quarta-feira, 31 de agosto de 2016

NÃO SOU ALEGRE NEM SOU TRISTE

Não fico triste com a queda de Dilma Rousseff. A lista de seus defeitos é imensa: inepta, inábil, incompetente, arrogante, desarticulada, antipática, mentirosa e, no mínimo, conivente com a corrupção. Mesmo assim ela enganou meio Brasil, a começar pelo Lula. Por isto mesmo, fui contra sua inabilitação. Torço até que ela seja eleita para o Congresso em 2018, para aprender no chão do plenário como é ter que fazer política. Não que os professores de lá sejam muito bons... Enfim, cansei de falar de Dilma. E, acima de tudo, cansei de ouvi-la.

Só que eu tampouco fico alegre com a posse definitiva de Michel Temer. Nunca pensei que ainda veria meu segundo impeachment no Brasil, mas o clima de agora não poderia ser mais diferente do de 1992. Naquela época, nem a família do Collor estava ao lado dele. Itamar Franco não era um nome popular, mas ninguém tinha muito contra. E ele ficou na moita durante todo o processo, então não podia ser chamado de traidor. Já Michelzão... Não duvido até que "Foratemer" seja o nome mais dado aos cachorrinhos recém-nascidos, só para que seus donos tenham mais um pretexto para gritá-lo. Eu mesmo gritarei, se Eduardo Cunha escapar da forca no dia 12.

Estou exausto, principalmente, de brigar com os amigos, de todas as tendências políticas. Em momentos distintos, consegui me indispor com todos. Por isto não tenho mais muito a dizer sobre este instante que ainda existe e deixa a vida incompleta. E, se tivesse, não diria melhor do que este fenomenal textão do jornalista e historiador Pedro Doria, que está causando furor na web. Ele sim, é poeta.

terça-feira, 30 de agosto de 2016

JANAÍNA SEREIA RAINHA DO MAR

Metade do Brasil abomina a Janaína Paschoal, a outra metade idolatra. Até a manhã de hoje, eu não tinha opinião formada sobre a advogada que protocolou o pedido de impeachment de Dilma Roussef. Agora desci do muro: Janaína é mesmo uma desalmada. A babalorixá dos coxinhas protagonizou um pedidos de desculpas digno da Inquisição Espanhola. Nem para um condenado à morte se diz que o que está sendo feito é para que seus netos tenham um futuro melhor. À sombra de Cunha e ao lado de Kataguiri, a senhorita Paschoal é mais uma a turvar este processo. Volta para o mar, oferenda?

COCAÍNA FRIZZANTE


"Não Seja Mau" foi o escolhido pela Itália para representá-la no último Oscar, e é uma das atrações da Festa do CInema Italiano que está em cartaz até amanhã em algumas capitais brasileiras. O filme não tem nada de dolce vita, pelo contrário: mostra uma realidade sórdida, com parentesco nas periferias brasileiras. No porto de Óstia, perto do Roma, dois amigos bem grandinhos ainda se comportam como delinquentes juvenis. Vivem aplicando golpes, praticando assaltos e traficando drogas, mas estão bem longe de ser criminosos profissionais. Dois cretinos sem noção de perigo, capazes de dizer a mafiosos que o pó malhado que lhes venderam é "frizzante", porque arde nas narinas. O longa tem um efeito parecido: também arde nos olhos, mas dá um certo barato quando bate.

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

UM PÉ EM CADA BARCO

Curioso. Na minha timeline do Facebook, praticamente todos os meus amigos que exercem profissões ligadas às artes - principalmente os atores - são contra o impeachment. Consigo entender perfeitamente: artistas têm sensibilidade acima da média, não só à estética como também às desigualdades sociais. Além disso, costumam ser ruins com números.

Já os meus amigos que não trabalham com artes - especialmente os empresários - são majoritariamente a favor do impeachment. Entendo também: eles foram dos primeiros a sentir os descalabros da gestão da Dilma, e não suportam ver os impostos suados que pagam irem para a corrupção. Mas às vezes só enxergam os próprios interesses.

E eu? Eu sou roteirista e publicitário, tenho um pé em cada barco. Por isto me falta a paixão com que tantos defendem seus pontos de vista.

O BRANCO NO ESCURO

Não fico nem um pingo triste com a provável saída de cena de Dilma Rousseff. Ela se mostrou inábil em quase tudo o que fez na presidência. Conseguiu destroçar uma economia que vinha crescendo e voltar contra o si o maior apoio parlamentar que um mandatário já teve neste país. Até sua insistência em ser chamada de “presidenta” revelou-se um equívoco: ao invés de ressaltar que tínhamos pela primeira vez uma mulher no comando da república, a palavra machucou muitos ouvidos e contribuiu para nos dividirmos ainda mais. Além disso, sua fama de durona se evaporou quando confrontada com a realidade. Dilma me lembra dois patrões com quem tive o desprazer de trabalhar. Exigentíssimos, rigorosos com horário, obcecados pelo trabalho - e no entanto, na hora do vamovê, capazes de cagadas muito maiores do que as de seus subordinados.

Dito isto, tampouco fico contente com Michel Temer no Alvorada. O final de sua interinidade servirá para sua elogiada equipe econômica mostrar de fato a que veio - ou não. Mas ele já mostrou ser o cara errado para o momento que o país atravessa. É antigo, pomposo, apegado a um certo autoritarismo que as urnas jamais lhe garantiram. Também está atolado até os cabelos no mesmo lamaçal povoado por Cunha, Renan, Sarney, Jucá, toda sua turma. Sua legitimidade é tão frágil que ele agora se esconde nas sombras, como o vampiro com que de fato se parece. Jamais gozará da inocência presumida que tinha Itamar Franco, alçado ao cargo em 1992 sem ter mexido uma palha contra Collor, que era odiado quase que por unanimidade. Temer tem, sim, as mãos manchadas, não de sangue, mas do cal usado por sua quadrilha neste golpe branco.

Sim, falei golpe, porque é golpe mesmo. Não um golpe de estado, muito menos um golpe militar, mas um golpe palaciano, um golpe branco com as páginas onde está impressa a Constituição. Tudo feito nos conformes, com a benção do Supremo e de boa parte da sociedade. O Brasil sobreviverá? Claro que sim, já passamos por coisa bem pior antes, e aqui estamos. Mas o ocaso do PT no poder não trouxe na sequência o raiar de um novo dia. Ainda estamos no escuro, pelo menos até 2018. E então, será que teremos em quem votar?

domingo, 28 de agosto de 2016

AI JISUIS


Não quero posar de erudito, mas as liberdades históricas tomadas por este novo "Ben-Hur" me deixaram bolado. Os judeus do século 1 d.C. não chamavam seu país de "Terra Santa", um termo que só foi inventado na época das Cruzadas; Jerusalém não foi construída à beira de um penhasco, nem jamais teve um hipódromo luxuoso; Morgan Freeman usa um penteado rastafári. Além disso, o roteiro pinta Roma como se fosse o império de "Guerra nas Estrelas", capaz de maldades absolutas como arrancar dez pessoas a esmo da rua e crucificá-las só para dar o exemplo. Também eliminou todo o subtexto gay que Gore Vidal conseguiu enfiar na versão clássica de 1959, e aumentou a religiosidade. Isso já estava no livro original, que tem como subtítulo "Um Romance do Cristo". Mas essa estratégia dos produtores, para atrair o público que gosta de ação e o que gosta de missa, não deu certo. Nenhum dos dois foi aos cinemas nos EUA, e "Ben-Hur" já se consagrou com um dos mais caros fracassos do ano. Pelo menos o único ator que está bem é o nosso Rodrigo Santoro, que faz um Jesus bastante sóbrio e crível. Todo o resto é blasfêmia.

sábado, 27 de agosto de 2016

NÃO TARDA NEM FALHA

Justiça seja feita: a minissérie "Justiça" é a melhor obra de ficção que a nossa TV produziu este ano até agora. Se o pique dos quatro primeiros episódios se mantiver pelas próximas semanas, teremos um clássico de entrar para a história. Dá até para perdoar o excesso de coincidência, que fez quatro pessoas ligadas entre si irem para a cadeia no mesmo dia e ficarem lá pelos mesmos sete anos. Pois isto não diminuiu o brilho do texto, da direção, das interpretações. E palmas também para a Globo, que está ousando no formato ao focar em apenas uma das quatro tramas em cada dia de exibição. Palmas também para o horário civilizado, logo após a novela, e com capítulos de igual duração. Finalmente a emissora se deu conta de que não tem mais 50% da audiência no matter what, e passou a respeitar mais seu público.

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

TONTURA NUNCA MAIS

Já pensou no fuzuê que o Bolsonazi iria fazer se a Jandira Feghali, que é médica de formação, se recusasse a atender o filhinho dele? Mas o escroto não perde uma chance de ser escroto. Faz parte de seu branding. O lado bom dessa história é que Flavinho mostrou que, se passa mal num debate, não aguentaria nem cinco minutos nas garras do coronel Ustra - ou na cadeira de prefeito do Rio.

(o título perfeito deste post não é meu, é do Sensacionalista)

OOPS, SHE DID IT AGAIN


Pega bem um cara com mais de 50 anos ouvir Britney Spears? Faço-me esta pergunta há tempos, desde antes de dobrar o Cabo da Boa Esperança, e achei que tinha encontrado a resposta depois do lastimável "Britney Jean", lançado em 2013. Não, não pega, deixa de ser ridículo, vai ouvir Beyoncé que pelo menos tem crítica social. Aí Nonô resolve trabalhar e me devolve a dúvida. Seu álbum "Glory" saiu hoje e já está levantando olas mundo afora. É seu trabalho mais variado e bem acabado, a cargo de uma batelada de produtores especialistas em hits. Mesmo assim, não há nada do nível de "Toxic". E eu acho Britney se derramando numa balada tão apropriado quanto Céline Dion cantando heavy metal, mas é fato que "Glory" é audível do começo ao fim. Ainda não tenho uma favorita: talvez "Come on Over", ou quiçá a hispânica "Change Your Mind (No Seas Cortes)", que só vem na versão deluxe. Aliás, que sentido fazem duas versões do mesmo disco, uma longa e outra curta, em tempos de Spotify e Apple Music? Ah, pois é, eu não estou tão velho assim.

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

CAFÉ PEQUENO


Este é um ano-não para Woody Allen. Seu filme de 2016, "Café Society", é bom como tudo o que o diretor já fez. Mas para mim pareceu um longo preâmbulo para alguma coisa que nem chega a acontecer. Os atores estão ótimos, cenários e figurinos mais lindos do que nunca, as piadas judaicas funcionam todas. E no entanto o roteiro não comove nem levanta algum dilema moral, ao contrário de outras vezes. No fundo, "Café Society" é só uma história de amor, mero pretexto para Woody se refugiar em seus queridos anos 1930. Ele talvez esteja se dedicando mais à série em seis episódios que anda preparando para a Amazon. Este longa não passa de um trabalho menor.

WHEN THE MOON IS IN THE 7th HOUSE

Sabe o que eu acho? Todos os filmes que estão querendo representar o Brasil no próximo Oscar deveriam retirar suas candidaturas, menos "Aquarius". Assim a comissão que vai escolher nosso indicado não vai ter outra opção. Ainda não vi o filme e nem acho que eu vá gostar tanto assim - tenho sérias ressalvas ao anterior do diretor Kléber Mendonça Filho, "O Som ao Redor". Mas está ficando óbvio que "Aquarius" está sendo perseguido politicamente. Como que ele recebe classificação indicativa para maiores de 18 anos, enquanto que "Boi Neon" - que tem uma cena de sexo onde até dá para vislumbrar o pau duro do Juliano Cazarré - recebeu para maiores de 16? O "Boi" já desistiu de concorrer alegando a parcialidade dos membros da comissão, e "Mãe Só Tem Uma", de Anna Muylaert, periga fazer o mesmo. Nenhum dos dois tinha muita chance: nem aqui, nem na Academia. Mesmo assim, acho interessante forçarem uma situação em que "Aquarius" seja a única alternativa. E olha que quem diz isso sou eu, que acha que o impeachment não é golpe. Só que eu não suporto picuinha.

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

TIRO NA PRÓPRIA PRÓTESE

A intenção era até boa. A ideia partiu da Cleo Pires, que é embaixadora da Paralimpíada. A sessão de fotos contou com a presença de dois paratletas, que adoraram a iniciativa. Mas como é que não teve ninguém - nem na revista Vogue, nem na agência África, nem entre os vários talentos que trabalharam no projeto - que desconfiasse que essa imagem pegaria mal? Imagina se fossem Carolina Dieckmann e Rodrigo Hilbert usando blackface para a campanha #SomosTodosNegros? Fora que quem está precisando de visibilidade são os paratletas, não os atores globais. Enfim, não vou jogar pedra, porque equívoco a gente comete o tempo todo e as pessoas andam sensiveizinhas demais. Além disso, qualquer polêmica que transforme a Paralimpíada em assunto é válida.

E EU OCEANO


"Blonde" está sendo saudado pela crítica americana como o terceiro grande disco de R'n'B do ano, depois dos inovadores "Anti" (Rihanna) e "Lemonade" (Beyoncé). Duvido que tenha o mesmo impacto por aqui: ao contrário das divas citadas, Frank Ocean é meio ignorado pelas rádios e bibas brasileiras. A cruel ironia é que o cara é gay assumido. Seu álbum de estreia, "Channel Orange" (2012) deixava claras suas preferências. Este novo (que oficialmente se chama "Blonde", mas a palavra aparece sem o "e" na capa) não é tão explícito, mas brinca com a ambiguidade a partir do título. Na verdade, trata-se só de uma parte do projeto tríplice que Ocean está lançando. Primeiro ele soltou um vídeo de 45 minutos, "Endless", que só pode ser visto no Apple Music. E no final de semana passado distribuiu gratuitamente, em "pop up stores" por todos os Estados Unidos, a revista "Boys Don't Cry", com mais de 300 páginas de fotos eróticas de homens e mulheres. OK, bacana, mas será que a música é boa? Sim, é, só que demanda atenção e paciência. Frank Ocean já escreveu hits até para Justin Bieber, mas, em seu próprio trabalho, ele não abre concessões. As 17 faixas de "Blonde" desafiam qualquer categorização e vão frustrar quem procura pérolas pop. Algumas nem são canções propriamente ditas, misturando vozes falando com efeitos e texturas. Outras duram pouco mais de um minuto, como um cover de "Close To You" do Burt Bacharach com uma letra totalmente diferente. Mas o disco nunca deixa de ser interessante, e merece ser ouvido com fones. E pode escrever o que eu digo: este oceano de ideias vai entrar em um monte de listas dos melhores do ano e faturar muitos Grammys.

terça-feira, 23 de agosto de 2016

VAZA DAQUI

Quem mais acha o Julian Assange meio creepy? Por mais que o WikiLeaks se proponha a deixar os governos mais transparentes, sempre teve algo em seu fundador que me deixava desconfortável. Hoje tive a certeza de que o cara é mesmo um psicopata. Em sua sanha de revelar tudo sobre todos, Assange acabou deixando vazar um monte de dados confidenciais sobre pessoas físicas, de registros médicos a até mesmo uma tirada do armário de um cidadão da Arábia Saudita - onde a homossexualidade é punida com a morte. Não tá na hora de fechar essa torneira?

MÃE NA RODA


Eu não sou fã dessas comédias americanas que apelam para o humor grosseiro, mas de vez em quando alguma delas me chama a atenção. É o caso de "Perfeita É a Mãe", que explora a pressão que as mulheres de hoje sofrem para conciliar a família e a carreira. Essa pressão é ainda mais forte nos Estados Unicos, onde as associações de pais e mestres têm mais poder do que aqui e a classe média não conta com empregadas domésticas. Mas isto não torna o filme difícil de entender. Com situações bem construídas e personagens caricatos porém críveis, "Perfeita É a Mãe" tem cenas antológicas e uma profundidade surpreendente. Mila Kunis está ótima como a mãe estressada que chuta tudo para o alto, mas quem rouba a cena é Christina Applegate - pudera, criada no set de "Um Amor de Família", ela tem um pique cômico do qual ninguém chega nem perto. Quem tem filho não pode perder.

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

MAL DAS PERNAS

No ano passado, estive envolvido com o projeto de um programa de TV sobre os paratletas e a ciência por trás de seus desempenhos. Um assunto extraordinário, combinando histórias emocionantes com a mais alta tecnologia. Batemos na porta de vários patrocinadores e canais, e adivinha o que aconteceu? Nada, zero, zilch. Por isto, não me espanta saber que os ingressos para a Paralimpíada estão encalhados. A maioria das pessoas tem uma dificuldade imensa em lidar com os portadores de deficiência, mesmo que eles sejam semideuses nas pistas ou piscinas. Tanto que a choradeira generalizada pelo fim da Olimpíada parece ignorar que, daqui a pouco mais de duas semanas, este outro megaevento esportivo vai ocupar o Rio de Janeiro. Vamos lá, rede Globo e afins, vamos criar auê em torno da Paralimpíada! Vamos prestigiar! Além do mais porque lá seremos potência, com chance de chegar entre os cinco primeiros no quadro de medalhas.

O ESPELHO OLÍMPICO

No dia 17 de abril passado, o Brasil se olhou no espelho e não gostou do que viu. A votação na Câmara que autorizou a abertura do processo de impeachment mostrou a qualidade dos deputados que escolhemos para nos representar: despreparados, provincianos, mesquinhos, ridículos. Mas um retrato do país, apesar das distorções que nos fazem clamar pela reforma política. A Olimpíada nos proprcionou o segundo grande espelho do ano. E dessa vez o reflexo foi o oposto: mesmo com tantos problemas, o país que apareceu ali é generoso, bem disposto, festeiro. Fizemos os melhores Jogos possíveis, e ainda calamos a boca de meio mundo. A boa vontade dos voluntários compensou a babaquice de gente que se recusou a tratar os turistas com respeito; a empolgação das torcidas cometeu injustiças, mas deixou as competições muito mais divertidas. E o legado para o Rio será positivo, sim: o Bulevar veio para ficar, assim como o BRT, o VLT e a nova linha do metrô. Mais estrutura para a cidade se posicionar como a "party capital of the world", já que ninguém comemora melhor que os brasileiros. Que não resolvemos nenhum dos nossos problemas de base, e é tolo quem acha que os Jogos eram para isso. Mas podemos, sim, nos gabar. Brilhamos como o ouro.

domingo, 21 de agosto de 2016

MEDALHA MEDALHA MEDALHA

A primeira Olimpíada a que eu assisti foi a de Munique, em 1972. Tive que fazer um trabalho para o colégio comentando a participação do Brasil em todas as categorias em que competimos. E fomos pífios: apenas duas medalhas de bronze. Repetimos esse desempneho deplorável em Montreal, quatro ano depois, e só voltamos a ganhar ouro em Moscou, em 1980. De lá para cá viemos subindo a cada edição, até chegarmos às 19 deste ano, sete de ouro. Não chegamos entre os dez primeiros colocados como queira o COB, mas somos de longe os melhores da América Latina - aliás, é curioso ver como um país grande como o México só faturou cinco medalhas, nenhuma de ouro. Dois terços dos países que vieram ao Rio saíram de mãos abanando, e uma olhada no quadro de medalhas deixa perceber que quem costuma se dar bem também é quem educa bem seus cidadãos. Educação e esporte não caminham lado a lado: são uma coisa só, e exceções como o Quênia ou a Jamaica, que se destacam nas corridas, são as excecões que confirmam a regra. Será que vamos melhorar em Tóquio? Provavelmente, se os investimentos se mantiverem. E também se prestarmos atenção de vez em quando a algo que não seja o futebol. Sim, sou eu que digo isso, aquele que não dava a mínima.

VAI PRA ONDE?


Checco Zalone é um comediante tão famoso na Itália que ele nem se dá ao trabalho de dar outro nome para o personagem que interpreta em "Funcionário do Mês", a maior bilheteria italiana de todos os tempos. Sim, bateu "Star Wars", "Titanic", tudo. O Checco do filme é um barnabé, uma caricatura do funcionário público idêntica à que temos aqui no Brasil: o sujeito que trabalha pouco e desfruta da estabilidade de todas as benesses que o estado oferece a seus empregados. Mas os tempos estão mudando e, lá como cá, também há uma forte pressão da sociedade para cortar custos e diminuir a burocracia. E aí o emprego dos sonhos de Checco se vê ameaçado, a não ser que ele aceite cargos em lugares onde mais ninguém quer ir. Assim começa um périplo por toda a Itália e até pela Noruega e a África, justificando o título original em latim - "onde vou?" - também uma referência ao clássico romance bíblico "Quo Vadis?". "Funcionário do Mês" é o equivalente italiano das nossas neochanchadas com Leandro Hassum, mas a edição acelerada e a acidez do roteiro não deixa o timing cair (e timing é tudo em comédia, mais importante do que a piada em si). Li uma crítica devastadora no jornal e fui ver por dever do ofício, meio que preparado para não gostar. E não é que eu achei molto divertente?

sábado, 20 de agosto de 2016

HISTÓRIA DE SUPERAÇÃO

A vida não foi fácil para o cavaleiro Gustavo Monstisanti d'Alembert. Ele sofria bullying dos colegas em sua escola na Suíça, porque era de longe o menos favorecido da classe: a mansão onde vivia tinha apenas nove quartos e doze empregados fixos, sem contar os avulsos. Viajava não mais que quatro vezes por ano, e nem sempre de executiva. Os primeiros cavalos que montou não vinham de linhagens nobres nem tinham nomes em francês. E namorou algumas modelos-e-atrizes que não tinham onde cair mortas, antes de se casar com a bilionária Zoë Stassinopoulos. O doloroso processo de divórcio dos dois ainda não acabou, e Gustavo se arrisca a sair com apenas alguns milhões de euros. Mas todas essas dificuldades não conseguiram apagar o brilho e a garra com que esse carioquinha da gema competiu na prova de adestramento individual da Rio-2016, alcançando o nono lugar. É do Brasiu-iu-iu-iu-iu-iu!

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

SE BEBER, NÃO MINTA

Se Ryan Lochte tivesse ficado quieto, o mundo jamais ficaria sabendo de suas estripulias na madrugada de sábado para domingo passada. Mas o nadador americano ligou para a mãe quando chegou à Vila Olímpica, por volta das sete da manhã, e contou para ela que havia sido assaltado à mão armada. Foi dormir e no dia seguinte o circo estava armado. A mãe havia alertado a mídia, que já vinha fazendo há meses reportagens apocalípitcas sobre o caos reinante no Rio. De repente, o desastre previsto se confirmava, depois que a zika e o terrorismo não deram as caras. E foi aí que Lochte errou mesmo. Ao invés de desmentir o assalto, insistiu na potoca e acrescentou detalhes escabrosos. O moço tem um histórico de se meter em confusão, o que pode ter levantado a suspeita de que as coisas não teriam se passado exatamente daquele jeito. Alguns jormalistas e a polícia carioca foram atrás, e logo afloraram os vídeos comprometedores. Agora Lochte periga perder contratos de propaganda, e ficou com a imagem bem arranhada. Um castigo e tanto para quem amarga a posição de número 2 há anos, sempre ofuscado por Michael Phelps. As lições desse episódio são muitas, principalmente para os estrangeiros que olham para o Brasil com desdém. E o fato é que nossas autoridades se comportaram com brio e precisão, mostrando que as instituições funcionam por aqui. Agora só nos falta arrasar com a cerimônia de encerramento.

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

PRÓXIMA ESTAÇÃO

Adoro o "Estação Plural", o primeiro talk show LGBT da TV aberta brasileira. Mas acho que o programa também tem um probleminha. Sexta-feira à noite não é exatamente o melhor horário para pegar a bicharada quieta em casa. Parece que o pessoal da TV Brasil se deu conta disso e resolveu mudar. A partir da próxima segunda, dia 22, "Estação Plural" começa a ser exibido à segundas, às 22 h, com reprise nas madrugadas de sábado para domingo, à uma. A nova faixa estreará com o mesmo programa que irá passar amanhã, com a secretária-adjunta de Direitos Humanos e Cidadania de SP, Djamila Ribeiro. A partir da outra semana, só programas inéditos. Agora é torcer para que o "Estação" se firme nesse horário mais acessível - e também para que sobreviva à guilhotina do governo Temer, que pensa em acabar até com a própria TV Brasil.

A ÉPOCA MALDITA


Sou da geração que foi atingida em cheio pela AIDS. Perdi ficantes, amigos, conhecidos, uma hecatombe. Na verdade, é um milagre eu ter escapado - só descobri que precisava usar camisinha depois que milhões já tinham morrido. Também vivi intensamente a fase dos filmes e peças que retrataram a crise mais aguda provocada pela "maldita", a partir de meados da década de 1980. Com algumas variações, claro, a história era sempre a mesma: fulano vivia feliz e despreocupado, desfrutando de sua viadagem, até que um dia se descobriu doente. Algum tempo e muito sofrimento depois, fulano morria. Este é basicamente o plot de "Holding the Man", um filme australiano do ano passado que só chegou por aqui via Netflix. É baseado no livro escrito por um de seus personagens, relatando o calvário que viveu ao lado do namorado, a quem conheceu ainda no colégio. O longa é envolvente e bem feito, apesar dos protagonistas serem grandinhos demais para convencerem como adolescentes. Também há pequenas participações de atores famosos da Austrália, como Guy Pearce ou Geoffrey Rush. Mesmo assim, padeci um pouco. Não acho mais que a AIDS seja um bom assunto dramático, pelo menos não se a trama se passar naquela época pré-coquetéis. O desenlace costuma ser igual - e deprimente, por mais que se agreguem mensagens de otimismo. Já vi (e vivi) esse filme antes.

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

CUMPRINDO TABELA

Essa carta da Dilma divulgada ontem lembra aqueles jogos só para cumprir tabela, quando o campeonato já está decidido. A futura ex-presidenta produziu um documento sem brilho e sem timing, com poucas chances de interferir no resultado de seu julgamento pelo Senado. Para variar, fez muitas promessas: plebiscito, reforma política, diálogo. Mas Dilma é ruim de manter sua palavra. E sua inaptidão épica para o cargo não vai deixar saudade.

ANTES DE DOWNTON


Impossível não lembrar de "Downton Abbey" vendo "Amor & Amizade", apesar da história desse filme, baseado numa novela de Jane Austen, se passar mais de um século antes. Estão lá os palácios ingleses, as regras rígidas de conduta, as intrigas de boudoir e até os deliciosos tratamentos de "mamah" e "papah", que só caíram em desuso depois da 2a. Guerra Mundial. O diretor americano Whit Stillman trouxe sua verve e sua atriz favorita, Chloë Sevigny, para esse mundo de anáguas e espartilhos, e o resultado é divertido e despretensioso. A belíssima Kate Beckinsale finalmente ganha um papel onde pode mostrar seus dotes para a comédia, mas quem brilha mesmo é Tom Bennett, um ator de quem eu nunca tinha ouvido falar. "Amor & Amizade" acaba servindo como aperitivo para os fãs hardcore enquanto não chega o possível longa-metragem de "Downton".

terça-feira, 16 de agosto de 2016

# NÃO TENHO MATURIDADE

Uma das coisas mais legais da Olimpíada é a súbita notoriedade de esportes obscuros como a dressage (adestramento de cavalos) ou o badminton. Mas parece que nenhum conseguiu tantos novos fãs como a luta greco-romana, né?

MARAVILHOSA

Acordei, como todo mundo, com a notícia da morte da Elke Maravilha. Fiquei triste por ela ter se ido tão cedo e grato por ter tido a oportunidade de trabalhar com ela. Foi no "Video Show", em 2014. Eu e meu parceiro de então, Bruno Lima, pesquisamos toda a vida dela e escrevemos um roteiro bem louco, revivendo o Cassino do Chacrinha. Só conheci a Elke em pessoa no dia da gravação, no camarim, e ela topou absolutamente tudo o que propusemos (o que tinha de artista que não topava...). O programa ficou uma delícia e alguns momentos podem ser revistos aqui, aqui, aqui, aqui e aqui. Hoje também tem um texto meu sobre a Elke na Folha Online, um dos muitos que estão brotando em sua homenagem. Mais do que justo: ela era libertária, sábia, divertida, uma unanimidade nacional. Como disse uma amiga, "impossível não gostar da Elke".

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

O POVO NÃO É BOBO

Quinta passada fiz uma coluna no F5 sobre tudo o que os mimadinhos dos americanos estão estranhando Brasil. No dia seguinte, um jornalista do "New York Times" ousou atacar a iguaria-símbolo do Rio de Janeiro, o biscoito Globo. E eu, que nunca gostei muito do troço, me enchi de brios e patriotice carioca, e agora exijo uma retratação. Ou melhor: exijo que o cara leia a resposta do Sensacionalista. Biscoito Globo é praia, é sol, é mate misturado com limão, é um pedaço da minha infância e uma constante na minha vida. Agora só falta criticarem o Zeca Pagodinho, a cerveja Brahma ou o cinema pernambucano. Também não curto nada disso, mas não hesitarei em pegar em armas para defender a honra pátria.

ARCA FRANCESA


Não sou muito fã do diretor Aleksandr Sokurov, mas seu filme "Arca Russa" foi um dos meus favoritos de 2002. Era um passeio sem cortes pelo museu Hermitage, em São Petersburgo, com a presença de vários personagens importantes da história do país. Algum produtor deve ter querido repetir a fórmula com o Louvre, mas Sokurov não achou boa ideia. Preferiu seguir uma linha mais tradicional, com cortes e história. Só que o resultado de "Francofonia" ficou muito aquém do primeiro projeto. Ficamos sabendo que os nazistas esvaziaram boa parte do Louvre durante a Ocupação, e também um pouco sobre a origem do museu - que começou como uma fortaleza medieval e evoluiu para o palácio dos reis da França, função que cumpriu até a cosntrução de Versailles. Mas a fotografia escura demais, o uso gratuito da luz bruxuleante do cinema mudo e a locução monocórdica fazem com que a hora e meia de duração pareçam três. Um filme preciosista, mas que não está à altura da preciosidade de seu assunto.

domingo, 14 de agosto de 2016

MUITOS FLEMMINGS

Quase todo paulistano conhece pelo menos uma obra de Alex Flemming: os retratos de pessoas anônimas que adornam a estação Sumaré do metrô. Mas ele produziu muito, muito mais em 40 anos de carreira. Tanto que eu tive a sensação de estar numa coletiva e não numa individual na mostra RetroPerspectiva, que abriu ontem no Museu de Arte Contemporânea de São Paulo e vai até 11 de dezembro. São mais de uma centena de trabalhos, e não apenas pinturas. Todas as fases do artista estão representadas, e a minha favorita é "Obquidade", em detalhe aí acima. Graças a essa incrível exposição eu finalmente conheci as novas instalações do MAC, que agora ocupa o antigo prédio do Detran. Ainda há alguns andares vazios e o restaurante da cobertura só deve abrir em janeiro, mas a visita não deixa de ser um programão. Tem até estacionamento grátis.

sábado, 13 de agosto de 2016

KISS IT AND FUCK OFF

Todo mundo babou por Pita Taufutufoa, o besuntado de Tonga, mas seu conterrâneo Amini Fonua é ainda mais bonito - e é gay! E é politizado! E safadeeenho! Aí do lado está a resposta do nadador ao artigo de Nico Hines no "Daily Beast" que provocou protestos mundo afora, publicada em seu perfil no Instagram com a delicada mensagem que dá título a este post. O curioso é que a homossexualidade é ilegal em Tonga (mas não dá pena de morte), e mesmo assim Amini é assumidérrimo. E com isto eu posto mais uma foto de homem nu aqui no blog, atiçando com vara curta o babaca que me denunciou ao Blogger. Mas foda-se, eu não queria mesmo ser freira.

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

BESTA É TU

O Daily Beast faz parte da minha ronda matinal pela internet desde que foi lançado, em 2009. Mas ontem de manhã eu pulei um artigo que iria incendiar as redes sociais, até ser derrubado no fim do dia. Ainda consegui ler a versão editada, já sem o título original nem a ilustração que aparecem aí do lado. Também foram limadas as pistas que permitiam a identificação dos atletas gays com quem um jornalista inglês marcou encontros através do Grind'r. Nico Hines é hétero e casado, e achou que seria uma boa pauta baixar todos os aplicativos de negação e testá-los na Rio-2016. Olha só que furaço de reportagem que o cara conseguiu: tem viadagem no esporte! Nem ele nem seus superiores se deram conta do perigo a que estavam expondo suas vítimas, mesmo depois da gritaria generalizada na internet. Sendo que algumas delas vêm de países onde a homossexualidade é proibida por lei. Por fim a matéria foi tirada do ar, mas claro que ainda está circulando por aí. Os editores do site publicaram um pedido de desculpas e reassumiram seu compromisso com a causa LGBT, mas agora é meio tarde. Este episódio serve para lembrarmos que a homofobia (e o machismo, e o racismo, e etc.) ainda vicejam latentes mesmo dentro de gente que se acha moderninha e bem-intencionada. Tipo eu.

ATUALIZAÇÃO: Esqueci de incluir na primeira versão desse texto o fato crucial de que pelo menos um dos atletas que marcou encontro com Nines vem de um país onde os gays podem ser condenados à morte. Agora incluí: está em negrito no post. O jornalista foi muito além de devassar a intimidade de alguém: ele expôs pelo menos uma pessoa a perigo de vida. Tinha que ser demitido ontem.

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

PATRÍCIA LÉLIS, PARTE 2

Longe mim defender o Infeliciano. A única surpresa dessa acusação de assédio sexual que o deputado-pastor vem sofrendo é o fato dele gostar de mulher; de resto, sua hipocrisia (como a da maioria dos líderes teocratas) nunca me enganou. Mas parece que sua acusadora também não é flor que se cheire. Patrícia Lélis ganhou notoriedade como vlogger, pregando contra o feminismo e o "homossexualismo". Só esta credencial já faz suspeitar de que a moça seja tão canalha quando seus pastores. Porque ingênua ela não é: já estão circulando fotos que ela manda para seus admiradores no WhatsApp onde aparece apenas de lingerie e véu de noiva. E a polícia suspeita que era ela quem estava achacando os assessores do parlamentar, tentando vender seu silêncio o mais caro possível. Claro que nada disso diminui um grama da culpa do Infeliciano se ele tentou mesmo estuprar Patrícia. Mas convém prestar atenção.

TONY MÃOS DE TESOURA

Ontem, navegando em meio a dezenas de comentários sobre Susana Vieira para um post que não era sobre Susana Vieira, me fiz aquela pergunta que todo blogueiro se faz algum dia: por quê? Por quê, meu Deus, eu me submeto a essa enxurrada de bobagens? Não é para isto que eu atualizo o blog de segunda a domingo, chova ou faça sol, em casa ou no meio da Amazônia. Verdade que meu objetivo inicial continua de pé: comecei a blogar para escrever o que eu quisesse, numa época em que eu ainda trabalhava em propaganda e tinha um cliente que podava todas as minhas ideias. Não estava preocupado com leitores, comentários, ganhar dinheiro, nada disso. Mas os leitores e os comentários vieram, e com eles os convites para escrever profissionalmente. Não vou negar que fico envaidecido quando minha caixa postal está cheia, mas acho que tenho sido leniente demais na moderação. Os comentários são fundamentais para a audiência do meu blog, que nunca esteve tão alta. Mas é óbvio que muitos são só trollação pura e/ou agressões gratuitas. Então, aviso aos navegantes: vou ser mais rigoroso. Sim, sou um coxinha fascista censurador. Passar bem.

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

CONTRABANDO DE CRIANÇAS


Arca de Zoé é uma ONG francesa criada em 2004 para cuidar dos órfãos do tsunami que devastou o Sudeste Asiático. Ela existe até hoje, mas é incrível ter sobrevivido ao escândalo que enfrentou em 2007. Este caso, com os nomes de todos envolvidos trocados, serve de base para o filme belga "Os Cavaleiros Brancos." Num país do sul do Sahara, um grupo de voluntários europeus diz que busca salvar as crianças com menos de cinco anos que perderam os pais na guerra que devasta a região. Só que não é bem assim: muitas delas ainda têm pelo menos um responsável, e algumas são bem grandinhas. Trata-se, na verdade, de um esquema de sequestro de menores para atender ao mercado clandestino de adoções. Não há vilões nessa história: sempre se pode alegar que os caras querem dar um futuro melhor para quem nasceu num lugar para lá de miserável. Mas claro que é tráfico de seres humanos, com fins lucrativos. No fundo, é o velho colonialismo e a noção de que os europeus são superiores em tudo o que motiva as ações do grupo. Agora, é chato dizer que esse filme moral interessante rendeu um filme apenas mediano.

JOANNA E RAFAELA, PARTE 2

Ontem, na minha coluna no F5, tracei um paralelo entre Rafaela Silva e Joanna Maranhão, duas atletas olímpicas brasileiras que comeram o pão que o diabo tuitou. Hoje a imprensa escancarou o que já não era segredo: Rafaela vive há três anos com outra judoca, Thamara Cezar. Talvez seja efeito da medalha de ouro, mas a reação dos internautas têm sido majoritariamente positiva. Até encontrei um homofóbico enrustido que elogiou nossa campeã por "não esfregar" sua namorada na cara da sociedade, mas as duas não estão nem aí. O simples fato de se mostrarem tranquilas já é uma levantada de bandeira e tanto. E não dá para não celebrar: a heroína do momento é negra, ex-favelada e gay!

Já o caso de Joanna teve um desdobramento complicado. Descobriram que a nadadora, que tem sido vítima de ataques ans redes socias depois que perdeu uma prova, era uma praticante entusiasta do bullying virtual lá pelos idos de 2011. Ela nem pode alegar que era jovem e burra: naquela época já tinha 24 anos e should know better. Mas nada como sentir na própria pele para uma pessoa aprender. Hoje Joanna implora perdão pelo que postou no passado, ciente de que mesmo uma brincadeirinha pode machucar. E eu continuo achando que ela merece ser tratada com respeito.

terça-feira, 9 de agosto de 2016

TÁ RUSSO, MANO

Eu estava na torcida para que o Russomano fosse condenado hoje pelo STF e, portanto, tornado inelegível para a prefeitura de São Paulo. Mas só dois dos cinco juízes da segunda turma do tribunal concordaram comigo (entre eles, minha ídala Cármen Lúcia). Por outro lado, talvez seja melhor assim. Prefiro que o candidato da Universal seja derrotado nas urnas do que impedido de concorrer. Acho que dessa vez ele até chega ao segundo turno, mas a rejeição ao seu nome continua imensa. Ainda contamos com a possível queda do Infeliciano, um de seus maiores apoiadores. Vou me concentrar para que as cabeças de ambos explodam, mesmo que escorra sangue do meu nariz.

ANONYMOUS INTIMACY

A cobertura da TV americana dos Jogos do Rio está gerando momentos memoráveis. Domingo passado, John Oliver leu em seu programa na HBO um poema erótico de Michel Temer - ainda pior traduzido para o inglês. O humorista também tirou sarro da diferença de idade entre o presidente interino e sua bela, recatada e do lar, algo que os nossos comediantes ainda têm prurido em fazer.
Quase tão bom quanto as apresentadoras da NBC (incluindo Jenna, filha de George W. Bush) besuntando ainda mais o Besuntado de Tonga. Benzadeus.

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

DELÍRIO TELUGU


Houve um tempo em que era difícil ver filmes de Bollywood no Brasil. Eles eram raros até nos festivais: a Mostra de SP, por exemplo, sempre deu as costas para o gênero. Mas eis que surge o Netflix para nos salvar! Descobri que há vários títulos indianos disponíveis no serviço. Inclusive "Baahubali", o longa mais caro rodado na Índia em todos os tempos e a maior bilheteria de lá no ano passado. É um épico de guerra, com uma cena de batalha com quase uma hora de duração. Mas também, é claro, é um musical. Com um dos números mais alucinados que eu já vi - ele está aí embaixo, para quem não tiver saco de enfrentar o filme inteiro. Mas enfrente, e tenha uma experiência psicodélica.

HOMENS DE AREIA


Tom Hanks é tão adorável que torna quase bom um filminho que passaria batido se não fosse estrelado por ele. "Negócio das Arábias" é baseado num livro muito bem avaliado pela crítica, mas tido como infilmável por ser muito cerebral. Não sei o que mudou da página para a tela, mas não foi desagradável passar uma hora e meia na Arábia Saudita - ainda que imaginária. Imagine se um dos países mais fechados do mundo deixaria ser rodado lá um filme que fala mal do regime? As locações foram no Marrocos e no Egito, complementadas por stock shots. Hanks faz um sujeito no auge da crise da meia-idade que vai para Jeddah tentar vender um sistema holográfico de comunicação para o rei, e acaba caindo numa stuação à la "Esperando Godot". Não só o rei como seus assessores demoram muito para aparecer, enquanto o protagonista lida com o desconforto das instalações e um prosaico lipoma nas costas. Aí ele conhece uma boa moça e fim. De fato, "Negócio das Arábias" não é grande coisa. Dá para esperar chegar no streaming.

domingo, 7 de agosto de 2016

GIGANTESCO FILME PEQUENO


Steven Spielberg filma em arrancadas. Passa três anos sem lançar nada, aí estreia três filmes em menos de dois anos. No meio deles há obras-primas e outras nem tanto, que são rapidamente esquecidas. Este é o caso de "O Bom Gigante Amigo", o primeiro filme infantil do diretor desde "E.T." - mas sem o mesmo encanto nem a mesma profundidade. A história vem de um livro de Roald Dahl, que criou clássicos como "A Fantástica Fábrica de Chocolate": uma órfã inglesa conhece o tal gigante do título, que na verdade é um tampinha perto dos monstros com quem vive numa terra distante. O coitado é vítima constante do bullying dos demais, e se alimenta apenas de uma verdura gosmenta que a boa tradução rebatizou de xuxubobrinha. Toda a primeira parte é meio aborrecida. A coisa só melhora quando os dois partem em busca da rainha Vitória, sem se darem conta de que estão no final do século 20 e quem está no trono é Elizabeth II. A visita a Buckingham é a única sequência que realmente vale a pena em "O Bom Gigante Amigo", que desapontou nas bilheterias americanas e ocupará um lugar apertado para seu protagonista grandalhão na variadíssima filmografia de Steven Spielberg. 

sábado, 6 de agosto de 2016

PIREI

A cerimônia de abertura da Copa de 2014 foi traumatizante. Os brasileiros nos sentimos envergonhados diante do mundo. Justo nós, que fazemos todo ano o maior espetáculo da Terra na Marquês de Sapucaí. Só que... a Copa geralmente é aberta de dia, o que prejudica qualquer show. Que não pode ser longo nem afetar o gramado, porque tem jogo logo depois. Por fim, um detalhe que muitos não sabíamos na época: quem produz a abertura da Copa não é o país anfitrião, é a FIFA. Que, como agora também sabemos, é uma máfia que não vai torrar à toa uns milhõezinhos que poderiam ir para a conta de seus dirigentes.

Mas o baixo astral reinante no Brasil, alimentado pelas notícias ruins tanto da nossa imprensa como da estrangeira, fez com que muita gente apostasse que a noite se ontem seria um fiasco. Pois é, não foi. Isso aqui, ôôô...

Falei quase tudo que eu queria falar sobre o show de abertura na minha coluna de hoje no F5. Esqueci de citar a deliciosa gafe do Nuzman, que disse "We believe in sex" quando deveria ter dito "success". Nossa cara! E claro que não vou deixar escorregar o porta-bandeira de Tonga, que já veio lubirficado que é para não doer. Só o nome do rapaz já é pura sacanagem: Pita Taufatofua. Piramos.


sexta-feira, 5 de agosto de 2016

FOGO ACENDEU

Demorou, mas pegou. O espírito olímpico finalmente contaminou a maioria dos brasileiros, muito por força da insistência da TV, muito porque a gente gosta mesmo é de farra. Nosso complexo de vira-lata nos faz esquecer que TODA cidade-sede foi alvo de críticas às vésperas dos Jogos, e que em nenhum lugar tudo ficou pronto a tempo e a contento. As exigências do COI são impossíveis de serem cumpridas, tanto que já tem muito lugar abrindo mão de sediar futuras Olimpíadas. Mas tenho a impressão de que vai tudo funcionar como na Copa, onde a beleza natural e a animação das pessoas mais do que compensou qualquer falha logística. Até o show de abertura, logo mais à noite, deve ser bom: se tem uma coisa que brasileiro sabe fazer são espetáculos grandiosos, estão aí as escolas de samba que não me deixam mentir. Resta saber o tamanho da vaia que o Temer vai levar. Acho de um ridículo sem tamanho quererem abafá-la com música ou efeitos sonoros, e isto só aumenta sua importância. Qualquer líder seria vaiado na noite de hoje, inclusive Jesus Cristo. Que comece a festa.

FÉRIAS EM ORLANDO


In full bloom. Ou, como diria a Kátia, rise.

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

NADA DE ERRADO COM MEU CORPO

Passei a vida acreditando que uma pessoa transexual era uma espécie de defeituosa de nascença. Assim como tem gente que nasce cega ou sem braço, o trans também seria um equívoco da natureza. Não um problema moral, veja bem. Mas uma deficiência como outra qualquer, corrigível por cirurgias e tratamento hormonal. Essa ideia era aceita até pelo aiatolá Khomeini, que se compadeceu do drama de uma trans iraniana (e o resultado é que quem se declara gay no Irã pode escolher entre a faca ou a forca). Mas agora vejo que as coisas não são bem assim. Hoje a coluna do Contardo Calligaris, na Folha, fala do caso de Neon Cunha, que também foi assunto de uma matéria do Chico Felitti na semana passada. Neon se sente mulher, mas está satisfeita com o órgão masculino com que nasceu - uma atitude cada vez mais comum, aliás. E quer que seus documentos tragam o nome e o gênero que possui hoje, sem ser classificada como portadora de disforia. Só que a lei só a reconheceria como mulher se ela também se identificasse como doente, o que Neon se recusa a fazer. Acho que estamos começaando a presenciar a despatologização da transexualidade, algo que já aconteceu com a homossexualidade. Candy Mel, vocalista da Banda Uó, é outra que não pensa em se operar. Como ela disse no programa "Estação Plural", do qual também é apresentadora: "não tem nada errado com meu corpo".

CLOSE CERTO

A propaganda brasileira está ficando moderninha. Agora está na moda colocar gay em comercial. No caso do creme dental Close-Up White Attraction Men, faz ainda mais sentido. Aposto que deu na pesquisa que 99% do público-alvo desse novo produto quer dentes brancos feito pérolas Mikomoto brilhando sob o luar.

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

YOU'RE FIRED?

Sei não, mas periga Donald Trump não chegar à eleição de novembro. Estão pipocando notícias de que a cúpula do partido Republicano planeja uma intervenção na campanha de seu candidato, mas ou menos como fazem com viciados em drogas. Dizem até que estudam maneiras de livrar-se dele. Mas alguém imagina Trump sendo forçado a renunciar? Qualquer outra opção implicaria numa batalha nos tribunais, e as diferentes leis eleitorais dos 50 estados americanos tornam tudo ainda mais complicado. Pois eu estou torcendo para que o rival de Hillary permaneça no páreo. Do jeio que ele vem degringolando desde a convenção, a vitória dela vai ser de lavada.

JESUSSSSSSSSSSSS AMADO!!!!

Está em andamento uma operação-abafa em prol do Infeliciano. O deputado pastor foi acusado por uma jovem youtuber evangélica de assédio moral e tentativa de estupro. A moça chegou a procurar o jornalista Leandro Mazzini, que assina a Coluna Esplanada no UOL, com prints do Whatsapp que comprovariam a agressão. Depois foi procurada por um assessor do PRB (o partido de Celso Russomano, em prol de quem Infeliciano desistiu de sua candidatura à prefeitura de SP) e retirou as queixas. Mazzini protege a identidade da suposta vítima, mas já descobriram que se trata de Patrícia Lélis. Ela chegou a postar no YouTube um vídeo elogiando o pastor, mas já o tirou do ar. O caso é escabroso e talvez não tenha seguimento, se Patrícia aceitar o conselho para "sumir de Brasília". Mas talvez encoraje outras mulheres a fazerem suas denúncias, pois um assediador sempre atira para vários lados. Se confirmado o crime, Infeliciano não será o primeiro falso moralista a ser desmascarado. Como quase todo mundo, só estou surpreso com uma coisa: parece que ele é mesmo hétero.

terça-feira, 2 de agosto de 2016

ABAIXO O EXCESSO DE AUTOESTIMA

Todas as mulheres, sejam lindas ou horrendas, se sentem inseguras quanto à própria aparência. Mas eu nano conheço um único homem que se ache feio. Hétero, gay, gordo, magro, sedutor, Tiririca: não tem um que não se sinta um pedaço de mau caminho. Culpa da mulherada, que não liga para bobagens como aparência e prefere focar na carteira. Também é culpa da mídia, essa marvada, que bomba a autoestima dos tribufus e incentiva práticas criminosas como o coque-samurai. Mas acabou o oba-oba. Está no ar a página Galãs Feios do Facebook, que desmascara esses safadões que o sistema insiste em nos impingir como bonitos. OK, o critério do pessoal é bem rigoroso: tem alguns que eu até achava simpatiquinhos, e você também vai encontrar nessa vala comum alguns dos seus favoritos. Mas metade da graça é ler os comentários furiosos dos fãs.