sexta-feira, 30 de setembro de 2016

BORBA MAIS GATO

Atenção, cariocas que irão à praia amanhã: vai ter arrastão. Como sempre tem em toda véspera de eleição. Hoje, aqui em São Paulo, o Monumento às Bandeiras e a folclórica estátua do Borba Gato amanheceram pichados. E isto depois da pichação ter sido um dos temas do debate de ontem, dããã. Não duvido nada que algum dos candidatos desesperado para chegar em segundo lugar no primeiro turno tenha patrocinado essa molecagem, para prejudicar a ascensão do Haddad. Esse ato de vandalismo ainda gerou um artigo do Sakamoto digno de ter sido assinado pela Zamibinnha: se seguíssemos o raciocínio dele (com o qual muitas vezes eu concordo), então deveríamos derrubar as pirâmides - afinal, os egípcios tinham escravos. Mas há um lado positivo: o Borba colorido ficou melhor!

REVELAÇÃO GENTIL

Achei digna, tranquila e corajosa a atitude da Fernanda Gentil, que assumiu estar namorando uma mulher. Entre os famosos brasileiros, só o caso de Daniel Mercury é comparável. E Fernanda nem artista é, é jornalista, e profissionais como ela não costumam compartilhar suas vidas pessoais. Mas os tempos são outros, a redes sociais viraram ferramentas indispensáveis na manutenção das carreiras e boa parte do público já encara o assunto com maturidade. Outra parte, ruim em outro sentido, está zurrando na internet e desafiando nossa fé no cerumaninho. Polêmicas à parte, a revelação de Fernanda me faz pensar: será mesmo verdade que todas as mulheres são bissexuais? Este caso e o de Elizabeth Gilbert parecem confirmar.

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

CANETA ABACAXI MAÇÃ CANETA

Hoje não tem textão. Eu podia estar falando do não-massacre do Carandiru, eu podia estar reclamando do não-governo Temer, mas estou aqui, compartilhando com vocês o vídeo sensação do momento. "Pen Pineapple Apple Pen", do comediante japonês Piko Taro, está sendo saudada como a nova "Gangnam Style", que é exatamente do que o mundo precisa num momento de crise aguda.
Um pouquinho mais elaborada é "Hotter than Hott" do Selector Dub Narcotic, o novo projeto de Calvin Johnson, sujeito manjado na cena indie americana. Mas só um pouquiMARILENE, NÃO SE METE!nho, que pra mim já tá óóóteeemo.

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

FORA, LULA! FICA, HADDAD?

Nunca imaginei que fosse escrever isto, mas lá vai: estou pensando seriamente em votar em Fernando Haddad no próximo domingo. Depois de muito ler, ponderar, conversar com amigos e brigar no Facebook, estou chegando à conclusão de que o atual prefeito de São Paulo é o nome indicado para continuar no cargo. Dois artigos, em especial, abalaram as minhas convicções contra ele. Um deles é "Três Motivos Antipetistas para Gostar de Fernando Haddad", de Pedro Menezes, que explica como as políticas do alcaide se afastam da gastança irresponsável que se tornou a marca de seu partido. O outro é "Haddad Revoluciona os Usos da Cidade", de Guilherme Wisnik, publicado na Folha de hoje. Haddad renegociou (e baixou) a dívida da cidade, varreu as máfias da Prefeitura e melhorou muito a mobilidade urbana. Outro dia precisei fazer um longo trajeto na hora do rush, e fiquei besta de ver como o trânsito fluía bem.

Só que há um elefante na sala, que é o PT. O partido que Lula construiu, praticamente uma quadrilha montada para saquear o Estado. Haddad, ao que tudo indica, é um homem probo, mas votar nele não é dar apoio ao Lula? Óbvio que a vitória de seu pupilo daria um fôlego extra ao ex-presidente, e justo na hora em que ele mais precisa. Já o Brasil precisa mesmo é que Lula saia de cena, e sabe o que mais? O PT também precisa disso. Seu líder tornou-se um ônus pesadíssimo, e hoje deve afugentar mais votos do que atrai. Lula precisaria ter a grandeza de entender que seu tempo já passou. O melhor que teria a fazer seria se recolher e dar uns palpites de vez em quando, como faz FHC.

Sem Lula o PT não teria a menor chance nas eleições de 2018, mas e daí? Numa democracia de verdade, nenhum partido se mantém eternamente na Presidência. Um tempo fora do poder serviria para o PT se reciclar, e não há nome melhor para comandar este processo do que Haddad. Com sua honestidade e sua capacidade comprovadas, o atual prefeito é perfeito para ser a nova cara do partido. No entanto, para isto acontecer, ele precisa ser reeleito. Já comentei isto antes.

Um segundo turno em São Paulo entre Doria e Russomano me apavora. Eu pensei que votaria em qualquer um para evitar que o candidato da IURD chegasse ao poder, mas a ascensão do double coxinha deluxe royale me dá engulhos. Não nego minha simpatia histórica pelo PSDB, mas João Doria está longe de ser um tucano de raiz. E quanto mais eu leio sobre sua trajetória, sua carreira como traficante de influência, suas ideias absurdas para a cidade, mais eu me recuso a votar nele. Estava preparado para tapar o nariz e votar na Marta, que é do asqueroso PMDB, mas a ex-prefeita vem perdendo fôlego nessa reta final. Enquanto isso, Haddad subiu um tiquinho e embolou o meio de campo ainda mais. Depois de flertar com Erundina e até como o simpaticíssimo Ricardo Young, da Rede, cheguei a pensar no voto útil em Marta Suplicy, e agora me vejo fazendo o mesmo com Fernando Haddad. Mas quero ele, não Lula. E então?

NUNCA DEIXEM DE USAR O FILTRO SOLAR


O personagem de Gérard Depardieu em "O Vale do Amor" também se chama Gérard, é um astro do cinema e perdeu um filho. É incrível a coragem do ator de se expor dessa maneira, mas talvez o filme tenha funcionado como uma catarse. Ele e Isabelle Huppert fazem um casal, já separado há muitos anos, que se reúne no Vale da Morte, na Califórnia, depois do suicídio do filho que tiveram juntos. Ambos receberam cartas do rapaz avisando que ele reapareceria ali, de alguma maneira, ao longo de sete dias de calor infernal. A trama não é mais do que isto, mas é um veículo e tanto para dois enormes atores exercitarem seus talentos. Ele está ótimo, mas quem me arrebatou mesmo foi ela, que rompe sua imagem de frieza controlada em pelo menos duas cenas memoráveis. Como era de se esperar de um filme sobre duas pessoas conversando no deserto, "Vale do Amor" tem seus momentos chatos. Mas é um presentão para quem gosta do cinema francês, e ainda me suscitou uma angústia: qual o FPS que a branquíssima e sardenta Isabelle precisou usar?

terça-feira, 27 de setembro de 2016

JÁ TOMOU SEU TODD HOJE?

Mais de dois meses atrás, eu falei aqui no blog que iria fazer posts sobre os candidatos LGBT que me parecessem mais interessantes. Às vésperas da eleição, quantos eu fiz? Hein? Só um, o original, sobre meu amigo João Junior 40000, que concorre pelo PSB no Rio e está cotadíssimo para se eleger. Hoje tomei vergonha na cara e resolvi pesquisar os candidatos gays de São Paulo. Achei a Léo Aquilla, que compete pela enésima vez, bem intencionada mas muito inconsistente. Dentre as novidades há o negro gay de direita Fernando Holiday, mas bastou seu vídeo mais famoso para me convencer de que o cara não serve. Felizmente, temos alguém bacanérrimo em quem votar: o psolista Todd Tomorrow, o nome de guerra de Bruno Maia. Quem me lê sabe que eu não sou de extrema esquerda e que discordo de muita coisa do PSOL, mas acho que o partido faz um excelente trabalho no Legislativo. Além disso, Todd é um cara arretado: já peitou Cunha, Maluf, Infeliciano, e acaba de sair vitorioso de um embate com Russomano, que o processou por divulgar as 30 razões para não votar no coroinha da Igreja Universal. Por essa e por outras, eu já sei em quem vou votar para vereador neste domingo. E convoco todas as bichas paulistanas que têm as cabeças no lugar a fazerem o mesmo: vamos de Todd Tomorrow 50505! Com o segundo turno em SP perigando ser entre o Doria e o Russomano, iremos precisar dele mais do que nunca na Câmara Municipal.

HONEY, HONEY, WHAT'S GOING ON?

Ontem as internets entraram em combustão espontânea com o anúncio de que "Will & Grace" estava de volta. Fotos do elenco com scripts na mão, no mesmo cenário de dez anos atrás, fizeram muita gente escalar as paredes - inclusive moi, é óbvio. Mas de volta, como, exatamente? Nova temporada no Netflix? Mesmo com a série tendo terminado com Will e Grace rompidos, só fazendo as pazes 20 anos depois? A verdade veio à tona logo depois do debate em que Hillary humilhou Trump (viram como ele saiu irritadinho?). "Will & Grace" ressuscitou por apenas dez minutos, para um mini-episódio urgindo os americanos a votar. O viés pró-Hillary é evidente, e eu só não estou mais decepcionado com a Karen votar no Trump porque ela fez coisa ainda pior, ao reaparecer magra demais e com o cabelo alaranjado. Mas o texto do esquete é ferino, as interpretacões são precisas e o resultado me lembrou por que eu ainda sou apaixonado pelo formato sitcom.

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

BOLIVARIANO NO BOM SENTIDO


Dos nove semifinalistas ao Oscar de filme estrangeiro do ano passado, sete entraram em cartaz no Brasil. Até mesmo o candidato da remota Geórgia, um país do qual muitos brasileiros nunca ouviram falar, passou nos nossos cinemas. Isto torna ainda mais escandaloso o fato do venezuelano "Libertador" só ter saído por aqui em DVD. Talvez os nossos exibidores tenham ficado com medo dessa cinebiografia de Simón Bolívar ser acusada de propaganda bolivariana, vai saber? Mas agora o filme ganha uma nova chance. Já está disponível no Netflix, e merece ser visto por quem gosta de história. Não que a vida do maior herói da independência das Américas esteja muito detalhada. Claro que em apenas duas horas cabem apenas "highlights", o que acaba proporcionando um épico sem barriga. O guapetón Édgar Ramírez estrela com autoridade e carisma, e o elenco conta com nomes internacionais como Danny Huston ou Iwan Rheon (o Ramsay Snow de "Game of Thrones"). "Libertador" é fundamental para quem quiser saber mais sobre os nossos vizinhos. Mas, independente disto, também é um filmão, com grandes cenas de batalha e uma produção de cair o queixo. E aí surge a pergunta inevitável: porque o Brasil produz tão poucos filmes históricos?

O PLANO CC

Já parou para pensar como a história do Brasil seria diferente se o Palocci fosse honesto? Ele talvez estivesse no exercício de seu segundo mandato como presidente da república, à frente de uma economia em expansão e com boas chances de fazer seu sucessor. O sonho do PT de se eternizar no poder continuaria de vento em popa, e as divisões que nos afligem nem existiriam. Mas não. O ex-ministro da Fazenda de Lula e ex-ministro da Casa Civil de Dilma desperdiçou todas as chances que teve de se tornar um dos grandes nomes da nossa história. Com excelente trânsito entre os agentes econômicos e promotor de uma política bastante racional - ao contrário da ex-presidenta - Palocci ainda contava com uma certa simpatia pessoal, um jeitinho interiorano, que escondia bem a cascavel que ele de fato é. Suas práticas escusas e sua voracidade pelo enriquecimento pessoal fizeram com que ele deixasse de ser o plano B de Lula (o A era Zé Dirceu), e abriram caminho para a desastrada "nova matriz" de Dilma, que nos afundou a todos. Agora parece que Palocci finalmente irá acertar contas com a Justiça. Azar dele, depois de ter provocado tanto azar nosso.

domingo, 25 de setembro de 2016

TOUT LE MONDE ET SON PÈRE


"Belas Famílias" é o tipo de filme que só poderia ter sido feito na França. A história é francesa até a medula: uma família burguesa tenta reaver alguns móveis de um castelo posto à venda, e nesse meio tempo surgem a amante do falecido pai, uma garota que pode ser sua filha bastarda e as revelações de alguns segredos do passado. Tudo sem grandes consequências, mas interpretado por alguns dos maiores nomes do cinema de lá. O diretor Jean-Paul Rappeneau volta à ativa depois de mais de uma década, com uma produção simplezinha que não se compara a trabalhos anteriores como "Cyrano de Bergerac" (que rendeu a única indicação ao Oscar de Gérard Depardieu). "Belas Famílias" é apenas uma comédia saborosa feito um dejeuner sur l'herbe regado a Pouilly Fumé, e seus efeitos passam ainda mais rápido.

sábado, 24 de setembro de 2016

DIVERSIDADE GLOBAL

Os pessoár adora dizer que a Globo é golpista e coisa e tal, mas a verdade incontornável é que a maior emissora do Brasil também é a que mais promove os direitos igualitários. Quase toda novela atual tem um ou mais personagens gays, e não são raras as reportagens sobre o universo LGBT. Ontem teve mais uma: o Globo Repórter falou de diversidade sexual, com um foco especial nas pessoas trans. Como o rapaz aí da foto ao lado, que nasceu Luara e agora é Luan. O programa pode ser visto na íntegra pelos assinantes da GloboPlay ou aos pedaços, aqui. Também pode ser visto no YouTube, aqui ou aqui, se você não se incomodar com tarjas de propaganda encolhendo a tela.

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

FORA MILO

Milo Yiannipoulos aprontou mais uma. O queridinho da alt-right, o nome prafrentex de um movimento descaradamente machista e racista, ganhou um perfil na Out, a mais importante revista gay dos Estados Unidos (e uma das poucas que ainda restam no mundo). Aí, adivinha o que aconteceu: centenas de pessoas, incluindo jornalistas da própria publicação, assinaram uma carta criticando a Out por ter dado um fora ao dar voz a esse escrotinho. Mais ou menos como quando o Infeliciano foi o primeiro entrevistado do blog Gays e Afins. A revista foi até acusada de glamurizar Yiannipoulos, ao fotografá-lo vestido de palhaço e drag queen. Com isto eu até concordo: uma figura asquerosa como ele não merece estrelar este tipo de ensaio. Mas não acho que ignorar o fenômeno seja uma boa maneira de eliminá-lo. Tá certo que o cara é um media whore e quer ter atenção para ter ainda mais atenção, num círculo vicioso e viciado (esta já é até a segunda vez que o cito aqui no blog: a primeira foi em julho). Mas Milo Yiannipoulos merece ser exposto pela fraude que é e pela fraqueza de suas ideias tortas. Como diz um amigo meu, ele não tem nível para ser gay.

DERRETENDO

A prisão no hospital foi uma cagada, mas duvido que a PF tenha feito de propósito. O que de fato interessa é que há evidências demais contra Guido Mantega. Se forem comprovadas, baubau, já era para o PT, pelo menos enquanto Lula estiver no comando. O mais doloroso é que a acusação faz sentido: o esquema de corrupção precisava mesmo de alguém no alto escalão do governo. Também é bom lembrar que Eike Batista foi depor na Lava-Jato de livre e espontânea vontade, para se proteger. Está em curso uma operação de derretimento de um projeto político, e não duvido nada que exista uma conspiração por trás dela. Mas, de novo, convém focar no esquema criminoso em si. Tudo indica que é verdadeiro e, portanto, merece desaparecer.

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

PENDEJADA MALPARIDA

Nunca pensei que fosse dizer isto, mas Wagner Moura está péssimo na segunda temporada de "Narcos". E não é só por causa do espanhol macarrônico, que parece ter piorado ainda mais. É sua interpretação monocórdica de Pablo Escobar o que de fato me incomodou. Com a boca eternamente curvada para baixo, dizendo todas as falas com a mesma entonação, ajustando as calças sem parar, Wagner compôs um vilão de desenho animado. Muito longe do Escobar da vida real, que era bonachão e simpático - o que o tornava ainda mais perigoso. Ele foi o ponto baixo dessa nova leva de episódios, que focou no último ano e meio de vida do traficante. O roteiro tomou inúmeras liberdades com os fatos históricos, e mal tocou nas vidas particulares dos dois agentes americanos do DEA, os únicos personagens que voltarão em 2017. Vai dar para assistir?

SE EU FOSSE CARIOCA


Rio e São Paulo não são cidades rivais: são dois países diferentes, com língua e cultura próprias. Falo isso com carteirinha, porque nasci em uma e moro no outra, e passei a vida inteira na Ponte Aérea. Essa picuinha histórica rende assunto para uma comédia, mas "Desculpe o Transtorno" não é esse filme. O roteiro faz tanta força para evitar os clichês sobre paulistas e cariocas que acaba ignorando os contrastes entre eles. E acaba passando a mensagem de que o Rio é, no fundo, superior a São Paulo, o que não é exatamente uma estratégia de marketing inteligente. Gregorio Duvivier faz um cara que, assim como eu, nasceu lá e veio cá morar. Ao contrário de mim, ele muda de personalidade quando pisa em sua terra natal, num passe de mágica semelhante ao de "Se Eu Fosse Você" (talvez não por acaso, também produzido por Daniel Filho). Ele está ótimo na caracterização dos dois lados do personagem, assim como suas colegas Clarice Falcão (que na vida real é recifense) e Dani Calabresa - esta chega a exagerar o sotaque paulistano, como se o tivesse pouco. Mas a partir de certo ponto o filme anda em círculos, embora nunca se torne maçante. Já o desfecho só irá agradar aos cariocas da gema, e aos que se comoveram com a crônica de Gregorio publicada pela Folha na semana passada.

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

GOSTEI TANTO QUANDO ME CONTARAM

Pelo segundo ano seguido, fui convidado a assistir da plateia à entrega do Prêmio Bibi Ferreira, que festeja os melhores do teatro musical. A cerimônia foi transmitida ao vivo pela internet, mas merecia ter sido exibida por algum canal de TV, ainda que a cabo. A produção está cada vez mais requintada, e assumidamente calcada nos similares americanos. Até um segmento "in memoriam", homenageando os talentos que se foram, foi incluído (e o público podia ser orientado para aplaudir só no final, para não virar um concurso de popularidade). Como das outras vezes, a hostess foi a super competente Alessandra Maestrini, e trechos dos cinco espetáculos indicados ao prêmio máximo foram reproduzidos na íntegra, com os elencos originais. Como também é costume, produções 100% nacionais concorriam com franquias importadas da Broadway. É justo? Não, se você pensar que estamos comparando réplicas do que já passou por lá com novas criações nossas; sim, se lembrarmos que o pessoal que trabalha nos musicais é uma grande e mesma turma. E o resultado final não foi nada controverso: "Gabriela" ganhou como melhor musical brasileiro, "Wicked" ganhou como melhor musical period. Mas o melhor momento da noite acabou sendo totalmente velha guarda: depois de reeber um justíssimo tributo, a fabulosa Suely Franco cantou, acapella e com todo seu talento de atriz, uma versão arrasadora de "Vingança", de Lupicínio Rodrigues (aquela do "eu gostei tanto, tanto quando me contaram..."). Se aparecer este vídeo, eu posto aqui.

VAI TER DEPOIS?

Está pintando que Lula não vai poder concorrer à presidência em 2018. E aí fica claríssimo o problema que ele e o PT criaram para si mesmos: não existe plano B. Não há um único nome no partido com cacife para encarar uma eleição a nível nacional. É mesmo de se admirar que, depois de 13 anos no poder e ainda com uma grande bancada no Congresso, os petistas não tenham sido capazes de produzir um quadro para suceder Lula. Um herdeiro possível poderia ter sido Eduardo Campos, mas ele militava no PSB. No páreo atual, talvez Fernando Haddad - SE as urnas paulistanas o consagrassem com uma reeleição, o que não parece que irá acontecer. O atual prefeito de SP descolou-se da imagem de "poste" e não está envolvido em escândalos, mas sua adminsitração - que de fato melhorou muito a mobilidade da cidade - é mal avaliada por boa parte da população, e muito por causa da aura de corrupção que colou no PT.  Dessa forma, o partido enfrenta o mesmo problema pelo qual passaram outras legendas centradas numa única figura, como o PSUV de Hugo Chávez: na ausência do chefe, o movimento entra em parafuso.

terça-feira, 20 de setembro de 2016

VOCÊ SÓ COLHEU O QUE VOCÊ PLANTOU


Brangelina não está mais entre nós. Claro que é irresistível pensar na reação da Jennifer Aniston à notícia que sacudiu o planeta nesta terça. Atire a primeira pedra quem nunca guardou rancor por mais de uma década, desejando todo santo dia que a pessoa odiada explodisse a cabeça em chamas enquanto tivesse o fígado devorado por minhocas venenosas ao som de "Morango do Nordeste".

(e tem mais sobre  Brad e Angelina na minha coluna de hoje no F5)

LAVANDO AS MÃOS

Quero crer que foi o fato do Brasil ter mudado o que melou a votação de ontem na Câmara que travaria uma parte da Lava-Jato. O projeto de lei que "tipifica" o crime de caixa dois surgiu do nada, foi inscrito por um fantasma na pauta do dia e não tem autoria comprovada até agora. Uma lavação de mãos coletiva, mas sabe-se que há os dedos do PSDB, do PT e do PP por trás da iniciativa. Não foi a primeira tentativa de salvar os alvos da operação, nem será a última. Pelo menos ficou claro que Bolinha França Rodrigo Maia não é flor que se cheire, ou alguém acha que o PL iria ao plenário sem a aprovação do presidente da casa? Aplausos aos (poucos) deputados que conseguiram coibir a mamata. E temos que continuar de olho, para mostrar a essa turma pré-digital que hoje em dia não é tão fácil roubar.

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

DESAFIANDO A GRAVIDADE


"Wicked" é um caso curioso entre os musicais modernos. Ao contrário de seus similares, é extremamente popular entre os adolescentes. Eles se identificam com a história da menina que nasceu verde, e que depois de anos de bullying acaba descobrindo que tem poderes mágicos. A plateia da versão brasileira do espetáculo estava cheia deles neste final de semana. Outra boa parte do público veio atraída pela presença de Miguel Falabella, que participou por apenas uma semana como o Mágico de Oz. Este tipo de golpe de marketing é comum na Broadway, e foi feito por aqui como exigência contratual. Só que a primeira entrada em cena de Falabella serviu como um spoiler gigantesco: quem conhece a peça saberá do que eu estou falando. Ainda bem que não conseguiu estragar o impacto dessa superprodução, a mais bem acabada e resolvida de todas as franquias americanas que chegaram ao Brasil. Tudo está igualzinho à matriz americana. Inclusive e principalmente as duas atrizes principais: Myra Ruiz e Fabi Bang esbanjam fabulosidade como Elphaba e Glinda, a bruxa má e a fada boa que não são assim tão óbvias como parecem. "Wicked" também funciona como um backstory de "O Meagico de Oz", explicando como surgiram o Homem de Lata, o Espantalho e o Leão. Só Dorothy não aparece, e não faz a menor falta.

CLAIRE VS. CERSEI

Saí de mãos abanando da entrega dos Emmys, ontem à noite. As duas atrizes por quem eu mais torcia perderam em suas respectivas categorias, apesar de serem apontadas como favoritas pelos sites especializados. Robin Wright, indicada pela quarta vez como a poderosa Claire Underwood de "House of Cards", foi derrotada por Tatiana Maslany, de "Orphan Black". Não dá para reclamar muito: Tatiana faz trocentos personagens na série, que no entanto já teve dias melhores. A derrota de Lena doeu mais. A Cersei Lannister de "Game of Thrones" foi destronada por Maggie Smith, que levou o prêmio de coadjuvante dramática pela terceira vez por "Downton Abbey" e nem se deu ao trabalho de aparecer, como sempre. Agora, o embate que realmente me interessa só vai acontecer na minha imaginação. Quem ganharia uma catfight entre essas duas rainhas louras de cabelo curtinho?

(Mais sobre a entrega dos Emmys aqui, na minha coluna de hoje no F5)

domingo, 18 de setembro de 2016

DIVINAMENTE HUMANO


Em 1988, "A Última Tentação de Cristo" provocou um escândalo em escala global. O filme de Martin Scorsese mostrava Jesus aceitando uma proposta do diabo enquanto agonizava na cruz. O demo o tirava dali, e ele assumia a vida de um homem comum: casava-se com Maria Madalena, ficava viúvo, depois se amigava com as irmãs Marta e Maria, e morria velhinho cercado por filhos e netos. O fato de toda essa sequência ser um delírio de Cristo, que no final acabava mesmo morrendo crucificado, não sossegou os censores (a maioria nem deve ter visto o filme). O infame prefeito Jânio Quadros, um dos maiores poços de hipocrisia que este país já viu, chegou a proibir "A Última Tentação..." nos cinemas de São Paulo. Quase 30 anos depois, um filme talvez ainda mais "blasfemo" (aspas, muitas aspas) está passando batido, e não só por aqui. "Últimos Dias no Deserto" foca naquele período em que Jesus saiu de Jerusalém para meditar e se encontrar com Deus; diz a Bíblia que ele foi diversas vezes tentado pelo demônio. Nesta obra corajosa de Rodrigo García, filho de Gabriel García Márquez, o capeta assume as feições de Ewan McGregor, que também interpreta o Jesus mais sexy de todos os tempos. É uma escolha ousada e perfeitamente aceitável: quem vai dizer que nosso pior tormento não somos nós mesmos? Mas a audácia não para por aí. Este Jesus não pratica milagres, e só levita em sonhos - aliás, seus sonhos são os mais óbvios possíveis: está se afogando, está sendo perseguido por lobos, está voando. Um Jesus tão humano que até ri quando alguém peida, e incapaz, como todo mundo, de entender as crueldades de Deus. Sua relação com o Pai está espelhada na de um pastor com seu filho, cheia de conflitos e amor. O roteiro também é de Rodrigo García, que já merece ser citado entre os grandes cineastas do nosso tempo. E a fotografia sublime é do lendário "Chivo", o fotógrafo mexicano Emmanuel Lubezki, que ganhou o Oscar três vezes seguidas nos últimos três anos. "Últimos Dias no Deserto" consegue ser um trabalho extremamente religioso, sem apelar para o sobrenatural em momento algum. É um filme seco, para se discutir, incômodo e belíssimo. Uma obra-prima.

sábado, 17 de setembro de 2016

YES I CAN

Acho que os brasileiros, depois de sediarmos tantos eventos internacionais, finalmente chegamos à madura conclusão de que eles não servem para promover nenhuma mudança radical. A Paraolimpíada, que termina amanhã, não vai melhorar a vida de todos os deficientes do país. Mas, independentemente da nossa posição no ranking de medalhas, ela deixa um saldo que vai muito além do positivo. Nunca se viu e se falou tanto dos deficientes, e com tanto respeito e admiração. Até os percalços dos Jogos serviram para desmistificá-los: as polêmicas em torno das corridas de cegos com guias, por exemplo, mostraram que eles têm defeitos morais como todo o resto da humanidade. A campanha do Channel Four, que transmite as provas com exclusividade para a Grã-Bretanha, realça a "super-humanidade" desses atletas. Minha amiga Mariliz Pereira Jorge fala hoje em sua coluna da Folha que esta atitude também não pode ser exagerada, ainda mais para garantir lágrimas e audiência. De qualquer forma, eu choro toda vez que vejo o promo acima. Agora temos que buscar estender a inclusão e a discussão o ano inteiro, sem condescendência. Sim, a gente pode.

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

A CANTORA-PROBLEMA


Passei boa parte desta semana tentando gostar do novo álbum da M.I.A., "Aim". Acontece que ela não só é basicamente uma rapper mediana que curte arranjos barulhentos como seu ativismo político soa meio de boutique. Claro que a moça iria embarcar na causa chique do momento, os refugiados que tentam entrar na Europa: o clipe de "Borders", dirigido por ela mesma, tem lá o seu impacto. Mas a faixa em si não é grande coisa, assim como quase todas as outras. Minha favorita por enquanto é "Freedun", mas posso mudar de ideia. M.I.A. já aprontou mais antes e foi até mais ousada esteticamente. Ela diz que este será seu último disco. Talvez seja melhor assim.

O CONTADOR DE HISTÓRIAS

Lula nunca frequentou meu curso de storytelling. Não carece: ele domina esta arte como poucos, e pode nos ensinar a todos. Ontem ele deu uma aula magna. Retomou sua narrativa clássica: o menino pobre que vendia laranja no cais do porto, o operário sem instrução que chegou ao posto mais alto da nação, o presidente que mais fez pelos pobres em toda a história do Brasil. Com direito a lágrimas e o uso recorrente da frase "não temos provas, mas temos convicção" - uma invencionice que convenceu até a mim, o patinho. Mas Lula também acabou se traindo: ao dizer que seus acusadores são analfabetos políticos e que não sabem o que é um governo de coalizão nem o que é preciso fazer para se conseguir maioria no Congresso, ele simplesmente admitiu que é, de fato, o comandante máximo da propinocracia. O resto é historinha para boi dormir.

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

MALVADO CHICO

Não é à toa que as embarcações que navegam pelo São Francisco levam carrancas na proa. Aquele rio deve ser mal-assombrado. Hoje os espectros cobraram um preço altíssimo: Domingos Montagner. O ator chegou tardiamente à televisão, há apenas seis anos, e estava no auge da carreira. Ele se encaixava perfeitamente no tipo de ator que a Globo tem mais dificuldade de encontrar - o galã de meia-idade, com talento, beleza e carisma suficientes para protagonizar uma novela. Morreu bobamente, a poucos dias de terminar mais um trabalho, e deixou o Brasil inteiro estupefato. Não falta uma coincidência macabra: Santo, seu personagem em "Velho Chico" ficou quase um mês desaparecido na trama, suspeito de ter sido tragado pelas águas. E como é que ninguém avisou que aquele trecho era perigoso? Já morreu muita gente bacana em 2016, a maioria bem antes da hora. Por que é que o Renan Calheiros não vai dar um mergulho?

POWER TO THE POINT

Senti-me ofendido pela zoeira que se seguiu à coletiva de Deltan Dallagnol na tarde de ontem. Desde quando que PowerPoint é coisa do passado? Tudo bem que eu já usei Keynote e Prezi, e amei. Mas foi no PPT que eu preparei todas as apresentações para os meus alunos (pois é, bitches, estou dando aula de Video Storytelling na Miami Ad School de São Paulo - não contei aqui porque eu não conto tuuudo aqui). O decano programa da Microsoft ainda dá um caldo. E combina com o jeitão de coroinha evangélico do nosso procurador, que de fato pode ter contribuído mais para a defesa de Lula do que qualquer um dos advogados do ex-presidente. A frase "Não tenho como provar, mas temos convicção" já entrou para a história. E para o meu repertório: eu penso igual.

ATUALIZAÇÃO: a frase "histórica" nunca foi dita, não da maneira como está sendo difundida. Eu mesmo fui vítima do storytelling dos partidários de Lula. O que não há é uma prova CABAL: a soma de todas os indícios, como num quebra-cabeças, aponta mesmo para um lado só. Como eu disse no post aí embaixo, alguém tinha alguma dúvida?

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

COMANDANTE MÁXIMO

Na boa: alguém tinha alguma dúvida? Não me venham dizer que eu não posso reclamar porque já furei a fila da padaria, nem que a corrupção existe no Brasil desde Pedro Álvares Cabral. Foco na pergunta: alguém, em sã consciência, tinha alguma dúvida? Depois de 111 visitas ao sítio de Atibaia, os nomes dos netos nos pedalinhos, "madame" tocando a reforma do apartamento no Guarujá, alguém tinha alguma dúvida? E ainda bem que o Eduardo Cunha já caiu e provavelmente será preso, senão iriam dizer que era perseguição seletiva. Na buena, alguém tinha alguma dúvida?

VIDA NOVA PARA OS MEUS CABELOS

Problematizaram o shampoo. Antigamente era muito mais fácil comprar: havia só três tipos, para cabelos secos, normais ou oleosos. E uma infinidade de aromas deliciosos, como aquele de maçã verde que anunciava a sua presença a metros de distância. Hoje em dia, a seção de cabelos da farmácia só tem produtos que mais parecem hospitalares. Para hidro-cauterização, selamento, controle de queda, hidratação profunda e restauração rejuvenescedora de fios quebradiços que foram submetidos à quimioterapia química. Aposto que alguns têm tarja preta e precisam de receita médica. Eu gostava mesmo era do Herbal Essence, que me fazia sair do banho me sentindo a Vênus de Boticcelli.

terça-feira, 13 de setembro de 2016

NENHUM SEGREDO

A polêmica em torno da escolha de "Pequeno Segredo" como o representante do Brasil no próximo Oscar não tem hora para acabar, e eu me enfiei no meio dela. Ontem minha coluna no F5 tratou do assunto; hoje saiu na Folha uma entrevista que eu fiz com o crítico Marcos Petrucelli, o pomo da discórdia entre os integrantes do comitê de seleção. Não é segredo que essa disputa reflete a atual divisão política do país. Agora é torcer para que a Academia goste do filme da família Schurmann, e que Sonia Braga seja indicada para melhor atriz por "Aquarius". Jamais voltaremos a ser um país só, mas isto apaziguaria os ânimos.

ANTES TARDE DO QUE CUNHA

Se Eduardo Cunha não tivesse sido cassado, não era só o Congresso que teria acabado. Era o governo Temer, as instituições, eu, você, o país inteiro. Bye byte Brasil! Mas nada como uma votação dessa acontecer em época de eleições. O plenário estava quase cheio, e o placar surpreendeu: 450 a 10, com nove abstenções. Cunha não só perdeu o mandato como ficará inelegível por um bom tempo, ao contrário da inconstitucionalidade que beneficiou Dilma Rousseff. Agora só falta ser preso. E contar o que sabe, é claro. Bye bye.

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

ZULU ANGEL

Já que meu blog continua com o famigerado "aviso sobre conteúdo", vou mais é relaxar e gozar. Atendendo a pedidos, lá vai o Pau-do Zulu. Esbofeteiem-se.

ÊTA ESQUADRÃO DE OURO


O Brasil era uma bagunça no começo dos anos 1980. O general Figueiredo, o último presidente milico, era muito impopular, e deixou a inflação explodir. Nada funcionava direito: a luz caía a toda hora, levava-se anos para comprar uma linha de telefone, não havia refrigerante diet. No meio desse caos, não chegou a ser surpresa o roubo da taça Jules Rimet,  que o Brasil conquistara para sempre depois de vencer três Copas. Além do desrespeito óbvio a uma das glórias da pátria, o crime foi cometido por ladrões pés-de-chinelo, e a vítima, a CBF, era ainda mais incompetente do que é hoje. Essa comédia da vida real finalmente rendeu uma comédia no cinema. "O Roubo da Taça" é um filme simpático e divertido, que ficcionaliza os fatos para um resultado bem acima da média. Paulo Tiefenthaler finalmente encontra um personagem à altura de seu hype, Taís Araújo assume sem pudores o papel de mulata gostosa e até o Mr. Catra, em sua primeira aparição como ator, está ótimo. Todos compententíssimos, num filme que celebra a nossa crônica incompetência.

domingo, 11 de setembro de 2016

QUINCEAÑERA

Hoje faz 15 anos que caíram as Torres Gêmeas. Vamos celebrar a data em ritmo de tecnocumbia com este clipe do equatoriano Delfín Quishpe, que já está há 10 anos  no YouTube e deve ter sido feito há mais? Melhor momento: os telefones para contratos para shows aparecem na tela enquanto as torres pegam fogo.

(kibado da timeline d'A Libanesa no Facebook)

sábado, 10 de setembro de 2016

EM QUEM NÃO VOU VOTAR

Não há nenhum candidato a prefeito em São Paulo em quem eu queira meeesmo votar. O mais palatável me parece ser Ricardo Young, da Rede, talvez por eu saber tão pouco sobre ele. Mas o cara tem 1% da preferência dos eleitores; estou bem cansado de votar em quem não tem chance. A opção então seria Luiza Erundina, uma pessoa íntegra e que fez um bom governo na cidade há mais de 20 anos. Além do mais, Erunda despontou como a candidata impoluta da esquerda - todos os meus amigos artistas vão votar nela. Só que, por causa de seus míseros 10 segundos no horário eleitoral, a psolista já passou de 10% para 7%, e periga cair ainda mais. Aí, sobrou quem? Haddad? Também admiro o atual prefeito e acho que ele fez muito pela mobilidade paulistana, apesar da falta de traquejo. Só que não dá para votar no PT - não enquanto Lula, o arquiteto-mor de todas as maracutaias em que o partido está envolvido, ainda estiver no comando. Anyway, duvido que Haddad passe para o segundo turno. Quando então votarei naquele que estiver concorrendo com o Russomano: Doria ou Marta, muito provavelmente. Mas, e se for Marta contra Doria, como já está pintando nas pesquisas? Gosto da Marta, mas o PMDB é o partido do demônio. Nem a pau. E eu já votei muito no PSDB, mas João Doria é coxinha demais até para mim. Vai ter que ser no par ou ímpar?

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

GAGA DON'T PREACH

Oops, ela fez de novo. Lady Gaga está sendo mais uma vez acusada de plagiar Madonna. Metade das internet tão dizendo que "Perfect Illusion" foi chupada de "Papa Don't Preach". Acho que é má vontade, porque eu realmente não escuto essa semelhança. Mas é claro que o 1o. single pop da Germanotta depois de quase três anos iria desapontar, mesmo com Mark Ronson (ex-Amy Winehouse) na produção. Estou mais curioso para ver o que ela aprontou com Giorgio Morder.

OS NOVOS DINAMARQUESES


O título é capcioso: "A Comunidade" é menos sobre um grupo de pessoas que resolve viver junto na Copenhague do começo dos anos 1970, e mais sobre o casal que empresta a casa para a empreitada. Cansada de conviver apenas com o marido professor, a esposa apresentadora de TV o convence a dividir o espaço de que dispõem com amigos, amigos dos amigos e até desconhecidos, feito os Novos Baianos. E aí, empolgado, ele se arrisca a ter um caso com uma aluna. O roteiro é meio autobiográfico: os pais de Thomas Vinterberg de fato fundaram uma comunidade. Mas o diretor não criou um personagem para si mesmo nessa comédia interessante, que vai ficando cada vez mais triste.

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

SOFRER, MORRER, CONTINUAR

Depois de levar um pé na bunda, a escritora americana Elizabeth Gilbert resolveu tirar um ano sabático. Passou três meses comendo na Itália, três meses rezando na Índia e três meses amando na Indonésia. Foi lá que ela conheceu o brasileiro radicado na Austrália José Nunes, e o resultado foi um dos maiores best-sellers da década passada. "Comer, Rezar, Amar" virou filme com Julia Roberts e o sonho de todo mundo que já precisou se reinventar. Só que a história não acabou ali. Há alguns meses, Elizabeth anunciou via Facebook que havia se separado do brasileiro ("Felipe", no livro e no filme). Ontem ela acrescentou um novo capítulo: o pivô da separação foi sua amiga Rayya Elias, que está com um câncer incurável. A proximidade da morte fez com que Elizabeth percebesse que estava mesmo apaixonada por Rayya, e agora vai ficar ao lado da amada pelo tempo que lhes restar. É lindo, é triste, e é também um lembrete de que a vida é uma supresa atrás da outra. Nela cabe muito mais coisa do que se pensa. E é óbvio que Elizabeth já deve estar escrevendo um livro a respeito.

CALOTE EM CRISTO

Uma dívida de um milhão e 800 mil reais é grande para uma pessoa física. Para um empresa, é bastante razoável - e quem é que vai dizer que a Associação Vitória em Cristo não é uma empresa? Por isto, me causa um certo espanto esse apelo desesperado do Malafaia, instando seus fiéis a contribuir para manter seu programa no ar pela Rede TV!. É uma estratégia de mídia curiosa, já que o mesmo programa também vai ao ar pela Band, que costuma ter mais audiência, mas vá lá. E porque não vendem um imóvel ou dois para saldar essa dívida? Vão dizer que não têm? Meu espanto só não é grande porque eu sei que a crise afeta o Brasil inteiro, inclusive os neopentecostais. Além do mais, faz tempo que eu digo que os evanjas - e principalmente o Malafa - gostam de projetar um poder muito maior do que de fato têm. Parece que o jogo virou, não é mesmo?

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

LOUCURINHAS


Uma das minhas maiores surpresas do cinema no ano passado foi "Capital Humano", que representou a Itália no Oscar de 2015. Achei que estava diante de um novo grande cineasta, e por isto corri para ver o novo filme de Paolo Virzì. Aí, é claro, não gostei tanto quanto eu esperava... Mas "Loucas de Alegria" não é ruim: só não é uma obra-prima do quilate de seu antecessor. A trama não é propriamente original. Duas internas de um manicômio judicial conseguem escapar: uma delas é uma mitômana que só quer se divertir, a outra, uma punk tatuada que tentou se matar e ao filho pequeno. O trailer promete uma comédia maluca e de fato há muitas cenas engraçadas. Mas também há drama, porque ficamos sabendo como cada uma delas enlouqueceu. A resolução é convencional e o melhor é mesmo a interpretação de Valeria Bruni-Tedeschi, a meia-irmã de Carla Bruni, destrambelhada na medida certa (isto é possível?).

terça-feira, 6 de setembro de 2016

O BOLSONARO DAS FILIPINAS

As Filipinas são uma espécie de sucursal da América Latina na Ásia. Colonizado pela Espanha, o país tem maioria católica, é bastante bagunçado e elegeu há poucos meses um populista totalmente despreparado para a presidência. Mas Rodrigo Duterte não tem nada de bolivariano: está mais para uma versão local de Donald Trump, ou do nosso tragicômico Bolsonazi. Duterte fez campanha prometendo guerra total às drogas; em menos de três meses de governo, mais de duas mil pessoas já foram mortas em confrontos com a polícia, numa oficialização dos esquadrões da morte. Mas, como todo bully, Duterte enfiou o rabo entre as pernas quando foi peitado por alguém mais forte. Xingou Obama de filho da puta, e o presidente americano cancelou a reunião que teriam durante uma conferência no Laos. Depois o valentão disse que se arrependeu e que não era nada pessoal, mas já causou um vexame daqueles para os filipinos. Viram o que acontece quando um brutamontes chega ao poder?

UM ÍNDIO DESCERÁ


Cumpriu-se a profecia de Caetano Veloso. Um índio desceu de uma estrela colorida, brilhante. Este índio chama-se Jaloo e na verdade já desceu há algum tempo. Eu mesmo cheguei a ouvir alguns trechos de seu álbum "#1" assim que este foi lançado no ano passado, mas não dei muita atenção. Voltei a ele por insistência de um amigo que sabe das coisas, e endoideci. O paraense Jaime Melo é quase tudo o que eu achava que andava em falta na MPB. Tem looks, tem atitude, tem viadagem, e tem principalmente o despudor de usar a eletrônica, que enfrenta mais resistências por aqui do que as guitarras nos tempos de Elis Regina. Junto com Mahmundi, Silva, Liniker, Johnny Hooker e mais uma meia dúzia de outros, Jaloo me dá a certeza de que a música brasileira não parou, nem se dissolveu na baixíssma qualidade dos medalhões atuais. O futuro virá, virá que eu vi.

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

EVA VIVA

Vivinha está vivinha da silva. Depois de nos dar um susto ao ficar internada alguns dias em março passado, ela está de volta com um tour de force em "O Que Terá Acontecido a Baby Jane?". A peça está em cartaz em São Paulo e é inspirada no filme clássico estrelado por Bette Davis e Joan Crawford, uma obra-prima do camp. Nicete Bruno faz a irmã supostamente boa, que vive presa a uma cadeira de rodas e é atormentada pela irmã supostamente má. Está ótima, é claro, e seu monólogo final é estarrecedor. Mas quem deita e rola é mesmo Eva Wilma, numa das maiores inteperpretações de sua longa carreira. Até mesmo as pequenas derrapadas na hora de lembrar as falas ajudam a compor o personagem, que é mesmo lelé da cuca. O espetáculo todo é um primor: em sua primeira incursão num não-musical, Charles Möeller e Claudio Botelho atingiram um patamar digno da Broadway. Tudo é bonito, bem-acabado e inconsútil. Luz, cenário, figurino, elenco de apoio (com destaque para Teca Pereira, que brilhou recentemente em "Justiça"), perfeitos. "O Que Terá Acontecido a Baby Jane?" pode não trazer nenhuma ousadia formal, mas é teatrão da maior qualidade. E ainda traz Eva Wilma cozinhando um rato, o que não é todo dia que a gente vê.

MAIS DE 40

Não, não fui à manifestação de ontem na Paulista. Já tinha outro compromisso no mesmo horário, acertado há dias. Além disso, minha paciência com o governo Temer ainda não se esgotou. Mas já tem data - é o próximo dia 12, quando a cassação de Eduardo Cunha será votada na Câmara. Se ele escapar, provavelmente pelo no show dos deputados, sairei com tochas e ancinhos na próxima passeata. Porque, na verdade, é tudo uma merda só: Temer, Dilma, Cunha, Aécio, Lula, Renan, são todos políticos à moda antiga, todos corruptos e/ou coniventes com a corrupção, mais preocupados em salvar os próprios rabos do que o Brasil. O novo presidente continua dando mostras de que é uma criatura do século passado, pré-digital, sem a sensibilidade que o momento requer. Pior ainda foi a atuação da PM, que atacou os manifestantes quando eles já estavam se dispersando. Sim, outra prova de que o governo Alckmin já devia ter sido varrido pelas urnas. Mas então, o que é que eu quero, Mário Alberto? It's complicated. Não adianta pedir diretas já para presidente, se não renovarmos também o Congresso. E menos ainda se esta eleição não for precedida por uma ampla reforma política. Mas com o PMDB no comando - o partido que mais se beneficiou das regras atuais - alguém acredita que isso vai acontecer? Os manifestantes foram bem mais de 40, e eu estou quase me juntando a eles.

domingo, 4 de setembro de 2016

AQUARIUS ELA VOLTA


Sonia Braga é quem faz de "Aquarius" um grande filme. É a sua presença carismática, sua beleza indestrutível, que transforma a protagonista numa personagem simpática. Qualquer outra atriz da mesma faixa etária não seguraria as pontas, pois Clara tem um certo egoísmo que poderia voltar a plateia contra ela. Mas Soninha, com sua cabeleira que deve consumir um caldeirão de Tablete Santonio para manter-se negra, encontra aqui o melhor papel de sua extensa carreira, e sai-se luminosamente bem. Não que "Aquarius" seja perfeito. O diretor Kleber Mendonça Filho está muito mais focado do que em seu longa de estreia, o superestimado "O Som ao Redor", mas ainda se perde em takes inúteis (porque dar um close num bebê trocando de fralda?). E mais uma vez a duração é excessiva: uma meia hora a menos faria bem ao filme. Para piorar, a resolução é dramática e politicamente simplória, quase que um deus ex-machina. Os empresários que querem comprar o prédio onde Clara vive há décadas são pintados como a encarnação do demônio, mas ela mesma é uma representante perfeita da esquerda-caviar que ataca o capitalismo mas não abre mão de seus privilégios. Na sessão quase lotada onde assisti, o público aplaudiu ao final, pois "Aquarius" é de fato um manifesto sob medida para quem grita "Fora, Temer".  Tem chances no Oscar? Eu diria que periga emplacar uma indicação, por causa de Sonia Braga. Já que Deus é brasileiro, ele bem que podia dar uma forcinha e fazê-la ser indicada como atriz.

sábado, 3 de setembro de 2016

VÁ EM...

Elsinho Mouco aprontou mais uma. Depois de criar um logo para o governo Temer a partir de uma bandeira do Brasil desatualizada, o novo marqueteiro do Planalto sai-se agora com essa campanha bisonha, tentando reverter o contágio do "primeiramente...". O conceito da nova peça cabe perfeitamente na tese do livro "Don't Think of an Elephant", um clássico da propaganda: basta pedir para alguém não pensar num elefante, que ele pensará. Ah, e o slogan é um convite à pichação. É só acrescentar o título deste post.

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

VELHICE BARBRA


Se você tem menos de 40 anos, vai caçar Pokémon, vai? Este post não é para você. Para quem continua aqui: Barbra Streisand! A über-diva acaba de lançar seu 35o. álbum de estúdio. E, como tem feito nos últimos anos, preparou mais uma coleção de duetos. Também não é novidade onde ela foi catar repertório: nos musicais da Broadway, o lugar onde primeiro alcançou a fama. A graça de "Encore" é que os parceiros de Barbra são mais conhecidos como atores, e não cantores. Além disso, muitas faixas incorporam diálogos, o que dá a elas um certo ar de teatro gravado. A melhor vem logo na abertura, onde Babs recria com Anne Hathaway (explodindo de grávida) e a novata Daisy Ridley uma cena de "A Chorus Line", "At the Ballet". Ouça aqui os quase oito minutos desse encontro épico. Depois, se seu grau de cacurice assim o permitir, prossiga com "Anything You Can Do", com Melissa McCarthy (na íntegra aqui). Aí já vai estar na hora de trocar sua fralda geriátrica.

UMA SÉRIE QUE PRENDE


Eu e Oscar assistimos ao primeiro episódio de "The Night Of" e desistimos. Já vimos este filme antes: a história do cara que é acusado injustamente por um crime que não cometeu está por aí desde, pelo menos, "O Fugitivo" da década de 1960. Mas aí várias pessoas vieram falar bem da minissérie da HBO, e resolvemos dar mais uma chance. Valeu a pena. "The Night Of" tem ótimos personagens, diálogos precisos, luz climática  e suspense. A partir de certo momento, a presunção de inocência do protgonista se evapora, e fica claro que o sujeito não é mesmo o bom moço que parecia ser. O final não chega a ser surpreendente, mas é bem construído. Não viu ainda? Então veja.

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

PALAVRA DE SALVAÇÃO

Sou meio parvo, então demorei a entender que a manobra que preservou os direitos políticos da Dilma não era para proteger a Dilma. Era para proteger os próprios senadores que votaram por ela: Renan Calheiros, Jader Barbalho, tutti buona gente. E também, é claro, Eduardo Cunha, cuja cassação será decidida no dia 12 de setembro. Ele só perderia o mandato e poderia já se recandidatar em 2018. Com fortes possibilidades de vitória: o Frank Underwood brasileiro mantém um programa diário em muitas rádios brasileiras, onde tem a cara-de-pau de falar de como Jesus moldou-lhe o caráter. Como o público evangélico é o mais alienado e ignorante que existe, a reeleição pode estar no papo. Mas ainda resta uma esperança. O Supremo irá analisar esta aberração jurídica que foi a atenuação da pena de Dilma Roussef. Vão ter que inventar outra coisa para que Cunha não conte tudo o que sabe.

SAÍ NA PLAYBOY

Realizei um sonho de infância. Estou agraciando as páginas da "Playboy" deste mês, ao lado da estonteante Pathy Dejesus - com quem tive o prazer de trabalhar no "Vídeo Show". Evidentemente, não removi uma única peça de roupa. Mas desnudei a alma numa longa pensata de quatro laudas, o maior texto que publiquei até hoje. Lá eu conto como a "Playboy" foi uma presença constante na minha vida desde sempre, porque meu pai tinha coleção da versão americana e deixava todas na sala, ao alcance das crianças. Imagina se eu não iria fuçar? O espírito libertário da revista foi fundamental para a formação da minha atitude ante o sexo. Pode soar paradoxal, mas se hoje eu sou uma bicha aguerrida, também é por causa da "Playboy".