Logo mais à tarde, das 15 às 18h, estarei mediando o debate Conciliação Cultural LGBTQ+Negra. Já teve leitor aqui no blog comentando que as duas agendas são irreconciliáveis, o que eu duvido - e, se são mesmo, como é que fazem os negros gays, por exemplo? Também teve quem lembrasse que existe bicha racista e negro homofóbico. Infelizmente, isto é verdade, ainda que às vezes o racismo se manifeste de maneira sutil. Confira o vídeo acima, onde o ator Sean Zevran reclama da inclusão da categoria "melhor cena étnica" nos GAYVN Awards, o Oscar do pornô gay. Por um lado, ele admite que o novo troféu dá visibilidade aos homens "de cor", que é como são chamados quase todos os não-louros de olhos azuis nos Estados Unidos. Por outro lado, Zevran diz que a categoria os cristaliza como diferentes, fora do padrão. Dou razão a ele. Além do mais, porque detesto compartimentos. Todo mundo tem mais é que se juntar, se misturar e ser feliz.
quinta-feira, 30 de novembro de 2017
quarta-feira, 29 de novembro de 2017
CANADÁ MAIS
Mesmo nos países mais liberais do mundo, até bem pouco tempo os gays eram demitidos do serviço público se sua homossexualidade fosse descoberta. Uma das desculpas oficiais era que eles poderiam ser vítimas da chantagem de espiões soviéticos. Mas, se sua viadagem deixasse de ser secreta, o que haveria para chantageá-los? O jogo virou, e a Grã-Bretanha até pediu perdão por ter perseguido Alan Turing, um dos gênios que possibilitou a informática e que acabou se suicidando. O Canadá foi além: o primeiro-ministro Justin Trudeau anunciou que o país irá gastar 110 milhões de dólares canadenses em indenizações a ex-servidores gays, demitidos nas décadas de 1950 a 1990. Desta forma, além de fazer justiça, Trudeau acaba de recuperar o título de político mais bacana do mundo, que ele havia perdido em abril para Emmanuel Macron.
(Obrigado ao Luciano Guimarães, do saudoso blog Muque de Peão, pela dica)
A PRINCESA ESCOLADA
Parte da imprensa está arregalando os olhos por Meghan Markle, a noiva do príncipe Harry, ser negra. Tecnicamente, ela é mulata - tem mãe negra e pai branco - mas o termo caiu em desgraça entre alguns militantes por causa do parentesco etimológico com a palavra "mula". Bobagem: ambos querem apenas dizer "mestiço". Mas hoje até quem tem apenas um bisavô negro já se considera negro politicamente, e isto não é mau. Este espanto da imprensa traiu um certo racismo, porque Meghan tem duas outras características que causariam escândalo em épocas passadas. Para começar, é mais velha do que o príncipe: tem 36 anos, e ele, 33. Para completar, é divorciada - ou seja, é uma mulher experiente, algo que a família real britânica rejeitava com veemência até forçar o príncipe Charles a se casar com a última nobre virgem do reino. Diana quase derrubou a monarquia, e os Windsor aprenderam a lição. Meghan Markle, além de linda e simpática, ainda tem a vantagem de ser atriz - ou seja, já chegou com o "media training" completo. Felicidades aos pombinhos, e que tenham pelo menos um filho gay assumido.
terça-feira, 28 de novembro de 2017
START MAKING SENSE
Björk entra no estúdio sem ter a menor ideia do que vai gravar. Abre o microfone e começa a improvisar letras e melodias: auauauauauuu, blóblóblóblóbló, ffffrrrrrr, pghbvwsrxz. Depois, ela e seu produtor acrescentam harpas celestiais, percussão arrítmica, escapamentos abertos e campainhas. Pisam em cima das fitas, viram-nas pelo avesso, fervem em banho-maria. Aposto que foi assim que fizeram o álbum "Utopia" (cuja capa foi claramente inspirada na socialite racista). A música da islandesa mais famosa de todos os tempos não pode mais ser chamado de pop. Nos momentos mais iluminados, soa como a trilha sonora do comercial de um spa de luxo. Nos sombrios, lembra a cacofonia de vozes sinistras que de vez em quando destampa nas nossas cabeças. Se eu gostei? Achei sublime, irritante, sei lá. Agora vou me transformar num pirilampo.
STOP MAKING SENSE
Mr. Sam, o argentino que inventou Gretchen nos anos 70, não gostou de "Falsa Fada". O lendário produtor acha que sua criatura não pode cantar em português - só em outras línguas, e com letras que não fazem muito sentido. Depois de ouvir a nova música da Rainha dos Memes (que está mais para a nova música do tal do Rody feat. Gretchen), eu tendo a concordar. Ainda mais porque a compilação "The Queen", empacotada às pressas para dar embalo a "Falsa Fada", traz todos os hits gretchenianos de quase 40 anos atrás, e adivinha quem se sai melhor na comparação? Quando eu falo todos os hits, quero dizer todos os três: "Conga Conga Conga", "Freak le Boom Boom" e "Je Suis la Femme (Melô do Piriripiri)", clássicos niilistas da dance music-porcaria. O resto do álbum é recheado com farofa sonora, i.e., pérolas merecidamente esquecidas como "Le Mal Masqué" ou "Mambo Mambo Mambo", um autoplágio descarado que devia dar cadeia aos seus autores. A brincadeira termina com dois remixes atuais de "Conga" e "Freak", que só comprovam que Gretchen funciona melhor quando não canta coisa com coisa. Aliás, quem não?
segunda-feira, 27 de novembro de 2017
A ANTISSOCIALITE
Das duas, uma: ou Anitta é gigantesca (o que sabemos que não é), ou a foto ao lado não passa de uma grotesca fotomontagem. No entanto, a imprensa brasileira está divulgando a imagem sem questionar sua veracidade, assim como topou chamar Day McCarthy de "socialite", como ela gosta de se apresentar. Só que, das duas, uma: ou ela é uma mitômana amalucada, que quer ficar famosa mesmo que vá presa, ou é de fato um caso clínico. Esquizofrenia? Não duvido: quem padece desse mal costuma se achar muito importante, e se sentir perseguido por gente mais importante ainda. A insanidade mental justificaria os ataques sem sentido que essa mulher antissocial vem disparando a torto e a direito. Mas será que perdoaria?
COISA DE PRETO E DE GAY
Como que negros e LGBTs podem unir forças e combater o inimigo comum? Sim, porque quem é racista também costuma ser homofóbico, e vice-versa. Para começar, os dois grupos precisam se unir internamente, sem cobranças idiotas em cima de quem não usou o vernáculo correto da semana e sem assustar os aliados potenciais. Nenhuma minoria jamais conquistou coisa alguma sozinha, pelo singelo fato de que são minorias (políticas, ainda que não numéricas). Precisamos de toda ajuda que conseguirmos, mas não é o que muitos militantes vêm fazendo. Isto é um teaser do que eu pretendo dizer durante o debate Conciliação Cultural LGBTQ+Negra, que eu fui convidado a mediar. O evento acontece nesta quinta-feira, dia 30/11, em São Paulo, num horário impraticável para muita gente: das 15 às 18h, no Teatro Sérgio Cardoso, com entrada franca. Quem não puder ir não precisa se afligir: o debate vai ser gravado e talvez transmitido pela internet. Também está sendo negociada uma exibição pela TV Cultura. A conversa/quebra-pau envolverá também a cantora e apresentadora Mel Gonçalves, o cantor e ativista Caio Prado, o jornalista André Fischer, a blogueira Jéssica Hipólito e os rappers Rico Dalasam e MC Dellacroix (este último fará um show logo depois). Mais informações aqui, na página do debate no Facebook.
domingo, 26 de novembro de 2017
MEU MIX DO MIX
Quem dá conta de tanto filme? Emendei o Festival do Rio com a Mostra de São Paulo com o Mix Brasil, e tudo isto sem parar de seguir a programação normal dos cinemas. O resultado é que vi muita coisa, claro, mas não tudo o que eu queria. No Mix, que acaba hoje, perdi o sul-africano "Os Iniciados", por falta de tempo, e o britânico "God's Own Country", por falta de informação - fiquei sabendo tarde demais que é incrível. Mesmo assim, participei mais do que em outros anos. Além de rever "Me Chame pelo Meu Nome" e fazer uma pergunta boba para Gus Van Sant, também pus no currículo...
..."Conversa Fiada", o escolhido por Taiwan para a próxima disputa do Oscar de filme em língua estrangeira. Ainda é um mistério porque selecionaram este documentário chatinho sobre uma lésbica de meia-idade (que também é a mãe da diretora). Inclusive porque ele não teve uma única indicação ao Cavalo de Ouro, o Oscar taiwanês (sim, ele existe, e sim, só o Brasil não tem um prêmio de cinema com um nome bacana). Os planos são longos, a música é inexistente e a tal da senhora nem é tão interessante assim. Porque ela pouco fala: sempre preferiu interagir com as amigas, algo de que a filha se ressente até hoje. E nós com isto, hein?
"Hot to Talk to Girls at Parties" é bem mais divertido, embora sem a profundidade dos outros trabalhos do diretor John Cameron Mitchell. Tudo bem: faz espairecer de vez em quando, e o pedigree da trama é uma graphic novel de Neil Gaiman. Na Londres de 1977, um bando de amigos em busca de fuzarca acaba topando com duas coisas bizarras: a) Nicole Kidman como uma rainha punk; e b) uma colônia de alienígenas. Ou melhor, seis colônias, cada uma com um dress code diferente, mas todas aparentemente vestidas por lojas da 25 de Março. Talvez seja uma metáfora para a passagem da adolescência para a idade adulta, talvez seja só uma brincadeira boba. Para ver, rir e esquecer.
"Guigo Offline" foi eleito pelo júri como o melhor longa nacional. "Longa" é força de expressão: trata-se de um telefilme de apenas 52 minutos. "Melhor" também talvez seja. Não vi nenhum dos outros, mas se são inferiores... Não que "Guigo" seja ruim. A premissa é ótima: um moleque pentelho, interessado apenas em continuar pendurado no Whatasapp, vai acampar com um amiguinho, o pai e um amiguinho deste. Logo sabemos que este amigo é, na verdade, o namorado... Mas os diálogos soam pouco naturais nas bocas das crianças, e a tensão da revelação é sobrepujada pela busca pelo sinal de celular. Enfim, simpatiquinho. Mas, no ano que vem, vou escolher meu mix com mais cuidado.
sábado, 25 de novembro de 2017
DEU VONTADE DE VAZAR
Juro que eu não entendi o que alguns negros viram de tão ofensivo em "Vazante". O primeiro longa de Daniela Thomas como diretora-solo se passa em uma fazenda em Minas Gerais no século 18, e é claro que aparecem escravos. Eles têm poucas falas? Ninguém tem, nem os brancos. Não são os protagonistas da trama? Não há bem protagonista, apesar da câmera passar mais tempo na casa-grande do que na senzala (e de certa maneira, o protagonista do filme é o próprio Brasil, que nasce com todas as dores possíveis). OK, não sou negro nem nunca vou ser, mas o que é que os reclamões preferiam que a diretora mostrasse? Uma rebelião, com os senhores sendo mortos e a fundação de um quilombo socialista? Outra coisa que eu não entendi - além de vários diálogos ininteligíveis - foi porque "Vazante" vem recebendo críticas tão boas. Os atores estão bem, a reconstituição de época é um primor, a fotografia em preto-e-branco impressiona. Mas a narrativa não podia ser mais tediosa, só ganhando ritmo no fim. Precisei me controlar para não ir embora. Ao contrário do que seu título sugere, "Vazante" é um filme que enche.
PAPEL POP
Baixei uma única música do OK GO, há mais de dez anos. Acho o sonzinho que eles fazem completamente esquecível. Mas os vídeos são, de longe, os mais engenhosos e complicados de todos os tempos. Em "Obsession", a computação deve ter sido usada apenas na pré-produção, para sincronizar a saída dos papéis coloridos das impressoras. Todo o resto é de verdade - e não só a papelada toda foi reciclada, como doada ao Greenpeace. A ameaça real está pra quem sofrer de epilepsia ou similares. Se o monitor não estiver ajustado para a mais alta definição, os padrões podem se confundir e afetar o céééérebro do espectador.
sexta-feira, 24 de novembro de 2017
BARBRA PARA SEMPRE
Por quanto mais tempo nós teremos Barbra Streisand? Em seu novo especial na Netflix - modestamente batizado de "Barbra... As Memórias... A Música... A Mágica!" - a diva finalmente dá sinais de que não é eterna. Como eu comentei na coluna Multitela de hoje, sua voz não é mais a mesma: principalmente nas notas médias, uma discreta rouquidão se faz sentir. Mas o que mais me impressionou foi o rosto, que às vezes parece uma mascara frouxa. Mas longe de mim criticar quem faz de tudo para se manter jovem, claro. O que importa é que a verve de Barbra continua a mesma, ainda que ela abuse do sentimentalismo quando faz algum comentário político. Tamanha pieguice só cai bem nos créditos finais, dedicados à sua falecida cadelinha. Memories... light the corners of my mind...
quinta-feira, 23 de novembro de 2017
IVO VIU A UVA DO GAROTINHO
Anthony Garotinho não só é líder de ORCRIM como também um homofóbico da pior espécie: a oportunista. Aquele que, no fundo, não tem nada contra as guei, mas diz ter para agradar ao eleitorado ignorantão. Ainda me dói na memória o comício que ele fez em 2010, em que um cantor gospel entoou um hino anti-LGBT que diza que "se Deus fizesse o homem para casar com homem, não seria Adão e Eva, seria Adão e Ivo". Garotinho está preso pela terceira vez em um ano, e agora em Benfica, cercado de Ivos e Adões por todos os lados. Oh, pare, imaginação, não se deixe levar.
A CORRIDA DE 25 MIL REAIS
Este caso da Kéfera versus o taxista é exemplar em mais de um sentido. O primeiro: é uma demonstração clara de como funciona a cabecinha de muitos influenciadores digitais, que comandam seus milhões de seguidores como se fossem uma horda de hunos. "Pisaram no meu pezinho! Pau nesse sujeito, galera, ele não merece viver". E a galera obedece, não raro extrapolando o objetivo inicial. Foi o que aconteceu aqui, com o motorista recebendo mais de 5 mil ameaças depois que a youtuber incentivou o povo a manter ocupado o celular do coitado. Algo semelhante se passou com Danilo Gentili, que atiçava os fãs a "esculachar" seus desafetos, até que um repórter da Folha perdeu mesmo o emprego. Desde então, o apresentador anda pianinho nas redes sociais - aposto que por recomendação de seus advogados. O segundo sentido exemplar dessa treta é servir de exemplo mesmo. Kéfera vai morrer em 25 paus, a não ser que entre com recurso (se eu fosse ela, pagava logo e encerrava o caso de uma vez). É um sinal de alerta para essa turminha que enriqueceu rapidamente na internet e se acha acima do bem e do mal. Melhor se emendarem antes que morra alguém.
quarta-feira, 22 de novembro de 2017
CYRANO NA INTERNET
O amor por procuração é um tema em voga desde, pelo menos, que o escritor francês Cyrano de Bergerac pediu para um amigo mais bonito se passar por ele ao paquerar uma dama, no século 17. O episódio virou uma peça de teatro 200 anos depois e já passou por inúmeras variantes. A mais recente é o filme "Um Perfil para Dois". Pierre Richard - um astro na França, mas pouco conhecido por aqui - faz um viúvo que começa a paquerar online, fazendo muito sucesso. Só que a foto que ele usa em seu perfil é a do rapaz que lhe ensinou a navegar na internet, uns 50 anos mais novo. O resultado é previsível: desencontros, mal-entendidos e o inevitável final feliz. Só faltaram piadas melhores para este longa simpático ser chamado de comédia romântica.
terça-feira, 21 de novembro de 2017
ZIMBÓRA
Robert Mugabe poderia ter sido o Mandela do Zimbabwe. Assim como seu colega sul-africano, ele também liderou a luta contra o apartheid, que vigorou na então Rodésia até 1980. Só que, uma vez no poder, o herói seguiu o mesmo caminho que tantos líderes africanos e se tornou ditador. O pior é que era um tirano incompetente: deixou-se a inflação chegasse a níveis estratosféricos, enquanto o povo continuava na miséria de sempre e sua família se refestelava. Infelizmente, sua queda não é garantia de mudança nenhuma. O que aconteceu por lá não foi uma revolução, e sim um golpe palaciano. O mesmo grupo que já mandava no país vai continuar mandando. Apenas se impediu que a primeira-dama Grace herdasse a presidência assim que o maridão batesse as botas, o que não deve demorar. Pelo menos Mugabe morrerá deposto, derrotado, sem o conforto de se sentir eterno. Sem ele, quem sabe o Zimbabwe finalmente deslancha? O potencial é enorme e a estrutura, bem melhor que a da vizinhança. Zimbóra, zimbabuanos.
APROPRIAÇÃO CULTURAL
Estou me apropriando da TV Cultura, pasito a pasito. Além de participar de dois "Roda Viva" (um deles ainda não foi ao ar), gravei duas "cabeças" para o "Metrópolis" dando dicas de séries de TV. A primeira foi exibida no programa deste domingo (no vídeo acima, na altura do 15:50). Agora estou negociando uma participação no desenho animado "Masha e o Urso", em papel ainda a definir.
segunda-feira, 20 de novembro de 2017
OH, TO SEE WITHOUT MY EYES
Hellooo, perdedores que ainda não conseguiram ver "Me Chame Pelo Seu Nome"! Quer dizer então que você mofaram na fila que ia do Cinesesc até São Bernardo do Campo? Pois fiquem sabendo que eu já vi DUAS vezes o filme do ano, uma no Festival do Rio e a outra na abertura do Festival Mix Brasil. Já vocês terão que esperar até 18 de janeiro; enquanto isto, distraiam-se com os memes do Arnie Hammer dançando, tirados da cena acima. Ele parece uma morsa no cio, ou talvez um presunto tender sob o efeito de tóchicos. E daí? Então é Natal!
Só não é melhor do que este vídeo colegial do Timothée Chalamet, que não foi promovido a meu noivo imaginário apenas porque eu não quero ser acusado de assediar dimenor. Além de revelar desenvoltura desde a tenra idade, Timmy T. ainda entoa o que talvez seja o refrão mais contagioso de todos os tempos. Todo mundo junto agora: Statistics, yup! Statistics, yup! Ms. Lawton! Ms. Lawton!
TEATRO VEZES TRÊS
Charles Darwin levou uma tartaruga gigante das Galápagos para a Austrália, durante sua volta ao mundo na década de 1830. A bichinha foi batizada de Harriet e morreu 175 anos, em 2006. Tamanha longevidade inspirou a peça espanhola "A Tartaruga de Darwin", onde o quelônio "evolui" para a forma humana e se transforma numa variante réptil do "Repórter Esso", a testemunha ocular da história. Henriqueta (como foi traduzida no texto de Juan Mayorga) viu tudo e conheceu todo mundo: estava na sala quando os emissários de Hitler e Stálin assinaram um pacto de não-agressão, por exemplo. Ana Cecília Costa está fantástica como a velha senhora e Tuna Dwek arrebata a platéia na montagem de Mika Lins que fica em cartaz no SESC Ipiranga, em São Paulo, até 17/12. E esta foi apenas a minha primeira peça deste final de semana.
A segunda foi ali ao lado, no saguão do Museu do Ipiranga: "Leopoldina, Independência e Morte". A primeira imperatriz do Brasil entrou na moda por causa da novela "Novo Mundo", e finalmente está deixando de ser retratada como uma gorda chata que merecia ser chifrada. Foi, na verdade, a grande artífice da independência, e o texto de Marcos Damigo (que também assina a direção) resgata sua importância histórica. Fabiana Gugli encarna tantas faces dessa personagem complexa que o espectador até esquece que está vendo um monólogo. O entorno suntuoso também ajuda: no alto da escadaria está uma estátua de Pedro I, com quem a rainha ferida discute. No último dia em cartaz, 3 de dezembro, o público da primeira sessão, às 15h, ainda terá uma visita guiada à cripta onde estão ambos, sob o Monumento, a algumas centenas de metros dali.
Encerrei meu périplo teatral com a badalada montagem de Gabriel Villela para "Boca de Ouro", do Shakespeare brasileiro - vulgo Nélson Rodrigues. Achei os figurinos coloridíssimos, uma marca do diretor, um pouquinho over, a ponto de me distanciar do universo rodriguiano. Mas as interpretações são fenomenais, a começar por Malvino Salvador, que exibe um "range" que a TV simplesmente não aproveita. Com muita música, sangue de mentirinha e energia transbordante, foi uma chave de ouro para o finde.
domingo, 19 de novembro de 2017
MEU AMIGO HINDU
Em meados do século passado, George Cukor era considerado um grande diretor de mulheres. Hoje em dia esta honra caberia a Stephen Frears, embora parte da imprensa não repare que a maioria de seus filmes tem protagonistas femininas. Frears já conduziu Judi Dench, Meryl Streep, Glenn Close, Michelle Pfeiffer e Helen Mirren a indicações ao Oscar. Esta última ganhou, e a primeira volta a trabalhar com ele pela terceira vez. Mas agora duvido que vá muito longe, porque a concorrência está acirrada este ano. E também porque o filme até se esforça, mas o tom amargo da segunda parte não consegue elevar a fofura da primeira. Dench encarna novamente a rainha Vitória, 20 anos depois de "Mrs. Brown". Naquele filme, a soberana, já viúva há mais de uma década, encetava um romance platônico com um humilde jardineiro escocês. Em "Victoria & Abdul - O Confidente da Rainha", às portas da morte, ela encasqueta com um funcionário público indiano escolhido apenas por causa de sua altura para entregar-lhe uma medalha comemorativa durante um banquete. Vitória se afeiçoa ao cara, que a trata sem muitas mesuras, e me fez lembrar de alguns casos da vida real que presenciei, em que pessoas idosas de repente cismavam com alguém novo, de fora da família. Essa paixonite logo incomoda o resto da Corte, ainda mais porque Abdul parece estar tirando vantagens ao manipular sutilmente a rainha. Tudo isto é agravado pelo fato dele ter pele escura e ser muçulmano, praticamente um bicho para a aristocracia britânica da época. Mesmo com uma boa dose de crítica social no desfecho, no entanto, "Victoria & Abdul" não passa de um entretenimento leve para senhoras idosas, que adorariam ter um servo indiano para chamar de seu.
sábado, 18 de novembro de 2017
ALERJIA
Pessoas bem-informadas sabem faz tempo que a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro é uma pocilga, infectada por representantes das milícias, dos bicheiros e da máfia dos ônibus. Por isto, não é de se admirar o placar de 39 votos contra 16, que garantiu a soltura do presidente da casa, Jorge Picciani, e seus comparsas Paulo Melo e Edson Albergasse, todos presos em ação da operação Cadeia Velha da PF. Surpresa mesmo deve estar a ministra Covárden Lúcia, que nunca imaginou, coitada, que seu ato de tibieza em prol de Aécio Neves provocasse esta onda de impunidade nos parlamentos locais país afora. O Brasil arcaico está reagindo, como se não houvesse eleição no ano que vem. Se bem que, se depender de cariocas e fluminenses - que brindaram a si mesmos e aos demais brasileiros com Brizola, Garotinho, Cabral, Cunha, Bolsonazi, Pezão e Crivella - esses deputados que estão aí estão todos com a reeleição garantida. Ou será que, depois do estado quebrar e afundar, finalmente ficaram alérgicos a essa corja?
sexta-feira, 17 de novembro de 2017
TÁ BOA, VAN SANT?
O diretor americano Gus Van Sant é o principal convidado internacional do 25o. Festival Mix Brasil, que está rolando em São Paulo até o dia 26. Além de uma retrospectiva de seus filmes, o evento também promoveu um encontro do cineasta com uma plateia formada principalmente por gente que estuda e/ou trabalha com cinema. Van Sant é muito simpático, mas não é exatamente um poço de carisma. Falava sempre no mesmo tom, com a maior calma do mundo, e algumas de suas respostas levaram vááários minutos. Alguns espectadores também não ajudaram, fazendo perguntas em várias partes e sobre temas muito amplos, do tipo "como você encara a mise-en-scene de seus filmes? e o roteiro? e o catering?". Só eu fui curto e grosso, perguntando se ele sabia que o dublador habitual de Sean Penn no Brasil, que é evangélico, havia se recusado a dublar o ator em "Milk". Nesta única vez, Van Sant foi lacônico: "não, não sabia". E aí eu retruquei, "so now you know". Fim.
AGORA AGORA AGORA
Achei que "No Intenso Agora" ficou aquém do que prometia. O novo documentário de João Moreira Salles tem uma premissa ambiciosa: a influência dos acontecimentos históricos na vida privada e vice-versa. E o recorte no tempo foca na segunda metade dos anos 60, um período cheio de convulsões pelo planeta afora. A China era tragada pela Revolução Cultural, os tanques soviéticos acabavam com a Primavera de Praga, os estudantes faziam barricadas em Paris e a ditadura militar se consolidava no Brasil. O diretor mistura arquivos jornalísticos e filmes caseiros, principalmente os Super-8 que sua mãe rodou durante uma viagem à China. E mostra como tanta indignação e tanta utopia reverteram em poucas mudanças no cotidiano imediato das pessoas. Também fala muito em suicídio e em jovens que morreram cedo, além de ressaltar a felicidade aparente da mãe, Elisinha, nas imagens mais antigas. Mas acaba sonegando ao espectador um dado importante: o suicídio de Elisinha, em 1988. É mais do que compreensível que ele relute em tocar em um assunto tão delicado. Só que essa relutância deixou "No Intenso Agora" com o pé quebrado, sem uma conclusão clara. Tanto que, ao se aproximar do final, o filme começa a andar em círculos, reprisando os mesmos frames do périplo chinês e desviando para a poesia de Mao Tsé-Tung. Com uma meia hora a menos e um foco mais ajustado, "No Intenso Agora" seria muito mais intenso.
quinta-feira, 16 de novembro de 2017
COMO MULHER FALA
E como fala bem. Sei que uns 90% do meu leitorado são homens gays, e foi-se o tempo em que os gays eram fascinados por mulheres. Mas aqueles que ainda não tiverem horreur das rachas vão se divertir com o podcast "Grampos Vazados", cujo primeiro episódio foi ao ar esta semana. O programa é comandado por três humoristas cariocas - Luciana Fregolente, Liza Yabrudi e Martha Mendonça (todas do "Zorra" e a última também do "Sensacionalista"), e está hospedado no site do Hysteria, o "departamento" feminino da produtora Conspiração. Preste atenção, logo no início, nos relatos sobre relacionamentos abertos. Eu ri tanto que até pedi permissão para roubar para o roteiro de um filme.
FERVENDO O CALDEIRÃO
E lá vem pedrada, porque eu vou declarar neste post que não tenho, a priori, nada contra uma eventual candidatura de Luciano Huck ao Planalto. Claro que ele está longe de ser o postulante dos meus sonhos. Mas juro que eu prefiro o dono do "Caldeirão" a muitos nomes que já estão por aí, como Lula, Alckmin, Bolsonazi e talvez até ao Ciro Gomes. "Ãin, mas ele não é preparado" - como se o Lula fosse, antes de se eleger em 2002. "Ãin, mas ele vai ser teleguiado pela Globo" - pois saiba que muita gente na emissora não vê essa empreitada com bons olhos. Huck e Angélica, aliás, arriscam muito se abandonarem seus programas de TV: não há garantia de volta, e uma derrota nas urnas pode reverberar nos contratos de publicidade que fazem a fortuna do casal. Por isto, ainda acho improvável que ele saia mesmo candidato. Mas é o tal negócio: analistas políticos já avisaram que, cada vez mais, nomes do showbiz se lançarão na política. Isto também vai acontecer no Brasil, agora ou daqui a pouco.
quarta-feira, 15 de novembro de 2017
G'DAY, MATE
Depois de uma árdua campanha de três meses, durante a qual os reaças tentaram de tudo para dividir o país, a Austrália disse "sim". O casamento igualitário teve uma vitória acachapante na pesquisa feito pelo correio: quase 62% dos votos, contra 38% para o "não". Sim, era apenas uma pesquisa, não um plebiscito formal, sem nenhuma consequência legal automática. Mas agora o Parlamento de lá vai ser obrigado a aprovar uma lei regulamentando o casamento entre pessoas do mesmo sexo - além do mai,s porque mais de 80% dos eleitores participaram da pesquisa, um índice impressionante para um país onde o voto não é obrigatório. A Austrália, tão moderna e civilizada, estava muito para trás no assunto: até nesta grande taba tupinambá em que vivemos os gays já podem se casar no civil. Comenta-se que os parlamentares conservadores ainda vão tentar enfiar jabutis na nova lei, garantindo o "direito" ao preconceito e à ignorância, mas faz parte do jogo. E por falar em jogo, a seleção australiana bateu Honduras - um paiseco que proíbe todas as formas de aborto - e garantiu sua vaga na Copa, no mesmo dia em que foi anunciada a vitória do "sim". Coincidência? Acho que não.
terça-feira, 14 de novembro de 2017
LOS JUEGOS DEL HAMBRE
Tem gente comparando "Deserto", o filme escolhido pelo México para disputar o último Oscar, com o clássico "Encurralado" de Steven Spielberg. Afinal, aqui também se trata de uma perseguição implacável com uma paisagem árida ao fundo. Mas o longa de estreia de Jonás Cuarón - filho do premiado Alfonso Cuarón - me lembrou também uma versão tex-mex dos "Jogos Vorazes", aquela trilogia futurista sobre uma espécie de Olimpíada onde os jovens se caçam uns aos outros, até sobrar só um. "Deserto" tem um único caçador: um gringo tão alucinado que parece uma caricatura do eleitor de Donald Trump. O sujeito curte patrulhar a fronteira dos EUA com o México e, quando cruza com um bando de imigrantes ilegais, atira para matar. Esse fiapo de roteiro é conduzido com segurança pelo jovem Cuarón, que escalou o mais conhecido dos atores de sue país - Gael García Bernal - para o protagonista. Mas o filme revela um lado tão negro do sonho americano que até os republicanos devem ter se incomodado. Talvez por isto a Academia tenha ignorado solenemente este thriller realista.
RODA MOINHO, RODA PIÃO
Foi o meu segundo "Roda Viva". O primeiro foi gravado no final de setembro, mas ainda não foi ao ar: o convidado era o Hélio de la Peña, e acho que estão esperando o livro dele ser lançado para exibir o programa. Mas o de ontem foi ao vivo. Confesso que eu me surpreendi com a Maitê Proença. Sabia que ela é inteligente e articulada, mas sua coragem de enfrentar perguntas difíceis é admirável. O Bruno Meier, da "Veja", tocou no assunto mais delicado de todos - o assassinato da mãe dela pelo próprio pai - e, por um momento, achei que a conversa iria acabar por ali mesmo. Mas, qual: Maitê encarou de frente, e se expôs ainda mais quando eu lembrei que, em "Gabriela", ela interpretou uma mulher que era morta pelo marido. Foi intenso: confira acima, na altura do -30.
Participar do "Roda Viva" é um rush de adrenalina, é claro. Nas duas vezes em que fui lá, fiquei preocupado não só em falar alguma coisa, qualquer coisa!, como também em não falar em cima dos outros. O Augusto Nunes ajuda bastante, fazendo sinais discretos indicando quem deve ser o próximo a fazer uma pergunta. No final, todos ainda ganham a caricatura que o Paulo Caruso, generoso, fez de cada um (já tenho duas, vou mandar enquadrar). OK, não fiquei muito parecido nesta última. Mas o tempo rodou num instante nas voltas do meu coração.
segunda-feira, 13 de novembro de 2017
PÁSSAROS FELIZES
Consegui. Finalmente gostei de um filme do diretor finlandês Aki Kaurismäki, queridinho do circuito de festivais há quase duas décadas, mas que nunca havia me seduzido. "O Outro Lado da Esperança" é uma comédia dramática sobre um refugiado sírio que busca asilo na Finlândia: não exatamente a situação mais hilária do mundo, mas uma ou outra cena até que rende uma risada. Desconfio que o país retratado na tela pouco tenha a ver com o real, Ouvi dizer que a Finlândia ainda é muito provinciana, mas a de Kaurismäki tem um clima kitsch dos anos 50 que não é crível para um lugar que inventou os Angry Birds. Não é nenhuma obra-prima, mas é um filme interessante. E qualquer coisa que venha da Escandinávia já me serve de refúgio contra essa gaiola infeliz que virou o Brasil.
18 A 1
Ando tão enojado do cenário político brasileiro que venho deixando passar em branco aqui no blog os descalabros mais recentes. Não emiti um pio sobre a acintosa troca de comando da Polícia Federal, onde assumiu um apaniguado de Sarney com o indisfarçável propósito de estancar a sangria da Lava-Jato. Nada falei sobre a destituição de Tasso Jereissati da presidência do PSDB pelo "walking dead" Aécio Neves, inclusive porque, para mim, o partido já está morto e enterrado: só voto em tucano no segundo turno se o oponente for Lula ou Bolsonazi. Mas os 18 a 1 que uma comissão especial da Câmara marcou ao aprovar a tramitação de um PL que proíbe o aborto no Brasil em qualquer caso me arrepiou os pelinhos do braço. Os 18 votos a favor vieram todos de deputados homens, a maioria da bancada da Bíblia; a única voz dissonante também foi a da única mulher presente, Erika Kokay do PT do DF. Rodrigo "Bolinha" Maia já avisou que este retrocesso não será aprovado em plenário, além do mais porque o resultado seria uma hecatombe - vai morrer MUITO mais mulher do que já morre em aborto clandestino. Obrigar alguém a levar a termo a gestação do fruto de um estupro ou de um feto anencéfalo, que não conseguirá sobreviver fora do ventre, é de uma violência absurda aos meus olhos. Mas é o tal negócio: quase todos que votaram eram homens, e todo mundo sabe que, se os homens engravidasse o aborto seria um sacramento. E assim caminha o Brasil, nas mãos de gente que quer manter seus privilégios e o resto do país nas trevas.
domingo, 12 de novembro de 2017
APOLO E DIONÍSIO JOGANDO TÊNIS
A única partida de tênis profissional que eu vi na vida foi um jogo-exibição entre Björn Borg e Vitas Geuralitis, no Ginásio de Ibirapuera, em 1980. Achei um saco, óbvio, mas pelo menos tenho Borg no meu currículo. O cara ainda é uma lenda em sua Suécia natal: tanto que a produção local sobre sua rivalidade com o americano John McEnroe chama-se apenas "Borg" nos países escandinavos. É verdade que "Borg vs McEnroe", como o filme foi rebatizado no Brasil, pende mesmo para o viking das quadras. Sua família e seu entorno ganham mais destaque do que os do adversário, assim como o desfecho. Até aí, tudo bem. O que foi mais difícil de engolir foi a ênfase no esporte, um assunto que não está na minha lista dos 100 mais. Eu me diverti à pampa em longas como "Rush" (sobre o duelo entre Nikki Lauda e James Hunt na Fórmula 1) ou o recentíssimo "Batalha dos Sexos", porque as abordagens eram mais amplas do que a mera disputa. Aqui ficou faltando, talvez, uma análise mais profunda desses dois jogadores tão diferentes. O gélido sueco (apelidado de "Iceborg" pela imprensa) era a encarnação do apolíneo: focado, esguio, controlado, estóico. Já o "bad boy" era dionisíaco em estado puro: bagunçado, impertinente, autoindulgente, hedonista. Talvez o roteiro devesse ter sido escrito por alguém que não manjasse de tênis?
JE NE VEUX PAS TRAVAILLER
O refrão de "Synpathique", o único hit do grupo americano Pink Martini, me caiu feito uma luva depois da audição de "Je Dis Oui": não quero mais saber de trabalhar, só de continuar escutando essa pequena obra-prima. Como todos os trabalhos deles, este aqui mistura standards conhecidos e pérolas obscuras em inúmeras línguas. Dessa vez, tem até "Solidão", nada menos que a épica "Canção do Mar" imortalizada por Dulce Pontes mas com uma letra completamente diferente (algo que de vez em quando acontece na mundo do fado - esta versão, inclusive, foi gravada por Amália Rodrigues). O álbum inclui Rufus Wainwright cantando "Blue Moon" e faixas em turco, árabe, persa e armênio. A única bola fora é um cover de "Pata Pata", com que Miriam Makeba sacudiu o planeta nos anos 60: a vocalista China Forbes alterou a tônica do refrão, que ficou paumolente. Mas o destaque mesmo vai para as canções compostas para o filme "Souvenir", estrelado por Isabelle Huppert, onde ela faz uma ex-cantora que concorreu no Eurovision. Era preciso algo bobinho e pegajoso para a trilha, e o resultado é a estupefaciente "Joli Garçon", que parece ter sido escrita por uma menina de 11 anos mas gruda no ouvido para sempre. Divertido, sofisticado e cosmopolita, o Pink Martini deveria ser promovido a banda oficial da globalização. Com eles não tem esse papo de fronteira.
sábado, 11 de novembro de 2017
OS CORAÇÕES PROIBIDOS
Revi em DVD um dos meus filmes favoritos de todos os tempos: o francês "Os Corações Loucos", com Gérard Depardieu e Isabelle Huppert ainda cheirando a leite. O título original, "Les Valseuses", era uma antiga gíria para as bolas do saco. E faz jus ao roteiro: Depardieu e Patrick Dewaere (que estourou os miolos com um tiro de fuzil alguns anos depois) fazem dois rufiões que flanam pelo norte da França cometendo pequenos furtos, roubando carros só para passear e tratando as mulheres na porrada. Foi aí que a coisa pegou: eu lembrava bem do longa, mas mesmo assim fiquei chocado. Em dado momento, os pilantras encurralam uma mãe que amamenta um bebê num vagão de trem, sem nenhum outro passageiro por perto. Eles simplesmente a obrigam a dar de mamar para um deles - e ela, a princípio forçada, quase goza. Imagina o forrobodó que uma sequência como esta provocaria hoje. E não é a única: a personagem de Miou-Miou, uma "shampooineuse" (quem lava cabelo no salão de beleza) meio puta, é praticamente um objeto que passa de mão em mão, até que o primeiro orgasmo finalmente a transforma numa pessoa. O fato é que "Les Valseuses" transpira machismo (afinal, foi rodado em 1973), mas de maneira crítica, e todo mundo é complexo. Principalmente as mulheres, que manifestam desejo mesmo quando recatadas - talvez dando munição a quem reclama de que os estupradores alegam que "no fundo elas gostam", talvez reconhecendo que mulher sente tanto tesão quanto o homem. Terminei com a sensação de que um filme assim talvez não fosse mais feito. Mas que bom que já foi: é uma obra-prima do pós-nouvelle vague, libertina e libertária, e ainda necessária. Tente ver, tem no YouTube.
sexta-feira, 10 de novembro de 2017
A BENÇÃO, MADRINHA
Baixei o novo álbum da Preta Gil, "Todas as Cores", e não achei nenhuma maravilha. Mas música não é propriamente o forte da moça: é o humor, a presença, a atitude. E vem dela esse clipe-manifesto, postado ontem no YouTube, tirado do ar provavelmente por causa de alguma denúncia mas já devolvido onde lhe é de direito. Preta chamou sua madrinha Gal Costa para dividir com ela os vocais - um ato de supremo desprendimento, convenhamos - e o resultado é uma das primeiras reações à onda de boçalidade que se espalha da internet para a vida real. Os asnos vivem na ilusão de que são maioria: mesmo se fossem, não podem sair por aí jogando pedra em quem gostariam de calar. Que se benzam.
SAI POR CIMA
Em 2013, eu participei da sala de roteiristas da série "Meu Amigo Encosto", criada pelo Thiago Luciano. Durante os brainstorms, bolamos uma personagem que não estava na sinopse original: a presidente da União dos Encostos, uma mulher madura, sensual e manipuladora, que a Helena Perim batizou de Yolanda. Eu tive o privilégio de escrever os diálogos ferinos dessa megera. Um ano depois, a série finalmente foi gravada, e o papel coube à Márcia Cabrita. No único dia em que eu visitei o set, ela não estava: perdi, assim, a chance de conhecê-la em pessoa (mas a vi duas vezes em cena, no palco do "Sai de Baixo"). Pelo menos dei a sorte de ter uma atriz como ela dizendo o meu texto. É impressionante como Márcia era querida - minha timeline está coalhada de homenagens. Aqui vai a minha, com um beijo de gratidão a essa artista que se foi no auge de seus talentos. E força para todos.
quinta-feira, 9 de novembro de 2017
TODA A VERGONHA DO MUNDO
Já não estou mais defendendo o Kevin Spacey a qualquer custo, mas também acho que as represálias a ele estão indo um pouco longe demais. Preste atenção no trailer de "Todo o Dinheiro do Mundo": deve ser a última chance de ver o ator encarnando o bilionário J. Paul Getty, um personagem pelo qual ele já estava até sendo cotado para o Oscar. O diretor Ridley Scott está refilmando quase todas as cenas de Spacey com Christopher Plummer - a quem, aliás, preferia para o papel. Spacey foi imposto pela Sony, que agora está pressionando Scott para re-finalizar até o filme antes da estreia nos EUA, que continua marcada para o dia 22 de dezembro. É uma medida drástica, que lembra a prática da URSS de apagar das fotos os líderes políticos caídos em desgraça. E abre um precedente perigoso: nesta era digital, a simples presença no mundo corre o risco de ser borrada.
quarta-feira, 8 de novembro de 2017
FIZEMOS A ÚLTIMA VIAGEM
"Gabriel e a Montanha" é uma beleza de filme. Mesmo sabendo que ele ganhou prêmios em Cannes, mesmo tendo lido críticas positivas, eu não esperava gostar tanto. Porque eu já sabia o final da história, que é real: em 2009, no fim de uma viagem de quase um ano que o levou para a Ásia e a África, o carioca Gabriel Buchmann se perdeu ao descer sozinho uma montanha no Malawi e acabou morrendo de frio (era julho, inverno tanto lá como cá). Cadê o arco dramático? Cadê a "mensagem"? Pois o longa de Fellipe Barbosa - que era amigo do verdadeiro Gabriel - tem tudo isso. Também tem paisagens belíssimas que servem quase como um documentário: o monte Kilimanjaro, a ilha de Zanzibar, as cataratas de Victoria. Acho que se trata do único filme brasileiro sem um único frame rodado no Brasil. João Pedro Zappa está incrível no papel-título, apesar de aparentar menos que os 28 anos que de fato tem (a mesma idade de seu personagem). Com humor e desenvoltura, ele cria um sujeito de uma simpatia irresistível, mas também cheio de teimosia e pretensão. Gabriel se recusava a fazer qualquer coisa que cheire a turista: preferia dormir na casa dos guias que contrata nas ruas, comer a comida deles e se sentir o mais local possível - o que não ia ser nunca, é claro. Essa cabeça dura acabou lhe custando a vida, ao enfrentar uma escalada árdua sem os equipamentos ou o tempo necessários. Sua jornada, que poderia ser uma viagem iniciática, teve um final abrupto. Mas rendeu um filme.
CHUPA, TRUMP
Ontem, como costuma ser toda primeira terça-feira do mês de novembro, foi dia de eleição nos Estados Unidos. Como estamos em ano ímpar, ela se restringiu a poucos lugares - o calendário eleitoral de lá não é certinho como o nosso, em que todo mundo escolhe governador ao mesmo tempo, por exemplo. Neste 7/11 só dois estados estavam em jogo, e os democratas levaram ambos: Virgínia e Nova Jersey. Também mantiveram a prefeitura de Nova York, elegeram a primeira prefeita lésbica de Seattle e - talvez a vitória mais emblemática de todas - conseguiram que uma ativista trans, Danica Roem, derrotasse ninguém menos que Ron Marshall, um deputado estadual da Virgínia que propôs uma famigerada lei que obrigava pessoas transexuais a frequentar os banheiros públicos de seu sexo biológico. Além dessas, muitas outras conquistas democratas por todo o país mostram que a maioria dos eleitores está de saco cheio não só de Donald Trump, mas também das políticas do partido Republicano. Ano que vem tem eleições para deputado federal e senador: se perder o controle do Congresso, Trump estará liquidado.
terça-feira, 7 de novembro de 2017
TALENTOSO, PERO DESCONHECIDO
Este aí ao lado talvez seja o melhor anúncio de revista brasileiro de todos os tempos. Foi veiculado no começo dos anos 80, para um produto que ainda não estava em voga naqueles tempos pré-AIDS: as camisinhas Jontex. Quebrou um tabu ao falar em doença venérea, tanto que a Igreja Católica pediu que fosse proibido. É uma pena que as imagens que eu encontrei na internet não permitam ler o texto, que é um primor (pois é: houve um tempo em que propaganda tinha textão, e as pessoas liam). O autor desta obra-prima morreu hoje, aos 75 anos de idade: Neil Ferreira, cuja fama nunca ultrapassou os limites do mundo publicitário. Neil nunca quiser ser um popstar ou um megaempresário, como alguns de seus colegas de geração. Só queria escrever, e como escrevia bem. Também criou campanhas históricas, como o leão do Imposto de Renda, o baixinho da cerveja Kaiser ou o comercial da Telesp em que "morria" um orelhão. Neil, a quem eu não tive a sorte de conhecer pessoalmente, largou o métier há 15 anos e desde então só assinava crônicas. Com ele se vai um tempo em que a publicidade era mais livre e divertida do que hoje, e - ouso dizer - mais pertinente.
MBS VEM AÍ
Ou melhor, já veio. Mohammad bin Salman al-Saud, o novo herdeiro do trono da Arábia Saudita, já está botando para quebrar. Algumas medidas tomadas pelo jovem príncipe (apenas 32 anos) estão sendo vistas como uma tentativa de trazer o reino medieval para, pelo menos, o século 19 - como a permissão para as mulheres dirigirem carros. Outras estão mais para "Game of Thrones", como disse o "New York Times": MBS, como o moço é conhecido, expurgou dezenas de primos seus dos cargos que ocupavam no governo, concentrando quase todo o poder nas mãos de seu ramo da família real. O sistema político da Arábia é pra lá de complicado: são literalmente centenas de príncipes, descendentes das dezenas de esposas de Ibn al-Saud, o fundador da dinastia. MBS só virou o próximo na linha de sucessão no começo deste ano, e pode se tornar rei a qualquer momento. Seu pai Salman, o atual monarca, está com 81 anos e anda mal de saúde. O pimpolho já estaria mandando de fato, e preparando o país para o futuro próximo em que o petróleo deve se esgotar. Mas há algo mais importante em curso: o possível esvaziamento do clero wahabbi, a seita muçulmana fundamentalista que inspirou nada menos que a al-Qaeda e o Estado Islâmico. O mundo vai ficar bem outro sem esses caras (se) detonando.
segunda-feira, 6 de novembro de 2017
DÊ BEM
As campanhas de fim de ano da Starbucks costumam ser atacadas pela direita por não serem "natalinas" o suficiente. Elas fariam parte da "guerra ao Natal" que só existe na cabecinha de alguns conservadores americanos. O comercial deste ano não vai acalmar os ânimos. Apesar da marca explicar didaticamente que o período de festas significa coisas diferentes para pessoas diferentes, é claro que os reaças vão cair matando - ainda mais porque um casal de mulheres aparece rapidamente trocando olhares. Dá para ouvir daqui a quantidade de garotas héteros que está mudando de orientação sexual só por causa deste filminho, que fica ainda melhor quando o slogan "Give Good" é traduzido para o português.
SEM GRACE
Vi o trailer de "Alias Grace" e fiquei todo assanhadinho para assistir à série. Não só parece uma variante do século 19 da futurista "The Handmaid's Tale" como é baseada num livro da mesma autora, a canadense Margaret Atwood. Sem coisa melhor para fazer neste fim de semana, mergulhei nos seis episódios... e me decepcionei. Achei a protagonista confusa, a trama repleta de reviravoltas desnecessárias e a Anna Paquin mais feia que de costume. Claro que a mensagem feminista do programa é mais atual do que nunca, mas a porrada dramática que eu estava esperando não veio. Agora temo que aconteça o mesmo quando eu finalmente vir "O Conto da Aia".
domingo, 5 de novembro de 2017
CATE-ORZE BLANCHETT
O que é arte? O que é política? Quem é a maior atriz do mundo? Para as duas primeiras perguntas, "Manifesto" oferece múltiplas respostas. Para a terceira, uma só: Cate Blanchett. O filme surgiu como uma instalação em museus, composta por doze vídeos onde Cate proclama os fundamentos de movimentos artísticos como o surrealismo, o situacionismo, o futurismo, o dada e até mesmo o Dogma 95. Em cada um deles, ela aparece como um personagem diferente: uma âncora de telejornal, uma mãe de família conservadora, uma professora do primário, um morador de rua, uma coreógrafa com sotaque eslavo e por aí vai. O trabalho de visagismo é impressionante, mas quem faz acreditar que estamos vendo treze pessoas distintas é Cate Blanchett, num tour de force tão arrasador que quase ofusca o que está sendo dito. Juntem-se essas figuras à própria atriz e teremos um poliedro com catorze faces, praticamente um movimento artístico independente: o blanchettismo. "Manifesto" é um longa experimental, sem arco dramático e toda a chance de afugentar o espectador comum. Mas é justamente ele quem deveria assistir, para ter um contato mínimo com diferentes conceitos de arte antes de sair falando merda e querendo fechar exposições que ele nem viu.
sábado, 4 de novembro de 2017
O PROTO-ASSEDIADOR
Justo na semana em que explodem acusações de assédio sexual mundo afora, está em cartaz em SP a ópera de Mozart sobre o santo padroeiro dos assediadores: "Don Giovanni", também conhecido como Don Juan. O personagem é fictício, mas tem replicantes na vida real: o próprio Giácomo Casanova estava presente na estreia, como lembra Mario Sergio Conti na Folha de hoje. A montagem do Theatro São Pedro não chega a ser suntuosa, mas é cheia de boas soluções. O elenco brasileiro está excepcional, e claro que vou destacar a luz do Caetano Vilela, senão ele não me convida nunca mais para nada. A última récita é amanhã: corre, que os preços são acessíveis.
KEVIN IN SPACE
Kevin Spacey foi pro espaço. Como já se temia, não demoraram a surgir dezenas de outras acusações de assédio e comportamento inadequado. Assim fica mesmo difícil defender o sujeito: as histórias são muitas, e já entrou até polícia na jogada. De qualquer forma, me impressiona a velocidade com que a carreira dele virou pó. Foi saído de "House of Cards"; o filme "Gore" foi cancelado; seu agente e seu assessor de imprensa o dispensaram; a Holanda retirou o convite para um evento. Não estou dizendo que Spacey seja inocente, mas o tribunal da internet não só chegou a um veredito como já está executando a pena. É um sinal dos tempos, para o bem e para o mal.
sexta-feira, 3 de novembro de 2017
VAMOS GODARD OUTRA VEZ
Vi bem poucos filmes de Godard, o que não impediu de eu me divertir à pampa com "O Formidável". O novo filme de Michel Hazanavicius (que ganhou um Oscar por "O Artista") não é uma biografia abrangente do diretor mais icônico da Nouvelle Vague, pois cobre um único momento de sua vida: a relação com a atriz Anne Wiazemsky, que durou um par de anos. Jean-Luc Godard já era um nome mais do que consagrado em 1967, e começava a se interessar mais pela revolução do que pelo cinema. Anne, com quem ele rodou "A Chinesa", era 17 anos mais jovem, e se encantou pela genialidade e irreverência do cineasta, mas até certo ponto. O Godard de "O Formidável" é quase uma caricatura: cicioso, impertinente, sempre falando a coisa errada na hora errada, quebrando um par de óculos atrás do outro. Algumas cenas tentam emular seu estilo; outras são explicitamente engraçadas - como aquela em que os dois protagonistas aparecem pelados, na melhor sequência de nu gratuito de todos os tempos. Sim, queridos, Louis Garrel aparece pelado, embora as legendas atrapalhem um pouco. Mas já é motivo para as assanhadas verem um filme sobre um sujeito do qual talvez elas nunca tenham ouvido falar.
LUISFEIA
Será que Luislinda Valois achou que, por ser negra e usar dreadlocks, estava autorizada a dizer que a mísera compensação que recebe como Ministra de Direitos Humanos "se assemelha a trabalho escravo"? Como que uma mulher responsável por uma pasta tão sensível tem a petulância de perguntar como vai comer, como vai beber, como vai calçar, ganhando apenas o teto do funcionalismo público - mais de 33 mil reais por mês? Temer, o Velho, deveria tê-la exonerado na hora. Fim do problema! A pobrezinha teria que sobreviver apenas com sua irrisória aposentadoria de 30 mil reais por mês, algo com que a imensa maioria dos brasileiros sequer consegue sonhar. Luislinda deu um tapa na cara do país, sufocada pela própria ganância. Não se sabe de uma única medida importante que a feiosa tenha tomado enquanto ministra, mas seu lugar na história acaba de ser garantido. Na lata de lixo, é claro.
quinta-feira, 2 de novembro de 2017
DE FOFA NÃO TEM NADA
Eu já tinha lido muitos comentários elogiosos na internet, mas precisei levar uma chamada de um leitor deste blog para criar vergonha na cara e finalmente mergulhar na matéria sobre o "Fofão da Augusta" que o Chico Felitti publicou no BuzzFeed há quase uma semana. Conheço o Chico há quase dois anos. Ele trabalhou na Folha e ainda colabora frequentemente com o jornal. Tem um texto primoroso, e nossos gostos em cinema batem perfeitamente: sempre concordo com as críticas dele. Mas agora estou me roendo de inveja, porque ele assinou simplesmente uma das grandes reportagens do ano. Foi atrás de um figura que todo paulistano conhece - o ex-travesti de bochechas deformadas que distribui folhetos e pede dinheiro nos sinais da região da rua Augusta - e desencavou uma história nada fofa, que envolve esquizofrenia, abandono e miíase (que eu nem sabia o que era, mas agora não sai mais da minha cabeçaaaaa). Coragem, leia o artigo você também. E palmas para o Chico Felitti.
PANDORA MORTA-VIVA
Glenn Close num filme de zumbis! Sim, minha atriz favorita sucumbiu à praga que assola o mundo do entretenimento. Mas não é um filme de zumbi qualquer: "Melanie - A Última Esperança" tem um roteiro original e um final surpreendente, bem distante do que se costuma fazer no gênero. A premissa é interessante: e se alguns mortos-vivos não "morressem"? E se fossem seres humanos plenamente funcionais, com mentes e corpos em perfeito estado e apenas o pequeno detalhe de comerem carne humana? A Melanie do título faz parte de um grupo de garotos desse tipo, que são estudados numa espécie de quartel em um futuro pós-apocalíptico. A menina é inteligente e se afeiçoa à professora, mas não pode sentir certos cheiros para não despertar sua voracidade. Em certo momento, é comparada ao mito grego de Pandora, "a portadora de presentes": aquela que traz todas as desgraças ao mundo, mas também a esperança. O longa não passou pelos cinemas brasileiros, mas já pode ser visto em todas os serviços on-demand. Eu me diverti, apesar de achar que o gênero zumbi já devia estar enterrado. Mas entendi porque ele não morre: é uma metáfora da boçalidade que nos engolfa, como um vírus que se espalha pelo ar.
quarta-feira, 1 de novembro de 2017
PROTESTE JÁ
Ontem fez 500 anos que Martinho Lutero pregou suas famosas 95 teses nas portas da catedral de Wittenberg, o marco zero da Reforma Protestante. Uma das causas de sua revolta era a venda de indulgências pela Igreja Católica: os fiéis compravam um lugarzinho no céu, enquanto o Vaticano enchia as burras do tesouro. Cinco séculos e milhares de novas denominações depois, fico só pensando na reação de Lutero ao ver que os neopentecostais, esses neo-vendilhões do templo com suas toalhinhas milagrosas, ainda têm o desplante de se dizer protestantes.
RAPP DAS ARMAS
A mesma matéria publicada pelo BuzzFeed no domingo com as acusações de Anthony Rapp a Kevin Spacey traz uma foto em que pouca gente reparou no início. É uma cena da peça "Precious Sons", onde Rapp aparece sendo carregado no colo por Ed Harris. Foi com este espetáculo que o então ator-mirim fez sua estreia na Broadway, e era onde estava em cartaz quando foi convidado para a festinha na casa de Spacey, que aparecia em outro teatro na mesma época. O detalhe curioso é que, ao descrever o episódio de assédio, Rapp diz que Spacey o carregou no colo, levou-o para a cama e se deitou sobre ele - EXATAMENTE como o pai de seu personagem em "Precious Son" fazia com o filho. Não estou dizendo que Rapp mentiu, mas não é um pouco de coincidência demais? Pode até ser que Spacey, que deve ter visto a peça, tenha tentado recriar o momento quando se viu a sós com o garoto. Talvez nunca saberemos a verdade. E talvez nem importe: já estão pipocando outros relatos incriminadores sobre o vencedor de dois Oscars, cuja carreira deve ter ido para o vinagre. Arrisco uma hipótese na minha coluna de hoje no F5: famoso por interpretar homens difíceis, com sexualidades torturadas, Kevin Spacey acabou se revelando um deles. Virou personagem de si mesmo.
(Obrigado ao Deco Ribeiro pela dica)
(Obrigado ao Deco Ribeiro pela dica)
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