segunda-feira, 30 de outubro de 2017

FRIEZA FAMILIAR


Um dos critérios que eu uso para escolher o que vejo na Mostra de SP é se o filme em questão foi o escolhido por seu país para reprentá-lo no próximo Oscar. Nessa toada, assisti a dois longas que vêm de lugares frios na Europa e falam de famílias cuja disfunção afeta até quem não faz parte dela. Um deles é o islandês "A Sombra da Árvore", que sequer usa a beleza natural da ilha - é um drama urbano que parece se passar em qualquer ponto da Escandinávia. O roteiro parte de uma briga de vizinhos (a árvore de um faz sombra na casa do outro) que logo escala para uma guerra total, daquelas em que ninguém tem razão. Os dois lares têm sérios problemas internos, que transbordam para complicar a picuinha. Talvez sejam problemas demais: a trama do filho adúltero poderia ser um pouco reduzida, o que valorizaria ainda mais essa história que parece saída do Antigo Testamento.

Bem mais badalado é "Happy End", o mais recente trabalho de Michael Haneke na França, que no entanto irá concorrer pela Áustria no Oscar. Depois da emoção que foi "Amour", o diretor retoma sua frieza habitual e também alguns temas que sempre lhe foram caros, como a imigração ou a alienação da burguesia. O elenco tem nomes como Isabelle Huppert, Jean-Louis Trintignant e Mathieu Kassovitz, mas o melhor papel coube a Fantine Harduin, que interpreta uma garota problemática. Ela faz parte de uma família rica da região de Calais, cuja empreiteira toca uma obra onde ocorreu um grave acidente; como se não bastasse, ninguém se dá bem com ninguém e alguns até pensam em se matar. Não é um filme divertido (Haneke nunca é), mas também não tem o impacto dos títulos anteriores. Saí com o coração gelado.

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