domingo, 31 de dezembro de 2017

EL GOLPE MÁS FANTÁSTICO

Dez anos atrás, um leitor assíduo desse blog me recomendou muito a banda espanhola La Casa Azul. Na época eu dei uma escutada, achei legalzinho e toquei a vida adiante. Corta para 2017. Estou eu vendo o nono episódio da primeira temporada de "Merlí" quando de repente soam uns acordes familiares. Era o começo de "La Revolución Sexual", usada como trilha de uma pool party com aqueles garotos catalães maravilhosos. Foi uma pequena epifania para mim: como que eu deixei esse hino de lado por toda uma década? A canção é pegajosa, deliciosa e absolutamente necessária para esse momento esquisito do Brasil e do mundo. E a letra me pegou de jeito, especialmente este trecho aqui:

Tú que decidiste que tu vida no valía,
que te inclinaste por sentirte siempre mal,
que anticipabas un futuro catastrófico,
hoy pronosticas la revolución sexual.

Tú que decidiste que tu amor ya no servía,
que preferiste maquillar tu identidad,
hoy te preparas para el golpe más fantástico
porque hoy empieza la revolución sexual

Já pensou, uma versão em português na voz de Pabllo Vittar? Enfim, chegamos ao final de mais de um ano, e percebo que 2017 não foi o desastre generalizado que foi 2016 para a maioria das pessoas.Eu, pelo menos, estou mais animado como não me sentia há muito tempo. Que o ano novo seja leve para todo mundo, sem brigas desnecessárias e com cada vez mais sexo. Que comece a revolução.

ROMA NUDA E CRUDA


Deixei para ver "Suburra" só na última semana do ano. Resultado: tive que abrir espaço na minha lista de melhores para esta série, a primeira produzida pela Netflix na Itália. É quase que um "Game of Thrones" mafioso, com clãs poderosos e cavaleiros solitários disputando um mesmo prêmio - no caso, terras no litoral de Ostia, o porto de Roma, onde seria construído um cassino. Os personagens são todos bem construídos e nenhum deles presta. Até quem parecia bonzinho logo se revela, e as mortes também não demoram a começar. O grupo mais interessante é o os gângsteres ciganos, que moram todos juntos, com suas famílias barulhentas, numa espécie de condomínio decorado por Versace bêbado, onde parece ser Natal o ano inteiro. É de lá que vem Spadino, o moleque que precisa esconder sua viadagem para sobreviver, e um dos três jovens em que o seriado se apoia. Os outros são Lele, filho de policial, que vende bala na balada e se complica com os donos do pedaço, e Aureliano, o galã herdeiro de um pequeno império criminoso. Claro que por se passar em Roma também tem muita gente do Vaticano envolvida no imbroglio, sem falar nos políticos que frequentam o Quirinale. Devorei a primeira temporada em três dias, maratona facilitada pelas magníficas paisagens romanas que adornam os episódios. Em seguida, precisei ver o filme, também na Netflix.


O longa de 2015 é adapatdo do livro do mesmo nome, e a série na verdade é um prequel a ele. Foi interessante ver como os roteiristas pegaram personagens secundários que já existiam no filme e os transformaram nos protagonistas do programa, deixando-os mais complexos e interessantes. O pano de fundo continua o mesmo: a disputa por terras em Ostia, com tiroteio por todo lado. Só que morre muita gente: como os produtores vão fazer com a segunda temporada? Ela também se passa antes do filme, ou vão ignorá-lo solenemente? Enquanto a dúvida persiste, continuo ouvindo "7 Vizi Capitali", da banda Piotta, o tema dos créditos iniciais, de cujo refrão tirei o título desse post. Ah, sim, mais uma pergunta: rap italiano, sì oppure no?

sábado, 30 de dezembro de 2017

RODA EMPERRADA


Woody Allen solta uma bomba no final de "Roda Gigante", depois a abafa e priva a plateia de ver a explosão. Foi com esta impressão que eu saí de "Roda Gigante", um dos filmes mais irregulares do grande cineasta - o que é até normal, quando ele lança um filme por ano há 40 anos. Visualmente, o novo longa é lindo. O lendário Vittorio Storaro, fotógrafo de Bertolucci e vencedor de vários prêmios, faz um trabalho primoroso de luz e cor. Mas o roteiro é muito teatral, bastante preso ao cenário de um apartamento. E isto quando havia um marzão besta pela frente e todos os brinquedos de Coney Island, a praia farofeira de Nova York. Além do mais, Kate Winslet está ATUANDO, com todas as letras maiúsculas, como se estivesse fazendo uma peça no Maracanã lotado. Inicalmente cotada para o Oscar, ela sumiu das previsões, e com justiça. Enfim, ano que vem tem mais, e adivinha quem está no próximo filme de Woody? Começa com "Timothée" e termina com "Chalamet".

O INSULTO DE NATAL

É comum que os sobreviventes de um desastre aéreo se sintam imbatíveis. Afinal, se nem a queda de conseguiu derrubá-los, o que conseguiria? Temer, o Velho, deve estar passando por uma síndorme semelhante. O velhaco foi gravado dizendo, com todas as letras, "tem que manter isso aí, viu?", referindo-se à mesada que Joesely paga para Eduardo Cunha na cadeia. Um lacaio de Temer foi flagrado correndo pela rua, arrastando uma mala com meio milhão de reais destinada ao chefe. E nem assim Temer caiu. Custou caro liberar tantas benesses para o Congresso, mas o fato é que ele não caiu. Essa sensação de invencibilidade pode estar por trás do absurdo projeto de indulto de Natal, escrito especialmente para livrar cupinchas como Geddel de ficarem presos e devolverem o que roubaram para o Estado. não colou, porque Raquel Dodge e Cármen Lúcia - em dia que não foi covarde - mataram o pássaro no ninho. Temer, mais uma vez, provou que é velho não no sentido de idade avançada, mas de total desconexão do mundo moderno, onde existem redes sociais e uma opinião pública mais atuante do que nos tempos em que ele amarrava deputado com linguiça. Mas duvido que ele tenha se abatido por mais esta derrota. Para quem tentou liberar o trabalho escravo, o inferno é o limite.

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

OS FILMES DE 2017

Minha retrospectiva do ano termina com outro assunto que me é caro: o cinema. 2017 foi melhor do que a média e eu tive um pouco de dificuldade em peneirar os dez melhores. Mas houve um certo filme que se destacou sobre todos os demais e já entrou para o rol dos meus favoritos de todos os tempos. Adivinha qual é...

Em ordem alfabética, estes foram os títulos de que eu mais gostei:

O Cidadão Ilustre
Gabriel e a Montanha
Kiki - Os Segredos do Desejo
La La Land
Manchester à Beira-Mar
Me Chame pelo Seu Nome
Monsieur & Madame Adelman
The Square - A Arte da Discórdia
Tehran Taboo
Três Anúncios para um Crime

Mas tem pelo menos outros 15 que me deixaram encantado:

Bingo - O Rei das Manhãs
Clash
Como Nossos Pais
Corra!
Dalida
Detroit
Divinas Divas
Divines
Eastern Boys
Estrelas Além do Tempo
First They Killed My Father
Minha Vida de Abobrinha
Uma Mulher Fantástica
Paterson
O Reencontro


No mais, posso me gabar de ter visto um único filme de super-herói - "Mulher Maravilha" - mais pela repercussão cultural do que por interesse no gênero.

E o que esperar de 2018? Aposto que a minha lista do ano que vem vai ter mais filmes exibidos apenas no streaming (este ano só tem um). Também torço por mais brasileiros (este ano foram quatro). De preferência, campeões de bilheteria.

SEJA BEM-VINDO MAS LIMPE OS PÉS


"Suburbicon" foi um dos primeiros roteiros escritos por Joel e Ethan Coen, mas só agora foi filmado - e por George Clooney, que mudou muita coisa do original. Mas tudo que ele conseguiu foi chegar numa pálida imitação do humor negro dos irmãos. O fato é que "Suburbicon" seria pesado e desagradável sem uns toques de ironia, que Clooney salpica na caracterização de um subúrbio americano de classe média em 1959. Só que os negros são, mais uma vez, usados como símbolos, e não como personagens de carne e osso - eu começo a entender porque a militância implica tanto com diretores brancos se metendo a bonzinhos. Além disso, Julianne Moore e Matt Damon não tem lá muita química, talvez pela diferença de idade. Quem acaba se destacando mesmo é o garoto Noah Jupe, que já tinha me chamado a atenção em "Extraordinário" e aqui aparece um pouquinho mais jovem. A trama rocambolesca, onde quase ninguém presta, consegue surpreender ao mesmo tempo em que é óbvia na mensagem social. "Suburbicon" se deixa assistir, mas não faz pensar. Já estou esquecendo.

quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

AS MÚSICAS DE 2017

Reparou no título desse post? Não é "Os Discos" do ano, como foi em todos anos em que existe este blog. A razão é singela: eu não comprei discos em 2017 (mas ganhei dois de presente e um terceiro veio de brinde numa revista). Agora eu só faço streaming, como o resto da população. Então, mais justo falar em "músicas".


Qual foi a música do ano? A mais onipresente foi "Despacito", que pintou até no especial do Roberto Carlos. Mas minha favorita pessoal é mesmo "Amar pelos Dois", a vencedora do Eurovision, tão delicada que nem a abertura da novela das seis conseguiu estragar. A listinha dos meus top 10 é bem variada, cata só:

"Amar pelos Dois, Salvador Sobral
"Andromeda", Gorillaz feat. DRAM
"Be the One", Dua Lipa
"Despacito", Luis Fonsi feat Daddy Yankee
"Deu Onda", MC G15
"Larme à Gauche", Vendredi sur Mer
"Mystery of Love", Sufjan Stevens
"No", Miranda!
"Occidentali's Karma", Francesco Gabbani
"Sua Cara", Major Lazer feat. Anitta & Pabllo Vittar



Um dado curioso: tem pouca relação entre os artistas da lista de melhor música e os da lista de melhor álbum. Uma honrosa exceção, além da banda argentina Miranda!, é a cantora suíça Vendredi sur Mer, de quem eu nunca tinha ouvido falar até duas semanas atrás. Ela emplacou a sublime "Larme à Gauche", que não tem um clipe decente, e também seu EP "Marée Basse" - que é curto, mas melhor do que quase todos os álbuns que eu ouvi este ano. Aliás, tenho ouvido menos álbuns e mais faixas soltas agrupadas em playlists. Eu e todo mundo, né.

"Fuerte", Miranda!
"Hippopotamus", Sparks
"I See You", The xx
"Lamomali", M
"Liberté Chérie", Calogero
"Marée Basse", Vendredi sur Mer
"Melodrama", Lorde
"Toy", Yello
"Vai Passar Mal", Pabllo Vittar
"Volver", Benjamin Biolay


Estas são as listas mais pessoais da minha retrospectiva e ninguém é obrigado a concordar com nada. Queria estar ouvindo mais música brasileira, mas do feminejo só me descem os 50 reais e olhe lá. No mais, aceito sugestões: nesses tempos de Spotify e Apple Music, é a coisa mais fácil encontrar uma música, ouvir, baixar, gostar, apagar, se arrepender, esquecer e achar outra. Sugere aí.

SONHEI COM A IMAGEM TUA


Um filme húngaro precisa ganhar muitos prêmios para chegar às telas brasileiras. É o caso de "Corpo e Alma", que venceu o último festival de Berlim e está entre os nove pré-selecionados para o Oscar de filme estrangeiro. Trata-se de uma inusitada colisão entre uma comédia romântica fofinha e uma pretensiosa obra de arte, repleta de simbolismos e mensagens secretas. Mas não chega a ser chato, apesar de uma certa lentidão lá pelo meio. A premissa é curiosa: dois funcionários de um matadouro, que não se conhecem, sonham toda noite com o mesmo casal de cervos trotando na neve. Um match mais poderoso do que o de qualquer aplicativo, e é claro que eles resolvem dar uma chance ao amor quando descobrem a coincidência. Só  que a vida real é um tanto mais complicada que o mundo onírico, e a afinidade entre eles não flui tão fácil quanto a de dois bichos no cio. Original e, às vezes, arrebatador, "Corpo e Alma" é o date movie perfeito para gente-cabeça que gosta de pagar de sensível.

quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

AS PESSOAS DE 2017

A polarização se acentuou tanto ao longo deste ano que, nas redes sociais, bastava dizer que alguma coisa era legal para se levar porrada de todos os lados. Como eu gosto de apanhar, dividi as figuras que marcaram o noticiário em dois grandes grupos, o do Bem e o do Mal. Afie seu canivete, porque a minha casca é grossa.

O abre-alas do grupo do Bem são as duas artistas brasileiras que estavam em qualquer lugar para onde se olhava. A veterana Anitta deslanchou sua carreira internacional e pareceu lançar uma música  por semana, sempre num ritmo diferente e com um novo convidado especial. Um deles foi Pabllo Vittar, desconhecida em janeiro e agora tão famosa que já tem até seu "backlash".
A lista do Bem inclui duas teteias: o português Salvador Sobral, que venceu o Eurovision em abril e agora convalesce de um transplante do coração num hospital em Lisboa, e o franco-americano Timothée Chalamet, futuro indicado ao Oscar de melhor ator por "Me Chame pelo Seu Nome" e meu protegé secreto. Sem falar na igualmente fofa Carol Duarte, que encarnou a trans Ivana/Ivan em "A Força do Querer" e ainda ganhou pontos-bônus por não ter pudor de exibir sua namorada no Instagram. Ah, e como esquecer da Gretchen, agora que ela é reconhecida internacionalmente como a Rainha da Internet e da Porra Toda?
Por incrível que pareça, também tem políticos na turma do Bem. Como a ex-procuradora-geral da Venezuela Luísa Ortega Díaz, uma chavista que virou casaca, denunciou o regime e agora vive no exílio. Ou Sadiq Khan, o primeiro prefeito muçulmano de uma grande capital do Ocidente (Londres). Emmanuel Macron, meu favorito da atualidade, também foi incluído, depois de sovar a neofascista Marine Le Pen nas urnas. O novo presidente francês também leva pontos-bônus por causa de Brigitte, sua mulher, muito mais velha do que ele. Aqui no Brasil, ninguém esbanjou mais integridade que o ministro do TSE Herman Benjamin, tanto ao não esconder de ninguém que é gay como ao pedir a cassação da chapa Dilma-Temer. Só que aí ele esbarrou em...

...Gilmar Mendes, o libertador-geral da república, que está sofrendo por não poder fazer nada para soltar José Maria Marin, preso nos EUA. O juiz-laxante é o vilão número um da turma do Mal, que este ano não inclui as obviedades Donald Trump e Michel Temer - esses dois já são hors-concours.


O resto dos malvados não vai ganhar fotinha, só menção. Tem Carles Puigdemont, o premiê catalão que lançou sua terra numa crise inútil ao insistir na independência; Joesley Batista, o delator que delatou a si mesmo; os assediadores Harvey Weinstein, Kevin Spacey e José Mayer, caídos em merecida desgraça; todo o MDB, sem exceção (o partido se livrou do P, como se fosse este seu grande problema); e, last but not least, Xi Jinping, a figura de proa da ditadura chinesa e, pelo que parece,  o homem mais poderoso do mundo.

Epa, sobrou alguém. Sempre achei que ela tinha os dois pés plantados na turma do Bem, mas este ano ela derrapou. Teve a oportunidade de mudar o curso da história do Brasil com apenas um voto, e medrou. Sim, ela mesma, galera...

...entalada na coluna do meio, Covárden Lúcia!

LONA FURADA


Sou do tipo que adora musicais. No começo do ano, me indispus com a metade dos meus amigos que implicou com "La La Land". Mas não vou brigar com ninguém por causa de "O Rei do Show", o mais careta e capenga dos filmes musicais recentes. A história de P.T. Barnum, criador do circo moderno, já rendeu um espetáculo da Broadway, mas aqui ela foi lavada e enxaguada até quase se tornar um desenho da Disney (e olha que é uma produção da Fox, antes da compra). Barnum foi um tremendo picareta, explorador da miséria humana e capitalista selvagem numa época em que isso não era pecado. Leva a fama de ter cunhado a frase "nasce um otário a cada minuto" e a palavra "showbusiness", mas sempre se importou mais com o business do que com o show. Só que o Barnum encarnado por Hugh Jackman é um santo. Pai amantíssimo, esposo dedicado, empresário interessado em promover a diversidade e a inclusão... Tudo potoca, realçado pelas músicas ruinzinhas (as da cantora lírica são dignas de representar a Letônia no Eurovision) e pelas coreografias sub-Michael Jackson. "O Rei do Show" não é um filme chato. Não tem barriga, porque tudo acontece rápido demais - Barnum ganha e perde uma fortuna sem que suas filhas envelheçam um segundo. Mas é infantilizado, pouco ambicioso e extraordinariamente sem graça. Prefiro ver o circo pegar fogo.

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

OS PROGRAMAS DE 2017

Vou começar minha retrospectiva do ano pelo assunto em que mais me enfronhei nos últimos meses: a TV. Assinar a coluna Multitela não só me deu uma visão mais abrangente como me obrigou a ver ainda mais séries do que antes. Sim, você leu certo: em 2017 eu vi MAIS séries. E aposto que todo mundo também viu, não é?
Mas qual foi a melhor de todas? Difícil dizer. A minha favorita costuma ser a última cuja temporada eu terminei (sem falar nas dezenas de outras que ficaram pelo caminho). Vou tentar ser justo e elaborar uma lista com as 10 melhores séries dramáticas. Está em ordem alfabética, sem ordem de preferência - e mesmo assim deixei de fora minhas amadas "Game of Thrones" e "Better Call Saul". Por pouco também não incluí "Versailles", da qual vi duas temporadas.

The Affair (Netflix)
Carcereiros (Globo Play)
The Crown (Netflix)
Harlots (Fox Premium)
Merlí (Netflix)
Ozark (Netflix)
Sob Pressão (Globo)
This Is Us (Fox Premium)
Victoria (GNT Play)
Suburra (Netflix)

O curioso é que eu me considero um roteirista de comédia, mas vi menos séries cômicas do que dramáticas este ano. Aqui tenho uma preferida clara: "Vade Retro", que nem foi tão bem assim de crítica ou audiência, mas cativou meu coração. Minha lista também tem:

Catastrophe (GNT Play)
Club de Cuervos (Netflix)
Filhos da Pátria (Globo)
I Love Dick (Amazon)
Master of None (Netflix)
Silicon Valley (HBO)
Veep (HBO)
Will & Grace (NBC)

O ano também foi pródigo em minisséries. Todo mundo amou "Big Little Lies", e eu também. Mas, bicha velha que sou, meu prêmio vai mesmo para "Feud: Bette and Joan". E também...

13 Dias Longe do Sol (G. Play)
O Jardim de Bronze (HBO)
When We Rise (Sony)
The Young Pope (Fox Pr.)

Não dá para falar na melhor TV do ano sem citar dois talk shows. Um, mais sério que os demais, é "Conversa com Bial", que mostrou que o fim de noite pode ser interessante sem apelar para palhaçada. Inclusive porque, neste quesito, ninguém foi além de Tatá Werneck em seu "Lady Night". 2017 ainda teve boas séries documentais sobre Gal Costa (na HBO) e o Asdrúbal Trouxe o Trombone (no Viva), além de duas novelas que deram fôlego ao combalido gênero, ambas na Globo: "A Força do Querer", com seu rodízio de protagonistas, e "Novo Mundo", que reabilitou a imagem da gênia política que foi a princesa Leopoldina, finalmente não retratada como uma gorda palerma que merecia ser chifrada.

(Mais pitacos meus sobre a TV em 2017 podem ser lidos aqui, no Guia Gay São Paulo, que convidou umas  bibas para lacrar com chave de ouro o ano que finda)

O QUE É HOMOFOBIA?

Hoje em dia, basta dizer que algo é "coisa de preto" para não só ser considerado racista como também perder o emprego. Não precisa bater em nenhum negro. O racismo finalmente se cristalizou como algo terrível na mentalidade brasileira, muito graças à lei que o qualifica como crime inafiançável. Falta uma lei similar para a homofobia. Nem a definição do que ela seja é clara. Os fundamentalistas religiosos conseguiram difundir a noção de que só a violência física constitui homofobia, para proteger seu discurso de ódio. O resultado é que bolsominions como esse rapaz do Ceará se sentem à vontade para cuspir bobagens tipo "sou contra o financiamento das paradas gays com dinheiro público" e ainda assim ameaçar com processo quem disser que ele é homofóbico. Claro que é: basta ser contra a igualdade de direitos entre héteros, homos e trans para sê-lo. Achou ruim uma demonstração de afeto em público entre dois gays? Homofóbico. Tem amigos gays, mas defende que eles sejam "discretos"? Homofóbico. É contra o casamento entre homossexuais e a adoção de criancas por eles? Ho-mo-fó-bi-co. E não, isto não é questão de opinião: é preconceito e ignorância mesmo. Este tipo de argumentação, além de ser ofensivo, alimenta a violência propriamente dita contra gays, lésbicas, travestis e transexuais - haja vista o garoto de 16 anos que foi espancado até a morte pelo pai depois de sair do armário. E depois, quem aponta o dedo para a homofobia é que é processado? Êita paisinho de merda.

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

PERU INDIGESTO


"Para as 53 pessoas que viram "O Príncipe do Natal" todos os dias nos últimos dias: quem machucou vocês?". Este tuíte foi uma das campanhas publicitárias mais baratas e eficientes de todos os tempos. Num primeiro momento, a Netlfix foi criticada por tirar sarro de assinantes, mesmo sem revelar os nomes deles. Mas foi o que bastou para a plataforma chamar atenção para um filme péssimo, tão ruim que nem chega a ser engraçado. Além de tudo, "O Príncipe do Natal" é mal-feito. A trama pífia finge que revistas ainda têm bala para mandar uma jovem repórter para a Europa  só para cobrir uma coletiva de imprensa. O país ficticio de Aldóvia revela a preguiça dos roteiristas, pois rima com o Genóvia dos "Diários da Princesa". Ao chegar no "aeroporto internacional de Aldóvia" - juro, tiveram preguiça até de pensar num nome para a capital - a moça espera na fla do táxi e perde o seu para um misterioso barbudo que todo mundo sabe que é o príncipe. Corta para ela sentadinha numa van cheia de jornalistas - mas ela não queria um táxi? Mais tarde, já no palácio real, menos suntuoso que o castelinho de Itaipava, um mordomo a confunde com a nova tutora da princesinha deficiente, sem checar um único documento. Ah, já falei que em Aldóvia não só todo mundo fala inglês, como as canções de natal são as mesmíssimas que tocam nos Estados Unidos? "O Príncipe do Natal" é uma mistura vagabunda de "Cinderela", "A Noviça Rebelde" e quase qualquer filme jamais exibido pela "Sessão da Tarde". Está virando cult, e olha que eu me esforcei para rir. Não consegui passar da metade.

domingo, 24 de dezembro de 2017

DISNEY NAS ESTRELAS


Está acontecendo exatamente o que eu previ há dois anos: "Star Wars" vem perdendo a graça. A estratégia da Disney de lançar um filme por ano, fazendo ou não parte da cronologia "oficial", reduz não só o impacto como também a qualidade deles. Como se não bastasse, a fofura inerente à marca Disney, com apelos ao sentimentalismo mais rasteiro, também se imiscuiu na saga criada por George Lucas há muito tempo atrás, numa galáxia distante. "Os Último Jedi", vulgo capítulo oito, até se esforça em parecer transcedental, eliminando mais um personagem importante e levantando a bola para um grande segredo que será revelado no próximo episódio. As cenas de batalha entre espaçonaves parecem ser as mesmas de 40 anos atrás e a história desse império que é derrotado, cai, levanta, contra-ataca e é contra-atacado de novo já está andando em círculos. A única figura interessante do filme atual é Kylo Ren, muito por causa do carisma do feio-bonito Adam Driver. O resto tem cara de fanfic, reciclando elementos conhecidos (o cassino é uma versão gourmetizada da cantina do primeiro longa) e criando bichinhos como os porgs exclusivamente para virarem bonecos, sem acrescentar nenhum ingrediente mais ousado à receita. O resultado é uma bilheteria assombrosa, mas um índice de satisfação do público de apenas 53% nos Estados Unidos - um dado preocupante para o futuro da franquia. Assim como os filmes de super-herói, o excesso de "Star Wars" vai matar a galinha dos ovos de ouro. Mas, até lá, a Disney já vai ter comprado mais coisas. Tomara que compre o meu blog.

sábado, 23 de dezembro de 2017

BENVINGUT MERLÍ

Comecei a ver "Merlí" no carnaval, quando a série virou moda no círculo selecionado que eu frequento. Aí, lá pelo quarto episódio, meu marido achou que estava chato e voltou a desencavar vídeos sobre o Império Romano no YouTube. Precisei que ele viajasse por toda uma semana para terminar a primeira temporada, e agora me pergunto: por quê? Por que levei tanto tempo para ver Bruno e Pol finalmente se beijando, no capítulo nove? Além das cenas de viadagem com nois-magia*, a saga do professor de filosofia que come as mães de todos seus alunos problemáticos é extraordinariamente bem escrita e interpretada - e ainda por cima é falada em catalão. Ah, e a segunda temporada (das três que existem) estreia dia 29! E vem mais pegação por aí, como se pode ver no gif acima. Fica, Catalunha, vai ter bolo.

(*nois: garotos en català!)

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

ODIADORES ODIARÃO

Já recebi muita mensagem de ódio, tanto nas redes sociais como aqui neste blog. Fãs da Xuxa, devotos de Danilo Gentili, bolsominions, invejosos em geral: todos eles primeiro jogam pedras, depois reclamam que eu "não sei argumentar". Hoje me surgiu no Facebook um sujeito que se incomodou com a minha coluna no F5 sobre Pablo Vittar. Olha só aí ao lado como ele abriu o papo. Hesitei em responder, e aí resolvi levar o cara na piada. O coitado logo se desestabilizou. Me chamou de covarde e depois ficou com medo que eu divulgasse seu nome e sua foto. Vamos combinar que covarde é quem tem medo de assumir suas opiniões, néam? No mais, é impressionante como colou entre a direita ignorante o mito de que o governo esquerdopata financia tudo, do Bolsa Família à arte degenerada à revolução gayzista que irá perseguir os héteros de bem. Meu hater de hoje nem sabia que eu era gay, e me bloqueou com o rabinho entre as pernas. Essas criaturas acham que a gente vai chorar no banheiro por causa deles, quando é tão fácil ignorar o que vem de um anônimo cagão. Queria só ver eles passarem por tudo que qualquer gay passou.

LÁ VAMOS NÓS DE NOVO

Quer se sentir velho? Em 2018 fará 10 anos que "Mamma Mia!" estreou nos cinemas. Para marcar a efeméride, vem aí uma continuação com as músicas do ABBA que ficaram de fora do primeiro filme. Também vai ter pouca Meryl Streep. Repare como ela é o último nome do elenco no trailer acima: consta que sua presença no set durou apenas uma semana. Será que sua personagem morreu? Talvez, porque boa parte do roteiro parece focar em sua versão jovem, feita pela inglesa Lily James. Em compensação, agora há uma avó - ninguém menos do que Cher, o que todas as bibas do planeta já sabem a essa altura. Mas nossa santa padroeira surge no trailer interagindo com a neta, Amanda Seyfried. Desde quando Cher tem idade para ser mãe de Meryl? Se bem que, com tantas plásticas em cima, a diva pode muito bem já estar com 300 anos de idade. E o que importa mesmo é que ela canta a faixa mais cafona da carreira do Abba, "Fernando".

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

PERU NÃO QUER PPK

O que está acontecendo no Peru é parecidíssimo com o que aconteceu no Brasil: quando um presidente não tem o apoio do Congresso, não tem mais nada. Não podemos nos esquecer disso no ano que vem, porque não adianta eleger presidente de esquerda e deputado de direita, ou vice-versa. Pedro Pablo Kucsinzky elegeu-se por uma margem mínima de votos no ano passado, sem levar uma bancada legistlativa junto. Deu no que deu. Bastou a suspeita de uma suspeita para PPK ficar por um fio, na mão de seus inimigos fujimoristas. O que me consola é que Keiko Fujimori, sua rival em 2016, também está enrolada na Lava Jato - o que talvez abra caminho para seu irmão Kenji. Assusta como os herdeiros de um ditador populista ainda são populares, mesmo com o Peru tendo crescido sem parar na última década. E alegra pensar que o país não tem um Gilmar Mendes para livrar a cara dos poderosos: um ex-presidente está preso e o outro está foragido nos EUA (sem falar no próprio Fujimori). Ou seja, não é só comida que o Peru tem de bom.

VAI, MALANDRO

Impressionante como um mandado de prisão envelhece uma pessoa. Até a semana passada, Paulo Maluf estava todo pimpão, saltitando pelo Congresso como se nada. Bastou ser despachado para a cadeira pelo ministro Edson Fachin para que seus 86 anos - idade "avançadíssima" segundo seu advogado Kakay, o defensor de nove entre dez corruptos brasileiros - despencassem sobre suas costas todos de uma vez, obrigando-o a buscar apoio em uma bengala e nos braços de policiais. Tadinho do velhinho! Surrupiou dinheiro público que poderia ter ido para a construção de hospitais e agora quer pagar de dodói. É bastante provável que Gilmar Mendes invente uma desculpa para soltar Maluf, apesar deste já ter sido condenado em ultimíssima instância num processo que se arrasta há mais de 20 anos. Mas já é algum consolo ver o decano dos malandros brasileiros passar pelo menos um Natal no xilindró, além de saber que seu nome permanecerá envolto na infâmia para todo o sempre.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

PAIXÃO INFAME

Quando eu soube que uma filial do supermercado Hirota no bairro paulistano da Mooca estava distribuindo uma cartilha homofóbica aos clientes, achei que se tratasse de uma iniciativa isolada. Coisa de algum gerente evanjegue, que pegou os folhetos em sua igreja e acha que está difundindo a Palavra. Afinal, é difícil acreditar que uma grande empresa espalhe intolerância em 2017.

Só que a tal da cartilha partiu da própria direção do Hirota, como se pode ver ao lado. Há um "Comitê Gente de Valor" e um "Eixo Cultural Hirota", o que inviabiliza totalmente a desculpa de que "em momento algum tivemos a intenção de polemizar, ofender ou discriminar qualquer forma de amor". Claro que tiveram, só não previram que ia ter consequências. Ou então, que sejam coerentes e recusem o dinheiro dos gays, esses infames. Isso também dá processo, mas o que é o vil metal diante de valores como fé, família, escola e trabalho? Fora que mercado brasileiro ter "Food" no nome é de uma cafonice ímpar.

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

FAKE LE BOOM BOOM

Desde ontem que as internets brasileiras estão em chamas por causa de "Vai, Malandra", o novo clipe da Anitta. Além da música ser lacradora e da cantora retornar a seu habitat natural no Rio de Janeiro, muito da combustão se deve ao primeiro take do vídeo, que mostra a bunda de Anitta em glorioso close, esbanjando celulite ("sou gostosa" em braille, segundo o Leo Jaime). Ou não? Já está circulando o boato de que o bumbum em questão não é o dela, e sim o de uma dublê. Anitta seria malhada demais e operada demais para ostentar furinhos nas nádegas. Mesmo assim, não perdeu a oportunidade de se empoderar ainda mais, assumindo que, como 110% das mulheres da Terra, também tem celulite.
Eu acho que realmente não importa se a bunda é dela ou deixa de ser. Anitta vem se revelando não só uma competente artista pop, como também uma boa manager de si mesma. Sua mensagem de inclusão, que põe gordas, Downs, travestis e periguetes para dançar, nunca foi tão necessária nesse Brasil medieval. E daí se, na real, Anitta não tiver celulite? Pegadinha da malandra!

GLORIA IN EXCELSIS

Não me lembro direito de como foi que eu conheci o Celso Dossi. Naquela época, eram muitos os jecas recém-chegados do interiorrr que vinham me pedir ajuda para penetrar na melhor sociedade. Uns garotos até bonitinhos, mas que falavam "perca total" e achavam a Christina Aguilera transada. O Celso logo se destacou da manada, por causa do humor ferino e da enxurrada de sugestões que ele mandava todo dia para este blog. No começo eu gostava, mas depois da 3.856a. eu sugeri a ele que parasse de me importunar e arranjasse vida própria seu próprio blog. Ele seguiu este e muitos outros conselhos. Clareou os dentes, livrou-se das tênias e parou de dar detalhe na night. Hoje o Celso não só tem um bilhão de seguidores a mais do que eu nas redes sociais como também uma coluna na revista Contigo!, a única que já vem com ponto de exclamação. A primeira delas está aberta aos simples mortais; depois, quem quiser ler vai ter que morrer em dérreau nas bancas ou assinar a versão online. Desejo ao Celso toda a sorte que o zodíaco é capaz de derramar e também que ele se lembre dos humildes coadjuvantes que o ajudaram a alcançar o estrelato.

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

SUÍÇABDESENVOLVIDA


Por incrível que pareça, a civilizadíssima Suíça foi o último país ocidental a garantir o direito a voto às mulheres. Elas não podiam votar lá até 1971 - e, no avançado cantão de Appenzell Inerhoden, até 1991. Essa situação bizarra é o pano de fundo de "Mulheres Divinas", que se passa em uma pequena cidade alpina às vésperas do referendo que poderá implantar o sufrágio universal - e onde só votam os homens, ora ora ora. As mulheres do título brasileiro (o título original se traduz como "A Ordem Divina") não escapam muito dos clichês: tem a dona-de-casa sofrida, a idosa libertária, a forasteira atrevida e uma protagonista capaz de personificar as dúivdas de todas. Juntas elas descobrem que tem poder e fazem uma greve à la "Lisístrata", deixando os maridos literalmente na mão. Essa comédia simpática foi a escolhida pela Suíça para disputar uma indicação ao próximo Oscar. Ficou fora da lista dos nove pré-classificados divulgada semana passada, mas não faria feio se estivesse lá. Feio mesmo é esse pessoal que achava, tão pouco tempo atrás, que mulher não deve se meter em política.

CHILEVILIZADO

É difícil imaginar que aconteça no Brasil, nas eleições do ano que vem, o mesmo que se passou ontem e hoje no Chile. Primeiro o candidato derrotado Alejandro Guillier cumprimentou publicamente seu rival Senastián Piñera pela vitória, lado a lado e com as esposas a tiracolo. Depois a atual presidente Michele Bachelet telefonou para Piñera e marcou um "date" de café da manhã com seu sucessor, entre risinhos e afagos. É verdade que já houve uma transição civilizada no Brasil, quando FHC passou o poder a Lula em 2003. Mas o ambiente carregado em que vivemos me faz duvidar que tenhamos troca de gentilezas em 2018, seja lá quem for o eleito. De qualquer forma, o Chile é um país com problemas muito menores do que os nossos. Existe até mesmo a previsão de que será o primeiro país latino-americano a entrar para o clube dos desenvolvidos, no começo da próxima década. Eu torci para Guillier, mas sei que a reeleição de Piñera, com uma folga de quase dez pontos,  não é nenhuma tragédia. Enquanto que, por aqui...

domingo, 17 de dezembro de 2017

CARA COROA


Não fui com a cara da Claire Foy quando a vi pela primeira vez, na minissérie "Wolf Hall". Minha antipatia gratuita continuou durante "Crossbones", talvez porque esta série sobre piratas fosse muito ruim. Abrandou um pouco com a primeira temporada de "The Crown", que estreou na Netflix no final do ano passado. Mas agora, quase terminando a segunda, tenho que me render. Ela é uma atriz fenomenal, dessas que conseguem passar uma mistura de emoções complexas sem precisar abrir a boca. E a rainha Elizabeth II abre pouco a boca dessa vez: está sempre se contendo, censurando o que pensa, posando de majestosa enquanto se destroça por dentro. É um papel dificílimo, mas Foy está dando conta. A coroa pesa feito uma bigorna sobre a cabeça da ainda jovem monarca, que é obrigada a se vestir feito uma matrona de meia-idade antes dos quarenta anos e a sacrificar seus desejos pessoais em prol dos interesses de estado. Os episódios são em ordem cronológica, mas alguns contam histórias praticamente fechadas. Os melhores são os que falam do envolvimento do Duque de Windsor com os nazistas, das visitas de Jackie Kennedy ao palácio de Buckingham e do namoro e casamento da princesa Margaret com Tony Armstrong-Jones, o futuro lorde Snowdon. "The Crown" continua uma festa para os olhos: nem "Game of Thrones" tem locações ou cenários mais suntuosos. Mas está conseguindo ir além, mostrando o preço altíssimo de ser uma das mulheres mais ricas do mundo.

sábado, 16 de dezembro de 2017

CINEMACARON


Existem filmes que nos fazem refletir sobre o vazio da existência e repensar nossas escolhas. Também existem os que eu chamo de filmes-sobremesa: deliciosos mas sem nutrientes, e podem fazer mal se consumidos em excesso. Mas de vez em quando é bom adoçar os olhos com eles. Já está em pré-estreia um título que se encaixa perfeitamente nesta definição: o francês "Assim é a Vida", um macaron colorido em forma de longa-metragem. Os diretores Olivier Nakache e Eric Toledano já foram mais densos no megahit "Os Intocáveis" e escancaradamente tristes em "Samba", mas aqui eles só querem se (nos) divertir. O personagem principal é um traiteur, um organizador de eventos cuja vasta experiência não o preparou para uma luxuosa festa de casamento onde quase tudo dá errado. Não se trata de uma comédia romântica: os noivos estão em segundo plano, e os funcionários do bufê são os protagonistas. Como sói acontecer, o trailer é mais engraçado do que o filme em si, que também é um teco longo demais. Mas, como reza um antigo provébio parisiense, muito macaron é sempre melhor do que pouco.

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

COM O BINGO DE FORA

Da lista de nove semifinalistas ao Oscar de filme em língua estrangeira, três estiveram no festival de Berlim (inclusive o vencedor) e outros três estiveram no festival de Cannes (inclusive o vencedor). Entre os demais, a única surpresa absoluta foi o sul-africano "A Ferida", que foi exibido em uma única sessão no último Mix Brasil, que eu consegui perder. Supresa talvez ainda maior teria sido a inlcusão de "Bingo - o Rei das Manhãs" nessa shortlist. O longa que representou o Brasil é bom e foi dirigido por um indicado ao Oscar (Daniel Rezende, pela montagem de "Cidade de Deus"), mas não rodou o mundo antes de ser escolhido para a disputa. Pelas regras novas da Academia, alguma exposição internacional teria ajudado bastante. Fica a dica para o ano que vem.

A CARA DA FOFURA


"Extraordinário" é o filme mais fofo do ano. Também chega perto de ser o mais enjoadinho, o mais açucarado, o mais piegas. Só não é por causa das interpretações das crianças, que resistem bravamente ao sentimento fácil. Eu já conhecia o talento de Jacob Tremblay, revelado no filme "O Quarto de Jack". Seu personagem, um garoto que tem uma grave deformidade facial, é lindamente secundado por outro ator-mirim que eu nunca tinha visto, o inglês Noah Juppe (e que vai ser um homão da porra quando crescer). Todo o resto do elenco é coadjuvante, inclusive Julia Roberts e Owen Wilson, que fazem os pais do moleque. Sonia Braga, então, aparece em uma única cena, que dura menos de um minuto. Não faz mal. Com tanto amor e aceitação pingando de cada fotograma, "Extraordinário" parece destinado a se tornar um clássico do final de ano, desses que a Globo exibe durante o almoço do dia de Natal.

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

UM ROMBO NA REDE

Não existe neutralidade de rede em Portugal e Espanha. Antes que alguém diga que lá todo mundo vive bem, obrigado, cata aí como os provedores vendem pacotes de acesso a determinados sites. Parecem planos de TV paga, onde o consumidor tem que gastar cada vez mais para ter acesso ao conteúdo mais atraente. Isto agora também vai acontecer nos EUA, que estão sendo governados por um capitalista selvagem, empenhado em enriquecer ainda mais a si mesmo e a seus cupinchas. Tenho vontade de rir de seus eleitores mais broncos, que perderão seus planos de saúde, receberão menos serviços públicos porque os ricos vão ter menos impostos e agora terão que pagar mais para entrar no Facebook. Tem um lado bom: quem sabe assim as fake news circulam menos?

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

RÁDIO VOZES TE DÁ AAAASAS

No dia 1o. de setembro, participei da gravação do programa "Vozes com Asas", da rádio online Vozes. O tema era a imagem do homem brasileiro e meus colegas de debate foram a cineasta Flávia Moraes, o publicitário Ian Black e o coach/yogi Renato Stefani, sob o comando de Patricia Palumbo. O programa só foi divulgado no sábado passado e pode ser ouvido no site da Rádio Vozes. Coragem, é só meia horinha.

TUDO FORA DO LUGAR

Conheço a fama de escroto do juiz Roy Moore desde que ele ergueu um monumento aos Dez Mandamentos no saguão da Assembleia Legislativa do estado do Alabama, num flagrante conflito com a separação entre Igreja e Estado. O sujeito já tentou minimizar a escravidão e arriscou que os homossexuais mereceriam a pena de morte, "como está na Bíblia". Sua eleição ao Senado americano parecia favas contadas, até que surgiram várias denúncias de que ele teria abusado sexualmente de garotas adolescentes. A direita raivosa contra-atacou, fazendo com que uma militante levasse denúncias falsas ao jornal "The Washington Post", na torcida para desacreditar a imprensa e a maré contra Moore. Não deu certo. O juiz hipócrita perdeu para um democrata pró-escolha, que já botou membros do Ku Klux Klan na cadeia - um espanto para um estado que há 25 anos só elege republicanos, e onde Trump bateu Hillary no ano passado por mais de 30 pontos. Pois é, rapeize, tudo tem limite. Com a vitória democrata nas eleições do mês passado e mais nessa agora, os prognósticos para as "mid-term" do ano que vem não são nada bons para o maluco que ocupa a Casa Branca. Quem sabe assim a Terra finalmente volta a girar em seu eixo?

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

TUDO ESTÁ EM SEU LUGAR

Poucas figuras políticas do Brasil atual me causam mais engulhos do que o deputado federal Carlos Marun (PMDB-MS). Sem o menor medo de não ser reeleito, ele não pode ver um microfone pela frente que vai logo defendendo Eduardo Cunha, Michel Temer e toda a quadrilha que está no poder. Tanta fidelidade lhe rendeu uma promoção: vai assumir a coordenação política do governo a partir de quinta-feira, para comprar conquistar os votos pela reforma da Previdência. Ou seja, vai aparecer ainda mais na TV, o que talvez lhe garanta uma vitória por aclamação no ano que vem. Enquanto isto, já avisou que o ex-PGR Rodrigo Janot merece ser indiciado por ter "conspirado" para derrubar Temer. É de foder de dar risada: Rocha Loures é flagrado correndo pela rua com uma mala de dinheiro, Joesley Batista confirma que o dinheiro saiu dele em direção a Temer, e o indiciado é o Janot?? Como o próprio Marun cantou ao enterrar a segunda denúncia contra seu chefe, nas imortais palavras de Benito Di Paula: "tudo está em seu lugar, graças a Deus, graças a Deus..." Só que não, né? Só que nunca.

VOCÊ NÃO ESTÁ OUVINDO?

Pabllo Vittar virou uma presença tão avassaladora na mídia brasileira que eu até me esqueci que, antes delx, já existia Conchita Wurst. A "personagem" (é assim que elx se define) que venceu o festival Eurovision de 2014 andava meio sumidx, depois de adotar um vestuário mais masculino. Em seu novo clipe, elx reaparece não só usando uma roupa não-binária como cantando em alemão ao lado de uma racha. Pena que esse cover de um hit austríaco não seja lá dos mais épicos.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

CAÍA A TARDE FEITO UM VIADUTO

Nem as mulheres dos presidentes militares foram tão invisíveis quanto Marisa Letícia (algumas delas, aliás, gostavam de mandar a maior brasa). A falecida esposa de Lula não cumpriu sequer as funções tradicionais de uma primeira-dama brasileira, como se envolver em obras de caridade ou liderar alguma campanha em prol de alguma causa, qualquer causa. Por isto, acho totalmente descabido que um viaduto em São Paulo receba o nome dela. E não digo isto por não ser petista, pois reclamaria da mesma coisa se a mulher inexpressiva de um político, qualquer político, fosse homenageada desse jeito por seus correligionários. Qual foi a grande façanha de Marisa Letícia? Evitou que o Lula desse algum vexame? Não, não estou desrespeitando ninguém. Que ela descanse em paz. Mas virar nome de logradouro é para quem de fato merece.

NÃO HÁ DINHEIRO NO MUNDO

Kevin Spacey deve estar se debatendo na tumba onde foi enterrado vivo. Christopher Plummer, que o substituiu no filme "All the Money World", recebeu agora há pouco uma indicação ao Globo de Ouro de melhor ator coadjuvante de cinema. O mais curioso é que Plummer rodou suas cenas há menos de um mês, quando o longa de Ridley Scott já estáva finalizado e pronto para entrar em cartaz. O diretor aproveitou o escândalo em torno de Spacey para tirá-lo do filme e colocar em seu lugar o nome que ele preferia desde o início, Plummer. Além disso, "All the Money in the World" também foi indicado a dois outros Globos de Ouro, melhor atriz para Michelle Williams e melhor diretor para o próprio Ridley Scott. Foi a única grande surpresa durante o anúncio desta manhã, pois o filme não aparecia entre as apostas dos sites especializados. Sem ter visto nada, desconfio que a Associação da Imprensa Estrangeira de Hollywood tenha se deixado levar pela ousadia de Scott. E também aproveitou para soltar um apoio indireto às vítimas de assédio sexual. Pois é: nem todo o dinheiro do mundo conseguirá salvar Kevin Spacey.