sexta-feira, 13 de outubro de 2017

DIVAS INJUSTIÇADAS

Por incrível que pareça, Grace Jones e Maria Bethânia têm muita coisa em comum. As duas nasceram em pequenas cidades do Terceiro Mundo, em famílias numerosas e religiosas. Saíram de casa cedo para tentar a sorte e se deram bem rapidamente. Construíram carreiras que já duram décadas e ambas continuam na ativa, mesmo tendo por volta de 70 anos. Suas vozes graves e poderosas as fazem reconhecíveis na primeira nota. Elas também têm a capacidade de se apoderar de qualquer música que cantam, trazendo-a para seu universo particular. Para completar, as duas viraram o assunto de documentários fracos.

"Karingana - Licença para Contar" acompanha a visita de Bethânia a Moçambique em 2016. O título se refere a uma expressão local usada por alguém que vai contar uma história, mas é justamente história o que falta no filme. Quem não souber muito sobre a antiga colônia portuguesa na África Oriental vai continuar sem saber: não há contextualização, nem muitas imagens que mostrem o país. A diretora Mônica Monteiro preferiu colher depoimentos de moçambicanos louvando a língua lusitana, o que é lindo mas não é didático. Também vemos Bethânia com um grupo de dança folclórica e conversando com os escritores Mia Couto (moçambicano) e Agualusa (angolano), que ela depois traz ao palco de seu show. O espetáculo em si, mais de poesia do que de música, poderia acontecer em qualquer lugar: não sabemos como é o teatro, nem a plateia. Mas é o que acaba salvando "Karingana", porque Bethânia é sempre fenomenal. Um ímã para os olhos e os ouvidos, ela transborda felicidade por estar em cena e nos torna felizes juntos. Merecia bem mais.
Pior ainda é "Grace Jones: Bloodlight and Bami", em que a diretora Sophie Fiennes consegue a proeza de tornar chata uma das mulheres mais interessantes do mundo. Durante cinco anos, a irmã do ator Ralph Fiennes seguiu a cantora por estúdios, bastidores e viagens à Jamaica. Passou outros cinco finalizando o filme, mas em nenhum momento lhe ocorreu dar alguma estrutura ao material que rodou. As sequências são montadas de qualquer jeito, fora de ordem cronológica ou qualquer outra que lhes desse sentido. Grace aparece mais velha, depois remoça, depois envelhece de novo, sem uma mísera legenda que identifique data e local. Vemos a diva tendo um de seus famosos ataques, o que é sempre divertido, e um pouco de sua família - o filho Paulo, o ex-marido Jean-Paul Goude, a neta Athena, então recém-nascida, e muitos do clã da Jamaica. Mas nada é explicado, nem mesmo o título - "bloodlight" é gíria para a luz vermelha que se acende nos estúdios durante as gravações, e "bami"é  um pão típico da Jamaica. Se eu não tivesse lido a autobiografia de Grace Jones dois anos atrás, teria boiado legal.

8 comentários:

  1. O Mio Babbino Caro
    Vochê disse tudo.

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  2. Gente do céu. Toda vez que ouço falar em Maria Betânia me vem na cabeça a cena do Didi imitando ela nos trapalhões. Não acho certo, mas não me aguento de dar risada...

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  3. Melhor assim, se fosse BetHânia seria diferente.

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  4. Conseguem ser piores do que a egolatria nonsense do filme publicitário da Gaga travestido de documentário? Porque aquilo é a coisa mais perto de lixo que artista pode criar.

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  5. Só a Bethânia já teve uns 3 filmes sobre ela, que eu me lembre.

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  6. Nenhum à altura da artista.

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