Ela tinha anéis em cada dedo
E muitas pulseiras ao redor dos pulsos
Além disso, cantava com uma voz
Que sempre me alegrava
Ela tinha olhos, olhos de opala
Que me fascinavam, me fascinavam
E tinha o oval de seu rosto
De mulher fatal que me foi fatal
Nos conhecemos, nos reconhecemos,
Nos perdemos de vista, nos reperdemos de vista
Nos reencontramos, nos reaquecemos
Depois nos separamos
Cada um por si partiu
No turbilhão da vida
Eu a revi uma noite, ai ai ai
Já faz bastante tempo
Já faz bastante tempo
Ao som dos banjos eu a reconheci
Este curioso sorriso que tanto me agradou
Sua voz tão fatal, seu belo rosto pálido
Me emocionaram mais do que nunca
Eu me embiraguei ao escutá-la
O álcool faz esquecer o tempo
Eu me acordei ao sentir
Beijos no meu rosto ardente
Beijos no meu rosto ardente
Nos conhecemos, nos reconhecemos,
Nos perdemos de vista, nos reperdemos de vista
Nos reencontramos, nos separamos
No turbilhão da vida
Continuamos a rodar
Os dois entrelaçados
Os dois entrelaçados
Depois nos reaquecemos
Cada um partiu por si
No turbilhão da vida
Eu a revi uma noite, ah l ala
Ela caiu de novo em meus braços
Quando nos conhecemos,
Quando nos reconhecemos,
Porque nos perdemos de vista,
Nos reperdermos de vista?
Quando nos reencontramos,
Quando nos reaquecemos,
Porque nos separarmos?
E todos os dois repartiram
No turbilhão da vida
Continuamos a rodar
Os dois entrelaçados
Os dois entrelaçados
(Há anos que eu penso em fazer uma versão em português de "Le Tourbillon", a canção que Jeanne Moreau interpreta em "Jules e Jim". Mas a letra original é dificílima, com rimas que desafiam a métrica. Por hoje, fica aqui a tradução pura e simples, em homenagem a uma das maiores divas de todos os tempos.)
segunda-feira, 31 de julho de 2017
A DISSOLUÇÃO DA VENEZUELA
A Venezuela está em vias de se tornar um estado falido? Um país como a Somália ou a Síria, em que o estado não funciona mais e todos lutam contra todos? Talvez ainda não, mas não duvido que o seja em bem pouco tempo. A eleição espúria de ontem teve comparecimento baixo: o próprio governo diz que foi de 41%, e este número deve estar inflacionado. Enquanto isto, sobe o número de mortos e despencam ainda mais os indicadores sociais - 81% da população abaixo da linha de pobreza é uma cifra digna do Haiti, não de um dos maiores exportadores de petróleo do mundo. Mas é justamente a dependência do petróleo que está na raiz dos problemas venezuelanos. É inconcebível que um país tão fértil, sem aéreas desérticas, precise importar até frango e leite dos vizinhos.
O que acontece agora? Impossível dizer. Eu, pessoalmente, acho que a coisa vai piorar ainda mais antes de melhorar. Porque o chavismo seguiu à risca a cartilha castrista e adotou a mesma estratégia da ditadura cubana para sobreviver: entregou grandes partes da economia ao controle do exército. A cúpula militar lucra com o regime, então a possibilidade de um golpe parece longínqua.
Aqui no Brasil, o mais chocante é ver lideranças do PT e do PSOL dando apoio inequívoco ao crescimento do autoritarismo na Venezuela, ignorando o singelo fato de que Maduro deveria, no mínimo, ter convocado um plebiscito para saber se o povo queria mesmo uma Constituinte (o que Chávez fez em 1999). Sem falar nas prisões políticas, na imprensa perseguida, no cancelamento das eleições de 2016, no fechamento do Parlamento eleito democraticamente, na inflação e na violência galopantes... Pelo menos agora sabemos as reais intenções dessa turma. Que esqueceu que essas palavras se voltarão contra ela no ano que vem.
domingo, 30 de julho de 2017
MULTITELEI
A partir de hoje, passo a assinar a coluna "Multitela" na Folha de S. Paulo. No jornal impresso, ela é publicada na página 2 da Ilustrada, logo abaixo da Monica Bergamo - menos aos sábados, quando migra para outro ponto do caderno. Online, pode ser lida no F5, onde eu também continuo com a minha outra coluna. Todos os dias - sim, TODOS - vou dar quatro ou cinco dicas do que ver na TV aberta, TV paga, VOD e até YouTube. Espero destruir carreiras e ser convidado para lançamentos em Los Angeles. Também espero críticas e sugestões, muitas sugestões. Mande a sua!
sábado, 29 de julho de 2017
O ANTI-DIA D
A retirada de Dunquerque, em 1940, é um episódio relativamente pouco conhecido da 2a. Guerra Mundial. Porque, tecnicamente, foi uma derrota dos aliados, que evacuaram este porto no extremo norte da França sob intenso bombardeio alemão. Ao contrário do Dia D, que aconteceu quatro anos depois e rendeu dezenas de filmes, Dunquerque ainda não tinha seu registro cinematográfico definitivo. Agora tem: "Dunkirk" (o título em português manteve a grafia inglesa do nome da cidade) é cinemão do bão, desse que tem que ser visto na tela grande. O diretor Christopher Nolan fez seu filme menos pop, mas nem por isto menos empolgante. "Dunkirk" é sóbrio e patriótico, sem jamais cair na patriotada. Vai ser indicado a uma carrada de Oscars, e deve ganhar alguns. Mas, cá entre nós: eu gostei, mas não saí cantando hino. Culpa das duas semanas de críticas entusiasmadas que antecederam o lançamento no Brasil, e que inflaram as minhas expectativas.
AGORA SÃO QUATRO
Preenchi mais uma lacuna no meu currículo: assisti a um show da Gretchen. Show é força de expressão, porque a rainha do rebolado só faz aquilo que os americanos chamam de P.A., personal appearance: dança, dubla, conversa com a plateia e fim. No caso de Gretchen, o setlist inclui todos os três hits que lhe deram 40 anos de carreira. Se bem que agora são quatro, já que "Swish Swish" - na voz de Katy Perry mesmo - abre o show. Não precisa mais nada.
sexta-feira, 28 de julho de 2017
TRUMPGÊNERO
Tenho postado bem pouco sobre Donald Trump, o que não significa que eu não me choque com as barbaridades que ele comete e profere todos os dias. Uma das mais recentes foi o plano de proibir transgêneros de servir nas Forças Armadas americanas. O presidente diz que se baseia em "estudos" que comprovariam o gasto em medicamentos causado pelos trans, mas só está tentando agradar a um dos poucos segmentos que ainda o apoiam: a extrema direita religiosa. Provavelmente não vai colar, assim como o muro na fronteira com o México ou a rejeição ao Obamacare. Trump achou que poderia governar os EUA do mesmo jeito que comanda suas empresas, aos gritos e sem a menor contestação. Não duvido nada que ele acabe renunciando só de pirraça, antes de sofrer o, aparentemente, cada vez mais inevitável impeachment.
MIAU EM TURCO
Chega de treta. Vamos falar de gatinhos? "Gatos" deve ser o mais longo vídeo de gatinho jamais feito - inclusive, um de seus produtores é o próprio YouTube. Quem for louco por felinos vai ter frêmitos de prazer com esse documentário rodado em Istambul; o resto vai achar chato. Como eu sou semi-louco, adorei rever uma cidade para onde já fui duas vezes. E até que achei bonitinhas essas pequenas feras, que são criadas nas ruas meio que sem dono - ou talvez com vários. A diretora Ceyda Torun não fecha nenhuma história: não ficamos sabendo se o gato caçador pegou o rato (apesar de ambos terem sido filmados no escuro de um bueiro), nem se o gatinho moribundo levado a um hospital conseguiu sobreviver. Mas talvez seja demais exigir arco dramático. Gatos são gatos, aqui ou na Turquia.
quinta-feira, 27 de julho de 2017
BICHA, MELHORE
Johnny Hooker caiu na besteira de atacar Ney Matogrosso justo na semana em que está lançando seu segundo álbum solo. Conseguiu contaminar seu novo trabalho: para mim, é impossível ouvir "Coração" sem pensar no Ney. O que nem é justo, pois, se por um lado Johnny compõe suas próprias músicas, por outro é um cantor bastante limitado. E esses limites ficaram claríssimos neste disco, onde ele sai à luz do dia já na capa. Foi-se o clima noturno, de cabaré enfumaçado, presente em sua estreia dois anos atrás, o impactante "Eu Vou Fazer uma Macumba pra te Amarrar, Maldito!". E entraram outros ritmos, como o tecnobrega paraense e a marchinha de carnaval. Mas essa aparente diversidade só acentua a pobreza da proposta de Hooker. Quase todas as letras destilam ódio a um ex-amor, uma fórmula que já deu o que tinha que dar. Rimas previsíveis, melodias ruins e vocais sofríveis fazem suspeitar que sobra atitude onde falta talento. É um caso parecido com o de Liniker, com quem o pernambucano faz dueto em "Flutua", a primeira faixa de trabalho de "Coração". Os dois aparecem se beijando na foto promocional, mas isto não basta para que a música seja de fato boa. Johnny Hooker ainda precisa melhorar muito para fazer jus à trilha que lhe foi aberta por Ney Matogrosso.
LOURAÇA BELZEBU
Ontem eu só tive cabeça para o Ney Matogrosso, então vou comentar hoje uma notícia que já está velha: o apoio irrestrito que a senadora Gleisi Hoffmann deu ao regime purulento de Nicolás Maduro. A presidente do PT foi ao encontro do Foro de São Paulo em Manágua e disse que o tiranete venezuelano tem "legitimidade", pois foi eleito pelas urnas. Ela esquece que essa legitimidade começou a evaporar quando Maduro passou a não reconhecer o Congresso dominado pela oposição, também eleita pelas urnas. E se esvaiu por completo quando as eleições para os governos estaduais foram canceladas no ano passado, porque o chavismo tem medo de quem as urnas possam eleger. É interessante saber que Lula preferia mais comedimento da parte de sua correligionária, pois ele sabe que as palavras dela poderão ser usadas pelas campanhas dos adversários. Principalmente contra a própria paranaense, que concorre à reeleição em 2018. Enrolada na Lava-Jato e agora fã declarada de uma proto-ditadura, Gleisi Hoffmann pode estar em fim de carreira.
quarta-feira, 26 de julho de 2017
TEXTÃO MATOGROSSÃO
Perdão se aborreço, mas preciso voltar ao assunto Ney Matogrosso. Já tinha dado por encerrada a mini-treta em que me envolvi com alguns leitores deste blog neste post da semana passada, mas só ontem tomei conhecimento das declarações desastrosas que Johnny Hooker deu sobre um dos maiores ícones brasileiros de todos os tempos. Não, não acho que Ney seja incriticável: nenhum artista está acima do bem e do mal. Mas o que Hooker disse no Facebook é mais um exemplo da arrogância de uma geração que acha que o mundo começou com ela. Também mostra que o pernambucano não é lá muito bom em interpretação de texto - se é que ele leu a já famosa entrevista que Ney deu à Folha até o fim.
Johnny Hooker tomou vergonha na cara e apagou o post. Mas claro que, à essa altura, a internet registrou suas palavras para todo o sempre:
"É inconcebível ler a frase "Que gay o caralho, eu sou um ser humano" no país que mais mata LGBTs do MUNDO (!!).Vinda de um artista cuja carreira em grande parcela se apoiou na bandeira da luta dessa comunidade, de seu próprio público. Um artista genial que perdeu o andar que o mundo tomou, ficou cristalizado, um cânone. O que um dia foi uma das maiores forças libertárias do país hoje se reduz a reproduzir o senso comum do "fora todos". E ainda declara em outra parte "não sou travesti, sou homem, tenho pau e gosto de usá-lo" e só me vêm à cabeça as figuras de Linn da Quebrada e das Bahias, "mulheres de paus", comunicando pro agora e pro depois. E em tempos de ‘Gay é o caralho’ a única resposta possível é que vai ter gay pra caralho, vai ser gay pra caralho sim, cada dia mais gay, cada dia um level a mais igual Pokémon".
Johnny, QUALQUER lugar onde o Ney esteja vai ter gay pra caralho. Porque Ney já estava rebolando e se assumindo gay muito antes de você nascer. O visual, as letras das músicas, a voz, tudo deixava claríssima a orientação sexual sem que ele precisasse dizer mais nada. Mas ele disse: em 1978, durante o governo Geisel (ou seja, em plena ditadura militar, com a censura bombando), Ney deu uma entrevista histórica à versão brasileira da "Interview", onde se declarava homossexual com todas as letras já na chamada da capa. A revista chegou a ser investigada por incentivar comportamentos desviantes, como se estivesse hoje na Rússia de Putin. Queria muito ver você ter a coragem de fazer o mesmo.
(Em tempo: a foto da "Interview" que ilustra este post foi roubada do Facebook do Mario Mendes, que já colecionava a revista antes de ir trabalhar na própria)
Ney Matogrosso jamais esteve no armário, mas se recusa a ser definido apenas como homossexual. Ele é muito mais do que sua sexualidade - como, aliás, qualquer um de nós. Foi isto o que ele disse à Folha, mas a militância emburrecida que temos hoje achou por bem problematizar um cara que abriu caminhos para ela. Inclusive para Johnny Hooker, que já copiou, inconscientemente ou não, maquiagem e figurinos de Ney. E que também disse nesta entrevista de dois anos atrás que "rejeita rótulos" e que "não existe música gay, existe música de gente".
Encerro este textão com outro, de Nelson Moraes, que já está viralizando:
Estava o Ney Matogrosso em seu camarim, terminando de retocar a maquiagem pro show, quando reparou que o reflexo no espelho apresentava, como direi, movimentos milimetricamente atrasados em relação aos dele próprio. Observou melhor, fez mais alguns gestos, e notou que o gap entre o que ele fazia e o que o reflexo mostrava devagarinho ia se ampliando, até chegar a algo como dois ou três segundos de atraso, o suficiente pra imagem no espelho se configurar como independente. Por fim o Ney sacudiu a cabeça e o reflexo não fez nada, só ficou olhando.
– Você é quem mesmo? – perguntou o Ney.
– Acho que não fomos apresentados – disse o reflexo, saboreando os primeiros respiros de vida própria. – Eu sempre me espelhei em você.
– Reparei – disse o Ney, olhando pro relógio do camarim.
– Você sempre foi um modelo que...
– Escuta – o Ney falou –, o show começa em um minuto. Você podia ir direto ao assunto?
– Claro. Aquilo que você disse.
– O que eu disse?
– “Que gay o caralho. Eu sou um ser humano.”
– Sim. E…?
– Olha – e aqui o reflexo tentou uma leve sacudida de cabeça, como se o atraso na imitação mostrasse que ele é quem ditava o ritmo. – Você tem que pedir desculpas por aquela frase. Pegou muito mal, e nós, que transgredimos a…
– Sabe qual é o problema do mundo? – falou o Ney, já se levantando.
– Não.
– Reflexo que não tem espelho em casa. Te enxerga.
Johnny, QUALQUER lugar onde o Ney esteja vai ter gay pra caralho. Porque Ney já estava rebolando e se assumindo gay muito antes de você nascer. O visual, as letras das músicas, a voz, tudo deixava claríssima a orientação sexual sem que ele precisasse dizer mais nada. Mas ele disse: em 1978, durante o governo Geisel (ou seja, em plena ditadura militar, com a censura bombando), Ney deu uma entrevista histórica à versão brasileira da "Interview", onde se declarava homossexual com todas as letras já na chamada da capa. A revista chegou a ser investigada por incentivar comportamentos desviantes, como se estivesse hoje na Rússia de Putin. Queria muito ver você ter a coragem de fazer o mesmo.
(Em tempo: a foto da "Interview" que ilustra este post foi roubada do Facebook do Mario Mendes, que já colecionava a revista antes de ir trabalhar na própria)
Ney Matogrosso jamais esteve no armário, mas se recusa a ser definido apenas como homossexual. Ele é muito mais do que sua sexualidade - como, aliás, qualquer um de nós. Foi isto o que ele disse à Folha, mas a militância emburrecida que temos hoje achou por bem problematizar um cara que abriu caminhos para ela. Inclusive para Johnny Hooker, que já copiou, inconscientemente ou não, maquiagem e figurinos de Ney. E que também disse nesta entrevista de dois anos atrás que "rejeita rótulos" e que "não existe música gay, existe música de gente".
Encerro este textão com outro, de Nelson Moraes, que já está viralizando:
Estava o Ney Matogrosso em seu camarim, terminando de retocar a maquiagem pro show, quando reparou que o reflexo no espelho apresentava, como direi, movimentos milimetricamente atrasados em relação aos dele próprio. Observou melhor, fez mais alguns gestos, e notou que o gap entre o que ele fazia e o que o reflexo mostrava devagarinho ia se ampliando, até chegar a algo como dois ou três segundos de atraso, o suficiente pra imagem no espelho se configurar como independente. Por fim o Ney sacudiu a cabeça e o reflexo não fez nada, só ficou olhando.
– Você é quem mesmo? – perguntou o Ney.
– Acho que não fomos apresentados – disse o reflexo, saboreando os primeiros respiros de vida própria. – Eu sempre me espelhei em você.
– Reparei – disse o Ney, olhando pro relógio do camarim.
– Você sempre foi um modelo que...
– Escuta – o Ney falou –, o show começa em um minuto. Você podia ir direto ao assunto?
– Claro. Aquilo que você disse.
– O que eu disse?
– “Que gay o caralho. Eu sou um ser humano.”
– Sim. E…?
– Olha – e aqui o reflexo tentou uma leve sacudida de cabeça, como se o atraso na imitação mostrasse que ele é quem ditava o ritmo. – Você tem que pedir desculpas por aquela frase. Pegou muito mal, e nós, que transgredimos a…
– Sabe qual é o problema do mundo? – falou o Ney, já se levantando.
– Não.
– Reflexo que não tem espelho em casa. Te enxerga.
terça-feira, 25 de julho de 2017
FOFINHOS EM PARIS
Uma amiga minha viu "Perdidos em Paris" e disse que era de rir alto. O filme nem estava na minha lista, mas lá fui eu. Descobri tarde demais que é dirigido por Fiona Gordon e Dominique Abel, de quem eu assisti "Rumba" alguns anos atrás - e do qual não gostei muito. O estilo do casal remete ao humor visual de Jacques Tati, e é preciso embarcar no clima "quirky" desde o primeiro minuto. Não foi o meu caso, e em vários momentos o excesso de fofura me irritou. Pelo menos tem a grande Emmanuelle Riva (indicada ao Oscar por "Amor" em 2013) num de seus últimos papéis. E, de qualquer forma, é sempre bom rever Paris.
O CONSENSO DE WASHINGTON
Cada vez mais, a circulação de notícias e não-notícias pelas redes sociais se assemelha àquela fábula indiana dos cegos tocando num elefante: cada um entende o que estiver mais à mão. A entrevista que Washington Olivetto deu ao site da BBC Brasil é um exemplo cristalino disso. A manchete "Empoderamento feminino é um clichê" foi interpretada de maneiras opostas à direita e à esquerda. Teve gente que achou que o publicitário estava "desmascarando" o feminismo; teve gente que achou que ele estava denegrindo as mulheres. Não, galera, Washington só estava dizendo que o USO do empoderamento feminino pela propaganda resvala, muitas vezes, no clichê (e não só ele, é claro). Que preguiça de ler uma matéria até o fim, hein?
segunda-feira, 24 de julho de 2017
PASITO A PASITO, SUAVE SUAVECITO
o bem e para o mal, "Despacito" já é A música de 2017. E nem a versão em português conseguiu ser tão horrível quanto sua apropriação como jingle da espúria Constituinte convocada por Maduro na Venezuela. Os compositores e o cantor Luis Fonsi já rejeitaram a gracinha, mais uma para o extenso rol de vexames do regime chavista. Que parece estar caindo devagarinho...
HADDAD 2018?
E de repente, minhas timelines se encheram de posts de amigos apoiando a candidatura de Fernando Haddad nas eleições presidenciais do ano que vem. É um fenômeno que já foi detectado pela imprensa: setores do próprio PT já partiram para o plano B, conformados com a provável condenação de Lula em segunda instância. Tem gente, aliás, que prefere Haddad mesmo se Lula puder sair candidato. Eu sou um deles, apesar de não ser petista. Acho que o tempo do ex-presidente já terminou. Sua carreira política foi ferida de morte por tantos escândalos, e uma eventual campanha sua em 2018 para voltar ao Planalto só vai dividir ainda mais o Brasil. Faz tempo que eu digo aqui no blog que o ex-prefeito de São Paulo é a melhor saída para o PT. Haddad é um quadro hiper-qualificado e seu nome não está envolvido (até o momento...) em nenhuma das maracutaias que afligem muitos de seus correligionários. O probleminha é que ele não foi reeleito para a prefeitura paulistana. Como, então, pode sonhar com a presidência já no ano que vem? Aí é que está: não pode. Sua candidatura em 2018 serviria para torná-lo conhecido em todo o Brasil, e turbiná-lo para 2022. Mas, para isto, Lula teria que largar o osso, o que parece improvável. Aposto que ele entrará com todos os recursos possíveis para se candidatar, não hesitando sequer em incentivar embates nas ruas. E assim, Haddad ficará para as calendas.
domingo, 23 de julho de 2017
PROGRAMA DE GAROTOS
Nunca contratei os serviços de um prostituto. Nada contra quem o faça, mas para mim funciona como Viagra ao contrário: nada mais brochante do que transar com alguém que não tem tesão por mim. Sem falar do perigo que é levar um estranho para dentro da sua casa, embora milhões de usuários do Grind'r façam isto todos os dias. Este flerte com o perigo faz parte da moderna experiência gay, e é um ingrediente importante de "Eastern Boys". O filme foi indicado a alguns Césars dois anos atrás e estava entre os incluídos de mais uma mostra do cinema francês, recém-terminada na Cinemateca Brasileira em São Paulo. Um francês de meia-idade conhece um garoto de programa ucraniano na Gare de Lyon, em Paris; não posso entrar em detalhes do que acontece daí para a frente. Só que "Eastern Boys" consegue a rara façanha de ser um thriller ao mesmo tempo em que é um estudo sobre a carência humana e a nossa necessidade de estabelecer laços onde quer que seja. Sei que falar de um filme que não vai entrar em cartaz é uma merda de dica, mas "Eastern Boys" pode ser encontrado na íntegra no YouTube, com legendas em inglês numa versão ruinzinha. Coragem!
sábado, 22 de julho de 2017
ANTÍPODAS NA PAULISTA
A Japan House abriu em maio em São Paulo, mas eu resolvi dar um tempo para ver se as filas diminuíam. Acabei escolhendo o fim-de-semana errado: a exposição do bambu já acabou, e a do papel só inaugura no dia 29. Pelo menos deu para ver a mostra do arquiteto Kengo Kuma, que ocupa o térreo. O lugar é menor do que eu esperava, e ainda não está totalmente pronto. Faltam as pop-up stores da Muji e da Beats Japan, que terminarão por me arruinar. Mas é mesmo um encanto, e merece ser visto com calma, durante a semana. Quero até comer no restaurante, e olha que eu não curto a cozinha japonesa. Saindo de lá atravessamos a Paulista e fomos...
...ao Itaú Cultural, cujos dois últimos andares são ocupados pela Coleção Brasiliana. É uma mostra permanente que reúne gravuras e documentos que contam a história do Brasil. Tem, entre muitas outras coisas, imagens manjadas e desconhecidas de Rugendas e Debret, um passeio virtual pelo palácio de Maurício de Nassau em Recife e uma vitrine com as assinaturas de todos os presidentes, de Deodoro a Tancredo. Um deslumbre, inaugurado há três anos e que só agora eu fui visitar. Aliás, fica a dica: o pacote Japan House/Brasilianas é um bom programa para fazer com um amigo gringo.
sexta-feira, 21 de julho de 2017
MÚSICA DE FUNDO
O diretor americano Terrence Malick finalmente se livrou das amarras de um roteiro. "De Canção em Canção" sequer finge que conta uma história. É só um amontoado de cenas curtas, muitas delas belíssimas, sobre quatro jovens brancos sem problemas namorando entre si. Alguns deles trabalham com música, mas esta não chega a ser um tema importante para o filme como o título parece sugerir - é só um pretexto para mostrar, de vez em quando, ícones como Patti Smith ou Iggy Pop. Aliás, tema não há. Nem estrutura. Nem coerência. Malick parece ter ligado a câmera e pedido para seu elenco improvisar, mas não muito. Às vezes é agradável, às vezes é chato para caralho. Para me distrair nessas horas, fiquei matutando: com quem eu preferia passar o resto de meus dias, o Gosling ou o Fassbender?
O DIA DAMIGO
Dois anos atrás, Marcos Damigo brilhou num monólogo baseado em "Dom Casmurro", de Machado de Assis. Agora o ator encara um desafio ainda mais difícil: em "Memórias Póstumas de Brás Cubas", ele transforma a obra-prima machadiana num musical de um homem só. Com adaptação e direção de regina Galdino, o espetáculo é um autêntico tour de force, onde Damigo demonstra tudo o que sabe fazer - inclusive uma hilária imitação de João Gilberto. A peça estreou ontem no Teatro Eva Herz, dentro da Livraria Cultura do Conjunto Nacional, em SP, e fica em cartaz até o final de setembro. Saí com vontade de ler o livro, uma lacuna imperdoável no meu currículo.
quinta-feira, 20 de julho de 2017
HOMÃO COM H
Ontem dei um tempo nas várias séries que eu estou seguindo ao mesmo tempo para ver a entrega do Prêmio da Música Brasileira, transmitido pelo Canal Brasil. A cerimônia deste ano não teve patrocínio e foi todinha feita na faixa, sem nenhum artista recebendo cachê e, pela primeira vez, com ingressos à venda para o público. A premiação em si foi meio atabalhoada. Os indicados de várias categorias eram anunciados por celebridades que devem ter enviado seus vídeos por WhatsApp, e as apresentadoras Maitê Proença e Zélia Duncan liam na sequência os nomes dos vencedores. Aí subiam todos ao mesmo tempo no palco para buscar seus troféus, sem direito a discurso de agradecimento (o que não deixa de ser um alívio). O homenageado da noite era Ney Matogrosso, e nomes como Ivete Sangalo, Chico Buarque e Lenine cantaram músicas do repertório daquele que eu acho o maior artista solo brasileiro de todos os tempos. Ninguém se saiu muito bem: os arranjos eram óbvios, o som estava empastelado e o palco do Municipal do Rio de Janeiro parecia mais amplo e vazio do que nunca. Até que entrou o próprio Ney, no esplendor de quem vai completar 76 anos daqui a dez dias. A voz continua um cristal; o corpo, requebrando como sempre; só os cabelos estão mais brancos e ralos, mas e daí? O cara é um monumento, uma entidade e um sábio (já leu esta entrevista publicada ontem?). Ney é homem com H, e da porra.
FNACULTURA
O momento em que entrei numa FNAC pela primeira vez foi daqueles em que eu achei que tinha morrido e ido para o céu. Foi na imensa loja subterrânea do Forum Les Halles, em Paris, em 1982. Ela se expandia para baixo e para os lados em progressão infinita, como a Biblioteca de Babel de Jorge Luís Borges. Qual não foi meu orgasmo múltiplo quando a cadeia abriu sua primeira filial no Brasil, no final da década de 90 - e bem perto de onde eu morava na época. Tive os mesmos frêmitos de prazer quando a Livraria Cultura inaugurou sua primeira megastore, no shopping Villa-Lobos, também próximo ao meu antigo endereço. Parecia o slogan do Pintos Shopping de Teresina: tudo o que você mais gosta, no lugar que você que sempre quis. Frequentei os dois locais durante anos, e depois suas novas unidades na Av. Paulista. Cheguei a ter cartão FNAC por um bom tempo, e ainda estou cadastrado no programa Mais Cultura. Mas aí veio a internet, esse meteoro que causou a extinção dos CDs físicos. Comecei a ir na Cultura só por causa dos livros, e na FNAC - bom, quase nunca, porque ela retomou por aqui sua vocação original: um magazine de eletrodomésticos. Mesmo assim, foi com tristeza que soube das notícias de que a cadeia francesa estava saindo do Brasil e que a brasileira estava em apuros financeiros. Ontem, no entanto, uma supresa: a Cultura vai assumir as 12 lojas da FNAC no Brasil, que manterão o nome original - e também o atual mix de produtos, muito mais voltado para telefonia e informática. Adorei, até por que irão sobreviver duas marcas que eu amo. E o espaço que elas ocupam não vai ser invadido por igrejas evangélicas: ô glória!
quarta-feira, 19 de julho de 2017
OS PROTOBANQUEIROS
Adoro uma boa série histórica. Me joguei em "Victoria", me esfreguei em "Versailles" e até hoje não me conformo que "Os Borgias" foi interrompida na terceira temporada. Talvez tivesse durado mais se não houvesse sido lançada antes de "Game of Thrones". E aposto que o sucesso de "GoT" foi o empurrão para "Medici", um seriado italiano falado em inglês que já está disponível no Fox Premium. Inclusive porque o ator principal é Richard Madden, que antes fez o Robb Stark. Só isto o credencia para o papel de Cosimo Medici, pois é jovem demais e talentoso de menos. Pelo menos Dustin Hoffman encarna Giovanni, o patriarca da família que dominou Florença durante séculos e foi uma das precursoras da modernidade. Porque os Medici não eram nobres proprietários de terras, como os demais poderosos do final da Idade Média. Enriqueceram primeiro com o comércio, e depois com uma novidade que mudou o mundo: o banco. Pena que a saga do clã não seja tão rocambolesca para fazer o espectador ver vários episódios de enfiada. Ou então vai ver que o roteiro é capenga mesmo. Fica a dica, mas só para os aficcionados.
terça-feira, 18 de julho de 2017
O PELOURINHO REFORMADO
Podem me chamar de feitor de escravos, mas o fato é que eu li e reli os principais pontos da reforma trabalhista e não achei nada de mais. Os direitos mais importantes - e que países como os Estados Unidos nem sonham em dar - continuam todos lá: férias, 13o. salário, FGTS. As novidades, achei bem razoáveis. Sim, o horário de almoço pode ser negociado para apenas meia hora, ao invés da uma hora atual - em compensação, o trabalhador poderá sair meia hora mais cedo. Sim, as férias poderão ser quebradas - mas quem quiser continua tirando 30 dias corridos. Sim, o home office e o trabalho intermitente serão regularizados, e juro que não vi o menor problema nisso. Posso estar redondamente enganado, ou vai ver que eu sou mesmo um sinhô desumano. Mas quem tiver objeção à nova CLT, por favor explicite suas críticas nos comentários abaixo. Agradecido.
RONALDINHO AMIGUCHO
Um desastre de relações públicas: desavisado e/ou nem aí, Ronaldinho Gaúcho achou que pegaria super bem visitar a Chechênia e posar fazendo joinha ao lado do ditadorete de lá, o sanguinário Raman Kadyrov. E isto NA MESMA SEMANA em que foi divulgada uma entrevista onde o brutamontes diz que "gays não são gente" e "que estão à venda", quase confirmando a existência de campos de concentração para as bibas nessa república autônoma russa. Dize-me com quem andas...
segunda-feira, 17 de julho de 2017
SNOW IN RIO
"Soundtrack" é o primeiro filme que se passa quase todo na Antártica (nunca mais vou escrever "Antártida", que não faz o menor sentido). A bem da verdade, o lugar não é especificado. Mas dá para desconfiar que está ao sul do planeta porque a) o Brasil está presente na Antártica, mas não no Ártico e b) um personagem recomenda ao outro que nunca caminhe rumo ao sul, para não se perder para sempre. O mais incrível é que ninguém saiu do Rio de Janeiro: o longa foi inteirinho rodado em estúdio, numa demonstração convincente do que a nossa produção já é capaz de fazer. Pena que "Soundtrack" seja apenas bonito de se ver (e ouvir, pois a trilha é mesmo ótima). Emocionalmente, a história é oca, sem a porrada que seus autores imaginam estar dando no final. Isto porque o personagem de Selton Mello é mal construído. Sua motivação é rala - uma exposição de selfies (?) - e seus conflitos internos, jamais explicitados. Sobra a neve que, mesmo artificial, surpreende.
MADURO APODRECE
Era óbvio que quem participasse do plebiscito informal que rolou ontem na Venezuela iria votar contra a Constituinte convocada por Maduro. Até me espanto que o "sim" (à rejeição) tenha ganho com "apenas" 98,4% dos votos. Mais espantoso ainda é o silêncio da esquerda brasileira, que pede diretas-já por aqui mas finge que não viu que o proto-ditador venezuelano cancelou as eleições para governador do ano passado, só para não perder de lavada. Mas nada menos que sete milhões de pessoas se manifestaram ontem, numa gritaria que o chavismo insiste em ignorar por sua conta e risco. Daqui a duas semanas, alguns - não todos - cargos na Assembleia Constituinte serão escolhidos pelas urnas. Quer dizer, se houver eleição. Do jeito que a coisa vai, talvez não haja mais Venezuela.
domingo, 16 de julho de 2017
O INVERNO CHEGOU
Uma massa de ar polar chega esta noite a São Paulo, coincidindo com a estreia da sétima temporada de "Game of Thrones". A HBO teve ter gasto uma fortuna.
NADA DE NOVO NO FRONT ANGOLANO
Poucos conflitos foram mais absurdos que a Guerra Colonial Portuguesa. Em 1961, a ditadura salazarista resolveu lutar contra a história: enquanto que potências como a Grã-Bretanha ou a França davam independência a quase todas suas colônias, Portugal quis manter seu império ultramarino a todo custo. Seguiram-se 13 anos de batalhas inglórias, que só terminaram com a Revolução dos Cravos em 1974 - liderada, justamente, por oficiais desgostosos que voltavam da África. Esse período conturbado é retratado em "Cartas da Guerra", baseado na correspondência entre o escritor António Lobo Antunes e sua mulher, enquanto ele servia em Angola. O filme foi o candidato de Portugal ao último Oscar, e é muito bonito: tem esmerada fotografia em preto e branco, enquadramentos bem cuidados e a presença do galã Ricardo Pereira, figura fácil nas novelas da Globo. Mas também é meio chato: consegue captar o tédio do front, onde os dias se arrastam sem que muita coisa aconteça entre um combate e outro. Não há uma história, e o espectador leigo vai sair sem saber como o sarilho começou ou acabou. Mas talvez o intuito fosse este mesmo: mostrar a saudade como inerente à guerra. Qualquer guerra.
sábado, 15 de julho de 2017
CIDADE FEIA
Moro perto de uma das muitas mini-craolândias de São Paulo, instalada já há uns sete anos embaixo de um anel viário. Mas os noias não ficam restritos lá. Tem um casal que está montando uma espécie de barraco com objetos catados no lixo na esquina da minha quadra, e toda semana eles trocam de cachorrinho (talvez vendam para um restaurante coreano?). Também tem uns largados, que ficam caídos no meio da rua e não hesitam em tragar um cachimbão à luz do dia. Outro dia fui a pé à farmácia e me abordaram três vezes, um mais estropiado que o outro. Fico sempre na dúvida: dou uma moedinha ou não dou? Claro que ela vai ser gasta com crack, mas esses caras também precisam comer. E a caridade cristã, como é que fica? Mas, e se eu der para um, será que não aparecerão mais cem? Como quase não ando mais com dinheiro na carteira, passo reto, eu e a minha consciência pesada. Algo precisa ser feito.
Esta semana, um catador de papel foi morto pela polícia em Pinheiros, um bairro quase vizinho ao meu. O cara estava meio alterado e foi pedir comida numa pizzaria. Não deram, ele pegou um pedaço de pau, chamaram o 190, fim. Uma tragédia. E mais do que anunciada: a quantidade de craqueiros e/ou moradores de rua que se multiplicam pelas ruas de SP mais do que sugeria um confronto iminente.. Tenho a sensação de que esse foi só o primeiro. Junte-se uma população apavorada + policiais despreparados + crise econômica + ausência de políticas que não sejam apenas higienistas, e é só acender o pavio. Mas o buraco é muitíssimo mais embaixo, claro. É a desigualdade, a falta de oportunidade, o ensino precário e o próprio sistema semi-escravocrata que ainda temos. E agora?
sexta-feira, 14 de julho de 2017
TERNOS PRETOS CAFONA
Quem acompanha esse blog sabe que eu sempre defendi o Jean Wyllys, apesar de não compactuar com muitas das ideias dele. Acho um absurdo tantos gays atacarem o único deputado assumido de todo o Congresso, que nunca se furtou a defender nossos direitos. Também penso que é um despautério a campanha mentirosa que os adversários de Jean (e de todos os gays) promovem contra ele sem cessar, acusando-o de ter dito coisas que ele jamais disse e provocando-o com gracinhas e ofensas sempre que podem. De vez em quando o deputado perde a fleuma, o que é até perdoável. O que não consigo perdoar é ele usar o mesmo tipo de argumento que seus detratores empregam para denegrir o juiz Sergio Moro. Dizer que o cara usa "ternos preto cafona" e tem uma voz que não combina com o corpo soa muito engraçado numa mesa de bar, mas não num vídeo que o próprio Jean gravou e postou na internet. Já disse outras vezes que ele precisa de uma assessoria de imagem, senão vai continuar pregando para os que já estão convencidos - e estes são poucos. Chega de dar munição ao inimigo.
ÊITA MONICÃO DA PORRA
Suspeito que o Gilmar Mendes tenha se arrependido de processar a Monica Iozzi. Se ele tivesse deixado quieto, o caso já estaria esquecido, superado por dezenas de outras polêmicas em que o ministro do STF se envolveu. A disposição dele em negociar - chegou a baixar a indenização para 15 mil reais, contanto que Monica se retratasse publicamente - demonstra um desejo de suavizar a própria imagem, apesar de volta e meia repetir que não está nem aí para a opinião pública. Mas talvez Gilmar esteja preocupado com o que os livros de história vão dizer dele. E esse entrevero com uma atriz de TV, por insignificante que pareça hoje, deixou uma marca indelével em sua biografia. Ainda mais depois da atitude corajosa de Monica, que se recusou a fazer um acordo. Ela pegou os 30 mil reais que a Justiça a condenou a pagar ao juiz e esbofeteou-o com a grana diante do Brasil inteiro, saindo-se vitoriosa desse embate esdrúxulo. Ponto para as meninas!
quinta-feira, 13 de julho de 2017
AIA RODADA
Já assino Now, Netflix, Amazon, Globo Play e Fox Premium. E assinaria Hulu se tivesse no Brasil, só para ver "The Handmaid's Tale". Venho acompanhando o buzz sobre a série há algum tempo, e hoje ela recebeu uma pá de indicações ao Emmy - inclusive melhor drama e melhor atriz para Elisabeth Moss (a Peggy de "Mad Men"). Tudo isso, mais o trailer aí em cima, mais o pedigree literário - é uma adaptação do livro "O Conto da Aia", de Margaret Atwood - me deixou seco para ver. Um futuro distópico, onde as mulheres não têm direito nenhum! Não podem trabalhar, não podem ter conta em banco, e algumas não podem nem ter nome. Viram propriedade pessoal de políticos ricos casados com esposas inférteis, e devem gerar filhos para eles. Ou seja, uma representação do mundo que o Bolsonazi gostaria de implantar. Ou seja (2), é o programa mais interessante de todos os tempos desta semana. O curioso é que "The Handmaid's Tale" é uma série com temporadas, e não uma minissérie. Será que o livro - um único volume - chega para tanto, ou vão começar a inventar tramas? Não sei. Só sei que PRECISO ver ASAP, mesmo que eu tenha que quebrar a lei. Sugestões?
(Eu comento as indicações ao Emmy na minha coluna de hoje no F5)
DÓ-RÉ-MI-CHELZINHO
O Embrulha Pra Viagem existe há quase um ano e é mais um desses canais de esquetes de humor que surgiram no YouTube na esteira do Porta dos Fundos. Eu ainda não tinha prestado atenção nele até surgir esta obra-prima, que me tocou o coração. Ainda mais porque eu vi "A Noviça" quando estreou nos cinemas...
quarta-feira, 12 de julho de 2017
REAÇÃO EM CADEIA
Pronto, Lula foi condenado. Primeiro ex-presidente do Brasil a ser condenado - até o Collor escapou, pela proverbial falta de provas. E ainda faltam ser julgados outros quatro processos onde Lula é réu, sem falar no caso do sítio de Atibaia. Agora, a chance dele ser condenado em segunda instância e ficar inelegível em 2018 é pequena, ainda mais porque seus advogados podem pedir mandado de segurança ao STF. Talvez seja melhor assim: só mesmo uma derrota nas urnas fará com que ele perceba que seu tempo já passou (mas duvido que isto os petistas pararem de reclamar que foi golpe). É por isto que não estou nem alegre, nem triste com essa condenação de hoje. OK, vai: estou mais para alegre, por achar que a Justiça brasileira está de fato funcionando. Mas não eufórico a ponto de abrir champagne ou fazer piada com os nove dedos. Tenho a consciência de que Lula foi mesmo o chefe de um esquema que vigorou durante anos, mas está longe de ser o único. Ainda falta prenderem o Aécio, o Temer e muitos outros mais. Mas essas coisas levam tempo, não adianta ficar esperneando agora. Assim como é normal o choramingas do Geddel ir para prisão domiciliar, faz parte do processo. De qualquer forma, triste é o país com tantos políticos criminosos.
McFILME FELIZ
"Fome de Poder" passou nos cinemas brasileiros em plena época do Oscar. O filme estava até cotado para algumas indicações, mas não levou nenhuma. E quando eu finalmente me dispus a vê-lo, já estava confinado aos shoppings da periferia. Mas agora está disponível na Netflix, e é recomendado a quem tiver preguiça (tipo eu) de ler "O Capital": está lá o capitalismo, em todo seu horror e glória. A história é nada menos do que gênese do McDonald's - não a lanchonete em si, mas a rede de franquias que se espalhou pelo planeta inteiro. E o personagem central, Ray Kroc, não criou a linha de montagem dos hamburgers, mas enxergou nela um potencial que escapava a seus inventores, os irmãos McDonald. Na primeira hora do filme, Kroc é um chato entusiasmado, que de fato expande os negócios e faz muita gente feliz. Mas a partir da metade ele passa a se comportar como um magnata do Banco Imobiliário, quebrando contratos e se aproveitando de pequenas brechas, até se apossar da marca bilionária sem ter que pagar muito por ela. Michael Keaton continua sua ressurreição em mais um papel onde brilha, apesar de Kroc não ter exatamente um arco dramático. Quem muda é o mundo ao redor dele, e para sempre. "Fome de Poder" é ainda mais interessante neste momento, quando o fast-food chegou ao seu limite e já começa a se retrair. Amo muito tudo isto.
terça-feira, 11 de julho de 2017
TOPZERA
Os anos 80 são tidos hoje como o apogeu da cafonice. Mas mesmo naquela época a gente já achava bregas os jeans metalizados da Dijon. Não ajudava o fato deles terem anúncios onde uma top model seminua - primeiro Luiza Brunet, depois Monique Evans e a hoje sumida Vanessa de Oliveira - aparecia usando ao troço ao lado do fundador da grife, Humberto Saade, ambos fazendo cara de magníficos. Saade morreu ontem aos 76 anos de idade, e presto aqui toda a minha solidariedade à família. E nada como um dia depois do outro: agora eu acho vintage essas calças apertadíssimas com detalhes em dourado. O top do top!
DE LA HOSTIA
Sei que todo mundo adoooora o papa Francisco, mas sinto que ele já não consegue mais esconder que não é tão bacana assim. Essa notícia sobre a hóstia que saiu ontem é uma bobagem - muito menos grave que os pedófilos que continuam em posições de comando dentro da Igreja, por exemplo. Mas também é um sinal de que o Vaticano não está lá muito preocupado em ser inclusivo ou atualizado. Por que exigir que a hóstia seja feita exclusivamente com trigo? Por que excluir automaticamente os milhões de fiéis intolerantes ao glúten? Tudo bem que a hóstia não possa ter acréscimos ou sabores, mas não deixar que ela seja feita de milho, arroz ou mandioca é colonialismo cultural. Mas o que eu esperava de uma religião que ainda trata as mulheres como inferiores?
segunda-feira, 10 de julho de 2017
NINGUÉM TE AMA, NINGUÉM TE QUER
Lula foi o presidente mais popular de todos os tempos, talvez até mais do que Getúlio Vargas. FHC tem um fã-clube considerável até hoje. Mesmo Dilma, com aquela delicadeza que lhe é peculiar, conseguiu arregimentar alguns incautos admiradores. Mas ninguém gosta de Michel Temer, o Velho. Nin-guém. Nem o tão falado "mercado", nem sequer seus correligionários do PMDB - que, aliás, nunca foi um partido. É só um aglomerado de caciques regionais, sem ideologia nem lealdade. O eleitorado, então, jamais brindou Temer com um cargo mais graduado que o de deputado. Nem mesmo sua esposa Marcela, que chegou a ser apontada pela "Veja" como uma arma secreta, lhe angariou a menor simpatia. E qualquer popularidade incipiente que o atual presidente poderia ter foi abortada desde a divulgação de sua conversa com Joesley Batista. Por isto, não me surpreendo com a velocidade com que a maré está se voltando contra ele. Ninguém te quer por aqui, Temer. Ninguém vai te defender. Ninguém faz questão. Sai de fininho, sai. É melhor pra todo mundo.
EMPAREDADA, SUA LÔCA
A noite gay está em refluxo no mundo inteiro. Londres perdeu cerca de metade de seus bares e boates LGBT nos últimos dez anos. São Paulo viu o fechamento da Flexx no começo deste mês, um dos lugares mais marcantes da última década. As causas deste fenômeno são várias, mas acho que dá para resumi-las em duas. A primeira é a explosão dos aplicativos de pegação: quem está a fim de dar uma bimbada não precisa mais se emperequetar todo e ainda morrer numa grana em transporte + consumação + whatever para talvez descolar alguém para passar o resto da noite. A segunda é que quem está a fim de dançar mesmo não precisa mais ir a um lugar exclusivamente gay. As baladas mistas - com enorme preponderância das bibas, admito - vêm se alastrando feito herpes. É um reflexo da maior aceitação dos homossexuais pelo resto da sociedade: estamos aos poucos ficando juntos e misturados, e isto é ótimo. Tudo isto para dizer que o emparedamento d'Alôca não se encaixa em nenhuma dessas duas hipóteses. Sim, você leu direito: o clássico antro paulistano, onde pelo menos duas gerações perderam vários tipos de cabaço, teve sua entrada coberta por tijolos a mando da subprefeitura local. A desculpa oficial é que o lugar fazia muito barulho e incomodava os vizinhos. Engraçado: Alôca está no mesmo ponto HÁ 22 ANOS e só agora alguém reclamou? Não vou defender a balbúrdia. Acho que a Lei do Silêncio tem mais é que ser respeitada. Mas esta súbita sensibilidade acústica me faz suspeitar da nova administração da cidade. Assim como Marcelo Crivella no Rio já deu um jeito de fechar um ícone como o 00, está parecendo que João Doria - ou algum de seus subalternos - resolveu empreender uma cruzada moralista por aqui também. Talvez seja só um contratempo: em sua página no Facebook, Alôca avisa que já está cuidando dos trâmites para reabrir. Tomara que consiga logo. E, se tiver que morrer algum dia, que seja por causas naturais.
domingo, 9 de julho de 2017
IT'S ALL GOOD, MAN
Então, esse é o significado implícito do pseudônimo "Saul Goodman". Não era só para ser um nome que soasse judaico, o que agrega confiabilidade aos advogados americanos. Era propaganda subliminar mesmo, e das mais óbvias. Caí feito um patinho, como aliás caem quase todas as vítimas de Jimmy McGill, o protagonista de "Better Call Saul". Finalmente o prequel de "Breaking Bad" está começando a repercutir tão bem como sua antecessora. Nem era para menos: a trama é fantástica e os personagens, muito bem construídos. Meu favorito é Chuck, o irmão mais velho de Jimmy, um sujeito sábio que, no entanto, sofre de uma doença real porém imaginária: a alergia ao eletromagnetismo. O veterano Michael McKean está soberbo no papel (especialmente na cena de tribunal do quinto episódio da terceira temporada), e já um dos favoritos ao Emmy de ator coadjuvante. As indicações saem nesta quinta: se ele ficar de fora, acho que é o caso de pedir ajuda ao Mike.
sábado, 8 de julho de 2017
LOUCA DE PEDRA
Não fossem a beleza e o carisma de Marion Cotillard, a protagonista de "Um Instante de Amor" seria francamente insuportável. A mulher é pior do que doida: é uma chata de galochas, dada a ataques histéricos em público. Mas sua doença mental nunca é tratada, apenas seu problema de pedras nos rins - que em francês soa tão poético que virou o nome original do filme, "Mal de Pierres". É num sanatório nas montanhas que a maluquete conhece um soldado, também internado, e fica afinzona de trocá-lo pelo marido a quem nunca amou. Mais não posso contar, pois há um twist no final que faz com que a história transcenda o mero romance para mocinhas. "Um Instante de Amor" é dirigido pela também atriz Nicole Garcia e tem um certo parentesco com "O Piano": essas obras feitas desde um ponto de vista feminino revelam fantasias de insubmissão que fazem a delícia dos psiquiatras.
sexta-feira, 7 de julho de 2017
WHAT I REALLY REALLY WANT
Quer se sentir velho? Hoje faz 21 anos que saiu "Wannabe", o primeiro single das Spice Girls. Para comemorar a efeméride, a revista W chamou uns artistas para declamar a letra, uma profunda meditação sobre o ser e o querer. Houve quem não resistisse e saísse cantando, mas ninguém melhor do que Nicole Kidman.
SAMBA EM TEL AVIV
Ah, as amenidades da vida moderna. Baixei "Tudo Bom" no meu celular antes mesmo de sair da cama nesta manhã fria. Foi só ler no site da Folha sobre o maior hit do verão israelense e pronto. Já estou sofrendo com essa mistura de rap em hebraico com uma batucada sem muita ginga, e uma letra que cita São Paulo (mas não o Rio) e Tel Aviv. O mais divertido é a imagem idílica que Israel faz do Brasil: justo o que não somos neste momento é um paraíso onde está tudo bom.
quinta-feira, 6 de julho de 2017
DALIDA-O-RAMA
Vi vários filmes no Festival Varilux do Cinema Francês, mas o que eu mais queria não foi incluído na programação. Como meu cartão de crédito ainda não foi cancelado, encomendei o Blu-Ray de "Dalida" e ontem o usufrui no conforto de meu lar. É exatamente o que dizem os críticos nos letreiros da embalagem: suntuoso e flamejante, apesar de um pouco elíptico demais. Os 54 anos da diva são condensados em apenas duas horas, e eventos cruciais - como o fato dela ter sido eleita Miss Egito, o que deslanchou sua carreira - são deixados de fora. Mas estão lá os três amores que se suicidaram, as três décadas de triunfo ininterrupto e muitas das canções que marcaram a minha vida. A italiana Sveva Alviti está soberba no papel título, apesar de precisar de muita maquiagem para se parecer com Dali. Cenários e figurinos de época, recriações de números musicais, está tudo um glamour absoluto. Mas uma trajetória tão complicada como a dela, que seguiu os passos de seus infelizes amantes, merecia mesmo uma minissérie.
FOSTE HERÓI EM CADA JOGO...
...Botafogo, e é por isto que tu és... e hás de ser! Presidente do Brasil! Sim, é isto o que está pintando nesse momento. Consta que Rodrigo Maia resolveu assumir uma postura "de magistrado", da mais absoluta imparcialidade, na condução da denúncia contra Temer, O Velho que bate às portas do Congresso. Ou seja: o presidente da Câmara não vai mover uma palha a mais para ajudar o atual ocupante do Planalto a continuar lá, porque quem quer ocupá-lo é ele mesmo. Ou seja: bem-feito! É muita justiça poética Temer ter alguém dentro de seu "inner circle" disposto a puxar seu tapete do mesmo jeito que ele puxou o de Dilma Rousseff. Mas é só isto o que me faz sorrir. A perspectiva de ter o Botafogo no comando do país, ainda que por pouco tempo, me causa engulhos. Além do mais porque, como disse o Gregório Duvivier, Maia faz muito aquela cara de quem foi flagrado batendo punheta.
quarta-feira, 5 de julho de 2017
RI CHUN-HEE QUEM RI POR ÚLTIMO
Não é só o corte de cabelo do Kim Jong Un que nos dá motivo para rir da Coreia da Norte, o país mais fechado do mundo. Tão engraçada quanto é a apresentadora Ri Chun-Hee, que durante 40 emprestou seus dotes de atriz para louvar o regime na TV estatal (confira no vídeo acima ela chorando pela morte do pai do atual ditador). Já aposentada, ontem ela voltou ao ar para anunciar o lançamento de um suposto míssil transcontinental, com tanto entusiasmo que quase entrou em combustão espontânea diante das câmeras. Podíamos pedi-la emprestada para apresentar o "Jornal Nacional" no dia em que o Temer cair.
A MENINA E O PORCÃO
A primeira hora de "Okja" é espetacular, e merecia mesmo ser vista em tela grande. Uma órfã sul-coreana, que vive nas montanhas com seu vovozinho, brinca com a personagem-título, uma porca gigante que está mais para um hipopótamo com orelhas de abano. O bicho é tão bem feito que a gente até esquece que é uma ilusão computadorizada. Acontece que ele não pertence à garota, e sim a uma cruel multinacional produtora de "proteína animal" (o eufemismo da moda para a carne) - que no entanto não me pareceu pior que a JBS. Os capitalistas querem Okja de volta, talvez para transformá-la em salsicha. Seguem-se várias cenas de tirar o fôlego, culminando com uma perseguição nas lojas do metrô de Seul. Aí o filme - que é exclusivo da Netflix, e concorreu em Cannes sob polêmica - puxa um breque de mão daqueles. O líder de um bando radical explica em detalhes o que está acontecendo, estragando o clima de "Sessão da Tarde" on acid que imperava até aquele momento. Depois o pique é recuperado durante uma visita aterrorizante a um matadouro, e "Okja" termina de maneira satisfatória (dica: aguarde pela cena que vem depois dos créditos finais). Mas o todo se ressente dessa barriga no meio, muito mais do que a aparente confusão de gêneros. Afinal. trata-se de um passatempo para crianças ou de um manifesto vegetariano? Tudo isso e também uma farsa exagerada, com Tilda Swinton usando dentadura em dois papéis diferentes. Ou seja: é mesmo uma obra original, que dificilmente encontraria financiamento se visasse um lançamento tradicional nos cinemas. Podem reclamar à vontade que o Netflix quer matar o circuito exibidor, mas não dá para negar que a plataforma está viabilizando filmes bastante ousados - e que depois podemos desfrutar no conforto de nossos lares.
terça-feira, 4 de julho de 2017
SWISH, SWISH, BISH
Pensei em fazer um post comemorando a prisão do Geddel, pensei em reclamar da segunda libertação do Abdelmassih, mas, ah, quer saber? Essa política brasileira é um looping. O sujeito é preso num dia, todo mundo pensa "agora vai", uns dias depois vem um juiz compreensivo e o põe na rua de novo. Melhor falar da Gretchen! A essa altura, todo mundo já viu o lyric video de "Swish Swish", mas não posso deixar de registrar aqui no blog essa pequena obra-prima. Além do mais, porque ela só me trouxe alegrias profissionais: minha coluna de ontem no F5 fez tanto sucesso que não só saiu hoje na versão impressa da Folha, com algumas modificações, como foi incluída na newsletter diária que os assinantes do jornal recebem com as notícias mais importantes do dia. Obrigado, rainha!
Estou tão grato à Gretchen que vou até incluir de lambuja o promo que ela gravou para a série "Glow" da Netflix feat. Rita Cadillac. Tous les episodes disponibles!
MONSTRUOS CHIQUITOS
Há quanto tempo eu venho insistindo aqui no blog para vocês ouvirem Miranda!? Hein? Hein? Azar o de vocês, porque a banda argentina - agora reduzida a uma dupla - acaba de lançar seu sétimo álbum de estúdio, talvez o melhor de toda sua carreira. "Fuerte" é despretensioso, alegre, cheio de melodias contagiantes e pegada reggaetón. Algumas faixas, se traduzidas para o português, poderiam estar no repertório de Simone e Simaria; sim, é este o nível de breguice deslavada a que o Miranda! se entrega, sem jamais perder a classe. Apesar das letras jamais falarem em viadices, o grupo tem uma legião de fãs entre os adolescentes gays, os little monsters de lá. Os daqui podiam parar de achar que Ariana Grande é mesmo uma mulher perigosa (com orelhas de coelho? really?) e conhecer o Miranda!, os Scissor Sisters portenhos.
segunda-feira, 3 de julho de 2017
THE GODFATHER
Quatro anos atrás, o casamento entre Beatriz Barata e Francisco Feitosa Filho foi manchete em todo o Brasil. Nem tanto pela efeméride social em si, mas pela batalha campal que se armou ao redor do Copacabana Palace, onde acontecia a festa. Quis o destino que os pombinhos se enlaçassem justo quando o país vivia sua primeira grande onda de manifestações, e ficou célebre o artigo em que Hildegard Angel chamava o acontecido de "Bastilha carioca". Mas um detalhe passou quase desapercebido no texto da colunista: ela até cita que um dos padrinhos da noiva era o Gilmar Mendes, mas ninguém deu muita bola para isto. Naquela época, de fato o STF não andava tão em evidência como hoje, quando conhecemos melhor seus integrantes do que os da atual escalação da seleção brasileira. Pois é, amiguinhos: o juiz que numa semana absolve o Temer e na semana seguinte convida-o para jantar em sua casa, também é unha e carne com Jacob Barata Filho, o "rei do ônibus", preso ontem à noite no aeroporto do Galeão. Dá até para suspeitar que Gilmar é mesmo o padrinho - no sentido mafioso do termo.
CHURRASQUINHO TURCO
Fui convidado pelo blog Gastronomix a dar alguma dica interessante. Acontece que ando saindo pouco para comer fora, e acabo indo nos mesmo lugares de sempre - mais pelo hábito do que pela excelência da comida. Ainda bem que o blog aceita sugestões internacionais. Escolhi falar de um restaurante onde eu fui uma única vez, há mais de quatro anos. Mas é um local lendário: o Hamdi, uma autêntica instituição de Istambul, que nasceu como uma grelha de churrasquinho no meio da rua e hoje tem três filiais na cidade. Fica a dica para aqueles que ainda estão conseguindo viajar e já tiraram seus passaportes.
domingo, 2 de julho de 2017
PARECE FAMILIAR
Existe um novo fenômeno cinematográfico que ainda não foi bem analisado: os sucessos internacionais que não ganham apenas remake em Hollywood (isto acontece desde sempre), mas são refeitos em diversos países, com ligeiras adaptações. Um exemplo óbvio é "Os Intocáveis", uma das maiores bilheterias francesas de todos os tempos, que acaba de ganhar versão argentina e, em breve, também americana. Outro caso curioso é o do argentino "Coração de Leão", em que uma mulher normal se apaixona por um anão: foi refilmado na França e na Colômbia, e agora o está sendo no Peru. A esta turma se junta o megahit mexicano "Não Aceitamos Devoluções". A história do bon vivant que de repente descobre que precisa cuidar de uma filha foi refeita no Brasil com Leandro Hassum (deve estrear até o fim do ano), mas antes disso já podemos conferir sua variante francesa. "Uma Família de Dois" é cinemão comercial assumido, sem o menor pudor de manipular as emoções da plateia. O carismático Omar Sy carrega o filme nas costas, que ficaria melhor com mais piadas e menos minutos de duração. Não é um programa imperdível: mesmo nessa época de entressafra, tem coisa melhor passando por aí. Mas o longa é um bom exemplo dessa família de histórias sentimentais e universais, que se encaixam em várias culturas, e que se reproduz como vírus.
sábado, 1 de julho de 2017
SOLTA OS GRAVE
Aécio Neves pode voltar ao Senado e não corre o menor risco de ser preso enquanto não aparecerem mais provas. Rocha Loures já está tomando banho quentinho em casa, e dormindo no próprio travesseiro. Andrea Neves faz o mesmo há alguns dias. João Vaccari foi absolvido na segunda instância. José Dirceu está soltinho feito arroz de boa qualidade. Sérgio Cabral só não sai de Bangu porque aparece uma nova denúncia contra ele a cada cinco minutos. E o Eike Batista? Até esquecemos do Eike, que a era altura já deve ter colado a peruca de volta. Nesse solta-solta generalizado que é o Brasil, até surpreende que Roger Abdelmassih tenha sido mandado de volta para a cadeia. Talvez porque ele não tenha roubado bilhões de reais, só estuprado quase duzentas mulheres. Nada de realmente grave.
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