quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

UNA GIORNATA PARTICOLARE

Hoje Milão voltou ao estado em que eu a vi nas outras duas vezes em que estive aqui: nublada, chuviscante, gelada. Claro que é o único dia inteiramente de folga nesse bate-e volta, mas quem disse que eu me deixei abater? Às 10 da matina eu já estava na Villa Necchi Campiglio, mais conhecida como a casa da Tilda Swinton no filme "Io Sono l'Amore". É uma mansão dos anos 30 que foi doada ao estado em 2000 e agora funciona como um museu. A decoração está tão intacta que tem até brusinha da signora Necchi nas gavetas de seu quarto. Confesso que a Villa parecia mais suntuosa no cinema, mas não dá para se desapontar com um lugar onde um dos banheiros tem seis desenhos de Picasso. Sem falar que a guia era um programa à parte: uma velhinha que falava baixo e que conseguiu transfomar o tour de 45 minutos em uma hora e meia. E tudo isso sem fazer uma única menção ao longa de Luca Guadagnino.

Depois tentei pela segunda vez ir a uma mostra de Caravaggio, mas a fila gigantesca me fez desistir. Aí encontrei umas meninas que também vieram ao evento e fomos comer na Princi, uma padaria tão transada que os uniformes do staff foram desenhados por Giorgio Armani. Comi um pedaço de pizza de prosciutto com batata e tomei um chinotto, duas coisas difíceis de se encontrar no Brasil.

Saindo de lá, achei que seria capaz de chegar na igreja de Santa Maria delle Grazie usando apenas o GPS do meu telefonino. Claro que a bateria acabou no segundo quarteirão e eu acabei me perdendo. O princípio de pânico foi debelado quando Deus me mandou um táxi: só assim consegui chegar na hora marcada e honrar o ingresso comprado pela internet há quase três semanas. Valeu a pena. O Cenacolo Vinciano é realmente espetacular, ainda mais com a nova iluminação que ganhou há pouco tempo. Ufa.

Meu último passeio em Milão foi uma visita guiada ao Teatro alla Scala, a mãe de todas as casas de ópera. Por fora ele não tem a imponência da Opéra de Paris ou nem mesmo do Municipal de São Paulo, mas por dentro é uma glória absoluta. O tour inclui uma parada no camarote real, cujos assentos são apenas para convidados e que tem uma visão esplêndida do palco, que estava sendo montado para uma récita de "O Morcego". Pena que meu voo de volta para SP me fez perder esse espetáculo. Mas cidade bacana é assim: nunca dá tempo da gente ver tudo, e sempre sobra alguma coisa para a próxima vez.

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

IL BISCIONE TI VA MANGIARE

As grandes cidades italianas gostam de criaturas míticas para representá-las. Roma tem a loba de Rômulo e Remo; Veneza tem o leão de São Marcos; Nápoles tem a sereia Partenope. E Milão tem o biscione, que significa cobra grande no dialeto local e se pronuncia "bichone", o que sempre faz meu Beavis & Butthead interior rir de nervoso. O biscione está por toda parte: nos muros do Castello Sforzesco, em todos os prédios públicos, no logo da Alfa-Romeo. E é de uma incorreção política admirável: o que ele tem na boca é uma criancinha, algo que lhe renderia acusações de pedofilia se fosse inventado hoje. Nham!

PIROETTE DI SABBIA

Na saída da primeira confraternização do evento que eu vim cobrir em Milão, de repente me vi sozinho diante do Duomo. Como eu gosto de fingir que a minha vida é um filme, pus os fones de ouvido e dei play em "Il Duomo di Notte", clássico de Alberto Fortis. Fiquei por ali alguns minutos, zanzando feito um zanzare e fotografando a catedral sob a lua cheia. As "piruetas de areia" de que fala a letra da música saltavam em 3D, tanta beleza junta que eu nunca mais vou me recuperar. Aí, alterado depois de quatro drinks, percebi que estava perdido e que não sabia voltar para o hotel.

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

TU VUÒ FÀ L'ITALIANO

"No, io non parlo italiano. Capisco bene, ma parlare non è qualcosa d'automattico per me. Penso a ogni parola prima di dirla. Grazie tantissime!" É com essa falsa modéstia que eu venho encantando os nativos aqui em Milão. Sono il brasiliano che fa un sforzo! E fiz mesmo. Passei o último mês ouvindo Tiziano Ferro e assistindo RAI, para ir acostumando o ouvido e dar de gostoso ao chegar na Itália. Claro que ainda não posso dizer que falo a língua de Dante.  As entrevistas que eu farei serão em inglês mesmo, para diminuir o risco. Mas como é gostoso fingir que eu falo! Só não sei qual é a minha palavra favorita. Zanzare, sviluppo oppure raggiungere?

ROLÉ À MILANESA

Ciao da Milano. Cheguei hoje de manhã e fico até quarta. Vim cobrir um evento; mando notícias em breve. Agora quero mais é trocar de roupa e nem descansar, porque o tempo é curto e a cidade é grande. Esta é a minha terceira vez aqui, mas nunca passei mais do que uma noite. Dessa vez serão duas, iupiii! Mas tenho muito trabalho pela frente, algumas horas livres para ver o "Cenacolo" e nenhum dinheiro para torrar na Via della Spiga. Ma senza sbattimento, bella.

domingo, 28 de janeiro de 2018

UNICÓRNIOS NÃO EXISTEM

Já faz parte do folclore o sujeito homofóbico, político e/ou religioso, que um belo dia é flagrando chupando rola no banheiro da Rodoviária. Mas existem maneiras mais sutis da homofobia introjetada se manifestar. Uma delas são os chamados "unicórnios": homens assumidamente gays que, no entanto, se casam com mulheres, têm filhos e se dizem abençoados pelo Senhor. Aqui no Brasil há vários casos de ex-gays evangélicos. Nos EUA, a categoria dá um passo além: os caras admitem que ainda sentem atração pelo mesmo sexo, mas que a fé em Deus e o amor de uma boa moça os reconduziram ao caminho da salvação. Um dos unicórnios mais famosos era Josh Weed, criado na Igreja Mórmon - uma das denominações mais intolerantes com a homossexualidade. Cinco anos atrás, já casado com Lolly e pai de uma ninhada, Josh contou sua história em seu blog, The Weed, e imediatamente viralizou. Deu entrevistas, foi a programas de TV e se transformou num exemplo - e numa arma - das igrejas contra as bichinhas de seus rebanhos.

Agora não mais. Na semana passada, através de um textão em seu blog, Josh anunciou que ele e Lolly estão se divorciando. O texto é realmente longo e doloroso, cheio de rebuscadas refutações a princípios religiosos, mas termina com um pedido de desculpas a todos os LGBT que possam ter sofrido por causa do casamento unicorniano de Josh Weed. É uma atitude digna e corajosa, além de, é claro, um golpe considerável nos homofóbicos que usavam esse caso para "iluminar" as gueis. Veja bem, eu acredito na fluidez da orientação sexual, e acho perfeitamente possível que um gay se case com uma mulher hétero e seja feliz. Mas esta relação tem que ser construída sem mentir (especialmente para si mesmo) nem se dobrar aos ensinamentos de quem quer que seja. Josh Weed enfim caiu na real. Que continue servindo de exemplo, mas agora ao contrário.

sábado, 27 de janeiro de 2018

CRIME EM DOWNTON ABBEY


Agatha Christie voltou à moda no cinema. Depois de "Assassinato no Expresso do Oriente", Kenneth Branagh já está filmando "Morte no Nilo", onde volta a encarnar o detetive belga Hercule Poirot. Outros títulos estão em produção, e alguns já estão chegando entre nós. Como "A Casa Torta", feito para a TV inglesa mas com elenco de peso e já disponível para aluguel no sob demanda. Glenn Close mais uma vez faz uma mulher sinistra e, se o clima é meio "Crime em Downton Abbey", é também porque aqui o roteirista é Julian Fellowes, o criador daquela série. Eu não me lembro de ter lido na minha fase agatheana na adolescência, então a revelação do assassino me pegou de surpresa - só posso adiantar que é meio polêmico para os dias de hoje, e vai ver que foi por isto que o filme só foi para o cinema em poucos países. Assista com precaução.

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

TRÊS MÃOS E TRÊS PERNAS

A única edição do ano da "Vanity Fair" que eu faço questão de comprar em papel é a de março, o famoso "Hollywood Issue" (que, na verdade, sai no começo de fevereiro). A revista de 2018 talvez valha milhões no futuro, por causa do aparente erro de Photoshop que aparece na capa: a terceira perna de Reese Witherspoon! A "VF" já esclareceu que, infelizmente, se trata apenas do forro do vestido da atriz, que nenhum estagiário achou que deveria ser clareado. A própria Reese reagiu com bom humor, agora que sabemos que ela é uma alienígena.
Um pouco mais grave é a terceira mão da Oprah, que só apareceu numa foto publicada no site da revista (e já devidamente apagada). Aqui, sim, a "VF" assumiu o erro - que não deixa de ser estupefaciente numa publicação desse nível, ainda mais quando as imagens são produzidas com alguma antecedência. No mais, há duas peculiaridades dessa capa dignas de nota. Uma é a presença de Nicole Kidman, que também apareceu no primeiríssimo "Hollywood Issue" há nada menos que 22 anos. Brava! A outra é a ausência de James Franco, limado na última hora por causa das cinco acusações de assédio sexual. Que desastre.

PROPAGANDA NÃO-NEUTRA


Passei da idade de gostar de fast food, mas adorei a nova campanha do Burger King. Ao invés de colocar mais bacon no hamburger, a rede postou há alguns dias o vídeo acima em seu canal no YouTube, explicando da maneira mais didática possível o que é neutralidade da internet. É óbvio que o governo Trump vem se aproveitando da ignorância do público para aprovar leis que só irão tornar os serviços mais lentos e mais caros. E não deixa de ser surpreendente que uma grande corporação como a BK assuma uma posição tão clara contra os interesses do capital. Mas é um marketing que faz todo o sentido: o frequentador de lanchonetes é jovem e duro. Se gastar seus tostões para navegar mais rápido na web, vai ficar sem dinheiro para comer Whooper. Além do mais, esse tipo de iniciativa é um golaço para a imagem da marca, já reforçada por este outro filme, anti-bullying, divulgado ano passado. Acho que vou ter que prestigiar e comer lá.

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

UM DESASTRE DE ARTISTA


Não sei se "The Room" chegou a ser exibido no Brasil. Talvez tenha vindo para algum festival que me escapou. Só sei que agora estou morrendo de vontade de ver aquele que é chamado de "o 'Cidadão Kane' dos filmes ruins". A rodagem dessa obra-prima do trash é o assunto de "O Artista do Desastre" (cujo título em Portugal, melhor que o nosso, dá o nome desse post). James Franco deita e rola como Tommy Wiseau, o sujeito misterioso que não entendia picas de cinema e no entanto se achava no nível de Orson Welles. Financiando do próprio bolso a produção de um roteiro que ele mesmo escreveu, Wiseau cometeu um longa terrível, que ficou em cartaz por apenas duas semanas mas logo ganhou status de cult. Numa interpretação exagerada como a de Johnny Depp em "Piratas do Caribe", Franco ganhou o Globo de Ouro de ator de comédia e era tido como um dos prováveis indicados ao Oscar, até ser derrubado por cinco denúncias de assédio sexual. Nada disso diminui a galhofa que é "O Artista do Desastre", dirigido por ele mesmo. O sinistro Wiseau chega a ser comovente em sua falta de noção, e o desfile de estrelas famosas em pontas rápidas (Melanie Griffith! Sharon Stone! Zac Effron!) só aumenta a diversão. Mas até fiquei na dúvida: esta fissura de virar estrela sem ter nada do talento para isto não estaria mais para a tragédia?

BOLSO FURADO

A condenação de Lula em segunda instância tem uma consequência alvissareira para quase todo mundo, inclusive os petistas. Sem o ex-presidente no páreo, a tendência é o Bolsonazi ir murchando nas pesquisas. Um ajudava o outro, afastando ainda mais as pontas do eleitorado. Agora duvido que o milico sequer chegue ao segundo turno - ainda mais porque a imprensa continuará a desencavar os pecadilhos cometidos por ele e seus filhos, uma família de políticos profissionais que há décadas não tem outra fonte de renda. Resta sabermos se a extrema-direita ressurgiu no Brasil para ficar, como aconteceu na Europa, ou se a provável pane do líder arrastará consigo os bolsominions. O perigo agora é vencer alguém que mantenha o esquema do MDB no poder.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

TRÊS A ZERO

Hoje passei o dia trabalhando em casa, com a TV ligada na Globo News. Assisti a quase todo o julgamento do Lula. Por um lado, acho uma pena que a primeira condenação do ex-presidente tenha sido relativa justamente ao caso do triplex do Guarujá, que ele nunca chegou a usar. O sítio de Atibaia tinha provas mais incotestáveis. Por outro lado, mesmo se Lula tivesse sido flagrado em público esfolando uma criancinha viva, a militância mais exaltada estaria gritando "é golpe!" ou clamando o fim da democracia. Mas há algo mais intrigante no ar: apesar da histeria de todos os lados e da cobertura da imprensa, muita gente está indiferente ao resultado. Sinal de que Lula já era? Ou de que o brasileiro se desinteressou da política e entregou tudo para Deus? Lula agora vai tumultuar o que puder o processo eleitoral, muito mais interessado em seu projeto pessoal de poder do que em melhorar a vida da populacão. Seria melhor para os nossos ouvidos que ele pudesse concorrer em outubro, e uma derrota nas urnas talvez - eu disse talvez - provasse a ele que seu tempo já passou. Para mim, este julgamento em si não muda nada. Acho que Lula desperdiçou muitas oportunidades para fazer reformas reais, ao focar no aumento do consumo que lhe renderia vitórias eleitorais mais facilmente. E muitísismo mais grave que sítio ou triplex é a bandalheira que ele e o PT fizeram na Petrobras e em toda a economia brasileira. O mais triste é que as opções a ele continuam pífias. Não surgiu um Macron ou um Obama no Brasil, alguém de fato novo mas vindo de dentro do sistema. Pelo andar da carruagem, vou acabar votando na Marina Silva.

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

FOMOS INDICADOS

Suspiro de alívio: "Me Chame pelo Seu Nome" recebeu quatro gloriosas indicações ao Oscar, das cinco que eu achava possíveis (só Michael Stuhlbarg ficou de fora, do páreo de ator coadjuvante). Fico especialmente embevecido pelo meu protegé Timothée (que os americanos teimam em chamar de Timotí), mas sei que o filme só tem chance mesmo de levar o prêmio de roteiro adaptado e, quiçá, melhor canção. No resto, nenhuma grande surpresa, só pequenas. "The Post" não colou; duas míseras indicacões, ainda que em categorias importantes. "Trama Fantasma" e "Destino de uma Nação", por outro lado, surpreenderam os palpiteiros. O alemão "Em Pedaços", que levou o Globo de Ouro e o Critic's Choice Award e de repente se tornou favorito, acabou ficando fora da disputa pelo Oscar de filme em língua estrangeira. E não, o brasileiro Rodrigo Teixeira não está entre os indicados a melhor filme por "Me Chame pelo Seu Nome": o nome dele não está entre os quatro produtores listados pela Academia. Mas Carlos Saldanha concorre com "O Touro Ferdinando" pelo prêmio de longa em animação, então vai, Brasil!! E vai, "Me Chame". Eu me sinto indicado com você.

NOTÍCIA PARA QUEM PRECISA


Steven Spielberg rodou “The Post” a toque de caixa, para que o filme ficasse a pronto não só de concorrer aos prêmios de 2017, como também para servir como libelo contra o governo Trump. Trata-se de um thriller onde os tiros de verdade só são disparados na sequência inicial, que se passa em plena guerra do Vietnã. No resto do tempo, é aquela adrenalina que jorra quando a imprensa peita os poderosos, um tema que nunca envelhece. “The Post - A Guerra Secreta” fala de uma episódio que aconteceu logo antes do escândalo Watergate, quando a Casa Branca de Nixon conseguiu uma ordem judicial para impedir o “New York Times” de publicar uma batelada de documentos que revelavam as mentiras que sucessivos presidentes contaram para justificar o envolvimento dos EUA no Sudeste Asiático. Com o rival emudecido, o “Washington Post” - até então visto mais como um jornal de expressão local, apesar de ser publicado na capital do país - teve a oportunidade de divulgar os arquivos. Mas será que deveria? Ainda mais no momento em que a empresa abria seu capital na bolsa de valores? Esse dilema ético é o cerne da trama, que tem na “publisher” Kay Graham sua verdadeira protagonista. Educada para ser mãe e esposa, ela se vê como a manda-chuva do “Post” depois do suicídio do marido, sem ter tido o menor preparo para a função. Meryl Streep, ótima como sempre, passa com clareza o processo de empoderamento da personagem, que além de tudo enfrentou o machismo escancarado do início dos anos 70. O resto do elenco, com Tom Hanks à frente, dá o show que se espera num filme de Spielberg. Tenso, inteligente e com alguns momentos de humor, “The Post” não é um filminho escapista, muito pelo contrário. Não vem conseguindo as indicações e prêmios que almejava, mas cumpre sua missão maior com galhardia. Na era das “fake news” divulgadas por WhatsApp, é sempre bom lembrar que a chamada “mídia manipuladora” ainda é o mais próximo que nós temos de uma espécie de guardiã da verdade.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

MIRANTE DO VALE

Há mais de dez anos que eu não ouvia falar da banda de electropop Fischerspooner, na verdade o vocalista Casey Spooner e quem mais estiver tocando. Assisti ao show deles em um antigo Skol Beats e desconfiei que Casey era do Vale, mas agora não resta a menor dúvida. Aliás, resta: alguém aí sabe me dizer o que é "TopBrazil"? Parece que é uma posição sexual, mas como é que é?

AMIGA, SEJE MENAS

Se eu fosse a Cristiane Brasil, desistia desse sonho de ser ministra do Trabalho e voltava quietinha para o Congresso. Pronto, passou, foi mal, não se fala mais nisso. Porque, a cada capítulo dessa novela da posse - e tem dias que tem mais de um - a imprensa repisa que a moça foi condenada em processos trabalhistas, que é filha de um corrupto que já foi preso e até que mente a idade nos aplicativos de pegação. Tanta exposição negativa não faz nada bem aos planos de Cristiane de se reeleger deputada em outubro. Aposto que seu eleitorado não sabia de tantos furos em seu currículo. Por outro lado, é sensacional que as reviravoltas desse imbroglio continuem e reduzam as chances da Cris. Melhor não dar ideia, né?

domingo, 21 de janeiro de 2018

CINEMA EM CENA

É curioso como David Mamet, um autor tão importante do teatro atual, foi tão pouco montado no Brasil. Além do mais porque suas peças não requerem grandes produções. O que importa em Mamet é a palavra: bastam bons atores (OK, vai, bom ator está em sempre em falta). Mas talvez achem que Mamet é americano demais. Suas obras falam de temas que sacodem a sociedade dos EUA há décadas, como o capitalismo selvagem e a correção política. "Hollywood" não foge à regra, mas finalmente ficou pertinente ao Brasil porque trata de assédio sexual. E também da ambição de dois produtores de cinema, entusiasmados com um roteiro que lhes parece ser de um grande sucesso. Cabe à nova secretária mostrar que não é bem assim, num jogo em que nem sempre fica claro quem está seduzindo quem. A direção de Gustavo Paso consegue o prodídigo de usar planos de cinema sem precisar de câmera: tem close, zoom, corte, tudo no mesmo palco. Rubens Caribé e Luciana Fávero estão ótimos, e eu me surpreendi com Iuri Saraiva, que eu nunca tinha visto e que pode virar o Adam Driver brasileiro. "Hollywood" fica em cartaz no SESC Pinheiros, em São Paulo, até 11 de fevereiro; nos fins de semana seguinte serão apresentadas duas outras peças de Mamet, "Oleana" e "Race". Aproveite.

ME CHAME PELA TERCEIRA VEZ

Não resisti. "Me Chame pelo Seu Nome" entrou em cartaz no Brasil, e lá fui eu de novo. Sabe qual foi o penúltimo filme que eu vi três vezes? "Io Sono l'Amore" (me recuso a usar o título idiota em português), de Luca Gauadgnino - pois é, o mesmo diretor. Também vi dele há pouco tempo "Um Mergulho no Passado", no streaming, feito entre essas duas obras-primas e também muito bom. Alguns temas recorrentes estão claríssimos. Nesses três filmes de Guadagnino, a casa - sempre uma locação, nunca um cenário - é praticamente um personagem, e todas têm piscinas onde acontecem coisas. Objetos, obras de arte, comida, música de fundo: o mundo sensorial invade a tela. Por isto que uma amiga minha disse que "quer morar" em "Me Chame pelo Seu Nome". Em também quero.

Mas nem todo mundo quer. Fui com uma amiga hétero e taurina ao cinema, já prevendo que ela não iria gostar. Antes da sessão, avisei: não é um filme de trama, é uma memória, uma sensação, um primeiro amor que dá muito certo e não dá. OK, disse ela, vamos em frente. No começo ela até se extasiou com a beleza das paisagens, mas na meia hora final se rendeu ao celular. Precisei cutucá-la para não perder o incrível take do Chalamet que encerra o filme, o famoso close em frente à lareira - e ela não achou nada demais. Alguns críticos têm tido reações parecidas, o que me faz temer pelas chances do filme no Oscar. Será que "Me Chame pelo Seu Nome" funciona como um apito para cachorro? Que só as guei conseguem escutar essa sinfonia de encantamento? Não sei. Só sei que agora eu vou dar um tempo. Mas, sim, uma quarta vez acontecerá, em DVD ou na Netflix. Aos 57 anos, descobri mais um dos filmes da minha vida.

sábado, 20 de janeiro de 2018

DEBATE QUE BATE-BATE

Em 30 de novembro do ano passado, participei de um debate promovido pelo Instituto Brasileiro da Diversidade chamado "Conciliação Cultural LGBTQ+Negra". Alguns momentos do encontro foram divulgados no YouTube desde então, mas só ontem foi postada a versão completa, com três horas de duração. Senti que a discussão pendeu mais para o lado negro do que para o gay, inclusive porque os primeiros eram maioria no palco e na plateia. E confesso que me surpreendi com a agressividade de alguns militantes: ué, a gente não estava ali para se conciliar? Enfim, tá aí para quem quiser conferir. Foi uma experiência interessante. Agora que perdi mais essa virgindade, que me venha logo o próximo debate.

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

CURATIVO DE PEGAÇÃO


A maioria das pessoas associa a circuncisão aos judeus, e muitos se esquecem que ela também é praticada pelos muçulmanos. Quase ninguém lembra que a prática é comum por toda a África, funcionando como um rito de passagem para a idade adulta. É de um ritual desse tipo de que trata o filme "Os Iniciados", inscrito pela África do Sul no próximo Oscar e um dos nove semifinalistas ao prêmio. Aposto que ele é um dos três escolhidos por um comitê especial, assim como o também africano "Félicité". Ambos têm muita câmera na mão e aquele estilo meio frouxo de narrativa que não me desce bem. E olha que "Os Iniciados" tá cheio de homens se agarrando, embora um local onde rapazes se recuperam de um corte a seco no pinto não me pareça o melhor para fazer pegação. Sim, achei chato um filme de temática viadal. Mas acrescentei mais um título à minha listinha de concorrentes ao Oscar.

DONATELLA DA PORRA TODA


Eu admito: "O Assassinato de Gianni Versace" teria que ser muito ruim, mas muito ruim mesmo, para que eu não achasse fabuloso. Mas Ryan Murphy, responsável por séries como "Glee" e "AHS", mantém um padrão altíssimo, apesar de produzir sem parar. E suas duas últimas minisséries - "The People Vs. O. J. Simpson" e "Feud: Bette and Joan" - estão entre as melhores de todos os tempos. Só pelo primeiro episódio, sinto que "Versace' vai pelo mesmo caminho. Os quatro protagonistas estão formidáveis. Darren Criss pode ir abrindo espaço na prateleira para o Emmy que deve ganhar pelo papel de Andrew Cunanan, o assassino. O venezuelano Edgar Ramírez espanta mais uma vez pela versatilidade como o famoso estilista. Ricky Martin continua um deus aos 46 anos. Mas quem mais me impressionou foi Penélope Cruz, que usa uma voz grave e com sotaque italiano para encarnar Donatella Versace. Muitas cenas foram gravadas na Casa Casuarina, a mansão de Miami Beach onde o crime aconteceu, e a overdose de cores e medusas é uma alegria para os olhos. Mas no meio de tantas festas, óperas e desfiles está uma história escabrosa. Cunanan era um caso extremo de homofobia introjetada. Bonito e descolado, ele lidava tão mal com o fato de ser gay que matou nada menos que cinco homens (Versace foi o último). Agora tô doido pra ver o resto da série.

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

LENHA NA FOGUEIRA

Dylan Farrow não quer apenas que as pessoas acreditem que ela tenha sido abusada por seu pai adotivo, Woody Allen, quando ela tinha sete anos de idade. Ela também quer que todos os atores que trabalharam com Woody nesses anos todos lhe peçam desculpas de joelhos, e que ninguém mais se atreva a chegar perto desse perigoso comedor de criancinhas. Até pouco tempo atrás, sua história era recebida com uma certa desconfiança. Afinal, Dylan pode muito bem ter sido manipulada por mami Mia, que jurou vingança depois de ter sido trocada por outra de suas filhas adotivas, Soon-Yi. Woody sempre negou tudo, e é apoiado pelo filho adotivo Moses - que garante que sim, Mia plantou essa história na cabeça de Dylan. Onde está a verdade? Talvez jamais saibamos. O fato é que Woody nunca foi processado criminalmente por este caso, então acho bem complicado dizermos que ele é culpado e portanto merece o fogo do inferno (nem se de fato fosse, o que eu ainda duvido). Mas o clima cultural virou. Agora ninguém precisa provar nada. Basta choramingar que alguém fez algo feio e pronto, a mídia e o mundo caem em cima do acusado, igualzinho à Santa Inquisição. Eu prefiro não concluir que, se Harvey Weinstein era um escroto, então Woody Allen também é, então todos os homens são, então que vão todos para a fogueira. Talvez estejamos mesmo em uma revolução, e toda revolução, ainda que justa, comete excessos. Nem por isto eu preciso concordar com eles.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

FUNK CENSURADÃO

Não gosto da censura, venha ela do estado ou não. Fiquei putinho quando os fraldas-marrons do MBL conseguiram que o Santander fechasse a mostra "Queermuseu" em Porto Alegre. Também abomino falas do tipo "seu filme não deveria existir", como Daniela Thomas ouviu ao exibir "Vazante" no festival de Brasília. Dito isto, não acho ruim que "Só Surubinha de Leve" tenha desaparecido da internet. O funk de MC Diguinho tem mesmo uma letra que incita o estupro. Quanto à música, não sei - não cheguei a ouvir - mas suspeito que não seja uma obra-prima. Este me parece só um caso extremo da atual fase anal da MPB, indentificada por Lulu Santos e assunto da minha coluna de hoje no F5. Ainda somos um país de merda, e a nossa cultura reflete isso. Mas também é um sinal claro de que o movimento #MeToo finalmente está pegando no Brasil.

NUESTRO HOGAR


Fazia tempo que eu não me encantava com um filme da Pixar. Até pulei alguns, tipo "Carros 17". Mas "Viva - a Vida é uma Festa" me pegou de jeito. Encheu-me os olhos, literalmente - transbordei de lágrimas no final. Mas não eram de tristeza: "Coco" (o título original se refere à bisavó do protagonista, que mal resmunga três palavras) é mesmo uma celebração da vida, apesar de quase só falar da morte. Boa parte da história se passa no "inframundo", a terra dos espíritos que ainda são lembrados, uma variante de "Nosso Lar" salpicada de monumentos mexicanos. A cultura tão rica de lá rendeu um visual coloridíssimo, e as texturas e profundidades são tão bem feitas que dispensam óculos para parecerem 3D. Só achei que as músicas podiam ser melhores: num mundo justo, "Remember Me" não seria páreo no Oscar para minha adorada "Mystery of Love". Mas é claro que saí do cinema me roendo de saudades do México, um país para onde já fui muito, mas onde não ponho os pés há longos sete anos. Que vontade de me afundar em tajín, guey.

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

RODA DE LA VIVA


Ontem foi ao ar meu segundo "Roda Viva" - na verdade, o primeiro de que eu participei, gravado no final de setembro. O convidado foi o Hélio de la Peña, um cara com tantos talentos que a conversa fluiu fácil. Mas o programa demorou tanto para ser exibido que achei que fosse por eu ter ido muito mal. Até que nem tanto, hein?

O CONTO DA MÁ FEMINISTA

Se alguém ainda tinha dúvidas de que o mundo virou de cabeça para baixo, então cata essa: Margaret Atwood está sendo acusada de trair a causa feminista. Sim, Margaret Atwood, autora de "O Conto da Aia", o livro em que se baseia a série "The Handmaid's Tale". Margaret Atwood, que tem mais de 40 anos de carreira e uns trocentos livros lançados, muitos deles romances em que uma protagonista mulher sofre sob uma sociedade machista e repressora. A escritora canadense se tornou um alvo depois de publicar no sábado, no jornal "The Globe and Mail" de Toronto, um artigo onde defende que os homens acusados de abuso sexual não merecem demissão sumária, e sim um processo pelas vias legais. Deveria ser óbvio, mas não é. Como não defende a imediata execução em praça pública de quem for suspeito de passar uma cantada indesejada, Atwood está sendo xingada de bruxa e coisa pior. É o tal do radicalismo imbecil a que eu me referi no post "Guerra Certa, Batalha Errada": para esses malucos, se você não compartilha da ira santa que prega o extermínio do inimigo, então você também é o inimigo. Catherine Deneuve é outra que vem sendo atacada, inclusive por quem nem se deu ao trabalho de ler o manifesto que ela assinou com outras francesas.

Mas também estão surgindo mais vozes contra os exageros. Como a da articulista Bari Weiss do New York Times, que publicou uma resposta contundente ao mais novo escândalo fabricado nos EUA, a acusação de assédio ao ator Aziz Ansari. Uma garota que não quis se identificar saiu em setembro passado com o criador da série "Master of None". Quase quatro meses depois, ela achou que seria uma boa ideia vazar para o site Babe as mensagens que trocou com Aziz no dia seguinte, onde choraminga que ele não entendeu as "dicas não-verbais" que ela teria emitido quando os dois foram para a casa dele se agarrar. Só que não houve violência: quando percebeu que não ia rolar, o ator chamou um Uber para levá-la para casa. Agora a moça acha que tudo bem tentar destruir a carreira dele. Leia abaixo:

Um que já está tendo a carreira destruída é Woody Allen. As antigas acusações de sua ex-mulher Mia Farrow, de que ele teria abusado sexualmente de Dylan, filha adotiva dela, finalmente estão colando. Mia é algo suspeita: foi trocada por Woody por uma outra filha adotiva sua, Soon-Yi, e não há fúria maior neste mundo do que a de uma mulher abandonada. O curioso é que ela mesma admitiu que Rowan, o filho biológico que teria tido com Woody, na verdade é de seu ex-marido Frank Sinatra, com quem ela teria pulado a cerca. Dizer para um homem que um filho é dele, quando na verdade não é, é uma das maiores barbaridades que uma mulher pode cometer. Mas para isto ninguém liga, né? O clima de histeria é tamanho que até Timothée Chalamet, astro do próximo filme do diretor, declarou que irá doar para várias ONGs o cachê que recebeu. Não estou dizendo que Woody Allen seja inocente: só acho que, como explicou Margaret Atwood em seu artigo, a acusação não basta para ele ser crucificado.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

FORZA, GLEISI

É preciso muita fé no fanfic de esquerda de que Lula é um líder adorado em todo o planeta para achar plausível a torcida do Bayern desenrolar no estádio uma faixa de apoio ao ex-presidente. Ou então, estar no mesmo nível de desespero da senadora Gleisi Hoffman, que torce para que uma vitória arrasadora do PT livre a ela e ao marido do xilindró. Mais um vexame para o currículo da Narizinho - embora menor, é verdade, do que apoiar a ditadura venezuelana.

GUERRA CERTA, BATALHA ERRADA

Meu post de quinta passada sobre os ataques que a peça "Gisberta" vem recebendo de alguns movimentos de transexuais e travestis foi expandido para a minha coluna de sexta no F5, que vem repercutindo até agora. Recebi elogios e até agradecimentos de muita gente, inclusive de artistas trans. Também fui criticado, como era de se esperar. Teve gente que entendeu que, se eu não apoio aquele protesto em si, então eu não apoio em nada a causa trans, o que não é verdade. Aliás, é bem cansativa essa postura tudo-ou-nada de alguns militantes mais exaltados. Quem não está 100% alinhado com a cartilha deles faz parte do inimigo a ser eliminado. Enfim, resumindo: acho que travestis e transexuais precisam de mais inclusão e visibilidade, e não só no teatro. Mas as manifestações contra o Luís Lobianco foram de uma infelicidade ímpar, deixando um cheiro de censura no ar. Foi uma batalha muito mal-escolhida dentro de uma guerra justíssima. O saldo positivo desse imbroglio é que o debate está rolando. Com muita humildade e vontade de aprender, estou gostando de fazer parte dele.

domingo, 14 de janeiro de 2018

UM TÁXI PARA A REVOLUÇÃO


Nunca me lembro que a Coreia do Sul, talvez o país de desenvolvimento mais meteórico dos últimos 50 anos, era uma horrenda ditadura militar até 1980. Como suas similares na América Latina, a de lá também se dispunha a combater os comunistas - com a desculpa deles estarem bem perto, na Coreia do Norte, a pouco mais de 60 km de Seul. Mas a transição para a democracia de lá foi bem mais sangrenta do que por aqui, como se pode ver em "O Motorista de Táxi". O filme começa em tom de comédia, com um protagonista bonachão, na batalha do trânsito para sustentar a filha órfã de mãe. Mas o caldo logo engrossa quando ele rouba o trabalho de um colega para levar um jornalista alemão a uma cidade no sul do país, onde está acontecendo um levante estudantil. Totalmente despolitizado até então, o cara acaba aderindo ao movimento e descobrindo um heroísmo inédito dentro de si. "O Motorista de Táxi" foi a maior bilheteria do ano passado na Coreia e escolhido para representar o país no próximo Oscar (ficou de fora dos nove pré-classificados). Mas é longo demais e pouco didático, e duvido que faça sucesso por aqui. De qualquer forma, é sempre bom aprender mais sobre o outro lado do mundo. E ainda saí com vontade de provar kimchi.

sábado, 13 de janeiro de 2018

BOM-SENSO E INSENSIBILIDADE

Não é que as pessoas não estejam sensíveis demais. Elas estão, e não é de hoje. Aliás, têm mais é que estar mesmo, quando o presidente dos Estados Unidos não têm vergonha de falar em "shitholes countries" na frente de parlamentares da oposição. Mas o que me espanta é como ainda tem diretor de marketing sensível de menos. Não creio que tenha havido racismo proposital nessa foto aí ao lado, produzida para o site britânico das lojas H&M. Até porque o garoto estava acompanhado pela mãe, que não viu maiores problemas. Mas como é que não tem ninguém, na longa engrenagem que vai do clique da foto até ela surgir online, com o bom-senso para perceber que ela vai ser interpretada como racista? O resultado são muitos protestos e algumas lojas saqueadas na África do Sul. É, o mundo está mudando - mas em velocidades diferentes.

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

O LÍDER DA PORRA TODA


Perdão, Timothée Chalamet. Você tem todo o meu amor, mas não vai ter o Oscar. Pelo menos, não neste ano. Já devem estar gravando o nome de Gary Oldman na estatueta, porque a performance dele como Winston Churchill em "Destino de uma Nação" é tipo Liza Minelli em "Cabaret": não tem para ninguém, já ganhou tudo, vai entrar para a história. Dezenas de outros atores - inclusive bem mais parecidos com o ex-primeiro ministro britânico - encarnaram Churchill, mas Oldman faz a gente esquecer que estamos vendo uma atuação. Verdade que ele tem muita ajuda de um trabalho impecável de maquiagem, que deu às suas bochechas falsas a textura exata da pele de um idoso (pelos padrões de 1940). O filme em si é o lado B de "Dunkirk": mostra o que estava acontecendo nos centros do poder em Londres enquanto os soldados ingleses eram cercados pelos nazistas no norte da França. Quem for esperando ver cenas de batalha vai sair frustrado, mas fãs de séries tipo "The Crown" irão se deleitar. Churchill era esnobe, ranzinza, algo escatológico e já meio matusquela, mas era um Líder com L maiúsculo. Que sorte não estarmos em guerra, porque não tem ninguém parecido com ele nos dias de hoje.

MALHAÇÃO POR TARANTINO


E já temos a primeira grande série de 2018: "The End of the F*** World", disponível no Brasil há uma semana pela Netflix. Os mais afoitos conseguirão engoli-la de uma só vez, pois são apenas oito episódios com cerca de vinte minutos cada. A trama parece uma temporada de "Malhação" concebida por Quentin Tarantino: um casal de adolescentes entediados, colegas de escola, foge das respectivas casas no carro roubado do pai dele. O detalhe fofo é que o rapaz se acha um perigoso psicopata e está a fim de matar a garota, só para tirar onda. Ambos são totalmente despreparados para enfrentar o mundo lá fora (e olha que esse mundo é a civilizada Grã-Bretanha; no Brasil eles não iam durar cinco minutos). Com direção ágil, elenco incrível, tiradas de humor negro e, de vez em quando, sangue explodindo na tela, "The End of the F*** World" ganhou um final em aberto na TV, diferente da "graphic novel" em que é baseada. Os produtores querem a possibilidade de uma segunda temporada. Seria legal, porque os personagens são muito bem construídos. Por outro lado, do jeito que está, já está ótimo. Uma continuação pode estragar uma boa história.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

TRANSTUPIDEZ

Um ator cisgênero pode interpretar um personagem trans? É claro que pode. Um ator pode interpretar qualquer coisa: ser no palco o que não se é na vida real é uma das premissas básicas das artes cênicas. Mas um grupo de ativistas de Belo Horizonte achou por bem protestar contra a exibição do monólogo "Gisberta", baseado na história real de uma trans brasileira assassinada há dez anos em Portugal (e que rendeu uma canção épica de Perdro Abrunhosa, gravada no Brasil por Maria Bethânia). O motivo? O ator Luís Lobianco, integrante do Porta dos Fundos, é cis. Ou seja, é "transfake", segundo os burraldos que não fazem a puta ideia do que seja teatro. Pois é, macacada: teatro não é documentário, não precisa ser "de verdade", não é feito só para promover a visibilidade ou a aceitação de quem quer que seja. Reduzir o teatro ao "lugar de fala" e outros conceitos pseudomoderninhos é cercear a arte e tentar controlá-la, igualzinho ao que o MBL fez com a exposição "Queermuseu". Essa malta ignara ainda atropela o trabalho de atrizes trans como Nany People e Maria Clara Spinelli, que vêm fazendo papéis de mulheres cis com o maior talento e competência, nos palcos e na TV. Sim, pessoas trans precisam de emprego e respeito; não, atacar um aliado como Lobianco (que é gay assumido, além do mais) não vai ajudar a causa de ninguém. Parem de atirar em si mesmos, até porque ricocheteia em todo mundo.

ATUALIZAÇÃO: Vale a pena ler o textão que o próprio Lobianco publicou no Facebook. 

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

VAI, BRASIL

Pode a Ministra do Trabalho ter sido condenada pela Justiça do Trabalho? Segundo a Constituição, pode. Segundo a lógica do governo Temer, também. Só não pode pelo senso comum, esse malvado, que insiste em empacar reformas tão necessárias como a volta da escravidão. O mais chocante nem é alguém achar que Cristiane Brasil é qualificada para ser ministra: são os milhares de cariocas que AINDA votam nela, mesmo com o histórico de falcatruas do clã de Roberto Jefferson. O país não vai ter jeito enquanto votarmos em redentores para presidente e não dermos bola aos votos para o Legislativo. Somos o Brasil que merecemos.

PAQUERAR PODE

Catherine Deneuve está sendo aplaudida e execrada nas redes sociais, como se fosse a única responsável pelo manifesto divulgado ontem que vem causando celeuma no mundo inteiro. A atriz é apenas o nome mais conhecido fora da França entre a centena de signatárias da carta aberta publicada pelo jornal "Le Monde". O documento em si abre um debate pertinente, que pode ser saudável se todos os lados mantiverem a civilidade. Porque ele é um apelo à sanidade e um sinalizador das diferenças culturais entre a América caipira e a Europa sofisticada. Também contrasta a geração de Deneuve, que tanto lutou pela liberação sexual, com a das meninas de hoje em dia, que foi tratada a leite com pera e às vezes ignora tudo o que veio antes dela. 

Em linhas gerais, eu concordo com o texto. Paquera não é assédio, passar cantada não é crime e uma mulher adulta pode muito bem dar uma invertida sozinha nos chatos que a importunarem. Mas admito que há alguns trechos problemáticos: sugerir que "tocar num joelho, tentar roubar um beijo ou falar de coisas íntimas durante um jantar profissional" não têm nada de mais é forçar a barra. De qualquer forma, o feminismo radical nasceu nos Estados Unidos, e é impregnado pelo puritanismo atávico de lá. Dizer que qualquer relação heterossexual é um estupro é coisa de maluca mesmo, assim como achar que qualquer pornografia é uma violação à mulher - taí o pornô gay, que passa a léguas das xoxotas. Há um certo clima de caça às bruxas na onda de denúncias que vem grassando no showbiz americano, o que pode prejudicar uma causa que é para lá de justa. Mas a discussão é sempre bem-vinda. Discutamos, pois.

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

BOLSOMINTO

Já está acontecendo o esperado: a imprensa começou a desmontar a farsa Bolsonaro, revelando que o deputado e sua família vêm acumulando patrimônio de maneira para lá de suspeita. O engraçado é que os bozominions partiram em defesa do brucutu com a mesma cegueira com que petistas se recusam a ver os indícios contra Lula. Pode aparecer um vídeo do Bolsonazi devorando criancinhas que essa cambada vai dizer que é "armação da mídia", a expressão que serve para tudo. Aposto que vem mais denúncias por aí, porque o clã Bolsossauro não é exemplo de bom comportamento. Os fanáticos não terão sua fé abalada, mas o que importa é convencer os razoáveis que se deixaram enganar por este paladino fake. Veremos até quando ele dura.

A MULHER-INSETO

Séries sobre "serial killers" são como os tuítes do Trump: divertem em doses homeopáticas, mas torram a paciência se forem consumidas em excesso. Eu vejo só uma ou duas por ano, entre as trocentas que são lançadas. A primeira de 2018 já foi: é a francesa "A Louva-a-Deus", que conta uma história fechada em apenas seis episódios e é estrelada pela divina Carole Bouquet. Claro que a história é inverossímil, assim como os "serial killers" da vida real, mas o roteiro e as atuações  me surpreenderam até o fim. Programa perfeito para dias de chuva.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

SERTATÔNICO ELETRONEJO

Em geral, gosto muito de música eletrônica e abomino o sertanejo (há exceções). Mas acho interessante que os dois estilos se misturem, por mais improvável que pareça. Só que os resultados ainda deixam a desejar. A parceria entre Simone & Simaria com o totoso do DJ Alok rendeu o que seria chamado de reggaetón no resto do mundo, mas com letra mão-pesada e ausência de refrão pegajoso. De qualquer forma, é melhor que os álbuns das irmãs, sempre gravados ao vivo e impossíveis de ouvir sem que você esteja animadérrimo e/ou em coma alcóolico.
Ainda pior é "Paraíso", o dueto entre Lucas Lucco e Pabllo Vittar. A proposta é ousada, pois a letra sugere que os dois intérpretes vivem uma tresloucada noite de amor. Mas que musiquinha chinfrim, hein? Repetitiva e preguiçosa, apesar do arranjo moderninho. E não estava na hora da Pabllo turbinar esse repertório?

MANHÃ NA PAN

Aí acima está a versão integral do programa "Morning Show" transmitido pela rádio Jovem Pan de São Paulo na manhã desta segunda-feira, 8 de janeiro. Eu participo comentando a entrega dos Globos de Ouro, a partir dos 33:33. Não foi meu primeiro programa de rádio da vida, mas o primeiro com transmissão simultânea de imagens pela internet. Adorei fazer! Mas não é impressionante como as minhas mãos adquirem vida própria e parecem querer voar, voar?

domingo, 7 de janeiro de 2018

AGIR PARA CIMA


Estive na parada gay de Nova York de 1989, ano em que o Act Up veio com tudo, e tenho até hoje a camiseta "Silence = Death" que comprei naquela viagem. O mais barulhento grupo ativista da época braba da AIDS é responsável por milhões de vidas, que continuaram graças à pressão que ele fez sobre governos e laboratórios há mais de 20 anos. Mas só agora ganhou um filme à altura, "120 Batimentos por Minuto", que venceu o Grand Prix do último Festival de Cannes e foi selecionado pela França para tentar uma indicação ao Oscar (mas não ficou entre os nove selecionados). O diretor é Robin Campillo, que fez o excelente "Eastern Boys". Gostei tanto daquele filme que minha expectativa para este subiu demais. Achei a narrativa um teco convencional, e só a última cena me convenceu de que eu estava diante de uma obra de arte. Claro que o filme tem momentos emocionantes, porque boa parte daquela garotada já está doente e nem todos chegarão até o final. Mas o roteiro evita o grande problema da AIDS como assunto para a dramaturgia, porque até os anos 2000 só havia um desfecho possível para as histórias. Campillo capta a raiva e a angústia de uma geração ceifada assim que começou a transar. Eu faço parte dela, e só não morri por duas razões: 1) eu era travado e transava pouco; e 2) eu tive uma puta duma sorte, porque transei e até namorei com caras que não estão mais entre nós. De qualquer maneira, "120 Batimentos por Minuto" é obrigatório, principalmente para as novinhas que acham que a lacração começou com elas e que o mundo sempre foi um imenso aplicativo de pegação. Para que elas hoje vendam saúde, muita gente agiu e deu a cara a tapa e morreu. Respect.

MISS GLOBO DE OURO

Desde 1963, os Globos de Ouro gourmetizam a assistente de palco. A moça encarregada de trazer os troféus e escoltar os vencedores para a coxia é escolhida entre as filhas de algum astro famoso, que também esteja começando na carreira artística. Algumas até ganharam o prêmio mais tarde, como Melanie Griffith ou Laura Dern, toda pimpona aí ao lado aos 15 anos de idade. Houve alguns Misters, poucos, e em 2017 as três filhas de Sylvester Stallone dividiram as honras entre si. Este ano a tradição continua, mas com um novo nome: Ambassador, que em inglês é uma palavra neutra e portanto seria mais adequada aos tempos que correm. A primeira embaixadora será Simone Garcia Johnson, filha de Dwayne "The Rock" Johnson, mas suas funções continuam exatamente as mesmas de antes. Tomo então a liberdade de tomar o título para mim mesmo. Vou participar da cerimônia de hoje de duas maneiras. Logo mais à noite, estarei entre os comentaristas que a Folha escalou para um "live blogging". E amanhã, a partir das 10h, vou falar pelos cotovelos no "Morning Show" da rádio Jovem Pan de São Paulo. Ah, mais um sonho realizado.

sábado, 6 de janeiro de 2018

A ESQUERDA QUE NÃO QUER LULA

É curioso como ninguém consegue se unir no Brasil. A desarmonia entre os gays é histórica. A direita, que tem a maior chance de vencer uma eleição presidencial em décadas, não consegue chegar a um candidato palatável. E agora até a esquerda, que sempre cerrou fileiras atrás de Lula, vem se mostrando mais dispersa do que antes. É óbvio que muitos não querem se desgastar defendendo um sujeito que já verga sob o peso das acusações e condenações. Está cada vez mais difícil manter a carochinha do líder impoluto. Por mais que se acredite que nem o sítio nem o triplex do Guarujá sejam dele, taí a Petrobrás pagando três bilhões de dólares aos investidores americanos que se sentiram lesados pela corrupção. E foi no governo de quem mesmo que a empresa foi saqueada? A insistência de Lula em concorrer é a famosa faca de dois legumes. Por um lado, é o único nome da esquerda com penetração popular. O único que tem carisma e voto certo. Por outro, o ex-presidente é um buraco negro que suga todas as lideranças que poderiam surgir ao seu redor. Enquanto houver Lula, não vai haver Haddad, Manuela, Boulos nem ninguém capaz de crescer nas pesquisas. Além do que, a sucessora por ele escolhida revelou-se um desastre. Por isto, não deixa de ser sintomático que gente como Marcelo Freixo já esteja em outra - pelo menos neste momento, em que a corrida mal começou. Lula é a gasolina e o pneu furado, ao mesmo tempo.

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

AMOR SABOR PÊSSEGO

Só agora, depois de "Me Chame pelo Seu Nome" ter estreado nos EUA há quase dois meses e faltando menos de duas para o filme chegar às salas brasileiras, é que saiu o vídeo de "Mystery of Love", a delicada música-tema. Sufjan Stevens não aparece em nenhum momento: cenas do amor entre Elio e Oliver são intercaladas com estátuas greco-romanas,  também recorrentes no longa. Além, é claro, do pêssego - alguém aí ainda não sabe o que acontece com a pobre fruta?

QUEM É QUE PODE ME DIZER QUEM SOU?

Assisti à estreia de Fernanda Torres no teatro profissional, em 1982, em uma montagem estrelada de "Rei Lear". Ela tinha apenas 17 anos e fazia Cordélia, a filha mais jovem do monarca, ao lado de veteranos como Sérgio Brito, Ary Fontoura e Yara Amaral. O espetáculo ficou marcado a ferro na mente da jovem atriz, pois percorre todo o texto de seu excelente segundo romance, "A Glória e seu Cortejo de Horrores" (e é deste texto de Shakespeare que saiu o título do post). Os nomes dos envolvidos foram trocados, reprisando um truque que Fernanda já havia usado em seu livro de estreia, "Fim": ela pega episódios reais e os transforma em literatura. Se bem que aqui a produção do "Rei Lear" se enrola num matagal de notas frias, numa trama que irá provocar o desfecho da trajetória do protagonista, o ator Mário Cardoso (existiu um galã da Globo com este nome, mas o sujeito aqui é fictício). A longa carreira de Mário passa por quase tudo que se fez no teatro, no cinema e na TV desde a década de 1960. Novelas de sucesso, peças experimentais, o "Hair" com Sonia Braga, filmes de arte e outros nem tanto, até desembocar num folhetim bíblico em um canal evangélico. Dinheiro, fama, mulheres, drogas, o cara experimenta de um tudo. A ordem não-cronológica dos capítulos atrapalhou um pouco minha compreensão, mas não dá para negar que Fernanda Torres escreve bem pacas. Seu texto está mais elegante, sem piruetas do tipo olha-como-eu-sou-foda, mas sem abrir mão de imagens de impacto. "A Glória..." fatalmente virará filme ou minissérie, mas merece ser lido já. Temos uma nova grande escritora brasileira.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

RORSCHACH À BRASILEIRA

O que você vê nesta foto? Cuidado: sua resposta pode revelar que você é esquerdopata, reacionário, racista ou alienado. A imagem captada pelo fotógrafo Lucas Landau em Copacabana, na noite de Ano Novo, se abre a duzentas interpretações, de acordo com o olho de quem a vê. E a manipulação começou pela transformação em preto-e-branco do que originalmente era a cores. De fato, o impacto é maior em P&B: a cor escura do menino descamisado contrasta melhor com as roupas brancas ao fundo. Mas o que de fato se vê nesta foto?

Órfãos do PT no poder se refestelaram soltando memes como este ao lado, dando a entender que tal cena seria impossível antes do golpe. Só que há uma boa dose de fanfic envolvida: 1) Se o garoto está tomando chuva, então todo mundo está. Fora que não choveu no Rio na hora da virada... 2) O réveillon na praia não tem nada de elitista. 3) Dilma é a maior responsável pela recessão e desemprego que enfrentamos até hoje. Não é a única, mas é a maior. Aceitem.

O menino está molhado porque entrou no mar. E nada indica que ele tenha sido obrigado a entrar, ou expulso da areia. Talvez tenha ido mesmo só fazer xixi, já que a água gelada não era das mais convidativas para um mergulho. E seu olhar não é de desespero: é de deslumbre com os fogos, como o próprio fotógrafo admitiu. Mas o grupo de (aparentemente) brancos ali atrás lhe dá as costas, o que parece ser indiferença com a pobreza. Só que, peraí, que pobreza? Como vários internautas negros destacaram, precisamos parar com esse viés racista de achar que todo negro é pobre/abandonado/futuro bandido. A verdade é que não dá para concluir nada antes de sabermos quem é o garoto e com quem ele estava (ou não estava) na praia de Copacabana naquele momento. Até lá, vamos continuar nos digladiando nas redes sociais, num aperitivo do ano conturbado que vem por aí.

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

NATAL NO BURACO

Se não é justo que a polícia faça greve porque se trata de um serviço essencial, tampouco é justo o Estado não pagar por este serviço. É inacreditável que os policiais do Rio Grande do Norte estejam sem receber desde novembro, e é absurdo esperar que eles trabalhem assim mesmo. Como que ficam discutindo a legalidade da greve, quando o número de mortos já passa de cem? O problema do Brasil não vem da esquerda ou da direita, vem da pura e simples incompetência administrativa. O buraco é bem mais fundo do que parece.

GAME OF STAMPS


Muitos países dão golpes de marketing ao lançar selos postais. Ganham mídia gratuita e transformam os selos em itens instantâneos de colecionador, valendo muito mais que o valor de face. É o que vai acontecer com a coleção britânica dedicada a "Game of Thrones". O autor da saga é americano e muitos do elenco vêm de outros países, mas não faz mal. A série é gravada na Irlanda do Norte, quase toda a equipe é britânica e, enfim, boa parte da trama é inspirada na história verdadeira da Inglaterra. Quero todos os 15 selos, mas claro que o meu favorito é o da Cersei. E, como diz a matéria do "Huffington Post" onde eu vi esta notícia, não precisa mais ter corvo para mandar uma mensagem para Westeros.

terça-feira, 2 de janeiro de 2018

1978 OU 2013?

Em 1978, o Irã inteiro se levantou de repente contra o xá Reza Pahlevi. Todo mundo aderiu e a monarquia caiu em menos de seis meses. Será que, quase 40 anos depois, a história se repete? Difícil dizer. O país sempre teve uma classe média educada, muito maior e mais sofisticada do que a de qualquer um de seus vizinhos. Há uma juventude de saco na lua de ser perseguida na rua pela polícia religiosa. Há também uma crise econômica resistente, que atinge quase todas as classes sociais - menos a Guarda Revolucionária, a verdadeira elite iraniana, hoje até mais forte do que os aiatolás. Mas será que a república vai deixar de ser islâmica? A única revolta recente no Oriente Médio que rendeu frutos foi a da Tunísia, berço da Primavera Árabe sete anos atrás. E o establishment do Irã é violento, mais do que disposto a matar qualquer oponente (não é para brincar de Guy Fawkes que o pessoal da foto ao lado tapa o rosto). Ainda tem Donald Trump tuitando apoio, o que provavelmente mais atrapalha do que ajuda os revoltosos. Ao invés de reviver 1978, o Irã pode estar passando por um 2013 à brasileira: muito barulho por nada