O melhor filme iraniano que eu já vi foi produzido na Alemanha. "Teerã Tabu" tem assunto, diretor e atores iranianos, e é falado em farsi - mas, se tivesse sido feito no Irã, todo mundo teria sido enforcado. Desconfio até que é por isto que se trata de uma animação em rotoscopia: os cenários externos foram aplicados na pós-produção, já que seria impossível filmar na frente deles. Porque o longa de Ali Soozandeh revela o lado oculto da sociedade de seu país, onde vicejam as drogas, a putaria e a violência da polícia religiosa. Histórias diferentes se entrelaçam no roteiro: uma prostituta que tenta colocar seu filho surdo na escola, um rapaz que precisa pagar pela reconstituição do hímen de uma moça que ele pegou numa festa, uma mulher que aborta toda vez que engravida do marido. Tudo isto com um visual alucinante e uma trilha eletrônica que lembra o Gotan Project. Eis o poder da diáspora iraniana: já tem tanta gente fora do país que já é o suficiente para fazer um filme sensacional.
Quem ficou por lá também faz bom cinema. Eu me surpreendi com a delicadeza de "Fôlego" (que a Mostra de SP rebatizou erroneamente de "Respiro"), escolhido para representar o Irã no próximo Oscar. É a primeira vez que esta honra cabe a uma diretora, e desconfio que o filme tenha algo de biográfico. Pois fala de uma menina que cresce numa cidade do interior enquanto o pau come na capital - da revolução que depôs o xá em 1979 até o começo da guerra com o Iraque, o que finalmente afeta em cheio a vida de todos. Não há exatamente uma trama, mas as memórias da garota: os amiguinhos, os ciganos, os tabefes que ela leva o tempo todo de todo mundo. Sei que é um clichê maior que o mar Cáspio, mas esses dois filmes tão diferentes entre si ajudam a formar uma imagem mais clara desse lugar complexo que é o Irã. Outro clichê - um tapete persa?