"O Nascimento de uma Nação" concorreu em Sundance na mesma semana em que saíram as indicações ao Oscar deste ano. Todos os 20 atores finalistas ao prêmio da Academia eram brancos, e o escândalo que se seguiu ajudou o filme de Nate Parker a vencer o festival de Utah. Foi o favorito do júri e do voto popular, e ainda abiscoitou um contrato de distribuição no valor de 20 milhões de dólares, um recorde. Também despontou como fortíssimo candidato ao próximo Oscar. Então, em agosto, a revista "Variety" revelou que o diretor havia se envolvido num caso de estupro na faculdade, na década de 1990. Foi absolvido, mas a moça se matou em 2012. O caso ganhou tintas irônicas, porque um dos estopins da revolta dos escravos de "O Nascimento de uma Nação" é justamente a violação da mulher do protagonista por um grupo de capitães-do-mato. A carreira do filme foi prejudicada nos EUA, e já não se fala dele como um dos pilares da temporada de premiações. Esse imbróglio todo revive uma pergunta recorrente: devemos julgar uma obra pela retidão moral de seu autor? Quando eu era mais jovem, o pintor Iberê Camargo matou um desconhecido numa briga de trânsito. Por causa disso, eu nunca mais consegui apreciar seus quadros. O caso de "O Nascimento de uma Nação" é ainda mais complexo. Nunca saberemos exatamente o que se passou entre Nate Parker, um amigo (este sim, condenado pela Justiça) e a vítima. E atire a primeira pedra quem nunca cometeu uma cagada colossal. Foi com espírito de isenção que tentei assistir à primeira exibição pública do filme no Brasil, dentro da Mostra de SP. A primeira impressão é avassaladora: como que a humanidade aceitou a escravidão por tanto tempo? E até tão pouco tempo? Eu nasci menos de 100 anos depois da abolição. Tremo em pensar que meus tataravós conviviam com (e, provavelmente, tinham) escravos. "O Nascimento de uma Nação" tem um óbvio parentesco com "12 Anos de Escravidão", também realizado por um diretor negro (o britânico Steve McQueen). A diferença é que aquele filme, oscarizado três anos atrás, tinha um final feliz para seu protagonista (não é spoiler: dê uma olhada no poster acima). A história real de Nat Turner, o escravo alfabetizado pela patroa bondosa (para o padrão da época) e que se torna um pregador do Evangelho - utilizado pelos senhores para pacificar os revoltosos - é muito bem construída pelo roteiro, que mostra passo a passo como aquele cooptado acabou se rebelando contra o sistema. Mesmo assim, há uma certa mão pesada da direção em certos momentos, contrabalançados por algumas soluções brilhantes. Numa ano em que a polarização política se espalhou como um vírus pelo mundo afora, "O Nascimento de uma Nação" é um filme importante, até obrigatório. Porque não acho que o ser humano tenha melhorado tanto assim desde o século 19. Às vezes sinto que basta uma escorregada, e voltaremos aos tempos da chibata.
Esta mesma dúvida existe em relação às obras deixadas por Adolf Hitler. O cara era um excelente pintor e deixou um acervo considerável. Estas obras estão guardadas e a pergunta é sempre a mesma: o que fazer? Destruir? Mas são obras de arte que contam de alguma forma um pouco da história e revela um pouco de seu autor. Expor? Como apreciar algo feito por um monstro que foi responsável pela morte de milhões de pessoas?
ResponderExcluirAs obras continuam guardadas para que as futuras gerações decidam o que fazer com elas.
Ele não era excelente
ExcluirEra medíocre
Tanto que não foi aceito na Bauhaus e anos depois, como ditador, fechou "A" escola
E nesse caso mesmo se fosse brilhante não sou a favor de exibirem pelo q ele representa
Me pergunto essa questão há alguns meses
Gandhi e Madre Teresa, Woody Allen e Roman Polanski, Picasso e Dalí
Egon Schiele, um dos meus preferidos, seria considerado pedófilo hj
É bem esquerda querer decidir o que as pessoas podem ou não ver, né? A esquerda deduz sempre que todos são incapazes e precisam que decidam por eles. Exibam, expliquem o contexto histórico e deixem cada um formar sua opinião.
ExcluirPor essa lógica, vocês cotistas que não eram aceitos nas universidades melhorzinhas do país são medríoces também. Que bom que você concorda!
ExcluirTudo haver 21:28, tudo haver
ExcluirAff
"Tudo haver". Olha o português cotista rs.
ExcluirHitler hoje pintaria postais pra vender em algum mercado cheio de turistas. Não era nada excelente.
ExcluirE ele, ultra-direita que ele só, também promoveu uma limpa nas artes "degeneradas" e proibiu qualquer movimento modernista. Só o classicismo era considerado arte.
Ou meu bem em que pais tu vive pra dizer que a escravidão no Brasil acabou?
ResponderExcluir1-Fazenda de tio de Aécio já foi flagrada com trabalho análogo à escravidão. Fiscalização do MTE resgatou 80 deles nas fazendas Santa Isabel e Santo Antônio. A notícia, à época, não ganhou as manchetes dos jornais.
2-O pecuarista Antônio Ramos Caiado Filho, tio do deputado federal Ronaldo Caiado (DEM-GO), está entre os 91 incluídos pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) na atualização semestral da relação de empregadores flagrados com trabalho escravo
3-O deputado federal Beto Mansur (PRB-SP) foi condenado pelo Tribunal Superior do Trabalho a pagar R$ 200 mil reais por dano moral coletivo devido à exploração de trabalho escravo e infantil em sua fazenda localizada no município de Bonópolis (GO), chamada “Fazenda Triângulo”. A condenação foi divulgada nesta quinta-feira, 3, pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST).
4- e tem milhoes de casos mais por ai.....
Incluindo as empregadas de Dona Marisa Letícia.
ExcluirSem falar nas serventuárias que Dilminha taxava os cabides...
ExcluirJandira responde por vários processos trabalhistas. Mas como ela lacra, não consta na sua listinha.
ExcluirStrange fruit é uma das músicas mais lindas e tristes de se ouvir.
ResponderExcluirSer humano continua sendo a mesma criatura asquerosa que sempre foi. Olha, a linha é tênue, mas vamos separar vida privada e trabalho profissional, melhor, se não fizermos isso não dá para trabalhar. Julgar alguém por sua obra e esquecendo sua vida privada e/ou até mesmo pública não significa que concordemos com os atos praticados por esse alguém. Apenas se faz o exercício de separar para podermos julgar uma obra apenas por ela mesma.
ResponderExcluirAdorei a nova definição de crime: cagada colossal.
ResponderExcluirCompetindo em patifaria com crítico de arte acima que acha Hitler ótimo pintor, quando todo mundo sabe que foi um artista wannabe medíocre.
"Todo mundo sabe" = eu acho e, monopolista da virtude, decido.
ExcluirUé, Dilma definia os crimes de seus comparsas como "malfeitos". Qual o problema com "cagada colossal"? Vc conhece o processo? Presenciou a situação? Sabe exatamente o que rolou?
ExcluirO mio babbino caro
ResponderExcluirAssistir a um filme deste, coincidentemente a seu lado, me leva a crer que ainda há muito a decodificar. O debate que se seguiu foi muito bom. Uma grande obra diz por si.
Acho muita hipocrisia (e até mesmo um tanto de racismo) o que estão fazendo com o filme. Lembrando que Roman Polanski passou por um caso de estupro de uma menor, fugiu dos EUA e, mesmo assim, acabou sendo vencedor por O Pìanista. O rapaz foi inocentado mas pelo visto nunca será perdoado. será que fariam o mesmo se ele fosse branco?
ResponderExcluirEle é judeu.
ExcluirEsclarecimento irrelevante diante de tema tão forte, mas como o fato impressionou você, Tony, lá vai: se Iberê Camargo tivesse matado o rapaz em briga de trânsito até poderia ser compreensível, pois dirigir alucina as pessoas. Mas Iberê estava na entrada de uma loja, em Botafogo, observando a vitrine [eram tempos pré-violência urbana maior e nem se tratava de calçada pública]. O rapaz - desenhista de uma firma de engenharia vizinha, casado e pai de filhos - estava em horário de almoço e entrou na loja. Iberê se assustou com sua presença e lhe sapecou os tiros. Nunca mais eu consegui curtir os quadros desse neurótico.
ResponderExcluirUau, é até pior do que eu lembrava.
Excluirnão só nossos tataravós TINHAM escravos. Provavelmente alguns da maioria dos tararavós de brasileiros ERAM escravos
ResponderExcluirAs vezes esquecemos que todas aqui são bichas que sobreviveram, portanto ninguém tá de chapéu atolado.
ExcluirAe você vai dar um google para ver a cara da polêmica, e descobre que é um negão lindo!
ResponderExcluirNa torcida para:
1) Que ele realmente não seja um criminoso estuprador.
2) Que ele realmente seja um cineasta talentoso.
1) O cara já foi absolvido a tanto tempo.
ResponderExcluir2) O filme confirma isso.