domingo, 10 de setembro de 2017

A TRANSIÇÃO CHILENA


O Chile é um lugar curioso. A ditadura militar deles matou muito mais gente, proporcionalmente à população do país, do que a nossa. A influência da Igreja Católica é ainda maior do que no resto da América Latina, e o divórcio só foi aprovado por lá em 2004. Mesmo assim, o governo Pinochet nunca reprimiu os homossexuais - consta até que tinha ministros gays, porém "discretos e fora do meio". Essa hipocrisia é o pano de fundo de "Uma Mulher Fantástica", o provável indicado chileno para o próximo Oscar de filme em língua estrangeira. Marina é uma mulher trans que já vive com um homem muito mais velho do que ela há pelo menos um ano. Quando o sujeito morre de repente, a família dele até que não a expulsa imediatamente do apartamento onde viviam, mas tampouco a recebe de braços abertos. Ela é tratada o tempo todo como uma aberração, ainda que, na maioria das vezes, um véu de respeito disfarce o preconceito. Mesmo assim, Marina não se submete - a meu ver, ela até torna as coisas mais difíceis para si mesma. Mas é a interpretação de Daniela Vega (que é trans na vida real) realmente é digna de prêmios. Ela transmite a força da personagem, que fala pouco, só com o olhar. Sem a pieguice da "superação", "Uma Mulher Fantástica" mostra que uma boa parte do Chile está no século 21.

8 comentários:

  1. "(...) consta até que tinha ministros gays, porém "discretos e fora do meio'", aqui até hoje ainda tem, no governo atual são 2 ou 3? ai gente, me perdi no cálculo, kkk. Alguém ajuda. "Sem a pieguice da "superação'", precisava da palavra pieguice?! Pra muitos de nós su-pe-ra-ção ainda é a palavra de ordem, acho que você na sua condição de gay bem de vida não sabe o que significa superação pra muitos de nossos semelhantes que vivem em condições sociais precárias. Fiquei com uma baita vontade de assistir ao filme. O Chile é um país no estilo de mudança conservadora, aos poucos, sem grandes sobressaltos. E é assim que o país vai caminhando.

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    1. Precisava, porque o filme não é piegas - e tenho visto muita pieguice quando o assunto é transexualidade.

      Mas se você curte uma pieguice, então não vá ver.

      De resto, reparou que estamos falando a mesma coisa?

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  2. Enquanto isso no Brasil xucros do MBL que apoiam Dória para presidente, mandam fechar exposição, definem o que é arte e decidem que eu não tenho livre escolha nem poder de decisão para entrar num centro cultural. Triste tempos esses do Brasilzistão! Parabéns a quem deu voz a esses acéfalos!

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    1. Ninguém "dá voz" a esses acéfalos. Isto é compactuar da mesma ideia de que se pode calar quem não concorda conosco.

      O MBL finalmente se revelou em toda sua podridão com esse episódio de Porto Alegre. Vou subir um post ainda hoje, sem dó nem piedade.

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    2. A Folha publicou uma matéria sobre o assunto e os comentários são de chorar de tristeza. Mais de 80% são a favor da censura e de apoio ao fechamento da exposição. Se isso não é "dar voz" ao MBL não sei o que seria!

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    3. Mas então, o que você sugere? Que a Folha não noticie o fechamento da exposição?

      Ou que proíba os comentários em suas matérias? Te garanto que este é um debate constante dentro do jornal - mesmo não sendo funcionário de lá, eu já participei de um deles.

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    4. Muito pelo contrário! A Folha e todos os jornais tem mais é que publicar matérias sobre o assunto e seus desdobramentos. E os comentários necessários, numa democracia, mesmo que seja para termos noção do grau de imbecilidade que chegamos, onde a maioria festeja o fechamento de uma exposição por não concordar com seu conteúdo! E só para registro, o site do jornal Gazeta do Povo,de Curitiba e principal jornal do Paraná, deu como manchete: Santander cancela exposição que fazia apologia a pedofilia e zoofilia. Ou seja...tristes tempos!

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  3. 00:14, tem gay nesse governo? Eu pensei que só tinha feladaputa!!!?

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