terça-feira, 31 de janeiro de 2017

VÁ PROCURAR SUA TURMA

É curioso esse movimento de transferir o ministro Édson Fachin da primeira para a segunda turma do STF. Parece uma tentativa de aumentar as chances do sorteado para assumir a relação da Lava Jato não ser nem o Lewandowski, nem o Gilmar, nem o Toffoli. Mas como Fachin tem um histórico de simpatia ao PT, continuo torcendo para que Celso de Mello seja o felizardo. Guiai a mão de Cármen Lúcia, ó, Teori.

FORÇA NO TRICOSALUS

Não consigo ter raiva do Eike Batista. Claro que acho que ele foi um bobo de ostentar uma fortuna que nunca chegou a ter, e mais bobo ainda por ter educado tão mal os filhos. Mas não sinto frêmitos de prazer ao pensar que o ex-homem mais rico do Brasil está numa cela onde se faz cocô num buraco no chão, à vista de todos os colegas. Nem acho particularmente engraçado terem rapado o cabelo dele, que havia sido reconstruído pelo método Tricosalus (não, não era peruca). Achei até que Eike se comportou com a dignidade possível na volta de Nova York para o Rio, posando para selfies no aeroporto JFK e aguentando os repórteres instalados ao seu lado durante todo o voo. Ele me pareceu incrivelmente zen - talvez à base de remédios, talvez porque confie que suas revelações não o manterão por muito tempo na cadeia. Ou seja: como diz a capa de hoje do tablóide carioca "Meia Hora", Eike já pensa em uma nova empreitada com a letra X. Vai xisnovear geral.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

O CASO DE CASEY

Este ano está fácil prever os Oscars. Melhor filme será "La La Land". Melhor atriz, Emma Stone. Melhor atriz coadjuvante, Viola Davis. Melhor ator coadjuvante, Mahershala Ali. Só uma das categorias principais embaçou: melhor ator, cujo favorito até ontem era Casey Affleck por "Manchester à Beira-Mar". O rapaz ganhou o Globo de Ouro e seria uma escolha óbvia da indústria, sempre interessada em construir o próximo astro. Mas o prêmio do sindicato dos atores, entregue ontem à noite em Los Angeles, mostrou que pode não ser bem assim. O vencedor do SAG (na sigla em inglês) foi o consagrado Denzel Washington, por "Fences". Que ele seja um talento à prova de bala, nem se discute: além de tudo, é o único ator negro com dois Oscars. Mas Denzel pode ter entrado no vácuo deixado por Casey, que vem perdendo fôlego nas últimas semanas. E pelo mesmo motivo que dinamitou as chances de Nate SParker e seu "O Nascimento de uma Nação": acusações de assédio sexual. Diversas mulheres estão pondo a boca no trombone, dizendo que o irmão mais bonito de Ben Affleck as apalpou e tentou forçar sexo com elas. Aí ressurge aquela questão: um artista merece ser julgado apenas por sua arte, ou o que ele faz em sua vida pessoal tem peso nesta avaliação? Eu acho que tem. Arte e vida são a mesma coisa.

CASA BRANCA, ESPELHO NEGRO

Foi surreal esta primeira semana do governo Trump. A cada notícia, eu me perguntava: caímos num episódio de "Black Mirror"? Mas a loucura do novo presidente americano já está esbarrando em alguns limites. É encorajador ver tanta gente se levantando contra o absurdo banimento à entrada de nativos de sete países de maioria muçulmana, mesmo aqueles que já tenham "green card". Assim como o exagero do politicamente correto criou condições para o surgimento de um boçal como Trump, seus desmandos podem ajudar a unir um espectro muito diverso de forças políticas. Além do mais, decisões como as dos juízes que suspenderam o veto aos imigrantes mostram ao reizinho da Casa Branca que seu poder não é ilimitado. Não duvido nada que ele se frustre com tantos senões e acabe até mesmo renunciando, feito aquela criança que está perdendo o jogo de War e chuta o tabuleiro para o alto.

domingo, 29 de janeiro de 2017

O CANTO DESSA FAIXA SOU EU


O governo americano não reconhece a Palestina como estado independente, mas a Academia de Hollywood, sim. Tanto que já indicou dois títulos de lá para o Oscar de filme em língua estrangeira, ambos do diretor Hany Abu-Assad. Este ano ele tentou uma terceira indicação com "O Ídolo", mas não conseguiu. Talvez por ter exagerado no sentimentalismo ao recriar a história real do primeiro vencedor do "Arab Idol" vindo da Faixa de Gaza. Há momentos dignos do SBT, e não estou me referindo ao show num palco iluminado. Sem essa mão pesada, talvez a saga do jovem cantor funcionasse melhor como uma metáfora do ressurgimento de sua nação dos escombros.

sábado, 28 de janeiro de 2017

GALICISMOS


Ouvidos desavisados não identificariam como francesa boa parte da música que eu consumo. Mas é, apesar de cantada em outras línguas ou mesmo instrumental. É o caso de Yann Tiersen, cuja obra mais conhecida por aqui é a fabulosa trilha de "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain". Seu álbum mais recente chama-se "Eusa", o nome bretão de sua Bretanha natal - aquela península no noroeste da França em cuja ponta ficava a aldeia do Asterix. E é só piano e sons ambientes, como se tivesse mesmo sido gravado no alto de uma falésia. Um disco líquido, feito para a gente se afundar.

Luc Arbogast vem do outro lado da França, da Alsácia, onde começou a carreira cantando nas ruas. Depois participou da versão local do "The Voice" e foi logo eliminado, mas ficou famoso por seu trabalho com a música medieval. No recém-lançado "Metamorphosis", dá um passo além: as letras são em latim mas a instrumentação é toda eletrônica. Às vezes soa transgressor, às vezes soa brega a mais não poder. Os vídeos também não ajudam.


Cerrone foi um dos reis da era disco, quando produzia faixas épicas como "Supernature", que ocupavam lados inteiros dos saudosos LPs. Depois de um tempo na moita, o cara voltou à ativa e de vez em quando lança alguma coisa. Mas "Red Lips" não tem a majestade dos antigos clássicos: é uma coleção de musiquinhas dance, algumas até bastante boas, mas nenhuma com personalidade. Seu rival Giorgio Moroder fez um comeback mais triunfal, com mais estrelas nos vocais.

GALO DE FOGO

Parece nome de novela da Record, mas este é o ano novo chinês que começa hoje. Dizem que o galo de fogo é pontual, responsável e digno de confiança. Então, alá, hein? Não vá nos desapontar, seu galináceo, senão viras coq au vin.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

ESTOU A DOIS PASSOS...


Este ano aconteceu uma raridade: nenhum dos cinco indicados ao Oscar de filme em língua estrangeira fala do Holocausto (embora o representante da Dinamarca, "Land of Mine", trate do período imediatamente posterior à 2a. Guerra). Mas entre os nove semifinalistas divulgados em dezembro está o russo "Paraíso", onde boa parte da trama se passa num campo de concetração. Já disse outras vezes aqui no blog que este assunto me parece esgotado dramaticamente, mas volta e meia surge um longa que prova que estou errado. É o caso de "Paraíso", cuja protagonista é uma aristocrata russa que vive em Paris. Por proteger crianças judias, ela acaba indo para a cadeia, onde tem que lidar com um asqueroso colaboracionista francês. Depois, já no campo, reencontra um oficial alemão que conhecera no passado. Os três personagens dão depoimentos à câmera esclarecendo suas ideias e ações, e uma das graças do roteiro é a gente entender onde eles estão. A duração é um pouco excessiva e o final tem uma pieguice desnecessária, mas é um bom filme.

EIKE ESPERTINHO

Vem cá, não é esquisito o Eike Batista ter se mandado bem na véspera da Polícia Federal bater na porta da casa dele? Não é estranho o pedido de prisão ter sido emitido no dia 13 de janeiro, e a PF só se mexido no dia 26? E por que Eike teria ido para Nova York? Ele tem cidadania alemã, e a Alemanha não extradita seus cidadãos. Aposto que a essa hora o ex-marido da Luma já está saboreando um Sauerkraut na Alexanderplatz e mandando uma solene banana para todos nós.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

HERMÍNIA SHOW


Vi o primeiro "Minha Mãe É uma Peça" em 2013, e gostei bem mais do que esperava. Mesmo assim, não estava louco para asistir à continuação. Quando esta finalmente estreou, pouco antes do Natal passado, eu nem me abalei. Achei que era o tipo de filme pelo qual valia mais a pena esperar chegar no Now ou coisa que o valha. Mas aí "Minha Mãe É uma Peça 2" se tornou um estouro de bilheteria. No momento em que cometo estas mal-traçadas, já bateu sete milhões de espectadores e ocupa o quarto lugar no ranking dos filmes brasileiros de maior sucesso de todos os tempos. Achei que precisava conferir de perto este fenômeno e, novamente, gostei mais do que esperava. O curioso é que, como da outra vez, não há exatamente um plot - ou melhor, há vários, mas nenhum é desenvolvido até o fim. Tem a filha que quer ser atriz, o filho gay que vira bi, a visita da irmã que mora no exterior, a tia que fica doente, a nova mulher do ex-marido e por aí vai. Quando alguma dessas tramas começa a engrenar, logo surge outra no lugar dela. Mas o resultado é plenamente satisfatório, porque no centro de tudo está Dona Hermínia. A criação de Paulo Gustavo já está no panteão dos grandes personagens cômicos brasileiros, ao lado de Didi Mocó e Filomena, e é ainda mais surpreendente por não ter se firmado pela TV. Inspirada na própria mãe do ator, ela tem um pouco da mãe de todo mundo, e é aí que mora seu segredo. "Minha Mãe É uma Peça 2" é pouco mais do que uma sequência de situações desalinhavadas: Hermínia vai às compras, Hermínia anda de avião, Hermínia dança na boate. Mas também é uma avalanche de piadas, coisa até rara no humor nacional. Por isto, o público sai contente do cinema. Eu também saí.

LOVE IS ALL AROUND


Estudei num colégio semi-interno, das oito da manhã às cinco da tarde. O único dia em que saímos na hora do almoço era quarta-feira. E olha só que sorte: era justo o dia em que a Globo exibia "Mary Tyler Moore", a mãe da sitcom moderna. Minha cabecinha de adolescente ainda não entendia muito bem por que o programa tinha o nome da atriz se a personagem se chamava Mary Richards, mas vá lá. Eu me apaixonei por aquela mulher e aquela série. "Mary Tyler Moore" não era apenas muito bem escrito: era também um manifesto feminista, totalmente em sincro com o começo dos anos 1970. A protagonista era solteira, balzaquiana, profissional bem-sucedida e sexualmente ativa. Mary sustentava a si mesma, lutava por salários iguais aos dos homens e transava fora do casamento, olha só que moderno (e na Globo passava de tarde!). Foi um fenômeno de audiência nos Estados Unidos, ganhou um caminhão de Emmys e gerou spin-offs como "Rhoda", "Phyllys" e "Lou Grant", todos coadjuvantes da série-mãe. Também marcou para sempre sua estrela, que - apesar de uma indicação ao Oscar de melhor atriz em 1980, por "Gente como a Gente" - nunca mais repetiu o mesmo sucesso. Nem precisava: ela já tinha entrado para a história da TV como a Laura Petrie do "The Dick Van Dyke Show", clássico dos anos 1960, e depois apareceu ao lado de Julie Andrews num dos meus filmes favoritos, "Positivamente Millie". Como se fosse pouco, produziu e atuou naquela que é tida como a melhor sitcom de todos os tempos. Mary Tyler Moore morreu ontem, aos 80 anos, depois de quase meio século lutando contra a diabetes tipo 1. Na Calçada da Fama da minha cabeça, é dela uma das primeiras estrelas.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

FORA, IVES

Não é bem 2016 que não terá terminado se Ives Gandra Martins Filho for indicado para o STF. É o século 19, é a Idade Média, é a Era das Trevas. Um sujeito que defende a submissão da mulher ao marido e que compara o casamento entre pessoas do mesmo sexo à zoofilia não pode ter o poder de interferir na minha vida pessoal, como qualquer juiz do Supremo tem. Gandra Martins Filho é filiado à Opus Dei e adepto do celibato: não consigo pensar em alguém mais inadequado para entrar na corte - que, apesar dos pesares, tem se mostrado liberal quanto aos costumes. Consta que ele já teria o apoio da FIESP, porque facilitaria a reforma trabalhista, e também do Infeliciano, aquele deputado-pastor que tentou estuprar uma moça que não se submeteu a ele. Por isto, é preciso começar já uma campanha para que ele não seja o escolhido do Temer para a vaga deixada por Teori Zavascki. Fora, Ives Gandra Martins Filho!

DIVINA INDICAÇÃO


Saíram hoje as indicações ao César, um dia depois das do Oscar. Claro que Isabelle Huppert foi lembrada por "Elle": esta é sua 15a. indicação ao maior prêmio do cinema francês, que no entanto ela venceu uma única vez. Alguns dos filmes mais cotados já foram exibidos por aqui, como "Chocolat" ou "Apenas o Fim do Mundo". Outros estream em breve - é o caso de "Frantz", do meu queridinho François Ozon. Mas já existe um ótimo título ao alcance de quem tem Netflix. "Divines" recebeu uma pá de indicações: melhor filme, melhor filme de estreia (que deve levar), revelação feminina, atriz coadjuvante, direção, montagem, roteiro... É um jorro de energia e um soco no estômago. Também é ma história que poderia se passar no Brasil: duas amigas de uma favela vivem dando pequenos golpes e acabam se envolvendo com traficantes barra pesada. Era só trocar a mesquita do pai de uma delas por uma igreja evangélica e voilà, estaríamos na Rocinha. A ação não para, as meninas são fantásticas, algumas cenas são de um profundo lirismo e ainda tem a participação de Kevin Mischel, oficialmente a coisa mais bonita que Deus colocou sobre a Terra. Voilà uma dica para aproveitar esse feriadinho paulistano.

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

VAI, ISABELLE!

Ufa. Isabelle Huppert foi indicada ao Oscar. Isto compensa o fato de Amy Adams (excelente em "A Chegada") e Annette Bening (que eu ainda nem vi em "20th Century Women", mas sei que está fantástica) terem sido esnobadas pela Academia. na verdade, não tenho muito do que reclamar. As indicacões deste ano se concentram em obras de diretores jovens, com poucos títulos no currículo - um sinal de que até a Academia está buscando se rejuvenescer (apear do ultrarreacionário, racista, antissemita, etc. Mel Gibson ter sido lembrado para melhor diretor). Comento mais sobre o assunto na minha coluna de hoje no F5.
Apesar de seu ar de mulher mais blasé do mundo, o fato é que La Huppert há anos vêm investindo no mercado americano. Fez até participação num final de temporada de "Law and Order - SVU" alguns anos atrás, apontando uma arma para Sharon Stone. Mas só esta última é identificada pelo locutor da chamada, inclusive como "indicada ao prêmio da Academia". Hmm, vão ter que atualizar.

O CANTO DESSA CIDADE SOU EU


Nunca tive coragem de pular carnaval na Bahia. Isto não me impediu de ter uma fase, ali pelo final dos anos 1980, em que eu ouvi muito Olodum. Aquela batida sincopada não se parecia com nada e ao mesmo tempo soava primitiva, primordial. Agora, com um certo distanciamento, dá para perceber que a explosão de ritmos baianos foi a coisa mais bacana da música brasileira nos últimos 30 anos. Até os hits mais bobos e pornográficos ("vamos abrir a roda...") ganharam a pátina de clássicos, ainda mais se comparados com a indigência do sertanejo. "Axé - O Canto do Povo de um Lugar" é um bom retrato desse movimento, que na verdade reúne estilos muito diferentes que têm só Salvador como denominador comum. O documentário traça uma linha cronológica desde o surgimento dos trios elétricos até a relativa decadência dos dias de hoje, apesar de umas emboladas (timbaladas?) aqui e ali. Mas não responde a pergunta que me carcome há nos: como é que a cidade mais negra do Brasil tem como suas maiores porta-vozes três cantoras brancas? Daniela, Ivete e Claudinha são talentosíssimas, claro, mas como é que nenhuma cantora negra chegou ao mesmo patamar que elas?

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

PUSSYS UNIDAS JAMAIS SERÃO VENCIDAS

Donald Trump tem um ponto: onde estavam todas essas pessoas que saíram em passeata no fim de semana, mas não foram votar no dia 8 de novembro? Se essa mobilização tivesse acontecido antes do Trumpocalipse, talvez agora Hillary Clinton estivesse na Casa Branca. O importante agora é esse movimento não se disparar, porque o novo presidente dos EUA dá a cada dia uma nova prova de que ele é ainda pior do que se temia. Sua insistência em que o público de sua posse foi o maior de todos os tempos é patética, e o termo usado por sua assessora Kelly Conway - "fatos alternativos" - é um escândalo digno da "novilíngua" de George Orwell. Vamos ver se Trump é páreo para as divas beeshas, que nunca estiveram tão unidas como agora. Reparou que Madonna foi à marcha usando um "pussy hat" preto, e que Cher nem se deu ao trabalho?

A VIDA É UM SUPERMERCADO


"Sausage party" é uma gíria americana que nasceu significando qualquer lugar que tenha mais homens do que mulheres. Depois a expressão foi sequestrada pelos gays e virou sinônimo de orgia masculina; tem até site pornô com este nome. Agora também é o título de um dos filmes mais escandalosos de todos os tempos, ainda mais porque se trata de uma animação. Estamos tão acostumados com essas fantasias coloridas em 3D protagonizadas por ursinhos fofinhos que é de arrepiar os cabelos ver a mesma linguagem aplicada ao universo escatológico. "Festa da Salsicha" estreou nos cinemas brasileiros em outubro, mas eu andava tão atarantado com o curso da Folha e outras demandas que só vi neste final de semana, pelo Now. Talvez o recesso do lar seja mesmo o local adequado para consumir tanta grosseria engraçada, no mesmo nível que o clássico esquete "Sobremesa" do Porta dos Fundos. Mas "Festa da Salsicha" não é só putaria. A fábula sobre artigos de supermercado que sonham em ser comprados para ir para o "grande além", um paraíso governado pelos deuses humanos, é uma metáfora óbvia sobre a nossa própria condição. E a sequência final serve como moral da história - ou melhor, imoral: se a vida é curta, vamos todos foder! Sim, é uma cena de suruba entre produtos alimentícios e de limpeza, todos dublados por alguns dos maiores astros de Hollywood. Não acreditei nos meus olhos e, num rasgo de generosidade, compartilho-a abaixo com o meu leitorado, para que alguém me belisque e diga que eu não sonhei com tudo isto.

domingo, 22 de janeiro de 2017

BUÁÁÁ LAND


"Manchester à Beira-Mar" é um dos grandes concorrentes de "La La Land" na corrida pelo Oscar. Também é o oposto do musical em quase tudo: é triste, realista, pesadão. Nem trilha original tem; a cena mais devastadora é embalada pelo "Adagio" de Albinoni. Mas o melhor de tudo é que se trata de um filme para adultos. O roteiro escapa dos clichês e das soluções fáceis. Quem for esperando uma historinha de superação, do tipo "só o amor constrói", não precisa nem sair de casa. Mas existe amor em Manchester, e também muito sofrimento. A cidade do título (que não é a inglesa, mas sua homônima no estado americano de Massachussets) tornou-se um poço de lembranças funestas para o dificílimo papel de Casey Affleck. O ator tem que conjurar as emoções mais violentas e depois represá-las, num trabalho sutil que os leigos não apreciarão, mas que merece todos os prêmios que vêm por aí. Ele faz um sujeito quase inexpressivo, tão ensimesmado que só vai ao bar para puxar briga com estranhos, e que, de uma hora para a outra, se vê designado como o tutor do sobrinho adolescente quando morre o irmão mais velho. Mais não dá para contar. Só prevenir aos sensíveis de que eles irão chorar muito.

sábado, 21 de janeiro de 2017

CARNIFICINA AMERICANA

Oh dear. O que foi o discurso de posse do Trump? O presidente Snow, de "Jogos Vorazes", não teria feito pior ao assumir em Panem. Eu prometi a mim mesmo que ignoraria solenemente, mas não deu. Trump falou como se os Estados Unidos fossem uma terra arrasada, onde reinam as trevas e perambulam zumbis. Não é só o paralelismo pop com o Bane do Batman que assusta. É a visão antiquada de um mundo onde só existem fazendas e fábricas, onde qualquer estrangeiro é uma ameaça, onde a tecnologia da informação é coisa de viado. Isto não é  conservadorismo: é estupidez mesmo. A tal da "carnificina americana" que Trump disse que acaba com ele pode, ao contrário, estar começando agora.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

OBAMANJO E TRUMPEMÔNIO

Obama não foi perfeito. Ninguém é, dãã. Mas não me lembro de nenhum outro presidente ter sido avaliado com tanto rigor no final do mandato. E todos os balanços seguem o mesmíssimo tom: "foi bom, MAS...". Talvez isto aconteça porque Obama irrompeu na eleição americana de 2008 feito um príncipe negro montado num cavalo branco, pronto para salvar com sua pureza a combalida América dos anos Bush. O slogan "Yes, We Can" gerou uma expectativa enorme, e o fato dele não andar sobre as águas no primeiro ano do mandato fez com que muitos de seus eleitores se desapontassem. Mas agora, oito anos depois, digo tranquilamente que Obama é que é o cara. O melhor político que presenciei em toda a minha vida. Honesto, íntegro, convicto, ele sai da Casa Branca sem ter protagonizado um único escândalo - algo praticamente inédito, ainda mais para um presidente que cumpriu dois mandatos. A economia americana, sob seu comando, teve uma recuperação espetacular, com queda da inflação e do desemprego. Só que seus críticos dizem que a economia se recuperaria de qualquer jeito, e mesmo assim houve eleitor descontente o bastante para eleger Donald Trump. Mas o legado de Obama é impressionante. Reatou relações com Cuba, assinou um tratado com o Irã e foi um paladino da causa LGBT. Culto, cool, elegante, bem-humorado e, como se não bastasse, casado com uma das mulheres mais bacanas do planeta, Barack Hussein Obama já deixa saudades.

E como é que um cara desses passa o bastão para seu extremo oposto? Trump é um pesadelo que só piora. Quem achou que ele iria afinar depois da eleição errou tanto como os que previram sua derrota. Seu gabinete é um desastre: cheio de homens brancos idosos, quase todos despreparados para as pastas que estão assumindo - quando não francamente hostis aos interesses da população naquela área. Mas o pior é o próprio Trump, que se comporta como num "reality show" onde o objetivo é gritar coisas chocantes que arranquem uivos da plateia. É inconcebível que os EUA estejam agora sob seu comando, e um sinal de que a democracia americana, tão admirada por seu sistema de contrapesos, precisa de uma recauchutada daquelas. O que me consola é a perspectiva de Trump durar pouco. Sua incompetência é tão óbvia, seus interesses tão escusos, que não dou até o final do ano para que exploda um mega imbróglio. Aí, o próprio Congresso com maioria republicana pode se  voltar contra ele. Donald Trump não chegará ao fim de seu mandato. Quer apostar?

É PRIMAVERA


Era uma vez uma menina rebelde que escapulia de casa à noite para cantar com sua banda. Contando assim parece a história da Rita Lee, não fosse também a trama de "Assim que Eu Abro Meus Olhos". O filme chegou a ser anunciado como o representante da Tunísia no próximo Oscar, o que acabou não se confirmando. Interferência de forças ocultas? Talvez, porque a ação se passa alguns meses antes da Primavera Árabe. A Tunísia foi o berço do movimento e o único país da região que conseguiu se livrar de sua ditadura sem cair em outra, mas ainda há muito o que fazer. Os personagens principais são mãe e filha, bastante ocidentalizadas. Nenhuma das duas usa véu, e a garota, além de ser cantora, também bebe, fuma maconha e transa adoidado (tem até uma rápida cena de nu frontal dele, que é feio pacas). "Assim que Eu Abro Meus Olhos" não tem nada de sensacional, mas é interessante ver a vida nesse lugar espremido entre duas culturas, contaminado pela corrupção em todas as esferas na época de Ben Ali. Minha maior ressalva é mesmo com o final pessimista - afinal, faltava pouco para as flores brotarem.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

TEORI NA PRÁTICA É O OUTRO

Não gostei quando Dilma indicou Teori Zavascki para o STF. Tinha a sensação de que ele era mancomunado com o PT, o que pareceu se confirmar quando Zé Dirceu e Genoíno foram absolvidos do mensalão. Fiz até post reclamando, onde queimei o título óbvio para o dia de hoje. Mas com o tempo Teori se mostrou um juiz exemplar: rigoroso, detalhista, absolutamente imparcial. Quero crer que sua morte às vésperas da homoogação da mega-delação da Odebrecht seja só uma lombada no caminho da Lava-Jato. Torço para que Cármen Lúcia sortei um novo relator o mais rápido possível, e que Deus proíba que seja o Gilmar Mendes. Ou o Dias Toffoli. Ou o... ai, quer dizer que estamos mesmo fodidos?

JUST GET IN THE CAB

A essa altura todo mundo já sabe, mas eu preciso registrar aqui no blog em alto e bom som: Will! &! Grace! Vai! Voltar! Como já vinha sendo cogitado há alguns meses, uma das minhas cinco sitcoms favoritas de todos os tempos vai mesmo ganhar uma nova temporada, 11 anos depois de ter saído do ar. Serão dez episódios que a NBC exibirá no segundo semestre. O curioso é um canal aberto ressuscitar uma de suas próprias séries - olha a influência da Netflix aí, gente.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

O PICHO E O LIXO

Não lembro de ver pichação quando eu era pequeno. Cresci durante a ditadura, quando a repressão a qualquer tipo de manifestação espontânea era brava. Foi só quando veio a abertura, na virada dos 70 para os 80, que os nossos muros começaram a receber inscrições crípticas como "Fila Km 26", em São Paulo (publicidade de um canil da raça fila no km 26 da via Anchieta) ou "Celacanto Provoca Maremoto", no Rio (um diálogo da série japonesa "National Kid", só de zoeira). Pouco depois surgiram os grafittis artísticos, como a " Rainha do Frango Assado" de Alex Vallauri. E aí abriram-se as portas do inferno: garranchos de todos os tipos, pinturas murais, propaganda política, mensagens religiosas, em lugares cada vez mais improváveis. O resultado é que hoje temos algumas das cidades mais visualmente imundas do planeta. Nem o Cristo Redentor escapou.

A pichação faz parte da paisagem das democracias. Só nos regimes totalitários, como a Coreia do Norte, é que as paredes estão sempre limpinhas e brilhantes. Além disso, as ruas foram o berço de artistas de verdade, como o brasileiro Kobra ou o misterioso britânico Banksy. Mas qual é a fronteira entre a arte e o lixo visual? Hoje está fazendo sucesso no Facebook um post do artista Muti Randolph que vai na contramão do senso comum. O cara defende os garranchos e condena os murais coloridinhos, chapa-branca. Já eu defendo que se apague qualquer coisa que tiver sido feita sem autorização, seja em propriedades públicas ou privadas. A não ser que seja um Banksy, é claro. Risos.

É nesse vespeiro que se enfiou João Doria. Não dá para negar que São Paulo, já tão desprovida de encantos, fica ainda mais horrenda com a pichação. Trabalho no centro da cidade, e me parte o coração ver prédios antigos - alguns em perfeito estado de conservação - cobertos por hieroglifos venusianos, só porque algum mano achou que seu direito à livre expressão era maior que o direito coletivo à memória. Mas o novo prefeito é ingênuo em achar que pode acabar com o picho (tanto quanto o ministro Alexandre de Moraes ao dizer que quer erradicar o consumo de maconha do país). O que fazer, então? Não sei, mas pelo menos o debate começou. E o problema parece até simples quando lembramos que existem desafios ainda maiores, como a cracolândia.

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

FECHADURA ESCANCARADA

O namoro entre Jaime e Leopoldo começou a terminar no dia em que o primeiro passou cheque na cama. Descrito desse jeito está até elegante: nas páginas de "El Niño Terrible y la Escritora Maldita", o autor peruano Jaime Bayly não poupa o leitor dos detalhes escatológicos. Depois ele reclama que a ex-mulher, as filhas, o ex-namorado, todo mundo se afasta por causa de sua indiscrição. Porque tudo que está no livro é a mais pura verdade: só os nomes dos personagens foram trocados, e mal. Casandra, por exemplo, é a primeira esposa de Jaime, Sandra. Leopoldo é ninguém menos que o escritor argentino Luís Corbacho, meu amigo há muitos anos, com quem Jaime ficou junto por oito anos. Conheci ambos pessoalmente em Buenos Aires, em 2005; Jaime eu já conhecia de antes, por causa de seu romance semiautobiográfico "No Se Lo Digas a Nadie" (que rendeu um ótimo filme). Aliás, semiautobiografia é o seu negócio. Praticamente todos os seus livros contam passagens de sua vida, disfarçados por mínimas nuanças.  E os de Luís também: alguns anos atrás, comentei aqui no blog a novela que ele escreveu sobre o tumultuado fim de caso com Jaime. Mas dessa vez a coisa foi tão longe que logo eu, que adoro uma boa fofoca, fiquei constrangido ao me deparar com tantas intimidades alheias. É mais, mas muito, muito mais do que eu gostaria de saber.

EU SOU O MEU PAÍS

Vou me separar do Brasil. Cansei do Temer, o Velho; das chacinas nos presídios; da novela "Sol Nascente". Quero proclamar minha independência de todas essas merdas. Serei o menor país do mundo, limitado à minha circunferência (cada vez maior, é verdade). Pagarei impostos para mim mesmo e me governarei com sabedoria. Oficializarei a secessão através de um plebiscito no qual apenas eu votarei. Mas antes farei campanha com um mascote, o Tonyto. Garanto que será mais bonito que o Sulito (que faz pipi por Uruguaiana ou pelo arroio Chuí?). Pensando bem, qualquer coisa é mais bonita que o Sulito.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

PALMA VELHA


Tenho a sensação de que o júri do Festival de Cannes nunca dá a Palma de Ouro ao filme de que eles gostam mais, mas àquele com a Mensagem que Vai Ajudar a Humanidade. Vejamos o que aconteceu em 2016: num ano em que competiam candidatos do calibre de "Aquarius", "A Criada", "Elle" e o alemão "Toni Erdmann" (provável vencedor do Oscar de filme em língua estrangeira), o prêmio máximo foi para "Eu, Daniel Blake", um longa velho sobre um velho feito por um velho.  O diretor Ken Loach já tem 80 anos e venceu Cannes em 2006. Teria sido mais justo premiar algum título mais moderno. Não que este seja ruim: o roteiro não tem barriga, as atuações são ótimas e não há quem não se identifique com a luta de um cidadão contra a burocracia corporativa, seja ela pública ou estatal (eu mesmo me exasperei outro dia com a mocinha de uma operadora que insistia em não ouvir minha recusa ao produto que me era oferecido). O Daniel do título é um carpinteiro viúvo e sem filhos que tenta receber um auxílio do governo depois de ter sofrido um enfarte que o impede de trabalhar - se ele enfrenta problemas na Grã-Bretanha, que tem um dos sistemas mais avançados do mundo, imagine se encarasse o nosso INSS. O personagem tem bom coração e faz o que pode para ajudar uma mãe solteira numa situação ainda pior que a dele. Mas minha empatia escasseou quando ele manifesta não só seu analfabetismo digital, mas sua resistência em aprender a clicar num mouse. Saí do cinema com a certeza de que, na vida real, esse velho turrão e ignorante teria votado a favor do Brexit.

X-TUDO

Descobri The xx tarde, quando eles já estavam lançando seu segundo disco. Era 2012, e de repente eu não parava mais de ouvir "Coexist". Também fui atrás do álbum de estreia dos caras, tão influente que até Shakira regravou uma de suas faixas. Em 2015 eu me joguei de cabeça no trabalho solo de Jamie xx, o produtor da banda. "In Colour" expandia o som diáfano de seus colegas para novos horizontes e ganhou um monte de prêmios. Esta foi a senha para o The xx se reinventar em seu terceiro CD, que consegue a proeza de soar igual e diferente a tudo o que eles fizeram antes. Pela primeira vez, há samples de outros artistas em suas músicas (inclusive da hipnotizante "Just" de David Lang, incluída na trilha de "Youth"). Também se arriscam com ritmos e instrumentos variados, como se aquele nerd tímido estivesse criando coragem para se jogar na pista de dança. Enquanto isto não acontece, um bom programa é escutar "I See You" com atenção e perceber suas inúmeras camadas e filigranas. É o primeiro grande lançamento musical de 2017.

domingo, 15 de janeiro de 2017

I'VE GOT ALL MY LIFE TO LIVE


Toda temporada de prêmios é assim: algumas revistas e jornais americanos reúnem os possíveis indicados ao Oscar para simpáticas mesas redondas e sessões de fotos, como se essas estrelas não quisessem cortar as gargantas umas das outras. Mas este ano a revista W encontrou uma causa comum a todos: a aversão a Donald Trump. E foi nesse espírito que surgiu o vídeo acima, com o hino gay "I Will Survive" adquirindo um novo significado. Quem se saiu melhor? Amy Adams, a mais disco de todas! Confira aqui a galeria com as diferentes capas da W desta edição que se pretende histórica.

sábado, 14 de janeiro de 2017

TRA LA LA LA LA


Prepare-se para se decepcionar com "La La Land". O favorito ao Oscar chega ao Brasil já com tantos prêmios e críticas positivas que quase todo mundo vai dizer que esperava mais. Foi o que eu pensei depois do número de abertura, cantado em verso e prosa como sensacional, e que me pareceu uma versão piorada dos garotos dançando nos tetos dos carros em "Fame", de 1980. O romance entre os personagens de Emma Stone e Ryan Gosling também demorou a engatar, assim como o meu engajamento com o filme. Mas me engajei. A química entre os dois protagonistas é tão consistente que dá para passar no pão. Como em qualquer boa história romântica, a gente quer fazer parte daquele casal. A cena do planetário, com os dois dançando nas estrelas, é mágica pura. E então, do meio para o final, "La La Land" começa a discutir assuntos sérios. Vale a pena ter um emprego do qual você não gosta, só por causa do dinheiro? E o tempo que esse emprego demanda, quando você poderia estar correndo atrás do seu sonho? Mas será que você é bom o bastante para atingir este sonho? São perguntas que eu me faço, sei lá, todos os dias, e por isto "La La Land" de repente começou a ser bem mais do que um mero boy meets girl. Aí surgem conflitos totalmente críveis, e a agridoce sequência final, sem diálogos, é simplesmente sublime. Um amigo que viu comigo achou que Ryan Gosling traz pouca energia para o papel, mas acho que esse fogo baixo era mesmo o que seu pianista de jazz precisava. De qualquer forma, quem brilha mesmo é Emma Stone, adorável, divertida e comovente, Não vou ficar chateado se ambos saírem de mãos cheias da festa da Academia. "La La Land" é um encanto neo-retrô, que venceu minhas resistências. Sua maravilhosa trilha sonora está tocando na minha cabeça até agora, e eu já estou louco para ver de novo.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

LICENÇA PARA M... CHOVER

OK, preciso mudar de assunto. Terceiro dia consecutivo com post sobre a suposta paixão  do Trump por "golden showers". Prometo que amanhã eu viro o disco.

A CASA DO PORCO

Reza a lenda que o apelido de Geddel Vieira Lima no colégio era “porco”. Antes que me acusem de gordofobia - logo eu que sou gordo etc. - quero dizer que o epíteto é merecido, dada a sujeirada que vem sendo descoberta. Hoje a PF fez buscas nas casas de Geddel em Salvador, e ele está sendo acusado de conluio com ninguém menos que Eduardo Cunha. Pois é, senhoras e senhores, esta é a laia de gente que está entranhada no estado brasileiro, pelo menos desde o governo FHC (alguns já estavam na ditadura). O lado bom é que eles vêm sendo apanhados um depois do outro. Mas há vários ruins: será que não vai sobrar nenhum? E se não sobrar, quem vem depois? Cansei de viver num chiqueiro.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

TRUMP SHOWER

Embarquei alegremente na onda do "golden shower" do Trump, #logo eu, focassauro treinado para desdenhar das notícias sem procedência confirmada. O presidente-eleito dos Estados Unidos (PEOTUS na sigla em inglês, já devidamente atualizado para PEEOTUS) só chegou onde está porque mente o tempo todo, e a imprensa cai ao nível dele se difundir boatos e insinuações. Como bem diz o Clóvis Rossi neste artigo: deixa que o Trump se ferra sozinho.

Por outro lado... É irresistível pensar que essa história vai grudar no cara como um fedor entranhado, desses que não saem nem com aguarrás. Feito a rola que o Malafaia está procurando até hoje; ninguém mais vai conseguir falar em Trump sem lembrar de urina. Claro que não há nada de grave no fato dele (talvez) apreciar os chamados "esportes aquáticos", e seu gabinete de deploráveis promete fazer coisa muito, mas muito, muito, MUITO pior. Não faz mal: Trump merece ser zombado ad eternum pelo #Xixigate. Si non è vero, è bene trovato.

O MAIOR HORROR DO MUNDO

Todos os dias chegam notícias sobre crimes homofóbicos no Brasil e no mundo (ontem mesmo eu li que um adolescente e um homem mais velho foram executados na Somália por terem sido pegos transando). Mas nada me preparou para o horror que foi o assassinato de Itarbelly Lozano, cometido por ninguém menos que sua própria mãe (e provavelmente com a cumplicidade do padrasto, mas ela nega). A dupla mostruosa está presa, acusada de ter esfaqueado o rapaz e depois incinerado o cadáver. A causa do crime? Itarbelly "tomava drogas e levava homens para casa". Não tenho mais a comentar: só quero expressar o pasmo por uma barbaridade como esta ter acontecido.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

PINGA NI MIM

Foi surpreendente a reação NEGATIVA ao discurso da Meryl Streep no Globo de Ouro. Até amigos meus bastante razoáveis postaram no Facebook o vídeo que "prova" que Donald Trump não teria caçoado do repórter com deficiência física que o desmentiu. O tal do vídeo não só mostra que o presidente eleito caçoou do cara como também de muito, muito mais gente - desrespeito é com ele mesmo. Não precisa ser PPD nem negro nem mulher: basta achar que Trump não é a última bolacha do pacote para que o homem mais inseguro do mundo parta para a ignorância. Viu o papelão que ele fez com Arnold Schawrzenegger, que passou a apresentar "O Aprendiz" em seu lugar? Ao invés de desejar boa sorte a todos, Trump foi ao Twitter tirar sarro da baixa audiência que o programa alcançou com o novo anfitrião, como se o formato já não estivesse na milésima temporada. Mas nada disso importa para sua torcida, tão fanática e irrealista quanto a de um time de futebol. Ou a torcida do Lula e dos bolivarianos, que só vê avanços sociais enquanto ignora os crimes da Lava-Jato ou o descalabro da Venezuela. Quem gosta do Trump faz a mesmíssima coisa, só que com o sinal invertido. Não admite que seu ídolo seja um grosseirão infantilóide, e não percebe que o episódio do repórter deficiente - só para citar um - também começou com uma mentira deslavada, como demonstra esta ótima recapitulação dos fatos. Hoje o planeta está em polvorosa com a revelação de que Trump teria pagado prostitutas em Moscou para que elas encenassem um showzinho particular de "golden shower". Essa é uma fantasia masculina bastante comum, tanto que a refinada revista "Hustler" costuma colocar suas modelos fazendo xixi em frente às câmeras. Não é nada grave o futuro presidente gostar disso (ele promete fazer coisa BEM pior), mas é divertido vê-lo negar freneticamente esse "rumor infundado". Lembrando que foi Trump quem insistiu durante anos no rumor de que Obama não teria nascido nos EUA... Então, ó: ninguém vai espalhar que ele curte uma mijada na cara, OK? Combinado?

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

O CÓDIGO LEONARDO

Volta e meia me cobram aqui no blog para eu "denunciar" os gays famosos que não postam suas intimidades nas redes sociais. Digo e repito: os únicos que merecem ser arrancados do armário são os homofóbicos. Todos os demais têm suas razões para se expor ou não, ainda mais os que seguem a carreira artística. É por isto que aplaudo a atitude do Leonardo Vieira, que rendeu minha coluna de hoje no F5. O cara, de fato, nunca se escondeu muito: taí uma revista "Sui Generis" do final dos anos 90 onde ele aparece de espartilho na capa e de tutu de bailarina no interior. Mas também jamais levantou bandeiras, e tem um ponto quando diz em sua carta-desabafo que um ator deve ser uma página em branco. Algumas bibas estão se incomodando com o trecho onde Leonardo diz que, se pudesse, teria escolhido ser hétero. Bom, vão sofrer ataques na internet para ver se vocês aguentam, meus amores - não precisa nem ser uma paulada na vida real, a cores e em 3D. Vamos torcer para que a coragem do rapaz não prejudique sua carreira, confirmando assim os medos de quem vive na sombra.

A PRINCESA E A RAINHA-MÃE


O documentário "Bright Lights" já estava pronto antes de Carrie Fisher e Debbie Reynolds morrerem, mas teve sua exibição na HBO antecipada para esta semana. É um retrato em close da relação entre mãe e filha mais famosa de Hollywood, recheado de filmes caseiros e material de arquivo. Depois de muitos anos de turbulência, as duas desenvolveram uma simbiose divertida, mas que não deixa de dar um teaser do final abrupto e trágico. Senti falta de saber mais dos conflitos delas: Debbie precisou suar para pagar as dívidas de jogo do segundo marido, e Carrie se meteu com todo tipo de droga enquanto era diagnosticada com transtorno bipolar. Mesmo assim, a dupla exalava bom humor e autoironia. Chama a atenção como a princesa Leia - que poderia ter sido cantora, pois tinha um vozeirão daqueles - estava acabada para seus 60 anos (menos ainda na época das filmagens), até mesmo corcunda. Enquanto que a mãe mantinha a jovialidade com mais de 80, apesar de quando jovem lembrar a Eliana do SBT: bonitinha, mas com sex-appeal negativo. "Bright Lights" não é baixo astral, mesmo a gente sabendo agora como acaba a história. Mas também é uma lembrança agridoce do que perdemos com Debbie Reynolds e Carrie Fisher - principalmente esta última, que ainda tinha tanto o que fazer.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

O MAR, ÔÔÔ O MAR


Faz sentido ver uma animação para crianças sem estar acompanhado por criança nenhuma? Entre o Natal e o réveillon, meu marido e eu levamos nossa neta para ver "Sing", mas ela dormiu durante quase metade do filme. Talvez tivesse se interessado mais por "Moana", que nós fomos ver ontem sozinhos. A nova princesa Disney está fazendo sucesso porque não tem nenhum príncipe esperando por ela no final. Mas a história de empoderamento feminino não me pegou de jeito, apesar do paganismo tão necessário nesses dias carolas. Muito menos as canções, que não incluem nenhum hit instantâneo à la "Let it Go". O melhor de "Moana" é mesmo o visual. O mar transparente e sempre em movimento, os cabelos, as tatuagens, é tudo de uma perfeição que chega a irritar. Mas duvido que o filme se torne um clássico. Teríamos gostado mais se tivéssemos ido com uma criança.

É FANTÁSTICO

Boa tarde! It's just a penis, como diz o personagem de Viggo Mortensen em "Capitão Fantástico". Ou, vamos aproveitar o aviso de conteúdo e postar nudez frontal, como eu sempre digo. Não sou muito fã do Viggo nem como ator nem como homem, mas claro que o sujeito está batendo um bolão aos 58 anos de idade. Ontem à noite ele perdeu o Globo de Ouro para Casey Affleck (que precisa urgente ir ao barbeiro). Mais sobre a premiação aqui, na minha coluna no F5.

domingo, 8 de janeiro de 2017

ADÃO E EVA NO ESPAÇO


Li duas críticas diametralmente opostas de "Passageiros". Uma dizia que o filme era genial. A outra detestava, incomodada com uma falha de caráter de um dos protagonistas. Acontece que essa falha É o filme: sem ela "Passageiros" seria apenas um blockbuster cheio de som e fúria, significando nada. O som e a fúria, vale ressaltar, são espetaculares. Assisti numa tela imensa e me quase me senti viajandão numa nave espacial (destaque para a piscina infinita com vista para o infinito). Só que qualquer filme de ficção científica precisa espelhar um medo contemporâneo, ou uma questão perene que aflija a humanidade. E tem medo mais persistente do que a solidão, o tema subjacente deste longa? Mas não estou dizendo que estejamos diante de uma obra-prima, apesar de eu ter gostado mais do que esperava. "A Chegada", ainda em cartaz nos cinemas, é bem melhor. "Passageiros" não esconde que se dirige especificamente aos adolescentes do sexo masculino: muito do que acontece na tela é a realização das fantasias de um rapaz solitário. Como nesses comerciais de cerveja, onde o cara é levado de repente para uma festa! Num iate! Para lutar MMA! Com a Sabrina Sato!

sábado, 7 de janeiro de 2017

MEU PAU TE AMA

Eu tenho uma mania quando vira o ano. Entrou janeiro, não quero mais ouvir as músicas que eu baixei em 31 de dezembro. Para sentir que entrei numa nova era, preciso de novidades. Uma delas é "Deu Onda", que eu só fui conhecer em 2017 e é o atual no. 1 do meu hit parade pessoal. Calma, não vou postar aqui o vídeo que o mundo inteiro já conhece. Prefiro focar na lista de recomendações do Thales de Menezes da Folha, de onde eu pincei algumas meninas que são meu fechamento. Elas já estão bombando há meses, mas só agora chegaram aos meus tímpanos. A melhor de todas talvez seja Dua Lipa. Dona de um vozeirão e de um repertório convencional porém consistente, essa inglesa filha de pais albaneses tem tudo para marcar o ano. Seu álbum de estreia sai em fevereiro.
Outra inglesa de origem exótica é Sarah Midori, a vocalista da banda com o melhor nome de todos os tempos desta semana: Kero Kero Bonito (quem não quer?). Mas calma lá: "kero" é a onomatopeia japonesa para o coachar do sapo, e bonito se refere ao peixe. O KBB é o primeiro expoente do J-Pop surgido no Ocidente e seu álbum "Bonito Generation" está cheio de singles saltitantes e meio parecidos entre si. É divertido, mas enjoativo se consumido em largas doses.
Fechando esse trio de mozões está Lao Ra, que provavelmente se chama Laura nos documentos (não consegui descorbr seu nome verdadeiro). Ela lembra uma M.I.A. latina, menos politizada e mais colorida. Lao Ra grava em inglês, chama seu estilo musical de "pineapple pop" e já vem sendo saudada como a melhor exportação musical da Colômbia desde Shakira. Vamos ver se chegou para ficar.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

PUNHETEIROS DO BRASIL, UNI-VOS

Chega a ser surpresa o fato de que, em pleno 2017, um político brasileiro convoque uma cruzada contra a masturbação? Marcelo Aguiar, deputado federal (DEM-SP) e, claro, pastor evangélico, propôs um projeto de lei que obriga as operadoras a criar filtros contra "conteúdos de sexo virtual, prosituição e sites pornográficos". Isto porque uma ameaça gravíssima ronda o nosso país: os "viciados em conteúdo pornô e masturbação". Tantos que já consistiriam um novo tipo de orientação: os "autossexuais", que se satisfazem sozinhos e não precisam de ninguém.

Marcelo Aguiar foi cantor "secular" nos anos 90, e quando era oco fez sucesso com "Não Dá para Fazer Amor Sem Você", de Zezé di Camargo. Mais recentemente, foi acusado de engravidar uma amante. Ou seja: é só mais um hipócrita querendo aparecer. Mas não deve ser ignorado, e sim exposto ao ridículo. Este é o objetivo do Punhetaço / Siriricaço que está sendo convocado pelo Facebook. Caso contrário, estaremos pavimentando o caminho para a volta do obscurantismo. Como o que gerou este livrinho francês de 1830, com a história do punheteiro que morreu aos 17 anos.

MOURIR SUR SCÈNE

É a maldição de Dalida? Sveva Alviti, a atriz que interpreta a cantora no filme que estreia na França semana que vem, teve um piripaque ao vivo e a cores durante uma entrevista para a TV. Foi um ataque epiléptico, agravado pelo stress que Sveva acumulou durante a promoção de "Dalida". E talvez pelo suave acaju dos cabelos de Orlando, o irmão e produtor da diva, que estava sentado ao seu lado.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

DONAS-DE-CASA DESESPERADAS

Não dá mais para tirar sarro nem mesmo do Estado Islâmico? O esquete acima foi veiculado no primeiro episódio de "Revolting", novo programa humorístico da BBC Two, e claro que dividiu opiniões. Não , ninguém chegou a defender o ISIS, mas teve quem sentisse que o quadro "reforça os estereótipos negativos das mulheres muçulmanas". Outros acharam que "o sofrimento das vítimas não é motivo de piada". Pois eu adorei, e entendi perfeitamente que o alvo é o fanatismo assassino. Rir de alguém é sempre humilhante: vamos rir desses desesperados. 

O BRASIL NASCEU QUADRADO

Visitei o Carandiru no meu primeiro ano de faculdade, muito antes do massacre que se tornou seu sinônimo. O presídio mais famoso de São Paulo não era uma pocilga, mas tampouco uma colônia de férias. Lembro da classe se comover com um detento recebendo a visita da família, que havia lhe trazido um bolo de aniversário. A fofura da cena foi estragada pelo meu professor: "aquele sujeito é um assassino. Lembrem-se, aqui dentro todo mundo é culpado. Inocente só vai preso em filme americano". Isto foi no final dos anos 1970, quando a criminalidade brasileira ainda não havia explodido. Hoje a sensação da turma talvez fosse a oposta: "esses caras são uns bandidos, estão sendo muito bem tratados. Pau neles!". É generalizada a opinião de que a nossa Justiça é leniente e serve pão-de-ló nas cadeias, custeados com os nossos impostos. Uma amiga minha, bastante esclarecida, perguntava outro dia no Facebook: "para quê serve o indulto de Natal? Preso tem que ficar preso!!" Seguiu-se uma enxurrada de comentários de apoio, como se todos os condenados fossem igualmente perigosos. Essa ignorância é um dos fatores por trás das chacinas que volta e meia acontecem nas penitenciárias. Não é o único: claro que há também a guerra entre facções, o equivocado combate ao narcotráfico e até mesmo ecos da escravidão, tão presente no nosso DNA cultural. O caso específico de Manaus é ainda mais preocupante, por causa da incompetência e da ganância da empresa privada que gere o presídio Compaj. Sei que parece frase feita, mas até quando vamos ficar amontoando delinqüentes de todos os calibres em espaços apertados e insalubres? Já deu tempo de perceber que isto não aumenta a segurança do lado de fora, muito pelo contrário.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

ESTADOS NAZISTAS DA AMÉRICA

Tem uma coisa que me cansa em qualquer obra que fale de uma distopia. O plot é invariavelmente sobre um grupo de rebeldes que quer derrubar aquela ditadura. Em "Jogos Vorazes" ou em "3%", perde-se muito mais tempo nas maquinações da insurgência do que no funcionamento da sociedade. O mesmíssimo acontece com "The Man in the High Castle", a série dramática que eu mais queria ver na Amazon Prime Video. Não é que seja ruim: eu só preferia saber mais do dia-a-dia dos americanos sob o regime nazista do que aguentar mais cenas de perseguição. Ah, e alguém aí conseguiu espelhar a Amazon na TV? Nem eu.

JE SUIS MALADE

Estou doente para ver "Dalida", a cinebiografia da minha cantora favorita de todos os tempos. Estreia na França semana que vem - e talvez nunca no Brasil...

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

A IRA DE ZEUS

Povo de Guanambi! Como ousais desafiar-me? Por acaso ignorais a aliança que une a tua pequena cidade baiana à minha eterna onipotência? Esquecestes dos pactos realizados com outros deuses e entidades espirituais, todos ainda dentro do prazo de validade? Como ousais eleger um prefeito que cancela-os todos, e de uma só canetada? O primeiro ato de Jairo Magalhães (PSB) depois da posse foi publicar um decreto colocando Guanambi sobre (sic) a proteção do Altíssimo (até achei que ele se referia a Mim, mas depois o texto mal-escritíssimo esclarece que é Jesus Cristo de Nazaré). Hórus, Odin e Iemanjá estão entrando na Justiça. Já eu prefiro uma solução mais tradicional e eficaz: estou enviando relâmpagos que exporão Guanambi ao escárnio internacional, enchendo os corações dos habitantes de medo e vergonha. Minha palavra é irrevogável!

GENTE BOA TAMBÉM ERRA

O conceito até que é bom: ninguém está livre de provocar um acidente de trânsito se não seguir algumas regras elementares. A própria Madre Teresa de Calcutá pode atropelar alguém, se mandar nudes pelo celular ao mesmo tempo em que estiver ao volante. Só que a execução da campanha "Gente Boa Também Mata"... Não, nem mesmo a polêmica em torno dela é boa. Na verdade, pega mal para o governo de Temer, o Velho, que mais uma vez pisou no tomate. Porque a obrigação no. 1 de qualquer peça publicitária nem é ser criativa: é ser clara. Gerou ruído? Então é ruim. Antes ela ir para o lixo do que o dinheiro do cliente. Fora que o timing da veiculação não podia ser pior: há poucos dias, um dos assassinos do ambulante Índio declarou ao ser preso que era "gente boa". Somos todos...

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

COVARDES DO BEM

Existe um denominador comum entre os dois crimes hediondos que abalaram o Brasil nessa virada de ano. Alípio dos Santos, um dos assassinos do ambulante Índio, quase matou outra pessoa logo depois: o brucutu foi à casa de uma amiga da esposa e tentou esmurrá-la, pois ela teria feito fofoca sobre ele. Já Sidnei Araújo, que matou a ex-mulher, o filho e mais dez outras pessoas numa festa de réveillon em Campinas, também estava lavando sua honra de macho, como deixou claro na carta que escreveu antes da chacina. Esses crimes não têm nada de raros. Toda semana a gente ouve falar de algum sujeito que matou a namorada só porque ela quis romper com ele - a coitada nem precisou ter "traído" o imbecil com outro homem. O mais assustador é que essa cultura de violência contra a mulher continua sendo transmitida para as novas gerações, como atestam os comentários absurdos que pululam na internet. É essa cultura que faz com que os trogloditas se achem "do bem". Foram apenas acometidos por insanidade temporária por causa da cachaça, ou "testados" pela sociedade malvada até o ponto de ruptura. Enquanto continuarmos dizendo "nada justifica, mas...", a matança também vai continuar, levando junto ambulantes, tios, primos e quem mais estiver por perto. Depois não adianta ficarmos horrorizados.

FILME DE MULHERZONA


A maioria dos homens não irá entender "O Que Está por Vir". Dirá que o filme "não tem história". De fato, a narrativa foge ao convencional - não na forma, mas no conteúdo. O ponto de partida é simples: uma professora de meia idade perde o marido, a mãe e um de seus empregos, tudo na mesma época. Enquanto isto, um ex-aluno bonitão reaparece, e a gente fica esperando pintar um clima entre os dois. Só que não. Não há uma virada, uma volta por cima, uma trajetória de superação. A mulher já era bem resolvida e bem estruturada antes de todas essas perdas, então... Essa aparente monotonia é mais do que compensada pela presença de Isabelle Huppert, que vem emplacando um puta papel atrás do outro. Mas ainda bem que eu tenho uma amiga minha amou o filme (que, no fundo, é "apenas" o estudo de uma personagem). Ela se identificou com todas as cenas, entendeu todas as metáforas, e as explicou para mim, que mesmo gay continuo sendo homem. "O Que Está por Vir" foi escrito e dirigido por outra mulher: Mia Hansen-Løve, que tem apenas 35 anos mas já sabe o que a espera. O que está por vir.