domingo, 16 de julho de 2017

NADA DE NOVO NO FRONT ANGOLANO


Poucos conflitos foram mais absurdos que a Guerra Colonial Portuguesa. Em 1961, a ditadura salazarista resolveu lutar contra a história: enquanto que potências como a Grã-Bretanha ou a França davam independência a quase todas suas colônias, Portugal quis manter seu império ultramarino a todo custo. Seguiram-se 13 anos de batalhas inglórias, que só terminaram com a Revolução dos Cravos em 1974 - liderada, justamente, por oficiais desgostosos que voltavam da África. Esse período conturbado é retratado em "Cartas da Guerra", baseado na correspondência entre o escritor António Lobo Antunes e sua mulher, enquanto ele servia em Angola. O filme foi o candidato de Portugal ao último Oscar, e é muito bonito: tem esmerada fotografia em preto e branco, enquadramentos bem cuidados e a presença do galã Ricardo Pereira, figura fácil nas novelas da Globo. Mas também é meio chato: consegue captar o tédio do front, onde os dias se arrastam sem que muita coisa aconteça entre um combate e outro. Não há uma história, e o espectador leigo vai sair sem saber como o sarilho começou ou acabou. Mas talvez o intuito fosse este mesmo: mostrar a saudade como inerente à guerra. Qualquer guerra. 

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