.

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  3. Ela é inclusive melhor escritora do que atriz

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  4. Emprestei recentemente "Fim" para uma amiga, que por sua vez me emprestou "A casa dos budas ditosos". Segundo a teoria dessa minha amiga, João Ubaldo teria escrito "Fim" para Fernanda, em retribuição ao 'budas ditosos', que a Fernanda teria escrito para ele. Faz algum sentido isso? Será?

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    1. Fernanda escreve há muito tempo. Já tinha uma peça de teatro e inúmeras crônicas de jornal antes de seu primeiro livro. E será que João Ubaldo contnuaria escrevendo por ela no além-túmulo?

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  5. Não dúvido do talento literário dela, apenas abri a possibilidade para uma eventual ‘troca de gentilezas’ que tenha ocorrido, algo assim não tão incomum no meio literário, I guess 🤔

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    1. Nunca ouvi falar de um troca desse tamanho. Um autor escrver um livro e dar a autoria para outro? Acho pra lá de improvável, ainda mais dada a vaidade de alguns.

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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