domingo, 24 de setembro de 2017

CHURRASQUINHO DE MÃE


"Mãe!" é o filme mais ame-o ou deixe-o do ano. Quem for ao cinema esperando um terror convencional - apesar do elenco de estrelas, incomum no gênero - vai se irritar muito. Quem for sabendo que é um filme de arte, com várias camadas e algumas interpretações possíveis, talvez - talvez - se divirta ao pensar um pouco. Jennifer Lawrence faz uma mulher casada com um poeta muito mais velho, feito por um Javier Bardem sem sotaque espanhol. Ela reforma e pinta a imensa casa isolada onde vivem. Ele está há um bom tempo com bloqueio criativo. Numa noite (só faltou ser "escura e tempestuosa"), chega um homem (Ed Harris) achando que ali é um hotel. Com pena do sujeito, o casal deixa-o ficar. No dia seguinte aparece a mulher dele: Michelle Pfeiffer, em seu papel mais vulcânico em anos. Aí os hóspedes começam a ficar inconvenientes, entrando em quartos proibidos e fazendo perguntas indiscretas. E então a coisa descamba por completo, com sequências absurdamente violentas. Seriam alucinações da protagonista, que acha que o marido não a ama mais? Ou é TUDO uma grande metáfora de sabe-se lá o quê? Saí achando que era uma crítica ao machismo, mas depois li uma entrevista do diretor Darren Aronofsky. Então pare de ler por aqui, porque vai chover spoiler.

Não parou, né? Pois bem: "Mãe!" é uma alegoria do Livro do Gênesis. A mãe do título é tanto a casa como Jennifer Lawrence, que representam a Terra. Ed Harris e Michelle Pfeiffer são Adão e Eva; sabendo disso fica bico sacar que os filhos deles são Caim e Abel (um mata o outro no filme). Há diálogos inteiros tirados da Bíblia. E o que Aronofsky quis dizer com tudo isso? Denunciar o aquecimento global e a destruição da vida no planeta pelo homem. Que não termina tão fácil assim, mesmo depois do incêndio que reduz quase tudo a churrasco. Aaaah bom.

19 comentários:

  1. "Aquecimento global"... Pena que a doutrina aquecimentista sofreu mais baque recentemente:

    http://www.telegraph.co.uk/science/2017/09/18/immediacy-threat-climate-change-exaggerated-faulty-models/

    Ah, a sétima arte...

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  2. Depois de Noé, Aronofsky entrou numa vibe bíblica. E se ele continuar nessa batida, vai acabar fazendo novela na emissora do dono do Templo de Salomão... É o Apocalipse, rs

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    1. O cristianismo é a base de TODA a civilização ocidental, da filosofia à ciência, da alta cultura ao imaginário popular, da organização social ao arcabouço psíquico em cada um de nós. Destruir a cristandade é destruir o ocidente. Aronofsky apenas percebeu o óbvio.

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    2. Hmm, não. A filosofia e conceitos como a democracia datam de ANTES do advento do cristianismo. Vêm da Grécia, com desvio por Roma.

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  3. Tb achei que fosse uma crítica ao sistema patriarcal, que domina os códigos de conduta da nossa sociedade doente. E tinha gostado muito do filme. Mas agora que vc entregou o ouro com essa entrevista cretina do diretor, estragou totalmente toda a minha leitura. Odeio o fole e o teu blog tb, hahaha

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  4. Os últimos diálogos para mim significaram o filme, quando ela lhe diz: "Pensei que eu lhe bastaria", e ele responde algo tipo "É impossível bastar".

    Quasei chorei nessa hora, me lembrei de um relacionamento em que eu não consegui "bastar" a uma pessoa, que sempre queria sexo com outro, e outro, e outro. Talvez nunca sejamos suficientes para completar alguém.

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    1. Your ass was not enough. Deal with ir.

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    2. I am trying... its so complicated...

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  5. Mesmo que fosse um filme feito pra explicar o eu-feminino, as angustias de ser uma mulher, o patriarcalismo, etc...a forma encontrada pelo diretor é chata demais. Depois de ler o q vc escreve sobre a entrevista do diretor, me arrependi de ter comprado o ingresso.

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  6. Fico passado com a cultura rasa das bichas de hoje em dia: conhecem de orelhada o resumo de uma equivocada teoria crítica ao sistema patriarcal e acham que o mundo deve se adequar ao limitado espectro de suas fantasias.

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  7. de chata e complicada basta minha vida. zulivre

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  8. Esse filme foi vaiado em um festival, não?

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    1. Dividiu opiniões no Festival de Toronto e vem sendo muito malhado pela crítica internacional.

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  9. Vc viu o doc da Gaga, Tonny? Nenhum comentário?

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    1. Sim, vi. Foi o assunto de minha coluna de sexta no F5:

      http://f5.folha.uol.com.br/colunistas/tonygoes/2017/09/documentario-faz-retrato-intimista-e-dolorido-de-lady-gaga.shtml

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  10. Essa anônima do zulivre deve ser daquelas cacuras que caçam em cinemão da República,KKKKKKKKKKKKK

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    1. O anonimo 02:03 além de insone, como cigana p advinhar a vida dos outros vai passar fome. Como fiscal do gosto alheio também. Só n mando à merda pq ja está lá.

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  11. O filme me fez pensar muito.

    Algumas cenas são realmente muito pesadas, de revirar o estômago.

    Como já li muito a Bíblia consegui pegar algumas referências desde o começo, final triste.

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  12. Fui sem ler críticas ou análises. Achei uma experiência sufocante. Um homem gritou alto na sessão "filho da puta!"... para o personagem de Bardem. Nota 7,5.

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