domingo, 12 de março de 2017

O DEUS QUE NÃO RESPONDE


O Martin Scorsese de "Silêncio" não lembra em nada o diretor do hiperativo "O Lobo de Wall Street" de três anos atrás. Aquele filme tinha tudo o que se costuma esperar do cineasta: montagem clipada, trilha sonora barulhenta, humor negro, sexo. Já seu novo longa, o terceiro com tema religioso (depois de "A Última Tentação de Cristo" e "Kundun"), tem planos longos, lentos, sem nenhuma música para suavizar. O Japão feudal onde se passa a história é quase feio, com muita miséria, e a fotografia tende para o chumbo ao longo de quase três horas de duração. Ou seja: é praticamente uma penitência assistir "Silêncio". Para dificultar ainda mais, o roteiro fala de uma fé que se quer inquebrantável, um conceito meio alienígena neste século 21. Dois padres portugueses vão ao Japão em busca de um terceiro, sobre quem circulam boatos de que teria renegado o catolicismo. O que eles encontram é uma repressão brutal aos novos convertidos, digna de Nero na Roma Antiga. Os kirishtan são queimados vivos, crucificados, afogados ou pendurados de cabeça para baixo com um corte no pescoço, para sangrar até a morte. "Silêncio" tem tanta tortura e suplício que podia ter sido feito por Mel Gibson. O filme propõe, no final, uma questão profunda: o que significa ser cristão de verdade? Venerar um monte de objetos físicas? Ou o amor ao próximo vem em primeiro lugar? A resposta parece óbvia mas, para o pessoal do século 17, pisar numa imagem de Cristo equivalia a renegá-lo. Foi esse apego às relíquias materiais que acabou comprometendo a expansão da Igreja pelo Japão - que, aliás, também se defendeu com unhas e dentes contra o que percebeu ser uma invasão cultural. "Silêncio" é um filme dificílimo: foi muito mal de bilheteria nos Estados Unidos e recebeu uma mísera indicação ao Oscar (melhor fotografia). E vai se mostrar uma prova de resistência mesmo para quem tiver dúvidas parecidas com as do ex-coroinha Scorsese.

3 comentários:

  1. O mio babbino caro
    Martin Scorsese pode tudo.

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  2. O muso Andrew Garfield já interpretou um brasileiro em A Rede Social e agora um português em silêncio. Onde é que o povo acha que esse inglês tem cara de latino?

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  3. Dizem que os atores principais dão um grande show de interpretação.Pretendo ver logo.Acho Scorcese o maior diretor vivo.

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