quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

LONA FURADA


Sou do tipo que adora musicais. No começo do ano, me indispus com a metade dos meus amigos que implicou com "La La Land". Mas não vou brigar com ninguém por causa de "O Rei do Show", o mais careta e capenga dos filmes musicais recentes. A história de P.T. Barnum, criador do circo moderno, já rendeu um espetáculo da Broadway, mas aqui ela foi lavada e enxaguada até quase se tornar um desenho da Disney (e olha que é uma produção da Fox, antes da compra). Barnum foi um tremendo picareta, explorador da miséria humana e capitalista selvagem numa época em que isso não era pecado. Leva a fama de ter cunhado a frase "nasce um otário a cada minuto" e a palavra "showbusiness", mas sempre se importou mais com o business do que com o show. Só que o Barnum encarnado por Hugh Jackman é um santo. Pai amantíssimo, esposo dedicado, empresário interessado em promover a diversidade e a inclusão... Tudo potoca, realçado pelas músicas ruinzinhas (as da cantora lírica são dignas de representar a Letônia no Eurovision) e pelas coreografias sub-Michael Jackson. "O Rei do Show" não é um filme chato. Não tem barriga, porque tudo acontece rápido demais - Barnum ganha e perde uma fortuna sem que suas filhas envelheçam um segundo. Mas é infantilizado, pouco ambicioso e extraordinariamente sem graça. Prefiro ver o circo pegar fogo.

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