segunda-feira, 8 de maio de 2017

O CAMBURÃO ENQUANTO METÁFORA


Todo mundo acha que o Brasil está super dividido, mas somos alunos do curso de dança da madame Poças Leitão se comparados à polarização que rola no Egito. Lá não há acordo entre os diversos setores da sociedade, nem eleição que apazigue os ânimos. É sempre o mais forte que vence, e esse mais forte são as Forças Armadas. Hoje o pais está mais ou menos em paz depois do último golpe militar, mas a tensão entre seculares e islamistas continua. Esse conflito é retratado em sua pior fase - logo após a derrubada do presidente Mohammed Morsi, em 2013 - pelo ótimo filme "Clash", que representou o Egito no último Oscar. A ação inteira se passa dentro de um camburão, que vai recolhendo ativistas de todos os lados, jornalistas, isentões e quem mais estiver na rua num dia de manifestações pró e contra. O carro logo fica lotado, num calor dos infernos, sem água nem banheiro - e, o que é pior, cheio de gente disposta a se matar entre si. A situação é absurda, mas também é uma metáfora de um país que nunca teve o diálogo em seu DNA cultural. "Clash" é claustrofóbico e desesperançado, mas também é uma das experiências mais intensas que eu já tive no cinema. Vale a pena se deixar prender por ele durante uma hora e meia.

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