segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

FOCASSAUROS, ATIVAR

Hoje saiu o "TCC" do Treinamento Sênior da Folha de S.Paulo, do qual eu tive a sorte de fazer parte. É um enorme pacote sobre os influenciadores digitais (vulgo youtubers), o fenômeno que está devorando o mundo tal como o conhecíamos. Na versão impressa do jornal, estamos na capa da Ilustrada e em duas páginas e meia no interior do caderno. Na versão online há muito mais material, inclusive vídeos e uma entrevista que eu fiz com a vlogueira Niina Secrets. Apesar de eu ter entrado para o grupo como ouvinte, na prática trabalhei como todos os outros. Fiz muitos outros textos, que acabaram não vendo a luz do dia. Jornalismo para valer é assim: as matérias caem, por falta de espaço ou por furos tomados. Como o que eu levei do próprio jornal - já tinha tudo engatilhado para entrevistar a Kéfera no set de seu terceiro filme, quando a Mônica Bergamo passou na minha frente.

A turma de trainees, todos com mais de 40 anos, era excepcional. Pudera: foram 10 pessoas selecionadas entre mais de 1.500 inscritos, la crème de la crème de la crème. Cinco mulheres e cinco homens; cinco de São Paulo e cinco de outras cidades. Advogados, médicos, professores, publicitários e até jornalistas de formação que enveredaram por outros caminhos. A eles se juntaram um diretor comercial da própria Folha e euzinho, que já colaboro com o jornal há sete anos. Formamos um grupo bem diverso em idades e profissões, mas unido pela vontade de saber como funciona um jornal. E chamamos a nós mesmos de "focassauros", mistura de foca (repórter inexperiente) com dinossauro. O apelido pegou tanto que agora até a própria Folha se refere a nós desse jeito.

Mesmo com tanto treino, me faltam palavras para descrever o que foi esse curso, sob o comando das ex-ombudsmans Vera Guimarães Martins e Suzana Singer. Tivemos longos encontros com nomes como Elio Gaspari, Clóvis Rossi, Mario Cesar Carvalho, Patricia Campos Mello, Sérgio Dávila, Daniela Pinheiro e o próprio Otávio Frias Filho, o publisher da Folha. Pudemos perguntar o que quisemos e ouvimos histórias incríveis, que aconteceram há décadas ou que ainda nem podem ser publicadas. Visitamos o parque gráfico do jornal, uma experiência impressionante, e discutimos muito o futuro do papel. E ainda tivemos muitas aulas de português com a implacável Thaís Nicoleti, que passou a surgir na minha cabeça toda vez que estou escrevendo, só para me deixar travado (rs).

Agora estamos dispersos, mas ainda ligados à Folha. Alguns de nós já estão se tornando "stringers", correspondentes informais do jornal em suas cidades. Outros estão colaborando ativamente para os mais diversos cadernos. Eu continuo no F5, oxalá com mais rigor jornalístico nas minhas colunas. Porque agora eu vi de perto a barra que é produzir um jornal diário. A correria, a luta pelo furo, a batalha pela confirmação das notícias. Tudo tem que ser checado e rechecado, e a tempo do fechamento. Num momento em que as notícias falsas estão mudando o rumo da história, tornou-se ainda mais clara para mim a necessidade do jornalismo profissional. Hoje fico ainda mais puto quando alguém reclama da "mídia golpista" nas redes sociais, ao mesmo tempo em que compartilha links de sites para lá de obscuros e/ou tendenciosos. Jornalismo bem feito é difícil e custa caro. Se ninguém quiser pagar por ele, elegeremos cada vez mais Trumps e similares.

ATUALIZAÇÃO: a própria Folha reproduziu o texto acima na página "Novo em Folha", do Programa de Treinamento, em sua versão online. Que honra!

20 comentários:

  1. Tá explicado pq o Tony fica nervosinho quando se fala mal da Falha de SP por aqui.

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    1. Fico nervosinho há pelo menos sete anos, quando comecei a colaborar com a Folha. Ou há 27, quando virei assinante. Acho a Folha o melhor jornal do país.

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  2. Eu já sabia disso,porque vi fotos e relatos teu nas suas redes sociais, rsrsrsrs. Não é stalker, apenas estava vendo, só isso, nada de mais.

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  3. O pessoal que fala "mídia golpista" são os mesmos que apoiam ditaduras e regimes travestidos de democracia ao redor do mundo. Vou dá logo nome, os petistas e seus congêneres de esquerda. Esse pessoal adora falar que a mídia é "imparcial" e outras baboseiras. Mas sindicatos, veículos de comunicação ditos como alternativos e movimentos sociais, podem ter lado. Porque para os petistas quem apoia o PT, ótimo, quem não, eles chamam de "golpistas". Sindicato deveria representar trabalhadores, não partido político. Então petistas não venham chamar os outros de "golpistas" e de "imparciais", porque golpe quem vive dando por aí são vocês. 1, 2, 3 para petistas começarem a chorar e se borrar nas calças.

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    1. Querido, existe crítica da Folha além da acefalia petista. A Folha é um jornal medíocre. Claro que ser um jornal fraco não é exclusividade da Folha no Brasil. O Estadão mesmo é uma tristeza. O Globo é simplesmente intragável. Mas o fato de a concorrência ser tão ruim não faz da Folha automaticamente bom. Avaliada por seus próprios méritos, a Folha ainda tem qualidade bem baixa.

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    2. Ao anônimo das 11:28: acho que você quis dizer "parcial", não "imparcial".

      O fato é que não existe mídia totalmente imparcial. Isso é delírio de gente ingênua. Até a Folha tem suas posições: é a favor da livre iniciativa, a favor do casamento gay, contra a pena de morte e assim por diante.

      O grande diferencial da Folha é a PLURALIDADE. Nenhum outro jornal brasileiro abre suas páginas para tantas opiniões diferentes. Na Folha, opostos como Guilherme Boulos e Kim Kataguiri têm colunas. Já no Estadão, por exemplo, todo mundo meio que segue a mesma linha de pensamento.

      Ao anônimo das 12:21: a própria Folha é a maior algoz de si mesma. Eu fiquei espantado com a quantidade de controles e críticas internas. O maior problema atual é a falta de gente, mesmo: os cortes têm sido tão frequentes que há cada vez menos profissionais na redação.

      O jornalismo impresso todo está em crise, e numa encruzilhada. Ainda não dá para terminar com a versão em papel, porque há leitores que fazem questão e, principalmente, anunciantes - que não migraram para o online.

      Se acabasse o papel, a economia seria brutal, e esse dinheiro poderia ser investido em pessoal mais qualificado. Mas ainda estamos longe desse dia.

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    3. Sou assinante da Folha, Estadão e O Globo e concordo com o que vc escreveu Tony. São 3 ótimos jornais, mas em termos de pluralidade a autocrítica, a Folha se destaca.

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  4. A Folha é mara, pena ser petista, aí fica ridicula. Vide a pesquisa hoje botando Luläo como preferido, é patética a tentativa de melhorar a imagem dele.

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  5. Vc não gostaria de ser um James Cimino que mora em L.A. e faz matérias bobas sobre entretenimento pra Globo News e pro UOL enquanto xinga todo mundo no FB que não acha que foi golpe?

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  6. ahazo tonyah! e mais eu mandava esta turba de comentaristas desagradáveis ir tomar na eqüidistância geográfica do cu dela - parabéns e que 2017 lhe traga as melhores pautas!

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  7. Vou comecar a acreditar que a Folha e o Estadao sao jornais serios no dia em que pararem de publicar o horoscopo do dia.

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  8. Então, meu sonho de me tornar jornalista aos 34 anos ainda é possível... rs
    Por enquanto, vou continuar exercendo a advocacia mesmo rs, e eu adoraria ver o Tony trabalhando em uma publicação brasileira com a pegada da Out Magazine.

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  9. O mio babbino caro
    Parabéns, e quem ganha somos nós.

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