Hoje Milão voltou ao estado em que eu a vi nas outras duas vezes em que estive aqui: nublada, chuviscante, gelada. Claro que é o único dia inteiramente de folga nesse bate-e volta, mas quem disse que eu me deixei abater? Às 10 da matina eu já estava na Villa Necchi Campiglio, mais conhecida como a casa da Tilda Swinton no filme "Io Sono l'Amore". É uma mansão dos anos 30 que foi doada ao estado em 2000 e agora funciona como um museu. A decoração está tão intacta que tem até brusinha da signora Necchi nas gavetas de seu quarto. Confesso que a Villa parecia mais suntuosa no cinema, mas não dá para se desapontar com um lugar onde um dos banheiros tem seis desenhos de Picasso. Sem falar que a guia era um programa à parte: uma velhinha que falava baixo e que conseguiu transfomar o tour de 45 minutos em uma hora e meia. E tudo isso sem fazer uma única menção ao longa de Luca Guadagnino.
Depois tentei pela segunda vez ir a uma mostra de Caravaggio, mas a fila gigantesca me fez desistir. Aí encontrei umas meninas que também vieram ao evento e fomos comer na Princi, uma padaria tão transada que os uniformes do staff foram desenhados por Giorgio Armani. Comi um pedaço de pizza de prosciutto com batata e tomei um chinotto, duas coisas difíceis de se encontrar no Brasil.
Saindo de lá, achei que seria capaz de chegar na igreja de Santa Maria delle Grazie usando apenas o GPS do meu telefonino. Claro que a bateria acabou no segundo quarteirão e eu acabei me perdendo. O princípio de pânico foi debelado quando Deus me mandou um táxi: só assim consegui chegar na hora marcada e honrar o ingresso comprado pela internet há quase três semanas. Valeu a pena. O Cenacolo Vinciano é realmente espetacular, ainda mais com a nova iluminação que ganhou há pouco tempo. Ufa.
Meu último passeio em Milão foi uma visita guiada ao Teatro alla Scala, a mãe de todas as casas de ópera. Por fora ele não tem a imponência da Opéra de Paris ou nem mesmo do Municipal de São Paulo, mas por dentro é uma glória absoluta. O tour inclui uma parada no camarote real, cujos assentos são apenas para convidados e que tem uma visão esplêndida do palco, que estava sendo montado para uma récita de "O Morcego". Pena que meu voo de volta para SP me fez perder esse espetáculo. Mas cidade bacana é assim: nunca dá tempo da gente ver tudo, e sempre sobra alguma coisa para a próxima vez.