domingo, 31 de julho de 2016

NOSSA BETTE MIDLER

Gosto tanto da Marisa Orth, e no entanto não vi seu show "Romance vol. II" de alguns anos atrás. Também perdi a temporada de "Romance vol. III - Agora Vai" que ela fez em São Paulo em 2015. Hoje tomei vergonha na cara e fui ao Auditório Ibirapuera assistir à récita especial que ela fez do espetáculo. E não é que achei ainda melhor do que eu esperava? Há dois meses, escrevi na revista "Serafina" que a voz dela era boa, apesar de não ser um cristal. Agora estou usando um cinturão de arame farpado para expiar esse pecado, porque Marisa está cantando maravilhosamente bem. Mas também faz muitos momentos de comédia stand-up e até um número de plateia. Nesse ponto, ela lembra não só a saudosa Marília Pera como também Bette Midler, que construiu toda uma carreira misturando música e humor. E Marisa ainda leva a vantagem de ser muito, mas muito mais gostosa.

CIPÓ COMPUTADORIZADO


"A Lenda de Tarzan" até que tenta se adequar aos tempos que correm. A ação se passa no antigo Congo Belga, que era propriedade particular do rei Leopoldo. O roteiro tenta denunciar o colonialismo e a escravidão, empodera Jane e dá um "sidekick" negro ao herói. Mas não consegue superar o pecado original da história: Tarzan é o homem branco que chegou para salvar aquele mundo povoado por negros. Um probema parecido está sendo enfrentado por "A Grande Muralha", o mais caro filme já feito na China. Chamaram o incrível Zhang Yimou para dirigir, mas o elenco é encabeçado por brancos - o que já vem gerando protestos (e eu acho ainda mais grave terem transformado os mongóis em monstros). Voltando a "Tarzan": política à parte, essa enésima reencarnação do rei das selvas até que é divertida. Os voos com cipós são espetaculares, os bichos quase parecem reais e ainda tem o magnífico Djimon Honsou, um ator que eu não via faz tempo. E que eu acho ainda mais bonito que Alexander Skarsgård, o vampiro sueco de "True Blood" que parece uma estátua quando surge de tanguinha. Só não se trata de um filme importante, embora acima da média da porcariada do verão americano.

sábado, 30 de julho de 2016

O PAPA GATO

Os limites entre cinema e TV estão ficando borrados. "The Young Pope", a série dirigida por Paolo Sorrentino para a HBO, terá dois episódios exibidos no Festival de Veneza, que começa daqui a um mês. Jude Law interpreta o primeiro papa americano, que só é jovem na idade: o nome escolhido por ele é Pio XIII, que na linguagem da Igreja sinaliza um pontificado conservador. O elenco também tem Diane Keaton e mais um monte de estrelas. Como o diretor de "A Grande Beleza" é o meu favorito da atualidade,  desnecessário ressaltar o quanto estou ansioso.

sexta-feira, 29 de julho de 2016

BERCINHO DAS ÍNDIAS

Conheço a Teté Ribeiro há muitos anos, mas sinto como se só agora estivesse sendo apresentado a ela. Porque seu livro "Minhas Duas Meninas" é muito mais do que a história da gestação de suas duas filhas, Rita e Cecília: também é uma espécie de autobiografia. Teté revela o medo e a ansiedade por baixo de sua vida, que era "normal" (aspas, sempre aspas) até o momento em que ela e o marido resolveram contratar uma barriga de aluguel na Índia. A epopeia é contada com as doses certas de drama e humor, do desespero dos dez anos tentando engravidar ao choque cultural que é lidar com a legislação e os costumes de um país tão diferente do nosso. Um dado curioso é que a autora permanece ligada à mulher que carregou suas filhas no ventre. Foi até visitá-la no ano passado, dois anos depois do nascimento das meninas, atualizando com sucesso a definição de "família". Essa aventura com final feliz já teve os direitos comprados para o cinema, mas recomendo que se leia o livro antes de ver o futuro filme. Ele fala de um mundo que está encolhendo rapidamente, ao mesmo tempo em que crescem suas possibilidades.

STRANGER THINGS

Lula está apavorado. Como o medo também tem um lado irracional muito forte, o ex-presidente parece ter perdido o senso do ridículo. A tal da petição que ele encaminhou à ONU para reclamar do Sergio Moro acusa o juiz de querer se promover e até mesmo faturar com a série "Lava Jato", a ser produzida pelo Netflix no ano que vem. Tá na cara de que Lula não se conforma em não ser mais o queridinho absoluto do Brasil e que o ciúme, esse monstro de olhos verdes, está perseguindo-o. Acontece que a tal da petição entrou na fila da ONU e vai levar pelo menos dois anos para ser apreciada: até lá pode ser tarde demais, porque, do jeito que avançam as investigações, Lula periga não poder se candidatar em 2018. Vai virar nostalgia. A lembrança de uma época mais despreocupada.

quinta-feira, 28 de julho de 2016

CINZA CÁSPIO


Lá vem o chato do Tony dizer que foi ver um filme iraniano e não gostou tanto quanto esperava. Sim, eu insisto em assistir a um pouco de tudo. "Nahid" chega com um bom pedigree: ganhou a mostra "Un Certain Regard" do festival de Cannes do ano passado, e a crítica vem elogiando os personagens bem construídos. De fato, a protagonista é uma vítima da sociedade machista, mas também não é uma santa. Divorciada de um viciado em drogas e namorando um viúvo de posses, ela não pode se casar com ele para não perder a guarda do filho. Mas mente, gasta mais do que pode e vive tentando escapar do senhorio que lhe cobra os aluguéis atrasados. Tudo isso sobre o cenário desolado de uma cidade à beira do mar Cáspio, onde o céu permanece sempre cinzento. Parece divertido, não? Mas não deixa de ter bons momentos. Agora preciso ver algo bem bobo.

FOGO APAGOU

Uma hora ia acontecer. Tentativas não faltaram. Hoje finalmente conseguiram apagar a tocha olímpica, quando ela passava por Angra Reis. Um grupo de porfessores, justificadamente furioso com o atraso de seus salários, resolveu melar a festa e atrair a atenção do mundo para seu problema. Conseguiram, e também acenderam um debate na minha cabeça: cou contra ou a favor desse tipo de protesto? Como disse o Antonio Prata em sua crônica de domingo passado, a tocha não é do PMDB: é de Zeus, de João do Pulo (na verdade, foi o pai dele, o também escritor Mário Prata, quem falou isto, para convencer o filho a carregar a tocha em Itu). Mas é claro que muitos políticos querem tirar partido das Olimpíadas, a começar por Eduardo Paes - e não é engraçado que tantos outros agora fujam da cerimônia de abertura? Dilma, Lula, FHC, todos recusaram o convite, e é óbivo que estão com medo de serem vaiados. Mas voltando à tocha: apagá-la não implica em maiores problemas. Com cada uma que vai sendo segurada, seguem outras oito de reserva, todas acesas. Não é porque uma se extinguiu que os Jogos serão cancelados. Claro que eu acho uma lástima o evento acontecer justo num momento em que o Brasil está tão complicado, tanto na política como na economia. Era para ser nossa festa de debutante no Primeiro Mundo, não para nos dividirmos ainda mais. Mesmo assim, ainda sinto que vamos sair no lucro. Isto é, se ninguém ganhar o tal do Bolão do Terrorismo.

quarta-feira, 27 de julho de 2016

NUM LAGO DOURADO

Fuçando no Apple Music, descobri um cantor francês que eu ainda não conhecia: Julien Doré, revelado em 2007 pelo programa "Nouvelle Star" - a versão local do "Idols". O novo single do rapaz ainda nem tem vídeo completo (aí acima está o trailer), mas seus sucessos antigos também me seduziram. Se bem que não o suficente para eu esquecer do Biolay. Fisicamente, Doré fait pas mon genre.

TÁ NA HORA DE FAZER HISTÓRIA

O Nickelodeon é um canal infantil muito mais moderno do que qualquer um da Disney. Não é de estranhar que o primeiro casal gay dos desenhos animados tenha surgido lá. Foi semana passada, num episódio de "Loud House": o sr. McBride e o sr. McBride levaram o filho para dormir na casa do amigo, numa sqequência que não fez menção ao fato deles serem do mesmo sexo (e de raças diferentes, wuhuu). Claro que tem gente reclamando, mas isto é tão importante quanto dinossauros se queixando de que a lama está movediça demais.

(Obrigado pela dica, João Fernando)

terça-feira, 26 de julho de 2016

JÁ COMEU CANGURU?

Procurando na internet uma imagem para ilustrar este post de domingo passado, esbarrei num site curioso: o da Paroo Premium Kangaroo, uma empresa da Austrália especializada na produção e venda da carne do animal-símbolo daquele país. não é só ela. Uma pesquisinha mais e descobri que não é difícil encontrar nos supermercados de lá cortes nobres, pedaços da cauda e até salsichas (kanga bangas!). Para nós, que temos quase toda nossa fauna protegia por lei, pode soar estranho comer o bicho que está até mesmo no brasão nacional. Mas esses cangurus são criados em fazendas, assim como os jacarés que frequentam algumas das nossas mesas. Será que eu conseguiria sublimar a fofura desses marsupiais e me deliciar com sua carne, que é 98% sem gordura e deve ser mais dura que a da avestruz? Siiim, nhac nhac.

COISAS FAMILIARES

Sim, eu também me rendi a "Stranger Things". Ainda não vi os dois episódios finais, mas já sei o suficiente para cometer uma coluna no F5. O segredo da série é ser déjà vu all over again: não tem nada de novo, mas tudo o que tem é bom. Só faltaram as ombreiras e o Jeff Stryker para eu voltar de vez aos anos 80.

segunda-feira, 25 de julho de 2016

SHARIFF DON'T LIKE IT

Leonid El Kadre de Melo, o último zé mané do grupo "Defensores da Sharia" que ainda estava foragido, foi preso no Mato Grosso com esse visual bem pouco halal: cabelos longos, barba rala e camiseta rock'n'roll. Isso não dá decapitação, califa?

QUE HORAS ANNA VOLTA?


Anna Muylaert fez um dos meus filmes brasileiros favoritos de todos os tempos, "É Proibido Fumar". Ano passado ela quase emplacou no Oscar com "Que Horas Ela Volta?", de que eu gostei com ressalvas. E agora reaparece com "Mãe Só Há Uma", onde recai no mesmo problema que comprometeu seu trabalho anterior: antagonistas caricatos. Os patrões de "Que Horas..." eram vilões de desenho animado, o que enfraquecia um dos conflitos da trama (o outro, da mãe com a filha, era forte). Acontece coisa parecida neste novo filme, o que põe a perder o excelente argumento. O ponto de partida é o famoso "caso Pedrinho", onde um adolescente descobria que havia sido roubado na maternidade e precisava se adaptar à família biológica (e que inspirou também a novela "Senhora do Destino"). Mas aqui há um twist: o rapaz é meio trans, ou pelo menos curte um vestidinho de vez em quando. Seus pais verdadeiros, que o procuraram durante anos, vão ter que lidar com isto - só que não. Mais uma vez,  o roteiro resvala para a superficialidade, e o espectador não tem como se emocionar com os dois lados da questão. Nem o fato da mesma atriz, Dani Nefussi, fazer ambas as mães, ajuda. Para piorar, o pai machão é feito por Matheus Nachtergaele: um ótimo ator, mas um erro épico de casting para este papel. Fico torcendo para Anna Muylaert voltar à plena forma no próximo filme.

domingo, 24 de julho de 2016

O CANGURU PERNETA

Juro que eu estou torcendo muito para a Olimpíada do Rio dar super certo. Lembro do que aconteceu na Copa de 2014: quem passou vexame foi a nossa seleção, não a organização do evento (tirando aquela horrenda festa de abertura, é claro). Mas as notícias que vêm chegando não são boas, Primeiro teve os soldados do Exército, acomodados em apartamentos onde faltava tudo. O escândalo nem foi grande, porque afinal eles são brasileiros pobres e portanto deveriam estar acostumados a se foder. Mas hoje está todo mundo com vergonha, porque diversas delegações de atletas reclamaram das condições da Vila Olímpica. A da Austrália simplesmente preferiu ir para um hotel, e o prefeito Eduardo Paes - que vem se especializando em dar foras - disse que colocaria um canguru na porta do prédio, para os australianos se sentirem à vontade. Imagine a repercussão que essa estupidez deve estar tendo do outro lado do mundo...

NO FUNDO DO POÇO


"Um Dia Perfeito" foi lançado sem muito alarde por aqui, apesar do elenco hollywoodiano e dos prêmios que ganhou. Talvez porque seja um filme espanhol, embora falado em inglês. O tema também parece datado: toda a ação se passa ao longo de 24 horas num país sem nome dos Bálcãs, um dos muitos nos quais a Iugoslávia se desintegrou nos anos 90. Aquelas guerras bárbaras, onde vizinhos se voltaram contra vizinhos, me fizeram perder ainda mais a fé na humanidade, e este é um dos temas centrais do filme: vale a pena tentar se ajudar, quando as pessoas querem mesmo é se matar umas àsn outras? A resposta é sim, vale, mas não é risonha e franca. O roteiro (adaptado de um livro) ganhou um Goya, o Oscar da Espanha, e parte de uma premissa simples: um grupo de voluntários estrangeiros quer retirar um cadáver de um poço, antes que que ele contamine a água consumida por uma aldeia. O que se segue poderia ser chamado de comédia de erros, se fosse engraçado. Mas há um certo humor, e também há Benicio del Toro melhorado pelos anos. "Um Dia Perfeito" não é, aham, perfeito, mas é um bom contrapeso nessa temporada de férias escolares.

sábado, 23 de julho de 2016

ADESÕES E DESISTÊNCIAS

- John Kasich, o governador de Ohio que foi o último rival de Trump a cair durante as primárias, conta que foi convidado para ser o vice do candidato republicano. "The Donald" teria lhe oferecido praticamente tudo: toda a formulação das políticas interna e externa. Mas o que sobraria para o  presidente, então? "Make America great again", respondeu o topetão. Mesmo assim, Kasich mostrou que tem dignidade e não topou. Trump conseguiu entregar o posto de vice em sua chapa para um sujeito ainda mais escroto do que ele: Mike Pence, o governador de Indiana, um dos maiores inimigos das guei nos Estados Unidos.

- Hillary Clinton, por sua vez, decepcionou as berniedettes ao convocar o senador Tom Kaine, da Virginia, para ser seu vice. Católico e contra o aborto, o cara é um dos democratas mais conservadores. Não vibrei com essa escolha, mas ela faz sentido politicamente: Hillary precisa seduzir os brancos héteros do interior, o segmento que lhe escapa. Mas é decepcionante perceber que os dois vices dessa eleição americana estão à direita dos titulares. O mundo está mesmo se boçalizando.

- Aqui no Brasil, Romário desapontou de vez os que um dia acreditaram que ele seria um político decente. O ex-jogador abandonou sua candidatura à prefeitura do Rio de Janeiro para apoiar a do "bispo" Marcelo Crivella, da Universal - e isto depois de ter flertado com o gatíssimo Alessandro Molon da Rede. Quanta coerência ideológica, não é mesmo? Pois é, acho que podemos dar a descarga no peixe.

- Em São Paulo, o Infeliciano também saiu do páreo para apoiar Celso Russomano. Mais uma razão para não votar no "patrulheiro do consumidor". Andrea Matarazzo também ameaça largar a corrida e se juntar a Marta Suplicy. Simpatizo com ambos, mas votar no PDMB? O partido de Cunha, Calheiros e Sarney? Nem morta. Ah, e antes que me ataquem: também simpatizo com o Haddad, mas votar no PT? Nem morta. Acreditem, rapeize, tá pintando que eu vou mesmo é de Erundina. Alôka.

sexta-feira, 22 de julho de 2016

ALICE NO PAÍS DAS QUADRILHAS


Quais as séries que você está acompanhando agora? Abriu-se um vácuo em minha vida depois que terminou a sexta temporada de "Game of Thrones". Aí vi a segunda de "Marco Polo" e estou no meio da quarta de "Orange is the New Black", mas essas já eram conhecidas. A novidade do momento é "A Rainha do Sul", a quem eu dei uma chance só por causa da Alice Braga. E não é que ela está ótima? A sobrinha da Sonia é tão estrela quanto a tia, com a vantagem de falar um inglês perfeito desde pequena. Ela está esplêndida num papel baseado numa história real, que já rendeu uma novela mexicana do mesmo nome. A trama em si não traz muitas novidades para quem já viu "Narcos" ou os trocentos filmes sobre traficantes que brotaram na última década, embora o ritmo seja sempre intenso. Não estou amaaando, mas até agora não perdi nenhum episódio. E lanço aqui o desafio: quero ver transformarem nos comentários um post inocente sobre um seriado bacaninha em mais uma batalha sangrenta entre coxinhas e mortadelas.

quinta-feira, 21 de julho de 2016

PAU QUE NASCE TORTO...


Sei que é séria a ameaça representada por esse grupelho de imbecis que foram presos hoje. Já disse aqui no blog que o Brasil tem que parar de fingir que é um oásis à parte do resto do mundo. Mas, como cantava o sábio Compadre Washington, pau que nasce torto nunca se endireita. E o deboche é uma das melhores armas contra os fanáticos do EI. Foi por causa dele que atacaram o Charlie Hebdo, e tudo o que conseguiram foi fortalecer o jornal. Portanto, que venham com bombas que nós responderemos com o nosso Bin Laden, o MC.

COMBINARAM COM OS RUSSOS?

Não acho que correr 100 metros em menos de 10 segundos seja uma grande conquista da humanidade. Não ligo se alguém pedala mais rápido, levanta mais peso ou marca mais gols que outro alguém. Ou seja, não estou nem aí para a maioria dos esportes olímpicos (gosto de ver a ginástica...). Para mim, pouco importa se o atleta estava dopado ou não: o que é que eu ganho se ele bater um recorde? E faz algum sentido proibir o uso de substâncias, quando esses caras são treinados desde o berço para se tornarem os melhores em suas categorias, levando vidas diferentes das pessoas comuns? Tem um lado meu que é a favor do liberou-geral. Quem quiser tomar um negocinho para melhorar sua performance, que tome - e se morrer depois, bem feito, quem mandou? O fato é que as Olimpíadas são um grande teatro, onde patrocinadores e alguns países gastam fortunas para dar a ilusão de que esses supostos super-homens trazem algum benefício para o resto de nós. Por outro lado, a Rússia vem se revelando um  país horrendo em mais de um sentido, então é justo que esses pilantras fiquem fora da Rio-2016. OK, o esporte é um ótimo substituto para a guerra, e costuma fazer bem à saúde. Mas ainda me emociono mais com quem faz uma descoberta científica, escreve um bom livro ou inventa um novo sabor de sorvete.

quarta-feira, 20 de julho de 2016

OU SE CONVERTE, OU MORRE

O "bispo" Marcos Klein tirou uma selfie com Jean Wyllys dentro de um avião só para "colocar minhas mãos sobre ele e profetizar: ou se converte, ou morre". Que azar o dele, hein? Porque eu não preciso pegar em ninguém para profetizar: esse bispo é uma bichona enrustida e já arde em seu inferno particular. Repara só na sobrancelha delineada - nem a do Infeliciano chega a este requinte. Como disse o psicanalista Francisco Daudt em sua coluna na Folha de hoje, "não existem homofóbicos entre héteros absolutos". Ou seja, vai procurar rola, "bispo", vai.

DIREITA BICHADA

Milo Yiannipoulos foi banido do Twitter. Quem? Perdoe minha ignorância, mas eu nunca tinha ouvido falar no darling da alt-right (direita alternativa, veja só) até esse caso do bullying racista sofrido pela atriz Leslie Jones, da nova versão de "Caça-Fantasmas". Tudo começou quando Milo postou uma crítica depredando o filme e acusando-o de fazer mau humorismo feminista. Seus comentários depreciativos sobre Leslie (ela seria "unappealing") serviram de senha para que seus seguidores atacassem a moça no Twitter com fotos de gorilas e outras delicadezas. O próprio Milo entrou na briga, e consta até que falsificou alguns tuítes da atriz. A coisa ficou tão feia que ele acabou sendo expulso da rede social. Isto depois de ter sido bloqueado várias vezes, e ter se metido em polêmicas diversas ao longo de sua curta carreira. Milo nasceu na Grécia mas vive em Londres desde pequeno, e escreve muito bem; é católico, desbocado, gay assumido e conservador. Também é racista, apesar de declarar sua preferência por "black cock". Claro que é um racismo emplumado, disfarçado de liberdade de expressão, mas racismo não menos. Para completar, o cara apoia Donald Trump - e aí, não tem texto engraçadinho que salve. A alt-right quer ser a versão punk do direita, mas já nasce bichada pelo preconceito e pela burrice. Eca.

terça-feira, 19 de julho de 2016

LEVANTE A MÃO SE VOCÊ PLAGIOU

Surgiu uma teoria deliciosa para explicar o discurso de Melania Trump na convenção republicana, chupado diretamente de Michelle Obama. Foi vingança de Corey Lewandovski, o marqueteiro recém-demitido pelo candidato. Ele ainda tem asseclas fiéis trabalhando na campanha de Trump, e um deles teria cometido essa ligeira sabotagem. De qualquer forma, está mais uma vez comprovado o despreparo e o improviso do milionário e sua entourage. Resta saber se isto afetará seus índices nas pesquisas, que vêm se aproximando perigosamente dos de Hillary Clinton.

O LOOPING DO WHATSAPP

E lá vamos nós de novo. Pela 3a. vez em menos de um ano, um juiz tira o Whatsapp do ar por causa de uma investigação policial. A atitude é anacrônica, a reação é patética: gentem, a vida não parou por causa disso! Como a situação é recorrente e eu não tenho mais nada a dizer sobre ela, reproduzo abaixo o texto de um post de dezembro de 2015, durante o primeiro bloqueio do aplicativo no Brasil:

Ainda somos um país de botocudos. Nações mais sérias só bloqueiam serviços de mensagens em caso de ameaça terrorista ou coisa que o valha. Aqui basta um único juiz cuidando de um único caso para tirar do ar o WhatsApp, prejudicando milhões e milhões de pessoas. Se a moda pega, daqui a pouco voltaremos a ter vereadores do interior exigindo que toda a internet saia do ar, só para ele não ser criticado nas redes sociais. Nossa cultura é pior que autoritária: é feudal, é medieval. Por outro lado, é absurda a dependência da galera. Uai, no telefone docêis num tem mais SMS? Que agora também manda mensagens pela internet? E o Messenger do Facebook, cêis num usa? E o Telegram, o favorito do Estado Islâmico? De qualquer forma, me espanta essa situação ainda não ter sido normalizada. Mas não deveria: afinal, em que país que estamos mesmo?

segunda-feira, 18 de julho de 2016

AEROAPERTO

A Olimpíada já tem um legado positivo: está conseguindo com que o Brasil finalmente se dê conta de que faz parte do mundo. Só que esse mundo não é lindo e confortável como a bolha onde imaginávamos viver. Tem bomba, tem caminhão desgovernado, tem gente marvada. E assim, a pouco mais de duas semanas da abertura do evento, achamos que talvez estivesse na hora de implantar procedimentos de segurança nos voos domésticos que já são rotina na maioria dos países. Como o Brasil mudou mas nem tanto, instaurou-se o caos nos nossos aeroportos nessa manhã de segunda. Os passageiros continuaram chegando em cima da hora dos voos, os funcionários não foram bem treinados e o resultado foram filas de descer escada. É preciso que todo mundo se organize melhor, e lembre que essa rotina chegou para ficar. Não temos como voltar para a bolha depois dos Jogos.

O DIREITO DE MORRER


A Suíça é um dos poucos países do mundo que permite o suicídio assistido. Existem até duas ONGs famosas, a Dignitas e a Exit, especializadas em acompanhar pacientes terminais que preferem abreviar seu sofrimento. Era inevitável que esta peculiaridade nacional rendesse ficção algum dia. O protagonista de "La Vanité", um raro filme suíço a estrear no Brasil, é um homem idoso que quer por fim à própria vida, e por isto procura ajuda. Quase toda a ação se passa num quarto de motel, onde ele recebe a assistência de uma voluntária espanhola e o testemunho de um vizinho de quarto, um garoto de programa eslavo. Essa concentração no tempo e no espaço lembra uma peça de teatro, com bom texto e bons atores. "La Vanité" é bem curtinho - dura só uma hora e 15 minutos - mas trata de questões delicadas e profundas. Uma versão bem mais amarga de "Como Eu Era Antes de Você", mas ainda com momentos engraçados. Quem tem coragem?

domingo, 17 de julho de 2016

LIBERTÉ, LIBERTÉ

A série "Versailles" conta uma história totalmente francesa - as intrigas da corte de Luís XIV, o Rei-Sol - mas foi gravada em inglês para facilitar sua carreira internacional. Estreou na França em novembro do ano passado e chega aos Estados Unidos em outubro. Por aqui, ainda não sei de nada. Só sei que, como é de rigueur nos tempos que correm, tem cenas de sexo entre rapazes.

MINAS TRANS

Trem muito bão essa iniciativa da Secretaria de Direitos Humanos de Minas Gerais, em parceria com a ONU. Mas, pela duração do filme (1'17"), me parece que está sendo veiculado só na internet. Precisa passar na televisão também, uai.

sábado, 16 de julho de 2016

ERA GOLPE

A Turquia moderna foi fundada pelo exército. Foi um grupo de jovens oficiais que, terminada a 1a. Guerra Mundial, depôs o último sultão otomano e proclamou a república. O líder da turma, Mustafa Kemal, fez com que o novo estado fosse totalmente laico e ainda trocou o alfabeto árabe pelo latino. Ganhou o apelido de Atatürk, o pai dos turcos: seu retrato está até hoje por toda parte, das lojinhas dos bazares às cédulas de dinheiro. Os militares ainda formam a insitutição mais poderosa do país, e promoveram vários golpes de estado ao longo do século 20. Mas não estavam unidos nessa tentativa desastrada de derrubar o presidente Recep Erdogan. Os rebeldes tampouco contavam com apoio popular: apesar dos desmandos e da corrupção desvairada, o proto-ditador turco ganha todas as eleições há mais de uma década. A razão disto é a economia, cada vez mais forte. E gente com dinheiro no bolso aguenta muita coisa, inclusive censura à imprensa, prisões políticas e atentados em série. Outro dia suspeitei que o próprio Erdogan estivesse por trás do ataque no aeroporto de Istambul; agora também aposto qe ele irá usar esse golpe frustrado para se eternizar no poder. Ele merecia ser derrubado, mas não pela força das armas. E não é divertido ver o mundo inteiro condenando essa quartelada na Turquia, menos o Brasil?

sexta-feira, 15 de julho de 2016

CRETINICE

Foi um strike de boliche o que aconteceu em Nice: pelo menos 84 mortos, entre os quais 10 crianças. Não há diferença cultural ou revanchismo histórico que jusifique essa matança. Que não poderia ter vindo numa hora pior: mais países podem querer sair da União Europeia, e Donald Trump está encostando em Hillary Clinton nas pesquisas. O Brasil também precisa parar de fingir que o terrorismo é problema dos outros. Somos a turma do deixa-disso e adoramos dizer que todas as raças convivem em harmonia por aqui, mas isso não é razão para menosprezar o perigo. A segurança da Olimpíada já está sendo revisada, e mesmo assim pode não adiantar nada. Porque esses assassinos sempre descobrem uma maneira simples e inesperada de matar mais gente, como esse caminhoneiro de Nice. Cadê o engajamento dos muçulmanos, que também são as maiores vítimas de seus fundamentalistas? Parece que o mundo está indo à matroca nesses últimos dois anos, com o avanço internacional de novas formas de fascismo. Até a enxurrada de mortes de celebridades faz suspeitar de alguma desordem cósmica. Mas o problema está aqui mesmo, e ninguém sabe como resolvê-lo. Só sei que eu estou de saco cheio.

O MAIS BRASILEIRO DOS ARGENTINOS

Nenhum outro cineasta brasileiro fez tantos filmes de que eu gostasse tanto. E Hector Babenco nem era nascido no Brasil: talvez por isto mesmo ele tivesse o olhar crítico que proporcionou suas primeiras obras-primas, "Lúcio Flávio" e "Pixote". Outras vieram, mais internacionais, em inglês ou espanhol, mas sempre contundentes. Só não adorei seus trabalhos autobiográficos. Neles Babenco não usava o mesmo olhar crítico que nos outros filmes, mas isto não diminui sua importância. Ele também era excelente diretor de teatro, especialmente quando trabalhava com sua amada Bárbara Paz. Pena que a doença não tenha permitido que sua filmografia tenha sido ainda maior, e o fragilizado a ponto de ter tido uma parada cardíaca depois de uma cirurgia simples. Pelo menos, consta que ele estava numa fase tranquila e feliz.

quinta-feira, 14 de julho de 2016

DOS MAIAS, O MENOR

As voltas que o mundo dá: quem diria que, a essa altura do campeonato, eu estaria torcendo por Rodrigo Maia para a presidência da Câmara. Sim, eu também preferia a Erundina neste posto, porque ela era a única entre os trocentos candidatos com alguma moral para conduzir os trabalhos. Mas quando o segundo turno se definiu entre Rogério Rosso, que tem pinta de galã mas é da gangue de Eduardo Cunha, e o filho de César Maia, não tive muitas dúvidas. Rodrigo parece a versão adulta do Bolinha, é coxinha até na alma e está num partido ameaçado de extinção, o DEM. Apoiou Cunha até o penúltimo segundo, mas depois surgiu como um nome de consenso para comandar a cassação do tinhoso. Rodrigo Maia tem pretensões ainda maiores, e sabe que seu futuro político depende do que fizer nesses próximos meses. Estamos de olho. We are of eye.

quarta-feira, 13 de julho de 2016

NÓS NÃO VAMOS NOS DISPERSAR

Estão chegando as eleições, e será que a bicharada vai perder o barco novamente? Toda vez nossos votos se dispersam, e o resultado é que nunca elegemos ninguém. Enquanto isso, os evangélicos dominam as câmaras e assembleias, barram qualquer sinal de progresso e impõem barbaridades como o kit bíblico. É por isto que eu vou dar destaque aqui no blog a alguns vereadores potenciais que podem ajudar muito a causa LGBT. E atenção, cariocas: o primeiro é o João Junior, que é pré-candidato pelo PSB do Rio de Janeiro. O João trabalhou anos no gabinete do Jean Wyllys, então não é nenhum neófito em política, e foi um dos idealizadores da campanha #NossaFamíliaExiste, contra o horrendo Estatuto da Família. Leia aqui a entrevista que ele deu ao site Superpride, e curta sua página no Facebook para saber das novidades de sua campanha. O João é honesto, esperto, engajado e meu amigo pessoal. É nele em quem eu votaria se morasse no Rio.

LIBERDADE, AINDA QUE TARDIA

Mais uma barreira que cai: a Globo exibiu ontem a primeira cena de sexo entre dois homens da teledramaturgia brasileira, na novela "Liberdade, Liberdade". Não foi uma pegação tórrida, mas é bom lembrar que mesmo um casal hétero na cama costuma se comportar na nossa TV. Os diretores ainda preferem mostrar as transas como momentos de sublimação espiritual, e não como a putaria que costumam ser na vida real. Beleza, um dia chegaremos lá. Talvez estejamos chegando: a reação negativa ao encontro carnal entre André e Tolentino foi bastante comedida, como eu analiso na minha coluna de hoje no F5. Ah, e esqueci de incluir no texto de lá uma curiosidade: a trilha da cena é o Adagietto da 5a. Sinfonia de Mahler, que também foi usado no beijo entre Félix e Niko em "Amor à Vida" (e em "Morte em Veneza", de Visconti). Claro que foi de propósito.

terça-feira, 12 de julho de 2016

SÓ AS QUE INCOMODAM

Se até os parabéns que Ivete Sangalo mandou para Claudia Leitte foram problematizados nas redes sociais, imagine se iam deixar barato para a Anitta. Desde que ela foi anunciada como um dos artistas brasileiros que participarão do show de abertura das Olimpíadas, as redes sociais entraram em pororoca. Os mais esnobes lembram que o encerramento dos jogos de 2012 teve Paul McCartney, Pet Shop Boys e o fantasma de Freddie Mercury, mas esquecem que também teve Spice Girls e Ellie Goulding. Anitta é uma estrela pop super competente: canta bem, dança bem, é carismática, é bonita e é carioca, ou seja, tem todos os quesitos para estar lá. E fique sabendo que a cult Marisa Monte (que também cantou em Londres, ao lado de Seu Jorge) recusou o convite, porque também já tinha recusado cantar na abertura da Paralimpíada. Se o artista não quer, como é que faz? Mas acho que estamos bem servidos com a cantora de "Bang". Fora que ainda teremos Caetano e Gil, duas lendas vivas reconhecidas no mundo inteiro. Deixa as fogosas se sentirem afrontadas.

COME WHAT MAY

O Brexit provocou uma tsunami na política britânica. Caíram os líderes de quase todos os partidos, seus rivais, seus vizinhos, o pipoqueiro e uma senhora que atravessava a rua distraída. Sobrou Theresa May, a nova Dama de Ferro. Ela fez campanha pela permanência do Reino Unido da União Europeia, mas agora diz que vai respeitar a vontade das urnas. Veremos: eu aposto que ela irá conduzir o processo em câmera leeentaaa, até que, daqui a uns dois anos, a população em pé de guerra exija um novo plebiscito (já estão exigindo, mas neste momento soaria como desrespeito às regras da democracia). Enquanto isso, May promete ser tão conservadora quanto Margaret Thatcher ou Angela Merkel, com quem vem sendo comparada. Para começar, a nova premiê foi contrária a todos os projetos de casamento igualitário e adoção por casais gays. Agora tudo isso já é lei, então a probabilidade de um estrago é pequena. Pelo menos a outra forte candidata ao cargo, Andrea Leadsom, acabou derrotada. A ministra da Energia do governo Cameron foi uma opositora ferrenha de qualquer avanço para a causa LGBT. Mas enfiou os pés pelas mãos ao dizer que, por ser mãe, seria uma primeira-ministra melhor que May, que não tem filhos - a lógica é que ela estaria preocupada com as próximas gerações. Ahã. Enfim, Theresa May está longe de ser um sonho, mas é o que temos para o momento.

segunda-feira, 11 de julho de 2016

PREGUIÇA OLÍMPICA

A rede de TV britânica BBC postou ontem seu "trailer" para as Olimpíadas do Rio, e a internet, que já tinha terminado de lavar toda a louça, achou por bem reclamar. Minha timeline está coalhada de gente tomada de ira santa, criticando até o racismo que estaria implícito nessas imagens. Fora que tem nego deplorando o uso de animais, quando a pobre onça Juma foi sacrificada... Menas, gentem, menas. Este é um promo de televisão voltada para o público da Grã-Bretanha, não uma peça oficial produzida pelo Comitê Olímpico Brasileiro para o nosso mercado interno. Mesmo assim, fico pensando o que seria um vídeo aceitável para essa turma: Dilmãe construindo um estádio com as próprias mãos, enquanto Jandira Feghali e Lindbergh Farias se aquecem para entrar na raia? Pelo menos não mostraram ninguém sendo assaltado! Estou pior do que a preguiça atlética que aparece fazendo barra aí em cima. Ela, pelo menos, me parece bem disposta.

A CANTORA CARECA


"Florence: Quem é Essa Mulher?" é o segundo filme em menos de um ano inspirado pela história real de Florence Foster Jenkins, a "pior cantora do mundo". O outro é "Marguerite", que também está em cartaz: ver ambos e compará-los é uma boa maneira de entender como um mesmo ponto de partida pode render obras bem diferentes. O longa francês trata sua protagonista como uma espécie de deficiente mental, que precisa ser protegida da cruel realidade a qualquer custo. O marido rico banca seus caprichos, mas mal a suporta. E no final, ela é pintada como um monstro de egoísmo que merece tudo que lhe acontece. Essa versão inglesa pega mais leve. É ainda mais cômica que sua prima gaulesa, e mais fiel aos fatos originais. Aqui o marido de Florence realmente a ama, apesar de ter uma amante. E ela é apresentada como alguém frágil não só no espírito, mas também no corpo, convivendo há quase meio século com as consequências da sífilis que pegou do primeiro marido. É gorda, careca, tem um cancro na mão e uma voz ligeiramente melhor que a de Marguerite, mas ainda insuportável. O filme marca o encontro de Stephen Frears, um diretor especializado em mulheres, com a maior atriz da atualidade. É desencessário dizer que Meryl Streep deita e rola no papel-título, inclusive cantando pessimamente. Mas quem rouba quase todas as cenas é Simon Helberg, o Howard de "Big Bang Theory", no papel de um pianista flamejante. Sua interpretaçnao é teatral e um pouco over, assim como todo o resto do filme. Mas "Florence" é um passatempo divertido, e, assim como "Marguerite", o reflexo da nossa moderna cultura de reality shows, onde todo mundo acha que não é preciso o menor talento para se ter direito à fama.

domingo, 10 de julho de 2016

SEXO TÂNTRICO

Eu bem que tentei. O jogo prometia ser bom, eu adoro Portugal e não sofreria o nervosismo de ver o Brasil em campo. Além disso, poderia admirar Cristiano Ronaldo por seus atributos (ouvi dizer que ele joga super bem). Qual o quê: CR7 levou um encontrão aos 25 minutos do primeiro tempo e deixou a partida. E todo o resto do tempo regulamentar foi aquele rame-rame que empre fez com que eu me desinteressasse do futebol. Quando acabou levei o cachorro para passear, com a íntima certeza de que a final dessa Eurocopa também iria para os pênaltis. Aí começou a prorrogação, Éder marcou para os lusos e eu vibrei. Gooooloooo! Vencemos, e eu confirmei que futebol é mesmo sexo tântrico. De vez em quando alguém goza, mas isto é o de menos.

(e ainda descobri mais um motivo para torcer pelos lusos: o goleiro Rui Patrício)

sábado, 9 de julho de 2016

MAMA, MARA, MAMA

A conversa entre Mara Maravilha e Mr. Catra, exibida pelo "Bate e Volta" (Band) na madrugada da última terça para quarta, não foi das mais edificantes. A ex-apresentadora e atual cantora evangélica repetiu a balela difundida por seus pastores: a homossexualidade seria uma "escolha" (altura do 8'30'). Antes ela já havia dito que "tem muitos amigos gays", o cartão de visitas dos homofóbicos, e depois reclamou que tentaram colar nela essa "pecha". Tentaram? Mara, prova sua teoria e escolhe ser lésbica por alguns dias. Ou seja, pega num grelo e mama. Já o polígamo mais famoso do Brasil mostrou ser um pouco mais tolerante (só faltava cagar regra, justo ele), mas também proferiu sandices como "homossexual deixa de ser homem" e "odeio a viadagem" (que ele ainda definiu de maneira bizarra). Mas pelo menos Catra deixou a moça sem graça quando disse que todo homofóbico é um gay enrustido. Ali eu percebi que piscou um cu.

sexta-feira, 8 de julho de 2016

TORTILLA EM FOGO BRANDO


Virou moda falar mal do Almodóvar. A cada filme novo dele, meio mundo cai de pau, dizendo que os antigos é que eram bons. Aí eu acredito, vou para o cinema esperando uma bomba e acabo gostando. Melhor assim, não? O padrão acaba de se repetir com "Julieta", que quase foi vaiado em Cannes e tem recebido críticas de medianas para baixo. Pois eu achei que está acima da média: não é nenhuma obra-prima, mas é melhor do que 95% do que passa por aí. Mais uma vez o diretor espanhol pegou uma história que não era sua e torceu-a até que ela ficasse. Ou melhor, pegou três  contos separados da escritora canadense recém-nobelizada Alice Munro e misturou numa tortilla. Talvez por isto mesmo, "Julieta" pareça meio desconjuntado. Na verdade, é praticamente uma telenovela mexicana requentada em fogo brando. Apesar das mortes e separações, não há um momento de grande emoção, nem uma única cena engraçada. Mas há um elenco afinado como sempre, especialmente Rossy de Palma. A Picasso-humana faz uma criada fofoqueira sem resvalar para a caricatura, um papel pequeno que, no entanto, é crucial para a trama. "Julieta" é o 20o. longa de Pedro Almodóvar e não vai ficar nem entre seus 10 melhores. Mas ainda é um Almodóvar, coño.

VOU FESTEJAR

Chora, não vou ligar
Chegou a hora
Vais nos pagar
Pode chorar, pode chorar
Mas chora!
Nããão é o teu castigo
Ouça o que eu digo
Vem mais aí
Vou festejar, vou festejar!
O teu cair
O teu cassar
Você tem mais que ir pra prisão
E perder todos teus bilhão
Você tem mais que ir pra prisão
E perder todos teus bilhão

quinta-feira, 7 de julho de 2016

BORDOADAS DA VIDA

Acho que boa parte do meu leitorado é jovem demais para se lembrar bem de Guilherme Karam. Então eu digo para a garotada: vocês não sabem o que estão perdendo. Há mais de dez anos que Karam não fazia nada na TV, derrubado pela raríssima síndrome de Machado-Joseph, uma doença degenerativa que já havia levado dois de seus irmãos (e um terceiro também está doente). O ator passou os últimos dois anos internado num hospital, sem andar nem falar. Foi um destino cruel para um dos comediantes mais ácidos que esse país já teve. Karam encarnava tipos grosseiros melhor do que ninguém, como o icônico Zeca Bordoada da "TV Pirata". Mas na vida íntima era uma flor de pessoa: fui assistir a um ensaio dele muitos anos atrás, no Rio, e me encantei com sua simpatia e seu vozeirão de tenor. O cara também participou de uma das melhores experiências teatrais que eu tive na vida, a peça "Família Titanic" de Mauro Rasi, ao lado de Pedro Cardoso, Zezé Polessa, Cláudia Jimenez e o também falecido Felipe Pinheiro. E ainda fez uma dupla memorável com Miguel Falabella em alguns espetáculos de besteirol (só de pensar eu começo a rir). Era assim que eu queria lembrar dele, rindo, mas os últimos anos de Guilherme Karam foram tristes demais. Pelo menos ele agora está livre. E a gente ainda acha que tem problemas...

"MAR ADENTRO" PARA MOÇAS


Eu não tinha planos de ver "Como Eu Era Antes de Você". Já encarei esse tipo de filme antes, e nunca gostei muito de nenhum. Aí as pessoas começaram a falar bem e a bilheteria foi espetacular. Assisti ao trailer e me encantei com o elenco: parece que escolheram pelo menos um ator de cada série britânica de que eu gosto, só para me seduzir. Rendi-me, e não é que é mesmo bom? O roteiro, assinado pela própria autora do livro, é um primor de construção, com piadas e lágrimas nos momentos certos. Tem alguns furos e muitos exageros, mas a relação entre o ricaço quadraplégico e sua cuidadora maluquinha registra como autêntica o tempo todo. Ah, sim, o cara não só é milionário como lindo de morrer: parece o Christian Grey de "50 Tons de Cinza" numa cadeira de rodas. Emilia Clarke faz tanta força para esquecermos da Daenerys de "Game of Thrones" que chega a ficar irritante lá pelas tantas, mas zuzo bem. Ela tem mesmo "star quality", e uma longa carreira pela frente. Com cenários luxuosos, boas interpretações e uma história até ousada, "Como Eu Era Antes de Você" é a versão para mocinhas sonhadoras do sombrio filme espanhol "Mar Adentro". E bem mais agradável de se ver.

quarta-feira, 6 de julho de 2016

UMA COISA SÓ

Uma maneira de saber se uma pessoa é homofóbica é perguntar como ela define homofobia. Se responder que é só a violência física contra os LGBT, baubau. O resto seria apenas "opinião": alguém que "não concorda com a prática homossexual" estaria apenas exercendo seu direito à livre expressão, e intolerante será quem achar que não. Mas o assassinato de Diego Vieira Machado no campus da UFRJ comprova, mais uma vez, que não dá para separar uma coisa da outra. Eu não quis me manifestar antes da polícia reunir indícios contundentes de que foi mesmo um crime de ódio - infelizmente, foi. O corpo estudante foi encontrado nu da cintura baixo, algo que um mero assaltante não se daria ao trabalho de fazer. Além do mais, surgiram e-mails ameaçadores, que se juntam às pichações reacionárias por todo o Fundão. Some-se a isto a crônica falta de segurança e até vigias truculentos, e está pronto o ambiente para que uma barbaridade dessas aconteça. Fico pasmo da reitoria não reprimir ou sequer investigar esses grupelhos, mas sei que algumas universidades públicas não têm dinheiro nem para produtos de limpeza. Aliás, é de uma boa faxina que a nossa cultura anda precisando: uma cultura que perdoa o estupro, culpa a vítima, persegue os diferentes e ainda posa de cristã. Mas quando eu vejo gays defendendo a extrema direita, me dá um desânimo...

terça-feira, 5 de julho de 2016

AU PIED DE LA LETTRE

Essas fotos de Janot Alpin foram feitas nos anos 90 no metrô de Paris. O cara simplesmente pegava o nome da estação e o interpretava visualmente da maneira mais literal possível.  Minha favorita está acima: père (padre) + lachaise (a cadeira). Claro que para apreciar esses trocadilhos infames é preciso saber um pouco de francês. Se você souber muito, clique aqui e veja o resto dessa coleção.



DENTRO, TEMER

Primeiramente, fora Temer. Mas é mister reconhecer que o presidente interino emplacou pelo menos uma bola dentríssimo nesse começo de mandato. Ele propôs e aprovou no Congresso o projeto de lei que restringe a nomeação de políticos para a presidência de empresas estatais. Não é nada, não é nada, mas pode apenas mudar o Brasil para sempre. São os apaniguados dos partidos que, à frente da Petrobras, da Caixa e de outras franquias, operam a maior parte do desvio de dinheiro público que nos assola. Que esta iniciativa tenha vindo de um presidente filiado ao PMDB é de brotar um ninho de pulgas atrás de cada orelha. Mas talvez - talvez - Michel Temer esteja mais interessado em deixar um legado positivo do que em se locupletar. Ele está com 75 anos, tem uma vida mais do que confortável e sabe que sua reeleição em 2018 beira as raias do impossível. Melhor fazer algo de bom para o país nesse curto mandato que lhe coube e garantir um lugarzinho ensolarado na história, né?

segunda-feira, 4 de julho de 2016

MILAGRE DOS PEIXES


"Procurando Nemo" foi um marco da primeira década da Pixar, e olha que aquela época teve um marco atrás do outro. O visual era de cair o queixo: como que aquele fundo do mar tinha tantos detalhes, tanta textura? E o roteiro, um primor de graça e emoção. Mas a história não tinha uma sequência natural, e talvez por isto o estúdio tenha demorado tanto a fazê-la. Agora, num tempo em que seus filmes já não causam mais o mesmo impacto que antes, a Pixar optou por uma saída fácil e produziu "Procurando Dory". O título não é correto, pois na verdade quem procura é a peixinha desmemoriada. Mas alguém está aí para isto? O que importa é que esse novo desenho é uma gostosura de se ver, apesar de não trazer maiores novidades. Se eu quiser ser bem chato, posso alegar que o final se alonga um pouco demais, bem depois que o conflito principal é resolvido. Mas não quero ser. "Dory" é um pequeno milagre, 13 anos depois do original.

LARANJA MADURA


O que falta para Dev Haynes ser saudado como um gênio da música pop, do mesmo nível que um Prince? Um hit global, para começar. Suas músicas fazem um certo sucesso, mas ainda não são cantaroladas no meio da rua. Ele também deveria mudar o nome com que assina seus discos, Blood Orange, que parece mais uma banda do que um artista solo. Mas esses detalhes não mudam o fato de que "Freetown Sound" já é um dos melhores lançamentos do ano. O álbum é quase todo relax, mas não dá para relaxar: algumas faixas acabam abruptamente, outras fluem para dentro das seguintes, sofrendo intervenções como estática ou falas. Haynes é negro, mas seu som não é obviamente negro. Ele também se define como não-hétero, o que até dá para perceber pelo clipe acima. Mas não hei de ser eu que irá categorizá-lo. Ouça "Freetown Sound" aqui e tire suas próprias conclusões.

domingo, 3 de julho de 2016

¿BOCA ARRIBA O BOCA ABAJO?

Um tempo atrás, eu disse aqui que no blog que a violência contra os gays iria aumentar. E a razão parece contraditória: é justamente o aumento da visibilidade e a confirmação de direitos como o casamento igualitário que vem atiçando a ira dos homofóbicos. O fenômeno não se restringe ao Brasil. Na Espanha, que comemorou semana passada a Semana do Orgulho LGBT como quase todo o resto do mundo (só em SP que a Parada cai sempre no feriado de Corpus Christi), os casos de agressão também deram um salto, como atesta este curta-metragem. A solução? Reagir, mas não com mais violência (se bem que esses covardes costumam correr quando são peitados). É preciso botar a boca no trombone, fazer B.O., falar com a imprensa, se expor. Assim como acontece com as mulheres que são vítimas de estupro, o silêncio é o maior aliado dos nossos inimigos. Aprendi uma expressão espanhola engraçada com esse filme, que é o título desta postagem. "Boca abajo" quer dizer que o sujeito está cansado e prefere ir para casa. Portanto, para lidar com a homofobia, "boca arriba", sempre.

ATUALIZAÇÃO: a tal da "expressão espanhola engracada" refere-se aopenas à maneira de dormir. Não tem nada a ver com cansaço ou vontade de continuar na balada. Eu entendi errado, mas não é que si non è vero, è bene trovato?

sábado, 2 de julho de 2016

PORTA DO CAMARIM


As primeiras notícias dão que "Contrato Vitalício" fez menos do que o esperado em seus primeiros dias em cartaz. O primeiro filme "oficial" do Porta dos Fundos era uma das grandes apostas do ano ("Entre Abelhas", de 2015, também dirigido por Ian SBF e estrelado por Fábio Porchat, era um drama sem a marca do grupo). O que será que aconteceu? Quatro anos depois de estourar, eles não são mais novidade, mas a audiência de seu canal no YouTube continua alta - e também a capacidade de se envolver em polêmica de vez em quando. Mas parece que o público que os adora na internet não se dispôs a acompanhá-los ao cinema. E não é que o filme seja ruim: "Contrato Vitalício" poderia ser um pouco mais curto, mas é cheio de energia, inventividade e humor. O problema é que, ao contrário dos esquetes online, o roteiro não fala de probleminhas do cotidiano comuns a quase todas as pessoas. O tema do longa é o showbiz, a fama, o estrelato. Algo que Porchat, Gregório Duvivier e a tropa toda estão vivendo intensamente, mas muito distante da vida dos mortais comuns. Além disso, boa parte das piadas só serão entendidas com quem tem alguma intimidade com o meio artístico, como a preparadora de elenco vivida por Júlia Rabello ou as dezenas de menções en passant a celebridades de diversos tamanhos. Dito isto, "Contrato Vitalício" merece ser visto por quem curte o Porta dos Fundos. Até porque tem a mais engraçada inserção de merchandising de todos os tempos.

sexta-feira, 1 de julho de 2016

A EDÍCULA MAL-ASSOMBRADA


Meio que por obrigação profissional, meio que por curiosidade, fui ver "O Caseiro". Afinal, trata-se de um raro filme brasileiro de terror, um gênero que vai bem de bilheteria no mundo inteiro. E que não costuma custar caro, tirando um outro efeito especial: não é preciso grandes estrelas, só uma boa direção e um bom roteiro. Este último, infelizmente, "O Caseiro" não tem. É tão óbvio que chega a irritar. Lá pelas tantas, aparece um personagem que me fez pensar: "é isto". Fiquei esperando uma virada, mas não é que era isto mesmo? E só o protagonista não percebeu. Mas nem é por isto que o filme está indo mal de público. Acho que é por causa do título mesmo.

AFINS DE CAUSAR

A Folha tem blog sobre quase tudo. Da morte aos gatinhos, praticamente todos os assuntos do universo são cobertos pela versão online do jornal. Mas a pauta LGBT estava meio esquecida desde a morte do Vitor Angelo no ano passado. Como biba é o que não falta naquela redação, eis que surge esta semana o blog Gays e Afins, assinado por quatro jornalistas da área cultural. Mas a estreia causou um certo desconforto, pois foi justamente com uma entrevista com Marco Feliciano. Muitos leitores acharam que, para variar, dá-se muito palanque a um inimigo, quando ele deveria ser solenemente ignorado. Acontece que o deputado-pastor é pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, portanto interessa saber quais são seus planos para a imensa população homossexual da cidade. E adivinha? O Infeliciano deixou várias questões sem resposta. Isto é bom jornalismo, pessoal: fazer perguntas espinhosas, que geram não-respostas reveladoras. Falha mesmo foi o primeiro título que a matéria recebeu, "Não dá para garantir que houve homofobia em Orlando". Faltou uma palavra que muda bastante o sentido da frase, que depois foi corrigida: "Não dá para garantir que houve APENAS homofobia em Orlando". Mas escorregadas são comuns quando se escreve. Eu mesmo vivo pisando na bola, aqui e no F5. O que importa mesmo é que o maior jornal do Brasil voltou a ter um espaço exclusivo para as notícias que interessam aos gays, lésbicas, ttransexuais, intersexuais e demais cores do arco-íris.

(Aliás, minha coluna sobre o embate entre o Infeliciano e o Porta dos Fundos está rendendo: primeiro lugar entre as mais lidas do F5 há quase 24 horas, mais de 14 mil compartilhamentos no Facebook e umas 40 solicitações de amizade, todas aceitas. Eu também estou aproveitando a polêmica para me promover!)