quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

MEUS FILMES DE 2016

Taí um lugar onde o ano não me caiu tão mal: o cinema. Tanto que a minha lista dos dez melhores filmes do ano tem 11, em seis línguas diferentes, e eu não consigo me decidir de qual deles gostei mais. A maioria desses títulos já está disponível no Now, ou ainda nem saiu de cartaz. Só um deles estreia oficialmente no Brasil no começo de janeiro: o coreano "A Criada", que eu vi na Mostra de SP. Sem mais delongas, lá vai minha dezena de 11, sem ordem de preferência nem alfabética:

ÚLTIMOS DIAS NO DESERTO - Sim, mais um filme sobre Jesus Cristo, o personagem mais arroz-de-festa de toda a história do cinema. E, seguindo a moda atual nas cinebiografias, o diretor Rodrigo García - filho de Gabriel García Márquez - foca num único momento da trajetória do Messias: o final do período de 40 dias em que Ele permaneceu no deserto, sendo tentado o tempo todo pelo demônio. Uma das boas sacadas do roteiro é colocar Ewan McGregor fazendo os dois papéis. A outra é mostrar um Cristo completamente humano, capaz de milagres apenas em sonhos, e ainda assim totalmente imbuído pela graça divina. Me deu até vontade de rezar.
O QUARTO DE JACK - Este filme canadense de baixo orçamento foi o favorito do público no Festival de Toronto de 2015, e acabou sendo indicado para uma penca de Oscars (a desconhecida veterana Brie Larson levou o de melhor atriz). Um assunto do momento - as mulheres mantidas em cárcere privado por anos a fio - recebe um excelente tratamento dramático, e o diretor Lenny Abrahamson consegue manter o suspense mesmo com a gente sabendo como termina a primeira parte. A segunda é mais complexa, e o todo forma uma metáfora instigante não só da relação entre mãe e filho, como também do medo atávico de enfrentar o mundo "lá fora".
A PASSAGEIRA - É raríssimo um filme peruano entrar em cartaz por aqui, e mais raro ainda entrar para a minha lista de melhores do ano. Pena que pouca gente se deu conta dessa obra-prima, que revolve várias camadas da história recente do nosso vizinho andino. A trama até poderia se passar no Brasil: um taxista reconhece numa passageira a menina índia que era mantida num quartel para o deleite de um coronel. O mesmo coronel para quem ele ainda trabalha nas horas vagas. Magaly Soler (de "A Teta Assustada", que venceu o Festival de Berlim e foi indicado ao Oscar em 2009) faz uma cena final de arrepiar os pelos das lhamas.
A CRIADA - Vi quando ainda não tinha título em português, mas o entusiasmo do público da Mostra fez com que o suntuoso "The Handmaiden" conseguisse distribuição no Brasil. Park Chan-Wook adapta um romance inglês para a Coreia dos anos 1930, quando o país era dominado pelos japoneses. A história folhetinesca é dividida em três partes, cada uma delas focada num dos três personagens principais: a criada, a patroa e o noivo desta. A cada novo ponto de vista, uma reviravolta. Cenários e figurinos deslumbrantes e cenas de sexo lésbico tão ousadas quanto as de "Azul é a Cor Mais Quente" fazem de "A Criada" uma versão pornô-oriental de "Downton Abbey".

JULIETA - Depois do semi-desastre que foi a comédia "Os Amantes Passageiros", três anos atrás, Almodóvar voltou sem um pingo de humor. "Julieta" reúne três contos da vencedora Alice Munro e quase foi filmado em inglês, com Meryl Streep no papel principal (ela seria rejuvenescida por computador nas cenas da personagem quando jovem). Mas o diretor, mais uma vez, hesitou em filmar fora da Espanha, e acabou realizando mais um melodrama tipicamente ibérico. A única atriz recorrente de sua filmografia que aparece aqui é a picassiana Rossy De Palma, que dá um show como a criada sombria que revela um segredo.
O CONTO DOS CONTOS - Esqueça Walt Disney. Os contos de fadas originais eram fartos de horror e sangue, e o italiano Matteo Garrone filma uma coleção deles com produção luxuosa e elenco multinacional. O resultado é quase um "Game of Thrones" para crianças, se as crianças pudessem lidar com violência e finais infelizes.
A CHEGADA - Outro tema batidíssimo que ganhou uma abordagem inovadora: naves alienígenas aterrissam no nosso planeta. Mas, apesar da ameaça de invasão, não se trata de um filme de ação. "A Chegada" recupera a tradição cabeça da ficção científica, diluída nos últimos anos por sabres de luz e batalhas espetaculares. Não chega à transcendência metafísica (e algo obscura) de "2001: Uma Odisseia no Espaço", mas faz uma pergunta que não deixa de ser pertinente: se soubéssemos o que vai acontecer, deixaríamos que acontecesse do mesmo jeito? Amy Adams, soberba, deve emplacar sua sexta indicação ao Oscar. Preste atenção: numa cena, o olho dela chega a tremer.
ELLE - Outra que vai ser lembrada pela Academia é a sublime Isabelle Huppert, que torna exclusivamente dela um papel para o qual foram cogitadas Nicole Kidman e Sharon Stone. O eterno ar de superioridade intelectual da francesa cai como uma luva no personagem da mulher que é estuprada, mas nem tanto. É a anti-vítima: uma sexagenária que se mantém sexualmente ativa e não deve satisfações a ninguém. "Elle" tem o potencial para irritar conservadores e feministas, e escapa das respostas fáceis com sutileza e humor refinado (algo que nunca foi o forte do diretor holandês Paul Verhoeven). O melhor de uma safra de bons filmes franceses.
AQUARIUS - E o melhor brasileiro  de todos, de longe, foi nosso polêmico concorrente em Cannes. Que nem por isto era perfeito: longo demais, cheio de cenas gratuitas e com buracos no roteiro maiores que arranha-céus. Mas tudo se redime com Sonia Braga, que nunca foi grande atriz mas aqui brilha como a estrela que ainda é. "Aquarius" teria sido um representante mais digno no Oscar, ainda que não desse pé.
SPOTLIGHT - Ah, que saudades do tempo em que os jornais podiam deslocar uma equipe inteira de seus melhores repórteres para trabalhar numa única investigação, cujos resultados podem mudar os rumos da história. Num ano em que as notícias falsas influenciaram até o resultado de eleições, chega a ser aflitivo pensar no esforço que custava a apuração de uma matéria para valer. "Spotlight" impediu que o belo-porém-inútil "O Regresso" levasse o Oscar de melhor filme, e o tempo provará que a Academia fez a escolha certa. É um filme eletrizante, cheio de atuações precisas. Também é um tapa na cara da Igreja Católica e um hino de amor ao bom jornalismo.

O NOVÍSSIMO TESTAMENTO - Outro tapa, esse na cara de praticamente todas as religiões, é o indicado pela Bélgica ao Oscar do ano passado (ficou entre os nove semifinalistas, mas não entre os cinco indicados). E se Deus fosse um sádico que se diverte atazanando a humanidade? Já pensou, que horror? ( * ironia * ) E se a família dele resolvesse sabotar os planos do Todo-Poderoso? "O Novíssimo Testamento" certamente teria atraído a ira dos neopentecostais, não estivessem todos eles comprando ingressos mas não indo ver "Os Dez Mandamentos". Quem mandou, né mesmo? Deus é que não foi.

41 comentários:

  1. gostei viu. vou ver estes filmes, obrigado pelas dicas.

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  2. Gentechiiii assistam esse filme chapado( de lsd) GOS IS NOT DEAD Os vilões do filme são um ateu psicopata, um muçulmano abusivo e uma vegana. O ateu morre no final e a mina dele fica com o menino que prova q deus existe e tudo termina num puta show gospel dos crentalhas e o mais loco é que o ateu é filho de Zeus.

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    1. solta spoiler aí- quando assistia tu tava fumando o que

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    2. depois ta pagando o dizimo e não sabe porque

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    3. sem lei rouanet= sem graça

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    4. eu achava q tinha q ter um carro loko ou uma juliet p roubar mina d uns troxa. Na vdd eh so prega a plvr

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    5. kkkkkkk te amo vamos morar juntos

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    6. GOS IS NOT DEAD claro q Deus n tá morto, ele só reencarnou na forma de Luís Inácio Lula da Silva
      Te amo Lula

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    7. miga, eu fui obrigado a assistir esse filme faz tempo por uma ex namorado. Não precisa ter dor de mim miga. Eu sei! Huehuejehe

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    8. Eu quase morri de rir sóbria, imagina chapada

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    9. ahahahah ansiosa já vamo marcar esse role fumar umas maconha e ver djdjfjacho q só assim mesmo p aguentar esse lixl

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    10. botaram esse filme quando eu tava bebado e eu acreditei que deus era real mesmo e ate vi jesus depois nao me lembro de nada

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  3. Novamente você mostra seu preconceito com filmes de ação e blockbuster, isso é uma coisa muito chata em vc, mas como seus fãs/leitores gostamos tanto de vc que perdoamos essa chatice, afinal vc é fofo.

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    1. Tony até comenta os blockbusters de ação. Mas não coloca na lista de melhores do ano. Isso não é preconceito. Ele vê, julga, e não gosta. Pronto.

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    2. Cara, nem todo mumdo é uma mula como vc. A lista não é tão boa mas seria pior com filme pra nova classe C.

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    3. Bichas anônimas propagando seu ódio a quem pensa diferente deles num posto desprovido de amor. Tony vc continua sendo um fofo mesmo com gente do mal frequentando seu blog.

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  4. tonyah tonyah excelente lista

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  5. Aquarius HAHAHAHAHAHAHAHAHAHA
    O filme da veia rica que vive nababesca alugando imoveis e fica indignadazista com o.progresso.
    Pelamordedeuzzzzzz que papinho mais brabo.

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    1. Aquarius filme é uma critica sutil sobre o medo da violência urbana e a criação de espaços segregados na cidade(condomínios) ,entre cercas, muros e alarmes , câmaras, que você chama de progresso e eu de subdesenvolvimento.

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    2. 07:52 ano que vem vai sair filme inspirado na biografia de Wesley Safadão com certeza tu vai gostar

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    3. 11h58, sua descrição tá muito mais pra O Som Ao Redor que pra Aquarius.

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  6. Impressão minha ou o Ewan McGregor é um ator que ainda não teve o reconhecimento que deveria? Por que cenas de sexo lésbico no cinema e na TV sempre são mais ousadas que às de sexo entre homens? Se Amy Adams for mesmo indicada ao Oscar, e por acaso não levar a estatueta, Glenn Close já pode se preparar para dar entrada em seu pedido de aposentadoria, porque Amy certamente irá ultrapassá-la em Oscars futuros e se tornará a atriz com mais indicações sem ter recebido um Oscar. Isabelle Huppert não está sendo muito indicada para premiações pré-Oscar, e vai seguindo o script convencional de outras atrizes veteranas que recentemente foram indicadas ao Oscar. Impressão minha ou a inclusão de "Aquarius" nesta lista foi bem forçada?

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    1. Vamos por partes:

      1) Concordo, é um escândalo Ewan McGregor nunca ter sido indicado para um Oscar sequer.

      2) Porque a imensa maioria dos diretores é homem e gosta de ver duas mulheres transando.

      3) Amy Adams provavelmente será indicada mais uma vez, mas acho que o Oscar vai para Emma Stone. E Glenn Close talvez seja indicada no ano que vem por "The Wife", o primeiro filme importante que ela protagoniza em muitos anos. É minha atriz favorita, vou fazer promessa por ela.

      4) Isabelle Huppert foi indicada ao Globo de Ouro, que é o 2o. prêmio mais importante depois do Oscar. A Sony Pictures Classics, que distribui "Elle" nos EUA, está fazendo campanha forte por ela. Nos dois últimos anos, a SPC emplacou duas atrizes estrangeiras na corrida pelo Oscar: Marion Cotillard e Charlotte Rampling. Nenhum havia sido indicada para nenhum outro prêmio, ao contrário da Huppert. Então estou bastante tranquilo quanto a esta indicação. Mas ela não vai ganhar...

      5) Não foi forçada não, gostei mesmo de "Aquarius". Não ameeeei, mas gostei. Também acho um filme importante, e gostei do debate que ele provocou no Brasil.

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    2. Nem falo tanto de indicação a Oscar para o Ewan, apesar de ser um parâmetro (infelizmente), me refiro principalmente a reconhecimento da crítica como um todo. Mas esses críticos nem merecem tanto crédito, vide que vez ou outra "endeusam" os medíocres e menosprezam os bons. Sobre o sexo lésbico, isso que você apontou é um aspecto, mas há outro igualmente importante, é que sexo entre homens ofende muito mais do que o praticado entre mulheres, tanto para os produtores quanto para o público, além de que aparentemente (tenho quase certeza) atores são mais resistentes a filmar cenas quentes com outros homens. Se a Emma Stone vencer ela estará dentro do perfil da maioria das vencedoras que a Academia vem premiando desde os anos 2000 na categoria de "Melhor Atriz em um Papel Principal". E sobre a Isabelle, obrigado por lembrar, porque esqueci da indicação dela ao Globo. Quando disse que ela estava seguindo os mesmos passos de outras atrizes veteranas indicadas nos últimos anos ao Oscar me referia exatamente ao fato de que essas últimas atrizes, praticamente, não haviam sido indicadas em outras premiações pré-Oscar de maior peso. E me referia entre essas atrizes a Charlotte e Emmanuelle Riva. A Academia nos últimos está gostando de surpreender nas categorias de atuação, lembrando de pessoas que não haviam sido indicadas em outros prêmios. E ultimamente vem reservando uma indicação a atrizes veteranas não-americanas. Por tudo isso creio que a Isabelle será indicada, mas como você disse, não irá vencer, o que seria mais um crime, como o que foi cometido com Emmanuelle Riva.

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    3. Kleber Mendonça não é para o espectador médio

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    4. Aquarius Filme não é cinema pernambucano e não é pra paulista burro e nem carioca burro .
      Temer diz que seu 'sonho' é ser reconhecido como 'o maior presidente nordestino':Ess a bosta é paulista e depois de se enfiar no cu dos da Avenida Paulista e dos cariocas a ele quer se enfiar no cu dos nordestinos. Cai fora capeta e segue enfiando no cu dos paulistas e cariocas

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    5. No comentário 12:33 Desculpem teve um erro de digitação meu e o certo é " Aquarius filme é cinema Pernambucano e não é pra paulista burro e nem carioca burro .

      Temer diz que seu 'sonho' é ser reconhecido como 'o maior presidente nordestino':Ess a bosta é paulista e depois de se enfiar no cu dos da Avenida Paulista e dos cariocas a ele quer se enfiar no cu dos nordestinos. Cai fora capeta e segue enfiando no cu dos paulistas e cariocas " .

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  7. Existe um costume da crítica brasileira em considerar filmes da temporada passada americana como os melhores da temporada atual no Brasil. Spotlight foi um filme da temporada de 2015 nos EUA. Foi lançado no Brasil no começo de 2016. Ainda acho que o jornalismo cultural deveria considerar nas listas de melhores do ano os filmes lançados no Brasil de março a março o que coincidiria com a safra anual janeiro a janeiro americana. Qual o sentido de jogar Spotlight na lista dos melhores de 2016 se todo o buzz sobre o filme aconteceu em 2015/2016?
    Outro ponto é o filme Julieta do Almodovar. Vc é a única pessoa que gostou do filme. Em alguns locais ele foi até vaiado. As críticas a ele em Cannes foram péssimas.

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    1. Não sei se você reparou, mas o título do post é "Meus Filmes de 2016". Não são os seus, não são os da crítica, não são os da humanidade. São os meus.

      Vai tomar no cu (no mau sentido).

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    2. Tony, você merece um prêmio por aguentar tanta gente babaca que comenta por aqui.

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    3. Tony, sua lista tá muito crítico artsy. Eu vejo vc mais como um comentarista da cena cinematográfica do que um crítico de cinema em si.

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    4. Se ele só quisesse gente legal e que concorda com ele, deveria ter uma fan page no facebook e só convidar amigos, ficar mandando dar cu é zuuuuuuuuper pitibicha.

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    5. Mas é exatamente isto o que sou: o pitibicha artsy.

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  8. Fui assitor o do deserto por conta de sua indicação, mas francamente detestei. Vida que segue.

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    1. Veio aqui reclamar da recomendação mas não teve coragem de pedir o preço do ingresso né? Bixa covarde kkkkkkkk

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  9. Tony, você viu a liar da Vogue americana? http://www.vogue.com/13511917/best-movies-of-2016-year-in-review/

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    1. Muito interessante a lista da Vogue. Aposto que tem filme lá que estará na minha lista de 2017.

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  10. Você nāo viu o cubano "Viva"? Excepcional!!!

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    1. Vi sim. Gostei, mas não entrou pros meus Top 10.

      http://www.tonygoes.com.br/2016/12/tem-que-peitar.html

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